Revista Brasileira de Educação do Campo
EDITORIAL
DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-4863.2017v2n2p442
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 2
n. 2
jul./dez.
2017
ISSN: 2525-4863
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A Educação do Campo na pesquisa educacional brasileira
Gustavo Cunha de Araújo
1
, Cícero da Silva
2
1
Universidade Federal do Tocantins - UFT, Departamento de Educação do Campo. Avenida Nossa Senhora de
Fátima, 1588, Centro. Tocantinópolis, Brasil. rbec@uft.edu.br.
2
Universidade Federal do Tocantins - UFT.
A Revista Brasileira de Educação do Campo RBEC, ISSN 2525-4863, periódico
do Departamento de Educação do Campo, da Universidade Federal do Tocantins, campus de
Tocantinópolis, lança o seu segundo número do volume 2, referente ao segundo semestre de
2017. Este número traz 15 artigos, 2 ensaios, além de uma resenha, aprovados dentre os
manuscritos recebidos ao longo do ano de 2017. Novamente, a revista conta com artigos
internacionais de diferentes instituições de ensino superior, sendo 2 de Cuba, e 1 da Bolívia,
que abordam diferentes temáticas em diálogo com a Educação do Campo.
O conjunto de trabalhos que integra esse número corrobora a importância da RBEC
para a pesquisa em Educação do Campo, assim como para a produção científica em educação
no Brasil. Hoje, esse periódico possibilita agrupar, em um mesmo espaço, pesquisas de
diferentes abordagens teórico-metodológicas desenvolvidas no âmbito do contexto
educacional do campo. Portanto, essa especificidade da revista ajuda tanto os pesquisadores
na divulgação dos resultados de suas investigações quanto os leitores interessados nessa
temática.
Iniciamos a apresentação dos artigos deste número com o trabalho
Interculturalidade na formação de professores do campo: análise de uma experiência
de autoria de Marques, da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri
UFVJM, que faz uma reflexão teórica acerca de um curso de licenciatura em Educação do
Campo de uma universidade federal brasileira sob a perspectiva teórica da interculturalidade.
O autor pretende neste artigo promover propostas e debates a respeito da interculturalidade e
formação de professores na Educação do Campo.
Na pesquisa seguinte, de autoria de Albuquerque, Pássaro e Figueirêdo, da
Universidade Regional do Cariri URCA, intitulada Educação do Campo: percalços na
construção do curso de licenciatura em Educação do Campo na Universidade Regional
do Cariri, os pesquisadores problematizam dificuldades e desafios a respeito do
desenvolvimento do curso de Licenciatura em Educação do Campo da URCA, principalmente
no que se refere à formação de professores para a Educação do Campo.
No artigo Educação do Campo e o programa Projovem Campo em
Planaltina/DF, de Figueiredo e Freitas, da Universidade de Brasília UnB, as autoras
analisam a importância da Política Nacional de Juventude, principalmente relacionada ao
Programa Projovem Campo, que, segundo as pesquisadoras, tem como objetivo possibilitar
aos jovens de 18 a 29 anos a concluírem seus estudos. As autoras concluem que os principais
obstáculos encontrados pelos jovens se referem ao não cumprimento de ações estabelecidas
nessa política, como, por exemplo, refeições inadequadas aos estudantes, falta de espaço
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físico e de materiais para a sala de acolhimento, além do não pagamento de bolsa auxílio aos
estudantes.
O tema formação de professores para o campo pode ser encontrado na pesquisa de
Azinari e Peripolli, da Universidade do Estado de Mato Grosso UNEMAT, no artigo
intitulado Uni-versidade multi-versa? Reflexões sobre a formação de professores do
curso de Licenciatura em Pedagogia do Campo no distrito de Caramujo, Cáceres/MT.
Os autores analisam uma experiência desenvolvida no curso de Licenciatura em Pedagogia do
Campo, em Mato Grosso. Com base nos resultados, eles afirmam nesse estudo que foi
possível entender e pensar alguns conceitos relacionados à formação de professores para a
Educação do Campo, bem como questões relacionadas às escolas existentes no meio rural.
Temas relacionados à saúde também são objetos de estudo para a Educação do
Campo, como a pesquisa Contribuições da Terapia Ocupacional Social nas escolas do
campo de autoria de Farias e Faleiro, da Universidade Federal de Goiás UFG. Nesse
trabalho, os pesquisadores defendem que a Terapia Ocupacional Social (TOS) pode
possibilitar desconstruir as contradições dos sistemas de ensino, por meio de atividades que
envolvem dinâmicas coletivas, desenvolvimento de projetos, entre outros. Assim, os autores
concluem que o uso da TOS nas escolas do campo pode assegurar o acesso da população
camponesa aos seus direitos sociais.
O artigo internacional El Padre Carlos Felipe Beltrán: planteamientos de una
educación indígena y bilingüe en Bolivia (1862-1892), de Daza, do Instituto de Estudios
Bolivianos UMSA, Bolívia, busca descrever e analisar como se deu a educação indígena na
Bolívia, a partir da experiência e contribuição do Padre Carlos Felipe Beltran. A pesquisa
constatou que Beltran teve papel fundamental para o desenvolvimento da alfabetização nas
línguas Aymara e Quechua para a população indígena boliviana da época (1862-1892).
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra e a formação para a
igualdade de gênero, de autoria de Pessôa e Dal Ri, da Universidade Estadual Paulista Julio
de Mesquita Filho UNESP, campus de Marília, analisa a igualdade de gênero presente no
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Por meio de uma pesquisa
documental e bibliográfica, as autoras identificaram que, desde a criação do MST, é possível
encontrar textos teóricos a respeito da participação das mulheres na produção, nas
coordenações e ações políticas do movimento. Nesse sentido, concluem que o MST criou um
Setor de Gênero voltado à promoção da igualdade de gênero e à participação igualitária.
O Projeto Político Pedagógico (PPP) na Educação do Campo é o tema da pesquisa
intitulada O significado do Projeto Político Pedagógico na construção de ações e relações
participativas na educação do campo desenvolvida por Caetano e Silva, da Universidade
Federal de Mato Grosso - UFMT. Os autores analisam qual é a compreensão de professores
que atuam numa escola do campo a respeito do Projeto Político Pedagógico, entendido numa
perspectiva participativa e democrática. Os pesquisadores destacam ainda nessa pesquisa que,
além de ser um documento necessário e importante na organização e tomadas de decisões na
escola, é necessário que a comunidade escolar tenha participação efetiva na elaboração desse
projeto e na validação das decisões tomadas pela gestão escolar.
A contribuição da História das Ciências para formação de educadores do
campo, de Mendes e Grilo, da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia UFRB,
apresenta um estudo dialético a respeito da importância da abordagem externalista na
formação de professores do campo. A pesquisa concluiu que as atividades desenvolvidas a
partir dessa abordagem possibilitaram novas formas de se compreender a evolução dos
conceitos de Ciência, em consonância com a Educação do Campo.
o artigo intitulado Políticas públicas de gestão da Educação do Campo no
contexto de reestruturação organizacional do Pronera, das autoras Lélis, Silva e Amaral,
vinculadas à Universidade Estadual de Montes Claros Unimontes e à Universidade Federal
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de Uberlândia UFU, tem por objetivo problematizar a centralidade assumida pelo Instituto
Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra)/Programa Nacional de Educação na
Reforma Agrária (Pronera) na gestão da Educação do Campo, secundarizando o papel do
Ministério da Educação (MEC). Trata-se de uma pesquisa documental, cujas análises
focalizam indícios dessa ação a partir do Decreto n. 7.352/2010 e dos Manuais de Operações
do Programa. Os resultados do estudo mostram que, desde a criação do Pronera, em 1998,
indícios de afastamento da gestão da Educação do Campo do MEC, sendo que tal processo
ganhou força em 2001, quando o Incra assumiu a gestão do Pronera. As pesquisadoras
ressaltam ainda que a transferência da responsabilidade pela gestão da Educação do Campo
do MEC para o MDA/Incra, por meio do Pronera, pode trazer implicações de natureza
político, social, educacional e econômico, apontando para um esvaziamento da missão do
MEC, em relação à educação pública.
Em Panorama bibliométrico das teses e dissertações sobre educação indígena,
de Maroldi, Lima, Hayashi e Hayashi, da Universidade Federal de Rondônia UNIR e
Universidade Federal de São Carlos UFSCAR, os autores apresentam um panorama
bibliométrico da produção científica sobre a educação indígena presente nas teses e
dissertações da Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD/IBICT). O
estudo foi desenvolvido por meio da metodologia bibliométrica e o corpus traz 173 trabalhos
de pós-graduação defendidos no país entre os anos de 1996 a 2016. Os resultados mostram
que as regiões Sudeste e Sul, respectivamente, concentram o maior número de trabalhos e que
a área da Educação é majoritária na produção científica das teses e dissertações recuperadas.
No artigo O trabalho como princípio educativo no MST: um estudo de caso do
Assentamento Padre Réus, de autoria de Lopes e Moretti, da Universidade de Santa Cruz
do Sul UNISC, o objetivo da investigação é apreender quais são as novas práticas sociais,
alicerçadas em um processo de educação que se desenvolve no movimento e que possibilitam
pensar uma pedagogia da luta do movimento social. Os dados da pesquisa são constituídos
por seis entrevistas entre os assentados de um projeto de assentamento da Reforma Agrária do
interior do Rio Grande do Sul, sendo utilizada a técnica de análise de conteúdo. Considerando
que os entrevistados narram suas experiências individuais e coletivas, as autoras concluem
que “o trabalho” foi fundamental na organização das famílias até o campo, e que “o trabalho”
no lote do assentamento constitui um princípio educativo para essas famílias, sobretudo a
partir das escolhas que fazem no processo produtivo.
Na sequência, apresentamos o trabalho intitulado Los directores(as) de las
escuelas primarias rurales como los principales maestros de sus subordinados, de
Aguilera, da Universidad de Artemisa, Cuba. Nesse artigo, a autora traz um pouco de suas
reflexões como formadora pedagógica na universidade. Assim, o objetivo do trabalho é
propor um sistema de ações de formação para aprimorar as habilidades dos diretores de
escolas primárias rurais cubanas como principais professores de seus subordinados. Aguilera
afirma que o uso de diferentes métodos, como pesquisa, entrevista, observação participante e
análise documental, permitiu caracterizar o estado inicial, fundamentando a proposta
formativa e avaliando os resultados de sua aplicação, além de permitir que os diretores
assumam o papel de professor de seus colegas de trabalho.
no artigo Escola em tempo integral no campo: conflitos de ideias, de Silva e
Sales, da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul UEMS, os autores apresentam uma
análise a respeito de discursos e conceitos referentes à Educação de Tempo Integral,
apontando algumas ideias da população camponesa de um município do interior de Mato
Grosso do Sul. A metodologia utilizada envolve entrevistas semiestruturadas e conversas
informais com os pais de alunos de uma escola rural. A pesquisa revelou que grande parte da
comunidade do campo é desfavorável a esta política e que, apesar das boas intenções, a
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implantação da escola de tempo integral evidencia a manutenção de certo descaso, por parte
do Estado, para com a população do campo.
O último artigo, Movimentos sociais e conquista do ensino superior: a formação
de Pedagogos para a Educação do Campo, de autoria de Menezes, Faustino e Chaves,
vinculadas à Universidade Estadual de Maringá UEM, apresenta reflexões acerca de uma
experiência de formação de pedagogos para escolas do Campo realizada pela UEM em
parceria com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Trata-se de uma
pesquisa bibliográfica, associada a observações, registros das experiências desenvolvidas em
diferentes espaços e momentos do curso, aulas, visitas às escolas do campo e, sobretudo,
estudos, orientações e intervenções pedagógicas em um programa de iniciação à docência. As
autoras afirmam que os Centros de Formação o espaços que exercem papel fundamental na
gestão democrática dos processos formativos demandados pelos movimentos sociais. A
atuação do movimento social, em parceria com universidades, demonstrou ser possível outra
formação, que humanize a todos e desenvolva a consciência de luta por direitos e igualdade
social.
O conceito de natureza na Educação do Campo, de Miranda e Robaina, ambos
da Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFRGS, abre os ensaios publicados nesta
edição da RBEC. De abordagem teórica e perspectiva histórica, o manuscrito analisa o
conceito de natureza em consonância com a Educação do Campo. Nessa perspectiva, os
autores afirmam que o conceito de natureza está implicado nessa modalidade de educação,
pois, segundo eles, a Educação do Campo possibilita construir um sentimento de
pertencimento nos sujeitos nela envolvidos no processo educativo.
O próximo ensaio se refere ao trabalho: A construção da categoria analítica
“Campo” no Brasil - Possibilidades à Educação do Campo, de Claro e Pereira,
vinculados à Universidade Federal do Rio Grande FURG. Os autores ressaltam a categoria
“campo” na pesquisa educacional brasileira. Segundo esses pesquisadores, muitas relações
entre a agricultura e sua constituição, contudo, essas relações não deixam claro outras
atividades que não estejam vinculadas diretamente à categoria “trabalhopresente no meio
rural.
Por fim, a resenha publicada na RBEC intitulada A atualidade de “Os
Condenados da Terra de Frantz Fanon, da obra Fanon, F. (1968). Os Condenados da
Terra. Rio de Janeiro, RJ: Editora Civilização Brasileira”, de autoria de Oliveira Filho, da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro UERJ fecha este número da revista. O autor
destaca que a obra do intelectual francês Frantz Fanon, publicada originalmente em 1961, diz
respeito à colonização e seus principais efeitos causados às pessoas da época, especificamente
das nações do sul. O autor destaca que essa obra foi fundamental para esboçar o cenário
político, histórico, cultural e psíquico da colonização na Argélia e na África.
É importante ressaltar que ao enfatizar a figura do eterno intelectual brasileiro Paulo
Freire, que completaria 106 anos neste ano, na capa deste número da RBEC, produzida a
partir de uma obra de artes visuais confeccionada com diferentes sementes, por estudantes da
Licenciatura em Educação do Campo da Universidade Federal do Tocantins, campus de
Tocantinópolis, é uma forma de homenagear Freire pela sua relevante e presente contribuição
à educação brasileira e internacional.
A Revista Brasileira de Educação do Campo agradece aos autores(as) pela
submissão de trabalhos ao periódico e aos avaliadores(as) que contribuíram nas emissões de
pareceres e revisões dos manuscritos apresentados neste número e também ao longo de 2017.
Gostaríamos de destacar que, a partir do ano de 2018, a revista adotará a periodicidade
quadrimestral, o que possibilitará uma ampliação do número de artigos publicados no
periódico, contribuindo, portanto, para a produção e disseminação de conhecimento para a
Educação do Campo e educação em geral.
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Desejamos a todos e a todas boas leituras e um feliz 2018!
Como citar este editorial / How to cite this editorial
APA:
Araújo, G. C., & Silva, C. (2017). A Educação do Campo na pesquisa educacional brasileira. Rev. Bras. Educ.
Camp., 2(2), 442-446.
ABNT:
ARAÚJO, G. C.; SILVA, C. A Educação do Campo na pesquisa educacional brasileira. Rev. Bras. Educ.
Camp., Tocantinópolis, v. 2, n. 2, p. 442-446, 2017.
ORCID
Gustavo Cunha de Araújo
https://orcid.org/0000-0002-1996-5959
Cícero da Silva
https://orcid.org/0000-0001-6071-6711