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uma chave de autoconstrução e de se
reconhecer como capaz de opções. O
direito à educação, nesta medida, é
uma oportunidade de crescimento
cidadão, um caminho de opções
diferenciadas e uma chave de
crescente estima de si.
Nesta percepção de formação para
autonomia, Caldart (2009, p. 5) também
destaca que “Os Sem Terra se educam,
quer dizer, se humanizam e se formam
como sujeitos sociais no próprio
movimento da luta que diretamente
desencadeiam”. A afirmação da autora
corrobora a narrativa de Areca, quando
define a educação como instrumento que
potencializa a luta, e o conhecimento como
um bem inviolável de homens e mulheres.
A educação é a base de tudo né,
então assim se você não tem
educação ... não consegue até mesmo
lutar né, porque se você não tiver
educação, você não tem a capacidade
de ir pra luta né, então, o
conhecimento né, esse conhecimento
vem através da educação... não ter
dinheiro é uma coisa, agora você
enquanto pessoa, você tem os seus
direitos né, você tem o direito a
estudar, é através do estudo que você
vai ter uma vida mais digna né,
porque o conhecimento é algo que
ninguém tira de você, não é? então é
isso que você leva pra sua vida, e o
Movimento Sem Terra esclarece
muito bem isso, é dizer: oh, você tem
direitos né, você é dono do seu
próprio destino, não é os outros que
vai fazer o seu destino, e sim você
mesmo (Areca, excerto extraído do
Grupo Focal nº 01, realizado em
maio de 2016).
Areca também nos chama atenção ao
papel do MST frente à construção da
autonomia dos sujeitos, especialmente ao
declarar que, cada um é dono do seu
próprio destino, contudo, apreendendo o
que tem de direito e lutando por ele. Desse
modo, como destaca Freire (1983, p. 32), a
autonomia é uma conquista, e implica em
libertação das estruturas opressoras. “A
libertação a que não chegarão pelo acaso,
mas pela práxis de sua busca; pelo
conhecimento e reconhecimento da
necessidade de lutar por ela”.
Outro relato que merece destaque,
dentre outras, é o de Aricuri, relembrando
umas das místicas do movimento, “o
assentamento é a nossa escola e o MST é o
nosso principal educador”, vê-se nessa
frase que educar não é somente o papel da
instituição escolar, mas o território, o
movimento, a casa, a terra, que vão se
configurando numa grande escola, e vão
tecendo currículos que não estão
preocupados apenas com o seguimento
escolar, mas com a vida, o trabalho e a
luta, dentre outros elementos. Ainda em
relação à frase supracitada, Aricuri diz que
ela acaba ajudando a todos nessa
parte da educação, porque em
primeiro lugar, primeiramente em
tudo, pra gente buscar tudo, a gente
precisa ter a educação, não é a
educação que ocorre em quatro
paredes, que é uma escola ali que vai