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A interpretação de Foster é que Marx
formulava sua teoria geral do papel do
trabalho, ligada à Darwin, oferecendo uma
base histórico-natural. Já nos Manuscritos
Econômicos Filosóficos aparece essa
disposição, onde “toda a assim
denominada história mundial nada mais é
do que o engendramento do homem
mediante o trabalho humano, enquanto o
vir a ser da natureza para o homem.”
(Marx, 2004, p. 114, grifos do autor).
O texto de Engels Sobre o papel do
trabalho na transformação do macaco em
homem, segundo Foster (2005),
considerado pelos biologistas
evolucionistas fundador do conjunto
complexo “co-evolução gene-cultura”
apresenta grandes pistas da influência de
Darwin:
...a mão humana tinha sido libertada
[das atividades de locomoção] e
poderia, sem cessar, ir adquirindo
novas habilidades, sendo que a maior
delas, assim conseguida, podia ser
herdada e melhorada, de geração em
geração. Dessa maneira, a mão não é
apenas o órgão do trabalho: é também
um produto deste. Somente pelo
trabalho, por sua adaptação a
manipulações sempre novas, pela
herança do aperfeiçoamento especial
assim adquirido, dos músculos e
tendões (e, em intervalos mais
longos, dos ossos; e, pela aplicação
sempre renovada, desse refinamento
herdado, à, novas e cada vez mais,
complicadas manipulações), a mão
humana alcançou esse alto grau de
perfeição por meio do qual lhe foi
possível realizar a magia dos quadros
de Rafael, das estátuas de
Thorwaldsen, da música de Paganini.
(Engels, 1979, p. 216-217, grifos do
autor).
Outro elemento que consolidou o
lugar da natureza no método materialista
histórico-dialético foi o desenvolvimento
da ciência moderna do solo e as
descobertas de Liebig. Segundo Foster
(2005), os estudos de Marx sobre renda
diferencial fundiária e o estudo sistemático
das obras de Liebig fortaleceram a
concepção de relação homem-natureza
como um metabolismo, onde, no período
de expansão capitalista, há uma falha
irreparável neste metabolismo. Em outro
trecho de O Capital:
Com a preponderância sempre
crescente da população urbana que
amontoa em grandes centros, a
produção capitalista acumula, por um
lado, a força motriz histórica da
sociedade, mas perturba, por outro
lado, o metabolismo entre homem e
terra, isto é, o retorno dos
componentes da terra consumidos
pelo homem, sob forma de alimentos
e vestuário,à terra, portanto, a eterna
condição natural de fertilidade
permanente do solo. Com isso, ela
destrói simultaneamente a saúde
física dos trabalhadores urbanos e a
vida espiritual dos trabalhadores
rurais. (Marx, 1984, p. 102).
Portanto, a crítica sobre a separação do
homem com a natureza não é somente
epistemológica, mas é prática, e paira
sobre a primeira grande divisão do
trabalho, a divisão entre cidade e campo.