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depois que eles têm conhecimento do
objetivo é que vão sair para a
pesquisa. Porque para eles a natureza
em si é comum. Então, tem que ter
um objetivo específico, porque você
vai fazer aquilo (pesquisa), para você
trabalhar e ter resultado concreto.
Depois que você trabalha você volta
(à sala de aula) e torna a trabalhar
aquilo que eles pesquisaram lá fora,
você estuda de novo, reforçando,
tendo ali uma leitura compartilhada
das experiências, do experimento
com os alunos. Quando a gente tem
o trabalho de campo, a gente não
foge dos conteúdos, são conteúdos
local, regional e global. Então, a
gente faz uma intertextualização –
conteúdos que vêm acontecendo lá
fora e a realidade deles. É
interessante que como eu trabalho em
3 escolas, os conteúdos são da
realidade de cada setor, não é o
mesmo. A necessidade de cada setor
(do assentamento) não é a mesma.
Trabalhamos com a questão de
plantas medicinais. Então, a gente
estuda no livro, no próprio livro de
Biologia, ele traz a questão científica
das plantas e, muitas das vezes,
procuramos aquela família, o pai ou o
vizinho que tem conhecimento sobre
aquelas plantas que trabalhamos e a
gente convida essa família para vir à
escola.
Os professores relatam a questão da
pesquisa, da natureza como laboratório de
aprendizagem, do experimento, inclusive,
criam material alternativo para trabalhar
conteúdos, vinculando-os ao cotidiano dos
estudantes. Na matemática, trabalham-se
conceitos de medidas a partir das
propriedades de terra das famílias dos
estudantes.
Na matemática o ensino é o ensino
propedêutico, direcionado ao
vestibular, para levá-los a fazer uma
faculdade, mas a gente consegue
embutir alguma coisa específica do
campo na questão de medidas de
terras, de áreas como alqueires,
hectares, alqueirinho, alqueirão,
alqueirinho paulista, alqueires de
Goiás, as medidas específicas,
trabalha a questão do acero, como
fazer. Então, são pesquisas que a
gente faz e na área de química
trabalhamos muito sobre impactos
ambientais. A gente procura levá-los
a pensar com relação a tudo isso,
para não fazer queimadas, porque as
queimadas causam isso, causam
aquilo, mostrando em pesquisas
tiradas da internet e em contato com
alguns profissionais das áreas
específicas como os agrônomos (GJ,
2016).
Esse entendimento expresso pelos
entrevistados está em consonância com as
Diretrizes Curriculares do Ensino Médio –
Resolução CEB/CNE nº 2/2012, artigo 6º,
que conceituam o currículo como:
... a proposta de ação educativa
constituída pela seleção de
conhecimentos construídos pela
sociedade, expressando-se por
práticas escolares que se desdobram
em torno de conhecimentos
relevantes e pertinentes, permeadas
pelas relações sociais, articulando
vivencias e saberes dos estudantes e
contribuindo para o desenvolvimento
de suas identidades e condições
cognitivas e socioafetivas (Brasil,
2012, p. 2).
Em que pese à precariedade das
condições de trabalho pontuada pelos
educadores entrevistados, fica evidente o
esforço que fazem no sentido de suprir as
carências e realizar aulas significativas
para seus alunos.