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o saber da experiência, em que os
processos de aprendizagem independem da
transmissão vertical de conhecimento e,
tampouco, dos caminhos metodológicos
legitimados pela ciência - que valorizam o
distanciamento entre sujeitos e objetos de
estudo - tidos como únicos e
insubstituíveis. O saber que se constrói
com a vivência, por sua vez, é
indissociável da existência e da
subjetividade humanas, conforme explicita
Bondía:
A ciência moderna, a que se inicia
em Bacon e alcança sua formulação
mais elaborada em Descartes,
desconfia da experiência.... uma vez
vencido e abandonado o saber da
experiência e uma vez separado o
conhecimento da existência humana,
temos uma situação paradoxal. Uma
enorme inflação de conhecimentos
objetivos, uma enorme abundância
de artefatos técnicos e uma enorme
pobreza dessas formas de
conhecimento que atuavam na vida
humana, nela inserindo-se e
transformando-a. A vida humana se
fez pobre e necessitada, e o
conhecimento moderno já não é o
saber ativo que alimentava,
iluminava e guiava a existência dos
homens, mas algo que flutua no ar,
estéril e desligado dessa vida em que
já não pode encarnar-se (Bondía,
2002, p. 28).
Posteriormente, foi realizada uma
apresentação sobre a história da agricultura
e da botânica, destacando-se eventos que
marcaram ambas, com enfoque na
importância do conhecimento sobre as
plantas. Duas atividades práticas foram
realizadas: uma que consistia em fazer um
composto para combate de formigas (com
o uso de frutos cítricos “velhos”/fungados
misturados em água), e outro feitio
chamado “água de vidro” (com o uso de
cinza do fogão à lenha, cal hidratada e
água) que proporciona às plantas uma
maior resistência aos danos da geada, do
frio e até da predação por insetos. Tais
práticas, consideradas novidade pela maior
parte do Grupo, foram conduzidas pelo
Sebastião. Primeiramente, Tião
demonstrou e explicou o funcionamento de
cada um dos ingredientes para o
funcionamento dos compostos. O fungo
que faz apodrecer as laranjas ou demais
cítricos (Penicillium sp.) quando caídos ao
chão do pomar, são inimigos (antagonistas)
naturais dos fungos (Leucogaricus sp.) que
as formigas utilizam em seus ninhos para
se alimentar. Dessa forma, ao se inocular o
fungo dos cítricos nos ninhos de formigas,
mata-se o fungo da qual elas dependem,
diminui-se a população de formigas e,
consequentemente, os eventuais danos que
estas podem causar às hortas. Algumas
agricultoras que já haviam feito uso deste
método associaram o conhecimento teórico
à sua prática, manifestando o sentimento
de reconhecimento, devido à confluência
entre os seus saberes e as informações
apresentadas por Tião. Diferentemente de
uma transmissão vertical de informações,
onde o aluno está como um receptáculo de