Revista Brasileira de Educação do Campo
DOSSIÊ / EDITORIAL
DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-4863.2017v2n3p833
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 2
n. 3
jul./dez.
2017
ISSN: 2525-4863
833
Ciências da Natureza na Educação do Campo: encontros e
desencontros na luta pela Educação Popular
Wender Faleiro
1
Gustavo Cunha de Araújo
2
, Cícero da Silva
3
1
Universidade Federal de Goiás - UFG. Regional Catalão. Programa de Pós-Graduação em Educação. Av. Dr.
Lamartine Pinto de Avelar, 1120. Setor Universitário. Catalão - GO. Brasil. wender.faleiro@gmail.com.
2
Universidade Federal do Tocantins - UFT.
3
Universidade Federal do Tocantins - UFT.
A Revista Brasileira de Educação do Campo RBEC, ISSN 2525-4863, periódico
do Departamento de Educação do Campo, da Universidade Federal do Tocantins, campus de
Tocantinópolis, acaba de lançar seu primeiro dossiê temático “Ciências da Natureza na
Educação do Campo: encontros e desencontros na luta pela Educação Popularcom 8 artigos
científicos recebidos no período de submissão (de abril de 2017 a julho de 2017). Este dossiê
nasceu da união da Revista ao Congresso Nacional de Ensino de Ciências e Formação de
Professores, promovido pelo Grupo de Estudos, Pesquisa e Extensão em Ensino de Ciências e
Formação de Professores - GEPEEC/UFG, Regional Catalão, estado de Goiás.
O dossiê reúne trabalhos que discutem fundamentos sociais, históricos, políticos,
culturais, filosóficos, pedagógicos e psicopedagógicos das Ciências da Natureza na Educação
do Campo no Brasil, explorando as relações entre a dimensão da formação de professores,
sujeitos e práticas de ensino em espaços escolares e não escolares, conhecimento, cultura e
desigualdades educacionais. Logo, compreender e difundir a Educação do Campo e, em
especial, sua habilitação em Ciências da Natureza, nos diversos setores e níveis educacionais
com a proposição de ações efetivas de enfrentamento de seus desafios, constitui-se num passo
importante e necessário à valorização da Educação do Campo e a possibilidade da garantia do
exercício pleno de direitos pelos povos camponeses.
A área de Ciências da Natureza na Educação do Campo demostra que está crescendo
e se fortalecendo como área produtiva e que contribui para o desenvolvimento educacional no
contexto do campo, como revelam a pesquisas relatadas nos artigos deste Dossiê. São 8
artigos provenientes de diferentes universidades das cinco regiões do Brasil, a saber: 01 artigo
da região Norte (Universidade Federal do Pará UFPA/Universidade do Vale do Taquari
UNIVATES), 02 oriundos da região Centro-Oeste (Instituto Federal de Mato Grosso IFMT
e Universidade Federal de Goiás - UFG), 01 artigo proveniente da região Nordeste
(Universidade Federal da Bahia UFBA/Universidade Estadual de Santa Cruz UESC), 01
da região Sudeste (Universidade Federal do Triângulo Mineiro - UFTM) e 03 artigos oriundos
da região Sul (Universidade Federal do Pampa UNIPAMPA/Universidade Federal do Rio
Grande do Sul UFRGS, Universidade Federal da Fronteira Sul UFFS e Universidade
Federal de Santa Catarina - UFSC).
Abrimos a apresentação dos artigos no dossiê com o trabalho intitulado
Interculturalidade e conhecimento tradicional sobre a Lua na formação de professores
no/do campo, de autoria de Rodrigo dos Santos Crepalde, Verônica Klepka e Tânia Halley
Oliveira Pinto (UFTM). Os pesquisadores abordam a formação de professores para a
Educação do Campo em diálogo com a interculturalidade que, segundo os mesmos, entendem
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que o ensino de ciências deve considerar a cultura na formação de docentes para o campo,
contribuindo para o intercâmbio e produção de conhecimento.
Já no artigo intitulado Uso de objetos educacionais digitais para ensinar sistemas
do corpo humano em uma escola do campo”, dos pesquisadores Marcelo Franco Leão e
Silvio Ferreira dos Santos (IFMT/UFRGS), a atenção está sobre a utilização da tecnologia
voltada ao processo de ensino e aprendizagem. Nesse estudo, analisa-se a utilização de
softwares educacionais com o objetivo de ensinar sistemas do corpo humano, numa escola do
campo, em Mato Grosso. Com base nos resultados dessa pesquisa, os autores relataram que a
utilização de tecnologias digitais pelos estudantes permitiu que os mesmos aprendessem
melhor os conteúdos relacionados aos sistemas do corpo humano, em comparação com
recursos tradicionais, como o livro didático, por exemplo.
Agrotóxicos no campo é o tema do artigo Discutindo a temática agrotóxicos
relacionada à saúde: uma abordagem através das controvérsias sociocientíficas”, de
autoria de Eril Medeiros da Fonseca, Leandro Duso e Marilisa Bialvo Hoffmann
(UNIPAMPA/UFRGS). O artigo discute as implicações dos agrotóxicos para a saúde da
população camponesa, por meio da abordagem das Controvérsias Sociocientíficas (CSC) no
Ensino de Ciências e na Educação do Campo. Nesse sentido, afirmam que além de prejudicar
a saúde daquelas pessoas que vivem e trabalham no campo, os agrotóxicos trazem uma
concepção de saúde que afeta a diversidade biológica.
No manuscrito intitulado Júri Simulado e tempestade cerebral: entendendo a
implantação da Usina Hidrelétrica de Belo Monte”, de autoria de Marcos Marques
Formigosa, Marli Terezinha Quartieri e José Cláudio Del Pino (UFPA/UNIVATES), a partir
das estratégias metodológicas do Júri Simulado e Tempestade Cerebral, discutem as
metodologias utilizadas por professores que ensinam conteúdos de Física por meios
tradicionais. Nessa investigação, identificaram que essas metodologias Júri Simulado e
Tempestade Cerebral contribuíram para que os conteúdos do ensino de Física fossem
ampliados aos estudantes, além de terem possibilitado aos discentes um entendimento crítico
da realidade da qual fazem parte.
O artigo intitulado
A sustentabilidade, a educação ambiental e o curso de
Educação do Campo: é possível essa aproximação?
, das pesquisadoras Juliana Pereira
Araújo, Maria Paulina de Assis e Elis Regina Costa (UFG), tem como base reflexões sobre
formação de professores no curso de Licenciatura em Educação do Campo com habilitação
em Ciências da Natureza, da UFG - Regional Catalão. Ao discutirem desafios para
consolidação dessa licenciatura, as autoras apontam a necessidade de estabelecer
compreensão sobre sustentabilidade como a avaliação das possibilidades de sua utilização
como norteador da prática ou inspiração teórico-metodológica. Os resultados da pesquisa
revelaram que o conceito de sustentabilidade é mais complexo do que parece, exigindo maior
compreensão por parte dos docentes e estudantes.
Em “
Formação de professores em Ciências da Natureza para escolas do/no
campo na UFFS Campus Erechim: perspectivas e desafios
”, de autoria de
Moises
Marques Prsybyciem, Almir Paulo dos Santos e Jeronimo Sartori (UFFS), o objetivo proposto
é evidenciar, no processo de formação de professores, perspectivas e desafios no Curso
Interdisciplinar em Educação do Campo: Ciências da Natureza (Licenciatura da UFFS,
Campus Erechim), para escolas do/no campo. Com base nos resultados, os pesquisadores
afirmam que ficaram evidentes desafios e potencialidades na formação de professores para as
escolas localizadas nas comunidades indígenas e nas escolas do/no campo, assim como a
necessidade de sua articulação com o Ensino de Ciências da Natureza (Química, Física e
Biologia), tais como: a identidade cultural dos sujeitos, o choque de culturas (diferentes povos
do campo e diferentes especificidades), os aspectos pedagógicos relacionados à organização e
ao trabalho no regime de alternância.
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No penúltimo artigo,
Fenômenos como mediadores do processo educativo em
Ciências da Natureza e Matemática na Educação do Campo
”, elaborado pelos
pesquisadores Marcelo Gules Borges, Juliano Espezim Soares Faria e Elizandro Maurício
Brick (UFSC), o propósito é analisar uma prática pedagógica desenvolvida na Licenciatura
Educação do Campo da UFSC a fim de discutir e destacar os modos pelos quais os fenômenos
podem ser potentes para o Ensino das Ciências da Natureza e Matemática. Com base na
experiência pedagógica desenvolvida nessa Licenciatura, os autores analisaram as estratégias
tomadas e caminhos trilhados na elaboração de estudos de conhecimentos específicos das
Ciências da Natureza e Matemática na delimitação da dimensão natural de fenômenos
socialmente relevantes no contexto de origem dos estudantes. A pesquisa mostrou que
trabalhar com fenômenos é uma dentre várias possibilidades de organização da docência e do
conhecimento na formação de professores.
Por fim, apresentamos o último artigo:
Ciências da Natureza na Educação do
Campo: em defesa de uma abordagem cio-histórica
”, que é fruto de uma pesquisa
realizada por Edilson Fortuna de Moradillo, Hélio da Silva Messeder Neto e Elisa Prestes
Massena (UFBA/UESC) cujo foco é a defesa da abordagem sócio-histórica nos cursos de
formação de professores para atuar na área das Ciências da Natureza da Licenciatura em
Educação do Campo. Nesse trabalho, os pesquisadores defendem os referenciais do
materialismo histórico-dialético, do Sistema de Complexos de Pistrak, da Pedagogia
Histórico-Crítica e da Psicologia Histórico-Cultural como os norteadores dessa abordagem,
tendo em vista a categoria trabalho como fundante do ser social, o eixo condutor. Os
pesquisadores defendem que a abordagem sócio-histórica possibilita trabalharmos a
perspectiva historicizadora de homem e da realidade social, permitindo avançarmos no
sentido da luta contra hegemônica na educação e na sociedade na busca da emancipação
humana.
Esperamos que esse dossiê seja útil e transformador!
Como citar este editorial / How to cite this editorial
APA:
Faleiro, W., Araújo, G. C., & Silva, C. (2017). Ciências da Natureza na Educação do Campo: encontros e
desencontros na luta pela Educação Popular. Rev. Bras. Educ. Camp., 2(3), 833-835.
ABNT:
FALEIRO, W.; ARAÚJO, G. C.; SILVA, C. Ciências da Natureza na Educação do Campo: encontros e
desencontros na luta pela Educação Popular. Rev. Bras. Educ. Camp., Tocantinópolis, v. 2, n. 3, p. 833-835,
2017.
Orcid
Wender Faleiro
http://orcid.org/0000-0001-6419-296X
Gustavo Cunha de Araújo
https://orcid.org/0000-0002-1996-5959
Cícero da Silva
https://orcid.org/0000-0001-6071-6711