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organizações de trabalhadores do
campo: nosso vínculo é com o
projeto histórico da classe
trabalhadora;
- sua raiz no trabalho do campo e na
diversidade de seus sujeitos, suas
formas, sua cultura; sua inserção
política e teórica no âmbito da
questão agrária e suas relações: nosso
lado é o da agricultura camponesa e
não o do “agronegócio”;
- seu compromisso com uma
determinada concepção de educação
que a vincula com um projeto de
formação humana; nos associamos à
tradição pedagógica que construiu
uma visão alargada e emancipatória
de educação e de escola; e uma visão
relacional de conhecimento, que o
entende como parte de uma
totalidade formativa, ingrediente da
práxis: compreensão e transformação
do mundo (Caldart, 2017, p. 5).
As lutas, as formas de organização,
os processos educativos e as necessidades
em geral dos sujeitos do campo
constituem, pois, a materialidade
fecundante do desenvolvimento da
formação dos docentes do campo e
demarcam o que se entende como eixo
material desse projeto, uma vez que a “...
Educação do Campo é indissociável da luta
pela terra, da luta pela Reforma Agrária.
Democratização da terra, com a
democratização do acesso ao
conhecimento” (Molina, 2009, p. 189
citado por Antunes-Rocha, Diniz &
Oliveira, 2011, p. 22). Nessa perspectiva, o
PPC-LECCA se compreende vinculado à
classe trabalhadora do campo, espaço vital
onde estão situadas as EFAs, demandantes
desse curso.
O compromisso do curso concretiza-
se numa perspectiva de escola que se
articula com os projetos sociais e
econômicos do campo, que cria uma
conexão direta entre formação e
produção, entre educação e
compromisso político. Uma escola
que, em seus processos de ensino e
de aprendizagens, considera o
universo cultural e as formas próprias
de aprendizagens dos povos do
campo, que reconhece e legitima
esses saberes construídos a partir de
suas experiências de vida. Uma
escola que se transforma em
ferramenta de luta para a conquista
de seus direitos como cidadão
(Antunes-Rocha, Diniz & Oliveira,
2011, p. 23).
Paulo Freire aponta caminhos para
repensar a formação do novo
“extensionista”, o educador do campo.
Entre outros de seus tantos escritos,
destacam-se as obras: “Extensão ou
Comunicação?” e “Pedagogia do
Oprimido”, na qual critica a transmissão do
conhecimento unilateral, segundo uma
lógica “bancária”, do técnico para o
camponês, e propõe a lógica da
“dialogicidade dos saberes” entre técnicos
e agricultores (Freire, 1982; 1983). Neste
sentido, a reflexão de Paulo Freire é de
fundamental importância para fazermos o
contraponto ao caráter antieducacional da
extensão traduzida em invasão cultural por
uma capacitação tecnicista, dissociada e
desrespeitosa em relação à cultura dos
sujeitos do campo. Historicamente, tal
procedimento teve como consequência a
total colonização do modelo camponês, ou