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podem ser feitos por meio de atividades em
dupla ou em coletividade (por meio dos
exercícios e de algumas imagens o campo
é abordado no livro). A obra atende, ainda
que parcialmente, o anseio dos
movimentos de lutas sociais do campo
(sem-terra, ribeirinhos, quilombolas,
atingidos por barragens, extrativistas), pois
alguns temas desse livro permitem
trabalhar a cultura, a identidade e a luta
campesina. Contudo, sabemos que em
alguns casos o LD é o único material
didático do professor que leciona no meio
rural.
Já o LDH 2, Vontade de Saber
História, é um livro preparado para uma
escola urbana, para formar sujeitos
portadores de um saber instrumental e
técnico. Os conteúdos desse LD e suas
atividades não instigam o aluno a
questionar a realidade atual, permeada
pelas injustiças sociais, pois o livro
favorece a memorização de conceitos,
datas e fatos do passado. Portanto, o LDH
2, quando utilizado como instrumento de
ensino em escolas do campo,
principalmente naquelas escolas próximas
à cidade, não apresenta subsídios teóricos e
metodológicos que favoreçam o
fortalecimento da identidade camponesa, a
luta da classe trabalhadora, a reforma
agrária, a desconstrução de estereótipos.
Como sabemos, o conhecimento científico
não é neutro, mas deve dialogar com as
múltiplas contradições vividas pelos povos
do campo, que buscam novos caminhos
para superação das injustiças sociais
criadas pelo sistema capitalista.
A pesquisa também reforça que o
sucesso do material didático em sala de
aula, independentemente do contexto
social da escola e da comunidade, também
depende do professor e da metodologia de
ensino implementada, incluindo-se os
objetivos mirados e a visão docente sobre o
processo ensino-aprendizagem.
Com essas linhas, percebemos que a
defesa dos movimentos sociais por uma
Educação do Campo vem acompanhada de
uma escola que seja do e no campo, em
que o desafio é ainda maior: “Quando se
discute o que ensinar nessas escolas?”;
“Como organizar um currículo que respeita
a diversidade cultural?”; “Como elaborar
os livros didáticos respeitando os vários
contextos rurais que existem no Brasil?”.
Referências
Arboit, A. A., & Pacheco, L. M. D. (2013).
Exclusão social no mundo rural: ideologia
e poder nos livros didáticos. Vivências:
Revista Eletrônica de Extensão da URI,
9(16), 140-152.
Arroyo, M. G. (2011). A Educação Básica
e o Movimento Social do Campo. In
Arroyo, M. G., Caldart, R. S., & Molina,
M. C. (Orgs.). Por uma educação do
campo (pp. 08-86). Petrópolis, RJ: Vozes.
Arroyo, M. G. (2013). Currículo, território
em disputa. Petrópolis, RJ: Vozes.