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bem como configurou-se um golpe contra
a incipiente democracia política burguesa
pós 1945 do Estado Novo. O autor aporta-
se em Florestan Fernandes, para destacar
que os setores conservadores buscavam
barrar a ampla participação crescente das
camadas populares, inclusive as do Campo,
nesse processo de reformas.
Contudo, no âmbito econômico,
iniciou-se uma crise política e a estagnação
econômica tornou-se presente num cenário
que apresentou um crescimento econômico
anteriormente de mais de 10% ao ano.
Com a crise, a economia cresceu, no ano
de 1962, o percentual de 5,3; em 1963,
apenas 1,5%; e, no ano seguinte, 2,4 (Baer,
1995). Para além destes índices, cabe
salientar que a vida no Campo era
diretamente afetada.
Com o discurso de combate à
inflação, foi criado o Plano de Ação
Econômica do Governo (PAEG). No
PAEG, foi aplicada uma política cambial
de incentivo exportador, a qual simpatizou
por entrada de capital e renegociações da
dívida externa contraída, além de uma
política de arrocho salarial. Entretanto,
como as políticas monetárias
expansionistas eram incabíveis nesse
programa, uma saída foi o aumento dos
impostos. Apesar de o Plano ter contido a
inflação, novamente a população foi
afetada: desemprego, falências e
concordatas, queda do crescimento e baixa
na indústria de construção foram o
resultado desta política.
É neste contexto que os movimentos
do Campo passam a articular-se de forma a
reivindicar suas pautas a partir das
necessidades dos homens e mulheres que
constituem o Campo. Segundo Pires
(2012), na década de 1960, surgem
importantes atores na constituição de uma
Educação do Campo, tais como: O
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra (MST), Sindicatos, as Federações de
Trabalhadores e a Confederação dos
Trabalhadores da Agricultura (CONTAG),
o trabalho das Ligas Camponesas e a ação
pastoral dos bispos da Igreja Católica, os
Centros Populares de Cultura (CPC) e,
logo, o Movimento da Educação de Base
(MEB) e os Círculos de Cultura Popular,
com Paulo Freire.
Maria Isaura Pereira de Queiroz foi
uma pesquisadora de destaque no horizonte
das pesquisas do Campo, especialmente
com sua publicação, em 1963, ao
problematizar a condição social do Campo
a partir da abordagem a categoria rural
enquanto esquecida. A autora retoma os
estudos de uma década anterior a sua obra,
nos quais Jacques Lambert já apontava
dados que demonstravam a quantidade
desproporcional entre o número de
habitantes no país em relação ao número