REVISTA BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO DO CAMPO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS
CAMPUS TOCANTINÓPOLIS
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO DO CAMPO
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO DO CAMPO COM
HABILITAÇÃO EM ARTES E MÚSICA
V. 2, N. 3, JUL./DEZ. 2017
ISSN: 2525-4863
REVISTA BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO DO CAMPO
RBEC
THE BRAZILIAN SCIENTIFIC JOURNAL OF RURAL
EDUCATION (Countryside)
Expediente / Masthead
Reitor / Rector of the University
Profa. Dr. Luis Eduardo Bovolato
Vice-Reitora / Vice- Rector
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Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação / Research and
PostGraduate Pro-Rector
Prof. Dr. Raphael Sanzio Pimenta
Pró-Reitor de Administração e Finanças / Administration
and Finance Pro-Rector
Prof. Me. Jaasiel Nascimento Lima
Pró-reitor de Assuntos Estudantis e Comunitários /
Student and Community Issues Pro-Rector
Prof. Dr. Kherlley Caxias Batista Barbosa
Pró-reitor de Avaliação e Planejamento / Evaluation and
Planning Pro-Rector
Prof. Dr. Eduardo Andrea Lemus Erasmo
Pró-reitora de Graduação / Graduation Pro-Rector
Prof. Dra. Vânia Maria de Araújo Passos
Pró-reitora de Extensão e Cultura / Extension and Culture
Pro-Rector
Prof. Me. Maria Santana Ferreira Milhomem
Pró-reitora de Gestão e Desenvolvimento de Pessoas /
People Management Pro-Rector
Prof. Me. Érica Lissandra Bertolossi Dantas
Diretora do Câmpus de Tocantinópolis / Chief Campus
Tocantinópolis
Prof. Dra. Francisca Rodrigues Lopes
Coordenador do curso de Educação do Campo, campus de
Tocantinópolis / Coordinator Course Rural Education
Campus Tocantinópolis
Prof. Dr. Maciel Cover
[PT] Revista Brasileira de Educação do Campo
Periodicidade semestral
Universidade Federal do Tocantins, campus Tocantinópolis
Avenida Nossa Senhora de Fátima, n. 1588, 77.900-000
Centro, Tocantinópolis - TO
Coordenação do Curso de Educação do Campo com
Habilitação em Artes e Música
Telefones de contato: (63) 3471-6020 / 3471-6037
E-mails: educacaocampotoc@uft.edu.br
rbec@uft.edu.br
Site da revista:
https://sistemas.uft.edu.br/periodicos/index.php/campo
Editoração da revista: Gustavo Cunha de Araújo
[EN] Brazilian Scientific Journal of Rural Education
(Countryside)
Publication frequency: biannual
Federal University of Tocantins, Tocantinópolis, Brazil
Avenue Nossa Senhora de Fátima, n. 1588, 77.900-000
Tocantinópolis - TO
Course of Rural Education (countryside) with qualification in
Arts and Music
Contacts: +55(63) 3471-6020 / 3471-6037
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https://sistemas.uft.edu.br/periodicos/index.php/campo
Graphic Design Journal: Gustavo Cunha de Araújo
Revista Brasileira de Educação do Campo, v. 2, n. 3, 217 p., jul./dez. 2017.
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Gustavo Cunha de Araújo
EDITOR ASSISTENTE / EDITORIAL ASSISTANT
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INTERNATIONAL ASSOCIATE EDITORS
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Pere Puig Calvó Universitat Internacional de
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UB, Espanha
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Educativas Del CINVESTAV-IPN, México
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de Catalunya, Espanha
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Cuba
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Pedagógica Experimental Libertador, Venezuela
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Universidade do Minho, Portugal
Martina Paatela-Nieminen University of Helsinki,
Finlândia
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REVISÃO / PROOFREADING OF THE JOURNAL
Cícero da Silva
Gustavo Cunha de Araújo
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REVISTA / DESKTOP PUBLISHING AND GRAPHIC DESIGN
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Fernando José Martins UNIOESTE
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Juliana Chioca Ipolito UFT
Kaé Stoll Colvero UFT
Klivia Cassia Freitas de Sousa UFT
Leon de Paula UFT
Lilia Neves Gonçalves UFU
Lourdes Helena da Silva UFV
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Maciel Cover UFT
Mara Pereira da Silva UFT
Marco Aurélio Gomes de Oliveira UFT
Mário Borges Netto UFT
Marcus Facchin Bonilla UFT
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Miguel González Arroyo UFMG
Mônica Castagna Molina UnB
Natascha Eugência Janata UFSC
Neusa Maria Dal Ri UNESP
Rafael Litvin Villas-Boas UnB
Ribamar Ribeiro Júnior IFPA
Rogério Omar Caliari IFES
Rosa Ana Gubert UFT
Salomão Antônio Mufarrej Hage UFPA
Sidinei Esteves de Oliveira de Jesus UFT
Sônia Maria dos Santos UFU
Sérgio Botton Barcellos UFPel
Wilson José Soares IFMT
Sidinei Esteves de Oliveira UFT
Tereza Mara Franzoni UDESC
Ubiratan Francisco de Oliveira UFT
Wilson José Soares IFMT
[PT] FOCO, ESCOPO E MISSÃO
A Revista Brasileira de Educação
do Campo, de periodicidade
semestral, publica Artigos originais
resultantes de pesquisas teóricas
e/ou empíricas, Dossiês Temáticos,
Ensaios e Resenhas de temas
vinculados à Educação do Campo
sob diferentes campos da
pesquisa, como: História da
Educação do Campo; Movimentos
Sociais; Políticas Públicas; Jovens
e Adultos do Campo; Formação
Docente; Povos Indígenas e
Educação; Didática e Práticas
Pedagógicas em Artes e Música;
Arte na Educação do Campo;
Interculturalidade na Educação do
Campo; Pedagogia da Alternância;
Questão Agrária e Campesinato.
A Revista tem como missão ser um
veículo de comunicação científica
que fomente importantes debates
no campo educacional,
principalmente na área da
Educação do Campo, de
pesquisadores brasileiros e
estrangeiros mestres e doutores,
além de estudantes acompanhados
de seus respectivos orientadores
(titulação mínima de doutor), para o
avanço científico da área e para a
produção de conhecimento.
A Revista Brasileira de Educação
do Campo é uma publicação
semestral do Departamento de
Educação do Campo, curso de
Licenciatura em Educação do
Campo com Habilitação em Artes e
Música, da Universidade Federal
do Tocantins, campus de
Tocantinópolis. Publica textos em
português, espanhol e inglês. A
revista recebe os manuscritos em
fluxo contínuo. É um periódico
científico de acesso aberto e
gratuito, sem taxas de submissão e
de publicação dos textos
submetidos à Revista.
[EN] AIMS & SCOPE
The Brazilian Scientific Journal of
Rural Education (Countryside
Education), biannual publication,
publishes original articles resulting
from theoretical and/or empirical
research thematic, essays and
reviews of topics related to the
Rural Education (Countryside
Education) in different fields of
research, such as the Rural
Education (Countryside
Education) History; Social
Movements; Public Policies;
Indigenous Peoples and Education;
Teacher Training; Youth and Adult
Rural Education (Countryside
Education); Didactic and
Pedagogical Practices in Arts and
Music; Art in Rural Education
(Countryside Education);
Interculturalism in Rural Education
(Countryside Education); Pedagogy
of Alternation; Land Reform and
Peasantry.
The Scientific Journal's mission is
to be a qualified scientific
communication instrument that
fosters important debates in the
educational field, especially in the
Rural Education (Countryside
Education) area of Brazilians and
foreign Masters and PhD
researchers and students
accompanied by their mentors
(minimum Doctor title required), for
scientific progress in the field and
for producing knowledge.
The Brazilian Scientific Journal of
Rural Education (Countryside
Education) is a biannual publication
of the Department of Rural
Education (Countryside Education),
Bachelor course of Rural Education
(Countryside Education) and
specialization course in Arts and
Music of the Federal University of
Tocantins, Tocantinópolis city. It
publishes papers in Portuguese,
Spanish and English. The journal
receives manuscripts in continuous
flow. It is an open access Scientific
Journal. No charges - no fees - of
manuscript submission and
publication - no APCs.
[SP] TEMÁTICA Y ALCANCE
La Revista Brasileña de la
Educación Rural (Educacão do
Campo), dos veces al año, publica
artículos originales resultantes de
teóricos y / o archivos temáticos de
investigación empírica, ensayos y
reseñas de temas relacionados con
el campo de la educación rural en
diferentes campos de la
investigación, tales como: Historia
de la Educación Rural (campo);
Los Movimientos Sociales;
Políticas Públicas; Pueblos
Indígenas y la Educación;
Formación del Profesorado; la
Jóvenes y Adultos Campo;
Didácticos y Pedagógicos Prácticas
en Artes y Música; Arte en la
Educación Rural; Interculturalidad
en Educación Rural; Pedagogía de
la Alternancia; Cuestión Agraria y
Campesinado.
La misión de la revista es ser un
instrumento de calidad de la
comunicación científica que
promueve debates importantes en
el campo de la educación, sobre
todo en el ámbito de la Educación
Rural de los brasileños y
extranjeros maestros e
investigadores de doctorado y
estudiantes acompañados por sus
tutores (titulación mínima doctor),
para el progreso científico en el
campo y para la producción de
conocimiento.
La Revista Brasileña de la
Educación Rural (Educação do
Campo) es una publicación
semestral del Departamento de
Educación Rural, Licenciatura en
Educación Rural con
especialización en Artes y Música
de la Universidad Federal de
Tocantins, campus
Tocantinópolis. Publica textos en
portugués, español e Inglés. La
revista recibe manuscritos en
continuamente. Es una revista
científica abierta y libre, sin pagos
de tasas de presentación y
publicación de los textos
presentados en la revista.
FONTES DE INDEXAÇÃO / INDEXING DATABASES
Indexadores Nacionais e Internacionais (Bases de Dados, Diretórios,
Catálogos, Repositórios):
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Campo
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4863?source=%7B%22query%22%3A%7B%22filtered%22%3A%7B%22filter%22%3
A%7B%22bool%22%3A%7B%22must%22%3A%5B%7B%22term%22%3A%7B%22
index.issn.exact%22%3A%222525-
4863%22%7D%7D%2C%7B%22term%22%3A%7B%22_type%22%3A%22article%2
2%7D%7D%5D%7D%7D%2C%22query%22%3A%7B%22match_all%22%3A%7B%
7D%7D%7D%7D%2C%22from%22%3A0%2C%22size%22%3A100%7D
Portal de Periódicos CAPES
http://link.periodicos.capes.gov.br/sfxlcl41?url_ver=Z39.88-
2004&url_ctx_fmt=infofi/fmt:kev:mtx:ctx&ctx_enc=info:ofi/enc:UTF-
8&ctx_ver=Z39.88-
2004&rfr_id=info:sid/sfxit.com:azlist&sfx.ignore_date_threshold=1&rft.object_id=3710
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CLASE
http://clase.unam.mx/F?func=find-b-0&local_base=cla01
ERIHPLUS
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REDIB
https://www.redib.org/recursos/Record/oai_revista3291-revista-brasileira-
educac%C3%A3o-campo
FLACSO (ARGENTINA)
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Search&resourceTypeName=allTitles&resourceType=&radioButtonChanged=
ROAD
http://road.issn.org/issn/2525-4863-revista-brasileira-de-educacao-do-campo
Edubase (SBU/UNICAMP)
http://portal.edubase.modalbox.com.br/index.php/site/revistas/
ULRICH's WEB
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Sumários.Org
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campo
Latindex
http://www.latindex.org/latindex/ficha?folio=25817
Diadorim
http://diadorim.ibict.br/handle/1/1283
Google Acadêmico (Google Scholar)
https://scholar.google.com.br/citations?user=PEWZXNYAAAAJ&hl=pt-BR
EZ3/Eletronic Journals Library
http://rzblx1.uni-
regensburg.de/ezeit/searchres.phtml?bibid=AAAAA&colors=7&lang=en&jq_type1=K
T&jq_term1=&jq_bool2=AND&jq_type2=IS&jq_term2=2525-
4863&jq_bool3=AND&jq_type3=PU&jq_term3=&hits_per_page=50&search_journal=
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MIAR (Universitat de Barcelona)
http://miar.ub.edu/issn/2525-4863
Actualidad Iberoamericana (Indice Internacional de Revistas)
http://www.citrevistas.cl/actualidad/b2b_g8.htm
PKP (Public Knowledge Project)
http://index.pkp.sfu.ca/index.php/browse/index/262
Dataverse Harvard
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Libraries (University of Minnesota)
https://primo.lib.umn.edu/primo-explore/jsearch?query=any,contains,2525-
4863&tab=jsearch_slot&vid=TWINCITIES&lang=en_US&offset=0&journals=any,252
5-4863
WorldCat (OCLC)
https://www.worldcat.org/title/revista-brasileira-de-educacao-do-campo-rbec-
rbec/oclc/957360960?referer=list_view
Zenodo
https://zenodo.org/record/61583
Mendeley
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Academia.Edu
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AcademicKeys
http://humanities.academickeys.com/jour_main.php
JournalTOCs
http://www.journaltocs.ac.uk/index.php?action=browse&subAction=pub&publisherID=
2716&journalID=36857&pageb=1&userQueryID=1161&sort=&local_page=1&sorTyp
e=&sorCol=1
CiteULike
http://www.citeulike.org/user/rbec
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http://beta.zdb-opac.de/zdb/list.xhtml?t=2866207-6&key=all
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nb.de/DB=1.1/SRT=YOP/LNG=DU/CMD?ACT=SRCHA&IKT=8506&TRM=2866207-
6
E-Lis (Repository E-Prints in Library & Information Science)
http://eprints.rclis.org/29951/
ResearcH - Directorio de Revistas (Journals & Authors)
http://www.journalsandauthors.com/humanidades.html
BASE
https://www.base-
search.net/Search/Results?lookfor=Revista+Brasileira+de+Educa%C3%A7%C3%A3
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OpenAIRE
https://www.openaire.eu/search/publication?articleId=od______2659::4c34d028a952
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Livre (Revistas de Livre Acesso)
http://www.cnen.gov.br/centro-de-informacoes-nucleares/livre
Research Bib (Academic Resource Index)
http://journalseeker.researchbib.com/view/issn/2525-4863
Scilit (The Scientific Literature Database)
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Science Library Index
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SUMÁRIO / CONTENTS
Expediente / Masthead
Ciências da Natureza na Educação do Campo: encontros e desencontros na luta pela
educação popular .............................................................................................................................. 833
Wender Faleiro, Gustavo Cunha de Araújo, Cícero da Silva
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-4863.2017v2n3p833
Artigos / Articles / Artículos (Dossiê)
Interculturalidade e conhecimento tradicional sobre a Lua na formação de professores no/do
campo
............................................................................................................................................................ 836
Rodrigo dos Santos Crepalde, Verônica Klepka, Tânia Halley Oliveira Pinto
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-4863.2017v2n3p836
Uso de objetos educacionais digitais para ensinar sistemas do corpo humano em uma escola
do campo ............................................................................................................................................ 861
Silvio Ferreira dos Santos, Marcelo Franco Leão
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-4863.2017v2n3p861
Discutindo a temática agrotóxicos: uma abordagem por meio das controvérsias
sociocientíficas .................................................................................................................................. 881
Eril Medeiros da Fonseca, Leandro Duso, Marilisa Bialvo Hoffmann
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-4863.2017v2n3p881
Júri simulado e tempestade cerebral: entendendo a implantação da Usina Hidrelétrica de Belo
Monte .................................................................................................................................................. 899
Marcos Marques Formigosa, Miriam Ines Marchi, José Claudio Del Pino, Marli Teresinha Quartieri
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-4863.2017v2n3p899
A sustentabilidade, a educação ambiental e o curso de Educação do Campo: é possível essa
aproximação? .................................................................................................................................... 921
Juliana Pereira de Araújo, Maria Paulina de Assis, Elis Regina da Costa
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-4863.2017v2n3p921
Formação de professores em Ciências da Natureza para escolas do/no campo na UFFS
Campus Erechim: perspectivas e desafios .................................................................................... 941
Moises Marques Prsybyciem, Almir Paulo dos Santos, Jeronimo Sartori
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-4863.2017v2n3p941
Fenômenos como mediadores do processo educativo em Ciências da Natureza e Matemática
na Educação do Campo .................................................................................................................... 965
Marcelo Gules Borges, Juliano Espezim Soares Faria, Elizandro Maurício Brick
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-4863.2017v2n3p965
Ciências da Natureza na Educação do Campo: em defesa de uma abordagem
sócio-histórica ................................................................................................................................... 991
Edilson Fortuna de Moradillo, Hélio da Silva Messeder Neto, Elisa Prestes Massena
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-4863.2017v2n3p991
Política Editorial / Editorial Policy
Diretrizes e Normas para Publicação / Guidelines and Instructions for Authors
Revista Completa / Full Journal
Revista Brasileira de Educação do Campo
DOSSIÊ / EDITORIAL
DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-4863.2017v2n3p833
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 2
n. 3
p. 833-835
jul./dez.
2017
ISSN: 2525-4863
833
Ciências da Natureza na Educação do Campo: encontros e
desencontros na luta pela Educação Popular
Wender Faleiro
1
Gustavo Cunha de Araújo
2
, Cícero da Silva
3
1
Universidade Federal de Goiás - UFG. Regional Catalão. Programa de Pós-Graduação em Educação. Av. Dr.
Lamartine Pinto de Avelar, 1120. Setor Universitário. Catalão - GO. Brasil. wender.faleiro@gmail.com.
2
Universidade Federal do Tocantins - UFT.
3
Universidade Federal do Tocantins - UFT.
A Revista Brasileira de Educação do Campo RBEC, ISSN 2525-4863, periódico
do Departamento de Educação do Campo, da Universidade Federal do Tocantins, campus de
Tocantinópolis, acaba de lançar seu primeiro dossiê temático “Ciências da Natureza na
Educação do Campo: encontros e desencontros na luta pela Educação Popularcom 8 artigos
científicos recebidos no período de submissão (de abril de 2017 a julho de 2017). Este dossiê
nasceu da união da Revista ao Congresso Nacional de Ensino de Ciências e Formação de
Professores, promovido pelo Grupo de Estudos, Pesquisa e Extensão em Ensino de Ciências e
Formação de Professores - GEPEEC/UFG, Regional Catalão, estado de Goiás.
O dossiê reúne trabalhos que discutem fundamentos sociais, históricos, políticos,
culturais, filosóficos, pedagógicos e psicopedagógicos das Ciências da Natureza na Educação
do Campo no Brasil, explorando as relações entre a dimensão da formação de professores,
sujeitos e práticas de ensino em espaços escolares e não escolares, conhecimento, cultura e
desigualdades educacionais. Logo, compreender e difundir a Educação do Campo e, em
especial, sua habilitação em Ciências da Natureza, nos diversos setores e níveis educacionais
com a proposição de ações efetivas de enfrentamento de seus desafios, constitui-se num passo
importante e necessário à valorização da Educação do Campo e a possibilidade da garantia do
exercício pleno de direitos pelos povos camponeses.
A área de Ciências da Natureza na Educação do Campo demostra que está crescendo
e se fortalecendo como área produtiva e que contribui para o desenvolvimento educacional no
contexto do campo, como revelam a pesquisas relatadas nos artigos deste Dossiê. São 8
artigos provenientes de diferentes universidades das cinco regiões do Brasil, a saber: 01 artigo
da região Norte (Universidade Federal do Pará UFPA/Universidade do Vale do Taquari
UNIVATES), 02 oriundos da região Centro-Oeste (Instituto Federal de Mato Grosso IFMT
e Universidade Federal de Goiás - UFG), 01 artigo proveniente da região Nordeste
(Universidade Federal da Bahia UFBA/Universidade Estadual de Santa Cruz UESC), 01
da região Sudeste (Universidade Federal do Triângulo Mineiro - UFTM) e 03 artigos oriundos
da região Sul (Universidade Federal do Pampa UNIPAMPA/Universidade Federal do Rio
Grande do Sul UFRGS, Universidade Federal da Fronteira Sul UFFS e Universidade
Federal de Santa Catarina - UFSC).
Abrimos a apresentação dos artigos no dossiê com o trabalho intitulado
Interculturalidade e conhecimento tradicional sobre a Lua na formação de professores
no/do campo, de autoria de Rodrigo dos Santos Crepalde, Verônica Klepka e Tânia Halley
Oliveira Pinto (UFTM). Os pesquisadores abordam a formação de professores para a
Educação do Campo em diálogo com a interculturalidade que, segundo os mesmos, entendem
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 2
n. 3
p. 833-835
jul./dez.
2017
ISSN: 2525-4863
834
que o ensino de ciências deve considerar a cultura na formação de docentes para o campo,
contribuindo para o intercâmbio e produção de conhecimento.
Já no artigo intitulado Uso de objetos educacionais digitais para ensinar sistemas
do corpo humano em uma escola do campo”, dos pesquisadores Marcelo Franco Leão e
Silvio Ferreira dos Santos (IFMT/UFRGS), a atenção está sobre a utilização da tecnologia
voltada ao processo de ensino e aprendizagem. Nesse estudo, analisa-se a utilização de
softwares educacionais com o objetivo de ensinar sistemas do corpo humano, numa escola do
campo, em Mato Grosso. Com base nos resultados dessa pesquisa, os autores relataram que a
utilização de tecnologias digitais pelos estudantes permitiu que os mesmos aprendessem
melhor os conteúdos relacionados aos sistemas do corpo humano, em comparação com
recursos tradicionais, como o livro didático, por exemplo.
Agrotóxicos no campo é o tema do artigo Discutindo a temática agrotóxicos
relacionada à saúde: uma abordagem através das controvérsias sociocientíficas”, de
autoria de Eril Medeiros da Fonseca, Leandro Duso e Marilisa Bialvo Hoffmann
(UNIPAMPA/UFRGS). O artigo discute as implicações dos agrotóxicos para a saúde da
população camponesa, por meio da abordagem das Controvérsias Sociocientíficas (CSC) no
Ensino de Ciências e na Educação do Campo. Nesse sentido, afirmam que além de prejudicar
a saúde daquelas pessoas que vivem e trabalham no campo, os agrotóxicos trazem uma
concepção de saúde que afeta a diversidade biológica.
No manuscrito intitulado Júri Simulado e tempestade cerebral: entendendo a
implantação da Usina Hidrelétrica de Belo Monte”, de autoria de Marcos Marques
Formigosa, Marli Terezinha Quartieri e José Cláudio Del Pino (UFPA/UNIVATES), a partir
das estratégias metodológicas do Júri Simulado e Tempestade Cerebral, discutem as
metodologias utilizadas por professores que ensinam conteúdos de Física por meios
tradicionais. Nessa investigação, identificaram que essas metodologias Júri Simulado e
Tempestade Cerebral contribuíram para que os conteúdos do ensino de Física fossem
ampliados aos estudantes, além de terem possibilitado aos discentes um entendimento crítico
da realidade da qual fazem parte.
O artigo intitulado
A sustentabilidade, a educação ambiental e o curso de
Educação do Campo: é possível essa aproximação?
, das pesquisadoras Juliana Pereira
Araújo, Maria Paulina de Assis e Elis Regina Costa (UFG), tem como base reflexões sobre
formação de professores no curso de Licenciatura em Educação do Campo com habilitação
em Ciências da Natureza, da UFG - Regional Catalão. Ao discutirem desafios para
consolidação dessa licenciatura, as autoras apontam a necessidade de estabelecer
compreensão sobre sustentabilidade como a avaliação das possibilidades de sua utilização
como norteador da prática ou inspiração teórico-metodológica. Os resultados da pesquisa
revelaram que o conceito de sustentabilidade é mais complexo do que parece, exigindo maior
compreensão por parte dos docentes e estudantes.
Em “
Formação de professores em Ciências da Natureza para escolas do/no
campo na UFFS Campus Erechim: perspectivas e desafios
”, de autoria de
Moises
Marques Prsybyciem, Almir Paulo dos Santos e Jeronimo Sartori (UFFS), o objetivo proposto
é evidenciar, no processo de formação de professores, perspectivas e desafios no Curso
Interdisciplinar em Educação do Campo: Ciências da Natureza (Licenciatura da UFFS,
Campus Erechim), para escolas do/no campo. Com base nos resultados, os pesquisadores
afirmam que ficaram evidentes desafios e potencialidades na formação de professores para as
escolas localizadas nas comunidades indígenas e nas escolas do/no campo, assim como a
necessidade de sua articulação com o Ensino de Ciências da Natureza (Química, Física e
Biologia), tais como: a identidade cultural dos sujeitos, o choque de culturas (diferentes povos
do campo e diferentes especificidades), os aspectos pedagógicos relacionados à organização e
ao trabalho no regime de alternância.
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No penúltimo artigo,
Fenômenos como mediadores do processo educativo em
Ciências da Natureza e Matemática na Educação do Campo
”, elaborado pelos
pesquisadores Marcelo Gules Borges, Juliano Espezim Soares Faria e Elizandro Maurício
Brick (UFSC), o propósito é analisar uma prática pedagógica desenvolvida na Licenciatura
Educação do Campo da UFSC a fim de discutir e destacar os modos pelos quais os fenômenos
podem ser potentes para o Ensino das Ciências da Natureza e Matemática. Com base na
experiência pedagógica desenvolvida nessa Licenciatura, os autores analisaram as estratégias
tomadas e caminhos trilhados na elaboração de estudos de conhecimentos específicos das
Ciências da Natureza e Matemática na delimitação da dimensão natural de fenômenos
socialmente relevantes no contexto de origem dos estudantes. A pesquisa mostrou que
trabalhar com fenômenos é uma dentre várias possibilidades de organização da docência e do
conhecimento na formação de professores.
Por fim, apresentamos o último artigo:
Ciências da Natureza na Educação do
Campo: em defesa de uma abordagem sócio-histórica
”, que é fruto de uma pesquisa
realizada por Edilson Fortuna de Moradillo, Hélio da Silva Messeder Neto e Elisa Prestes
Massena (UFBA/UESC) cujo foco é a defesa da abordagem sócio-histórica nos cursos de
formação de professores para atuar na área das Ciências da Natureza da Licenciatura em
Educação do Campo. Nesse trabalho, os pesquisadores defendem os referenciais do
materialismo histórico-dialético, do Sistema de Complexos de Pistrak, da Pedagogia
Histórico-Crítica e da Psicologia Histórico-Cultural como os norteadores dessa abordagem,
tendo em vista a categoria trabalho como fundante do ser social, o eixo condutor. Os
pesquisadores defendem que a abordagem sócio-histórica possibilita trabalharmos a
perspectiva historicizadora de homem e da realidade social, permitindo avançarmos no
sentido da luta contra hegemônica na educação e na sociedade na busca da emancipação
humana.
Esperamos que esse dossiê seja útil e transformador!
Como citar este editorial / How to cite this editorial
APA:
Faleiro, W., Araújo, G. C., & Silva, C. (2017). Ciências da Natureza na Educação do Campo: encontros e
desencontros na luta pela Educação Popular. Rev. Bras. Educ. Camp., 2(3), 833-835.
ABNT:
FALEIRO, W.; ARAÚJO, G. C.; SILVA, C. Ciências da Natureza na Educação do Campo: encontros e
desencontros na luta pela Educação Popular. Rev. Bras. Educ. Camp., Tocantinópolis, v. 2, n. 3, p. 833-835,
2017.
Orcid
Wender Faleiro
http://orcid.org/0000-0001-6419-296X
Gustavo Cunha de Araújo
https://orcid.org/0000-0002-1996-5959
Cícero da Silva
https://orcid.org/0000-0001-6071-6711
Revista Brasileira de Educação do Campo
DOSSIÊ / ARTIGO
DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-4863.2017v2n3p836
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Interculturalidade e conhecimento tradicional sobre a Lua
na formação de professores no/do campo
Rodrigo dos Santos Crepalde
1
, Verônica Klepka
2
, Tânia Halley Oliveira Pinto
3
1
Universidade Federal do Triângulo Mineiro - UFTM. Departamento de Educação em Ciências, Matemática e
Tecnologias do Instituto de Ciências Exatas, Naturais e Educação. Avenida Randolfo Borges Júnior, 1400.
Univerdecidade. Uberaba - MG. Brasil. rodrigocrepalde@gmail.com.
2
Universidade Federal do Triângulo
Mineiro - UFTM.
3
Universidade Federal do Triângulo Mineiro - UFTM.
RESUMO. O tratamento dado ao conhecimento tradicional pela
ciência escolar tende a desvalorizá-lo, submetendo-o à visão
ingênua, de senso comum, e até mitológica. Como forma de
promover o diálogo e a troca entre culturas diferentes, que
povoam a sala de aula, a interculturalidade assume que o Ensino
de Ciências deve ser considerado como a aquisição de mais uma
cultura, sem para isso sobrepor a validade das outras. Este artigo
apresenta um caso concreto de ensino e aprendizagem, das
ciências físicas, como exemplo da promoção do reconhecimento
do conhecimento tradicional sobre a Lua em um contexto de
formação intercultural de professores para o campo. São
discutidos trechos representativos de produções escritas de
licenciandos em Educação do Campo, habilitação Ciências da
Natureza, realizadas na disciplina de Introdução à Física que
tiveram como objetivo argumentar sobre o modo como os
conhecimentos científico e tradicional estão relacionados à Lua
e as suas implicações para o Ensino de Ciências. Nota-se que o
conhecimento tradicional está fortemente entrelaçado às práticas
sociais de comunidades desses licenciandos, apontando a
necessária inclusão desse conhecimento na formação
intercultural de professores para o campo que estimule o
intercâmbio e o enriquecimento mútuo.
Palavras-chave: Conhecimento Tradicional, Educação
Intercultural em Ciências, Formação de Professores para o
Campo.
Crepalde, R. S., Klepka, V., & Halley, T. O. P. (2017). Interculturalidade e conhecimento tradicional sobre a Lua na formação de
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Interculturallity and traditional knowledge about the
moon in teacher training at the/of rural education
ABSTRACT: The treatment given to traditional knowledge by
school science tends to devalue it, subjecting it to naive,
common sense, and even mythological vision. As a way of
promoting dialogue and exchange between different cultures,
which populate the classroom, interculturallity assumes that
science education should be considered as the acquisition of yet
another culture, without overcoming the validity of the others.
This article presents a concrete case of teaching and learning of
the physical sciences as an example of promoting the
recognition of traditional knowledge about the Moon in a
context of intercultural rural science teacher education. They are
discussed representative excerpts of written productions of
undergraduate rural education, major in natural sciences,
conducted in the discipline of Introduction to Physics that aimed
to argue about how scientific and traditional knowledge are
related to the Moon and its implications for science teaching. It
is noted that traditional knowledge is strongly intertwined with
the social practices of communities of these graduates, pointing
out the necessary inclusion of this knowledge in the intercultural
rural science teacher education that stimulates the exchange and
mutual enrichment.
Keywords: Traditional Knowledge, Intercultural Science
Education, Rural Science Teacher Education.
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Interculturalidad y el conocimiento tradicional sobre la
Luna en la formación docente en/del campo
RESUMEN: El tratamiento dado al conocimiento tradicional
por la ciencia escolar tiende a desvalorizarlo, sometiéndolo a la
visión ingenua, de sentido común, y hasta mitológica. Con el fin
de promover el diálogo y el intercambio entre las diferentes
culturas que pueblan el aula, la interculturalidad asume que la
enseñanza de las ciencias debe ser considerada como la
adquisición de otra cultura sin para ello sobreponer la validez de
las otras. En este artículo se presenta un caso de la enseñanza y
el aprendizaje, de las ciencias físicas, como un ejemplo de la
promoción del reconocimiento de los conocimientos
tradicionales acerca de la Luna en un contexto de formación
intercultural de los maestros para el campo. Se discuten
fragmentos representativos de producciones escritas de
estudiantes de graduación en educación del campo, habilitación
ciencias de la naturaleza, realizadas en la disciplina de
Introducción a la Física que tuvieron como objetivo argumentar
sobre el modo como los conocimientos científico y tradicional
están relacionados a la Luna y sus implicaciones para la
enseñanza de las ciencias. Se observa que el conocimiento
tradicional está fuertemente entrelazado a las prácticas sociales
de comunidades de esos estudiantes de graduación, señalando la
necesaria inclusión de este conocimiento en la formación
intercultural de los maestros para el campo que estimula el
intercambio y enriquecimiento mutuo.
Palabras clave: Conocimiento Tradicional, Educación
Intercultural en Ciencias, Formación de Maestros para el
Campo.
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Introdução
Nas últimas décadas, os movimentos
sociais enquanto sujeitos de direitos a terra,
ao território, à igualdade e às diferenças,
têm pressionado para que suas experiências
e saberes sejam reconhecidos como
conhecimento legítimo. Lutam, além disso,
para terem direito e acesso a bens culturais
e materiais, historicamente apropriados por
poucos na sociedade hierarquizada e
desigual em que vivemos. Desse modo, os
movimentos do campo, articulados com a
luta pela reforma agrária, incorporaram a
seus discursos e a suas pautas de
reivindicações a luta pela educação. Nesse
sentido, a abertura de cursos específicos
para formar docentes e educadores dos
diversos coletivos sociais, étnicos, raciais e
geracionais, e do campo, faz parte de uma
realidade recente em várias universidades
do Brasil (Arroyo, 2008, 2011; Antunes-
Rocha, 2009).
A tentativa de incorporar os saberes e
as experiências como conhecimentos
legítimos dos novos coletivos que chegam
à escola e à universidade exibe uma
tendência de considerá-los como saberes
prévios, brutos e pré-científicos. Isto é,
parte de um olhar piedoso, populista,
superficial e etnocêntrico que subestima o
valor da experiência e do conhecimento
produzido na riqueza e diversidade da vida
social (Arroyo, 2008).
Se os coletivos que chegam à
universidade têm o direito de ouvir e
aprender as concepções,
conhecimentos, significados da
realidade acumulados no ensino, na
pesquisa, na reflexão teórica
organizada, a universidade, por sua
parte, tem o direito e o dever de
ouvir, aprender as concepções,
vivências, culturas, valores,
conhecimentos, formas de entender-
se e entender o real e a rica vivência
da diversidade vinda desses
coletivos. Sobretudo, de sua história
de segregação e silenciamento, que
também é um espaço de produção de
conhecimento e de valores. (Arroyo,
2008, p. 31).
Como sustenta Santos (2009) a
injustiça social global possui ligações
íntimas com a injustiça cognitiva global e,
em resposta, a resistência política deve
assumir a resistência epistemológica. Para
tanto, o autor defende a ideia do
cosmopolitismo subalterno, forma política
e cultural da globalização contra
hegemônica
i
.
A novidade do cosmopolitismo
subalterno reside, acima de tudo, em
ter um profundo sentido de
incompletude, sem, contudo,
ambicionar a completude. Por um
lado, defende que a compreensão do
mundo excede largamente a
compreensão ocidental do mundo e,
portanto, a nossa compreensão da
globalização é muito menos global
que a própria globalização. Por outro
lado, defende que quanto mais
compreensões não-ocidentais forem
identificadas mais evidente se tornará
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o facto de que muitas outras
continuam por identificar e que as
compreensões híbridas, que misturam
componentes ocidentais e não-
ocidentais, são virtualmente infinitas.
(Santos, 2009, p. 43).
Nessa direção, a ecologia de saberes
afirma-se como alternativa à monocultura
da ciência moderna: “é uma ecologia
porque se baseia no reconhecimento da
pluralidade de conhecimentos
heterogêneos (sendo um deles a ciência
moderna) e em interações sustentáveis e
dinâmicas entre eles sem comprometer sua
autonomia” (Santos, 2009, p. 44-45). Se
uma epistemologia geral que governa a
ecologia de saberes, ela toma como
pressuposto a impossibilidade de uma
epistemologia geral o conhecimento é
entendido como interconhecimento. Assim,
o reconhecimento da diversidade cultural
passa, necessariamente, pelo
reconhecimento da diversidade
epistemológica do mundo (Santos, 2009).
Nesse contexto, a formação de
professores de ciências para o campo não
pode ficar subsumida aos conhecimentos
canônicos da ciência escolar sob pena de
silenciar e colocar em segundo plano a
cultura e as práticas sociais camponesas.
Essa afirmação parece mera redundância,
pois estamos tratando de novos sujeitos
que chegam à universidade e, portanto,
exigem, por direito, novas pedagogias. No
entanto, a articulação entre a pesquisa e
prática pedagógica em Ensino de Ciências
e a área da Educação do Campo ainda é
recente.
O comprometimento com os
princípios da Educação do Campo
implica também a articulação das
ciências para compreensão profunda
de temas como “soberania alimentar
e nutricional”, “desenvolvimento
sustentável”, “agroecologia vs
biotecnologia”, dentre outros que
necessitem da articulação com áreas
do conhecimento que se debruçam
sobre os problemas presentes nos
diversos contexto do campo. Isso
implica a necessidade de articulação
com disciplinas de outras áreas do
conhecimento (Ciências Agrárias,
Antropologia, Psicologia, Geografia,
Saúde) em suas atividades de
pesquisa e/ou extensão, para
contribuir com os estudos que
permitam um olhar mais complexo
para a realidade local, propiciando
também o substrato para análises do
ponto de vista das ciências que sejam
engajadas e comprometidas com as
demandas locais. (Brick et al., 2014,
p. 45-46).
Nesse sentido, este trabalho se insere
num programa mais amplo de pesquisa que
pretende compreender as relações entre os
conhecimentos tradicional e científico que
emergem de práticas sociais do campo,
bem como caracterizar suas contribuições
para formação de professores em uma
perspectiva intercultural em ciências. A
partir desse propósito mais amplo, algumas
questões orientam esse programa de
investigação: i) de que modo os
conhecimentos científico e tradicional
constroem pontos de aproximação e
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afastamento no contexto de formação de
professores para o campo?; ii) por meio de
quais estratégias didáticas ocorre a
afirmação e não o silenciamento dos
conhecimentos tradicionais do campo?; iii)
quais são as implicações para a formação
de professores do campo quando o
conhecimento tradicional passa a
constituir-se como discurso objeto de
ensino e aprendizagem da ciência escolar?
O texto que apresentamos por agora
possui dois propósitos: um primeiro, de
ordem teórica, afirmar a necessidade da
formação de professores de ciências
coerente e responsável
ii
com a vida no/do
campo. Do nosso ponto de vista, não basta
apenas “selecionar” algumas ideias chave
das ciências naturais que dialoguem em
maior medida com a vida e luta das
populações do campo, mas também é
preciso questionar os conteúdos canônicos
das Ciências Naturais incorporando o
conhecimento tradicional como meta do
Ensino de Ciências e como um dos
discursos que podem constituir a ciência
escolar. O segundo propósito, de natureza
mais empírica, consiste em traduzir em um
caso concreto de ensino e aprendizagem,
das Ciências Físicas, a promoção do
reconhecimento do conhecimento
tradicional sobre a Lua em um contexto de
formação intercultural de professores para
o campo.
A construção deste trabalho foi
motivada pela experiência do primeiro
autor como docente em um curso de
Licenciatura em Educação do Campo
(LECampo) da Universidade Federal do
Triângulo Mineiro (UFTM), localizada no
estado de Minas Gerais e das pesquisas que
tem realizado desde o mestrado no âmbito
da educação intercultural em ciências. De
modo particular, a temática da Lua
emergiu de uma proposta de trabalho final
da disciplina Introdução à Física do curso
mencionado que teve como objetivo a
pesquisa sobre o modo como os
conhecimentos científico e tradicional
estão relacionados à Lua e as suas
implicações para o Ensino de Ciências. A
temática Lua” não foi uma escolha
arbitrária, mas, decorrente do arcabouço
prático de vida dos estudantes da
LECampo desta universidade. De modo
que, o uso da Lua como um artefato
cultural para explicar fenômenos perpassou
e perpassa outras disciplinas e contextos
educativos do curso. Isso foi mote para que
os autores deste artigo convergissem seus
esforços em desenvolver projetos e
atividades de ensino de maneira
interdisciplinar, promovendo a discussão
intercultural, voltada para a formação
inicial e continuada de professores do
campo, tomando como base algumas
práticas sociais emergentes do contexto
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dos alunos do curso. Nesse sentido, cursos
formativos e projetos de iniciação
científica, pesquisa e extensão estão sendo
realizados envolvendo a interculturalidade
junto aos temas Lua, Etnobotânica e
Biofertilizantes como eixos a serem
dialogados no Ensino de Ciências.
Interculturalidade e formação de
professores do campo
Tende-se a considerar que no mundo
atual tornou-se imprescindível a
comunicação entre as diferentes culturas
dados os inúmeros conflitos sociais
existentes e a complexificação destes.
Entretanto, é interessante notar o que está
implícito nesta demanda. Esconde-se nessa
frase o fato de que, por séculos, os
diferentes povos e suas culturas foram
silenciados em detrimento de um
monólogo, o do dominador, personificado
de várias maneiras, seja por meio do
colonizador que invadiu uma terra e
obrigou aos nativos o culto a seus deuses e
uso de sua linguagem, símbolos e
vestimentas, seja daquele que desqualifica
formas diferentes de ver o mundo,
estabelecendo um padrão de verdade,
como tem feito historicamente a ciência
ocidental. Trata-se do localismo
globalizado que denomina Santos (2003),
um tipo de globalização que cultua a
hegemonia e, assim, a assimetria nas
relações. Portanto, não de hoje, os
movimentos sociais conquistaram, nas
últimas décadas, políticas públicas que os
permitiram seguir suas lutas e alcançar
legitimidade. Em resposta a isso, teorias e
estudos foram se voltando a compreender
essa dinâmica demonstrando a
incompletude das culturas, que
“nenhuma forma singular de conhecimento
pode responder por todas as intervenções
possíveis no mundo, todas elas são, de
diferentes maneiras, incompletas”. (Santos,
2009, p. 49). É nesta última perspectiva
que surge a interculturalidade.
O conceito de interculturalidade
assume múltiplas caracterizações, mas, de
modo geral, “traz a ideia de inter-relação,
diálogo e troca entre culturas diferentes e
supõe a coexistência da diversidade como
riqueza” (Paladino & Almeida, 2012, p.
16), ou seja, um tratamento igualitário das
culturas sem sobreposições. A
interculturalidade pressupõe a existências
de múltiplas formas de culturas que
convivem juntas, o que nos proporciona a
diversidade. A interculturalidade, nesse
sentido, promove o empoderamento de
culturas historicamente homogeneizadas,
diluídas, apagadas pela globalização
(Fleuri, 2003; Paladino & Almeida, 2012;
Candau, 2013) como é o caso das práticas
sociais dos povos do campo.
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Com a conquista pelo direito à
educação, os povos do campo requerem
também, por legítimo direito, o
reconhecimento de seus saberes como
formas explicativas do mundo no qual
vivem e trabalham, de modo que o Ensino
de Ciências voltado a esses sujeitos
necessariamente passa por cruzamentos
culturais possibilitando o “aprender ciência
enquanto aquisição de cultura
(Aikenhead, 2009, p. 90, destaque no
original) e não sobreposição da visão da
ciência sobre a sua própria visão de
mundo. Assim, o Ensino de Ciências numa
perspectiva intercultural implica que o
papel do professor, seja ele do campo ou
não, é basicamente: i) questionar o
etnocentrismo e assumir uma atitude de
estranhamento e relativização a fim de
perceber outras culturas que não a sua
própria; ii) promover um diálogo que
possibilite que o aluno traga seus
conhecimentos, repertório cultural
simbólico, etc., para o diálogo na sala de
aula sem que estes sejam desvalorizados;
iii) demarcar fronteiras que possibilitem o
reconhecimento de qual cultura está se
falando; iv) promover o cruzamento dessas
fronteiras reconhecendo nas diferentes
culturas pontos convergentes e divergentes
sobre a explicação de um dado fenômeno
natural; e, v) oportunizar que a cultura do
aluno emerja sendo também objeto da
ciência escolar.
A educação, e, consequentemente, a
formação intercultural de professores de
ciências para o campo, pressupõe:
... adotar a perspectiva do
intercultural como processo de
diálogo, comunicação entre pessoas
ou grupos pertencentes a culturas
diferentes (nacionalidades, origem
social, gênero, ocupação, etc.), que
promove a integração e o respeito à
diversidade e permite ao educando
encontrar-se com a cultura do outro
sem deixar de lado a sua própria, ou
seja, incentiva o respeito a outras
culturas, a superação de preconceitos
culturais e do etnocentrismo.
(Walesko, 2006, p. 27).
Foroni (2004, p. 83) destaca que,
O principal desafio da prática
pedagógica intercultural torna-se a
necessidade de elaborar a
multiplicidade e a contraditoriedade
de modelos culturais que interferem
na formação de visão de mundo dos
educandos e compreender as relações
que tal visão estabelece com os
“modelos” transmitidos por meio de
situações educativas vividas,
particularmente, na escola.
Em outras palavras, para que o
professor possa reconhecer a
multiplicidade das culturas é preciso que
seja ensinado a realizar essa elaboração. A
formação de professores na perspectiva
intercultural torna-se, portanto, inerente ao
currículo. É por meio dessa formação
intercultural que pode haver a mudança de
Crepalde, R. S., Klepka, V., & Halley, T. O. P. (2017). Interculturalidade e conhecimento tradicional sobre a Lua na formação de
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uma prática voltada à transmissão de uma
cultura homogênea e coesa para a
elaboração de uma diversidade de modelos
culturais que interagem na formação dos
educandos” (Foroni, 2004, p. 83). Uma
prática que sustente um projeto de
educação integrador e interdisciplinar.
Foroni (2004, p. 85) completa que,
ao perceberem o reconhecimento de seus
modos de vida, símbolos, manifestações e
comportamentos culturais pelos
professores e nos professores, os
estudantes constroem uma autoestima que
gera “confiança e predisposição para a
aquisição de outros saberes”. Efetiva-se a
possibilidade de cruzamentos culturais.
Quando isso não ocorre,
a perspectiva de uma formação
monocultural do aluno futuro-
professor, a valorização de uma
cultura única e as práticas de
homogeneidade social, regidas por
princípios que orientam a assimilação
ou homogeneização cultural da
formação, apontam para o caráter
injusto e empobrecedor da “pseudo-
inclusão” desses novos grupos,
principalmente quando se pensa na
posterior atividade docente desses
alunos em seus grupos societais. Ao
se silenciar a “fala da diversidade e
da identidade cultural” com a
imposição de um pacote único e
fechado, composto de conteúdos
“pré-fixados e hegemônicos”,
estaremos arriscados a transportar
para suas futuras práticas educativas
a reprodução e fixação de modelos
que não lhes sejam compatíveis.
(Foroni, 2004, p. 85).
Essa incompatibilidade de modelos
explicativos, irrelevantes e inatingíveis
para uma dada cultura é resultado da
imposição de uma “cultura estrangeira”
para o aluno, a da ciência (Aikenhead,
2009). Portanto, a formação intercultural
de professores do campo e para o campo
deve considerar os saberes que esses
alunos trazem da sua cultura, mas não
basta apenas considerá-los, é preciso
entendê-los e integrá-los aos conteúdos,
uma ação que é possível a partir de
projetos que busquem compreender quais
são as culturas presentes em uma sala de
aula, de onde partem esses sujeitos e para
onde retornarão.
Conhecimento tradicional: alguns
apontamentos
Nesse trabalho optamos pelo
emprego da palavra conhecimento ao invés
de saber
iii
por entender que o primeiro é
mais restrito e contextual tal como
discurso, assumido por nós em uma
perspectiva bakhtiniana: “... o discurso, ou
seja, a língua em sua integridade concreta e
viva, e não a língua como objeto específico
da linguística, obtido por meio de uma
abstração absolutamente legítima e
necessária de alguns aspectos da vida
concreta do discurso” (Bakhtin, 2010, p.
181). Nesse sentido, o discurso é formado
por diversas vozes (posições sociais,
Crepalde, R. S., Klepka, V., & Halley, T. O. P. (2017). Interculturalidade e conhecimento tradicional sobre a Lua na formação de
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pontos de vista); responde a outros dizeres;
possui uma história; manifesta-se como
enunciados concretos de determinados
falantes. Em outras palavras, o discurso é
constitutivamente dialógico, ideológico e
histórico (Flores et al., 2009).
Chamamos de conhecimento
tradicional o discurso (re)produzido/
recontextualizado
iv
por práticas sociais que
têm sua gênese na tradição e luta
populares, comumente transmitido pela
oralidade e predominantemente organizado
pelo modo narrativo. Aqui não incluiremos
os conhecimentos das populações
indígenas, apesar da relação inequívoca e
entrelaçada entre eles. Esse destaque
cumpre um duplo propósito em nosso
texto: i) não temos ou desenvolvemos
elementos do ponto de vista teórico e
empírico para adentrar no universo das
epistemologias e práticas sociais indígenas,
mas não prescindimos de trabalhos dentro
dessa temática que possam por analogia,
similaridade ou extensão dos argumentos
auxiliarem nossa reflexão; ii) uma
distinção do ponto de vista antropológico e
legal entre populações tradicionais e
indígenas, mesmo levando em conta que as
primeiras tomam em diversas situações as
primeiras como modelo (Carneiro da
Cunha & Almeida, 2009).
O tradicional a que nos referimos
não é necessariamente antigo, tampouco é
estável, alheio a mudanças e somente
reconhecido em práticas em desuso. O
conhecimento tradicional possui sua
contemporaneidade, pois continua sendo
produzido, experimentado e compartilhado
em relações dentro e fora de suas
comunidades de origem. Essas
comunidades ou populações tradicionais
podem ser entendidas como
...grupos que conquistaram ou estão
lutando por conquistar (prática ou
simbolicamente) uma identidade
pública conservacionista que inclui
algumas das seguintes características:
uso de técnicas ambientais de baixo
impacto, formas equitativas de
organização social, presença de
instituições com legitimidade para
fazer cumprir suas leis, liderança
local e, por fim, traços culturais que
são seletivamente reafirmados e
reelaborados. (Carneiro da Cunha &
Almeida, 2009, p. 300).
Em termos institucionais, a definição
de povos e comunidades tradicionais
aparece no art. do Decreto n.° 6.040, de
7 de fevereiro de 2007 (p. 316):
I - Povos e Comunidades
Tradicionais: grupos culturalmente
diferenciados e que se reconhecem
como tais, que possuem formas
próprias de organização social, que
ocupam e usam territórios e recursos
naturais como condição para sua
reprodução cultural, social, religiosa,
ancestral e econômica, utilizando
conhecimentos, inovações e práticas
gerados e transmitidos pela tradição.
Crepalde, R. S., Klepka, V., & Halley, T. O. P. (2017). Interculturalidade e conhecimento tradicional sobre a Lua na formação de
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No caso do Brasil podemos citar
como exemplos de populações
tradicionais: quilombolas, catingueiros,
raizeiros, geraizeiros, veredeiros,
ribeirinhos, faxinalenses, entre outros, que
desempenham atividades agrícolas,
pastoris, artesanais, de caça, extrativismo,
etc. (Argueta, 2015; CIMOS/MPMG,
2016).
Denominar certo discurso de
tradicional também carrega algumas
dificuldades. Em primeiro lugar, temos
consciência que há todo um acúmulo de
debates e controvérsias acerca dos direitos
intelectuais de determinados
conhecimentos tradicionais, inclusive com
legislação nacional e acordos
internacionais sobre o tema (Carneiro da
Cunha & Almeida, 2009; Carneiro da
Cunha, 2009). Mas, no nosso caso,
tratamos o conhecimento tradicional mais
como adjetivo do que como substantivo.
Ou seja, estamos mais preocupados em
caracterizar e discutir o conhecimento no
que se refere a diferenças, contrastes e
comparações do que abordar sua autoria,
mecanismos de compartilhamento e
implicações legais fora da comunidade.
Em segundo lugar, diferentemente do
conhecimento científico que contou com
processos de unificação, generalização e
universalização para sua justificação
ideológica, o conhecimento tradicional, ou
melhor, os conhecimentos tradicionais são
múltiplos, tão diversos quanto suas
comunidades que os (re)produzem.
No conhecimento científico, em
contraste [com o conhecimento
tradicional], acabaram por imperar
definitivamente unidades conceituais.
A ciência moderna hegemônica usa
conceitos, a ciência tradicional usa
percepções. É a lógica do conceito
em contraste com a lógica das
qualidades sensíveis. Enquanto a
primeira levou a grandes conquistas
tecnológicas e científicas, a lógica
das percepções, do sensível, também
levou, afirma Lévi-Strauss, a
descobertas e invenções notáveis e a
associações cujo fundamento ainda
talvez não entendamos
completamente. (Carneiro da Cunha,
2009, p. 303-304).
Admitir este contraste não implica
ignorar a complexa interação entre os
conhecimentos científico e tradicional, às
vezes cooperativa, às vezes conflituosa, na
sociedade contemporânea (Canclini, 2009).
Nos encontros e desencontros
interculturais, na globalização de cima para
baixo e na de baixo para cima, na luta
cotidiana por afirmação e negação de
direitos: a vida concreta da produção e
reprodução de conhecimentos é povoada
por interseções, interpenetrações,
imbricamentos, conexões, dissenções,
paralelismos, etc. para ficarmos em
alguns exemplos: o smartphone pode ser
artefato tecnológico da cidade ou do
campo; é provável encontrarmos uma feira
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livre de pequenos produtores
comercializando itens contaminados por
agrotóxicos e um hipermercado com
gôndolas para alimentos sem veneno;
cosmologias indígenas são apresentadas
em um museu de ciências; a medicina
tradicional torna-se mais visível por meio
de redes sociais; o conhecimento das
populações tradicionais e indígenas é
objeto de apropriação acadêmica (e o
movimento inverso, o conhecimento
científico é apropriado, também
requisitado como direito, por essas
comunidades).
Diante dos apontamentos até agora
desenvolvidos, uma questão surge,
especialmente para os educadores
preocupados numa perspectiva
intercultural com os conteúdos dos
processos de ensinar, os conhecimentos
tradicionais podem ser convergentes,
divergentes ou paralelos em relação aos
científicos (escolares)?
Uma resposta à questão enunciada
anteriormente é inspirada na reflexão de
Argueta (2015) sobre a construção de uma
epistemologia das etnociências e uma
agenda para o programa do Sistema de
Saberes Indígenas. Segundo esse autor, ao
postularmos a convergência dos
conhecimentos corremos o risco da
articulação utilitária, instrumental e
subordinada (até mesmo subsumida) do
tradicional ao científico. Enquanto na
divergência, o articulação, tampouco
diálogo intercultural e nesse caso
predomina o isolamento e fechamento. Por
fim, para uma articulação não subordinada,
menos assimétrica e dialógica é necessário
assumirmos uma posição de saberes
paralelos com possibilidades de
complementariedade.
O diálogo de saberes nessa
perspectiva tem uma utilidade
específica e obteria grandes
contribuições, pois se almeja que os
Sistemas de Saberes Indígenas [aqui
estendemos aos conhecimentos
tradicionais] estabeleçam pontos de
articulação e comparabilidade no
diálogo universal de saberes; que se
coloquem os desafios de construção
de uma tradição; que se estruturem
como poder para a tomada de
decisões que os afetam; ... é
inadiável a tarefa de construir-se
como conhecimentos explícitos, que
se conhecem o poder de seu saber e
o expressem frente a outros
saberes. (Argueta, 2015, p. 191,
grifo nosso).
Pontos de contato e afastamento entre os
conhecimentos tradicional e científico
sobre a Lua
Esta seção possui um título de difícil
escolha. Pretendemos discorrer sobre
conhecimentos científicos canonizados e
trabalhos acadêmicos que articulam a
influência da Lua sobre a vida no/do
campo. Ao enunciarmos a expressão
pontos de contato e afastamento entre os
conhecimentos queremos afirmar um
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processo mais que epistemológico, não
restrito às formas de conhecer, mas
também sociocultural e contextual. Isso
significa que esses pontos não são
definidos apenas pela relação dos
conhecimentos em si e seus objetos de
referência; pelo contrário, são também
dependentes dos seus sujeitos e das
condições de sua produção e reprodução.
É corriqueiro em uma aula de
ciências, ao discutirmos a influência da
Lua no ambiente terrestre, sermos
conduzidos a discutir suas fases, seus
eclipses e órbita em torno da Terra e as
marés do ponto de vista dos fenômenos
físicos e biológicos (movimentos, forças,
fotossíntese, alimentação e reprodução de
algumas espécies, etc.). Contudo, somos
também defrontados sobre a influência da
Lua no nascimento de bebês, no corte de
cabelo ou interferências no ciclo
menstrual, dentre outros. Algumas dessas
questões têm o potencial de exibir pontos
de contato e até mesmo de afastamento
completo entre conhecimentos científico e
tradicional.
Antes de expormos nosso fio
principal, é importante deixar claro,
categoricamente, que a Lua, enquanto
artefato cultural (da ciência, da arte, da
tradição, da literatura, etc.), tem
inquestionável influência no ambiente e
vida terrestre do ponto de vista de qualquer
conhecimento. Isso parece óbvio, mas em
nome da monocultura da ciência moderna
vários sentidos da experiência humana
sobre a Lua são silenciados.
uma tendência de orientação
mecanicista entre professores de ciências
que atribui à explicação da influência lunar
quase exclusivamente a fenômenos físicos.
As forças e os campos gravitacionais
somados à explicação da reflexão da luz
solar na Lua seriam a explicação científica
para a influência da Lua na Terra (os
movimentos, as marés e as fases da Lua).
De fato, se reduzirmos essa influência a
uma relação de causa e efeito restrita a
algumas variáveis e independente do
entendimento da Lua enquanto artefato
cultural, podemos até contentar-nos com
essa explicação. No entanto, mesmo do
ponto de vista das ciências, a influência da
Lua não para por aí, isto é, as marés ou as
fases da Lua podem ser consideradas
apenas como um ponto de partida.
Somente para termos dimensão da
extensão da influência da Lua, podemos
considerar trabalhos no âmbito acadêmico
que apontam a mudança do
comportamento de algumas espécies de
roedores, cuícas, gambás (evitam a Lua
cheia, pois a intensidade luminosa pode
facilitar sua captura por predadores e,
portanto, aumentam sua atividade na Lua
nova) ou como no morcego-pescador (que
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orienta sua pesca pelo deslocamento dos
cardumes de peixes conforme a variação
das marés)
v
(Bueno & Motta Júnior, 2005;
Bordignon, 2006). E se levarmos em
consideração atividades humanas como a
pesca (o horário da maré influencia a
atividade dos pescadores), o turismo (a
maré alta pode encobrir uma praia ou a
baixa pode revelar corais e criar piscinas
naturais) e a navegação (a Marinha
disponibiliza, na internet, a tábua das
marés para vários portos e ilhas do litoral
brasileiro).
vi
Em pesquisa na Revista Brasileira de
Agroecologia encontramos seis trabalhos
que tratam da influência da Lua no campo,
especialmente em relação a plantações. O
primeiro faz o levantamento dos
conhecimentos, de tipo de concepções
prévias, entre alunos dos cursos superiores
de Engenharia Agrícola e Viticultura e
Enologia de duas instituições federais do
Estado do Rio Grande do Sul. Schiedeck,
Cardoso e Schwengber (2007), autores do
trabalho mencionado, identificaram que os
saberes relacionados à Lua são os mais
presentes entre os alunos entrevistados.
Dentre esses conhecimentos os autores
destacam: i) a poda da videira deve ser
feita na Lua minguante; ii) os vegetais que
dão embaixo da terra devem ser semeados
na Lua minguante; iii) quando há chuva até
o quinto dia da Lua nova, chove em todas
mudanças de Lua até o fim do ciclo.
Do ponto de vista empírico, Menin et
al. (2014) desenvolveram experimento
para analisar a influência das fases lunares
no desenvolvimento das culturas de rúcula.
Os autores observaram que,
na cultura da rúcula a fase da Lua
crescente influenciou
significativamente no número e
largura de folhas, no entanto as fases
lunares não foram significativas
quanto ao desenvolvimento de massa
verde. Para o rabanete, a fase lunar
quarto crescente mostrou-se superior
para a principal variável avaliada, o
peso fresco de raízes, no entanto,
também apresentou maior percentual
de raízes rachadas e isoporizadas.
(Menin et al., 2014, p. 122).
Jovchelevich e Câmara (2008)
conduziram trabalho para investigar a
influência da Lua sobre o rendimento da
cenoura
vii
. Os autores realizaram duas
semeaduras em dois anos consecutivos e,
segundo eles, observaram diferença
significativa (5%) na variável massa seca
de raízes, para as quais a semeadura na Lua
nova apresenta o maior resultado.
Em direção semelhante à do trabalho
anterior, Oliveira, Freitas e Rafael (2009a)
avaliaram o efeito do impulso ascendente e
descendente lunar sobre a emergência de
plântulas de murici e observaram que o
percentual de emergência das sementes
plantadas no período ascendente (quando a
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Lua se aproxima da terra) foi
consideravelmente maior (10%) que o
daquelas semeadas no período
descendente.
viii
Ainda na direção dos trabalhos
experimentais, Oliveira, Freitas e Rafael
(2009b) conduziram experimento com
duas variedades de espécies ornamentais e,
a partir do seu trabalho, chegaram à
conclusão de que as fases da Lua não
influenciam no enraizamento do manacá de
cheiro e no gengibre azul, mas que seriam
necessários outros estudos nessa direção.
A nosso ver, os trabalhos orientados
pelo propósito mais restrito da busca por
resultados empíricos na direção de reforçar
que influência lunar nas plantações
possuem fragilidades do ponto de vista da
ciência ocidental stricto sensu, bem como
lacunas e certa incongruência do ponto de
vista epistemológico. Em primeiro lugar, a
capacidade de generalização (pela ótica da
ciência) dos experimentos desenvolvidos é
mínima, senão questionável: em alguns
casos, a diferença dos dados é pequena e,
em outros, existem tantas variáveis
envolvidas no processo (solo, iluminação
noturna e diurna, temperatura, umidade,
dentre outras) que isolar apenas uma delas
não inspira uma razoável validade e
confiabilidade, considerando uma
comunidade acadêmica ou científica (como
dissemos, no sentido restrito de ciência).
Em segundo lugar, o pecado original, por
assim dizer, dessa perspectiva de
experimentos consiste em tratar o
conhecimento tradicional e os fenômenos
por ele explicados pelos óculos exclusivos
da ciência ocidental.
Outros pesquisadores, contudo,
mesmo dentro da ciência canônica têm
considerado, embora em menor medida,
hipóteses com relação à influência lunar
sobre as plantas, como Raven, Evert e
Eichhorn (2007), autores de um dos
clássicos na área da botânica. Para eles,
não apenas o comprimento dos dias e das
noites influenciam os mecanismos vegetais
como também a luz da lua pode ser uma
das explicações para o comportamento de
movimentos foliares em algumas espécies
para impedir a absorção de luz em noites
claras de modo a preservar os ritmos da
planta em relação a seu metabolismo. É o
início muito pequeno de um diálogo com
outros conhecimentos constatados pelos
povos tradicionais, mas estima-se que seja
frequente. Diante disso, acreditamos que
trabalhos dentro do espectro das chamadas
etnociências, e também da antropologia e
educação, podem oferecer aportes que
fortaleçam o caminho traçado nessa
pesquisa.
Marques et al. (2007) elaboraram
calendário lunar agrícola a partir da coleta
de informações e diálogo com a
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comunidade indígena Tupinambá da Serra
do Padeiro em Ilhéus-BA. Segundo os
autores, destacam-se as seguintes práticas
culturais orientadas pelo ciclo lunar:
Lua nova recomendada para: castrar
animais, o porco castrado nesta fase
lunar fica com o toucinho fino e
mole; plantar cacau, pois cresce
rápido e bons frutos; ...; plantar
maniva, a planta cresce, engrossa as
raízes e evita pragas e doenças; .... A
Lua crescente, segundo o
diagnóstico, não é recomendada para
o plantio de hortaliças, que crescem
apenas os talos, nem plantas cujo
objetivo é a raiz, pois as folhas
crescem muito e as raízes não; .... Na
Lua cheia, efetua-se o plantio de
banana-da-terra; ... colhe-se a embira
na mata, para fabricação de tangas, e
não se pode plantar milho, feijão e
outros plantios de grãos, .... A Lua
minguante é um bom período para
podar árvores e para colheita de
“tronco” (pseudocaule), de bananeira
para fibra de artesanato. (Marques et
al., 2007, p. 565).
Mello, Soares e Kerber (2009)
assumem a tese do ensino da astronomia
cultural a partir das suas experiências no
ensino de astronomia e ciências naturais
em cursos de formação de professores
indígenas. Os autores discutem elementos
do sistema cosmológico Guarani em
diálogo com o pensamento científico
ocidental, o que é possível sob uma
perspectiva intercultural e transdisciplinar.
Nesse sentido, um passo
epistemológico/intercultural necessário é
reconhecer que os objetos astronômicos,
notadamente o céu, as estrelas, o Sol, a
Lua, eclipses, etc. estão inseridos num
entendimento mais totalizante e holístico
para essa comunidade: eles são
indissociáveis da vida e dos fenômenos
que acontecem na terra.
... Sol e Lua indicam regras de
relações sociais, marcação de ciclos
humanos e passagens de fases da
vida social, como nascimento, morte
(e vida pós-morte), puberdade
(marcada pela menstruação nas
mulheres e mudança da voz nos
homens), maturidade, etc., relações
com o meio ambiente, calendários
agrícolas. Enfim, as relações entre os
humanos e o Sol e a Lua, informa
diferentes aspectos da vida humana.
(Mello, Soares & Kerber, 2009, p. 8).
No mesmo caminho, Garcia et al.
(2016) realizaram levantamentos por meio
de oficina pedagógica do conhecimento
etnoastronômico em torno de temas como
a criação do Sol e da Lua, as fases da Lua,
as estações do ano e as estrelas de uma
comunidade indígena do norte do Rio
Grande do Sul com o objetivo de construir
um material paradidático para a escola
local. Para os autores, esse processo foi
uma contribuição inicial para
“revivificação” dos conhecimentos locais,
além de permitir sua inserção no ambiente
escolar sem que haja sobreposição,
desmerecimento ou descaracterização por
parte do conhecimento científico. Cabe
destacar que a estratégia empregada pelos
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autores foi a de elaborar o material
paradidático abordando exclusivamente o
conhecimento da comunidade indígena.
Essa é uma das questões que tensionam o
ensino intercultural: de que modo e em que
medida se o processo de visibilidade e
reconhecimento das diferentes culturas e
quais propostas pedagógicas ou didáticas
para promoção da educação intercultural?
A dissertação de mestrado de
Almeida (2005), “Do tempo da terra
comum ao espremimento: estudo sobre a
lógica e o saber camponês na Baixada
Cuiabana” oferece elementos fundamentais
para compreensão do processo de produção
e reprodução do conhecimento de uma
comunidade camponesa. O autor realiza
trabalho etnográfico numa região que
passou por quase um século marcado pelo
uso comum de terras até a entrada de uma
fazenda criadora de gado na década de
1970, o que deu início a um período de
conflitos e perda de território. Apesar
disso, segundo o autor, a comunidade
ainda mantém e valoriza seu saber e
quando preciso incorpora outros
conhecimentos que venham a trazer
melhoras na sua prática produtiva.
Almeida (2005) discute em seu
trabalho o sistema Lua observado na
comunidade objeto da sua investigação.
Por trás desse sistema um modelo
governado por princípios de equilíbrio,
harmonia e reciprocidade. Por exemplo,
uma planta considerada fraca deve ser
plantada numa lua forte para “poder
equilibrar”. Nesse sistema Lua, existem
dois períodos de 15 dias cada: o crescente
(Lua forte), que se inicia um dia após a
Lua nova e o minguante (Lua fraca), que se
inicia um dia após a Lua cheia.
... o que é de haste (arroz, milho e
rama) ou de madeira (árvores, pés de
frutas) é considerado forte, porque
sobem ou, porque crescem; enquanto
cipó (melancia, amendoim, feijão,
abóbora), e raiz (batata doce e cará) é
considerado fraco, porque ficam no
chão ou porque latam. Assim, o
equilíbrio é procurado na relação
ideal onde o que é mais forte planta
na lua fraca e o que é mais fraco
planta na lua forte, para compensar.
Ou seja, a relação ideologicamente
correta é a que busca equilibrar o
forte com o fraco para não carregar
muito numa característica, o que
traria como consequência uma perda
muito grande em outra característica
igualmente desejada, o que poderia
ser potencialmente desastroso.
(Almeida, 2005, p. 70, grifos do
autor).
A lua na vida no/do campo: produções
escritas dos licenciandos do campo
O curso de Licenciatura em
Educação do Campo da UFTM, ao qual
nossos sujeitos de pesquisa estão
vinculados, é um dos quarenta e dois
cursos criados a partir do Edital
SESU/SETEC/SECADI 02/2012, com
habilitações nas áreas de Matemática e
Ciências da Natureza. Em julho de 2014
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sua primeira turma foi aberta e, em
seguida, nos meses de janeiro e julho de
2015, outras duas novas turmas de
licenciandos do campo foram criadas. Os
dados coletados foram produzidos por essa
última turma, formada por estudantes das
regiões do Triângulo Mineiro, Norte e
Noroeste de Minas e também um aluno do
estado de Rondônia e outra aluna do estado
da Bahia.
O curso assume a Pedagogia da
Alternância com momentos de estudo
intensivo na universidade chamados de
períodos de Tempo Escola (TE), durante os
meses de janeiro, julho e uma semana do
mês de outubro; entre esses meses ocorrem
os períodos denominados Tempo
Comunidade (TC), nos quais os alunos
permanecem em suas comunidades de
origem enquanto realizam algumas tarefas
escolares orientadas à distância e em
alguns momentos de forma presencial sob
a supervisão de professores do curso.
Uma das disciplinas do projeto
pedagógico do curso denomina-se
Introdução à Física, comum às duas
habilitações, com carga horária total de 75
horas-aula, tendo como uma de suas metas
a aprendizagem de conceitos básicos de
astronomia. Assim, a temática da Lua
emergiu de uma proposta de trabalho final
dessa disciplina do curso mencionado que
tinha como objetivo a pesquisa sobre o
modo como os conhecimentos científico e
tradicional estão relacionados à Lua e as
suas implicações para o Ensino de
Ciências.
Uma das dinâmicas que adotamos no
curso quando se trata da confecção de
trabalhos finais ou sínteses de disciplinas é
o momento de “retorno”, à distância ou
presencial, que tem como objetivo
aprofundar as reflexões dos licenciandos
até então esboçadas nos trabalhos, orientar
quanto à escrita de tipo acadêmica (modo
de formatação, organização das citações,
referências, etc.) e também indicar fontes e
métodos de coletas de dados (documentos,
livros, artigos, entrevistas, questionários,
etc.). Foi o que ocorreu com o trabalho
objeto de nossa análise. De julho a outubro
de 2016 os licenciandos elaboraram uma
primeira versão do trabalho e de outubro a
dezembro do mesmo ano produziram sua
versão final.
A disciplina foi ofertada para duas
turmas: a de matemática com treze e a de
ciências da natureza com trinta
licenciandos. Nessa exposição abrimos
mão de uma categorização de tipo
esquemática do conjunto das produções
escritas a fim de dar maior ênfase a
enunciados mais representativos de alguns
sujeitos, com o objetivo de deixar mais
claro os sentidos que circularam nas
produções escritas. Destacaremos algumas
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passagens das produções escritas dos
professores em formação com o objetivo
de tornar visível o conhecimento
tradicional nas práticas sociais atuais de
comunidades do campo e justificar sua
importância para o ensino intercultural de
ciências. De modo mais específico,
privilegiaremos trechos transcritos ou
parafraseados, pelos licenciandos, de
membros de suas comunidades do campo.
Houve um predomínio de relatos e
trechos que tratavam da relação do plantio
e colheita com as fases da Lua.
Evidentemente, a proximidade do trabalho
e da vida no campo favorece a abordagem
dessa relação em especial. Procuramos
selecionar passagens de licenciandos de
mais de uma localidade. Todos os nomes
dos sujeitos entrevistados, bem como os
dos licenciandos do campo, foram
alterados a fim de se preservar suas
identidades.
Para a senhora D. Lúcia Alves dos
Santos os plantios devem ser na lua
crescente, pois o plantio das plantas
acompanha o crescimento da lua. Ela
chegou a usar a expressão “plantar na
lua fina”, pois esta vai crescendo e
influenciando no crescimento das
plantas. o senhor Benedito de
Almeida foi mais categórico. Ele
afirma que o que fica fora da terra é
plantado na nova e crescente, tipo
frutíferas, feijão e outros tipos. Mas
mandioca e outros que vão de baixo
da terra, tem que se plantar na
minguante, pois enquanto mingua se
o que está fora da terra cresce o que
está submerso. (Tomás, licenciando
da região do Triângulo Mineiro).
Eu planto [depoimento de Marcelina
Souza, moradora de comunidade do
campo] minhas mudas de mandioca
sempre na fase da lua minguante pelo
fato da produção final ser bem
melhor, raiz cresce bastante e
engrossa, fazendo que a coleta tenha
mais qualidade e menos praga, ao
levar a mandioca pra minha pequena
fábrica, percebi que ao fazer o
polvilho na época contrária ao
plantio, na fase da Lua crescente,
uma prensa de massa ao final do
processo, deu vinte pratos de
polvilho, e nessa mesma prensa, mas
na fase da Lua minguante, ocorreu
uma queda de quatro pratos em
relação à fase da Lua crescente, com
a produção chegando apenas a
dezesseis pratos de polvilho.
(Fernando, licenciando da região do
Norte de Minas Gerais).
No plantio da cana, quando se planta
na minguante ela pode até crescer e
produzir menos, mas está menos
propicia ao ataque de algumas
pragas, se plantada em outras fases
da lua ela pode até produzir mais
cana, ficar mais viçosa, mas esta
susceptível ao ataque de pragas e
outras doenças que atacam a cana.
(Lucas, licenciando do estado de
Rondônia).
Em primeiro lugar, tanto pela
pesquisa bibliográfica realizada quanto
através das informações obtidas, percebe-
se que a influência da Lua sobre as
plantações não é determinada em si pelo
dia exato que corresponde às quatro fases
da Lua: nova, quarto crescente, cheia e
quarto minguante. É como se existissem
basicamente dois períodos: um no qual a
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Lua cresce, do dia em que inicia ou um dia
após a Lua Nova, passando pelo quarto
crescente até o dia de Lua Cheia; e outro
no qual a Lua mingua, do dia em que inicia
ou um dia após a Lua Cheia, passando pelo
quarto minguante, até a Lua Nova. Aquilo
que cresce para baixo da terra é favorecido
pelo período que a Lua mingua e aquilo
que cresce para cima é favorecido pelo
período que a Lua cresce.
Esses dois períodos também
influenciam a maior ou menor presença de
pragas e produtividade do que foi plantado
ou do que será posteriormente manipulado:
o período da Lua que mingua é menos
propício à propagação de pragas e
contribui para a produtividade
(engrossamento) da mandioca; e o da Lua
que cresce favorece a produtividade
(produção de polvilho) e também o
desenvolvimento da cana, mas com a
limitação de que essa última será mais
suscetível a pragas.
Outra relação frequentemente
relatada pelos licenciandos é a castração de
animais e os períodos em que a Lua
mingua ou cresce. Nesse caso, como no
plantio, o período no qual a Lua mingua é
mais propício para castração, pois “há
menos micróbios no ar”, evitando-se a
inflamação e garantindo uma boa
cicatrização. A melhor época para o corte
de madeira também é o período que a Lua
mingua, do contrário a madeira apodrece
mais facilmente e fica sujeita à infestação
de carunchos e cupins.
Senhor Benedito enfatizou também a
influência da lua na castração de
animais e no corte de madeira. A
castração para cicatrizar mais rápido
e evitar inflamação no animal deve
ser feita na lua minguante; também
porque o animal se desenvolve de
forma igual nas partes traseiras e
dianteiras, ocorrendo a castração
durante a influência de fase da lua
que não seja a minguante, o animal
desenvolve somente a parte traseira e
fica aniquilada na parte dianteira.
Senhor Nicolau disse que na fase da
lua minguante há menos micróbios
no ar e por isso os cupins não atacam
madeira verdes cortadas nesses dias
de influência da lua minguante.
(Tomás, licenciando da região do
Triângulo Mineiro).
... quando eu [depoimento de Álvaro
Dias, morador de comunidade do
campo] vou cortar madeira para
construção de casa de roda, ripas ou
caibros, a fase da lua tem que ser a
minguante, pois, meu pai dizia que
nessa época a madeira absorve menor
quantidade de água do solo. Nas
outras luas, ela fica mais encharcada
e o mourão apodrece com mais
facilidade. (Júlia, licencianda da
região Norte de Minas).
Com apenas um relato,
possivelmente porque nas comunidades
dos licenciandos essa atividade tem menor
peso, a prática da pesca e sua relação com
as diferentes fases da Lua foi lembrada.
Aqui, a Lua Cheia é a que contribui para
uma boa pesca.
Crepalde, R. S., Klepka, V., & Halley, T. O. P. (2017). Interculturalidade e conhecimento tradicional sobre a Lua na formação de
professores no/do campo...
Rev. Bras. Educ. Camp.
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Observo [depoimento de Alexandre,
86 anos, morador de comunidade do
campo] bastante em que fase da Lua
está porque ela influencia muito na
pescaria, sempre vou pescar na Lua
Cheia, muito peixe. na Lua
minguante, não dá quase nada, não
adianta nem ir porque se não vou
passar é raiva. (Amanda, licencianda
da região Norte de Minas).
Outro aspecto observado nas
produções escritas é a manifestação nas
falas dos sujeitos entrevistados ou nas suas
paráfrases empreendidas pelos
licenciandos do campo de um debate de
ordem epistemológica que chamaremos de
questão verdade versus verossimilhança. O
conhecimento científico preza pela verdade
absoluta no sentido paradigmático,
enquanto o conhecimento tradicional
precisa ser verossímil: é mais tolerante;
aceita diferentes explicações porque sua
validade é local; e, a experimentação a que
está submetido opera pela “lógica das
percepções” (Carneiro da Cunha, 2009).
[Depoimento de Joaquim de Souza,
morador de comunidade do campo]:
uso, os saberes da lua, para ter boa
produção na lavoura de mandioca e
em meu pomar. Mas para ter chegado
a tais conclusões em que te falo,
passamos por vários prejuízos, pois
era teimoso e duvidava desses
saberes que meu pai me ensinava
desde criança, quis fazer
experimentos em minhas plantações
e levei prejuízo, por isso
aconselho a seguir aos saberes
passados pelos experientes. Hoje já
estou velho. Ensino para os jovens
que tem dúvidas, falo e garanto que
diferença na lavoura de acordo
com a lua de plantio. E, os jovens
têm confiança em minhas palavras.
Pois veem minhas plantações e
perguntam quais são os segredos.
Digo sempre: as luas cheia e
minguante são as melhores para
plantar, pois ao plantar nesse período
as raízes crescem mais do que nas
outras luas dando rendimento na hora
da colheita. Já na lua crescente, as
plantas crescem mais rápido, mas não
é indicado plantar, pelo fato dos
insetos atacarem com mais
frequência a plantação. Nas fases
seguintes a plantação estará com o
broto e os insetos atacarão. Por isso
não é indicado! Sendo uma das
piores luas para plantar a lua
crescente. Motivo de não se plantar
nessa fase? Pelo fato do prejuízo ser
maior. (Ana, licencianda da região do
Norte de Minas).
Além do mencionado, o
conhecimento tradicional e as práticas
sociais associadas a ele podem ser
compreendidos de forma orgânica e
inseparável porque o conhecimento
tradicional é resultado, por assim dizer, da
fusão de várias dimensões (do trabalho, da
cultura, da fé, enfim, da vida) que
compõem a visão de mundo do sujeito.
[Depoimento de Maria de Jesus,
moradora comunidade do campo]: O
ato de acreditar dar a sensação de que
realmente acontece, mas quem faz
todas as coisas é Deus, inclusive a
criação da lua precisávamos ter
alguma coisa de referência para o
plantio e várias outras coisas e
utilizamos a lua, que um sinal de
Deus. Da mesma forma que Deus
tinha os discípulos para ajudá-lo na
propagação do evangelho, ele criou a
lua para ajudar os trabalhadores.
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(Elen, licencianda da região do Norte
de Minas).
Considerações finais
Observamos em parte considerável
dos trabalhos objeto do levantamento
bibliográfico realizado contribuições que,
caso fossem dialogadas, compartilhadas e
assumidas como de tipo experimental (ou
daqueles restritos ao mapeamento de
conhecimentos), teriam potencial para
conduzir novas propostas de práticas
pedagógicas interculturais, além de
aprofundar a reflexão teórica dos diferentes
campos que tratam do reconhecimento do
conhecimento tradicional.
Assumindo o pressuposto do ensino
intercultural de ciências, assim como o
diálogo de saberes nos processos
formativos de educadores do campo,
admitimos que é preciso inserir o
conhecimento tradicional no currículo de
ciências a partir de estratégias que
demarquem as fronteiras e os contextos de
uso entre o tradicional e o científico e que
por meio de seus pontos de contato,
interculturalmente, estimule o intercâmbio
e o enriquecimento mútuo.
Terminamos o texto com trecho de
uma das produções escritas que reflete as
implicações nos sujeitos da Licenciatura
em Educação do Campo quando o
conhecimento tradicional passa a ser objeto
legítimo e reconhecido de um trabalho de
conclusão de uma disciplina da
universidade. Nas considerações finais do
trabalho de Fernando, licenciando da
região Norte de Minas Gerais:
Percebe que o saber científico não
traz muita contradição com o
popular, mas o saber popular é rico
em informações de técnicas agrícolas
adquiridas durante suas experiências
de vida, todas as suas informações
são armazenadas em suas mentes.
São verdadeiros exemplos de
conhecimento, memórias fantásticas,
por explicar seus saberes com total
clareza e certeza em suas palavras.
Mas o científico traz mais certeza e
dá mais confiança ao leitor por ter
mais expressão e é mais divulgado do
que o popular que é mais um
conhecimento próprio adquirido por
cada cidadão .... Encerro essa
pesquisa priorizando o saber popular
em suas diversas áreas, por ser um
conhecimento adquirido sem o
acesso a livro, escola e muito menos
cursos superiores, e por ter a
consciência que o saber científico é
muito bom, mas com essa ausência
que tem as famílias rurais ao passar
do tempo eles transformaram o saber
popular em afirmações na sua
maioria como certezas concretas.
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estudo em sala de aula com leitura em
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Universidade Federal do Paraná, Paraná.
i
Boaventura de Sousa Santos (2003) faz uma
distinção entre os movimentos de globalização de
cima para baixo e de baixo para cima. O primeiro
identificado com a globalização neoliberal ou
hegemônica e o segundo com a globalização
solidária ou contra hegemônica.
ii
Responsável no sentido bakhtiniano: o que
implica, responde, compromete-se dialogicamente a
partir e por meio do outro.
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iii
Evidentemente não desconsideramos as relações
entre saberes e conhecimentos, apenas não é nosso
objeto neste texto.
iv
Recontextualização no sentido empregado por
Bernstein (1998), como exemplo, o discurso da
ciência que se desloca da sua posição original e
constitui-se como discurso da ciência escolar: já
não é o mesmo discurso, pois nessa transformação
intervém a ideologia.
v
Há também estudos sobre o comportamento de
coelhos, aves noturnas, abelhas e até serpentes nas
mudanças de fase lunar (Bueno & Motta Júnior,
2005).
vi
http://www.mar.mil.br/dhn/chm/box-previsao-
mare/tabuas/.
vii
Esses autores tomam como base referenciais da
chamada agricultura biodinâmica. Nela o
conhecimento tradicional ou popular é tomado
como uma das suas bases, mas não só. Um exemplo
é o calendário astronômico biodinâmico que usa
como referência a movimentação da Lua através
das regiões do zodíaco.
viii
Uma versão de divulgação desse trabalho
também foi publicada na revista Ciência Hoje com
o título Semeando ao Luar, em 31 de maio de 2010.
Recebido em: 25/05/2017
Aprovado em: 19/06/2017
Publicado em: 13/12/2017
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Crepalde, R. S., Klepka, V., & Halley, T. O. P. (2017).
Interculturalidade e conhecimento tradicional sobre a
Lua na formação de professores no/do campo. Rev.
Bras. Educ. Camp., 2(3), 836-860. DOI:
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-
4863.2017v2n3p836
ABNT:
CREPALDE, R. S., KLEPKA, V.; HALLEY, T. O.
P. Interculturalidade e conhecimento tradicional
sobre a Lua na formação de professores no/do
campo. Rev. Bras. Educ. Camp., Tocantinópolis, v.
2, n. 3, p. 836-860, 2017. DOI:
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-
4863.2017v2n3p836
ORCID
Rodrigo dos Santos Crepalde
https://orcid.org/0000-0001-7025-7010
Verônica Klepka
https://orcid.org/0000-0002-9937-9852
Tânia Halley Oliveira Pinto
https://orcid.org/0000-0002-1368-4451
Revista Brasileira de Educação do Campo
DOSSIÊ / ARTIGO
DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-4863.2017v2n3p861
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Uso de objetos educacionais digitais para ensinar sistemas
do corpo humano em uma escola do campo
Silvio Ferreira dos Santos
1
, Marcelo Franco Leão
2
1
Instituto Federal de Mato Grosso - IFMT. Campus Confresa. Departamento de Ensino do Campus Confresa /
Pós-Graduação em Educação do Campo. Avenida Vilmar Fernandes, 300, Santa Luzia. Confresa - MT.
Brasil. silvio_f_santos@hotmail.com.
2
Instituto Federal de Mato Grosso - IFMT.
RESUMO. O estudo teve como objetivo avaliar o uso de
softwares educacionais e aplicativos em dispositivos móveis
para ensinar sistemas do corpo humano em uma escola do
campo. Trata-se de uma pesquisa-ação, de abordagem
qualitativa, desenvolvida em 2016 e que envolveu 14 estudantes
do ano do Ensino Fundamental da Escola Estadual Sol
Nascente, de Confresa-MT. O software e aplicativo escolhidos
foram o Atlas do Corpo Humano e Sistemas do Corpo Humano
3D, respectivamente, com ênfase nos sistemas digestório e
circulatório. Os resultados do pré e pós teste, constituídos por 20
questões, corroboram a hipótese de que o uso de objetos
educacionais digitais beneficia o processo educativo. Os
estudantes aprenderam melhor os sistemas comparados a quando
se utilizou apenas recursos tradicionais, como o livro didático.
Esse avanço pode estar atrelado ao fato de os recursos utilizarem
imagens em 3D e pontuarem cada parte do corpo, além de
fornecer importantes informações e curiosidades sobre o
assunto. Portanto, espera-se que as tecnologias digitais possam,
cada vez mais, serem inseridas e exploradas nas práticas
pedagógicas, pois esses recursos possibilitam estudar e tirar
dúvidas, ampliando o tempo e os espaços educativos.
Palavras-chave: Ferramentas Tecnológicas, Recursos
Didáticos, Ensino de Ciências.
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Using digital educational objects to teach human body
systems at a countryside school
ABSTRACT. The purpose of this study is to assess the use of
educational software and mobile device applications to teach
about the human body at a rural school. It is an action research,
with a qualitative approach, developed in 2016 and involving 14
students from the 8th year Elementary Education at the Escola
Estadual Sol Nascente in Confresa-MT. The chosen software
and application was the Human Body Atlas and 3D Human
Body Systems, emphasizing on the digestive and circulation
systems. The results from the pre-and post-test, which
comprised 20 questions together, corroborate the hypothesis that
the use of digital educational objects benefits the education
process. Students learned better the systems in comparison with
when only traditional resources, such as a didactic book, was
used. Such advancement could be harnessed to the fact that the
resources make use of 3D images and point out each part of the
body, besides providing important information and curiosities
about the subject. It is therefore expected that digital
technologies may be increasingly inserted and explored in
pedagogical practices, since those resources allow for studying
and solving queries, by broadening educational space and time.
Keywords: Technological Tools, Didactic Resources, Teaching
Sciences.
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Uso de objetos educativos digitales para enseñar sistemas
del cuerpo humano en una escuela del campo
RESUMEN. El estudio tuvo como objetivo evaluar el uso de
software educativo y aplicaciones en dispositivos móviles para
enseñar sistemas del cuerpo humano en una escuela del campo.
Se trata de una investigación-acción, de abordaje cualitativo,
desarrollada en 2016 y que involucró a 14 estudiantes del año
de la Enseñanza Fundamental de la Escuela Estadual Sol
Nascente, de Confresa-MT. El software y la aplicación elegidos
fueron el Atlas del Cuerpo Humano y Sistemas del Cuerpo
Humano 3D, respectivamente, con énfasis en los sistemas
digestivo y circulatorio. Los resultados del pre y post test,
constituidos por 20 preguntas, corroboran la hipótesis de que el
uso de objetos educativos digitales beneficia el proceso
educativo. Los estudiantes aprendieron mejor los sistemas
comparado a cuando se utilisólo recursos tradicionales, como
el libro didáctico. Este avance puede estar vinculado al hecho de
que los recursos utilizan imágenes en 3D y puntualizan cada
parte del cuerpo, además de proporcionar importantes
informaciones y curiosidades sobre el tema. Por lo tanto, se
espera que las tecnologías digitales puedan, cada vez más, ser
insertadas y explotadas en las prácticas pedagógicas, pues estos
recursos posibilitan estudiar y sacar dudas, ampliando el tiempo
y los espacios educativos.
Palabras clave: Herramientas Tecnológicas, Recursos
Didácticos, Enseñanza de las Ciências.
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Introdução
O uso das Tecnologias Digitais de
Informação e Comunicação (TDIC) vem
cada dia mais se fazendo presente no
universo da sociedade contemporânea.
Assim, diante dos avanços da ciência e da
tecnologia, se torna impossível dissociar os
processos de ensino e aprendizagem das
evoluções tecnológicas presentes na
sociedade, inclusive no ambiente escolar
(Santos & Leão, 2016). Esse fato
demonstra a necessidade das escolas
acompanharem as inovações e dos
professores se atualizarem para utilizar as
novas estratégias e recursos em suas aulas
e assim criar um ambiente oportuno de
aprendizagens para os estudantes.
Para Auler (2003), esse processo
educativo, aportado na ciência e na
tecnologia, será emancipatório se propiciar
aos estudantes uma leitura crítica do
mundo ao qual estão inseridos, relacionado
ao desenvolvimento científico-tecnológico
contemporâneo e que desenvolva ações no
sentido de transformação dessa sociedade.
Ou seja, é preciso extrair dos conceitos e
recursos, aplicabilidade para a vida, utilizar
saberes proporcionado pela ciência e pela
tecnologia na resolução de problemas do
cotidiano.
Frente a essa nova conjuntura
educacional, se torna evidente que as
escolas do campo também possam estar
atentas às mudanças tecnológicas e que os
professores que atuem nessa modalidade
procurem se atualizar ao universo da
comunicação e informação e que possa
assim possibilitar aos estudantes o acesso
às novas ferramentas pedagógicas para
auxiliar na produção de novos
conhecimentos.
Assim, de acordo com Moura (2009,
p. 50): “O acesso a conteúdo multimídia
deixou de estar limitado a um computador
pessoal (PC) e estendeu-se também às
tecnologias móveis (telemóvel, PDA,
Pocket PC, Tablet PC, Notebook)”. Em
outras palavras, a autora diz que o acesso à
multimídia vem proporcionando um novo
paradigma educacional, o móbile learning
ou aprendizagem móvel, por meio de
dispositivos móveis, sendo capaz de
influenciar diretamente nas práticas
educacionais.
Fonseca (2014) aponta que no Brasil
mais aparelhos celulares do que
habitantes. Com isso, fica evidente a
grande necessidade de fomentar a
disseminação do uso desses dispositivos
para serem utilizados como instrumentos
pedagógicos, uma vez que a maioria dos
estudantes tem acesso a esses aparelhos,
facilidade em seu manuseio e os levam
para o ambiente escolar.
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865
Nessa perspectiva, o uso destes
dispositivos móveis como suporte
pedagógico em sala de aula importante
para o processo educativo, uma vez que a
maioria dos estudantes dispõe desses
aparelhos. O uso dessas ferramentas
permitirá que o processo educativo seja
favorecido, além de permitir que a escola e
as aulas se tornem espaços atrativos para
os estudantes, tornando-os partes
integrantes e indispensáveis na construção
de seus saberes.
Frente à problemática apresentada, o
objetivo principal desse estudo é descrever
e avaliar a utilização de softwares
educacionais e aplicativos para
dispositivos móveis com o intuito de
ensinar os sistemas digestório e
circulatório em uma turma do 8º ano do
Ensino Fundamental da Escola Estadual
Sol Nascente, de Confresa-MT. Por meio
do uso de tais ferramentas, foram
ministrados os conteúdos em sala de aula
de maneira que estivessem relacionados
com o cotidiano do estudante.
Cabe aqui ressaltar que nem sempre
iniciativas que envolvem tecnologias são
possíveis de serem realizadas nesses
espaços educativos. Muitas vezes, o
professor tem a pré-disposição em
desenvolver trabalhos como esse, porém o
cenário encontrado em muitas escolas do
campo não permite ocorrer essas
experiências, pois algumas sequer tem
energia elétrica e tampouco as ferramentas
tecnológicas para desenvolver tais ações.
Discursos teóricos sobre o uso de
tecnologias no ensino
Ao fazermos uma reflexão sobre o
termo tecnologia móvel, surge o
questionado sobre como se deu sua origem
e seu uso, e compreender onde surgiu e
quais foram as reais necessidades para
sociedade daquela época. Nesse sentido,
Silva (2002, p. 1) explicita que “O uso do
termo tecnologia, oriundo da Revolução
Industrial no final do Século XVIII, tem
sido generalizado para outras áreas do
conhecimento, além dos setores das
indústrias têxtil e mecânica”. Nesse
aspecto, é possível perceber que desde seu
surgimento, a tecnologia está presente em
diversos ambientes, fazendo com que os
meios de produção e informação se
atualizem constantemente.
Ao considerar as alterações nos
meios sociais devido ao constante uso das
novas tecnologias, diversas pesquisas têm
demonstrado o quanto é possível perceber
que as novas tendências tecnológicas têm
influenciado diretamente na vida cotidiana.
Entretanto, as autoras Saboia, Vargas e
Viva (2013) explicitam que vivenciamos a
transição da Era da Informação para a Era
do Conhecimento, sendo necessário que o
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processo educativo seja ampliado,
enfrentando os novos desafios para
melhorar as suas práticas pedagógicas
adequando-as à realidade e necessidade
educacional.
Diante do desafio atual do uso
constante de tecnologias pelos estudantes e
professores, fica evidente que novas
pesquisas sejam realizadas para que
possam aplicar e ao mesmo tempo
possibilitar uma análise sobre as
Tecnologias Digitais de Informação e
Comunicação (TDIC) que estão presentes
no cotidiano da sociedade, tornando-as
imprescindíveis no ambiente educacional.
Neste contexto, Sodré (2012) ressalta
que o uso das TDIC leva o professor a
repensar sua função, a qual deixa de ser um
detentor de saberes e passa a ser o de
motivador de aprendizagens, que aponte
caminhos para que os próprios estudantes
possam compreender e atribuir significado
aos objetos de seus estudos. Para o autor é
necessário romper com alguns paradigmas
tradicionais para que o professor seja mais
um elo de ligação entre as TDIC e os
estudantes, e dessa forma esses novos
métodos/ferramentas sejam aceitos e
trabalhados para contribuir na prática
educacional docente.
Ainda segundo o autor supracitado, o
papel do professor como educador
permanece, mas agora como um orientador
que direciona, facilita e significa o
processo de aprendizagem dos estudantes.
Nesse sentido, as TIC não poderiam ser
vistas com o papel de substituir o
professor, mas de tornar significativos os
mais variados métodos e práticas
pedagógicas no processo de ensino e de
aprendizagem.
Para Freire e Guimarães (2012), a
apropriação dos meios de comunicação
com fins de ensino e aprendizagem é
perfeitamente possível e benéfica, sejam
estes analógicos ou digitais. Os
dispositivos móveis podem realmente fazer
a diferença nas práticas pedagógicas,
porém, para que isso ocorra, o professor
deve estar preparado para usá-los como
uma ferramenta, diferencial para
aplicabilidade em sala de aula.
Dessa forma, faz-se necessário que
profissionais da educação estejam
preparados para realizar as mudanças em
seus métodos didáticos incorporando os
meios tecnológicos como instrumentos de
comunicação e informação no espaço
escolar. Nesse sentido, Fonseca (2014)
ressalta que a apropriação de dispositivos
móveis requer habilidades, planejamento
para que possa ser útil e assim representar
um diferencial nos processos pedagógicos.
No sentido de fomentar cada dia
mais o uso das novas tecnologias na
educação, alguns teóricos ressaltam que:
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O uso das tecnologias da Informação
e Comunicação Móveis e Sem Fio
(TIMS) aumentam os desafios da
realidade escolar. Educadores
precisam se adequar a realidade
desenhada pelas TIMS. Entre as
TIMS, temos o celular, um aparelho
popular, com aplicativos que podem
vir a ser utilizados em sala de aula
como recurso pedagógico (Bento &
Cavalcante, 2013, p. 114).
Em outras palavras, o educador
precisa ter consciência de que as escolhas
de tecnologias educacionais estão
vinculadas à concepção de conhecimento
que ele próprio concebe. Outro aspecto a
ser considerado é que os dispositivos
móveis estão presentes em rios
ambientes sociais, favorecendo o constante
uso de aplicativos e possibilitando o
frequente acesso à internet em qualquer
lugar em que o sujeito se encontra. Sejam,
crianças, jovens, adultos e pessoas da
terceira idade, todos fazem uso de um
aparelho celular ou smartphone para
diversas funções do seu dia a dia, ou seja:
A tecnologia antes vista como algo
que tirava o sujeito do convívio
social e do contato coletivo, torna-se
cada vez mais customizadora, assim
os ambientes tornam-se
individualizados, mas não
individualizados. Os dispositivos, os
aplicativos e suas interfaces podem
ser cada vez mais customizados e
personalizados. Os ambientes
ganham fotos, perfis e avatares
criando uma atmosfera mais
humanizada, representando um ponto
muito positivo para a pedagogia
centrada no aluno (Totti et al., 2011,
p. 2).
Nos dias atuais é indiscutível o
crescente uso de diversos aplicativos
instalados nos dispositivos móveis. Nesse
sentido, Bento e Cavalcante (2013, p. 3)
ressaltam que “mediante as facilidades da
utilização de diferentes aplicativos no
celular, fica nítida para nós a possibilidade
de sua utilização em sala de aula: desde a
calculadora ao acesso de bibliotecas
virtuais”.
Em outras palavras, as possibilidades
são ampliadas quando se utiliza os
aparelhos móveis a favor do processo
educativo. Além dos recursos
tradicionalmente disponíveis nessas TIMS,
como calculadora, mídia player e outros, é
possível acessar, via rede (internet), uma
infinidade de sites e objetos educacionais
de aprendizagem disponíveis sobre o
assunto em estudo.
Esses objetos educacionais, segundo
Tarouco, Fabre e Tamusiunas (2003) e
Ruas (2012) são recursos didáticos
suplementares que servem para dar suporte
ao ensino. São exemplos de alguns objetos
educacionais digitais: hipertextos,
simulações, softwares, aplicativos,
animações, vídeos, objetos de
aprendizagem, mapas, experimentos
práticos e imagens. Esses recursos digitais,
elaborados a partir de uma base
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tecnológica, são dinâmicos e interativos,
podendo ser perfeitamente reutilizados em
sala de aula graças à disponibilidade das
TDIC nas escolas.
De acordo com Lopes et al. (2015),
os diferentes recursos possibilitados pelas
TDIC possibilitam não apenas utilizar os
objetos de aprendizagem em sala de aula,
como também realizar adaptações desses
materiais para o contexto no qual estão
sendo utilizados. As autoras ressaltam que
congregar diferentes dias no ensino
possibilita que os estudantes interajam
diretamente com o objeto estudado, a
exemplo do estudo que realizaram com
estudantes com deficiência e/ou com
dificuldades de aprendizagem.
Nesse aspecto, os pesquisadores
Saboia, Vargas e Viva (2013) salientam
que os objetos educacionais digitais
possibilitam o desenvolvimento de novas
atividades educacionais, novas maneiras de
estabelecer relações interpessoais, além de
ampliar o espaço físico e a abrangência do
processo de ensino e aprendizagem. Com a
utilização das TIMS são ampliadas as
possibilidades de interação entre professor
e estudante, assim como entre os próprios
estudantes com seus pares, o que contribui
para a construção de conhecimentos de
maneira a tornar a sala de aula interativa,
agradável e favorável à aprendizagem.
Procedimentos metodológicos
O presente estudo, baseado em
Martins e Theóphilo (2007) e em Moreira
(2011), configura-se como uma pesquisa-
ação, cuja abordagem é qualitativa, pois
implica um plano de ação com objetivo de
mudança, de melhora frente a um problema
identificado. Segundo Gil (2010), para que
se possa avaliar a qualidade dos resultados
de uma pesquisa, torna-se necessário saber
como os dados foram obtidos e quais
procedimentos foram adotados em sua
análise e interpretação. É importante
ressaltar que serão apresentados alguns
dados numéricos, mas que os mesmos
servirão apenas para confirmar os aspectos
subjetivos desse processo de
aprendizagem.
A utilização de objetos educacionais
digitais tem como propósito promover
aprendizagens quanto aos conceitos
estudados. Thiollent (2009, p. 71) explica
que "na pesquisa-ação, uma capacidade de
aprendizagem é associada ao processo de
investigação. Isto pode ser pensado no
contexto das pesquisas em educação,
comunicação, organização ou outras."
Nesse sentido, observa-se o cuidado
em envolver os estudantes, no intuito de
buscar e fomentar subsídios para o
fortalecimento da aprendizagem. Segundo
Thiollent (2009, p. 71), as "novas práticas
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pedagógicas têm que ser incorporada ao
processo educacional, privilegiando ações
que possam garantir a inclusão de novas
tendências tecnológicas para o
fortalecimento e manutenção do processo
do ensino/aprendizagem".
Todas as ações tiveram a finalidade
de promover a compreensão desses
estudantes quanto aos sistemas digestório e
circulatório do corpo humano em
diferentes situações de aprendizagem. O
intuito das ações foi analisar a utilização
dos recursos tecnológicos no ensino de
ciências, favorece o aprendizado dos
estudantes em comparação com recursos
didáticos convencionais, como o livro
didático.
O lócus para desenvolver essa
intervenção foi a Escola Estadual Sol
Nascente, situada no Projeto de
Assentamento (PA), Confresa Roncador,
na Agrovila Lumiar, à distância de 45 km
do centro urbano de Confresa, Estado do
Mato Grosso. A instituição é considerada
como escola do campo não somente por
estar situada na zona rural, mas também
por atender a populações do campo. O
público para o qual as ações foram
planejadas é composto por 14 (quatorze)
estudantes de Ciências Naturais do Ensino
Fundamental, do Ciclo, Ano. Todos
eles são moradores da zona rural, cujas
residências ficam em agrovilas próximas
da escola.
Todos os estudantes participaram
ativamente dessa pesquisa desenvolvida
durante as aulas de Ciência Naturais sobre
o corpo humano, mais precisamente o
sistema circulatório e sistema digestório.
Contudo, cabe mencionar que 1 (um) dos
estudantes é portador de deficiência e que,
por tal motivo, o mesmo participou das
atividades coletivas, mas não conseguiu
responder aos questionários aplicados.
Como instrumentos utilizados para
coletar dados, foram utilizados
questionários para avaliar a aprendizagem.
A aplicação deles ocorreu em dois
momentos: antes e depois da intervenção
com ferramentas tecnológicas. Justifica-se
utilizar esse procedimento devido à escola
possuir apenas uma turma de ano, não
tendo outra para servir de controle. O
número de questões desses instrumentos
foi 20 (vinte), sendo 10 sobre o sistema
digestório e 10 sobre o circulatório. Foram
questões objetivas de múltipla escolha.
Foram quatro as ações planejadas e
desenvolvidas durante essa intervenção
pedagógica, que foram registradas no
diário de bordo. Em um primeiro
momento, foi utilizado o livro didático de
Ciências como recurso teórico no ensino
dos conceitos sobre os sistemas digestório
e circulatório.
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Nessas aulas, foram exploradas as
informações contidas no livro com o
intuito de que o estudante pudesse
compreender cada etapa do sistema
digestório, a formação do sistema
circulatório, assim como sua importância
para o funcionamento de corpo humano.
Após as leituras dos textos e discussões em
aula sobre o assunto, foi aplicado o
questionário para avaliar a compreensão
dos estudantes sobre os sistemas digestório
e circulatório nessa situação convencional
de ensino, utilizando como recurso apenas
o livro didático.
Em um segundo momento foram
apresentados e explorados de forma livre
alguns recursos tecnológicos no estudo dos
sistemas supracitados. A aula iniciou com
a apresentação do software gratuito
denominado “Atlas do Corpo Humano”
i
,
sendo projetado por um projetor de
multimídia. Nessa etapa, foi explicado
como o software poderia ser explorado e os
recursos disponíveis.
O software apresenta uma viagem
interativa ao corpo humano, ou seja, um
estudo aprofundado sobre o corpo humano.
Para o desenvolvimento da aula, o software
foi explorado de forma coletiva, por meio
da projeção com projetor de multimídia e
intermediado pelo professor, no sentido de
direcionar as discussões sobre os
conteúdos planejados.
Anteriormente foi solicitada a
permissão da coordenação pedagógica da
escola para que os estudantes utilizassem
seus dispositivos móveis dento de sala de
aula, a fim de ser disponibilizado a todos, o
aplicativo “Sistemas do Corpo Humano
3D”
ii
. Dessa forma, os estudantes com o
aplicativo devidamente instalado, puderam
dar continuidade aos estudos do corpo
humano por meio da exploração desse
recurso, inclusive fora do horário de aula.
O professor informou que em outro
momento ocorreria uma atividade de
aprendizagem. Foi solicitado que os
estudantes registrassem em seus cadernos
as informações julgadas mais importantes
para servir de subsídio na atividade
agendada.
No terceiro momento, foi
desenvolvida uma atividade colaborativa,
em que a turma foi dividida em 4 (quatro)
grupos, sendo que dois deles continham
quatro integrantes e os outros dois grupos
com três integrantes cada. Os grupos
responderam um questionário de avaliação
da aprendizagem e tiveram igual período
de execução. Esse instrumento também foi
constituído por 20 questões (conforme
apêndice 1). É importante esclarecer que
todas as questões aplicadas foram extraídas
do próprio software, com o mesmo nível
de dificuldade.
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Depois dessa atividade, foi
apresentado pelo professor outro recurso
didático presente no software
anteriormente citado, chamado “Jogo da
Mente”. Esse recurso projetado em sala de
aula apresenta questões de forma aleatória,
contendo um tempo máximo de 15
(quinze) segundos para a resposta. O
tempo é delimitado pelo software,
respeitando cada nível de dificuldade
(fácil, médio e difícil). Cabe aqui apontar
que cada questão é objetiva e possui 3
(três) opções de respostas, sendo a letra A,
B e C também objetivas. A atividade
também foi desenvolvida pelos mesmos
grupos.
Para agilizar o processo, o professor
fez a leitura de cada questão, cabendo aos
grupos o tempo determinado para
interpretar a questão, discutir com seus
colegas e escolher a opção que julgassem
ser a correta. As respostas eram registradas
em uma folha fornecida previamente no
formato de cartão resposta. Após as 18
atividades respondidas, os grupos foram
avaliados de acordo com as respostas
certas e erradas apresentado pelo próprio
software.
Ao término dessa intervenção, foi
aplicado um questionário de avaliação das
aulas, constituído por oito questões abertas.
Para garantir o anonimato dos sujeitos da
pesquisa, os nomes foram substituídos
pelas siglas E 1 (estudante 1), E 2
(estudante 2), E 3 (estudante 3) e assim
sucessivamente. A análise e discussão das
respostas coletadas foram realizadas sob a
luz do referencial teórico anteriormente
citado.
Resultados e discussões
Como foi mencionada
anteriormente, a coleta de dados se deu por
meio do questionário de avaliação da
aprendizagem, que foi aplicado em dois
momentos: antes do desenvolvimento das
ações com ferramentas tecnológicas e após
a conclusão das atividades. Na figura 1 é
possível verificar o desempenho dos
estudantes quanto à compreensão do
sistema digestório, inicialmente com o
livro didático (em azul) e depois com a
utilização do software e aplicativo (em
laranja).
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Figura 1: Aproveitamento referente ao estudo do Sistema Digestório.
Fonte: Elaborado pelos autores (2016).
De acordo com os dados coletados, é
possível verificar, por meio das questões
de 1, 2, 4, 5, 6, 9 e 10, que os 13 (treze)
estudantes respondentes compreenderam
melhor o sistema digestório com o uso de
ferramentas tecnológicas e por isso tiveram
maior número de acertos. Isso mostra que
o uso de tais ferramentas pedagógicas é
cada vez mais necessário no processo
educativo.
Nesse sentido, Fonseca (2014, p. 5)
afirma que "o uso de tecnologias como
essas tem como princípio um ensino-
aprendizagem anytime, anywhere”. Em
outras palavras, o autor defende uma
aprendizagem móvel, diz que pode ocorrer
em qualquer lugar e a qualquer hora.
Essa assertiva é corroborada com o
aproveitamento constatado nesse estudo,
pois o significativo aumento no número de
acertos depois da utilização do software e
do aplicativo demonstra que as ferramentas
tecnológicas possibilitam a construção de
aprendizagens, como defende Ruas (2012).
Essa melhora pode estar atrelada ao fato de
que os recursos utilizados trazem imagens
em 3D de cada parte do corpo humano,
além das características e funções do
sistema digestório estudado.
Quando são explorados os recursos
tecnológicos na escola, não aqueles
restritos aos computadores, o processo
educativo se torna mais prazeroso e
significativo tanto para os estudantes como
para o professor, tornando esse momento
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formativo diferenciado da prática
tradicional em que o professor é detentor
do conhecimento e o livro didático é a
única ferramenta utilizada (Moura, 2009).
Ao analisar os dados, também foi
possível verificar que apenas nas questões
de 3, 7 e 8 foram obtidos um número de
acertos baixo e ainda um pouco melhor
antes da intervenção (somente utilizando o
livro didático). De fato, as questões
supracitadas foram escolhidas
intencionalmente em um nível mais
complexo, o que pode justificar tal
desempenho. A seguir (Figura 2), é
apresentado o desempenho dos estudantes
quanto à compreensão do sistema
circulatório.
Figura 2: Aproveitamento referente ao estudo do Sistema Circulatório.
Fonte: Elaborado pelo autor da pesquisa (2016).
Ao analisarmos os dados referentes
ao sistema circulatório, percebe-se que os
estudantes também apresentaram melhor
desempenho quando utilizaram
ferramentas tecnológicas. Em todas as
questões, exceto a de 2, o aumento no
número de acertos foi significativo. Isso
demonstra que os estudantes
compreenderam melhor sobre o sistema
circulatório após terem realizados estudos
com o auxílio do software e do aplicativo.
Corroborando essa interpretação,
Fonseca (2014, p. 6) confirma que:
Os atributos do uso dos celulares e
smartphones para fins de ensino-
aprendizagem são vários. A
familiaridade, por ser considerada
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uma tecnologia comum no cotidiano
e amigável, a mobilidade e
portabilidade, que permite leva-lo
para qualquer parte, os aspectos
cognitivos, no contato com uma
gama de recursos em vários formatos
(texto, som, imagem, vídeo) e a
conectividade, que amplia a
comunicação, o acesso à informação
e contribuí para a colaboração e
compartilhamento, são atributos que
podem ser colocados como
potencializadores do aprendizado.
Diante do grande desafio em avançar
no processo educacional no cenário
brasileiro, torna-se evidente que os
professores precisam utilizar novas
ferramentas pedagógicas para que se possa
atrair e ao mesmo tempo interagir com os
estudantes. Cabe lembrar que Auler (2003)
defende que a escola é a responsável por
alfabetizar os cidadãos a fim de que sejam
capazes de adaptar as conquistas científicas
e tecnológicas na resolução de problemas
cotidianos.
Quanto ao desempenho durante o
jogo da mente, os quatro grupos acertaram
16, 16, 15 e 14 questões respectivamente.
Em um total de 18, pode-se considerar que
os saberes compreendidos sobre os
sistemas estudados. Esse jogo interativo
permitiu que os estudantes testassem os
conhecimentos construídos ao longo dos
estudos e da exploração dos recursos
tecnológicos desenvolvidos em sala de
aula, de acordo com o próprio Thiollent
(2009).
No sentido de buscar fazer uma
avaliação quanto ao uso de ferramentas
tecnológicas em sala de aula para estudar o
sistema digestório e sistema circulatório,
foram realizados alguns questionamentos
junto aos estudantes e algumas das
respostas foram trazidas para esse artigo.
Se consideram importante o uso das
tecnologias a exemplo do software e do
aplicativo utilizados em sala de aula:
“Sim, pois a tecnologia é uma
excelente fonte para utilizar dentro da sala
de aula” (E 3).
“Sim, para melhor entendimento
dos conteúdos” (E 4).
Não foram apresentadas mais
respostas devido todas expressarem que
aprovam o uso de tecnologias para estudar.
Utilizar TIMS na educação pode até ser
desafiador como aponta Bento e
Cavalcante (2013), porém é preciso que os
professores explorem esse importante
recurso pedagógico em sala de aula.
Quanto às contribuições do software
e do aplicativo para a aprendizagem:
“Muito, para mim aprender o
sistema circulatório e o sistema
digestório, foi muito melhor pra
mim aprender” (E 1).
“Ele contribuiu para nos ajudar a
aprender mais. No sentido de nos
ajudar a compreender os
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conteúdos com mais
facilidade” (E 2).
“Contribuiu que eu aprendi mais
com o aplicativo” (E 7).
Esse reconhecimento de que o acesso
às tecnologias educacionais favorece a
construção de aprendizagens corrobora o
pensamento de Moura (2009), que defende
que o acesso à multimídia, em especial às
tecnologias móveis, é capaz de influenciar
positivamente no processo educativo.
Se houve dificuldades em
compreender os conteúdos ministrados
com o software e ou em utilizá-lo:
“Não, foi bem mais fácil pra gente
aprender, ele mostra as coisas
com mais clarezas é fácil” (E1).
“Não, pois o software é excelente
para estudar dentro da sala de
aula” (E 3).
“Não, nem um pouco, o aplicativo
foi excelente” (E 9).
Tais constatações nos levam a
acreditar que os objetos educacionais
digitais por meio das tecnologias utilizadas
nesse estudo contribuíram para a interação
dos conhecimentos científicos e
tecnológicos com a vida cotidiana dos
estudantes (Auler, 2003), devido ao caráter
dinâmico e interativo desse suporte
disponível ao ensino (Tarouco, Fabre &
Tamusiunas, 2003).
Sobre as potencialidades encontradas
na utilização desses recursos tecnológicos:
“Foi excelente, teve muito mais
aprendizado, mais discussão foi
bem mais fácil que o livro, mostra
bem mais clareza e mais
participação dos alunos” (E 1).
“Foi excelente, teve dinâmica, a
aprendizagem foi maior” (E 2).
“Melhor entendimento dos
conteúdos com os aplicativos e
nós podemos ver as ótimas
imagens do coração, os
órgãos” (E 4).
“Sim, para aprender mais
que com o livro” (E 7).
Conforme Lopes et al. (2015), a
utilização de objetos de aprendizagem no
ensino e/ou sua adaptação não significa
simplificar ou reduzir a complexidade dos
conceitos estudados, mas sim criar novas
possibilidades para que as aprendizagens
sejam construídas.
Todos os estudantes que
responderam a questão foram unânimes em
considerar que uso de dispositivos móveis
em outras disciplinas.
Sobre os pontos positivos e negativos
na utilização dos mesmos como
ferramentas pedagógicas no fortalecimento
dos processos de ensino e aprendizagem:
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“Os pontos são todos positivos,
porque para ver as imagens em
três D” (E 3).
“Para mim não teve pontos
negativos, só positivos porque o
aplicativo é excelente” (E 8).
“O aplicativo não tem nada de
ruim” (E 11).
As respostas confirmam que a
utilização das TDIC é imprescindível no
meio educacional, que os diferentes
recursos possíveis por meio dessas
tecnologias ampliam as possibilidades de
interação, além de utilizar uma linguagem
envolvente e motivadora (Lopes et al.,
2015; Saboia, Vargas & Viva, 2013).
Sobre a interação dos estudantes
pelos estudos comparando ferramentas
tradicionais (livro didático) e tecnologias
digitais (smatphone):
“O aplicativo porque mostra a
imagem em três D, muito melhor
e mostra as coisas com mais
clarezas” (E 1).
“O dispositivo é mais avançado,
nos livros é uma dificuldade os
professores passam de
vez enquanto eles passam 2
capítulos, e nos dispositivos é
excelente e facilita para os
estudos” (E 4).
“O smartphone, porque foi melhor
para entender, o livro também
aprendi, mas é mais difícil” (E5).
“No livro é mais ruim, porque não
mostra as imagens que nós
queremos ver” (E 7).
De acordo com as respostas dos
estudantes sobre o uso de aplicativos
instalados nos dispositivos móveis para
estudar os sistemas digestório e
circulatório, foi possível analisar que a
maioria apontou os dispositivos móveis
como uma excelente ferramenta
pedagógica para ser utilizada em várias
disciplinas. Observa-se que os estudantes
interagem e aprendem melhor em meio às
tecnologias e que realmente é possível a
aprendizagem móvel defendida por Moura
(2009).
Realmente o desafio atual, apontado
por Bento e Cavalcante (2013), parece
estar relacionado à adequação dos
professores e de suas práticas pedagógicas
para com a realidade desenhada pelas
TIMS, pois os estudantes de hoje agem
com naturalidade no que diz respeito ao
uso de tecnologias. Os autores também
defendem que os diferentes aplicativos
disponíveis nos aparelhos móveis são
recursos que podem favorecer a construção
de aprendizados com significado, desde
que seja utilizado de maneira objetiva, a
exemplo do que aconteceu nesta pesquisa.
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Considerações finais
Pelo estudo realizado é possível
perceber a importância de os professores
utilizarem meios e ferramentas
pedagógicas como as TIMS, para ministrar
conteúdos de diversas áreas do
conhecimento, fazendo com que os
estudantes possam interagir com as novas
tendências tecnológicas que adentram no
ambiente escolar.
Os resultados expressos tanto no pré
e pós-teste sobre os sistemas digestório e
circulatório, como no jogo da mente,
comprovam que tais recursos incorporados
nas práticas pedagógicas apresentam
grande potencial para a construção de
variados saberes. A avaliação realizada
pelos estudantes envolvidos revela o
quanto às tecnologias são atrativas e
podem contribuir para a aprendizagem.
O uso de softwares e aplicativos nas
mais variadas áreas do conhecimento tem
demonstrado resultados positivos, uma vez
que os estudantes sabem manusear essas
tecnologias e muitas delas, como os
smartphones, podem ser levadas a
qualquer lugar, permitindo aos estudantes
acessar os mais variados conceitos por
meio de diferentes linguagens, desde
imagens simples até gráficos mais
complexos em 3D.
É preciso que os processos de ensino
e de aprendizagem sejam mais que meros
momentos de repasses de conteúdos de
forma arcaica e não substanciada. Não se
pode deixar de nos atualizar e direcionar os
estudantes para um mundo cada vez mais
digital e informatizado, pois é impossível
vivermos sem acesso aos diversos meios
de informação que permeiam a sociedade
atual. Portanto, o uso de objetos
educacionais digitais para ensinar Ciências
Naturais é viável e contribui positivamente
no processo educativo, conforme
verificado no presente estudo.
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EvoBooks.SistemasCorpoHumano&hl=pt-BR
Recebido em: 21/06/2017
Aprovado em: 28/08/2017
Publicado em: 13/12/2017
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Santos, S. F., & Leão, M. F. (2017). Uso de objetos
educacionais digitais para ensinar sistemas do corpo
humano em uma escola do campo. Rev. Bras. Educ.
Camp., 2(3), 861-880. DOI:
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-
4863.2017v2n3p861
ABNT:
SANTOS, S. F.; LEÃO, M. F. Uso de objetos
educacionais digitais para ensinar sistemas do corpo
humano em uma escola do campo. Rev. Bras. Educ.
Camp., Tocantinópolis, v. 2, n. 3, p. 861-880, 2017.
DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-
4863.2017v2n3p861
ORCID
Silvio Ferreira dos Santos
http://orcid.org/0000-0001-7405-0535
Marcelo Franco Leão
http://orcid.org/0000-0002-9184-916X
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Apêndice - Questões utilizadas antes e depois da
intervenção pedagógica:
01 Qual o peso aproximado do coração?
a) 80 gramas b) 250 gramas
c) 1 quilo e meio
02 A que órgão corresponde as veias hepáticas?
a) A hipófise b) A hepatite
c) Ao fígado
03 Por que não sentimos ao cortar o cabelo ou
unhas?
a) Porque estas partes do corpo não dispõem
de terminações nervosas
b) Porque estas partes do corpo não contêm
sangue
c) Porque estas partes do corpo carecem de
vida
04 De que cor é o Plasma sanguíneo?
a) Vermelho b) Amarelo
c) Azul
05 Qual o nome das últimas ramificações das
artérias, de dimensões microscópicas?
a) Átomos b) Arteríolas
c) Moléculas
06 Como se chamam as artérias que percorrem os
dedos das mãos?
a) Artérias palmares b) Artérias
terminais c) Artérias digitais
07 Qual é o nome da artéria que irriga a língua?
a) Artéria sublingual b) Artéria
lingual c) Artéria supralingual
08 Quais são os três tipos de componentes
sanguíneos existentes?
a) Glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e
nucleotídeos
b) Glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e
plaquetas
c) Glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e
aminoácidos
09 O que são vênulas?
a) Veias com pouca irrigação sanguínea
b) Veia que se converteram em varizes
c) Veia de pequeno calibre
10 Como é chamado o movimento de sangue
realizado pelo interior do corpo?
a) Aferência b) Circulação
c) Peristaltismo
11 O intestino delgado é a estrutura mais longa do
Sistema Digestório e mede:
a) Cerca de um metro e meio
b) Cerca de sete metros
c) Cerca de quinze metros
12 Como se chama a massa de alimentos que
desce em direção ao estômago?
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a) Comida b) Bolo alimentar
c) Aporte calórico
13 Por que o reto possui este nome?
a) Pela falta de rugosidade de suas paredes
b) Pelo seu formato quase reto
c) Pelo formato de seu processo
14 - Onde se localiza o intestino grosso?
a) Como continuação do intestino delgado
b) Como continuação da traqueia
c) Como continuação do reto
15 Qual é um dos órgãos mais volumosos e com
maior número de funções do corpo?
a) O esterno b) A bexiga
c) O fígado
16 Qual é o nome da parte do corpo que permite o
ingresso das substâncias alimentícias?
a) Estômago b) Tubo digestivo
c) Boca
17 Qual é a função dos sucos gástricos?
a) Degradar os alimentos em elementos mais
simples para que possam ser facilmente absorvidos.
b) Umedecer os alimentos para facilitar sua
absorção
c) Eles simplesmente aceleram a digestão,
sem nenhuma função específica
18 A massa de alimento é também conhecida
como?
a) Timo b) Quima
c) Quimo
19 Qual é o nome do processo realizado pelo
Sistema Digestório?
a) Deglutição b) Bolo
alimentar c) Digestão
20 Como se chama os restos descartados pelo
processo de digestão?
a) Toxinas b) Metabólitos
c) Fezes
Revista Brasileira de Educação do Campo
DOSSIÊ / ARTIGO
DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-4863.2017v2n3p881
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Discutindo a temática agrotóxicos: uma abordagem por
meio das controvérsias sociocientíficas
Eril Medeiros da Fonseca
1
, Leandro Duso
2
, Marilisa Bialvo Hoffmann
3
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Universidade Federal do Pampa - UNIPAMPA. Campus Dom Pedrito. Rua 21 de abril, 80. São Gregório. Dom
Pedrito - RS. Brasil. erilmf@gmail.com.
2
Universidade Federal do Pampa - UNIPAMPA.
3
Universidade Federal
do Rio Grande do Sul - UFRGS.
RESUMO. A temática “agrotóxicos” na Educação do Campo
perpassa questões-chave a ser problematizadas, a exemplo dos
cuidados com os trabalhadores do campo, a partir do conceito de
saúde como algo amplo, que envolve o acesso aos bens
culturais, de lazer e comunicação e ainda, o bem-estar físico,
mental e social coletivo. O uso dos agrotóxicos, além de
comprometer a saúde daqueles que trabalham no campo e dos
que se alimentam do que é produzido no campo, traz consigo
uma concepção de saúde, que além de adoentar e individualizar,
afeta nossa diversidade biológica. Objetiva-se, neste estudo,
discutir os agrotóxicos e suas implicações para a saúde, por
meio da abordagem das Controvérsias Sociocientíficas (CSC) no
Ensino de Ciências e na Educação do Campo.
Palavras-chave: Ensino de Ciências, Formação de Professores,
Educação do Campo.
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Discussing agrochemical themes: an approach through
socio-scientific controversies
ABSTRACT: The theme of "agro-toxicology" in the Rural
Education pervades key issues to be problematized, such as the
care of rural workers, from the concept of health as something
broad, involving access to cultural goods, leisure and
communication and still, the collective physical, mental and
social well-being. The use of pesticides, in addition to
compromising the health of those who work in the field and
those who feed on what is produced in the field, brings with it a
conception of health that, in addition to suffering and
individualizing, affects our biological diversity. The objective of
this study is to discuss pesticides and their implications for
health, through the approach of Socio-Scientific Controversies
(CSC) in Science Teaching and Rural Education.
Keywords: Science Teaching, Teacher Training, Rural
Education.
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Discutiendo la temática agrotóxicos: un enfoque a través
de las controversias sociocientíficas
RESUMEN: La temática "agrotóxicos" en la Educación del
Campo atraviesa cuestiones clave a ser problematizadas, a
ejemplo de los cuidados con los trabajadores del campo, a partir
del concepto de salud como algo amplio, que implica el acceso a
los bienes culturales, de ocio y comunicación y El bienestar
físico, mental y social colectivo. El uso de los agrotóxicos,
además de comprometer la salud de aquellos que trabajan en el
campo y de los que se alimentan de lo que se produce en el
campo, trae consigo una concepción de salud, que además de
adolecer e individualizar, afecta nuestra diversidad biológica. Se
pretende, en este estudio, discutir los agrotóxicos y sus
implicaciones para la salud, a través del abordaje de las
Controversias Sociocientíficas (CSC) en la Enseñanza de
Ciencias y en la Educación del Campo.
Palabras clave: Enseñanza de la Ciencias, Formación Docente,
Educación del Campo.
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Introdução
A Educação do Campo, enquanto
projeto de educação com identidade
específica, historicamente localizada e
legitimada nas demandas dos movimentos
sociais e povos tradicionais, não deve ser
compreendida como um espaço de mera
aplicação dos conhecimentos
sistematizados da já consolidada na área do
Ensino de Ciências. É necessário, portanto,
que se assuma o desafio de mobilizar os
resultados das pesquisas desta última, no
sentido de contribuir com a concretização
das finalidades da Educação do Campo,
seus novos enfrentamentos e as
especificidades e pluralidades inerentes a
essa área do saber (Brick et al, 2014).
As culturas populares, entre elas
aquelas referentes aos povos do campo,
são caracterizadas essencialmente pela
diversidade, em seus mais variados
aspectos (Grigon, 2013), as quais, muitas
vezes, costuma-se reduzir sob a ação da
escola, como assinalou Weber (1990), em
uma tendência à uniformização da vida,
manifestada em nossos dias através do
interesse do capitalismo pela padronização
da produção. Neste sentido, as instituições
educacionais devem ser entendidas não
apenas como o lugar onde se realiza a
socialização do conhecimento, mas como
um espaço plural onde se reflete
criticamente acerca das implicações
políticas desse conhecimento (Giroux,
1997).
Dessa forma, podemos abordar
conhecimentos culturais/populares que se
referem a saberes, destrezas e habilidades
que são usados para construir, interpretar e
dar significado à vida social e natural.
Neste sentido, Santos (2009) menciona a
ecologia de saberes como um meio de
realizar um diálogo entre os
conhecimentos científicos e os mais
diversos saberes populares (camponeses,
indígenas, urbanos, entre outros),
defendendo que nenhum saber é finito,
mas que existe em meio e por meio de
outros saberes, que podem ser
considerados úteis para o avanço das lutas
sociais pelos que nelas intervêm. Esse
processo de diálogo é viável a partir da
consideração de vários movimentos,
conceitos, linguagens e saberes
transversais com vistas a problematizar um
objeto de estudo favorável a essa
discussão.
A articulação entre os conhecimentos
sistematizados da área de Ensino de
Ciências e Educação do Campo possibilita
essa incursão, em diferentes espaços
formativos, dentre eles a escola,
compreendida como um dos principais
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centros mobilizadores das relações sociais
nas comunidades, bem como um
importante meio de acesso aos
conhecimentos universais da humanidade,
pela classe trabalhadora. Nesse sentido,
espera-se que a escola possa “promover a
socialização das novas gerações e discutir
conhecimentos historicamente
acumulados” (Molina, 2014, p. 12), aliada
a questões sociais, que dialoguem e
influenciem decisões éticas, políticas e
econômicas, que os novos
conhecimentos de ciência e tecnologia
referem-se a um conjunto de saberes
sistematizados universalmente, e não mais
específicos de cada área do conhecimento
(Delizoicov, Angotti & Pernambuco,
2011).
Diante do exposto e no intuito de
pensar o Ensino de Ciências para além de
conceitos e ideias (Carvalho, 2011), o
presente artigo objetiva discutir a temática
dos agrotóxicos relacionada à saúde, por
meio da abordagem das Controvérsias
Sociocientíficas (CSC), especialmente no
contexto da Licenciatura em Educação do
Campo Ciências da Natureza, da
Universidade Federal do Pampa
(Unipampa), Campus Dom Pedrito-RS.
Este estudo faz parte de uma das ações do
Núcleo de Pesquisa sobre Ensino de
Ciências e Educação do Campo (NPEC)
desta universidade.
Contextualizando a discussão
A Unipampa surgiu através do
movimento político de expansão das
instituições federais de Educação Superior
da região da Campanha, Rio Grande do
Sul, em 2006. Essa IEs é organizada em
uma estrutura multicampi, totalizando 10
campi nos municípios de Jaguarão,
Caçapava do Sul, Bagé, Alegrete, Itaqui,
São Borja, Santana do Livramento, São
Gabriel, Uruguaiana e Dom Pedrito. No
campus Dom Pedrito são ofertados cinco
cursos de graduação, dois desses em nível
de licenciatura: Ciências da Natureza e
Educação do Campo - Ciências da
Natureza. Embora diferenciados, as duas
licenciaturas contam com propostas
interdisciplinares e egressos aptos a
atuarem como docentes nos anos finais do
Ensino Fundamental e Médio (Fonseca &
Bierhalz, 2016).
A região em torno da Unipampa -
Campus Dom Pedrito apresenta grande
potencial para o desenvolvimento rural,
com destaque para as culturas de arroz e de
soja, além de videiras, oliveiras e
hortaliças. A região do oeste da Campanha
Gaúcha apresenta também grande destaque
na produção de ruminantes e equinos, que
têm sua alimentação baseada em sistemas
pastoris (Unipampa, 2017).
Cabe ainda destacar a forma intensa
e exploratória que a agricultura vem sendo
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realizada, o que confere grandes mudanças
no cenário socioambiental da região.
Sendo assim, o incentivo à formação de
um profissional capacitado no âmbito da
Educação do Campo vem ao encontro de
um modelo idealizado e requisitado pela
sociedade e região, para que este seja apto
a atuar nas escolas do campo num contexto
de sustentabilidade socioambiental, com
ênfase na preservação do patrimônio
natural, nas condições de vida da
população local e na produção de
alimentos mais seguros e saudáveis.
O curso de Educação do Campo tem
duração de quatro anos, constituído de oito
períodos de Tempo Comunidade (TC) e
Tempo Universidade (TU). No TU são
desenvolvidas atividades conceituais e
preparação para atuação no TC, sendo este
último desenvolvido nas comunidades de
origem dos acadêmicos e em escolas
escolhidas por eles para inserção da
docência. As escolas são localizadas em
comunidades que atendam crianças e
jovens das comunidades do campo. As
articulações entre TU e TC ocorrem nos
componentes círculo e cultura, seminários
integradores, e outros momentos como
grupos de trabalho, oficinas temáticas,
exposições e espaços culturais (Unipampa,
2017).
O curso busca romper com uma
formação excessivamente fragmentada e
dicotomizante, valorando um trabalho
colaborativo, em que diferentes campos do
conhecimento dialogam, como discutem
Molina e Sá (2012, p. 469):
... que se destacar a
intencionalidade maior da formação
por área de conhecimento de
contribuir com a construção de
processos capazes de desencadear
mudanças na lógica de utilização e de
produção de conhecimento no
campo. A ruptura com as tradicionais
visões fragmentadas do processo de
produção de conhecimento, com a
disciplinarização da complexa
realidade socioeconômica do meio
rural na atualidade, é um dos desafios
postos à Educação do Campo.
O curso é organizado em oito eixos
temáticos, sendo o segundo semestre
norteado pelo eixo temático Contexto
Socioeconômico, Sociopolítico e
Socioeducacional. O componente
curricular “Construindo Conhecimento de
Biologia no Ensino Fundamental” constitui
esse eixo e possibilita a abordagem da
temática agrotóxicos, onde um dos
objetivos consiste em conhecer os níveis
de organização biológica dos seres vivos,
contextualizando-os às especificidades
ligadas à realidade e problemáticas do
campo.
Dessa forma, a temática dos
agrotóxicos pode ser uma possibilidade
para abordar conhecimentos das Ciências
da Natureza na compreensão de
problemáticas sociais e ambientais que
abranjam aspectos locais e globais, uma
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vez que a sociedade em geral tem sofrido
as consequências do uso indiscriminado de
defensivos nas plantações. Por
conseguinte, problematizar esta temática
na formação inicial de professores pode
favorecer a abordagem contextualizada e
crítica na Educação Básica (Fernandes &
Stuani, 2015a).
Do mesmo modo, a temática dos
agrotóxicos tem se caracterizado como um
tema controverso, pois, de um lado, há os
que defendem seu uso de forma
“controlada” e sinalizam a inviabilidade
de plantar em larga escala sem o uso dos
defensivos agrícolas, ao passo que muitos
apontam a possibilidade de produzir
comida para a população sem a utilização
dos agrotóxicos a partir de um novo
modelo de desenvolvimento agrário. Este
último, no entanto, pressupõe outro olhar
para a distribuição e trabalho com a terra,
para a educação, para os conhecimentos
produzidos e disseminados e, sobretudo,
para a concepção de alimentação, que no
contexto atual é vista, hegemonicamente,
como mercadoria (Machado, Oliveira &
Mendes, 2016).
Carvalho e Costa (2012) ressaltam
que, nesse modo capitalista de fazer
agricultura, é crescente a concentração das
terras como resultado do privilegiamento
da produção em escala, que requer grande
extensão contínua de área para a prática do
monocultivo e tecnologias com uso
intensivo de insumos químicos,
particularmente os agrotóxicos, que
maximizam a produção por área e, em
combinação com a mecanização, alteram e
diversificam as formas de exploração do
trabalho. Desse modo, se mostram
necessárias reflexões e ações em torno dos
saberes e fazeres da agricultura
camponesa, em especial a agroecológica
ou em transição agroecológica,
antagônicas ao modo de produção
hegemônico e capitalista que acaba por
iludir tanto o trabalhador do campo quanto
a população da cidade. Para isso, se faz
necessário, conforme salientam Pinheiro-
Machado e Pinheiro-Machado Filho (2014)
desconstruir ideias, conceitos e
preconceitos da agricultura industrial,
analisando-se as consequências sociais,
ambientais, econômicas e especialmente,
para a saúde humana. Os mesmos autores
citam alguns mitos que devem ser
derrubados ao se questionar se a produção
agroecológica poderia “alimentar o
mundo”. Entre estes: o de que a produção
agroecológica é mais cara; o de que a
agroecologia é sinônimo de atraso
tecnológico; o de que agroecologia é
menos produtiva e, por fim, o de que
agroecologia não produz para a
humanidade.
Para tanto, a ação educativa discutida
aqui pressupõe o conhecimento como
resultado dialético da mobilização de
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diferentes saberes, que não se esgotam nos
espaços e tempos delimitados pela sala de
aula convencional (Unipampa, 2017).
Nessa concepção, o estudante, sua
comunidade e as interações sociais nela
vivenciadas são sujeitos do processo
educativo, sendo necessário o
reconhecimento destes de modo a se valer
de diferentes estilos de aprendizagem,
individuais e coletivas. Para tal,
discutiremos a temática agrotóxicos como
uma possibilidade de problematizar
aspectos da realidade e de fomentar a
formação crítica e reflexiva de professores
no curso de Educação do Campo.
Abordagem dos agrotóxicos e relações
com Educação do Campo
Entende-se que a alimentação
constitui um direito sico assegurado a
população, que consiste no acesso físico e
econômico de todas as pessoas aos
alimentos e recursos, incluindo a água e as
diversas formas de acesso à mesma.
Quando menciona-se que a alimentação
deve ser adequada, entende-se que ela seja
adequada às condições culturais, sociais,
econômicas, climáticas e ecológicas de
cada pessoa, etnia, cultura ou grupo social
(Brasil, 2014).
Na declaração universal dos direitos
humanos de 1948, o artigo 25, dispõe que
“toda pessoa tem direito a um padrão de
vida capaz de assegurar a si e a sua família
saúde e bem-estar, inclusive alimentação,
vestuário, habitação, cuidados médicos e
os serviços sociais indispensáveis”.
Os agrotóxicos são um dos principais
insumos agroquímicos utilizados na
agricultura. De acordo com o Decreto
4.074/2002, que dispõe sobre a
regulamentação dos agrotóxicos no Brasil,
estes são agentes de processos físicos,
químicos ou biológicos para o uso no
cultivo, armazenamento e beneficiamento
de produtos agrícolas e para alterar a
composição da flora e fauna, a fim de
preservá-las de ações de seres vivos,
considerados nocivos.
A utilização dos agrotóxicos iniciou-
se no século XX, em um período pós-
guerra, em que a indústria química, até
então vinculada à fabricação de veneno,
percebeu na agricultura um novo mercado
para produção (Londres, 2011).
Nesse sentido, a agricultura
ultrapassou o processo tradicional de
trabalho que era voltado à subsistência
familiar, passando para produção em larga
escala para atender necessidades de
extratos político-econômicos dominantes e
abrangendo um maior número de
consumidores (Peres, 1999). Alentejano
(2012, p. 480), menciona que:
A modernização da agricultura
brasileira acompanha o movimento
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de difusão da Revolução Verde pelo
mundo, seja na acepção ideológica
que contrapõe a modernização à
Reforma Agrária, seja na acepção
prática da utilização crescente de
máquinas, insumos químicos e
sementes melhoradas, que faz do
Brasil, nos dias de hoje, o maior
consumidor mundial de agrotóxicos.
Os agrotóxicos têm sido utilizados há
bastante tempo por agricultores no
combate a organismos que afetam a
produção de alimentos. Porém, seus efeitos
não se restringem a esses organismos,
podendo causar sérios danos ao ambiente e
à saúde humana (Miranda et al., 2007), de
modo que, quando nos referimos ao
ambiente, incluímos igualmente o ser
humano como parte integrante do meio.
Além disso, o uso de agrotóxicos tem
resultado em sérios problemas sociais,
políticos, ambientais e de saúde. A
ocorrência de doenças relacionadas ao uso
destes vem sendo apresentada como um
problema de saúde pública, principalmente
nos países em desenvolvimento que
possuem a sua economia baseada no
agronegócio, como é o caso do Brasil
(Araújo, 2007). vários riscos do uso de
agrotóxicos, tanto para o meio ambiente,
quanto para o trabalhador e o consumidor
de alimentos tratados com esses produtos.
De acordo com Rigotto e Rosa
(2012), é possível considerar que a maior
parte da população está exposta, de alguma
forma, a esses produtos. As autoras
ressaltam que os trabalhadores são os
primeiros a serem expostos por mais tempo
aos efeitos desses produtos. O segundo
grupo seriam as comunidades localizadas
em torno de empreendimentos agrícolas ou
industriais e o terceiro grupo, os
consumidores dos produtos contaminados.
Sobre este último, dados do Programa de
Análise de Resíduos de Agrotóxicos
(PARA) da Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (ANVISA, 2016),
revelaram amostras com resíduos de
agrotóxicos em quantidades acima do
limite máximo permitido e com a presença
de substâncias químicas não autorizadas
para o alimento pesquisado. Além disso,
também constataram a existência de
agrotóxicos em processo de banimento
pela Anvisa ou que nunca tiveram registro
no Brasil.
Segundo Soares e Porto (2012), as
formas de contaminação dos agrotóxicos
no meio ambiente podem ocorrer por
acumulação em um bioma e pela inserção
na água e no solo. Uma outra consequência
relacionada a pulverização desse veneno
no ar é que prejudica a polinização. O uso
de agrotóxico está ocasionando uma
grande mortalidade de abelhas,
responsáveis pela polinização, ocasionando
graves impactos na produção de alimentos
diminuindo a quantidade de produção, bem
como a qualidade de alimentos disponíveis
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no planeta (Steffan-Dewenter, Potts &
Packer, 2005). Além disso,
A biodiversidade nativa é destruída, e
a base genética das populações é bem
estreita, uma vez que se utilizam
variedades de plantas e raças animais
desenvolvidos pela pesquisa
agropecuária para serem uniformes e
responderem ao pacote tecnológico
agroquímico. Tudo isso provoca
rupturas no equilíbrio ecológico, e os
agroecossistemas adoecem.
Populações de insetos e
microrganismos se tornam problemas
econômicos graves para os cultivos e
criações, e são atacados com doses
cada vez maiores de agrotóxicos
(Monteiro, 2012, p. 69).
Dentro do grupo dos agrotóxicos o
mais utilizado em plantações de larga
escala são os inseticidas. Nesse caso, há
outros efeitos nocivos que eles podem
causar, como por exemplo, o
comprometimento da cadeia alimentar,
causando desequilíbrio ecológico. Muitos
animais, como aranhas, sapos, lagartos,
algumas espécies de aves, peixes,
morcegos e mamíferos alimentam-se de
insetos, o que pode levar à morte por
intoxicação bem como por carência
alimentar. Como as plantas também
dependem de insetos para sua polinização,
com a diminuição dos insetos, também
redução de produção de frutos.
Dados da Pesquisa Nacional da
Saúde (Brasil, 2013), afirmam que as
doenças crônicas o transmissíveis
(DCNT) - como doenças cardiovasculares,
cânceres, enfermidades respiratórias
crônicas e doenças neuropsiquiátricas -
constituem o problema de saúde de maior
magnitude relevante e respondem por mais
de 70% das causas de mortes no Brasil. A
mesma pesquisa estimou que 1,8% das
pessoas de 18 anos ou mais de idade (2,7
milhões de adultos), apresentam
diagnóstico médico de câncer no Brasil.
Por conseguinte, em 2015 o Instituto
Nacional do Câncer (INCA) manifestou-se
publicamente, assumindo que os efeitos
adversos decorrentes da exposição crônica
aos agrotóxicos podem aparecer muito
tempo após a exposição, dificultando a
correlação com o agente. Dentre os efeitos
associados à exposição crônica a
ingredientes ativos de agrotóxicos podem
ser citados infertilidade, impotência,
abortos, malformações, neurotoxicidade,
desregulação hormonal, efeitos sobre o
sistema imunológico e câncer (Brasil,
2015). Nesse sentido, o INCA posicionou-
se, incentivando o estabelecimento de
ações que visem à redução progressiva e
sustentada do uso de agrotóxicos.
Assim sendo, a tomada de
conhecimento sobre as consequências do
uso dos agrotóxicos para a sociedade
configura-se uma possibilidade de intervir
na realidade. Ainda que a temática não se
articule de forma o espontânea, é
relevante vincular a mesma com
problemáticas locais, viabilizadas pelo
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estudo de conteúdos curriculares que
possibilitem instruir os sujeitos sobre sua
realidade (Fernandes & Stuani, 2013;
2015b), tornando-os reflexivos e críticos.
Fernandes e Stuani (2015b, p. 758)
ainda ressaltam que a exploração da
temática dos agrotóxicos permite uma
abordagem integradora entre conteúdos de
diferentes áreas, permitindo uma visão e
compreensão ampla da realidade, o que se
coaduna com a proposta do curso de
Educação do Campo aqui explorado, que
pretende viabilizar “uma formação em que
as diferentes áreas do conhecimento
dialoguem, com intuito de compreender
problemas vinculados a realidade dos
estudantes”.
A necessidade de vincular a
discussão dos agrotóxicos nos processos
educativos também se fundamenta no
movimento de pensarmos a formação de
professores que vislumbrem práticas para
além do contexto escolar, articulando
aspectos locais, regionais e/ou globais,
envolvidos na realidade.
Vincular a formação com os
conhecimentos do campo significa colocar
os saberes populares como objeto de
conhecimento, dialogando com as matrizes
fundamentais dos movimentos sociais,
descritas pela terra, cultura e experiências
de vida, formadas de leituras de mundo, de
sociedade, de ser humano, de campo e de
direitos, o que sentido a constituição da
cultura campesina (Arroyo, 2012).
Abordagem dos agrotóxicos através da
discussão das CSC
No âmbito do Ensino de Ciências os
agrotóxicos, enquanto produto social,
cultural e tecnológico, o vistos como um
tema científico controverso, em razão das
distintas visões sustentadas em relação às
suas vantagens e desvantagens. Por outro
lado, especialmente no contexto da
Educação do Campo, não se podem
ignorar os aspectos éticos, ambientais e
sociais envolvidos no seu uso, sobretudo,
no que diz respeito ao comprometimento
da biodiversidade e a continuidade da vida
das populações, tanto do campo quanto da
cidade.
Tais aspectos apontam para um
quadro que necessita ser abordado também
em espaços formativos, escolares e não
escolares, destacando a pertinência de
discutir a relação entre a ciência,
tecnologia e sociedade, como as CSC
relacionadas aos agrotóxicos e
transgênicos em todos os níveis de ensino.
Além disso, muitos estudos apontam
as potencialidades da discussão de CSC no
Ensino de Ciências nas escolas (Auler &
Delizoicov, 2006; Ramos & Silva, 2007;
Galvão & Reis, 2008; Duso; Hoffmann &
Silvério, 2013), na qual justificam a
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necessidade de articular temas
controversos de cunho socioambiental em
ambientes formais e informais de ensino,
devido a sua importância ambiental e
política, na tomada de decisões na
sociedade.
Partindo do pressuposto que os
ambientes educacionais, como escola e a
universidade, são locais que devem adotar
um posicionamento crítico, ou seja, não
são espaços neutros, e que devem ser
pensados a favor da melhoria das
condições de vida dos seres vivos como
um todo (Freire, 2001; Fourez, 2008),
Hodson (2004) aborda essa discussão, no
Ensino de Ciências, com vistas a contribuir
na formação de cidadãos, para que sejam
capazes de analisar e se posicionar sobre
os agrotóxicos e suas consequências.
Diante disse, adotamos as CSC como
estratégia de ensino, para ambientalizar a
discussão e reflexão em relação à tomada
de decisão de forma crítica, visto que
mobilizam/envolvem questões éticas,
políticas sobre a Ciência, tecnologia,
sociedade e ambiente.
Segundo Reis (1999), as CSC são
multidisciplinares, heurísticas, carregadas
de valores (invocando, por exemplo,
valores estéticos, ecológicos, morais,
educacionais, culturais e religiosos) e
afetadas pela insuficiência de
conhecimento. Geralmente, o
envolvimento neste tipo de problemas
conduz a diversas “soluções” alternativas,
cada uma das quais com aspectos positivos
e negativos. A partir destas diferentes
propostas, toma-se uma decisão informada
que envolve a consideração e o desafio de
opiniões, dada a impossibilidade de
recurso a qualquer algoritmo para a
avaliação das potencialidades e limitações.
Complementando essa ideia, Duso &
Hoffmann (2012), acrescentam que as CSC
não podem ser separadas de um contexto
social mais amplo, sendo, portanto,
fenômenos sociais historicamente
determinados. Além de contribuir para
desmistificar ideias deturpadas a respeito
do empreendimento científico, a discussão
das CSC pode motivar os estudantes a
expressar suas opiniões, saber argumentar
e tomar decisões bem fundamentadas no
que diz respeito ao desenvolvimento
científico e tecnológico e suas implicações
para a sociedade.
A própria definição de uma
controvérsia é uma questão controversa.
Diante da diversidade de definições, o
termo “controvérsias sociocientíficas” é
aqui adotado de acordo com os seguintes
critérios: (i) surgir de impactos sociais de
inovações científico-tecnológicas que
dividem tanto a comunidade científica
como a sociedade em geral; (ii) permitir a
discussão entre duas ou mais partes
envolvidas sobre determinada controvérsia,
na qual estão em jogo suas crenças e
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argumentações; e (iii) suscitar indecisão,
em que as pessoas possam se encontrar
divididas porque essa reflexão envolve
juízos de valor que impossibilitam a sua
resolução apenas através da análise das
evidências ou da experiência (Duso,
Hoffmann, 2012).
Ao utilizar as CSC no Ensino de
Ciências, é possível a abordagem de
diferentes conhecimentos. Esse processo
pode se dar de forma interdisciplinar,
através de um trabalho conjunto que
envolve professores de diferentes
componentes curriculares. Neste sentido, o
uso das CSC pode se mostrar interessante
no planejamento curricular das
Licenciaturas em Educação do Campo, em
uma perspectiva de mobilização de saberes
por diversas áreas de conhecimento, no
momento em que mobiliza diferentes
olhares para a resolução de um problema
em comum, sendo este, em sua
complexidade, impossível de ter uma única
resposta a partir de um único campo de
conhecimento.
Também se faz imprescindível a
participação comunitária no processo de
desvelamento da realidade, que não se
completa somente a partir do
conhecimento acadêmico, mas dos olhares
do saber tradicional e dos sujeitos
envolvidos na situação analisada, repleta,
por si só, de contradições.
O envolvimento coletivo em
questões de interesse ambiental e social
permitirá aumentar o conhecimento acerca
dos problemas em causas e desenvolver
competências de investigação e cidadania
participativa e fundamentada.
Dessa forma, a sala de aula pode se
tornar um local de discussão em que os
estudantes participem ativamente,
demonstrando seus interesses e
conhecimentos sobre os mais variados
temas, que podem ser trabalhados não
apenas em relação ao conhecimento
científico, mas também quanto ao seu
significado e impacto social. Assim, eles
poderão vivenciar a experiência de
diferentes formas ou por diferentes olhares
com pontos de vista nos distintos grupos
sociais, o que possibilita ainda o diálogo
sobre limites e possibilidades para os
debates acerca de temas sociocientíficos
controversos.
Ao abordar a temática agrotóxicos à
luz de questões sociais, vêm à tona outros
aspectos de cunho econômico, político,
cultural e de projeto de sociedade,
intimamente inter-relacionados, em sua
maioria, aos problemas sociais e de
concepção de sociedade e
desenvolvimento.
Considerações finais
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A temática agrotóxicos, por
ultrapassar as questões individuais, torna-
se coletivamente um problema ambiental e
consequentemente de saúde pública, que
perpassa a produção, comercialização,
ingestão de alimentos e interfere tanto na
saúde humana quanto no saneamento
ambiental. Por ser uma questão científica e
social controversa, que envolve diferentes
olhares e compreensões políticas, éticas,
culturais e sociais (entre outras), pode ser
considerada uma Controvérsia
Sociocientífica (CSC) para o Ensino de
Ciências.
Neste sentido, considera-se que a
abordagem da temática agrotóxicos no
Ensino de Ciências por meio das CSC
permitiria a integração de conceitos de
diferentes componentes curriculares,
aproveitando a vivência no ambiente em
que o estudante esteja inserido, em uma
discussão para além do conhecimento
científico. Por tratar-se de uma CSC,
diversos olhares deveriam ser
considerados, entre eles, o midiático, os
saberes das populações tradicionais, os
dados atuais sobre o uso de agrotóxicos no
Brasil e no mundo, o conhecimento
científico universal disponível, ou seja, os
múltiplos aspectos que influenciariam na
tomada de decisão sobre o uso de
agrotóxicos e sua relação com a saúde.
Em relação aos aspectos
metodológicos do uso de CSC em sala de
aula, acredita-se que o professor deve
procurar avaliar as razões do sucesso ou
insucesso da abordagem adotada.
Provavelmente, as causas dos problemas
não residem na metodologia proposta, mas,
sim, na forma como ela é concebida e
gerida. Deve ser dada atenção especial ao
tema e à estrutura da tarefa, à composição
dos grupos e às competências sociais que
se tornam necessárias para trabalhar nas
atividades seguintes.
Diante do que foi colocado, vê-se a
necessidade de se refletir e fazer alguns
questionamentos pertinentes: quais as
possibilidades de se criar espaços no
percurso formativo dos futuros professores
de Ciências da Natureza para a Educação
do Campo no intuito de se identificar e
discutir a influência do uso de agrotóxicos
em relação a saúde e ao meio ambiente?
Como os professores formadores podem
auxiliar na percepção e resolução desse
problema? E como a análise dessa questão
pode contribuir para a formação docente
do Educador do Campo?
Por fim, entende-se ser prudente
pontuar, sobretudo por tratar-se do
contexto da Educação do Campo, o
compromisso social, pedagógico e ético de
pertencimento a um movimento que
acredita sim, ser possível, alimentar e ser
alimentado em um mundo sem veneno.
Referências
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Recebido em: 02/07/2017
Aprovado em: 03/08/2017
Publicado em: 13/12/2017
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Fonseca, E. M, Duso, L., & Hoffmann, M. B. (2017).
Discutindo a temática agrotóxicos: uma abordagem
por meio das controvérsias sociocientíficas. Rev. Bras.
Educ. Camp., 2(3), 881-898. DOI:
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-
4863.2017v2n3p881
ABNT:
FONSECA, E. M.; DUSO, L.; HOFFMANN, M. B.
Discutindo a temática agrotóxicos: uma abordagem
por meio das controvérsias sociocientíficas. Rev.
Bras. Educ. Camp., Tocantinópolis, v. 2, n. 3, p.
881-898, 2017. DOI:
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-
4863.2017v2n3p881
Fonseca, E. M., Duso, L., & Hoffmann, M. B. (2017). Discutindo a temática agrotóxicos: uma abordagem por meio das
controvérsias sociocientíficas...
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 2
n. 3
p. 881-898
jul../dez.
2017
ISSN: 2525-4863
898
ORCID
Eril da Fonseca
http://orcid.org/0000-0001-9529-2357
Leandro Duso
http://orcid.org/0000-0002-2605-0829
Marilisa Bialvo Hoffmann
http://orcid.org/0000-0002-9699-2248
Revista Brasileira de Educação do Campo
DOSSIÊ / ARTIGO
DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-4863.2017v2n3p899
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Júri simulado e tempestade cerebral: entendendo a
implantação da Usina Hidrelétrica de Belo Monte
Marcos Marques Formigosa
1
, Miriam Ines Marchi
2
, José Claudio Del Pino
3
, Marli Teresinha Quartieri
4
1
Universidade Federal do Pará - UFPA. Faculdade de Etnodiversidade. Campus Universitário de Altamira. Rua
Cel José Porfírio, 2125. Altamira - PA. Brasil. mformigosa@ufpa.br.
2
Universidade do Vale do Taquari -
UNIVATES.
3
Universidade do Vale do Taquari - UNIVATES.
4
Universidade do Vale do Taquari - UNIVATES.
RESUMO. O ensino de Física ainda encontra muitos entraves
na educação básica, principalmente pelas fortes resistências que
encontramos dentro das suas metodologias, ainda centralizada
no livro didático e na memorização de fórmulas e leis. Este
manuscrito tem por objetivo apresentar os resultados das
estratégias de ensino Júri Simulado e Tempestade Cerebral
desenvolvidas no curso de Licenciatura em Educação do Campo
(ênfase em Ciências da Natureza), especificamente na disciplina
Fundamentos de Física III em duas turmas do Período, no
interior da Amazônia Paraense. Em uma turma utilizamos a
estratégia Tempestade Cerebral, em outra a estratégia foi o Júri
Simulado, no conteúdo Eletricidade. As análises foram a partir
dos relatos dos alunos da turma e anotações realizadas pelo
professor/pesquisador. Essas estratégias desenvolvidas
possibilitaram a ruptura dos estereótipos presentes entre os
alunos sobre as metodologias utilizadas por seus professores ao
ensinarem conteúdos de Física, que pauta-se em aulas
tradicionais expositivas, e com as estratégias utilizadas
perceberam que as mesmas podem fazer a abordagem dos
conteúdos de forma ampliada e, sobretudo os levam a uma
compreensão crítica da realidade na qual estão inseridos.
Palavras-chave: Estratégias de Ensino, Júri Simulado,
Tempestade Cerebral, Ensino de Física, Educação do Campo.
Formigosa, M. M., Marchi, M. I., Del Pino, J. C., & Quartieri, M. T. (2017). Júri simulado e tempestade cerebral: entendendo
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Simulated jury and brain storm: Understanding the
implementation of Belo Monte Hydroelectric dam
ABSTRACT: The physics teaching still finds many obstacles in
basic education, mainly because of the strong resistance that we
find within its methodologies, still centered in the didactic book
and the memorization of formulas and laws. This manuscript
aims to present the results of the strategies of Simulated Jury
and Brain Storm developed in a Countryside Education Degree
(emphasis in Natural Sciences), specifically at Fundamentals of
Physics III in two classes of the 4th Period, in the countryside
Of Paraense Amazon. In one class we used the strategy Cerebral
Storm and another strategy was the Simulated Jury, the
Electricity content. The analyzes were made based on the
reports of the students in the class and notes made by the
teacher/researcher. These developed strategies allowed the
rupture of the stereotypes presented among the students about
the methodologies used by their teachers in teaching Physics
contents, which was based on traditional expository classes, and
with the strategies used they realized that they can approach the
contents of and, above all, led them to a critical reality
understanding in which they are inserted.
Keywords: Teaching Strategies, Simulated Jury, Brain Storm,
Physics Teaching, Countryside Education.
Formigosa, M. M., Marchi, M. I., Del Pino, J. C., & Quartieri, M. T. (2017). Júri simulado e tempestade cerebral: entendendo
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Jurado simulado y tempestad cerebral: entendiendo la
implantación de la Usina Hidroeléctrica de Belo Monte
RESUMEN: La enseñanza de física todavía encuentra muchos
obstáculos en la educación básica, principalmente por las fuertes
resistencias que encontramos dentro de sus metodologías, aun
centralizada en el libro didáctico y en la memorización de
formulas y leyes. Este manuscrito tiene por objetivo presentar
los resultados de las estrategias de enseñanza de Jurado
Simulado y Tormenta Cerebral desarrolladas en el curso de
Licenciatura en Educación del Campo (Énfasis en Ciencias de la
Naturaleza) específicamente en la asignatura Fundamentos de
Física III en dos clases del período, en el interior de la
Amazonia Paraense. En una clase utilizamos la estrategia
tormenta cerebral y la otra estrategia fue el Jurado Simulado a
partir en el contenido Electricidad. Los análisis fueron a partir
de los relatos de los alumnos de la clase y anotaciones realizadas
por el profesor/investigador. Estas estrategias desarrolladas
posibilitaron la ruptura de los estereotipos presentes entre los
alumnos sobre las metodologías utilizadas por sus profesores al
enseñar los contenidos de Física, que se basan en clases
tradicionales expositivas, y con las estrategias utilizadas
percibieron que las misma pueden hacer el abordaje de los
contenidos de forma ampliada y, sobre todo los llevan a una
comprensión critica de la realidad en la que están insertados
Palabras clave: Estrategias de Enseñanza, Jurado Simulado,
Tormenta Cerebral, Enseñanza de Física, Educación del Campo.
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Introdução
O ensino de Física no Brasil tem
experimentado nas últimas décadas
diversas metodologias, mas ainda tendo o
livro didático como principal aporte
referencial, onde o professor prefere
“explicar, ou simplesmente repetir, o que
está no livro e dar uma lista de problemas
aos alunos” (Moreira, 2000, p. 95), em
detrimento de outras metodologias que
possam contribuir no processo de ensino e
aprendizagem. Não estamos com a
pretensão de advogar sobre qual seria a
metodologia mais correta para se ensinar
Física, mas contribuir para que o ensino
desta disciplina na educação básica tenha
diferentes dimensões e que seja capaz de
levar a uma compreensão de mundo,
tornando-se um cidadão contemporâneo,
crítico e solidário, conforme recomenda os
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN).
Esse debate se faz necessário no
âmbito da educação básica. Pois, falar
sobre a Física, enquanto disciplina
constituinte do currículo escolar, é se
reportar a uma disciplina que enfrenta um
ensino pautado em conceitos, leis e
fórmulas que parecem mais obsoletos e
parecem não estabelecer relações com o
contexto sociocultural dos sujeitos, dada a
forma como seu ensino ocorre nas salas de
aula (Camargo & Nardi, 2003).
É notório que o processo de ensino e
aprendizagem, mesmo que tenha
apresentado relativas mudanças, ainda
pauta-se em conteúdos que privilegia a
teoria, a abstração e prima pela resolução
de extensas listas de exercícios como única
forma de fixação dos conteúdos. Portanto,
reduz a Física a uma disciplina a um
produto pronto e acabado que precisa ser
apenas memorizado e repetido (Brasil,
2002), e que não necessidade de
aprofundar seu estudo, ficando apenas na
relação das fórmulas matemáticas atrelados
a problemas superficiais.
Esse cenário, muito comum nas salas
de aula, sugere que as práticas educativas
atuais devem ser (re)pensadas. Buscar por
novas possibilidades de intervenção
pedagógica para a melhoria do processo de
ensino e aprendizagem é emergente e deve
estar embasada nos objetivos do ensino de
Física na educação básica, conforme
recomenda Brasil (2002).
Buscando romper com esses modelos
ainda vigentes, outras metodologias
como possibilidades para um ensino de
Física exitoso e que podem dar um novo
significado ao processo de ensino e
aprendizagem dessa disciplina tão
importante do currículo escolar. Nessa
perspectiva, destacam-se as estratégias de
ensino apresentadas por Anastasiou e
Alves (2009) e Masetto (2003) entendidas
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como metodologias ativas que podem
favorecer a autonomia do aluno, no
percurso dos diversos caminhos que ele
pode trilhar na busca de uma solução do
estudo e/ou da pesquisa por ele
desenvolvida.
Para tanto, nos pautamos no seguinte
problema de pesquisa: as estratégias de
ensino permitem aos sujeitos uma
compreensão crítica dos fenômenos
naturais e sociais, em uma disciplina
escolar que carrega consigo estereótipos
que a classificam como uma disciplina
difícil, excludente e que poucos tem
condições intelectuais de aprender?
Para responder a essa inquietação,
nosso objetivo geral foi investigar como as
estratégias de ensino empregadas
contribuem para favorecer um ensino e
aprendizagem de Física. E os objetivos
específicos foram: a) conhecer as
estratégias de ensino como possibilidade
metodológica; b) analisar como as
estratégias de ensino podem ser
trabalhadas com licenciandos
i
no decorrer
da formação e c) evidenciar que as
estratégias de ensino possuem potencial e
devem ser utilizadas no processo de ensino
e aprendizagem da disciplina de Física (e
outras) quando estes estiverem atuando
como docentes.
Este manuscrito, além desta
introdução, é constituído por outros
tópicos: o referencial teórico sobre as
estratégias de ensino, onde apresentamos
as duas estratégias que foram utilizadas;
em seguida apresentamos o
desenvolvimento de cada uma das
estratégias nas duas turmas, além das
considerações finais e bibliografia.
As estratégias de ensino na sala de aula
Para além das gicas internas dos
conteúdos desenvolvidos na sala de aula,
necessidade de metodologias que
contribuam para sua assimilação
facilitando o processo de ensino e
aprendizagem do aluno. As estratégias de
ensino podem contribuir nesse processo,
que vão para além da apreensão de
conteúdos, mas que podem agregar
valores, mobilizar a construção de sínteses
que estejam diretamente ligadas aos
objetivos pretendidos pelo professor
despertar interesses pela pesquisa, o que
demanda do aluno uma revisão permanente
daquilo que ele está estudando (Anastasiou
& Alves, 2009; Mosetto, 2003).
Dessa maneira, as estratégias de
ensino podem ser pensadas como uma
série de ações pontuais que trabalhadas de
forma conjunta entre professor e aluno
podem contribuir para atingir objetivos no
âmbito da aprendizagem. Para Masetto
(2003, p. 88) a “... Estratégia é uma
maneira de se decidir sobre um conjunto de
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disposições, ou seja, são os meios que o
docente utiliza para facilitar a
aprendizagem dos estudantes”, e esses
meios podem ser viabilizados em qualquer
disciplina componente do currículo
escolar, a partir de determinados
conteúdos.
Diferentemente do jogo, que segue
regras e que estas devem ser rigorosamente
seguidas, a estratégia de ensino vai se
ajustando, mesmo que tenha uma
sequência pré-estabelecida, no decorrer de
sua ação, pois seu planejamento não pode
ser imutável, fixo, mas deve ser construído
como algo que vai se encaixando de acordo
com o seu andamento e desenvolvimento
(Anastasiou & Alves, 2009).
Masetto (2003) salienta que o
professor, além de fazer a escolha correta
da estratégia para um determinado
objetivo, é necessário que o mesmo tenha
estratégias que condizem com o perfil da
turma e ou grupo, pois determinadas
estratégias podem não surtir efeito dentro
dos objetivos traçados dada as
especificidades de cada um. Além disso, o
autor argumenta que é necessário fazer
uma variação no decorrer do curso, para
que os alunos sintam-se sempre motivados
a participarem e desenvolverem as
estratégias, pois a forma de aprender de
cada indivíduo lhe é própria.
No caso das estratégias utilizadas,
para além do desenvolvimento e
assimilação dos conteúdos constituintes
das ementas da disciplina Fundamentos de
Física III, buscou-se explanar a própria
estratégia junto aos licenciandos para que
estes pudessem fazer uso das mesmas nas
salas de aula, quando estiverem na
condição de professores, buscando superar
a dicotomia entre teoria e prática,
permitindo-lhe ser um sujeito ativo na
construção do seu conhecimento, conforme
recomenda Gil (2012, apud Mizucano,
1986) quando trata das diferentes formas
de abordagens existentes dentro do
processo de ensino.
Frente a esse contexto, as estratégias
de ensino visam contribuir nessa relação
dialógica e aponta para os licenciandos que
ensinar Física está para além das fórmulas
matemáticas e dos conceitos cartesianos
que vem se estendendo dentro das salas de
aula, mas como uma disciplina que ajudará
a refletir e a entender sobre as diferentes
formas de ver e entender o mundo, bem
como questionar tais situações.
Mais ainda quando se trata do ensino
dessa disciplina nas escolas do campo, que
em geral, não possuem professores com
formação adequada para a atuação nessa
área, dada a própria carência por esse
profissional, ou ainda pela infraestrutura
que encontramos na escola do campo, que
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não possibilitam o desenvolvimento de um
ensino de ciências, inclusive da Física em
sua plenitude. E muitas dessas escolas
encontram apenas o livro didático como
recurso didático para ser trabalhado nas
aulas. Dessa forma, é urgente pensar em
ações que visem a melhoria no processo de
ensino e aprendizagem nas escolas do
campo, e as estratégias de ensino podem
contribuir nesse processo.
Nesse sentido, optamos por
desenvolver as estratégias Júri Simulado e
Tempestade Cerebral baseado em
Anastasiou e Alves (2009), por
acreditarmos que ambas, além de
permitirem o trabalho em grupo,
desenvolve nos alunos a capacidade de
síntese na organização dos seus
argumentos individuais e coletivos. Tais
afirmativas são corroboradas por Gil
(2012, p. 8), quando afirma que
necessidade nesse desenvolvimento: “...
Hoje, o que mais interessa é a aquisição de
uma mentalidade científica, o
desenvolvimento das capacidades de
análise, síntese e avaliação, bem como o
aprimoramento da imaginação criadora”,
evidenciando que o uso dessas estratégias
pode desenvolver muitos potenciais nos
alunos.
A escolha por essas estratégias se
deu a partir da necessidade de apresentar
aos licenciandos do curso “novos”
processos de ensino capazes de estimular
os trabalhos individuais e em grupo como
forma de estruturar determinadas ideias e
conceitos, aguçando o poder de
argumentação, criatividade e criticidade
que podem contribuir para sua atuação
como professores na educação básica.
Além disso, essas estratégias não
demandam, exclusivamente, por materiais
que podem ser encontrados dentro do
espaço escolar, o que contribui muito para
ser desenvolvido por eles quando atuarem
nas escolas do campo, que, em geral,
possuem uma estrutura precarizada,
inclusive de material didático. No caso
dessas estratégias, acreditamos que os
saberes trazidos pelos alunos a partir de
suas vivências, sejam necessários e
importantes para ajudar a entender
determinados conteúdos, considerando que
a figura do professor é indispensável nesse
processo.
A estratégia de ensino Júri Simulado
O júri simulado enquanto estratégia
de ensino possibilita a abertura para
amplos debates de temas/conteúdos que, se
abordado por meio de outra estratégia,
poderia não alcançar determinado objetivo
que fora proposto pelo professor e permitir
a introdução de novos diálogos nas aulas
de Ciências (ou outra disciplina, como a
Física), levando os alunos a desenvolverem
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habilidades na argumentação nas defesas
de ideias e tomadas de decisões, conforme
aponta Anastasiou e Alves (2009, p. 99):
“A estratégia de um júri simulado leva em
consideração a possibilidade da realização
de inúmeras operações de pensamento,
como: defesa de ideias, argumentação,
julgamento, tomada de decisões, etc.”.
Dessa maneira, nessa estratégia temos a
possibilidade de desenvolver nos alunos
outras habilidades que estão para além dos
conteúdos escolares e isso é indispensável
para um professor.
Além disso, permite o trabalho em
grupo que, por sua vez, está para além da
junção de pessoas, “... mas o
desenvolvimento inter e intrapessoal e o
estabelecimento de objetivos
compartilhados” (Anastasiou & Alves,
2009, p. 83), além de permitir que os
alunos desenvolvam um trabalho em
conjunto e coletivo e contribuir para o
repensar sobre os discursos que são
amplamente levantados nas aulas de Física,
conforme apontamos anteriormente. Fazer
uso dessa estratégia dentro de um curso de
formação de professores, enquanto espaço
privilegiado para a introdução de novas
práticas e ideias, com o intuito de
estabelecer uma relação dialógica entre a
prática docente desse professor na
educação básica e sua formação.
Segundo Anastasiou e Alves (2009)
o Júri Simulado pode ser dividido pelas
seguintes personagens: o juiz, o escrivão, a
promotoria, a defesa, conselho de sentença
e a plenária que podem ser distribuídos
entre os alunos conforme os critérios
estabelecidos pelo professor em diálogo
com a turma. Assim, todos, desde o início,
iniciam a estratégia participando
ativamente da sua construção.
A Tempestade Cerebral enquanto
estratégia de ensino
Esta estratégia de ensino, segundo
Anastasiou e Alves (2009), pode ser oral
e/ou escrita, tem por objetivo explorar as
habilidades, potencialidades e criatividade
dos alunos e deve ser explanada no início
de cada aula, com questionamentos feitos
pelo professor sobre um determinado tema
que será discutido no decorrer da aula.
Mas, Anastasiou e Alves (2009, p. 81)
ressaltam que para além da mobilização
inicial, essa mesma estratégia pode ser
utilizada no decorrer da aula, como forma
de diagnóstico daquilo que está sendo
trabalho, ou como fechamento de uma
aula.
Como todos os alunos são
estimulados a falarem sobre o tema inicial,
surgem novas ideias que aumentarão o
leque de possibilidades dos alunos: “É uma
possibilidade de estimular uma nova
Formigosa, M. M., Marchi, M. I., Del Pino, J. C., & Quartieri, M. T. (2017). Júri simulado e tempestade cerebral: entendendo
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geração de novas ideias de forma
espontânea e natural, deixando funcionar a
imaginação. Não certo ou errado. Tudo
o que for levantado será considerado,
solicitando-se, necessário uma explanação
posterior do estudante (Anastasiou &
Alves, 2009, p. 89), que podem ser
retomadas pelo professor (e pelo próprio
aluno) no decorrer do andamento das aulas
sempre que julgarem necessário.
Ao fazer uso dessa estratégia, o
professor permite com que os alunos
passem a direcionar um novo olhar para o
tema proposto que outrora não tinham se
atentado, ampliando seu olhar, inclusive
indo, muitas vezes, de encontro com ideias
previamente definidas e vivenciadas pelos
alunos (Anastasiou & Alves, 2009). E esse
estímulo que os alunos sofrem, a partir dos
diferentes olhares, pode desenvolver nos
mesmos o respeito à diversidade e às
diferentes formas de ver e conceber o
mundo.
A estratégia permite ainda, fazer com
que o aluno desenvolva o exercício da
escrita, a partir de palavras soltas, que
quando sistematizadas de forma coerente e
coesa podem gerar frases com conteúdos
específicos ou atrelados a significados do
contexto sociocultural do aluno. Dessa
forma, possibilita ao aluno fixar palavras
e/ou frases que surgem no decorrer da
construção da estratégia que podem ser
exploradas em outros momentos, seja na
sala de aula ou em outros espaços.
Procedimentos metodológicos do uso das
estratégias nas aulas de Física
As estratégias de ensino, Júri
Simulado e Tempestade Cerebral, foram
desenvolvidas no curso de Licenciatura em
Educação do Campo (ênfase em Ciências
da Natureza)
ii
, em funcionamento na
Universidade Federal do Pará (UFPA),
Campus Universitário de Altamira, com
duas turmas do 4º Período, especificamente
na disciplina Fundamentos de Física III.
Esse Curso tem uma organização curricular
que integra aspectos teóricos e práticos
aportados na Pedagogia da Alternância
iii
e
busca contribuir com a formação de
professores para atuação nas escolas do
campo, principalmente na área de Ciências,
onde as lacunas existentes pela ausência
desses profissionais são extensas,
conforme já frisamos anteriormente.
A utilização de ambas as estratégias
ocorreu a partir do tema Eletricidade:
Formas de geração e transmissão e seus
impactos na natureza: implicações para
a educação ambiental, parte integrante da
ementa da disciplina Fundamentos de
Física III (carga horária de 60h). Em cada
uma das estratégias fizemos uso de 4h,
sendo que para o Júri Simulado foi
distribuído em dois dias de aula (com 2h
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para cada um dos dias) e a Tempestade
Cerebral em apenas um turno. A turma
onde desenvolvemos o Júri Simulado é
constituída por 34 licenciandos, e na turma
onde a Tempestade Cerebral foi utilizada,
existem 24 alunos.
A análise dessas estratégias, que visa
produzir conhecimento por meio de uma
ação educativa, figura-se como pesquisa-
ação, por se tratar, segundo Minayo
(1994), de uma investigação social de base
empírica, onde pesquisadores e
participantes estão interagindo no decorrer
do seu desenvolvimento. A pesquisa
permitiu interagir com os sujeitos que dela
participaram, além de garantir que as
estratégias que foram desenvolvidas com
as turmas fossem avaliadas e confrontadas
com os objetivos previamente traçados.
A pesquisa pautou-se numa
abordagem qualitativa por responder,
segundo Minayo (1994, p. 21) “a questões
muito particulares ... com o universo de
significados, motivos, aspirações, crenças,
valores e atitudes, o que corresponde a um
espaço mais profundo das relações, dos
processos e dos fenômenos que não podem
ser reduzidos à operacionalização de
variáveis”. Nesse sentido, dada a
subjetividade, imbricada de muitas
intervenções, ora por aluno, ora por nós,
buscamos os significados em que essas
ações implicavam nas relações que eram
estabelecidas na sala de aula, por serem
estas relações humanas (Minayo, 1994).
Por estarmos emergidos dentro do
contexto da estratégia, tivemos contato
direto com os sujeitos envolvidos e os
dados, registrados no diário de campo,
foram analisados no decorrer observação
participante:
... A importância dessa técnica reside
no fato de podermos captar uma
variedade de situações ou fenômenos
que não são obtidos por meio de
perguntas, uma vez que, observados
diretamente na própria realidade,
transmite o que de mais
imponderável e evasivo na vida real
(Neto, 1994, p. 59-60).
Além disso, os licenciandos foram
motivados a fazerem suas considerações de
forma verbal e escrita sobre a estratégia, a
partir de perguntas feitas por nós sobre a
mesma, como parte constituinte da
pesquisa-ação. Na análise dessa avaliação,
fizemos uso das iniciais dos nomes dos
licenciandos, como forma de manter sua
identidade preservada.
Para este manuscrito, faremos a
descrição de como cada uma das
estratégias ocorreu, para posteriormente
apresentar algumas considerações sobre a
forma como os licenciandos reagiram à
mesma.
O julgamento da implantação de uma
hidrelétrica no Rio Xingu
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No primeiro dia, fizemos a
apresentação da proposta sobre a
estratégia, indagando entre os alunos quais
deles a conheciam e apenas um dos
licenciandos manifestou conhecer. Ao
descrever como ocorreria, observamos o
interesse dos mesmos, que foi ficando mais
aguçado quando afirmávamos que a
estratégia seria executada por eles, para
que quando estivessem exercendo a
docência pudessem desenvolver com seus
alunos. E tivemos uma licenciando que
indagou: “E na aula de Física pra fazer
isso, professor?”, demonstrando
claramente que mesmos os alunos de um
curso que prima por uma formação
diferenciada ainda veem a Física aos
moldes apresentados por Moreira (2000) e
Brasil (2002).
Feita a motivação inicial para a
participação da turma toda na atividade, e
como a estratégia se constituía, e ouvindo
aos licenciandos, optamos por fazer a
divisão dos grupos, por meio de sorteio,
que ficou estruturado conforme as
recomendações de Anastasiou e Alves
(2009). Em seguida, distribuímos o
material de apoio desses mesmos autores
que explanava a estratégia e fizemos a
orientação de cada grupo, explicando o
papel de cada um dos grupos, apontando a
necessidade de pesquisar informações
atualizadas que seriam utilizadas no
decorrer do desenvolvimento da atividade.
Os licenciandos foram motivados a
fazerem uso de vídeos, fotografias,
apresentar reportagens de jornais, etc.
Disponibilizamos os recursos como data
show, caixa de som, computador para que
os licenciandos fizessem uso.
No dia seguinte, os alunos chegaram
30 minutos antes do horário estabelecido e
fizeram a distribuição das carteiras na sala
de aula, da seguinte forma: o Juiz e o
Escrivão ficaram à frente da sala, com o
Juiz ocupando a mesa do professor e o
Escrivão em outra mesa menor ao lado; os
grupos da Defesa e Promotoria ficaram de
frente, enquanto o Conselho de Sentença
ficou ao meio de ambos, um pouco mais
recuado. A Plenária ficou ao fundo da sala.
O argumento posto para ser discutido
na estratégia foi a implantação da Usina
Hidrelétrica de Belo Monte (UHBM)
iv
no
rio Xingu. Por termos trabalhados em aulas
anteriores sobre as fontes geradoras de
energia elétrica, onde apresentamos a
hidrelétrica como uma dessas fontes.
Optamos por fazer uso desse tema, pois a
implantação desse projeto é um fato
histórico para os moradores da região, que
tem gerado amplo debate nas rodas de
conversas dos diversos segmentos sociais,
com manifestações favoráveis e contrárias
ao projeto. Para a aula, fizemos a
simulação de fatos, muitos deles são
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verdadeiros e outros apenas suposição ou
interpretação feita pelos alunos a partir das
pesquisas por eles realizadas, pois a
estratégias de ensino nos permitem fazer
uso de situações reais ou simuladas
(Berbel, 2011, p. 29).
Nessa estratégia, apresentamos em
um quadro síntese, constituído pela
sequência de como ela foi desenvolvida na
sala de aula. Optamos por deixar as iniciais
dos nomes das personagens em
maiúsculas, como forma de destacar cada
um deles. Ao fazermos a avaliação da
estratégia, algumas falas dos alunos foram
colocadas entre aspas e itálico, além de
colocar apenas as iniciais dos alunos como
forma de preservar suas identidades.
Quadro 1: Execução do Júri Simulado.
O JULGAMENTO
Quando o Juiz entrou na sala, todos os participantes ficaram de pé, a pedido do Escrivão. Ao
iniciar o julgamento, o Juiz fez a leitura do seguinte texto para justificar a necessidade daquele momento:
“A geração de energia elétrica é indispensável para o desenvolvimento do país, e a hidroeletricidade é uma
das energias ambientalmente mais limpas do planeta, sendo o Brasil um país com ampla bacia hidrográfica e
grande parte dela está concentrada na Amazônia, é oportuno que seja implantada nessa região a Usina
Hidrelétrica de Belo Monte, que contribuirá para a geração de energia para a região e alavancar o
desenvolvimento do país. Todavia, inúmeros problemas socioambientais são apontados por especialistas,
como o desemprego, aumento da violência e da prostituição, atingir comunidades tradicionais, inclusive os
indígenas. E estamos aqui para julgar se a Usina Hidrelétrica de Belo Monte deve ser implantada no Rio
Xingu, após ouvirmos os interessados”.
Feita a leitura, o Juiz pediu que todos se sentassem e em seguida disse que a Promotoria iniciaria
o debate, com duração máxima de quinze minutos e que o mesmo tempo seria destinado para que a Defesa
fizesse uso e apresentasse seus argumentos.
A PROMOTORIA
A DEFESA
- Apresentou um vídeo
v
sobre o processo de
funcionamento de uma usina hidrelétrica;
- Arguiu que as propagandas veiculadas nos meios de
comunicação apresentam os benefícios que as
hidrelétricas trazem para a população, principalmente
no que concerne a geração de energia;
- Apresentou slides em PowerPoint em equipamento
de datashow as desvantagens, apresentando imagens
sobre a implementação de uma usina hidrelétrica;
- Destacou o fluxo migratório, que gerará aumento
populacional na cidade, o que acarretará na
precarização da oferta de serviços essenciais para a
- Iniciou com um vídeo
vi
mostrando as contribuições
que a UHBM trará não apenas para a região, mas
para todo o país como emprego;
- Mostrou que o projeto preservará o meio ambiente
com desenvolvimento sustentável;
- Afirmou que a hidrelétrica é uma fonte de energia
limpa;
- Arguir que a água é inesgotável;
- Afirmou que a energia ficará mais barata, pois não
será importada de outro local;
- Destacou que o projeto respeitará as comunidades
indígenas;
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população, como a saúde e educação;
- Falou da precarização do trabalho, dado a mão de
obra não qualificada;
- Relacionou a ausência de emprego com o aumento
da violência;
- Falou do impacto ambiental, com grande
mortandade de peixes, dada a mudança no fluxo
natural do rio, além da perda da fauna e da flora;
- Argumentou que a energia não ficará mais barata;
- Arguiu que o objetivo final do projeto é atender aos
grandes centros industriais;
- A água não é fonte inesgotável: e falou dos projetos
relacionados à construção de hidrelétricas na região
Sul e Sudeste do país que já sofrem com a ausência
de água em determinados períodos do ano;
- Ressaltou que outras fontes de geração de
energia mais baratas e mais limpas como a eólica e a
solar, e que o país tem grande potencial para investir
nessas duas fontes.
- Afirmou que todas as famílias que forem
remanejadas de seus locais de origem seriam
assistidas pelo projeto, com construção de casas e
indenização financeira pelos imóveis que seriam
demolidos para prevenir possíveis alagamentos e
inundações;
Apresentou uma testemunha
vii
que discorreu sobre a
importância do projeto que trará desenvolvimento
para a região, gerando emprego e renda e
movimentará a economia local, e produzirá energia
barata, já que será produzida por aqui mesmo.
Ao finalizar os debates o Juiz deu um recesso a todos, enquanto o Conselho de Sentença se reuniu
para dar seu voto. Feito isso, o julgamento teve seu retorno e, a pedido do Juiz, foi feita a leitura pelo
Escrivão, do que ocorrera naquela manhã de julgamento.
Em seguida, o Conselho de Sentença fez a leitura de seu parecer sobre o julgamento:
Considerando os argumentos e debates amplamente feitos pela Defesa e Promotoria em torno da
implantação da UHBM, e levando em consideração a necessidade de ampliação dos investimentos em áreas
estratégias para o desenvolvimento do país, a partir da geração de emprego local, aumento na produção de
energia elétrica, preocupação com o meio ambiente e as comunidades tradicionais, inclusive os indígenas,
apresentado dentro da exposição da Defesa por meio das condicionantes compensatórias, este Conselho é
favorável a execução do Projeto Belo Monte”.
O juiz deu por encerrado o julgamento, acatando o parecer do Conselho de Sentença.
Fonte: Elaborado pelos autores.
Nossas impressões sobre a Promotoria
A forma como apresentaram as
desvantagens estavam divididas em
tópicos, a saber: ambiental, social,
educacional. Mas, os licenciados optaram
por dar ênfase aos os impactos sociais e
ambientais, por eles descritos como sendo
impactos socioambientais.
Ao lado de cada uma das
explanações feitas pelos licenciandos, eram
apresentadas reportagens de jornais sobre a
implantação de grandes projetos, o que
demonstrava que os mesmos tinham feitos
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as pesquisas na internet e em sites
confiáveis. A cada tópico apresentado, os
membros do grupo que representava a
defesa, sussurravam entre si e faziam
anotações sobre o mesmo, como forma de
ir respondendo cada um dos tópicos
quando lhe fosse oportunizado o momento.
O tópico que chamou atenção dos
alunos foi sobre os impactos ambientais
que serão causados pelo projeto,
considerando que a mesma seria
implantada em uma das regiões com maior
biodiversidade do planeta, além de estar
próxima a um dos mais importantes
parques indígenas do Brasil, o Parques
Indígena do Xingu. A devastação da flora e
da fauna serão incomensuráveis, além da
ruptura que essas comunidades tradicionais
terão com seus espaços em decorrência do
remanejamento de comunidades inteiras
por conta das possibilidades de inundação
quando a usina estiver em pleno
funcionamento.
Quando a defesa afirmou que haverá
respeita com as comunidades indígenas, a
promotoria fez um protesto, acatado pelo
juiz. Justificou que ao considerar apenas as
comunidades indígenas livres dos
impactos, o projeto não leva em
consideração a existência de outras
comunidades tradicionais que ocupam as
margens do Rio Xingu, como se os
mesmos pudessem ser removidos dos seus
lugares que é ocupado por gerações, o
que ocasionará uma ruptura com sua
identidade e cultura.
Nossas impressões sobre a defesa
Ao contrário da promotoria, a defesa
optou por fazer uma explanação mais geral
sobre o projeto. Não deu ênfase aos tópicos
como fizera a promotoria no decorrer da
exposição. Dessa maneira, ficou claro que
não houve uma preocupação por parte
deste grupo em ir sistematizando as
informações que fora apresentado pela
promotoria, o que poderia facilitar mais
ainda a explanação e a compreensão por
parte de quem estava participando da
atividade.
A testemunha foi o elemento
diferenciado que fora apresentado pela
defesa, inclusive com as vestimentas
características do que seria um ribeirinho,
o que contribuiu para o debate. Suas
afirmativas fizeram com que os
participantes pudessem refletir sobre o
olhar que o sujeito local teria para o grande
projeto que estava em discussão.
Nessas trocas de informações
mediadas pelos dois grupos, os
licenciandos que faziam parte da plenária,
iam anotando as informações discutidas,
para que ao final do julgamento pudessem
manifestar, por escrito, qual seria o
posicionamento a ser tomado, caso fosse
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ele o juiz que estivesse presidindo o
julgamento. Por conta disso, era notório o
empenho dos mesmos, ficando atento às
falas e apresentação das imagens e/ou
vídeos que eram apresentados por cada um
dos grupos envolvidos diretamente no
julgamento.
Ao avaliarmos a estratégia, os alunos
argumentaram que a mesma lhes deixou
“livres” para desenvolverem seus
argumentos de acordo com a compreensão
daquilo que pesquisaram. Puderam
desenvolver uma sequência de
argumentações que dependia muito de
como outro ponto de vista era posto,
considerando que existiam dois grupos que
tinham posicionamentos contraditórios.
Professor, foi muito boa a atividade
porque, diferente de outros, como o
seminário, em que a gente fica
receoso de fazer certas perguntas
para o grupo, ... aqui a gente pode
externar nosso ponto de vista sobre
um assunto sem constranger
ninguém. (J.B.M.).
Esse argumento é salutar, pois,
muitas vezes os alunos deixam de fazer
perguntas ao colega para não o deixar em
situação embaraçosa junto ao professor ou
aos colegas da turma, principalmente
quando se trata da exposição de um
trabalho, fazendo com que as atividades,
como o seminário fiquem apenas na
exposição oral por parte dos alunos, sem
nenhum diálogo deste com a turma, algo
que não ocorre no Júri Simulado.
Outro licenciando arguiu, que pelo
fato de ter sido feito o sorteio, teve que
defender algo que não concorda:
Quando o professor fez o sorteio e eu
caí no grupo da defesa eu não gostei,
por que sou contra a Belo Monte.
Isso foi o mais difícil pra mim: fazer
uma fala favorável a algo que
pessoalmente sou totalmente contra,
mas tinha que defender a ideia, e isso
me fez me colocar no lugar do outro,
e ver como o outro pensa a respeito
de determinado assunto (L.M.D).
Pelas falas do licenciando,
observamos que a atividade lhe fez pensar
sobre a sensibilidade que precisa ser
desenvolvida para lhe dar com situações
contrárias àquilo que gostaria de
desenvolver, mais ainda em se colocar no
lugar do outro, conhecer os argumentos
dos outros para só então se posicionar a
respeito: “Júri simulado numa aula de
Física. Quando falei isso em casa, meu pai
disse que o nosso curso é mesmo
diferente” (A.F.S).
Posto isso, percebemos o quão a
atividade foi significativa para a turma
toda e como que novas estratégias se forem
bem desenvolvidas podem contribuir para
um novo olhar que brota nas novas formas
de ensinar e de aprender que vão sendo
construídas no interior da sala de aula e
que tais formas podem romper com
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estereótipos enraizados no contexto
escolar.
A UHBM como uma tempestade na
Amazônia
A propósito desse título, discorremos
com o intuito de fazer uma analogia à
estratégia denominada Tempestade
Cerebral, por esta permitir que as inúmeras
ideias prévias sejam apresentadas sobre um
determinado tema (Anastasiou e Alves,
2009), algo não diferente com a
implantação da UHBM, dadas as suas
diferentes leituras favoráveis e contrárias
que acompanham o desenrolar desse
projeto na região.
Assim como a estratégia anterior,
fizemos a motivação inicial para os
licenciandos sobre a proposta da atividade.
Os alunos foram divididos em grupo de
três pessoas, por meio de divisão feita por
eles mesmo, totalizando 8 grupos. A partir
da palavra eletricidade, fixada por nós em
um papel A4 no centro do quadro, cada
licenciando deveria escrever em outro
papel uma única palavra que remetesse à
palavra em destaque, conforme imagem 1
abaixo:
Imagem 01: Palavras criadas pelos alunos a partir da palavra Eletricidade.
Fonte: Arquivo pessoal.
Diversas palavras, conforme
observamos na imagem 1, foram feitas
pelos licenciandos que entre si discutiram
e, conforme nossa recomendação, dentro
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do grupo não podia ter palavras repetidas.
Cada um dos licenciandos se dirigiu ao
quadro e afixou sua palavra de forma
aleatória. E após esse momento, foi
possível notar que algumas palavras se
repetiram, mas foram geradas por grupos
diferentes. Palavras como corrente elétrica,
tensão, força, energia, luz, tecnologia, etc.
foram mais recorrentes entre os grupos.
Mas, dentre elas encontramos uma que
chamou a atenção: a palavra água. Quando
apontada por nós, percebemos que causou
estranheza e incompreensão, num primeiro
momento para alguns licenciandos.
Conforme recomenda Berbel (2011),
indagamos aos licenciandos, na perspectiva
de acolher seu pensamento, buscando o
desenvolvimento motivacional: por que
falar de água quando nossa palavra chave
é eletricidade? Qual a relação que pode
existir entre ambas as palavras?
Anastasiou e Alves (2009, p. 90) chamam
a atenção para quando esse tipo de situação
ocorre ao afirmar que palavras como essa
“... nos mostra a riqueza da possibilidade
de diferentes conexões, pontos de chegada
e de partida que os participantes trazem ao
contexto ...”.
O licenciando do grupo que escreveu
a palavra se manifestou dizendo:
“Professor, a água é capaz de gerar
eletricidade, por conta da força que ela
tem, por isso a Belo Monte foi construída
aqui no Xingu, porque possui muita água”
(C.S.P.). As falas iniciais do licenciando
apontam para um conhecimento prévio que
possuía sobre a relação da geração de
energia elétrica a partir da força da água
existente no rio. Para Anastasiou e Alves
(2009, p. 89-90), “Esse simples exemplo
nos mostra a riqueza da possibilidade de
diferentes conexões, pontos de chegada e
de partida que os participantes trazem ao
contexto”. Por mais que não tivesse a
definição clara do que estava afirmando, o
licenciando estava fazendo uma relação
direta da energia cinética e a geração de
energia elétrica.
Na sequência, outro licenciando
argumentou: “E mesmo ‘fazendo’ energia
aqui, professor, a gente paga muito caro,
parece que a conta de luz aumenta...”
(M.L.D.C). A afirmativa do licenciando
traz à tona as diversas leituras e
interpretações em torno da UHBM, que faz
com que os demais colegas de turma
queiram discutir outros assuntos
relacionados ao projeto de Belo Monte, o
que nos permite estreitar a relação de um
conteúdo da Física com problemas
vivenciados por eles. Dessa maneira,
buscamos mediar esse diálogo, na
perspectiva de apontar que esta disciplina,
para além das fórmulas e leis, e no caso
específico do conteúdo eletricidade, que
permite conhecer as diferentes formas de
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geração e transmissão de energia, pode
contribuir na reflexão sobre como esses
processos, imbricados nas suas formas
implicam diretamente na vida dos sujeitos
que são diretamente impactados, tanto no
aspecto ambiental, como social.
Posto isso, começaram a surgir
outros argumentos em torno da
implantação da UHBM como a
prostituição, aumento do trabalho infantil,
desemprego, violência, aumento do custo
de vida, escassez de peixes nos rios da
região. Apoiados nessas afirmativas dos
licenciandos, motivamos que criassem
frases a partir das três palavras formadas
em cada grupo e socializassem com a
turma. Para essa construção, os grupos
poderiam complementar com outras
palavras que julgassem necessárias para
que a frase criada tivesse coesão e sentido.
Muitos grupos construíram as frases
com definição do que seria uma corrente
elétrica, tensão elétrica, transmissão de
energia, geração de energia, fontes de
energia, buscando pesquisar na internet por
meio do celular. Outros, por sua vez, já
deram ênfases nos impactos ambientais,
impactos sociais e etc. que são causados
pelas fontes de energias, como os que
apontamos anteriormente. Vale ressaltar,
que ao contrário da turma anterior, onde
desenvolvemos o Júri Simulado, não
tínhamos trabalhado com os alunos o
conteúdo eletricidade, ou seja, não
tínhamos apresentado a eles o conteúdo
sobre as fontes geradoras de energia
elétrica, dentre eles a hidrelétrica.
Dentre as muitas frases por eles
criadas, o grupo que escreveu as palavras
água e energia, demonstrando que
conseguiu assimilar a proposta feita,
construiu a seguinte frase. “A água é fonte
de tudo, inclusive da geração de energia
elétrica”.
A proposta foi muito bem absorvida
pelos licenciandos que puderam fazer o
exercício da discussão coletiva e
individual, onde percebemos um amplo
debate e defesa de ideias pessoais e
coletivas, conforme observamos nas falas
registradas pelos licenciandos: “Professor a
atividade foi muito produtiva, partiu de
uma palavra central que desencadeou
vários outros subtemas, e a partir disso
deu-se o andamento da aula de Física
(M.A.S.). Outro licenciando disse: “Essa
atividade foi bastante produtiva, pois
trabalhamos em um meio coletivo, onde a
turma toda participou expondo suas
palavras e frases dando o conceito de
coisas a partir da palavra central, parecia
que nem era aula de Física” (R.C.A.)
Como é possível observar, os
licenciandos acolheram e desenvolveram a
atividade com muito entusiasmo e a
desenvolveram de forma exitosa. Nesse
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sentido, ressaltamos aqui as falas dos
licenciandos quando se trata do fato de
essa estratégia ter sido desenvolvida
durante uma aula de Física. Pois, a mesmas
vai de encontro com outras aulas de Física
que esses mesmos licenciandos
comumente tiveram na educação básica
que primava pela decoração de fórmulas,
leis e respostas corretas. Moreira e Massoni
(2016, p. 5) argumentam que Os alunos
devem ser ensinados a pensar, a questionar, a
argumentar cientificamente ao invés de ficar
decorando fórmulas e definições”, mesmo
que para isso o professor tenha que repensar
muito das suas práticas.
Além de ressaltar a possibilidade de
o professor reconhecer os conhecimentos
prévios dos alunos, e que esses
conhecimentos podem ajudar outro colega
que não conhece o conteúdo, outro
licenciando afirmou que fará uso da
estratégia quando estiver atuando como
docente:
A atividade possibilita ao professor
distinguir o que o aluno tem ideia
sobre um determinado tema e ao
mesmo tempo a ideia dos colegas
servem para os quais ainda não tem
noção do que está sendo falado se
aproprie do assunto. Eu vou fazer uso
quando tiver dando aula (A.M.P.S,
grifos nossos).
É possível observarmos o quão
importante é para os licenciandos
conhecerem novas propostas
metodológicas que podem contribuir no
seu desenvolvimento profissional e que
quando são imersos em outras
possibilidades, demonstram que estas
influenciam diretamente na forma de lidar
com determinados conteúdos ou
disciplinas e que por ter sido muito exitosa
contribuem para o repensar sobre a atuação
no futuro.
O engajamento do aluno em relação a
novas aprendizagens, pela
compreensão, pela escolha e pelo
interesse, é condição essencial para
ampliar suas possibilidades de
exercitar a liberdade e a autonomia
na tomada de decisões em diferentes
momentos do processo que vivencia,
preparando-se para o exercício
profissional futuro ... (Berbel, 2011,
p. 29).
Considerando que estes licenciandos
fazem e farão parte de vários processos
educativos e demandam pelo “...
desenvolvimento de novas habilidades, na
modificação de atitudes e comportamentos
e na busca de novos significados nas
pessoas, nas coisas e nos fatos” (Gil, 2012,
p. 6), acreditamos que tais estratégias são
muito importantes na construção desse
processo.
Considerações finais
As estratégias desenvolvidas nas
turmas de graduação nos permitiram
perceber o quanto que os cursos de
graduação são deficientes de novas
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metodologias que precisam ser
desenvolvidas em sala de aula. Romper
com esse modelo que está enraizado,
principalmente em disciplinas que ainda
tem no livro didático seu maior aporte,
como é o caso da Física, é um grande
desafio.
O Júri Simulado e a Tempestade
Cerebral permitiram vislumbrar outras
possibilidades que estes licenciandos
podem desenvolver quando estiverem no
exercício docente, além de motivá-los a
busca pela pesquisa. Pois, em geral,
encontramos um modelo de educação que
prima pela discussão de conteúdos trazidos
pelo professor onde, sua aprendizagem fica
limitada àquilo que é discutido em poucas
horas na sala de aula. E essa limitação
pode ser superada quando os alunos são
instigados a desenvolverem pesquisas,
sejam capazes de ter um novo olhar para
um determinado tema/conteúdo, ou ainda
que tal tema/conteúdo tem outras
possibilidades de correlação com outros
temas e outras aplicabilidades que o
professor não conseguiria explanar dentro
da sala de aula.
Assim, essas estratégias
possibilitaram a ruptura dos estereótipos
presentes entre os alunos sobre as
metodologias utilizadas por seus
professores ao ensinarem conteúdos de
Física, que pautavam-se em aulas
tradicionais expositivas, e com as
estratégias utilizadas perceberam que as
mesmas podem fazer a abordagem dos
conteúdos de forma ampliada e, sobretudo
os levam a uma compreensão crítica dos
fenômenos naturais e sociais na qual estão
inseridos, inclusive por meio da disciplina
de Física.
Referências
Anastasiou, L. G. C., & Alves, L. P.
(2009). Estratégias de ensinagem. In
Anastasiou, L. G. C., & Alves, L. P (Orgs).
Processos de ensinagem na Universidade:
pressupostos para estratégias de trabalho
em aula (pp. 75-107). Joinville: Univille.
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formação de professores de Física: o
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16(3), 203-225.
i
No decorrer do manuscrito faremos uso do termo
licenciando ou licenciandos, ao tratarmos dos
alunos do curso de Licenciatura em Educação do
Campo, e não sofrerá modificação quando
tratarmos de alunos de forma geral.
ii
O curso, segundo seu PPC, habilita os egressos a
atuarem nos anos finais do Ensino Fundamental
com a disciplina de Ciências e no Ensino Médio
com as disciplinas de Biologia, Química e Física.
iii
Processos formativos alternados entre Tempo
Universidade (TU) e no Tempo Comunidade (TC),
entendidos como espaços que se inter-relacionam, a
partir dos contextos socioculturais numa relação
dialógica permanente.
iv
A usina hidrelétrica de Belo Monte implantada às
margens do rio Xingu (PA), surge ainda no ano de
1975, ainda no governo militar e foi amplamente
defendido pelos governos Lula-Dilma, tendo o
início das obras no ano de 2011. A obra atinge
muitos municípios da região do Xingu e da
Transamazônica, onde esses licenciandos residem.
v
Como funciona uma usina hidrelétrica?
Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=iYPMZamqSH
4 Acesso em: 20/02/2017.
vi
UHE Belo Monte Apresentação. Disponível
em:
<https://www.youtube.com/watch?v=_216bIsdTbE
>. Acesso em: 20/02/2017.
vii
Anastisou e Alves (2009) não mencionam essa
personagem diretamente, mas na interpretação dos
alunos havia a necessidade de ter a pessoa da
testemunha, pois segundo eles, não há julgamento
sem essa personagem.
Recebido em: 13/07/2017
Aprovado em: 18/08/2017
Publicado em: 13/12/2017
Formigosa, M. M., Marchi, M. I., Del Pino, J. C., & Quartieri, M. T. (2017). Júri simulado e tempestade cerebral: entendendo
a implantação da Usina Hidrelétrica de Belo Monte...
Rev. Bras. Educ. Camp.
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Formigosa, M. M., Marchi, M. I., Del Pino, J. C., &
Quartieri, M. T. (2017). Júri simulado e tempestade
cerebral: entendendo a implantação da Usina
Hidrelétrica de Belo Monte. Rev. Bras. Educ. Camp.,
2(3), 899-920. DOI:
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-
4863.2017v2n3p899
ABNT:
FORMIGOSA, M. M.; MARCHI, M. I.; DEL PINO,
J. C.; QUARTIERI, M. T. Júri simulado e tempestade
cerebral: entendendo a implantação da Usina
Hidrelétrica de Belo Monte. Rev. Bras. Educ.
Camp., Tocantinópolis, v. 2, n. 3, p. 899-920, 2017.
DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-
4863.2017v2n3p899
ORCID
Marcos Marques Formigosa
http://orcid.org/0000-0001-6279-1459
Miriam Ines Marchi
http://orcid.org/0000-0003-2546-7072
José Claudio Del Pino
http://orcid.org/0000-0002-8321-9774
Marli Teresinha Quartieri
http://orcid.org/0000-0002-9621-3830
Revista Brasileira de Educação do Campo
DOSSIÊ / ARTIGO
DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-4863.2017v2n3p921
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A sustentabilidade, a educação ambiental e o curso de
Educação do Campo: é possível essa aproximação?
Juliana Pereira de Araújo
1
, Maria Paulina de Assis
2
, Elis Regina da Costa
3
1
Universidade Federal de Goiás - UFG. Regional Catalão. Unidade Acadêmica Especial de Educação. Avenida
Dr. Lamartine Pinto de Avelar, 1120. Catalão - GO. Brasil. juliana.barrado@gmail.com.
2
Universidade Federal
de Goiás - UFG.
3
Universidade Federal de Goiás - UFG.
RESUMO. O Curso de Licenciatura em Educação do Campo
com habilitação em Ciências da Natureza da Universidade
Federal de Goiás - Regional Catalão foi criado em 2014 e desde
então enfrenta desafios para sua consolidação. Para além das de
efetivação de um novo desenho curricular e da formação dos
professores formadores que também se aproximam das questões
do campo, percebemos a partir de nossa prática cotidiana a
necessidade de estabelecermos ancoragem em conceitos e
teorias que de fato atuem em benefício do próprio projeto de
formação para o campo. É neste sentido, da ausência de
ancoragens, que realizamos um estudo reflexivo sobre o
conceito de sustentabilidade buscando tanto a compreensão
sobre o mesmo como a avaliação das possibilidades de sua
utilização como norteador da prática ou inspiração teórico-
metodológica. O resultado deste estudo indica que o conceito de
sustentabilidade é mais complexo do que parece e exige maior
compreensão, contudo consideramos que derivam dele
possibilidades que devem ser admitidas como a assunção de
outro papel para a educação na dimensão do desenvolvimento
sustentável.
Palavras-chave: Sustentabilidade, Educação, Licenciatura em
Educação do Campo.
Araújo, J. P., Assis, M. P., & Costa, E. R. (2017). A sustentabilidade, a educação ambiental e o curso de Educação do Campo...
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Sustainability and the Rural Education Course: is such
approach possible?
ABSTRACT: The Licentiate Course in Rural Education with a
degree in Nature Sciences from the Federal University of Goiás
- Region Catalão was created in 2014 and since then has been
facing challenges for its consolidation. Besides the
implementation of a new curriculum design and the training of
teacher trainers who also approach field issues, we notice from
our daily practice the need to establish anchorage in concepts
and theories that actually act for the benefit of the project itself
in training for the field. It is in this context, from the absence of
anchorages, that we carry out a reflexive study about the concept
of sustainability, seeking both the understanding about it and the
evaluation of the possibilities of its use as a guide to the practice
or theoretical-methodological inspiration. The result of this
study indicates that the concept of sustainability is more
complex than it seems and requires greater understanding,
however, we consider that it derives from it possibilities that
should be admitted as the assumption of another role for
education in the dimension of sustainable development.
Keywords: Sustainability, Education, Rural Education.
Araújo, J. P., Assis, M. P., & Costa, E. R. (2017). A sustentabilidade, a educação ambiental e o curso de Educação do Campo...
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La sostenibilidad, La Educación Ambiental y El Curso de
Educación Del Campo: ¿Es posible esta aproximación?
RESUMEN: El Curso de Licenciatura en Educación del Campo
con habilitación en Ciencias de la Naturaleza de la Universidad
Federal de Goiás Regional Catalán fue creado en 2014 y desde
entonces enfrenta desafíos para su consolidación. Además de las
de efectivización de un nuevo diseño curricular y de la
formación de los profesores formadores que también se acercan
a las cuestiones del campo percibimos a partir de nuestra
práctica cotidiana la necesidad de establecer anclaje en
conceptos y teorías que de hecho actúen en beneficio del propio
proyecto de formación para el campo. Es en este sentido, de la
ausencia de anclajes, que realizamos un estudio reflexivo sobre
el concepto de sustentabilidad buscando tanto la comprensión
sobre el mismo como la evaluación de las posibilidades de su
utilización como orientador de la práctica o inspiración teórico-
metodológica. El resultado de este estudio indica que el
concepto de sostenibilidad es más complejo de lo que parece y
exige mayor comprensión, pero consideramos que derivan de él
posibilidades que deben ser admitidas como la asunción de otro
papel para la educación en la dimensión del desarrollo
sostenible.
Palabras clave: Sostenibilidad, Educación, Licenciatura en
Educación del Campo.
Araújo, J. P., Assis, M. P., & Costa, E. R. (2017). A sustentabilidade, a educação ambiental e o curso de Educação do Campo...
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Introdução
Inúmeros desafios estão colocados
aos cursos de Licenciatura em Educação
do Campo. Temos como avaliação, a
percepção de que assim como a própria
Educação do Campo, eles nascem
pagando o preço de todo um acúmulo
histórico que perfaz o “campo”
i
como
espaço tocado pela noção de descaso, pela
fragilidade em refrear o desvio de suas
riquezas naturais, pela discriminação ou
por todos os três.
Ademais, ele é impactado por um
desafio que é o da escassez de conceitos,
de discursos e/ou perspectivas que possam
fundamentar uma tal práxis docente com
compleição própria e devidamente
circunstanciada. Trazendo essa questão ao
concreto, o que queremos apontar é que
nos falta dizeres ou discurso que se
imponham àqueles que colocam o urbano,
sua cultura e modo de vida e produção
como objetivos centrais e finais do
processo de escolarização. Assim, frases
ouvidas por tantas e tantas gerações como:
“Estude mesmo para ser alguém na vida,
ter um bom emprego em boa empresa!”, ou
“Estudando bem com certeza de morar
na cidade promovem um discurso e,
portanto, práticas das quais não intentamos
reproduzir.
É esse desconforto que origina este
artigo. Sensação intelectual que exprime o
sentimento de formadoras de professores
inseguras em relação ao processo de
construção de um projeto de formação e
tudo aquilo que o envolve, sobretudo o
discurso. É, portanto, nosso problema
seminal a ausência de ideias que não soem
utópicas tampouco soem alheias ao modo
desigual como a sociedade se alicerça, mas
que encerrem possibilidades concretas de
rumo, norteamento para o Curso de
Educação do Campo.
Esclarecidas a respeito daquilo que
nos incomodava, passamos a analisar os
sentidos em torno da ideia de “campo” e
percebemos numa primeira avaliação que
eles se aproximam da ideia de natureza,
que por seu turno se direciona rumo a duas
possibilidades: uma associação com o
exótico, que com o tempo foi sendo
assumida como espaço intocável, quase
“sagrado” (como as florestas tropicais e
demais biomas), e outra é a associação
com a terra, lugar de cultivo e criação ou o
que chamamos de roça. E na ordem de ser
“terra” foi logo considerada como
dispositivo fundamental ao capitalismo
(ativo) que submetida ao modo como o
sistema produtivo a tratou ao longo de sua
evolução foi sendo expurgada dos sentidos
de lar, de lugar de cultura, tradição.
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No avançar da história essa díade
natureza-campo foi assumindo múltiplas
interpretações. Primeiro, como espaço de
vida e produção quase sempre em lentes
ora romanceadas e em geral empobrecidas,
portanto estereotipadas. Segundo, tal qual
espaço de produção (a reboque do discurso
da modernização agrícola) prestes a
adentrar ao mundo moderno, pressupondo
neste acesso a gica de menos homens e
mais máquinas. Hoje, particularmente no
centro-sul nacional outros termos se
associam a ela como “agro”, “country” e
tantos outros na ordem do bucólico que
registramos em placas de entrada de
pequenas propriedades como “remanso”,
“refúgio”, aconchego” etc. Campo e
natureza se fundem nessas dissonâncias
interpretativas que nos parecem ser
verdadeiras esquizofrenias discursivas.
Parecem envelopamentos permitidos e
supervisionados assumidos em
palatabilidade inofensiva. Discursos que
compõem o roteiro mor produzido pelo
progresso, pela modernidade. Certamente é
sinopse que não oferece solidez suficiente
para projetarmos o Curso de Educação do
Campo por ser via de mão única. São
problematizações desse teor que nos
mobilizam no sentido de analisar ou rever
nossos roteiros.
No primeiro semestre de 2017,
durante o desenvolvimento da disciplina
Didáticao termo sustentabilidade logrou
aparecer e se destacar como inspiração aos
planos de ensino, aos projetos pedagógicos
elaborados. A leitura dos textos produzidos
pelos alunos o revelou como um amparo,
como um rumo para produzir a prática
docente, para repensar o campo e natureza
em outra perspectiva.
Embora seja um termo costumeiro
aos nossos ouvidos, tivemos uma
desconfiança de traço teórico, pedagógico
e até mesmo filosófico e nos
questionamos: o conceito de
sustentabilidade é pertinente ao Curso de
Educação do Campo em que atuamos?
Como ele se constitui enquanto ideia-
discurso e o que revela?
Essas questões justificaram a
realização do estudo que origina este
artigo. Para a estrutura do texto em questão
partimos da apresentação do lugar de onde
falamos, que é o Curso de Educação do
Campo da Universidade Federal de Goiás.
Em seguida, apresentamos um sobrevoo
histórico do conceito de sustentabilidade
não intentando extingui-lo ou cobri-lo por
completo, mas sim buscando exprimir
pistas sobre o mesmo. na sequência a
apresentação de algumas análises sobre o
conceito de sustentabilidade encontrado na
varredura das produções e algumas que
ponderam sua relação com a educação, o
que é explicitado no front da educação
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ambiental/educação para o
desenvolvimento sustentável.
Exploraremos, ao final, as implicações da
utilização deste discurso no curso de
Licenciatura em Educação do Campo na
UFG-Catalão. Finalmente, tecemos nossas
considerações retomando a pergunta de
partida.
O curso de Licenciatura em Educação
do Campo da UFG-Catalão
O surgimento da Licenciatura em
Educação do Campo na Universidade
Federal de Goiás- Regional Catalão ocorre
na esteira de ações em prol da Educação do
Campo desenvolvidas desde 2004. Ações
que para a constituição de uma Política
Nacional de Educação do Campo foram
integradas no Plano nas ações das
diferentes Secretarias do Ministério da
Educação (MEC). Na dimensão do ensino
superior, a Educação do Campo foi
alocada no Sistema Universidade Aberta
do Brasil (UAB), com oferta de cursos de
extensão, aperfeiçoamento e de
especialização. a formação inicial para
educadores do campo foi contemplada no
Plano de Ações Articuladas (PAR), com a
criação de cursos de Licenciatura em
Educação do Campo que por sua vez foi
fortalecida pelo Programa de Apoio à
Formação Superior em Licenciatura em
Educação do Campo (Procampo),
realizado pela Secretaria de Educação
Continuada, Alfabetização, Diversidade e
Inclusão (Secadi). O objetivo do Procampo
é apoiar a implementação de cursos
regulares de Licenciatura em Educação do
Campo nas instituições públicas de ensino
superior de todo o país, voltados
especificamente para a formação de
educadores para a docência na segunda
etapa do Ensino Fundamental (6º ao
ano) e Ensino Médio (1º ao 3º ano), de
maneira regular e na modalidade de
Educação de Jovens e Adultos em áreas do
conhecimento escolar relacionadas às
Ciências da Natureza.
Em 2008, quatro universidades
federais (Universidade de Brasília;
Universidade Federal da Bahia;
Universidade Federal de Minas Gerais;
Universidade Federal de Sergipe) abriram
as primeiras turmas. Em 2012, ocorreu a
publicação de Chamada Pública de seleção
2/2012 SESU/SETEC/SECADI/MEC
para que Instituições apresentassem suas
proposições para cursos de Licenciatura
em Educação do Campo. No estado de
Goiás foram aprovados dois cursos, ambos
pela Universidade Federal Goiás (UFG),
um na Regional Catalão e outro na
Regional Cidade de Goiás.
As turmas da Regional Catalão
foram abertas em 2014, oferecendo a
habilitação em Ciências da Natureza e
Araújo, J. P., Assis, M. P., & Costa, E. R. (2017). A sustentabilidade, a educação ambiental e o curso de Educação do Campo...
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tendo como diferencial o esforço coletivo
para que o processo educativo se baseie em
uma perspectiva interdisciplinar que rompa
a perspectiva reducionista e fragmentária
pela qual o campo é perpetuado como
lugar de precariedade (Alves & Faleiro,
2015). A adoção da interdisciplinaridade
atua assim, no sentido de diminuir as
fronteiras que cindem a perspectiva social
em dicotomias do tipo rural x urbano,
campo-cidade. A expectativa é que
professores formados nestas bases atuem
criticamente ante uma cultura escolar
urbanocêntrica que direciona suas ações no
rumo da formação para o mercado de
trabalho unicamente. A metodologia da
Alternância é elemento que manifesta a
interdisciplinaridade como eixo. Ela
consiste em dividir o período letivo em
dois tempos, sendo um o ‘Comunidade’ e o
outro o ‘Universidade’ (Costa, Alves &
Faleiro, 2015) traduzindo os esforços por
um processo formativo mais complexo e
real. Esse modelo, que é o da alternância,
se ampara no intento de garantir aos
estudantes residentes no campo a
permanência em seu espaço para que não
percam o vínculo com sua cultura
camponesa, portanto evitando que tenham
que se mudar permanentemente para as
cidades (Alves & Faleiro, 2015).
Discutindo os desafios do curso,
Faleiro & Farias (2016) destacam que a
constituição de um grupo de professores
instrumentalizados a partir de uma lógica
mais plausível e concreta é algo central.
Concordamos com tais autores e
ponderamos que esse desafio tem conexão
com o desconforto que originou nosso
estudo sobre a sustentabilidade, que
entendemos que parte dessa
instrumentalização deveria ocorrer na
dimensão do discurso pela adoção de
termos, conceitos ou ideias. Movimento
contributivo para que o pensamento sobre
o “campo” e sobre o Curso de Educação do
Campo encontre caminho fora dos limites
do bucólico, do tranquilo ou do precário.
Como ressalvam Alves & Faleiro
(2015), é necessário fugirmos da
consonância de que é preciso fixar o
homem ao campo assim como da de que o
rural se resume ao agrícola. Nestas
delimitações, que o concretas, não seria
possível para nós adotarmos o discurso da
formação para os professores de Ciências
da Natureza para os povos dos campos que
se articulam na rasura ou parcialidade de
-lo como opção secundária. Pior seria
adotarmos a linha do “campo” como
“bucólico”, como “lugar de paz” porque
isso seria reduzi-lo e acoplá-lo ao modelo
vigente pelo expediente de imobilizá-lo em
bases idílicas de caracterização.
Sobre a sustentabilidade
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O conceito de sustentabilidade tem
duas origens distintas. Uma primeira
fincada na biologia através da ecologia e
uma segunda ancorada na economia. Essa,
projetando a perspectiva de que o padrão
de consumo e produção consolidados nos
últimos tempos não deverá perdurar devido
ao esgotamento dos recursos naturais.
Aquela, preocupada com a capacidade de
recuperação e reprodução dos ecossistemas
em face das agressões antrópicas ou
mesmo naturais que contingenciam a
exploração de nossos recursos. (Baroni,
1992; Mikhailova, 2004; Nascimento,
2012).
A literatura evidencia que a ideia de
sustentabilidade embora existisse como
preocupação desde a década de 1950
(Nascimento, 2012) e houvesse se
consolidado através da ação dos
movimentos ambientalistas na década de
1970 (Lima, 2003) teria se circunstanciado
de fato entre fins dos anos de 1970 e 1980
(Baroni, 1992; Lima, 2003; Mikhailova,
2004; Nascimento, 2012) já que é nesse
período que se a admissão mais ampla
da existência de uma crise ambiental. É
essa admissão que embasa a realização de
conferências como a de Estocolmo em
1972, que colocaram frente a frente países
dos então chamados primeiro mundo e
terceiro mundo preocupados com a
degradação ambiental.
Jacobi (2005), citando Nobre e
Amazonas (2002), esclarece que é nesta
fase que o termo vai se fortalecendo como
“desenvolvimento sustentável”,
demarcando “a necessidade de se elevar a
problemática ambiental a um plano de
visibilidade na agenda política
internacional e fazer com que a temática
penetre e conforme as decisões sobre
políticas em todos os níveis” (p. 235).
Ainda segundo Jacobi (2005), vemos que
duas correntes interpretativas emergem ao
longo deste processo. Uma corrente
econômica e técnico-científica que sugere
a articulação do crescimento econômico e
a preservação ambiental influindo em
modificações nas abordagens do
desenvolvimento econômico, notadamente
a partir dos anos de 1970. Outra corrente,
ecoante da crítica ambientalista ao estilo de
vida contemporâneo que é a que se difunde
a partir da Conferência de Estocolmo em
1972 realizada em meio ao impacto
provocado pelo relatório do clube de
Roma
ii
que propunha o desaceleramento do
desenvolvimento dos países desenvolvidos
e do crescimento populacional nos
subdesenvolvidos. Na avaliação do autor o
que se sucede com o passar do tempo é o
descarte de ambas as posições e o
surgimento de uma posição intermediária
estabelecida entre o economicismo
determinista cuja prioridade é o
Araújo, J. P., Assis, M. P., & Costa, E. R. (2017). A sustentabilidade, a educação ambiental e o curso de Educação do Campo...
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crescimento econômico e o
fundamentalismo ecológico
(inevitabilidade do crescimento do
consumo e esgotamento dos recursos
naturais). O paradigma do caminho do
meio é o chamado ecodesenvolvimento ou
desenvolvimento sustentável que propunha
um desenvolvimento que harmonizasse os
objetivos sociais, ambientais e
econômicos. É essa via que se consagra na
Rio-92.
Retomando a cronologia estruturada
pelo sobrevoo sobre a sustentabilidade ou
desenvolvimento sustentável, o que a
literatura sugere é que a complexidade e
vigor das discussões foram razões para que
a Organização das Nações Unidas (ONU)
criasse uma comissão técnica que
elaborou, em 1973, o documento Only one
Hearth no qual se indicava que o problema
ambiental decorria, de um lado, de
externalidades econômicas próprias do
modelo de desenvolvimento (tecnologia
agressiva e consumo excessivo) e, de
outro, da falta de desenvolvimento
(crescimento demográfico e baixo PIB).
Muitas publicações alimentam e
encaminham a discussão, como o
documento Estratégia de Conservação
Mundial com o objetivo de alcançar o
desenvolvimento sustentável através da
conservação dos recursos vivos publicado
em 1980, a União Internacional para a
Conservação da Natureza (UICN) e a Carta
de Ottawa (escrita ao final da Conferência
de Ottawa em 1986) que estabeleceu cinco
requisitos para se alcançar o
desenvolvimento sustentável: a) integração
da conservação e do desenvolvimento; b)
satisfação das necessidades básicas
humanas; c) alcance de equidade e justiça
social; d) provisão da autodeterminação
social e da diversidade cultural; e)
manutenção da integração ecológica
(Baroni, 1992).
A Conferência das Nações Unidas
para o Meio Ambiente e o
Desenvolvimento realizada em 1992 (após
a aprovação da convocação pela
Assembleia das Nações Unidas e 1989)
que ficou conhecida como Rio-92 (o Rio
de Janeiro foi sede do evento) marca o
auge das discussões e conferencias. A
conferência teve a presença de 173 chefes
de Estado e dela se originou o documento
“Agenda 21”, pretendendo guiar o planeta
na rota do desenvolvimento sustentável.
Na mesma ocasião, foram aprovados
outros dois importantes e complementares
documentos para uma sociedade
“sustentável” a Carta da Terra e o Tratado
da Educação Ambiental para as Sociedades
Sustentáveis. É como resultado direto da
Rio-92 que é promulgada no Brasil a Lei
9.795, de 27 de abril de 1999, que dispõe
sobre a educação ambiental e institui a
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Política Nacional de Educação Ambiental
definindo que a educação ambiental se
concretiza em processos por meio dos
quais o indivíduo e a coletividade
constroem valores sociais, conhecimentos,
habilidades, atitudes e competências
voltadas para a conservação do meio
ambiente, bem de uso comum do povo,
essencial à sadia qualidade de vida e sua
sustentabilidade.
Outro marco institucional e de
norteamento foi a publicação da resolução
que definiu a Década das Nações Unidas
da Educação para o Desenvolvimento
Sustentável de 2005 a 2014, que foi uma
ação aprovada pela Assembleia Geral das
Nações Unidas por meio da resolução
57/254 durante sua 57ª Sessão de
dezembro de 2002. A iniciativa decorreu
do projeto “Educação para um Futuro
Sustentável”, criado em 1994 pela
organização como o principal mecanismo
para a aplicação das recomendações
relativas à educação, efetuadas pelas
grandes conferências das Nações Unidas
na cada de 1990 e pelas convenções da
diversidade biológica, mudança climática e
desertificação. Em 2006 é formado um
Grupo de Referência para subsidiar a
Secretaria da Década com norteamentos
conceituais e de estratégias.
O que deriva desses encontros e
desse processo é o estabelecimento de
pontos consensuais como o de que o
desenvolvimento sustentável se compõe
essencialmente de três dimensões: a
ambiental, a econômica e a social. A
primeira pressupõe que o modelo de
produção e consumo deva ser compatível
com a base material em que se assenta a
economia, como subsistema do meio
natural. Neste prisma a forma de produzir e
consumir deve garantir que os
ecossistemas mantenham sua
autorreparação ou capacidade de
resiliência. A segunda que orienta o
aumento da eficiência da produção e do
consumo com economia crescente de
recursos naturais. Trata-se daquilo que se
denomina como ecoeficiência, que supõe
uma contínua inovação tecnológica que
nos leve a sair do ciclo fóssil de energia
(carvão, petróleo e gás) e a ampliar a
desmaterialização da economia. E a
terceira defende todos tenham o mínimo
necessário para uma vida digna e ninguém
retenha bens, recursos naturais e
energéticos danosos aos outros. Isso quer
dizer erradicar a pobreza e “definir o
padrão de desigualdade aceitável,
delimitando limites mínimos e máximos de
acesso a bens materiais. Em resumo,
implantar a velha e desejável justiça
social” (Nascimento, 2012, p. 55). O outro
ponto de confluência repousa na admissão
da educação como instrumento
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fundamental para a efetivação do
desenvolvimento sustentável.
Na realização deste estudo o que se
mostrou necessário após o sobrevoo
histórico (que nos mostrou a existência de
um campo de disputa sobre a validação do
conceito de desenvolvimento sustentável
cartografado entre a visão econômica e a
ambiental) foi recorrermos a produções
que analisaram as derivações históricas do
percurso. São textos que evidenciam que
os discursos produzidos são múltiplos e
que, portanto, não uma visão unívoca
do termo desenvolvimento sustentável.
Pelo contrário, indicam a polifonia do tema
e por isso a fragilidade no eixo da
definição, o que afeta a efetivação de ações
e planos mais objetivos. No bojo de
ambiguidades e deficiências se produzem
vertentes diferentes sobre a questão e é
importante aprofundar nossa compreensão.
Um dos textos fundamentais na
análise do conceito de sustentabilidade é o
de Baroni que em 1992 pioneiro na
análise do tema) apontou as ambiguidades
e deficiências do conceito de
desenvolvimento sustentável a partir de
uma revisão de literatura salientando as
críticas emergentes. A autora cita
especialmente o estudo de Pearce sobre as
múltiplas definições do conceito e recorre
à análise de Lélé (1991) reforçando a
indicação no rumo de um consenso social
na definição da sustentabilidade ou pelo
menos um conteúdo mais preciso ao termo.
Enveredando na análise apresenta a
avaliação de Lélé (1991) que encerra a
visão de que a corrente principal do
desenvolvimento sustentável é a
econômica que, contudo, sofre de três
fraquezas: a primeira é a que deriva do fato
de que a relação entre degradação
ambiental e pobreza é biunívoca, ou seja, a
pobreza leva a degradação e a degradação
à pobreza. A segunda é a deficiência sobre
suas conceituações sobre os objetivos do
desenvolvimento e da participação e a
terceira a incerteza e falta de conhecimento
que imperam, já que Baroni (1992) nota
que “os conceitos de sustentabilidade e
participação são articulados pobremente,
tornando difícil determinar se um projeto
de desenvolvimento particular promove ou
não uma forma particular de
sustentabilidade” (Baroni, 1992, p. 20).
Na conclusão do texto uma frase
explicita bem o que Baroni percebeu ao
analisar as ambiguidades e deficiências do
conceito de desenvolvimento sustentável.
A frase é a seguinte:
É possível já concluir que, muitas
vezes, sustentabilidade ecológica,
desenvolvimento sustentável e
sustentabilidade são usados com os
mesmos sentidos, embora tenham
significados distintos. O que se pode
concluir, também, é que muitos
autores se propõem definir
desenvolvimento sustentável e, no
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entanto, apresentam propostas
genéricas e setoriais demais. (Baroni,
1992, p. 22).
Benfica (2008) também contribui
para desnaturalização da ideia de
sustentabilidade ou desenvolvimento
sustentável. Pelo seu artigo ele se propõe a
discutir a concepção de sustentabilidade, a
partir das perspectivas de Altvater (1995) e
Sachs (2000) e se pergunta sobre o modelo
educacional exigido pelo atual momento
de crise ecológica. Assim como em Baroni
(1992), neste escrito uma crítica
estruturada na direção de ver a teoria do
desenvolvimento sustentável como uma
“fórmula vazia”. Citando Altvater (1995) o
autor pontua que a maior contradição da
proposta do desenvolvimento sustentável é
de que a organização das estruturas
econômicas e sociais se permite serem
sustentáveis de modo condicional, ou seja,
somente enquanto não se chocam com as
restrições sistêmicas externas, sobretudo o
princípio do lucro. A conclusão é simples e
realista que “ser sustentável constitui
norma digna de ser efetivada, mas que
se pode converter em realidade na medida
em que as instituições básicas da sociedade
sejam modificadas”. (Altvater, 1995, p.
295-296 apud Benfica, 2008). O que nos
chamou a atenção foi a reflexão de
Altvater apresentada por Benfica sobre o
termo desenvolvimento sustentável e que
merece ser exposta tal qual colocada por
este último autor. Benfica expõe que na
perspectiva de Altvater
O conceito de “desenvolvimento”
não é um conceito neutro. Ele tem
um contexto bem preciso dentro de
uma ideologia do progresso, que
supõe uma concepção de história, de
economia, de sociedade e do próprio
ser humano. O conceito foi utilizado
numa visão colonizadora, durante
muitos anos, na qual os países do
globo foram divididos entre
“desenvolvidos”, “em
desenvolvimento” e
“subdesenvolvidos”, remetendo-se
sempre a um padrão de
industrialização e de consumo. Ou
seja, existe uma incompatibilidade de
princípios entre sustentabilidade e
capitalismo. O fracasso da Agenda
21 o demonstra. (Benfica, 2008, p.
5).
Carletto, Linsingen e Delizoicov
(2006) se alinham às ideias expostas por
Benfica e apresentam as “polêmicas” em
torno do desenvolvimento sustentável
trazendo considerações de vários autores
como Leff (2001) e Montibeller Filho
(2004). Após o diálogo com tais autores,
chegam a conclusão que:
As evidências apontam para a
impossibilidade do sistema
capitalista envolver-se de forma
intensiva com desenvolvimento
sustentável, com suas dimensões
básicas de equidades intrageracional
(garantia de qualidade de vida a
todos), intergeracional (garantia de
recursos para as próximas gerações)
e internacional (de todos os
indivíduos independente de sua
localização geográfica). (Carletto,
Linsingen & Delizoicov, 2006, p. 7).
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O que podemos salientar dessas
leituras é a complexidade de nos
posicionarmos em relação ao
desenvolvimento sustentável ou sua
projeção. E não como fugir a essa
situação por sermos educadores. Mesmo
porque a educação vai se colocando como
elemento central a questão. De algum
modo o desenvolvimento sustentável e/ou
a sustentabilidade veem na educação
elemento fundamental.
Educação e sustentabilidade
Foi possível percebermos que o
debate educacional sobre o
desenvolvimento sustentável se fortalece
pari passu ao debate maior sobre o próprio
conceito. De modo mais preciso Carletto,
Linsingen e Delizoicov (2006) informam
que o reconhecimento do valor da
educação para o desenvolvimento
sustentável se materializou no lançamento
da Década da Educação para o
Desenvolvimento Sustentável (2005-2014)
promovida pela Organização das Nações
Unidas - ONU e liderada pela Organização
das Nações Unidas para a Educação,
Ciência e Cultura UNESCO.
Ao analisarmos a literatura sobre
educação ambiental descobrimos que ela é
marcada por “polêmicas”, “ambiguidades”
e “deficiências” a espelho do que acontece
com o conceito-discurso de
desenvolvimento sustentável. Desde nossas
primeiras aproximações com a temática
percebemos uma profusão de
terminologias como educação ambiental,
ecopedagogia, educação para
sustentabilidade (EpS) e outros.
A leitura do artigo de Carletto,
Linsingen e Delizoicov (2006) nos
comprovou que de fato a multiplicidade
das propostas é fruto da dispersão de
definições a respeito do que seria a
educação voltada ou alinhada ao
desenvolvimento sustentável quando
sustentam que as diferentes interpretações
do termo Desenvolvimento Sustentável,
estando alocadas no campo do dissenso, da
contradição e da ambiguidade, “geram
polêmica e indicam que a polissemia
discursiva do desenvolvimento sustentável
tem favorecido os discursos que defendem
o modelo de desenvolvimento
hegemônico” (Carletto, Linsingen e
Delizoicov, 2006, p. 7). As análises de
Crespo (2003) são exploradas para reforçar
este ponto de vista e enfatizar que é
fragmentada a forma com que os temas
ambientais têm sido tratados no âmbito
educacional, formal ou informal, e isso
“dificulta o desenvolvimento de uma
compreensão crítica do Desenvolvimento
Sustentável e inibe a efetivação de
propostas educacionais transformadoras”
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(Carletto, Linsingen e Delizoicov, 2006, p.
7). O enfoque educacional chamado de
Ciência Tecnologia e Sociedade (CTS),
por se aproximar da prática educativa
transformadora preconizada por Freire
(1987), seria um caminho possível que
se objetivaria como uma educação
formadora de cidadãos críticos, “detentores
de um entendimento mais coerente acerca
da ciência e da tecnologia, capazes de
intervir ética e democraticamente no
mundo” (Carletto, Linsingen e Delizoicov,
2006, p. 9). No encerramento do texto a
mensagem que deixam é a da necessidade
de vincular a sustentabilidade e a educação
à formação de professores. Assim,
colocam:
o esforço para a construção de uma
percepção de sustentabilidade que
busque o fortalecimento dos
processos negociados de tomadas de
decisão, está intimamente vinculado
ao processo pedagógico e requer
vigorosa defesa de uma adequada
formação de professores em todos os
níveis e modalidades de educação. E
que esta formação, associada à ideia
de uma educação crítica e
transformadora do sentir pensar e
agir, deve visar à criação de
condições que permitam ampliar o
poder social dos cidadãos através da
construção de consciência crítica,
aproximando a educação das
condições reais de existência de seus
atores (Carletto, Linsingen e
Delizoicov, 2006, p. 12).
Sauvé (2005) se mostrou pertinente
ao discutir possibilidades e limites à
educação ambiental. A pesquisadora
destaca que a educação ambiental alcançou
posição de destaque ao longo dos anos e
que ela não é somente uma forma de
educação entre tantas outras ou mera
ferramenta para a resolução de problemas
ou de gestão do meio ambiente. Ela é “uma
dimensão essencial da educação
fundamental que diz respeito a uma esfera
de interações que está na base do
desenvolvimento pessoal e social: a da
relação com o meio em que vivemos, com
essa “casa de vida” compartilhada” (Sauvé,
2005, p. 317). O objetivo que Sauvé (2005)
apresenta para a educação ambiental
assume que ela
visa a induzir dinâmicas sociais, de
início na comunidade local e,
posteriormente, em redes mais
amplas de solidariedade,
promovendo a abordagem
colaborativa e crítica das realidades
socioambientais e uma compreensão
autônoma e criativa dos problemas
que se apresentam e das soluções
possíveis para eles. (Sauvé, 2005, p.
317).
Sauvé (2005) afirma que o educador
deve considerar as várias facetas da relação
com o meio ambiente já que estas orientam
maneiras diversas e complementares de
apreender o meio ambiente. Na sequência,
apresenta algumas dessas maneiras: o
meio-ambiente natureza; o meio-ambiente
recurso; o meio-ambiente problema; o
meio-ambiente sistema; o meio-ambiente
lugar onde se vive; o meio-ambiente
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biosfera e o meio-ambiente projeto
comunitário. Nessa averiguação o
argumento para compreensão da
complexidade do projeto educativo para a
educação ambiental. No texto que foi
publicado em 2005 quando se iniciava a
Década das Nações Unidas para a
educação com vistas a um
desenvolvimento sustentável ainda a
reflexão que conta de que o uso do
termo educação para o desenvolvimento
sustentável em substituição a educação
ambiental orienta uma “concepção
utilitarista da educação e a representação
“recursista” do meio ambiente, adotada
pela educação para o desenvolvimento
sustentável” (Sauvé, 2005, p. 320) que se
mostram visivelmente reducionistas com
relação a uma educação preocupada em
otimizar a teia de relações entre as pessoas,
o grupo social a que pertencem e o meio
ambiente.
Jacobi (2005) também utiliza o termo
educação ambiental na mesma ordem de
Sauvé (2005), que pressupõe o
entendimento de que a educação nesta
dimensão deve ser pautada pela crítica e
pela emancipação que nem sempre
coadunam com o projeto de
desenvolvimento hegemonicamente
propalado. Jacobi (2005) recusa-se em
adotar o termo desenvolvimento para
pensar a educação ambiental, pois segundo
ele “as tensões entre desenvolvimento e
conservação do meio ambiente ainda
persistem, e o forte viés economicista é um
dos fatores de questionamento do conceito
pelas organizações ambientalistas”.
(Jacobi, 2005, p. 235). É de certa forma
uma oposição àquilo que surgiu com mais
força após a Rio-92, que foi a maciça
expansão do termo desenvolvimento
sustentável ainda que para o autor, com
base em Nobre e Amazonas (2002), os
resultados do evento tenham ficado aquém
dos pretendidos pelos organismos
proponentes porque a discussão ambiental
sofreu na verdade “uma refração” na qual
se consagrou a separação entre
negociações em torno de acordos
ambientais globais e as outras relativas à
implementação de projetos de
desenvolvimento sustentável de âmbito
nacional, notadamente a Agenda 21”.
É Jacobi (2005) que ao enveredar
pela reflexão de como seria a educação
ambiental argumenta mais concretamente
em prol de uma perspectiva emancipatória
e crítica como ancoragem, sendo esta
inspirada em teóricos como Paulo Freire,
Snyder e Giroux. No que se refere ao meio
ambiente, cita Capra, Morin, Leff, e Boff,
dentre outros que propõem uma educação
baseada em práticas, orientações e
conteúdos que transcendem a preservação
ambiental. Ao longo do artigo, fomos
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percebendo uma aproximação entre o que
o autor propõe e aquilo que nos guia no
interior do projeto político pedagógico do
Curso de Educação do Campo em que
atuamos. A valorização da
interdisciplinaridade é um ponto a se
destacar. Jacobi (2005, p. 247) finaliza seu
artigo afirmando:
Concluímos afirmando que o desafio
político-ético da educação ambiental,
apoiado no potencial transformador
das relações sociais, encontra-se
estreitamente vinculado ao processo
de fortalecimento da democracia e da
construção de uma cidadania
ambiental. Nesse sentido, o papel dos
educadores e professores é essencial
para impulsionar as transformações
de uma educação que assume um
compromisso com a formação de
uma visão crítica, de valores e de
uma ética para a construção de uma
sociedade ambientalmente
sustentável.
Gadotti (2008) parte de sua análise
sobre a sustentabilidade para problematizar
a questão da educação. Segundo o autor,
ela se divide em dois eixos: um relativo à
natureza e outro relativo à sociedade. Ao
fazê-lo ultrapassa os limites do ecológico e
adentra-nos no social, o que abre
possibilidades maiores e mais afeitas à
formação de professores. O eixo da
sustentabilidade da natureza se assenta na
ideia da sustentabilidade ecológica,
ambiental e demográfica (se preocupa
então com os recursos naturais e com os
ecossistemas). o eixo da
sustentabilidade social diz respeito à
sustentabilidade cultural, social e política.
Refere-se à manutenção da diversidade e
das identidades diretamente relacionadas
com a qualidade de vida das pessoas, da
justiça distributiva e ao processo de
construção da cidadania e da participação
das pessoas no processo de
desenvolvimento. Para Gadotti (2008) esse
é o eixo que reposiciona os sujeitos e as
pessoas ao estabelecer a necessidade da
conexão com a história, as identidades, as
tradições.
Diferentemente de Sauvé (2005) e
Jacobi (2005), Gadotti (2008) utiliza o
termo “ecopedagogia”, que concebe como
movimento social e político surgido no
seio na sociedade civil, nas organizações
de educadores, de ecologistas, de
trabalhadores e empresários preocupados
com o meio ambiente” (Gadotti, 2000, p.
92). O autor a percebe como um
movimento social e político inspirado no
pensamento freireano (Paulo Freire é
considerado um inspirador das ideias
ecopedagógicas) que está em processo de
formação. Gadotti (2000) lembra que o
termo ecopedagogia apareceu em agosto
de 1999, durante o I Encontro
Internacional da Carta da Terra na
Perspectiva da Educação.
Nos alinhamos a Gadotti (2008) na
expectativa de que o movimento em prol
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da sustentabilidade influa em reorientações
mais profundas que atinjam o nível legal,
as reformas educacionais, o curriculum, os
conteúdos e o nível pessoal do
compromisso. Tal como o autor,
acreditamos que Educação para o
Desenvolvimento Sustentável (EDS)
implica mudar o sistema, implica o
respeito a vida, o cuidado diário com
o planeta e cuidado com toda
comunidade da vida, da qual a vida
humana é um capitulo. Isto significa
compartilhar valores fundamentais,
princípios éticos e conhecimentos
como respeito à terra e a toda
diversidade da vida; cuidar da
comunidade da vida com compaixão
e amor; construção de sociedades
democráticas que sejam justas,
participativas, sustentáveis e
pacíficas. A EDS é um conceito
central de um sistema educacional
voltado para o futuro (Gadotti, 2008,
p. 38).
Havendo explorado o conceito de
sustentabilidade e melhor compreendido
sua relação com a educação. Retomamos
as questões que nos moveram na execução
do estudo. O conceito de sustentabilidade é
pertinente ao Curso de Educação do
Campo em que atuamos? Como ela (a
sustentabilidade) se constitui enquanto
ideia-discurso e o que revelam?
Considerações
Não damos por finalizada nossa
incursão no estudo sobre a sustentabilidade
e a educação ambiental. Podemos,
contudo, fazer algumas escolhas iniciais,
sendo a utilização do termo
sustentabilidade uma delas e educação
ambiental seu espelho na dimensão da
educação. Temos maior clareza sobre a
adoção do paradigma da CTS no curso
tendo-a como disciplina inclusive.
Isso porque nos foi possível
concordar com o que autores como Jacobi
(2005) e Sauvé (2005) utilizam em e que
manifestam a recusa ao termo
desenvolvimento por seu atrelamento
reducionista a um modelo econômico e
produtivo colonialista que não assume que
a sustentabilidade esbarra nas
desigualdades sociais. Eventualmente, nos
permitimos pensar nela como
ecopedagogia e, sobretudo como
pedagogia da terra, conforme Gadotti
(2008), pois como ele, entendemos o
planeta de forma ampla, subjetiva,
comunitária.
Entretanto, também podemos e
devemos aqui enfatizar que consideramos
que é preciso discutir em nossos coletivos
os elementos, argumentos, análises aqui
expostas e ainda outros mais, sobretudo a
forma como a polifonia do discurso da
sustentabilidade e da educação ambiental
gera ambiguidades ou porque não
territorializações de propostas ou visões
parciais opressoras ou unilaterais.
Devemos problematizar como a
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Licenciatura em Educação do Campo
concebe a natureza, como concebe a
função dos professores que forma, como
concebe uma sociedade sustentável.
Isso não nos impede de engrossar o
coro das vozes que defende a
sustentabilidade porque no miúdo sabemos
que um esgotamento do modelo
ambiental, produtivo e econômico que nos
atinge cotidianamente através formas
brutais e inequânimes pelas quais
acessamos ou deixamos de acessar a
riqueza, a educação, a saúde, a renda. A
sustentabilidade e consequentemente a
educação ambiental podem certamente ser
tomadas e defendidas como projeções
teóricas, e sabemos agora metodológicas
(nos identificamos com a
interdisciplinaridade, a emancipação), que
nos movem, nos lançam na busca de outra
formação e atuação social.
As próximas turmas de Didática
provavelmente terão na sustentabilidade
ponto de partida para pensar a prática
docente e suas relações com o local.
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Sauvé, L. (2005). Educação ambiental:
possibilidades e limitações. Educação e
Pesquisa, 31(2), 317-322.
i
Utilizaremos o termo “campo” entre aspas. Não
estamos convencidas ainda de que é o mais
adequado para tratar das pluralidades que se
apresentam fora do urbano por isso a opção na
forma de apresentação.
ii
O Clube de Roma foi uma associação livre de
cientistas, empresários e políticos de diversos
países que se reuniu em Roma no início dos anos de
1970 para refletir, formular e debater sobre o
sistema global.
Recebido em: 24/07/2017
Aprovado em: 09/08/2017
Publicado em: 13/12/2017
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APA:
Araújo, J. P., Assis, M. P., & Costa, E. R. (2017). A
sustentabilidade, a educação ambiental e o curso de
Educação do Campo: é possível essa aproximação?
Rev. Bras. Educ. Camp., 2(3), 921-940. DOI:
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-
4863.2017v2n3p921
ABNT:
ARAÚJO, J. P.; ASSIS, M. P.; COSTA, E. R. A
sustentabilidade, a educação ambiental e o curso de
Educação do Campo: é possível essa aproximação?
Rev. Bras. Educ. Camp., Tocantinópolis, v. 2, n.
3, p. 921-940, 2017. DOI:
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-
4863.2017v2n3p921
Araújo, J. P., Assis, M. P., & Costa, E. R. (2017). A sustentabilidade, a educação ambiental e o curso de Educação do Campo...
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 2
n. 3
p. 921-940
jul./dez.
2017
ISSN: 2525-4863
940
ORCID
Juliana Pereira de Araújo
http://orcid.org/0000-0002-7705-028X
Maria Paulina de Assis
http://orcid.org/0000-0003-0295-1697
Elis Regina da Costa
http://orcid.org/0000-0002-4690-3702
Revista Brasileira de Educação do Campo
DOSSIÊ / ARTIGO
DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-4863.2017v2n3p941
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Formação de professores em Ciências da Natureza para
escolas do/no campo na UFFS Campus Erechim:
perspectivas e desafios
Moises Marques Prsybyciem
1
, Almir Paulo dos Santos
2
, Jeronimo Sartori
3
1
Universidade Federal da Fronteira Sul - UFFS. Campus Erechim. Curso Interdisciplinar em Educação do
Campo: Ciências da Natureza. Rodovia ERS, km 135, 200. Zona Rural. Erechim - RS. Brasil.
moises.prsybyciem@uffs.edu.br.
2
Universidade Federal da Fronteira Sul - UFFS.
3
Universidade Federal da
Fronteira Sul - UFFS.
RESUMO. Este trabalho tem o objetivo de evidenciar as
perspectivas e os desafios encontrados na formação inicial de
professores no Curso Interdisciplinar em Educação do Campo:
Ciências da Natureza - Licenciatura da Universidade Federal da
Fronteira Sul, Campus Erechim, para escolas do/no campo. Essa
pesquisa bibliográfica e documental é de natureza exploratória,
cuja abordagem foi do tipo qualitativa. Os principais resultados
evidenciam desafios e potencialidades na formação de
professores para as escolas localizadas nas comunidades
indígenas e nas escolas do/no campo, bem como sua articulação
com o Ensino de Ciências da Natureza (Química, Física e
Biologia), tais como: a identidade cultural dos sujeitos, o choque
de culturas (diferentes povos do campo e diferentes
especificidades), os aspectos pedagógicos relacionados à
organização e ao trabalho no regime de alternância. Esses
elementos apontam para um perfil de professor formado em uma
Licenciatura em Educação do Campo que precisa compreender
as contradições culturais, ideológicas, sociais, políticas,
científicas, tecnológicas, éticas e econômicas enfrentadas pelos
sujeitos que vivem do e no campo. Esses resultados mostram a
necessidade de ampliação das discussões sobre Ciência e
Tecnologia e suas implicações sociais, visando fortalecer a
identidade e a cultura do campo que lhe é própria.
Palavras-chave: Educação do Campo, Ensino de Ciências da
Natureza, Alternância, Formação de Professores.
Prsybyciem, M. M., Santos, A. P., & Sartori, J. (2017). Formação de professores em Ciências da Natureza para escolas do/no
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Teacher training in Nature Sciences for rural schools in
the UFFS - Campus Erechim: perspectives and challenges
ABSTRACT. This work aims to highlight the perspectives and
challenges encountered in the initial training of teachers in the
Interdisciplinary Course in Rural Education: Natural Sciences -
Bachelor of the Federal University of the Southern Frontier, Campus
Erechim, for schools in the countryside. This bibliographic and
documentary research is of an exploratory nature, whose approach
was of the qualitative type. The main results highlight the challenges
and potentialities of teacher training for schools located in indigenous
communities and schools in the countryside, as well as their
articulation with the Teaching of Natural Sciences (Chemistry,
Physics and Biology), such as: identity Cultural diversity of the
subjects, the clash of cultures (different rural people and different
specificities), pedagogical aspects related to organization and work in
the alternation regime. These elements point to a teacher profile
graduated in a Rural Education Degree that needs to understand the
cultural, ideological, social, political, scientific, technological, ethical
and economic contradictions faced by subjects living in and out of the
field. These results show the need to broaden the discussions on
Science and Technology and its social implications, aiming to
strengthen the identity and culture of the field that is its own.
Keywords: Rural Education, Natural Sciences Teaching, Alternation,
Teacher Training.
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Formación de profesores en Ciencias de la Naturaleza para
escuelas del campo en la UFFS - Campus Erechim: perspectivas y
desafíos
RESUMEN. Este trabajo tiene el objetivo de evidenciar las
perspectivas y los desafíos encontrados en la formación inicial
de profesores en el Curso Interdisciplinario en Educación del
Campo: Ciencias de la Naturaleza - Licenciatura de la
Universidad Federal de la Frontera Sur, Campus Erechim, para
escuelas del/en el campo. Esta investigación bibliográfica y
documental es de naturaleza exploratoria, cuyo enfoque fue del
tipo cualitativo. Los principales resultados evidencian desafíos y
potencialidades en la formación de profesores para las escuelas
ubicadas en las comunidades indígenas y en las escuelas del / en
el campo, así como su articulación con la Enseñanza de Ciencias
de la Naturaleza (Química, Física y Biología), tales como: la
identidad Cultural de los sujetos, el choque de culturas
(diferentes pueblos del campo y diferentes especificidades), los
aspectos pedagógicos relacionados a la organización y al trabajo
en el régimen de alternancia. Estos elementos apuntan a un
perfil de profesor formado en una Licenciatura en Educación del
Campo que necesita comprender las contradicciones culturales,
ideológicas, sociales, políticas, científicas, tecnológicas, éticas y
económicas enfrentadas por los sujetos que viven del y en el
campo. Estos resultados muestran la necesidad de ampliar las
discusiones sobre Ciencia y Tecnología y sus implicaciones
sociales, con el fin de fortalecer la identidad y la cultura del
campo que le es propia.
Palabras clave: Educación Rural, Enseñanza de Ciencias de la
Naturaleza, Alternancia, Formación de Profesores.
Prsybyciem, M. M., Santos, A. P., & Sartori, J. (2017). Formação de professores em Ciências da Natureza para escolas do/no
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Introdução
Os cursos de Licenciatura em
Educação do Campo (LEdoC) são frutos
de intensas lutas dos diversos movimentos,
lideranças sociais e indígenas pelo direito à
Educação do Campo. O projeto de
educação para o camponês possui uma
pedagogia própria, construída pelos seus
sujeitos. Os sujeitos do campo, tais como
os indígenas, os agricultores familiares, os
quilombolas, os assentados, os caiçaras, os
povos das florestas, dentre outros, assim
como o Movimento dos Atingidos por
Barragens (MAB), o Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e
Movimento das Mulheres Camponesas
(MMC), possuem o direito a uma educação
pública de qualidade e que respeite as suas
dinâmicas sociais e culturais, atendendo às
suas necessidades e especificidades
(Arroyo, Caldart & Molina, 2004).
A história de criação da
Universidade Federal da Fronteira Sul
(UFFS) encontra-se diretamente ligada às
lutas desses movimentos sociais da região
pela construção da proposta de uma
universidade pública e popular para todos.
Tais compromissos foram assumidos pela
UFFS em prol da superação das
desigualdades sociais e regionais,
especialmente quanto à população mais
excluída do campo e da cidade, engajada
numa luta por uma educação como direito
humano, possibilitando aos sujeitos, em
especial aos que foram excluídos no tempo
normal do processo educativo, terem
acesso a uma formação superior de
qualidade, preservando a sua identidade
cultural do e no campo.
Nesse contexto, a UFFS participou
do Edital PRONACAMPO/2012,
propondo o Curso Interdisciplinar em
Educação do Campo: Ciências da Natureza
- Licenciatura (CIEdoCCN-L). A principal
proposta do curso é a formação de
professores para atuarem no Ensino
Fundamental e Médio em escolas do/no
campo na área de Ciências da Natureza,
priorizando a diversidade das populações
do campo que ainda não tiveram
oportunidade de ingressar na Educação
Superior. Além disso, esse processo visava
atender a uma demanda da região em
relação à falta de profissionais nessa área
e, talvez, contrapor o desmonte e
fechamento das escolas do campo com a
formação de professores capacitados e
comprometidos com os sujeitos do e no
campo.
O projeto de Educação do Campo
sempre expressou a necessidade de formar
professores capazes de compreender as
contradições culturais, ideológicas, sociais,
políticas, éticas e econômicas enfrentadas
pelos sujeitos que vivem do e no campo. O
projeto também atende à necessidade da
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discussão sobre os aspectos científicos e
tecnológicos e, a partir daí, desenvolver
práticas educativas e organizacionais que
preparem esses professores para enfrentar
essas contradições (Molina & Sá, 2011). É
possível identificar alguns desafios e
perspectivas nos processos formativos,
tanto no âmbito da Universidade, como
nos espaços das alternâncias, que,
trabalhados, potencializam uma maior
qualidade formativa e educacional para os
povos do e no campo.
Por isso, o objetivo deste trabalho é
evidenciar, no processo de formação de
professores, os desafios e as perspectivas
no CIEdoCCN-L da UFFS, Campus
Erechim, para escolas do/no campo. O
intuito é fortalecer nossas práticas
pedagógicas para os procedimentos de
ensino e aprendizagem, com a discussão de
variados aspectos, como o regime de
alternância, buscando a melhoria formativa
dos professores e dos estudantes na
realidade do e no campo, como parcela da
população nacional que, historicamente, se
encontra desassistida pelas universidades
públicas.
Formação de professores de Ciências da
Natureza para escolas do/no campo
A formação de professores é uma das
temáticas com maior ênfase nos trabalhos
de pesquisa em educação em Ciências
(Maldaner, 1999; Schnetzler, 2002;
Chassot, 2006; Carvalho et al., 2006;
Santos & Schnetzler, 2010; Hodson, 2014;
Britto & Silva, 2015; Bastos, 2017). Esses
autores têm contribuído com as práticas
pedagógicas dos professores e com a
seleção de conteúdos curriculares nas
escolas urbanas, nas escolas do/no campo e
nas instituições de educação superior.
As discussões sobre a formação
inicial e continuada de professores se
caracterizam como um movimento
permanente. Trata-se de movimento que se
inicia na formação escolar elementar,
onde são formuladas as primeiras ideias do
que é ser professor, como em suas práticas
de ensino e aprendizagem, tendo presente
que a formação é um processo constante.
Maldaner (1999) explicita que o conceito
de ser professor vai evoluindo durante a
formação, e essa evolução acontece na
interação com outros professores e com os
diversos contextos culturais e sociais.
Conforme Morin (2001), a profissão de
professor é muito complexa, com muitas
incertezas e com variados desafios. As
principais implicações do ser professor
do/no campo se referem à construção da
identidade profissional, à responsabilidade
político-social, como também à
necessidade de compromisso com a
transformação da sociedade, visando torna-
la mais justa, mais igualitária, inclusiva,
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humana e com menos preconceitos em
relação a fatores como etnia, cor e
orientação sexual.
Esses desafios exigem dos
professores, em sua prática pedagógica, o
rompimento com conceitos de Ciências
dogmatizados, lineares, fragmentados e
descontextualizados da realidade dos
estudantes do/no campo, o que vai ao
encontro das reflexões e da realidade do
aluno. Carvalho e Gil-Pérez (1993)
afirmam que cabe ao professor questionar
as visões simplistas, acríticas e herdadas da
ciência. Todavia, essas discussões na
formação de professores para as escolas
no/do campo, em específico no Ensino de
Ciências da Natureza, ainda são recentes,
mas, como objeto de investigação e
pesquisa, devem refletir as práticas do
processo de ensino e aprendizagem
(Caldart, Stedile & Daros, 2015).
O desenvolvimento científico e
tecnológico e suas implicações para a
sociedade precisam fazer parte das
discussões na Educação do/no Campo.
Assim, (re)pensar e discutir a formação
inicial de professores significa
compreender a importância do professor e
do seu papel como agente de
transformação, a partir das realidades e das
especificidades dos sujeitos do/no campo e
da cidade, potencializando os possíveis
problemas em seus diferentes contextos
(Arroyo, Caldart & Molina, 2004).
Muitos aspectos podem ser
abordados e discutidos na formação de
professores de Ciências para as escolas
do/no campo. Nesse sentido, um desafio
complexo e relevante refere-se à
necessidade de diálogo constante e
simultâneo entre os processos formativos
na universidade (pesquisa
acadêmica/grupos de estudos) e no âmbito
da educação básica (escola/comunidade)
(Bastos, 2017). Conforme o Projeto
Pedagógico do Curso (PPC, 2013), na
LEdoC/Erechim esse processo (diálogo)
ocorre na alternância. A alternância é um
princípio metodológico que representa a
construção de alternativas de escolarização
dos povos do/no campo e se constitui no
diálogo constante entre o Tempo
Comunidade - TC e o Tempo Universidade
- TU. Esses dois tempos são diferentes em
relação a espaços, tempos, processos e
produtos relacionados à formação
pedagógica, mas são compreendidos de
maneira integrada no processo de ensino e
aprendizagem (Antunes-Rocha & Martins,
2011).
O professor em formação, ou o
professor formado na LEdoC, tem como
princípio o diálogo constante com a
comunidade escolar. Desse modo, a
formação busca compreender as
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contradições culturais, ideológicas, sociais,
políticas, científicas, tecnológicas, éticas e
econômicas enfrentadas pelos sujeitos que
vivem do e no campo. Vivemos em uma
sociedade cada vez mais tecnológica.
Dessa forma, a formação em ciência
enfrenta outro desafio, a construção do
conhecimento científico e tecnológico,
visando à formação para a cidadania
(Santos & Schnetzler, 2010).
Para atender a todos esses elementos
em relação à formação do professor de
Ciências para as escolas do/no campo,
defendem-se as reflexões de Hodson
(1998) em relação à necessidade de uma
Alfabetização Científica Crítica (ACC)
universal muito mais politizada. A ACC é
um processo que busca a participação
democrática de todos os atores sociais,
principalmente a participação da população
mais excluída socialmente (indígenas,
quilombolas...) no processo de tomada de
decisão responsável, politizada e efetiva
em diferentes contextos (Hodson, 1998).
Para Chassot (2003), uma pessoa
alfabetizada cientificamente é capaz de
fazer uma leitura da linguagem que está
escrita na natureza, compreendendo, assim,
o universo e suas relações com o ser
humano, o que possibilita avaliar e criticar
as suas imbricações.
Conforme Santos e Schnetzler
(2010), o conhecimento científico não é
uma verdade absoluta e neutra, mas, sim,
influenciada pelas externalidades (política,
economia, cultura), ou seja, influenciada
por interesses. Assim, a ciência e a
tecnologia são produzidas para atender a
esses diversos interesses. Todavia, elas
deveriam também, ser pensada para
atender às demandas reais que a sociedade
precisa enfrentar, como: a desigualdade, a
fome, a violência, os problemas
ambientais, dentre outros.
Quanto aos objetivos da ACC e a
compreensão das contradições enfrentadas
pelos povos do e no campo, esses objetivos
não podem ser alcançados por meio dos
tradicionais currículos e suas
metodologias, focados apenas na
transmissão de conteúdos (Hodson, 1998).
Freire (2005) faz críticas e chama esse
modelo de educação como sendo bancária,
de transmissão acrítica e apolítica do
conhecimento. Esse processo de ensino
tradicional faz com que o aluno não
identifique a relação do conteúdo abordado
em sala de aula com a sua vida em
sociedade.
Assim, portanto, acredita-se que uma
alternativa é abordar os aspectos
relacionados ao ACC e ao ativismo
sociocientífico na construção de um
currículo, que visa promover uma
educação politizada e humana. É
indispensável a um processo de ensino e
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aprendizagem que conecta o TU, como o
TC, a perspectiva de buscar a
transformação da realidade por meio da
ação prática dos sujeitos na resolução de
problemas reais, por exemplos, os
relacionados ao desenvolvimento da
Ciência e Tecnologia de maneira
democrática, crítica, inclusiva e que aborde
as dimensões ético-morais. Nesse
processo, é importante a ação sociopolítica
e a tomada de decisão (executar medidas e
avaliar as ações) para a transformação da
realidade dos sujeitos do/no campo
(Hodson, 2014), focalizando uma melhor
qualificação formativa no curso da LEdoC.
Aspectos metodológicos
A abordagem metodológica utilizada
nesta pesquisa é qualitativa, de natureza
exploratória e, do ponto de vista dos
procedimentos cnicos, a pesquisa é
bibliográfica e documental (Gil, 1991).
Antes de tudo, trata-se de pesquisa
bibliográfica porque a fundamentação
teórica básica empregada deriva de livros e
de artigos publicados em periódicos sobre
a temática. O benefício dessa pesquisa
relaciona-se ao fato de permitir ao
investigador a cobertura de uma gama de
fenômenos mais ampla em relação àquela
que ele poderia pesquisar diretamente (Gil,
1991).
A pesquisa é também documental.
Foram utilizados documentos
institucionais: o PPC e dados do Registro
Acadêmico. Conforme Gil (1991), o
conceito de documento é bastante amplo,
ou seja, pode ser constituído por qualquer
objeto capaz de comprovar algum fato ou
acontecimento - o que é o caso presente.
Os dados foram coletados do PPC
(2013) e do Registro Acadêmico da UFFS
(2017), dialogando com os autores que
fundamentam o estudo (Antunes-Rocha &
Martins, 2011; Arroyo, Caldart & Molina,
2004; Britto, 2011; Molina & Sá, 2011;
Ribeiro & Ballivian, 2013; Chassot, 2006;
Silva & Prsybyciem, 2016). Dessa
confrontação de dados e de ideias
decorreram as reflexões e os resultados
aqui produzidos para esta pesquisa.
Este estudo foi desenvolvido no
Grupo de Pesquisa intitulado "Educação e
Desenvolvimento Social do Campo
UFFS" e isso ocorreu no ano de 2017. No
primeiro momento, contextualizamos os
sujeitos da LEdoC/UFFS - Campus
Erechim, ou seja, dos sujeitos que se
inserem no curso. No segundo momento,
destacamos os processos formativos do
regime de alternância e, para finalizar,
expressamos as perspectivas e os desafios
para a formação de professores em
Ciências da Natureza para a Educação
do/no Campo.
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Compreendendo o contexto e os sujeitos
da LEdoC da UFFS/Erechim
A UFFS possui uma estrutura
multicampi, com unidades localizadas na
cidade de Chapecó/SC (sede), Erechim/RS,
Cerro Largo/RS, Passo Fundo/RS,
Realeza/PR e Laranjeiras do Sul/PR, com
diversos cursos. O Campus de Laranjeiras
do Sul e o de Erechim possuem o Curso de
LEdoC, visando atender à necessidade de
formação de professores do campo na área
das Ciências da Natureza. Assim, o foco
deste trabalho é evidenciar os processos de
formação de professores no CIEdoCCN-L,
no Campus de Erechim.
Esse projeto da universidade foi
pensado apostando na presença das classes
populares na universidade e na construção
de um projeto de desenvolvimento
sustentável e solidário para a região, tendo
como seu eixo estruturador a agricultura
familiar e camponesa, buscando a
transformação da realidade, opondo-se à
reprodução das desigualdades que
provocaram o empobrecimento da região
(PPC, 2013).
Entre os compromissos assumidos
pela UFFS, que visam a superação das
desigualdades sociais e regionais, está o
acesso e a permanência na Educação
Superior. Pensando nisso, foram criados
espaços para discussões e construção de
políticas diferenciadas de acesso à UFFS.
Em relação ao CIEdoCCN-L, foram
construídos coletivamente, a partir de
seminários e encontros com os
movimentos e lideranças sociais da região,
critérios que priorizassem o acesso dos
sujeitos do campo à universidade (PPC,
2013). O curso, inicialmente, foi pensado
para atender à necessidade de formação de
professores/educadores para escolas do/no
campo na área das Ciências da Natureza,
para espaços escolares e não escolares da
região.
Atualmente, no entanto, enfrenta-se
um novo desafio, qual seja o da
participação e acesso crescente no curso, a
partir da segunda entrada (processo de
seleção), dos povos indígenas da etnia
Kaingang. O curso conta com
representações, além dos indígenas, de
estudantes oriundas do MST, do MAB,
filhos de agricultores familiares e de
integrantes da Pastoral da Juventude,
contemplando uma diversidade dos povos
do campo.
De acordo com os dados do Registro
Acadêmico da UFFS, na turma 2013/2
primeira entrada de acadêmicos no curso
foram 12 matrículas, porém nenhuma
indígena. A maioria eram professores que
atuavam nas escolas da região sem
habilitação na área e filhos de agricultores
familiares. Na turma 2014/1 ocorreu o
ingresso de 18 acadêmicos, sendo 5 deles
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indígenas. Na turma 2014/2 foram 21
matrículas, das quais 18 foram de
estudantes indígenas. Na turma 2015/1
todas as 36 matrículas foram de indígenas.
Na turma 2015/2, dos 53 matriculados, 52
são indígenas e, na turma 2016/1, dos 57
matriculados, 55 deles são indígenas.
Esse processo envolve a diversidade
e, ao mesmo tempo, as especificidades dos
estudantes indígenas, o que nos desafia a
refletir e buscar possíveis caminhos para a
formação de professores em Educação do
Campo: Ciências da Natureza. Outro
desafio desse processo é a evasão desses
acadêmicos do curso, evasão muitas vezes
relacionada ao choque cultural e à
dificuldade em acompanhar o curso,
dificuldade em relação aos componentes
curriculares, o que necessita de mais
investigações e reflexões para a
compreensão desse processo.
O contexto acima apresentado faz
com que ... professores repensem suas
práticas e adensem reflexões teóricas
visando compreender a complexidade que
a diversidade cultural dos educandos da
etnia Kaingang impõe tanto ao corpo
docente como à estrutura do Curso e da
Universidade” (Silva & Prsybyciem, 2016,
p. 4). Isso nos possibilita o fortalecimento
dos processos formativos do acadêmico.
Conforme Candau (2011, p. 23), uma
perspectiva de interculturalidade defende
uma,
Educação para o reconhecimento do
‘outro’, para o diálogo entre os
diferentes grupos sociais e culturais.
Uma educação para a negociação
cultural, que enfrenta os conflitos
provocados pela assimetria de poder
entre os diferentes grupos
socioculturais nas nossas sociedades
e é capaz de favorecer a construção
de um projeto comum, pelo qual as
diferenças sejam dialeticamente
incluídas.
Assim, portanto, se faz necessário o
diálogo entre as culturas e o respeito aos
valores, às crenças, às dinâmicas sociais e
culturais, o que “permite de maneira
democrática, inclusiva e dialética, que se
superem conflitos e que se garantam
direitos historicamente negados aos grupos
socialmente excluídos” (Silva &
Prsybyciem, 2016, p. 5). Resgatar esses
valores nos possibilita compreender esses
sujeitos, potencializar o processo de
formação de professores e garantir seus
direitos sociais.
O regime de alternância e sua
integração aos componentes
curriculares
A LEdoC na Universidade Federal
da Fronteira Sul, Campus Erechim,
considera, na matriz de seu PPC, a relação
entre Universidade e Comunidade. O curso
organizou-se visando garantir, no máximo,
25% da carga horária de cada componente
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curricular para o TC. O CIEdoCCN-L tem
em média um total de 3.390 horas, com
duração de quatro anos. O TU e o TC são
tempos, espaços e processos interligados e
interagindo, constantemente, para a
construção e a avaliação do conhecimento
científico e tecnológico de maneira
dialética, envolvendo saberes populares e
práticas dos sujeitos do campo. Conforme
Antunes-Rocha e Martins (2011, p. 214), o
TC constitui-se no diálogo com o TU no
contexto da luta e para a,
Construção de possibilidades da
escolarização dos povos do campo.
Esses termos não podem ser
compreendidos de forma separada,
porém o distintos no que diz
respeito ao espaço, tempo, processos
e produtos relacionados à formação
pedagógica. Intrinsecamente ligados
às formas de morar, trabalhar e viver
no campo, falam-nos de limites e
possibilidades para a organização da
educação escolar, mas, muito mais
do que isto, anunciam outra forma de
fazer a escola do campo, de avaliar,
da relação com os conteúdos, das
mediações pedagógicas, da relação
entre quem ensina e quem aprende.
A alternância, desse modo, foi criada
como estratégia e como uma necessidade
pedagógica para permitir a escolarização
dos sujeitos do campo, aqui em específico,
na UFFS. Essa necessidade de integração
entre TU e TC é essencial para o
desenvolvimento da autonomia dos
estudantes, por meio da pesquisa dos
problemas da comunidade e possibilitando
intervenções, relacionado com os aspectos
culturais, filosóficos, sociais, pedagógicos,
científicos, tecnológicos, organizacionais e
do trabalho. Por isso, com a interação entre
os saberes populares/práticas presentes nas
comunidades e o conhecimento científico,
a alternância tornou-se um princípio
metodológico.
Na UFFS, Campus Erechim,
conforme o PPC (2013), os TU e TC o
pensados e organizados da seguinte forma:
O TU como o tempo, espaço e processos
em que os alunos-professores estarão na
universidade, contemplando os conteúdos
dos componentes curriculares do curso.
Esses alunos são, muitas vezes, oriundos
de diferentes comunidades/contextos
(cultura, problemas, particularidades), que,
ao trazerem essas questões, ampliam as
discussões sobre as realidades do campo de
maneira coletiva. O TC como tempo,
espaço e processos em que os estudantes-
professores estarão em seu local de
origem, prioritariamente, desenvolvendo o
trabalho pedagógico e as atividades de
pesquisa nas Escolas do/no Campo e
demais espaços educativos não escolares
nas comunidades.
De acordo com o PPC (2013) do
curso, para possibilitar o vínculo entre
esses momentos, estão previstos, em cada
semestre, os componentes curriculares
denominados Seminários Integradores das
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Práticas Pedagógicas. Nesses componentes
são potencializados espaços para
discussão, articulação e socialização dos
conteúdos e aprendizagens desenvolvidas
durante o processo. Ressalta-se que estão
previstas atividades para o TC em todos os
componentes curriculares do curso.
Silva e Prsybyciem (2016)
explicitam o trabalho desenvolvido no
componente curricular Seminários
Integradores das Práticas Pedagógicas I,
com uma turma, majoritariamente, de
estudantes indígenas como significativo.
Essa experiência desenvolveu-se na
primeira etapa do curso, com uma turma
que entrou no primeiro semestre de 2016 e
tem como eixo de investigação o “Processo
educativo do sujeito licenciando em
educação do campo. Processo histórico-
cultural dos sujeitos” (PPC, 2013, p. 42).
Nesse processo, foram construídos
memoriais descritivos da trajetória escolar
e sua respectiva reflexão crítica, em que foi
possível perceber aspectos fortes na análise
dos memoriais e no TC, que devem ser
respeitados e levados em consideração, na
prática pedagógica, para a formação de
professores para a população indígena e
camponesa. Esses aspectos podem ser
articulados com os conhecimentos de
Ciências Naturais (Química, Física e
Biologia), como: a identidade cultural, a
territorialidade, a língua materna, os
aspectos relacionados ao choque cultural,
culinária, artesanato, mitos e os saberes
populares (Silva & Prsybyciem, 2016).
O TC no CIEdoCCN-L se traduz por
meio de todos os componentes curriculares
e, principalmente, no componente
Seminário Integrador das Práticas
Pedagógicas, potencializando a prática
como componente curricular, uma vez que
se aproxima da escola na educação básica
e interage com a comunidade. A partir
disso é imprescindível considerar as mais
diversas contradições sociais e culturais,
nos contextos políticos, científicos,
tecnológicos, econômicos, éticos e
ambientais.
Esse momento - o TC - necessitaria
de mais mediadores, o que vai ao encontro
das experiências da alternância realizada
no curso de LEdoC da Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG),
mediadores tais como o Orientador de
Aprendizagem, os Guias do Tempo
Comunidade e os Trabalhos do Tempo
Comunidade (Antunes-Rocha & Martins,
2011, grifo dos autores). Todavia, na
conjuntura política, ideológica e
econômica atual, esse processo constante
para acompanhamento no TC tem ficado
cada vez mais difícil, dada a escassez de
recursos financeiros e humanos.
Assim, portanto, conforme
concluíram Silva e Prsybyciem (2016),
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um convite para formadores de
professores, para reforçarem as práticas
pedagógicas, (re)pensarem estratégias que
busquem atender às necessidades e às
especificidades para a formação de
educadores, principalmente, para a
educação básica nas aldeias e nas escolas
do/no campo. Nesse sentido, cabe entender
que tais sujeitos possuem uma dinâmica
social e cultural e que deve ser respeitada,
mesmo com todos os desafios impostos
pela conjuntura nacional.
Perspectivas e desafios na formação de
professores em Ciências da Natureza
para as escolas do/no campo
O Ensino de Ciências (Química,
Física e Biologia) nas escolas de Educação
Básica do/no Campo e escolas urbanas,
bem como na Educação Superior em
Cursos de Licenciatura, muitas vezes, é
desenvolvido de forma linear, fragmentada
e apresentando conteúdos como verdades
absolutas e acabadas, ensino esse que tem
a sua herança numa visão positivista de
ciência (Auler & Delizoicov, 2006).
Talvez esse modelo desenvolvido nas
instituições de ensino seja reflexo dessas
concepções tradicionais, causando lacunas
na formação inicial dos professores nessa
área de conhecimento, o que pode refletir
negativamente na prática pedagógica em
sala de aula.
Nesse contexto, pesquisadores e
professores, (Chassot, 2006; Auler, 2007;
Pinheiro, Silveira e Bazzo, 2007; Santos e
Schnetzler, 2010), fazem críticas a essa
visão e defendem um Ensino de Ciências
contextualizado e interdisciplinar,
articulado com os contextos científicos,
econômicos, tecnológicos, éticos,
ambientais, sociais, culturais e políticos.
Na LEdoC, na área de Ciência da
Natureza começou a ser discutida a
formação de professores de maneira
coletiva, a partir da primeira turma de
LEdoC do Instituto de Educação Josué de
Castro, em parceria com o Iterra/UnB,
concluída em 2011. Essas discussões
possibilitaram a percepção da pouca
atenção dada às Ciências da Natureza na
Educação do Campo, chegando ao
entendimento de que é preciso ouvir e
dialogar mais com os professores dessa
área (Caldart, Stedile & Daros, 2015).
A formação de professores em
Ciências da Natureza para a educação
do/no campo na UFFS - Campus Erechim
explicita que é essencial resgatar, tanto a
identidade cultural, quanto a valorização
dos sujeitos em seu espaço social. Para
isso, se faz necessário articular as práticas
pedagógicas direcionadas à sua cultura e às
suas vivências no desenvolvimento do
conhecimento científico e tecnológico
interligado aos saberes e às práticas
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populares. Para Arroyo, Caldart e Molina
(2004), a Educação do/no Campo não
expressa somente o seu lugar, mas seus
sujeitos, no sentido de valorização dos
conhecimentos de suas práticas sociais
camponesas, enfatizando o campo como
lugar em construção e desenvolvimento
sustentável de seu espaço.
Todavia, esse direito à educação
ficou esquecido e foi negado por muito
tempo em políticas públicas sociais e
educacionais para a população campesina
(Arroyo, Caldart & Molina, 2004). A
educação é um direito humano e deve ser
garantido a todos os seres humanos,
independentemente de qualquer condição
pessoal ou social (cor de pele, orientação
sexual, classe social e etnia). Ela pode
ocorrer no âmbito da família, no trabalho,
nos sistemas escolares e na comunidade.
Os sistemas escolares fazem parte
desse processo, caracterizado como
organização legal em regime de
colaboração com os outros sistemas
(municipais, estaduais e federal). São,
contudo, espaços de intencionalidades
conscientes ou não. Com a educação
escolar são acessados, por exemplo, os
bens culturais, as leis e as normas, a
ciência, a tecnologia e a participação
consciente e responsável no
desenvolvimento político (Haddad, 2012).
O respeito à identidade e aos sujeitos
que ali se encontram imbricados (povos do
campo) possibilita o cultivo de um
conjunto de princípios que podem orientar
as práticas educativas, favorecendo a
ligação entre a formação do licenciado e a
formação para uma postura crítica na vida
e na comunidade, onde se encontra
inserido. O processo de ensino e
aprendizagem deveria permitir o
enriquecimento do espaço cultural e social
dos sujeitos do e no campo, sem perder sua
identidade, potencializando seu espaço e
desenvolvendo, a partir de sua realidade, a
construção dos conhecimentos científicos,
tão necessários nos espaços de formação
das salas de aula da escola básica e da
também da universidade.
Os sujeitos do e no campo, quando
inseridos nos espaços formativos, são
portadores de uma diversidade de saberes e
de práticas diárias: esses conhecimentos
podem ser o ponto de partida para a
construção de conceitos no Ensino de
Ciências. A despeito disso, é essencial
superar aquela visão tradicionalista e
estereotipada de que os sujeitos que vivem
no campo são atrasados, arcaicos e
desqualificados em relação aos que vivem
na realidade urbana (Arroyo, Caldart &
Molina, 2004). É preciso reconstruir um
novo olhar acerca do espaço rural e dos
sujeitos que nele vivem, superando a
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ideologia mercadológica e do agronegócio.
Essa visão tem historicamente construído
uma retrógrada identidade cultural do e no
campo, o que faz do campo um lugar que,
por assim dizer, passa despercebido do
meio urbano.
Assim, para que ocorra construção
dos conhecimentos científicos e
tecnológicos, é preciso resgatar a maneira
de pensar dos sujeitos do campo. Trata-se
de uma tentativa de superar as fragilidades
que foram impostas aos sujeitos por um
modelo de sociedade que constantemente
evidencia um único modelo cultural o
modelo capitalista (Fernandes, Cerioli &
Caldart, 2011). O ponto de partida seria
demonstrar que os sujeitos que vivem no
campo trazem uma cultura e identidade
própria de valorização das características
do campo uma cultura e identidade que
precisam ser respeitadas. Importante é
utilizar os recursos do local de convívio do
estudante, pois são experiências ricas e
potencializam tanto o processo de ensino e
aprendizagem, quanto o avanço no
conhecimento científico (Chassot, 2006).
É nessa ótica que entendemos que a
valorização da cultura dos povos do campo
traz, nos processos formativos, um
sentimento de pertença ao lugar e também
ao grupo social. É importante formar uma
identidade social e cultural, de maneira a
potencializar no educando o entendimento
de si como sujeito do campo e o modo
como se pode transformar esse
entendimento por meio da organização e
do trabalho.
Quando os povos do e no campo
começam a agir como integrantes de seu
grupo social, então reconhecem a sua
própria identidade, potencializam as
possibilidades de transformação da
realidade e modificam a visão fragmentada
imposta pelo sistema capitalista. Os
sujeitos, quando se reconhecem, então se
posicionam diante das várias
transformações e descobrem nas vivências
sociais um sentimento que viabiliza a
defesa de seus objetivos e ideais, recriando
maneiras de convivência sem distanciar-se
de sua identidade cultural.
Esses sujeitos do e no campo, a
partir de seus posicionamentos definidos,
formulam políticas públicas que atendem
aos educandos camponeses para que
possam também usufruir de uma educação
de qualidade. Caldart (2004) explicita que
a luta por políticas públicas no e do campo
é a única maneira de universalizar o acesso
de todo o povo a uma educação de
qualidade. É ao educar na luta que se
garantem os direitos, a preservação da
identidade e da cultura, o apreço ao lugar
onde se vive, a participação ativa é
conquistada, enquanto direito de todos os
povos do e no campo.
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Respeitar a identidade cultural dos
sujeitos do campo é revelar a diversidade
na organização e na produção de saberes,
de conhecimentos, de valores e de
singularidades culturais. Tais questões
devem estar presentes durante os processos
formativos, respeitadas e consideradas nas
propostas pedagógicas e curriculares,
dando significado e potencializando os
sujeitos a apropriarem-se dos
conhecimentos produzidos pela
humanidade. Desse modo, os sujeitos do e
no campo reconstroem a sua identidade,
conjuntamente com sua realidade e os
conhecimentos científicos, na formação do
licenciado e presente nas práticas
pedagógicas.
Reconhecer, valorizar e legitimar o
projeto de Educação do Campo e sua
diversidade cultural como processo de
construção das diferenças e dos saberes
dos sujeitos é um processo inerente à
produção cultural, política, econômica e de
gênero. Precisa ser assumida nas práticas
pedagógicas dos componentes na UFFS e
nas práticas de alternância enquanto
horizonte fundamental de pensar e de
construir uma educação do e no campo que
possibilite ao sujeito do campo a qualidade
da educação, com respeito à sua identidade
e cultura. Ser sujeito de si e da própria
Educação do Campo é um desafio para a
pretensa formação cidadã.
O regime de alternância que
entrelaça TU e TC contempla, entre os
seus princípios metodológicos, o do
diálogo, que pode estreitar a relação entre
os sujeitos e entre os saberes
populares/práticas presentes nas
comunidades e o conhecimento científico.
Com base nisso, mesmo com todas as
dificuldades e os desafios impostos pela
atual conjuntura política e econômica, o
TC apresenta uma outra forma de fazer a
escola do campo, de avaliação, da relação
da comunidade com os conteúdos, das
mediações pedagógicas, das relações da
ciência e tecnologia com o trabalho, dos
princípios organizacionais e da relação
entre quem ensina e quem aprende.
Entende-se, portanto, que o TC é um
potencializador da Prática como
Componente Curricular. O parecer CNE
15/2005 determina que:
A prática como componente
curricular é o conjunto de atividades
formativas que proporcionam
experiências de aplicação de
conhecimentos ou de
desenvolvimento de procedimentos
próprios ao exercício da docência.
Por meio destas atividades, são
colocados em uso, no âmbito do
ensino, os conhecimentos, as
competências e as habilidades
adquiridas nas diversas atividades
formativas que compõem o currículo
do curso (Brasil, 2005, p. 3).
Dessa forma, verifica-se que a
prática, ao ser tomada como componente
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curricular, deve estar presente em todo o
curso, em todos os componentes,
articulando os tempos, espaços e processos
e não apenas no período de estágio
curricular obrigatório. Essa articulação
entre o TC e TU, ao mesmo tempo em que
se constitui em um desafio, também pode
ser entendida como uma potencialidade
para uma Educação do Campo
contextualizada e articulada com a
realidade das comunidades, dos sujeitos e
das escolas, podendo ser, talvez, uma
ferramenta para diminuir a evasão nos
cursos de LEdoC.
Pensando no contexto e nos sujeitos
da LEdoC da UFFS do Campus Erechim e
na necessidade de formar professores
capazes de compreenderem as contradições
enfrentadas pelos sujeitos que vivem no
campo, reforça-se, aqui, a importância da
articulação e discussão sobre os aspectos
científicos e tecnológicos com a identidade
cultural dos sujeitos, respeitando os
diferentes povos do campo e as suas
diferentes especificidades, assim como os
aspectos pedagógicos relacionados à
organização e ao trabalho no regime de
alternância.
O TC é fundamental para a
compreensão dos problemas e dos desafios
enfrentados pelos sujeitos do campo e da
sua comunidade, bem como para
identificar de maneira coletiva as diversas
perspectivas na formação de professores
em Ciências da Natureza. Neste momento
acentua-se a percepção da identidade
cultural e social dos sujeitos, por exemplo,
a culinária, os costumes, os mitos, o
artesanato e os saberes populares, que
podem ser um ponto de partida para a
abordagem dos conceitos científicos e
tecnológicos e suas implicações para a
sociedade (comunidade).
Assim, a intensa relação entre as
plantas medicinais, o artesanato, os
costumes e as crenças, a culinária, a
produção e a conservação de alimentos,
dentre outros, com a realidade encontrada
pelos/as acadêmicos/as da LEdoC em suas
comunidades, na maioria indígenas,
instigou os professores do CIEdoCCN-L a
buscarem estratégias, especificamente no
Ensino de Ciências, para a abordagem dos
conceitos científicos, fazendo da sala de
aula um espaço para os sujeitos refletirem
e construírem novas práticas científicas em
suas comunidades, bem como
potencializando novas experiências e
novos saberes.
Os conhecimentos relacionados às
plantas medicinais na cultura indígena
(saber sensível dos Kujã), mas também dos
demais povos do campo, podem ser
explorados na Química, na Biologia e na
Física, de maneira interdisciplinar, como: a
importância das plantas, seus nomes, suas
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indicações terapêuticas, como preparar
remédios e como tomar esses preparados
(Ribeiro & Ballivian, 2013), as
contraindicações, as propriedades
químicas, biológicas e físicas, as
características biológicas das plantas, as
relações da ciência e da tecnologia na
produção de medicamentos e os interesses
das empresas farmacêuticas nesses saberes.
Esses são conhecimentos subjacentes nas
práticas pedagógicas na universidade.
Destaca-se a importância de esses aspectos
serem inter-relacionados, pois eles
potencializam a ampliação da construção
de conhecimentos nos espaços da
universidade e na comunidade.
Na culinária podem ser explorados
os itens básicos da alimentação tradicional,
tais como os nomes, a importância, o
período de produção, os produtos livres de
venenos, a preparação e os hábitos
alimentares saudáveis (Ribeiro &
Ballivian, 2013). Ainda cabe tratar da
segurança alimentar, da fome, do lixo
produzido, das embalagens, dos fast foods
e das relações de poder das empresas
alimentícias e a influência da mídia.
As articulações midiáticas com as
empresas capitalistas são intensas e atuam
diretamente nos espaços da comunidade
mediante a ação da indústria televisiva
demonstrando, de modo ilusório, o
consumo de alimentos industrializados, e
então essa culinária artificial causando a
perda cultural de alimentos tradicionais e
culturais que historicamente foram se
construindo no interior das comunidades.
O espaço da sala de aula possibilita a
compreensão dessa indústria cultural e o
consumo capitalista, potencializando um
retorno a hábitos alimentares, originários
das relações culturais e da natureza,
fundamentais para o desenvolvimento
saudável da comunidade.
Os tipos de produção de alimentos
(plantio e colheita), manejo de adubação
verde, as sementes tradicionais e as
técnicas de conservação (Ribeiro &
Ballivian, 2013), os problemas ambientais,
a agroecologia, a relação da alimentação e
a saúde, a chamada "revolução verde" e as
relações com ciência e tecnologia, os
interesse econômicos e políticos na
produção de alimentos, todos são exemplos
de aspectos que podem ser explorados nos
processos pedagógicos integrados com a
organização e o trabalho, discutindo a
Química, a Física e a Biologia, respeitando
a identidade cultural, as especificidades e,
ao mesmo tempo, valorizando a
diversidade dos sujeitos.
Os desafios na formação de
professores em Ciências da Natureza para
as escolas do/no campo são múltiplos e
constantes. O Programa Nacional de
Educação do Campo (PRONACAMPO),
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por exemplo, de que a UFFS participou em
relação ao edital de 2012, visava à
implementação de políticas de Educação
do Campo e Indígena, tendo em vista à
ampliação do acesso e da permanência e
qualificação da educação superior na
formação inicial e na formação continuada
de professores e de outras diversas ações
em todas as etapas de ensino. Esse
programa foi importante para tentar
diminuir as desigualdades de acesso e de
permanência na educação superior. Foram
mais de quarenta (40) instituições de
educação superior (Federais e Estaduais)
que implantaram cursos de LEdoC em
diversas áreas do conhecimento.
Todavia, com os desafios impostos
pela atual conjuntura política e econômica,
bem como com as questões ideológicas, há
uma enorme dificuldade da maioria das
instituições em manter em pleno
funcionamento os cursos de Educação do
Campo. Diversos cortes de recursos têm
acontecido tornando difícil a manutenção
de condições nimas, como o transporte
para o TC e a realização de estágios,
fundamentais em qualquer curso de
licenciatura.
Como mencionado, o TC
apresenta uma maneira diferenciada de
fazer a Educação do Campo, de avaliação,
da relação da comunidade com a
universidade, das mediações pedagógicas,
das inter-relações de ciência e tecnologia
com o trabalho e dos princípios
organizacionais e da relação entre
professores e estudantes. O TC, quando
bem articulado com a comunidade, pode
contribuir para superar outro desafio
enfrentado no curso, a evasão escolar,
assunto que precisa de mais discussões e
reflexões nesse processo.
Outro desafio enfrentado pelos
sujeitos durante a realização do curso é a
dificuldade em acompanhar os
componentes curriculares específicos em
Química, em Física e em Biologia. Talvez
essa dificuldade ocorra pela caminhada na
educação básica, onde essas disciplinas,
muitas vezes, eram ministradas por
professores sem formação específica na
área, bem como pela falta de relação dos
conteúdos com os saberes e as práticas
existentes na comunidade. Por isso, busca-
se a articulação de maneira interdisciplinar
em todos os componentes e em todas as
fases do curso no TC e no TU, relacionado
com a dinâmica cultural e social dos
sujeitos.
Entende-se, portanto, que o TC com
o TU constituem-se em processo de
formação de bases sólidas, pensado de
maneira coletiva pelos sujeitos do e no
campo, pela comunidade e pela
universidade. Cabe destacar que temos
ainda muito em fazer, mas percebemos que
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estamos num caminho mais sensato e
eficiente no desenvolvimento das práticas
pedagógicas. A certeza que nos
potencializa é o TC imbricado/articulado
ao TU.
Tanto assim é que os conhecimentos
construídos no contexto da comunidade do
e no campo, bem como os elementos
científicos abordados nas práticas
pedagógicas, enriquecem a formação de
estudantes e de professores. As pesquisas,
a extensão e o ensino universitários são
construídos pensando nos TC, com o TU
explicitado nos documentos, fortalecendo a
qualidade na educação, como na produção
de novos saberes e conhecimentos.
Considerações finais
Os desafios encontrados na formação
inicial de professores em Educação do
Campo na área de Ciência da Natureza são
constantes, tais como: necessidade de
investimentos financeiros básicos para
atender ao desenvolvimento do TC e do
estágio, a evasão e a dificuldade dos
acadêmicos em acompanhar os
componentes curriculares específicos (em
química, em física e em biologia) do
CIEdoCCN-L. Para minimizar esses
desafios, a articulação entre o TU e TC
tornou-se uma alternativa, porém ainda se
fazem necessárias mais discussões e
reflexões. A interdisciplinaridade que
acontece no TU e no TC pode ajudar
professores e estudantes a superar essas
dificuldades no processo de ensino e
aprendizagem.
Esse processo nos instiga a promover
discussões e reflexões, buscando novos
caminhos e perspectivas, tais como
políticas sociais e educacionais, a
necessidade de compreensão da identidade
social e cultural dos sujeitos em formação,
a valorização da diversidade e dos
interesses coletivos frente à lógica do
sistema capitalista.
Assim, percebe-se que a alternância -
com o TC em diálogo com o TU -, se torna
um potencializador da prática como
componente curricular, haja vista que
procura aproximar todos os componentes
curriculares do curso, a realidade das
comunidades, da escola e dos seus sujeitos.
Essa conexão com a comunidade acentua a
percepção dos problemas e das
possibilidades. Tais elementos podem ser
os pontos de partida para a identificação de
temas para a articulação com as Ciências
da Natureza, permitindo compreender as
contradições e os problemas complexos de
ordem ambiental, social, tecnológica,
científica, econômica, politica, ética e
ideológica.
Assim, portanto, o Ensino de
Ciências pode ser abordado por meio de
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temas que emergem da realidade e das
discussões coletivas com os diferentes
sujeitos das comunidades. A relação e a
interação dos saberes populares/práticas
dos sujeitos e os conhecimentos científicos
e tecnológicos, de forma dialética, podem
instrumentalizar os povos do campo para a
luta por igualdade e por justiça social. A
compreensão da realidade e das mazelas
que tecem a ordem social pode motivar a
luta por questões de interesse coletivo e
pela formação para a cidadania,
contrapondo-se, assim, à ordem capitalista,
na qual os valores econômicos e políticos
se impõem aos demais valores,
aprofundando a desigualdade e a exclusão.
Os saberes que emergem das
comunidades do e no campo são os
potencializadores das práticas pedagógicas
e formativas, tanto do discente como do
docente. O TC aliado ao TU nos
proporciona meios para encontrar uma
nova maneira de construir
saberes/conhecimentos. um sentimento
de pertencimento dos sujeitos nos
processos de ensino e aprendizagem. O
conhecimento científico não fica
descontextualizado, mas integrado à
realidade do estudante. O professor
também aprende em todos os processos de
ensino, tanto nas experiências científicas
nos laboratórios, como em sala de aula e
no TC. O TC, articulado com o
conhecimento científico do TU, nos ensina
a sermos sujeitos produtores de
conhecimentos, possibilitando ter atitude
ativa no ato de construir, especialmente, na
formação do Licenciado, para que assuma
o compromisso do que é ser professor.
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Recebido em: 27/07/2017
Aprovado em: 01/08/2017
Publicado em: 13/12/2017
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Prsybyciem, M. M., Santos, A. P., & Sartori, J. (2017).
Formação de professores em Ciências da Natureza
para escolas do/no campo na UFFS campus
Erechim: perspectivas e desafios. Rev. Bras. Educ.
Camp., 2(3), 941-964. DOI:
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4863.2017v2n3p941
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PRSYBYCIEM, M. M.; SANTOS, A. P.; SARTORI,
J. Formação de professores em Ciências da Natureza
para escolas do/no campo na UFFS campus
Erechim: perspectivas e desafios. Rev. Bras. Educ.
Camp., Tocantinópolis, v. 2, n. 3, p. 941-964, 2017.
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Moises Marques Prsybyciem
http://orcid.org/0000-0001-8220-7416
Almir Paulo dos Santos
http://orcid.org/0000-0002-9283-3178
Jeronimo Sartori
http://orcid.org/0000-0002-5753-8894
Revista Brasileira de Educação do Campo
DOSSIÊ / ARTIGO
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Fenômenos como mediadores do processo educativo em
Ciências da Natureza e Matemática na Educação do
Campo
Marcelo Gules Borges
1
, Juliano Espezim Soares Faria
2
, Elizandro Maurício Brick
3
1
Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC. Departamento de Educação do Campo. Centro de Ciências da
Educação. Campus Reitor João David Ferreira Lima s/n. Trindade. Florianópolis - SC. Brasil.
marcelo.borges@ufsc.br.
2
Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC.
3
Universidade Federal de Santa
Catarina - UFSC.
RESUMO. A partir do estudo dos fenômenos apresentamos
neste artigo as possibilidades de seus usos nas licenciaturas em
Educação do Campo como categoria conceitual que articula
Ciências da Natureza e Matemática à materialidade e à
realidade. Tendo como universo empírico uma prática
pedagógica realizada na Licenciatura em Educação do Campo
da Universidade Federal de Santa Catarina analisamos as
estratégias tomadas e caminhos seguidos na elaboração de
estudos de conhecimentos específicos das Ciências da Natureza
e Matemática na delimitação da dimensão natural de fenômenos
socialmente relevantes no contexto de origem dos licenciandos.
Com base na experiência descrita e sob inspiração da
fenomenologia discutimos o papel e a potencialidade dos
fenômenos como mediadores e organizadores dos
conhecimentos coproduzidos com o mundo.
Palavras-chave: Fenômenos, Ensino de Ciências da Natureza e
Matemática, Educação do Campo.
Borges, M. G., Faria, J. E. S., & Brick, E. M. (2017). Fenômenos como mediadores do processo educativo em Ciências da
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Phenomena as mediators in science education and
mathematics in the Educação do Campo (Education for
and by the countryside)
ABSTRACT. From the study of the phenomena, we present in
this article the possibilities of its uses in the Educação do
Campo (Education for and by the countryside) as a concept that
articulates Natural Sciences and Mathematics, materiality and,
reality. From an experience in the Educação do Campo course at
the Federal University of Santa Catarina, we analyze the
strategies adopted and the paths followed in the studies of
concepts from the natural sciences and mathematics in the
delimitation of the natural dimension of phenomena in the life
context of the undergraduate’s students. Based on this
experience and inspired by phenomenology, we discuss the role
and potential of phenomena as mediator and organizer of the
knowledge coproduced with the world.
Keywords: Phenomena, Science Education and Mathematics,
Rural Education.
Borges, M. G., Faria, J. E. S., & Brick, E. M. (2017). Fenômenos como mediadores do processo educativo em Ciências da
Natureza e Matemática na Educação do Campo...
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Fenómenos como mediadores del proceso educativo en
Ciencias de la Naturaleza y Matemáticas en la Educação
do Campo (educación rural)
RESUMEN. A partir del estudio de los fenómenos presentamos
en este artículo las posibilidades de sus usos en las licenciaturas
en Educación del Campo como categoría conceptual que articula
Ciencias de la Naturaleza y Matemática a la materialidad y la
realidad. Desde la práctica pedagógica realizada en la
Licenciatura en Educación del Campo de la Universidad Federal
de Santa Catarina analizamos las estrategias tomadas y caminos
seguidos en la elaboración de estudios de conocimientos
específicos de las Ciencias de la Naturaleza y Matemáticas en la
delimitación de la dimensión natural de fenómenos socialmente
relevantes en el ámbito del contexto de origen de los
licenciandos. Con base en la experiencia descrita y bajo
inspiración de la fenomenología discutimos el papel y la
potencialidad de los fenómenos como mediadores y
organizadores de los conocimientos coproducidos con el mundo.
Palabras clave: Fenómenos, Enseñanza de Ciencias Naturales y
Matemáticas, Educación Rural.
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Natureza e Matemática na Educação do Campo...
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Introdução
O que temos aprendido quando
organizamos nossos estudos e docência no
contexto do Ensino das Ciências da
Natureza e Matemática na Educação do
Campo a partir de fenômenos do mundo
material? Tal pergunta mobilizou nossas
reflexões diante da experiência educativa
realizada no âmbito da Licenciatura em
Educação do Campo da Universidade
Federal de Santa Catarina (UFSC) em
2015, na disciplina denominada
Fundamentos das Ciências da Natureza e
Matemática na Educação do Campo II,
oferecida na 4
a
fase deste curso.
Considerando o aparato conceitual
dos componentes curriculares Biologia,
Física e Matemática e os princípios da
Educação do Campo, propusemos
organizar as atividades da disciplina a
partir da delimitação e estudo dos
fenômenos com relevância social do ponto
de vista da população local. Depois de
iniciar esse movimento é que então
realizamos desdobramentos a partir de
conceitos específicos da Biologia, da
Física e da Matemática para a
compreensão dos fenômenos na/e da
realidade.
Este artigo tem por objetivo analisar
uma prática pedagógica na Licenciatura
Educação do Campo a fim de discutir e
destacar os modos pelos quais os
fenômenos podem ser potentes para o
Ensino das Ciências da Natureza e
Matemática. Do ponto de vista
metodológico trata-se de uma investigação
qualitativa, sendo os principais
investigadores nativos do contexto em
questão, o que propiciou o uso da "auto-
observação" (Gutiérrez & Delgado, 1998),
na qual os próprios autores fazem parte do
sistema a ser analisado. Desse modo,
foram realizadas observações-participante
e anotações em diário de campo como
fonte primária, bem como buscas de
literatura (fontes secundárias) demandadas
pelo movimento de construção do trabalho.
O texto está organizado em três
partes. Primeiramente, apresentamos
alguns aspectos teóricos acerca do
entendimento da noção de fenômeno e seus
usos na literatura educacional, situando o
leitor sobre o lugar de fala assumido pelos
autores. Na segunda, descrevemos o
processo educativo, tratando de detalhes da
componente curricular, da forma como
identificamos e selecionamos fenômenos e
de como mobilizamos conceitos
específicos das Ciências da Natureza e
Matemática para compreendê-los. Na
terceira, tecemos algumas considerações
sobre a experiência, apontando as
potencialidades, bem como, os limites que
no servem de horizonte para práticas
pedagógicas futuras.
Borges, M. G., Faria, J. E. S., & Brick, E. M. (2017). Fenômenos como mediadores do processo educativo em Ciências da
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Fenômenos no Ensino de Ciências da
Natureza e Matemática na Educação do
Campo
A proposta de uma organização de
estudos e docência baseada em fenômenos
no contexto desta experiência partiu de
necessidades pontuais relativas à nossa
atuação na Licenciatura em Educação do
Campo da UFSC. De um lado, está o
desafio constante de atuar por área de
conhecimento, realizando movimentos
interdisciplinares, de um modo que não fez
parte de nossa formação acadêmica
disciplinar. De outro, a característica
inerente à componente curricular na qual
atuamos naquela oportunidade,
Fundamentos das Ciências da Natureza e
Matemática II, oferecida na 4
a
fase do
curso. No currículo desta licenciatura, é a
partir da 3
a
fase (até a última) que os
estudantes cursam semestralmente
componentes curriculares desta natureza.
Seu princípio organizador, conforme
Projeto Político Pedagógico (UFSC, 2009),
é de que os estudantes possam experienciar
o movimento de diálogo entre as
disciplinas na análise das diferentes
dimensões da realidade. Ao mesmo tempo
em que ela tem o objetivo de preparar os
estudantes do ponto de vista conceitual
desde as diferentes disciplinas da área de
conhecimento das Ciências da Natureza e
Matemática, é a partir dela que se ensaiam
movimentos multi/interdisciplinares de
organização do conhecimento.
Rotineiramente, afirmamos que esta
componente curricular é uma referência
para a própria atuação futura dos
estudantes nas escolas do campo, seja pela
sua natureza multidisciplinar seja por
exigir movimentos de diálogo entre
docentes e colegas estudantes na definição
e organização dos estudos.
Colocar os fenômenos na
centralidade deste processo, em nossa
atuação, isto é, organizar a disciplina com
base em estudos dos conhecimentos
específicos da área em direção à
compreensão dos fenômenos, garantiria, de
partida, nossa atenção ao mundo natural, o
que em nosso entendimento potencializa a
aprendizagem dos conhecimentos das
Ciências da Natureza e Matemática nas
licenciaturas em Educação do Campo.
Ainda, a clareza do pressuposto
inicial para esta escolha dos fenômenos
como organizador dos estudos nas
disciplinas de Fundamentos das Ciências
da Natureza e Matemática remete ao tempo
e carga-horária dedicada no curso para as
componentes curriculares do núcleo
específico de conhecimento objeto de
ensino dos educadores que se está
formando. Nesse sentido, uma abordagem
baseada em fenômenos nos respectivos
territórios tem a função de não somente
articular a produção de conhecimentos e as
Borges, M. G., Faria, J. E. S., & Brick, E. M. (2017). Fenômenos como mediadores do processo educativo em Ciências da
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realidades locais, mas, especialmente,
focalizar a atenção dos estudantes e
educadores ao desafio de mobilizar as
produções advindas da Biologia, da Física
e da Matemática. Ou seja, as discussões
sociais e ambientais associadas aos
fenômenos tem sua tematização prevista
para um plano em outra escala, isto é, os
fenômenos foram ponto de partida para os
aprofundamentos conceituais e não como
exemplos genéricos, sem vínculo
significativo algum com a realidade dos
estudantes. As discussões
supramencionadas faziam parte da
componente curricular em curso, cujo foco
consistia no estudo e apropriação das redes
conceituais de interpretação dos
fenômenos desde as diferentes áreas.
Parte de nossa premissa teórica
considera que não bastariam apenas os
conhecimentos dos elementos biofísicos,
mesmo considerando os diferentes campos
disciplinares que o compõem, para garantir
a compreensão dos fenômenos e suas
relações nos diferentes sistemas biofísicos
e socioeconômicos das relações humanas
nos diferentes territórios (Francis et al.,
2013). Deste modo, cabe ressaltar que o
estabelecimento de relações com a
realidade, com a vida cotidiana dos
sujeitos, não estava determinada
inicialmente como movimento da
componente curricular, já que este era pré-
requisito para seleção dos fenômenos.
Assim, podemos dizer que a noção
de fenômeno que aqui utilizamos advém de
um senso prático (Bourdieu, 2009) do
ponto de vista da prática docente. Ou seja,
os fenômenos permitem uma busca
incessante em organizar e produzir
situações de aprendizagem que priorizem
os conhecimentos das Ciências da
Natureza e da Matemática, como forma de
potencializar diferentes percepções da
realidade imediata, da vida das populações,
dos docentes e dos próprios estudantes em
seus territórios. A opção pelo uso dos
fenômenos não deixa de ser uma busca
prática de resposta a estas questões, que
os fenômenos são a mediação material e
discursiva entre mundo e conceitos.
Entre mundo e conceitos há fenômenos
Temas, conceitos e fenômenos são
construtos humanos. Poderíamos dizer que,
desde uma noção construtivista e
representacional são coproduzidos no
âmbito da linguagem. Temas e conceitos
são textos das Ciências (no sentido
hermenêutico) sobre a natureza. Da mesma
forma que a própria ideia de natureza é um
texto sobre seu próprio referente.
Fenômenos também, contudo carregados
de materialidade (física e social). Os
fenômenos são mediadores do texto da
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ciência e da textura do mundo. De outro
modo, são a mediação material e
discursiva entre mundo e conceitos.
Longe de realizarmos uma digressão
conceitual a respeito dos fenômenos, é na
tradição fenomenológica da filosofia
continental (Husserl e Merleau-Ponty) que
encontramos sentido (prático) para aquilo
que entendemos ser o argumento que
fundamenta este tipo de abordagem para o
ensino por área de conhecimento.
Desde uma premissa fenomenológica
os fenômenos estão ancorados no mundo
pré-objetivo sempre em contextos
(Merleau-Ponty, 2014). Aprender, neste
sentido, é considerar que estamos imersos
em um mundo material carregado de
contextos culturais. Assim, uma
abordagem fenomenológica balancearia a
predominância de explicações conceituais
abstratas conectando-as com os modos de
estar e agir no mundo, como base para uma
compreensão da vida e da realidade. Nesta
abordagem o ensino de Ciências da
Natureza e Matemática é caracterizado
pelo uso de um contexto específico como
ponto de partida para delimitação dos
fenômenos, bem como, para
desenvolvimento de compreensão das
ideias científicas.
A aprendizagem baseada em
contexto é semelhante à abordagem
fenomenológica, uma vez que ambos
visam superar o fosso entre o mundo
da vida e os conceitos científicos. No
entanto, eles diferem
substancialmente em um ponto, pois
os professores de ciência com
inspiração fenomenológica tendem a
considerar os fenômenos do mundo
da vida como a própria base e não
meras ilustrações do conhecimento
científico. Assim, na fenomenologia,
não se busca o contexto apropriado
para promover a compreensão dos
alunos sobre os conteúdos
específicos da ciência, mas mais do
que isso procura-se desenvolver a
capacidade dos alunos em desvelar
os fenômenos do mundo da vida
como uma entrada na compreensão
da natureza (Ostergaard et al., 2008,
p. 98).
A título de exemplo, cabe aqui
mencionar a experiência conduzida por
Francis et. al. (2013). Nesta prática os
autores retratam o papel da fenomenologia
naquilo que chamam de uma “educação
agroecológica”. Sob inspiração da
aprendizagem baseada em fenômenos
(phenomenon-based learning) no ensino de
ciências da natureza os autores partem da
premissa de que comparado com
estratégias práticas que promovem uma
aprendizagem holística e ampla, o
movimento de especialização na academia
a partir das disciplinas nas recentes
décadas tem conduzido a uma formação
especialista cada vez mais restrita aos seus
campos. Em síntese, a atenção dada à
teoria tem sido distante da realidade de
vida das pessoas.
Ainda que o estudo se refira à
formação em Agroecologia (o que
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inclusive é projeto político-pedagógico do
movimento da Educação do Campo) os
autores defendem que o foco nos
elementos dos sistemas não é suficiente
para compreensão da realidade, ou seja, é
preciso uma compreensão dos sistemas
como um todo, o qual englobaria
compreender os fenômenos desde um
ponto de vista biofísico, econômico, social
e cultural: desde os diferentes métodos das
Ciências Humanas, da Natureza e da
Matemática.
Os fenômenos com os quais
operamos aqui são tentativas de um
esforço teórico de apreender com o mundo
material e os discursos das ciências a
natureza em sua noção mais física
possível. A radicalidade da forma como
tratamos os fenômenos não pode ser
descolada do cotidiano da vida dos
estudantes. Como afirmamos
anteriormente, trata-se de um desvio
intencional, não excludente das discussões
contextuais.
É exatamente na fisicalidade do
mundo (da natureza) e seus processos de
produção e de transformação que
fenômenos são coproduzidos pelos
discursos da ciência. O que propomos
fazer, em certo sentido, é operar com o
plano material dos conceitos no sentido de
potencializarmos as aprendizagens das
Ciências na Educação do Campo.
Nossa inspiração é em parte do
movimento contemporâneo denominado
virada ontológica
i
, o qual inclui
pesquisadores que buscam o esforço de
escapar dos dualismos do mundo moderno,
dentre os quais matéria-linguagem, pois
fenômenos são constitutivos da realidade e
esta é composta não de coisas por elas
mesmas ou coisas atrás” dos fenômenos,
mas por coisas nos fenômenos (Barad,
2007; Higgins, 2016).
Por fim, os fenômenos, antes de
qualquer coisa, são necessariamente
materiais e físicos. No contexto desta
experiência que apresentamos seus
critérios de escolha remetem a um
posicionamento político claro e objetivo.
Trata-se de fenômenos que importam na
vida cotidiana das populações do campo.
Neste sentido, é de outra materialidade que
também queremos falar, aquela vinculada e
vivida desde o ponto de vista social,
econômico, cultural e ambiental nos
territórios. Essa é parte da premissa a
priori que identifica o modo pelo qual
estamos tratando os fenômenos, e de forma
mais específica o que chamamos de
fenômenos da natureza (aqueles
considerados objeto de conhecimento pelas
Ciências da Natureza). Ou seja,
compreendemos que não fenômenos
que não sejam banhados de realidade. É o
que passamos a mostrar a seguir.
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A prática pedagógica
A prática educativa docente que
inspirou a análise ocorreu na quarta fase do
referido curso, na componente curricular
intitulada Fundamentos das Ciências da
Natureza e Matemática na Educação do
Campo II. Esta componente curricular tem
caráter de aprofundar conhecimentos
específicos das áreas das Ciências da
Natureza e Matemática e foi ministrada por
docentes da área de Ensino de Física,
Ensino de Matemática e Ensino de
Biologia. Esta componente foi cursada por
estudantes da região do Vale Contestado,
especificamente dos municípios de
Curitibanos, Frei Rogério, Fraiburgo e
Timbó Grande, e São Pedro de Alcântara,
na região da Grande Florianópolis em
Santa Catarina.
Diante da ementa
ii
da referida
componente curricular e ao considerar
nossa prévia relação acadêmica, na qual
desenvolvemos juntos trabalhos ligados a
outras turmas do curso, as ideias que
surgiram em nossos planejamentos foram
criando espaço para esta experiência que
visava o seguinte movimento: 1) definir
em conjunto com os estudantes fenômenos
com ocorrência e relevância nos seus
respectivos territórios; 2) delimitar a
dimensão natural dos fenômenos
escolhidos; 3) estudar os conceitos da
Biologia, da Física e da Matemática
necessários para a compreensão dos
fenômenos; 4) bem como, a mobilização
dos mesmos para estudar os fenômenos e
seus impactos nos desdobramentos sociais
do local. Este arranjo nos fez decidir que o
plano de ensino poderia ser socializado
a partir do momento em que estivessem
delimitados os objetivos ligados aos
fenômenos que seriam elencados e
selecionados para estudo.
Baseado no diagnóstico de realidade
(produto final do primeiro ano do curso) e
demais registros de atividades dos
Tempos-Comunidade (TC) dos semestres
anteriores
iii
, a primeira atividade realizada
consistiu em identificar fenômenos ligados
à realidade local na qual os estudantes
realizavam o TC. Feita a primeira seleção
de fenômenos, com o intuito de ampliar o
olhar sobre os itens da seleção, os
estudantes realizaram uma pesquisa de
fontes secundárias sobre os
territórios/fenômenos no acervo da
biblioteca universitária, no google
acadêmico, nos materiais utilizados e
produzidos em outros momentos do curso
e em outros mecanismos de busca. Na
tabela que segue, a primeira coluna é
constituída pelos fenômenos elencados
pelos estudantes e a segunda, as
referências pesquisadas:
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Tabela1: Fenômenos localizados preliminarmente pelos estudantes e as respectivas referências encontradas.
FENÔMENOS
REFERÊNCIAS LOCALIZADAS
1. Avanço Industrial
2. Precarização do Campo/Escola
3. Saída das pessoas do campo
3.1. Predomínio da indústria madeireira
3.2. Produção de pasta mecânica
3.3. Produção de celulose
3.4. Desemprego
3.5. Vilas em torno das empresas
3.6. Construção de PCHs
3.7. Precarização das áreas periféricas
3.8. Jovens não projetam o futuro na região
(falta de perspectiva)
3.9. Evasão dos jovens
3.10. Invisibilidade dos movimentos sociais
3.11. Catástrofes climáticas: granizo, geada e
tornado
3.12. Crescimento da agricultura familiar
1. Fragmentação florestal e atividade madeireira: um estudo
da ecologia da paisagem em Curitibanos, Santa Catarina.
(2007).
http://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/123456789/90263
2. Educação de jovens e adultos do campo: um estudo sobre o
PRONERA em Santa Catarina (2007)
Link:
http://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/123456789/90295
3. Educação do Campo em Curitibanos, Santa Catarina:
Reflexões sobre a Criação e Paralisação das Escolas Isoladas -
Cristina Ehrhardt Maria Agustini Moraes Ehrhardt
Link:
http://editora.unoesc.edu.br/index.php/coloquiointernacional/a
rticle/view/1249
1. Não coleta de embalagens de
agrotóxicos
2. Estradas sem devida pavimentação
3. Precariedade do ônibus escolar em
horários, utilizado pela população em geral
4. Escassez de empregos
5. Não há instituição de Ensino Superior
6. Não há Hospital e Hotel
7. Não há área de lazer
8. Alcoolismo, Estupro, roubos
9. Questão: A escola é ou não do campo?
10. Alimentação escolar apenas para cumprir
a lei
11. Creches provisórias
12. Decadência Cultural
13. Pouco incentivo aos pequenos
agricultores, a agricultura em geral
14. Industrialização (avanços)
15. Desmatamento, poluição e lixo
16. Uso indevido de agrotóxicos
17. Êxodo rural
18. Evasão de jovens do município
19. Presença de Ensino Médio Inovador
1. Santa Catarina em Números.
http://www.sebrae-sc.com.br/scemnumero/arquivo/Frei-
Rogerio.pdf
Autor: Cândido, Marcondes da Silva. II. Ferreira, Cláudio. III.
Grapeggia, Mariana. IV. Silva, Jackson André da. V. Três,
Douglas Luiz.
1. Produção de maçã
2. Exploração floresta nativa (história
ambiental)
3. Produção diversificada
1. MOHR, M. F.; RIBAS, C. E. D. Formação de Jovens na
Escola 25 de Maio - Entre os limites e as possibilidades da
construção da agroecologia. SIFEDOC Regional, Santa Maria,
2014. Disponível em:
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4. Falta de atividade para os jovens
5. Tecnologia
6. Indústrias
7. Escola do campo
8. Clima
<http://coral.ufsm.br/sifedocregional/images/Anais/Eixo%200
3/Matheus%20Fernando%20Mohr.pdf>.
2. Fenômeno: Exploração significativa das florestas
BRUNI, S. Certificação de Manejo Florestal de florestas
plantadas de Pinus na unidade Campo Alto, município de
Água Doce SC. (Relatório de Auditoria). 2007. Disponível
em: < https://www.tuv-
nord.com/data/content_data/tng_br_pt/relatorio-de-auditoria-
trombini.pdf >.
1. Êxodo rural
2. Escola pública típica
3. Plantações de Pinus (Pinus spp.)
4. Pedofilia
5. Falta de lazer
6. Infra-estrutura
1. Lixão céu aberto
2. Falta de saneamento
3. Êxodo rural
4. Chuva impede acesso à escola
5. Acesso precário à informática
6. Não biblioteca, escolas e espaço
cultural
7. Evasão dos alunos
8. Jovens saem para trabalhar em empresas
de Pinus (Bonet, Lavra-Sul)
1. Reportagens sobre o lixo em Timbó Grande:
http://jornalinforme.com.br/cacador/index.php/editorias/cotidi
ano/item/1987-moradores-de-timbo-grande-sofrem-com-
infraestrutura-precaria-na-administracao-do-lixo-coletado
http://noticiahoje.net/prefeitura-de-timbo-grande-explica-lixo-
acumulado/
1. Aumento mata ciliar
2. Controle mosquito (moscas) por BTI
(pulverização)
3. Relatos de abuso sexual crianças
4. Destruição do solo por agrotóxicos
5. Contaminação do rio (agrotóxico e
cemitério)
6. Diminuição de agricultores e aumento de
sitiantes (diálogo entre culturas
conservadorismo cultura alemã: língua,
arquitetura, organização)
7. Aumento da população carcerária
8. Perda na produção de alimentos
9. Destruição materiais didáticos
10. Falta de atividades para jovens (espaços
culturais/esportivos)
1. Classificação da Vegetação secundária em estágios de
regeneração da mata atlântica em Santa Catarina.
http://www.bibliotecaflorestal.ufv.br/bitstream/handle/123456
789/10457/Ci%C3%AAncia_Florestal_v23_n3_p369-
378_2013.pdf?sequence=1&isAllowed=y
2. Violência silenciosa: violência psicológica como condição
da violência física doméstica.
http://www.scielo.br/pdf/%0D/icse/v11n21/v11n21a09.pdf
3. Gestão de conflitos no complexo penitenciário de segurança
máxima de São Pedro de Alcântara
http://coloquioepistemologia.com.br/site/wp-
content/uploads/2015/03/RAC1421691913.pdf
1. Avanço industrial
2. Controle de moscas por pulverização
3. Diálogo entre saberes (novos moradores)
4. Não há tratamento de esgoto
5. Intolerância
1. Sucessão florestal secundária no município de São Pedro de
Alcântara, litoral de Santa Catarina: estrutura e diversidade
http://cascavel.cpd.ufsm.br/revistas/ojs-
2.2.2/index.php/cienciaflorestal/article/view/1778
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6. Cultura tradicional da escola
7. Falta de espaços culturais esportivos
8. Conteúdos das Ciências da Natureza não
conversam com a realidade
9. Conservadorismo da cultura alemã
(língua, arquitetura, organização)
10. Controle celulares na escola
11. Alimentação escolar 100%
industrializada
12. Religião católica
13. Não Feiras de Ciências
14. Migrações
2. São Pedro de Alcântara: paisagem e rupturas
https://periodicos.ufsc.br/index.php/geosul/article/view/1374
6 Maria Dolores Buss, Luis Fernando Scheibe, Sandra
Maria de Arruda Furtado
Fonte: Pesquisa dos autores.
De posse dos resultados desta
pesquisa inicial, passamos à etapa de
seleção de alguns dos fenômenos
elencados, de tal forma que pudéssemos
passar ao estudo de conhecimentos
específicos das Ciências da Natureza e
Matemática o qual permitisse uma
compreensão mais ampla daqueles
fenômenos. Assim, a explicitação,
posterior discussão e deliberação coletiva
sobre os critérios de escolha do fenômeno
a ser estudado pelos grupos, foram os
seguintes:
1. Precisa estar relacionada à escola
(cultura escolar);
2. Precisa estar presente na
comunidade local;
3. Precisa estar situado na
região/localidade;
4. Deve considerar o PPP da escola;
5. Precisa estar relacionado à saúde, à
alimentação e à agricultura (vida do
agricultor);
6. Precisar estar relacionado à
alimentação e à agricultura;
7. Precisa estar relacionado com
problemas ambientais;
8. Deve estar relacionado à dinâmica
da vida social e familiar (relevância social
para as pessoas do local);
9. Deve ser passível de análise pela
área de atuação/formação do curso;
10. Deve estar relacionado aos
princípios da Educação do Campo e aos
sujeitos do campo (povos da terra, das
águas e das florestas);
11. Deve estar contemplado às
propostas curriculares.
Na socialização de todos esses
pontos expostos pelos estudantes, cada um
explicou seus critérios de escolha, o que
gerou uma discussão permitindo o
estabelecimento de consenso e síntese do
que estudantes e docentes julgavam como
mais importante considerar naquela
situação, chegando a três critérios finais e
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um objetivo geral (Tabela 2). A partir
desses elementos foi possível encaminhar a
atividade seguinte, que consistiu em cada
grupo escolher um dos fenômenos segundo
os critérios e sistematizar de forma escrita
uma justificativa que seria apresentada
para o coletivo avaliar se atendia ou não
aos critérios sintetizados.
Tabela 2: Objetivo e critérios para escolha do fenômeno decidido coletivamente após discussão coletiva.
Objetivo do estudo
Analisar o fenômeno escolhido a partir da área específica de formação do curso
(Ciências da Natureza e Matemática)
Critérios para escolha
do fenômeno:
1. Esteja situado na região/localidade de realização TC
2. Esteja relacionado com a dinâmica da vida social e familiar (relevância
social e ambiental para as pessoas do local)
3. Esteja relacionado aos princípios do Movimento da Educação do Campo
Fonte: Pesquisa dos autores.
Com base neste objetivo e critérios,
os fenômenos escolhidos por cada grupo a
partir de uma discussão no grande grupo
foram os seguintes: “Ocorrência de geadas
no Vale do Contestado, SC”, “Substituição
da Mata Nativa por vastas plantações de
Pinus (Pinus sp.) em Timbó Grande, SC”,
“Reconstituição da Mata Ciliar em São
Pedro de Alcântara, SC”.
Findada essa etapa, foi possível
vislumbrar os objetivos que passaram a
compor o plano de ensino da referida
componente curricular. Um deles se
constituiu em identificar fenômenos a
partir dos registros (dados primários) dos
TCs, da produção técnico-científica sobre
os contextos dos territórios onde são
realizados os TCs e estabelecer critérios
para seleção daqueles que seriam
estudados. Outro objetivo consistiu em
abordar conceitos estruturantes de Ciências
da Natureza e Matemática a partir dos
fenômenos da natureza delimitados.
Também buscamos identificar,
problematizar e dialogar a partir dos
saberes prévios dos estudantes a respeito
dos fenômenos, além de introduzir
conceitos das diferentes disciplinas como
chave de leitura de aspectos dos
fenômenos problematizando as narrativas
sobre Mudanças Climáticas,
Biodiversidade e Água no contexto
contemporâneo da Sustentabilidade e da
Educação do Campo.
Tais objetivos foram desdobrados em
três unidades de estudos. A primeira,
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transcorrida em três encontros de quatro
horas-aula correspondente à descrição feita
até aqui. As outras duas unidades da
componente curricular foram
desenvolvidas de forma paralelas e
alternadas. A unidade 2 teve um total de
nove encontros, nos quais a atividade
principal foi a de estudar os fenômenos
escolhidos junto com os professores, os
quais nesses encontros assumiram um
papel mais de orientadores-professores,
indicando referências, estudando junto
com os estudantes individualmente e em
grupo às referências indicadas e
localizadas. A Unidade 3 foi composta por
9 encontros, nos quais cada um dos três
professores ministraram aulas com base no
conhecimento de suas áreas específicas de
graduação relacionado aos fenômenos
estudados conforme a tabela a seguir.
Tabela 3: Detalhamento das unidades de ensino da disciplina de Fundamentos. Fonte: os autores.
Unidade 1 -
Identificação de
fenômenos a serem
estudados do ponto
de vista das Ciências
da Natureza e
Matemática
○ Identificação de fenômenos presentes nos registros sobre os TCs;
Exercício de busca de fontes secundárias sobre o contexto no qual o fenômeno está
situado;
Decisão (a partir de critérios construídos coletivamente, considerando a vontade do
coletivo e os princípios do Movimento da Educação do Campo) sobre o fenômeno a
ser estudado;
○ Identificação de sub-fenômenos relacionados ao fenômenos escolhidos a serem
estudados no tempo, no espaço e em diferentes escalas;
Identificação de conceitos de Ciências da Natureza e Matemática relacionados aos
fenômenos.
Unidade 2 -
Planejamento e
desenvolvimento de
Programa de
Estudospor
fenômenos
Escolha e aprofundamento teórico de referenciais de base (livros, manuais etc.) das
Ciências da Natureza e Matemática;
Escolha e aprofundamento teórico de referências cnico-científicas (artigos
científicos, dissertações e teses).
Unidade 3 -
Aprofundamentos
dos conceitos
estruturantes entre os
fenômenos
escolhidos
○ Situar os fenômenos na Escala Espacial;
○ Situar os fenômenos na Escala Temporal;
○ Situar os fenômenos quanto a Matéria Envolvida;
Situar e desenvolver as explicações para as Transformações, Regularidades e
Energia envolvidos nos fenômenos;
○ Regressão Linear e sua relação com os fenômenos;
○ Geometria Espacial e sua relação com os fenômenos;
○ Paisagem e sua relação com os fenômenos;
○ Água e sua relação com os fenômenos;
○ Plantas e Animais e sua relação com os fenômenos;
○ Temperatura e sua relação com os fenômenos;
○ Gases e sua relação com os fenômenos.
Fonte: Pesquisa dos autores.
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A construção coletiva do objetivo de
estudo e dos critérios de escolha dos
fenômenos a serem estudados condicionou
a própria estruturação da componente
curricular e a escolha de objetos de
conhecimento mais consciente e pertinente
ao contexto dos estudantes: seja o contexto
do campo do qual eram oriundos e no qual
realizavam o TC, seja o contexto do curso
de licenciatura em Educação do Campo,
como desdobramentos de uma política
educacional específica, com princípios
expressos em políticas de estado.
Nesse sentido, a menção aos
princípios da Educação do Campo no
décimo critério listado pelo grupo
inicialmente não faz alusão somente aos
princípios legais, segundo o Decreto 7.352
de novembro de 2010, mas também ao que
os estudantes haviam estudados em outros
componentes curriculares do curso,
inclusive nas fases anteriores. De acordo
com o segundo artigo do referido decreto,
os princípios da Educação do Campo
estariam ligados, dentre outros: ao respeito
à diversidade; à formulação de projetos
políticos pedagógicos específicos; ao
desenvolvimento de políticas de formação
de profissionais; à valorização da
identidade das escolas do campo com base
em conteúdos curriculares e metodologias
adequadas à realidade dos sujeitos; a
efetiva participação da comunidade e dos
movimentos sociais do campo e à
flexibilização da organização escolar com
base nas atividades laborais do território;
que significa considerar efetivamente à
necessidades dos estudantes incluindo as
condições climáticas e ciclos agrícolas,
reconhecidos no referido decreto como
condicionantes que não podem estar
alheios à forma-conteúdo da escola do
campo.
Assim, a compreensão profunda da
dimensão natural de fenômenos como
“geada”, a “restituição da mata ciliar” e “a
substituição da mata nativa por vasta
plantação de Pinus” bem como a sua
relação com a dinâmica social local, o
apenas teriam relação com princípios da
Educação do Campo, mas poderiam ser
considerados para flexibilização e
organização escolar que considerem
profundamente as necessidades dos
estudantes do campo envolvidos nesses
fenômenos.
A seguir desenvolvemos o que
chamamos de movimento centrífugo de
relações com os conhecimentos específicos
de Ciências da Natureza e Matemática o
qual realizamos a partir dos fenômenos
estudados.
Conhecimentos das Ciências da
Natureza e Matemática
Passamos agora a uma sucinta
descrição das ações a partir de cada uma
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das áreas de saber e dos fenômenos
selecionados.
Em Matemática, com relação ao
fenômeno “Substituição da Mata Nativa
por vastas plantações de Pinus (Pinus sp.)
em Timbó Grande, SC”, trabalhamos com
a comparação entre a rentabilidade da
locação de terra para plantar Pinus e a
rentabilidade com o uso da terra para
produção de alimentos. A partir do
trabalho de Sampaio (2015), no qual a
autora compara a diferença da
rentabilidade entre uma plantação de fumo
e outra com diversidade de alimentos, o
grupo pôde pesquisar os valores referentes
às receitas e custos de diversas culturas e
estabelecer seus próprios modelos, feitos a
partir de funções polinomiais de grau 1.
Com base nas cifras contidas em um
contrato de arrendamento, R$ 60,00
mensais por alqueire, os estudantes
puderam fazer a comparação entre esses
diferentes usos da terra e perceber a
significativa diferença entre o valor pago
pela locatária em um ano, e a rentabilidade
da diversificação de um alqueire com
alimentos, sendo esta, muito maior, desde
que certos fatores sejam considerados
constantes como a venda da produção.
O fenômeno “Ocorrência de geadas
no Vale do Contestado, SC” foi estudado
sob o conhecimento da Estatística,
tomando como base o trabalho de Araujo
et al. (2009), no qual os autores calcularam
a probabilidade da ocorrência de geada
com base na distribuição gama e dados
coletados nas diversas estações
meteorológicas do estado. Estudar este
trabalho impôs desafios, visto que
desconhecíamos o conceito estatístico
supramencionado, o que exigiu seu estudo
e seu redimensionamento aos estudantes,
processo que após avaliação, mostrou que
poderia ter sido mais eficiente. Por outro
lado, o estudo deste fenômeno no contexto
deste arranjo interdisciplinar pode exigir
conhecimentos mais complexos, aspecto
que mostra que os aprofundamentos em
conhecimentos específicos podem ser
feitos a partir deste tipo de proposta
metodológica, problematizando o suposto
esvaziamento de conteúdo, narrativa por
vezes dirigida a propostas
multi/interdisciplinares.
No caso da “Reconstituição da Mata
Ciliar em São Pedro de Alcântara”, a
análise da taxa de decrescimento de
culturas permanentes no município nos
anos de 2004 a 2014, contribuíram para
compreender este processo de
reconstituição da mata ciliar e foram feitos
à luz do conceito de Regressão Linear, a
partir do qual aprofundamos a análise com
considerações que iam além dos
fenômenos. Dos conhecimentos
relacionados à Estatística, a Regressão
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Linear permite mobilizar um leque de
aparatos conceituais ligados ao campo da
Educação Matemática e da Matemática.
Com efeito, diante das fórmulas dos
coeficientes de regressão β e α e R
2
, passa-
se pelas operações de adição, subtração,
multiplicação, divisão e potenciação. A
representação matemática da regressão
linear é uma função polinomial de grau 1,
tema caro ao ensino de Matemática.
Destarte, o ensino destas funções poderia
ser feito à luz da regressão linear, inclusive
dando mais sentido para os conceitos de
domínio e imagem que, na regressão são
restritos pelas séries. Diante dos dados
colhidos para análise gráfica e posterior
construção da regressão, esta ordem
permite pensar sobre estes objetos a partir
dos Registros de Representação Semiótica
que sugere que o aprendizado das funções,
por exemplo, ocorre quando os estudantes
conseguem transitar pelos registros
aritméticos, geométricos e algébricos deste
conteúdo. Além disso, dados econômicos
costumam ser constituídos de valores altos,
o que praticamente inviabiliza encontrar os
coeficientes fazendo os cálculos
manualmente. Nesse sentido, os recursos
computacionais auxiliam sobremaneira na
tarefa de lidar com os dados e obter
informações matemáticas capazes de
auxiliar na compreensão dos fenômenos.
Figura 1: Regressão Linear - aspecto radial derivado dos estudos do componente curricular Matemática.
Fonte: Elaborada pelos autores.
Em relação à Biologia, um conjunto
de conceitos oriundos da Ecologia de
Paisagem, Limnologia e Ecologia Aquática
e Fisiologia Vegetal foram acionados
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durante a realização dos programas de
estudo. A escolha conceitual passou por
um movimento de estudo preliminar dos
fenômenos desde o ponto de vista
disciplinar da Biologia. Assim, importou
de fato estudar conceitos que ajudassem a
compreender de forma evidente o
fenômeno escolhido e que este pudesse
entrar em diálogo com os próprios
conhecimentos dos estudantes e dos outros
sujeitos do território quando da realização
do TC.
A título de exemplo, o caso da geada
“Ocorrência de geadas no Vale do
Contestado, SC”, é bom para pensar sobre
isso. Se por um lado os estudantes
realizaram o movimento de estudo da água
do ponto de vista físico-químico
(polaridade, calor específico, coesão, força
tênsil, tensão superficial, adesão) como
elemento importante para compreensão do
fenômeno, foi nos conceitos da fisiologia
vegetal que eles puderam compor um texto
de argumentação sobre os efeitos deste
fenômeno da escala da planta até da
agricultura em seu território (neste caso, no
Vale do Contestado). Assim, eles
estudaram transporte de água na planta,
transcelular, transmembrana, simplasto,
apoplasto, pressão de raiz e fluxo
transpiratório. Foi com base nestes
conceitos que eles foram capazes de tratar
dos danos da geada e as táticas de
sobrevivência das diferentes espécies de
plantas. Para aprofundar essa compreensão
sugerimos o acesso ao site criado pelos
próprios estudantes da Educação do
Campo: http://ledoct3.wixsite.com/ufsc
iv
.
é possível encontrar o belo trabalho
realizado por este grupo.
Em relação a “Reconstituição da
Mata Ciliar em São Pedro de Alcântara”
também operamos conceitualmente com a
Ecologia de Paisagem (paisagem, escala,
sucessão ecológica, efeito de borda), mas
foi, sobretudo na limnologia e na ecologia
aquática que encontramos base de
aprofundamento para compreender os
modos pelos quais a mata ciliar é um
ecótono e tem função primordial não só
para manutenção da qualidade das águas,
mas também da biodiversidade terrestre e
aquática. Daí nossas discussões seguiram
para relação agricultura, usos da terra e
áreas de preservação permanente (APPs).
Na mesma linha de discussão
tratamos coletivamente da “Substituição da
Mata Nativa por vastas plantações de Pinus
(Pinus sp.) em Timbó Grande, SC”. Nosso
movimento de aprofundamento conceitual
foi o de realizar uma inversão no enfoque
de estudos. Chegamos à conclusão que
para compreender a substituição da mata
nativa local era preciso entender a matriz
da paisagem original, ou seja, bioma Mata
Atlântica, Floresta Estacional Semi-
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Decidual com presença marcante de
Araucaria angustifolia (Pinheiro-do-
Paraná). Foi a partir desta sequência que
realizamos estudos da ecologia dessa
espécie. Com base nesses estudos,
discutimos o significado das
transformações da paisagem para a região
bem como os efeitos da monocultura do
Pinus para biodiversidade e as
comunidades do campo.
Figura 2: Malha conceitual estruturante dos fenômenos a partir dos estudos realizados no componente curricular
Biologia.
Fonte: Elaborada pelos autores.
Em relação à Física, a primeira
aproximação com cada caso se deu a partir
de referências que os próprios estudantes
haviam indicado ou que havíamos
encontrado buscando juntos. No caso da
“Reconstituição da Mata Ciliar em São
Pedro de Alcântara, SC”, destacamos de
Buss, Scheibe & Furtado (2002) que houve
“regeneração da cobertura florestal”
conforme imagens de satélite de 1957
1978 1989, que em 1995 já ocupava 68%
da área do município. Mas como são feitos
estudos dessa natureza? Como ocorre a
regeneração da mata? Segundo os próprios
autores
Esta regeneração da cobertura
florestal é favorecida pelas
condicionantes climáticas, como
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temperaturas elevadas e altos índices
pluviométricos, permitindo que em
um tempo relativamente curto, como
poucas dezenas de anos, as áreas
abandonadas sejam recobertas por
capoeiras e capoeirões, e atinjam até
estágios de mata nativa secundária
(Buss, Scheibe & Furtado, 2002. p.
166, grifos nossos).
Desse aspecto pudemos destacar
como que a temperatura é indicada ser uma
variável importante no processo, o que está
relacionado também com os altos índices
pluviométricos e com as consequentes
enchentes que, segundo o mesmo trabalho,
são comuns nos meses de dezembro,
janeiro e fevereiro, ou seja, na estação do
ano verão. Mas como podemos explicar a
ocorrência das estações do ano bem
definida? Em todo o globo terrestre são
perceptível as quatro estações de forma
bem definida como em São Pedro de
Alcântara? Qual relação dessa
característica com a latitude e a exposição
ao Sol? Como ocorrem as estações do
ano? Como explicar a constância da
inclinação do eixo de rotação da Terra em
relação ao seu eixo de translação?
Outro trabalho identificado pelo
grupo foi um estudo fenológico realizado
no município de São Pedro de Alcântara,
constituindo-se do monitoramento das
fenofases reprodutivas de dezenove
espécies botânicas durante mais de um
ano. O estudo conclui que "as fenofases
reprodutivas também são dependentes do
ambiente onde se desenvolvem, razão pela
qual muitas espécies apresentam períodos
reprodutivos diferentes daqueles
mencionados para outras regiões."
(Mantovani et al. 2003, p. 451). Nesse
sentido, segundo os autores, ainda nas
conclusões do estudo, indicam que “em
ambientes pouco sazonais, os fatores
ambientais devem ter menor influência
sobre as fenofases do que em ambientes
notadamente sazonais. Sendo assim, a
temperatura, o comprimento do dia e a
pluviosidade correlacionam-se entre si,
interferindo nas fenofases (Talora, 1996)”
(Mantovani et al., 2003).
Além de reforçar o destaque anterior
sobre a importância da temperatura, o
trabalho traz gráficos com as medidas
pluviométricas e de temperatura mensais,
de onde foi possível estimar em aula a
temperatura média de 20,3ºC e uma
variação de 25ºC medida em janeiro e
16ºC medida em julho. A menção à maior
duração dos dias também é um aspecto
relacionado com a sazonalidade, o que tem
relação com a posição latitudinal do
município, e pôde ser explicado também
do ponto de vista geocêntrico com a ajuda
da esfera armilar.
Em relação ao fenômeno
“Substituição da Mata Nativa por vastas
plantações de Pinus (Pinus sp.) em Timbó
Grande, SC” buscou-se em um primeiro
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momento compreender as condições de
ocorrência da mata nativa da região,
composta por Mata de Araucária. Segundo
Mattos (2011) a ocorrência natural da
Araucaria angustifolia se em altitudes
superiores a 400m, o que teria a ver com as
condições climáticas propícias, pois a
elevação das altitudes é inversamente
proporcional às temperaturas médias e
extremas (Mattos, 2011). “Encontra-se em
uma vastíssima área de clima mesotermal
do tipo C: clima temperado chuvoso,
média de mês mais frio entre 18ºC e -3ºC e
média do mês mais quente acima de 10
ºC.” (Mattos, 2011, p.251-253). Por outro
lado, em atividades de TC realizadas em
Timbó-Grande, onde hoje a paisagem
predominante é composta por florestas de
Pínus, eram comuns relatos como: “O
Pinus bem aqui.”, ... a minha terra
nunca deu nada ... só serve pra Pinus.”
Sobre a “Ocorrência de geadas no
Vale do Contestado, SC”, dentre as causas
destacadas por Pedrotti e Federova (2000)
temos os anticiclones migratórios frios que
provoca as baixas temperaturas também na
região Sudeste do Brasil, mas, segundo os
autores, as baixas temperaturas na região
Sul do país "poderiam ser associados à
advecção de ar frio de latitudes mais altas e
a perda de energia pela radiação de ondas
longas que são características de regiões de
alta pressão com céu claro" (Pedrotti &
Fedorova, 2000, p. 2). Além das pistas
iniciais sobre as condições climáticas para
a ocorrência da geada, também se buscou
estudar a tolerância ao frio, ou à
aclimatação vegetal (Silva et. al., 2008) e
os efeitos que os distintos tipos de geadas
provocam nas plantas.
Como síntese, foram destacados com
os estudantes, conforme figura 2, aspectos
a serem aprofundados ao longo dos
momentos de estudo em Física previstos
para a Unidade III da componente
curricular. Dentre esses aspectos foi
considerado central o discernimento entre
os conceitos de temperatura, calor e
energia, cuja abordagem experimental
realizada teve como inspiração o trabalho
de Farias (2013) que fornece subsídios
para superação de obstáculos
epistemológicos à aprendizagem de
termologia.
Figura 3: Calor, Frio e Temperatura - Mapa de referências e questões construído a partir dos estudos no
componente curricular Física.
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Fonte: Elaborada pelos autores.
Considerações Finais
As licenciaturas em Educação do
Campo no Brasil têm oferecido desafios
interessantes, dentre eles as estratégias
para mobilizar potencialmente o
conhecimento de diferentes componentes
curriculares em uma organização por área
de conhecimento. A jovialidade do curso e
de sua modalidade permite e exige dos
docentes o exercício de modos alternativos
de organização de sua atuação docente.
Para operar com fenômenos no
Ensino de Ciências da Natureza e
Matemática na Educação do Campo estes
não devem ser tratados como aqueles que
estão fora do mundo material, isto é,
aqueles sentidos e vividos desde o
cotidiano das pessoas em seus mais
diversos territórios. Ao dizer isso,
defendemos que os fenômenos estão para
além de qualquer movimento de
naturalização do mundo e da natureza. Se
por um lado, desde uma perspectiva
fenomenológica, os fenômenos podem ser
a priori da consciência humana, é
exatamente no texto (linguagem) das
diferentes racionalidades e saberes que eles
se materializam. Não haveria, deste modo,
como pensar em fenômenos que não são a
própria relação intrínseca entre
matéria/discurso, matéria/linguagem do
mundo.
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Dentre os desafios que esta proposta
impõe encontra-se o curto período de
tempo que temos para tratar de um amplo
conjunto de conceitos e de preparar as
aulas de conhecimento das Ciências da
Natureza e Matemática, especialmente
quando envolve conceitos não estudados
anteriormente.
Ao mesmo tempo, a atividade de
pesquisa na docência por parte dos
professores se configura como uma
possibilidade de didatizar conceitos mais
complexos. Cabe destacar ainda que se por
um lado a amplitude conceitual se torna
limitada (quando comparada com aulas
tradicionais, conduzidas de forma linear,
progressiva) são os fenômenos que nos
permitem de fato, estabelecer diálogos
multi/interdisciplinares em direção aos
fundamentos da área de conhecimento que
se quer para a Educação do Campo.
Destacamos o seu potencial enquanto
mediador do mundo material (natureza) e
da realidade dos diferentes modos de vida
no campo, nas vivências em Ensino de
Ciências da Natureza e Matemática nas
licenciaturas em Educação do Campo.
Nossas reflexões consideram a
natureza e a diversidade de possibilidades
de organização das aprendizagens das
Ciências da Natureza e da Matemática,
sobretudo no contexto escolar do campo
(da escola básica ao ensino superior).
Trabalhar com fenômenos é uma dentre
outras possibilidades de organização da
docência e do conhecimento nestes
contextos. Nossas trajetórias individuais
nos dizem que é nessa pluralidade que se
sustenta a meta educativa de uma
educação, que conta da complexidade
da natureza, da vida humana e do papel da
escola. Na licenciatura, forma é também
conteúdo e, ao estabelecer esta
consideração, fazemos o exercício de
busca por não dicotomizar método e
conhecimento científico, método de ensino
e currículo.
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oa
i
A virada ontológica assim como as
denominações virada cultural (século IX/XX) e
virada linguística (século XX) tem sido o termo
recorrente na filosofia e na antropologia (Viveiros
de Castro, 2012) contemporâneas para se referir
mais especificamente ao que autores de diferentes
campos das Ciências Humanas têm chamado de
virada não humana, virada material, virada pós-
humana ou virada especulativa (Whatmore, 2006;
Braidotti, 2006; Burns & Smith, 2011; Bryant et al.,
2011; Kirsch, 2013). No âmbito internacional é
possível encontrar movimentos com filiações
distintas e especificidades, como, por exemplo, o
Realismo Especulativo (Quentin Meillassoux), a
Ontologia Orientada no Objeto (Graham Harman),
o Materialismo Transcendental (Slavoj Žižek) e o
Novo Materialismo (Rosi Braidotti, Manuel
DeLanda). Há uma compreensão clara na filosofia e
na antropologia de que a virada ontológica estaria
se tornando um importante paradigma para as
questões ambientais nas humanidades (Lovino &
Operman, 2012). Movimento semelhante já pode
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ser observado na educação e no Ensino das
Ciências (Fenwick & Edwards, 2010; Taguchi,
2010; Rautio, 2013; Quinn, 2013; Coutinho et. al.,
2014; Coutinho, Goulart & Pereira, 2017; Freitas &
Palmer, 2016).
ii
Ementa: "Aprofundamento dos conceitos
estudados na disciplina Fundamentos I e
estabelecimento de aproximações metodológicas
para a aprendizagem de conceitos das Ciências da
Natureza e Matemática adequados às necessidades
educativas do ensino fundamental” (UFSC, 2009).
iii
No primeiro ano as atividades de TC são
direcionadas ao território, levando em conta
aspectos políticos, econômicos, sociais, ambientais,
educacionais e de saúde. No segundo, os estudantes
passam a realizar as atividades de TC com foco na
escola. No terceiro e quarto anos, as atividades de
TC são estruturadas pelas atividades de estágio
(UFSC, 2009).
iv
O site foi organizado pelos estudantes Antony
Correa, Dara Ferreira e Daniel Bráz grupo
responsável pelo estudo da “Ocorrência de geadas
no Vale do Contestado, SC”.
Recebido em: 30/07/2017
Aprovado em: 18/08/2017
Publicado em: 13/12/2017
Como citar este artigo / How to cite this article /
Como citar este artículo:
APA:
Borges, M. G., Faria, J. E. S., & Brick, E. M. (2017).
Fenômenos como mediadores do processo educativo
em Ciências da Natureza e Matemática na Educação
do Campo. Rev. Bras. Educ. Camp., 2(3), 965-990.
DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-
4863.2017v2n3p965
ABNT:
BORGES, M. G.; FARIA, J. E. S.; BRICK, E. M.
Fenômenos como mediadores do processo educativo
em Ciências da Natureza e Matemática na Educação
do Campo. Rev. Bras. Educ. Camp.,
Tocantinópolis, v. 2, n. 3, p. 965-990, 2017. DOI:
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-
4863.2017v2n3p965
ORCID
Marcelo Gules Borges
http://orcid.org/0000-0003-1231-2776
Juliano Espezim Soares Faria
http://orcid.org/0000-0002-0143-9790
Elizandro Maucrício Brick
http://orcid.org/0000-0002-6890-9566
Revista Brasileira de Educação do Campo
DOSSIÊ / ARTIGO
DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-4863.2017v2n3p991
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 2
n. 3
p. 991-1019
jul./dez.
2017
ISSN: 2525-4863
991
Ciências da Natureza na Educação do Campo: em defesa
de uma abordagem sócio-histórica
Edilson Fortuna de Moradillo
1
, Hélio da Silva Messeder Neto
2
, Elisa Prestes Massena
3
1
Universidade Federal da Bahia - UFBA. Instituto de Química. Rua Barão de Jeremoabo, 147, Campus
Universitário de Ondina. Salvador - BA. Brasil. edilson@ufba.br.
2
Universidade Federal da Bahia - UFBA.
3
Universidade Estadual de Santa Cruz - UESC
RESUMO. Este artigo trata da defesa da abordagem sócio-
histórica nos cursos de formação de professores para atuação na
área das Ciências da Natureza da Licenciatura em Educação do
Campo, por considerarmos que esta abordagem é a que mais
avança na análise crítica da realidade social e da educação,
tendo como objetivo maior a emancipação humana. Para isso,
apresentamos os princípios e pressupostos filosóficos,
educacionais e pedagógicos que devem nortear o projeto
político-pedagógico do curso. Defendemos que os referenciais
do materialismo histórico-dialético, do Sistema de Complexos
de Pistrak, da Pedagogia Histórico-Crítica e da Psicologia
Histórico-Cultural sejam os norteadores dessa abordagem, tendo
a categoria trabalho como fundante do ser social, o eixo
condutor. Ao propormos a abordagem sócio-histórica ao
trabalharmos a perspectiva historicizadora de homem e da
realidade social, acreditamos que estamos avançando no sentido
da luta contra hegemônica na educação e na sociedade na busca
da emancipação humana.
Palavras-chave: Educação do Campo, Ciências da Natureza,
Projeto Político-Pedagógico, Abordagem Sócio-Histórica.
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Natural Sciences in Rural Education: In defense of a socio-
historical approach
ABSTRACT. This article discusses the defense of the socio-
historical approach in the training courses for teachers to work
in the area of Natural Sciences of the Degree in Rural
Education, considering that this approach is the one that
advances the most in the critical analysis of social reality and
education, aiming at human emancipation. In this sense, we
present principles and philosophical, educational and
pedagogical presuppositions that should guide the pedagogical
political project of the course. We argue that the referents of
historical-dialectical materialism, the Pistrak’s Complexes
System, Historical-Critical Pedagogy and Historical-Cultural
Psychology are the guiding principles of this approach, and the
category of work is the founder and guiding axis of the social
being. In proposing the socio-historical approach as we work the
historicizing perspective of man and of social reality, we believe
that there is an advance towards the hegemonic struggle in
education and society in the search for human emancipation.
Keywords: Rural Education, Natural Sciences, Political-
Pedagogical Project, Socio-Historical Approach.
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Ciencias de la Naturaleza en la Educación del Campo: en
defensa de un enfoque socio-histórico
RESUMEN. Este artículo trata de la defensa del enfoque socio-
histórico en los cursos de formación de profesores para actuar en
el área de las Ciencias de la Naturaleza de la Licenciatura en
Educación Rural, por considerar que este enfoque es el que más
avanza en el análisis crítico de la realidad social y de la
educación, Teniendo como objetivo mayor la emancipación
humana. Para ello, presentamos los principios y presupuestos
filosóficos, educativos y pedagógicos que deben orientar el
proyecto político pedagógico del curso. Defendemos que los
referenciales del materialismo histórico-dialéctico, del Sistema
de Complejos de Pistrak, de la Pedagogía Histórico-Crítica y de
la Psicología Histórico-Cultural sean los orientadores de este
abordaje, teniendo la categoría trabajo como fundante y el eje
conductor del ser social. Con la propuesta del enfoque socio-
histórico al trabajar la perspectiva historicizadora de hombre y
de la realidad social, creemos que estamos avanzando hacia la
lucha contra hegemónica en la educación y en la sociedad, en la
búsqueda de la emancipación humana
Palabras clave: Educación del Campo, Ciencias de la
Naturaleza, Proyecto Político Pedagógico, Enfoque Socio-
Histórico.
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Introdução
Tratar da Educação do Campo
i
e
especialmente da área das Ciências da
Natureza dos cursos de Licenciatura em
Educação do Campo no contexto atual, de
crise estrutural do capital com seus
relativismos epistemológico e cultural, tem
sido um grande desafio para os que
defendem uma educação universalizante,
que vá além dos seus particularismos, a
exemplo do campo. A melhor forma que
temos encontrado para realizar tal intento é
através de um projeto político-pedagógico
na perspectiva sócio-histórica, referenciado
no materialismo histórico-dialético e na
concepção de educação e prática
pedagógica críticas.
Partimos do princípio de que a
educação é um direito de todos e dever do
Estado e deve ser garantida aos que vivem
no campo, e que esta educação tem suas
particularidades, distinta em vários
aspectos daquela praticada nas zonas
urbanas. Entendemos que algumas
necessidades sócio-educacionais são
outras, devendo a escola ser estruturada de
acordo com o modo de viver, se relacionar,
pensar e produzir das pessoas do campo,
isto é, respeitando os seus costumes,
valores, ritmos e interfaces com a vida
produtiva. Entretanto, a nossa concepção
de educação escolar e dos seus objetivos
nos leva a propor uma escola que além
dessas necessidades, pois defendemos que
todos os seres humanos, do campo ou da
cidade, precisam ser inseridos, de forma
intencional, naquilo que a humanidade
produziu de mais relevante na atualidade
no campo cultural; para isso, não podemos
abrir mão dos conhecimentos clássicos,
socialmente relevantes e referenciados que
foram universalizados, a exemplo da
filosofia, arte e ciência. Do ponto de vista
epistemológico, ético e ideopolítico,
precisamos ir além do imediato, do
cotidiano, dos particularismos, precisamos
superar o espontaneísmo na educação e na
sociedade, tão presente na realidade
alienada e alienante das relações
capitalistas de produção e reprodução da
nossa existência. É isso que denominamos
Educação do Campo.
A desigualdade estrutural da
sociedade atual, fruto da estrutura classista
que está materializada na propriedade
privada dos meios fundamentais de
produção e subsistência da nossa
existência, repercute tanto na cidade como
no campo, de modo que no campo os
indicadores socioeconômicos mostram
uma assimetria ainda maior (Projeto
Político-Pedagógico, 2008).
Não podemos perder de vista que o
campo, no Brasil, historicamente, a partir
da invasão europeia no final do século XV
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e início do século XVI, com
predominância portuguesa, que exterminou
os proprietários da terra - os índios - e
concentrou-a na mão de poucos, tem como
característica a grande propriedade da terra
- o latifúndio (Stedile, 2011). Essa invasão
contou com a colaboração das instituições
religiosas daquela época que, a pretexto de
evangelizar, submetiam os índios ao
domínio do invasor. Hoje encontramos os
sem-terra, quilombolas, extrativistas,
atingidos por barragens, povos indígenas
que sobreviveram, dentre outros,
geralmente apartados da terra como meio
de produção da vida e em permanente
conflito com os que detêm grandes
quantidades de terra enquanto mercadoria e
produção de capital - os latifundiários -,
que são representados hoje pelo
agronegócio. Portanto, ao defendermos e
reivindicarmos a institucionalização da
Educação do Campo, o fazemos com base
em um projeto histórico que supere o
projeto histórico capitalista.
Defendemos que essa educação
como prática social que ocorre em uma
sociedade de classes, em seu momento
predominantemente capitalista, com
repercussões no campo, e que está
permeada de intencionalidade, deve se
pautar em uma formação integral que tem
como objetivo maior a emancipação
humana.
A formação integral é o ponto de
partida de qualquer projeto político
pedagógico que tem como objetivo a
emancipação humana. Por isso, a educação
deve propiciar ao educando a superação da
sua cotidianidade, da vida imediata,
tornando-o um ser genérico e universal
através dos conhecimentos socialmente
relevantes, clássicos e sistematizados
produzidos historicamente pela
humanidade, elevando também a sua
consciência de classe e a necessidade da
transformação social. Esse aspecto também
configura a Educação do Campo. Nesse
contexto, a escola tem um papel importante
como espaço possível de apropriação dos
conhecimentos filosóficos, estéticos, da
cultura corporal, artísticos e técnico-
científicos produzidos ao longo do
processo histórico do homem produzir-se
homem. O homem não nasce homem, se
faz homem (Saviani, 1995; Leontiev, 2004;
Marx, 2006; Marx & Engels; 2007).
A educação que objetiva a
emancipação humana desempenha um
papel importante no sentido de
disponibilizar para a classe trabalhadora os
conhecimentos socialmente relevantes,
sem a qual a consciência de classe tende a
se amesquinhar e se alienar.
É com base nesse objetivo maior
para a Educação do Campo - da
emancipação humana - que defendemos
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que a melhor forma de realizá-lo na área
das Ciências da Natureza no curso de
Licenciatura em Educação do Campo é por
intermédio de um referencial teórico-
metodológico que radicalize a análise da
realidade social através de uma abordagem
sócio-histórica. Como mencionado
anteriormente, esse referencial tem como
base principal o materialismo histórico-
dialético e no campo educacional e
pedagógico as teorias críticas.
Assim, apresentaremos inicialmente
um breve histórico do curso de
Licenciatura em Educação do Campo da
Universidade Federal da Bahia
UFBA/Salvador-Bahia e da atual
experiência de estudo na Universidade
Estadual de Santa Cruz UESC/Ilhéus-
Bahia com a formação de professores na
perspectiva crítica, com o objetivo de
demarcarmos as nossas experiências
recentes com a formação de professores na
perspectiva sócio-histórica; em seguida,
elencaremos os princípios e pressupostos
para um curso na área das Ciências da
Natureza, trazendo os principais princípios
e pressupostos filosóficos, educacionais e
pedagógicos que temos defendido e
trabalhado. Por fim, concluiremos
defendendo a categoria trabalho como
fundamental para compreender e explicar a
sociedade e como princípio educativo,
sendo, consequentemente, a base para uma
concepção de formação de professores na
perspectiva sócio-histórica.
Esse trabalho tem o objetivo maior
de contribuir para o norte dos projetos
político-pedagógicos da área das Ciências
da Natureza nos cursos de Licenciatura em
Educação do Campo nas instituições de
ensino superior brasileiras, principalmente
os das universidades públicas, pautados
numa perspectiva de formação de
professores histórica e radicalmente crítica.
O projeto da Licenciatura em Educação
do Campo da UFBA e a recente
colaboração com a UESC
A Universidade Federal da Bahia
(UFBA) fez parte do projeto piloto do
curso de Licenciatura em Educação do
Campo, proposto pelo Ministério da
Educação, que tinha como objetivo
implantar e pesquisar a formação de
professores do campo. Esse projeto foi
fruto da luta dos movimentos sociais, de
suas experiências educacionais, assim
como de projetos desenvolvidos entre
universidades e Movimentos Sociais do
Campo (Projeto Político-Pedagógico,
2008). Junto com a UFBA, três outras
universidades fizeram parte desse projeto
piloto: Universidade de Brasília (UnB),
Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG) e Universidade Federal de
Sergipe (UFS).
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A UFBA teve as ações da
Licenciatura em Educação do Campo
implementadas e coordenadas pela
Faculdade de Educação - FACED/UFBA
em 2008, com colaboração de outras
faculdades e institutos da UFBA,
principalmente os Institutos de Química e
de Letras. O curso foi estruturado e
organizado para formar professores para
atuar na Educação do Campo, em especial
do 6º ao 9º ano do ensino fundamental e no
ensino médio, por áreas de conhecimento:
Ciências da Natureza e Matemática,
Ciências Agrárias, Ciências Humanas e
Sociais, Linguagens e Códigos,
Tecnologias da Informação e Comunicação
e teve duração de nove semestres. Dessas
áreas, duas foram escolhidas para
aprofundar a formação a partir do quinto
semestre, a área das Linguagens e Códigos
e a área das Ciências da Natureza e
Matemática. O currículo foi organizado em
9 semestres letivos e o trabalho pedagógico
em cada semestre alternava-se em um
Tempo Escola e um Tempo Comunidade.
O curso iniciou-se no segundo semestre de
2008, com uma turma, a qual concluiu o
curso em abril de 2013. Essa turma contou
inicialmente com 51 estudantes-
professores da região do Recôncavo e
Nordeste do estado da Bahia, dos quais 5
desistiram durante o primeiro semestre. A
partir do quinto semestre, dos 46 que
deram continuidade ao curso, 15 optaram
pela área das Ciências da Natureza e
Matemática
ii
e 31 pela área das Linguagens
e Códigos (Moradillo et al., 2011).
Em agosto de 2013 realizamos um
seminário avaliativo do curso que contou
com as universidades parceiras do projeto
piloto, dos estudantes e professores do
curso e convidados, com os movimentos
sociais e comunidade interessada. Na
ocasião, concluímos que o curso teve uma
experiência exitosa e que deveria se tornar
permanente na UFBA. As decisões
tomadas nesse seminário foram
encaminhadas para as instâncias superiores
da UFBA, e por falta de estrutura física,
financeira e de pessoal, até o momento o
curso não foi implantado como
permanente. No segundo semestre de 2016,
apesar do cenário político e econômico do
país ser desfavorável para a criação de
novos cursos, retomamos e refizemos o
Projeto Político-Pedagógico do Curso da
Licenciatura em Educação do Campo, com
o objetivo de efetivá-lo no biênio
2017/2018, após novos entendimentos com
a reitoria da UFBA e um possível apoio do
Ministério da Educação através do
Programa de Apoio à Formação Superior
de Licenciatura em Educação do Campo -
Procampo. Essa nova proposta,
inicialmente, prioriza uma única área de
conhecimento: Ciências da Natureza.
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Devido a nossa experiência no curso
anterior, nesse novo projeto estamos
centrando a formação da área nas
disciplinas de Química, Física e Biologia
(a Matemática tem toda uma complexidade
que achamos difícil de contemplar em um
curso de formação de professores por área
no tempo proposto). A Matemática será
trabalhada no curso como “instrumento”
articulado às necessidades das disciplinas
citadas.
Em paralelo a isso, de outubro de
2016 até o momento, temos participado de
atividades acadêmicas na Universidade
Estadual de Santa Cruz - UESC que tratam
da formação de professores de ciências na
perspectiva crítica, em grupo de pesquisa
que tem propiciado aproximações com o
referencial trabalhado, denominado
Situação de Estudo SE.
A Situação de Estudo é uma proposta
de intervenção e organização curricular
que teve início por volta do ano 2000, por
meio de um grupo de professores do Grupo
Interdisciplinar de Pesquisa sobre
Educação em Ciências (Gipec) da
Universidade Regional do Noroeste do
Estado do Rio Grande do Sul (Unijuí).
Tem como base o estudo coletivo
(professores das disciplinas escolares,
principalmente de ciências exatas e
matemática, e estudantes da escola básica,
podendo envolver também professores e
estudantes da universidade) de um tema
oriundo do contexto de vivência dos
estudantes, para que eles possam expressar
as suas opiniões/impressões e
conhecimentos prévios e, a partir daí, após
aprofundamento teórico-prático, poder
emergir os conceitos científicos das
diversas disciplinas envolvidas no estudo,
produzindo novos saberes (Maldaner,
2007; Massena, 2015).
Frutos dessas experiências,
passaremos a expor agora os princípios e
pressupostos filosóficos, educacionais e
pedagógicos gerais que, em nosso
entendimento, devem nortear a área das
Ciências da Natureza no curso de
Licenciatura em Educação do Campo na
perspectiva sócio-histórica.
Pressupostos e princípios filosóficos,
educacionais e pedagógicos gerais
Este item será subdividido em 3
subitens: o primeiro tratará de nosso
posicionamento com relação ao papel das
universidades públicas brasileiras na
formação de professores; em seguida,
abordaremos os princípios e pressupostos
filosóficos gerais e, por último, os
princípios e pressupostos educacionais e
pedagógicos gerais que devem estar
presentes na formação de um professor da
área das Ciências da Natureza que se
proponha crítica.
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a) Formação de professores nas
universidades públicas brasileiras: para
além do mercado
Aqueles que tratam o trabalho como
constitutivo do humano e como fundante
das relações sociais, reconhecem a
dificuldade, no plano prático-político, para
transformar o atual estágio da história da
humanidade, determinada pelas relações
capitalistas de produção, em que a
alienação tem sido potencializada e a
barbárie/desumanização tem sido a tônica.
Os velhos discursos travestidos de
modernos têm predominado em todos os
espaços sociais, inclusive na educação.
Por meio da ideologia (neo)liberal, que tem
o mercado, com sua mão invisível, como
fundante das relações sociais, a posição
conservadora tem predominado
(Moradillo, 2010).
É preciso também reconhecer que,
por outros caminhos e de uma forma mais
complexa, as teses e posturas pós-
modernas
iii
têm ampliado e alimentado o
debate, não necessariamente chegando, de
forma direta, às mesmas teses
conservadoras do mercado, porém diluindo
ou negando o papel transformador dos
sujeitos sociais, ainda mais daqueles que
são obrigados a vender sua força de
trabalho para sobreviver, com sérias
implicações para a desigualdade social e a
luta de classes (Moradillo, 2010; Moradillo
et al., 2011).
As posturas pós-modernas, de uma
forma geral, negam o papel revolucionário
do sujeito social, negam as classes sociais
na acepção marxista, negam a razão
iluminista e o historicismo, o
conhecimento totalizante e universalizante,
a noção de verdade, inclusive da ciência,
assim como a concepção de igualdade
social e de emancipação humana. Como
consequência, diluem o sujeito social nas
suas particularidades de gênero, etnia,
orientação sexual, raça, assim como de
religião e, até mesmo, “econômica”, dentre
outras; de maneira resumida: diluem os
sujeitos sociais nas suas “diferenças”, e,
dessa forma, supervalorizam,
hiperdimensionam e inflacionam os
particularismos sociais, denominados de
diversidade “cultural”
iv
- o
“multicuturalismo” -, resultando no
relativismo epistemológico e cultural
(Lyotard, 1997; Silva, 1999; Hall, 2001).
Supervalorizam o “eu”, em detrimento do
“nós”, que no limite nos torna indivíduos-
individuais e não indivíduos-sociais.
Tornamo-nos literalmente átomos sociais,
cada um com a sua “visão” de mundo. O
social comparece como meio da minha
realização pessoal. Assim, elevam a
fragmentação do real à máxima potência
(Wood & Foster, 1999; Malanchen, 2016).
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Podemos também inferir que esses
relativismos tendem a esconder, por trás
das diferenças, as desigualdades sociais
(transformam a desigualdade social em
diferença) e, consequentemente, nas
diferenças vamos nos tornando indiferentes
à realidade social com seus antagonismos
sociais de classe, da divisão social do
trabalho e da propriedade privada dos
meios fundamentais de produção da nossa
existência, com implicações também
éticas.
Dessa forma, as posturas pós-
modernas acabam também reforçando as
relações mercantis com suas consequências
estruturantes devido à acumulação do
capital: assimetria social em função da
acumulação/riqueza de poucos em
detrimento da miséria de muitos e
destruição da natureza.
Esses discursos geralmente aparecem
na educação na defesa intransigente das
“diferenças” e do multiculturalismo”
(Malanchen, 2016), com seus
desdobramentos nos projetos político-
pedagógicos, nos currículos e nas
concepções de ensino e aprendizagem.
Então, é nesse cenário de relativismo
epistemológico e cultural imerso na sua
base de sustentação, as relações capitalistas
de produção da nossa existência e no seu
momento histórico de crise estrutural
(Mészáros, 2006a), com a sua
reestruturação produtiva e crise do
emprego (Coggiola & Katz, 1996), que
temos constatado uma tendência mais
acentuada para adaptar a educação e a
universidade às necessidades do mercado
(Moradillo, 2010). Seja do ponto de vista
da produção de conhecimento - de
conformá-lo às necessidades
práticas/tecnológicas do mercado -, seja do
ponto de vista de formar profissionais para
o mercado, com suas demandas. É
sintomático que as Pró-Reitorias de
Pesquisa de várias universidades tenham
mudado o seu nome para Pró-Reitoria de
Pesquisa, Criação e Inovação. Que
saibamos, toda pesquisa tem como base a
criação e inovação, portanto, seria
redundante essa mudança de nome se o que
está implícito nessa nova denominação não
tivesse o endereço certo: criação e
inovação para o mercado
v
.
É preciso mais uma vez afirmar que
as necessidades do mercado, com relação à
mão de obra e ao conhecimento, mudam
com uma velocidade diferente do processo
educativo e das necessidades da sociedade
como um todo. Não cabe formar pessoas
ao sabor do vento do mercado e o mais
importante, as pessoas não são mercadorias
(Moradillo, 2010; Moradillo et al., 2011).
Por isso, defendemos uma proposta
de universidade que além das
necessidades do mercado, inclusive com
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relação aos modismos pedagógicos, que
geralmente respondem a essas
necessidades. Temos que agir no sentido
de resgatar aquilo que é de fundamental
importância para as instituições
universitárias e que vem a ser o seu
objetivo maior: a produção de
conhecimento crítico (ir à raiz das coisas) e
socialmente relevante (para além do
mercado). Com base nesse princípio,
defendemos que a formação de professores
nas universidades radicalize a análise da
realidade social através de referenciais
filosóficos, educacionais e pedagógicos
críticos, numa perspectiva sócio-histórica,
enfrentando assim o chamado “recuo da
teoria”, que tem caracterizado essa
formação, empobrecendo-a, acomodando-a
aos modismos pedagógicos do momento
(Moraes, 2003; Duarte, 2016).
Isso posto, passaremos a tratar agora
dos princípios e pressupostos filosóficos
gerais.
b) Pressupostos e princípios filosóficos
gerais: ontologia do ser social e
economia política
Trabalho como categoria fundante do
ser social
Do ponto de vista materialista, o ser
social surge a partir da sua base material e
orgânica - a vida. Esse é o seu pedestal.
Nesse surgimento, em termos da evolução,
rompe com as características anteriores da
matéria inanimada (determinação físico-
química) e viva (determinação biológica),
se caracterizando agora pela produção
permanente do novo para dar conta da sua
existência (determinação cultural). Assim,
podemos falar de um salto ontológico
nessa evolução. Esse “novo” é o constante
movimento de produzir outro que não está
posto na natureza, e que é a síntese dele -
ser social - com a natureza, através do
trabalho. Esse é o processo de objetivação,
que articula previa ideação (sujeito) e
causalidade (natureza), pondo em
movimento a realidade social, criando o
mundo da cultura.
Chamamos esse processo de práxis
social. Pela práxis social o ser humano
transforma a ele e a natureza
permanentemente, criando o mundo
objetivo. A práxis social é o ato humano
que, em contato com a realidade, articula o
agir e o pensar, sempre permeado de
valores sociais, procurando dar conta da
sua existência - garantindo a reprodução
social. Ao fazer isso, objetivando a
realidade social, criando objetos materiais,
ideias e instituições, cria-se a cultura.
Para dar conta da sua existência, o
animal age de forma programada pela sua
genética, ele é biologicamente
determinado, a sua adaptação ao meio é
passiva, se repete praticamente da mesma
forma de geração para geração. A
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sobrevivência da espécie está intimamente
ligada ao meio e a repetição dos seus atos -
o instinto -, o animal é equipado
corporalmente com determinadas
características que lhe permitem ser um
especialista em seu meio. Os animais
literalmente se adaptam à natureza, e
tendem a repetir por várias gerações o
procedimento padrão que a espécie traz no
seu código genético (Moradillo, 2010).
O ser social é frágil corporalmente se
o compararmos com vários tipos de
animais, ele não é especialista em seu
meio. Contudo, com a mediação do
trabalho, ele consegue essa plasticidade
que o caracteriza, e consegue se impor e
ocupar quase todos os nichos existentes na
superfície da Terra, podendo viver em
ambientes extremos, a exemplo do deserto
e das regiões geladas. Agindo sobre a
natureza e transformando-a, o ser social
segue para além da sua determinação
biológica. Produzindo cultura dentro de
relações sociais, onde a natureza é o
princípio e o limite posto, supera por
incorporação o biológico e passa a ser
determinado por esse novo padrão
socioambiental: a cultura. É a isto que
estamos chamando de adaptação ativa: a
determinação social e o biológica do ser
humano (Moradillo, 2010). O homem não
nasce homem, se faz homem (Saviani,
1995; Leontiev, 2004; Marx, 2006; Marx e
Engels; 2007). Para Marx (2006), a
essência humana tem que ser buscada na
prática, nas relações sociais, na
materialidade terrestre e não no céu. As
relações sociais passam a ser o fundamento
da formação da espécie, tornando-nos seres
genéricos, universais. Assim, a cada
momento do desenvolvimento social, o
homem - o ser social -, para dar conta da
sua existência, transforma a si e ao
entorno.
O ser social tem como marco
fundante o trabalho, que é a ação
deliberada - consciente - do homem na
natureza para atingir determinados fins.
Isto significa entender o homem como um
ser que projeta, planeja e constrói o futuro
e que, ao proceder assim, produz
universalmente. Em todas as sociedades de
que temos conhecimento, desde a mais
primitiva até o estágio atual do capitalismo
contemporâneo, a transformação da
natureza nos meios de produção e meios de
subsistência para a reprodução social
sempre existiu - esta é uma condição eterna
-, o que se modifica no curso da história é a
forma pela qual as atividades de
produção/consumo e distribuição são
organizadas e realizadas. Mudam os
objetos produzidos, as formas de
transformá-lo e sua distribuição, porém,
não se elimina o fato da necessidade do
metabolismo entre o homem e a natureza,
Moradillo, E. F., Neto, H. S. M., Massena, E. P. (2017). Ciências da Natureza na Educação do Campo: em defesa de uma
abordagem sócio-histórica...
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condição eterna do ser social (Marx e
Engels, 2007; Moradillo, 2010).
É a partir do trabalho como
intercambio do homem com a natureza que
novas necessidade e possibilidades vão
sendo postas, remetendo para além do
trabalho, criando novas mediações sociais
a exemplo da filosofia, arte, ciência,
religião, direito, Estado, família, dentre
outras. O trabalho é o modelo das
objetivações humanas, pois todas elas
supõem as características constitutivas do
trabalho: teleologia, universalização e
linguagem (Neto & Braz, 2009).
Esse processo de construir a si
mesmo, de construir ambientes cada vez
mais sociais para dar conta da sua
reprodução caracteriza a essência do
homem. Quando, por determinados
processos de objetivação, essa essência do
homem é negada, dá-se a alienação
(Mészáros, 2006b; Marx, 2006; Neto,
2009). A alienação corresponde à negação
do humano, a criação de formas objetivas
que impedem a plena explicitação do
gênero humano, a negação da práxis social.
A alienação propiciada pelo capital
impõe aos seres humanos, no seu dia a dia,
na sua cotidianidade, não reconhecê-lo
como uma criação sua. Ele, o capital, passa
a ser uma força natural como qualquer
outra existente na natureza. Opera-se uma
inversão na nossa subjetividade: o ser
humano é subsumido pelo capital, o
processo de objetivação humana é
negativado; o ter passa a assumir o ser
(Marx, 2006).
Ao analisar a sociedade da sua
época, Marx (1980; 2006), considerava que
capital e pleno desenvolvimento humano -
o homem inteiro, explicitação da sua
genericidade - são excludentes, não se
articulam, se negam, são antagônicos; com
toda consequência nos planos: ético,
político, econômico e educacional. A
formação humana omnilateral passa a ser
uma impossibilidade objetiva.
Marx (2006), nos Manuscritos de
Paris, de 1844, ao discutir a propriedade
privada e o comunismo, desenvolve a
questão do estranhamento de todos os
sentidos humanos, físicos e intelectuais,
por um novo sentido que aparece na
sociedade burguesa, baseado na
propriedade privada, isto é, o sentido do
ter. Esse vai se tornar o verdadeiro sentido
social.
É, portanto, a partir desse
estranhamento que o trabalho passa
gradativamente de criador a destruidor,
deixando de ser uma atividade de forças
livres para se tornar trabalho forçado,
simples meio de sobrevivência, deixando
de ser explicitação de todas as potências
físicas e intelectuais humanas para se
tornar seu definhamento. Então, ele nega
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seu próprio princípio e nega assim o
princípio mesmo do homem.
Esta forma de ser do trabalho é
nefasta para o ser social que busca a
omnilateralidade e que, sob a forma do
trabalho alienado, vivencia a
unilateralidade. O homem se torna um
fragmento de si próprio, sendo sobrepujado
por sua própria obra, deixando de ser ele
mesmo. Humaniza a natureza, mas não
desenvolve a humanidade de sua natureza,
passa a ser expressão da coisificação do
seu ser, da reificação do capital (Marx
2006; Marx e Engels, 2007).
Economia política: teoria do valor-
trabalho
Defendemos que num curso de
formação de professores não basta
explicitar a categoria trabalho no seu
sentido ontológico e os seus
desdobramentos para a reprodução do ser
social, sentimos também a necessidade de
trazer o outro pilar necessário para
desmistificar a realidade social: os
princípios da economia política a partir da
teoria do valor-trabalho.
Assim, juntamente com Marx (1980,
2006), que floresceu de 1818-1883 e foi
contemporâneo das transformações
realizadas pela burguesia revolucionária,
vivendo os efeitos políticos da revolução
francesa, da revolução industrial com seu
ápice na Inglaterra e no plano das ideias
filosóficas tendo como referência principal
a Alemanha, considerada a mais
desenvolvida nesse campo, perguntamos: o
que é o capital? Como é possível a
riqueza?
Essas são algumas das inquietações
de Marx, que passa a ter como objeto de
estudo a sociedade burguesa do seu tempo,
que do ponto de vista ideopolítico e
técnico-cientifico se consolidará no final
do século XVIII e durante boa parte do
século XIX a fase do capitalismo
industrial
vi
, após o longo processo de
acumulação primitiva, que inicia na
transição do feudalismo para o capitalismo
nos séculos XV/XVI.
Com as contribuições de Engels,
inicialmente na década de 1840,
principalmente com relação às questões da
economia política, Marx envereda por um
longo processo para explicar a tríade
fetichóide: mercadoria, dinheiro e capital e
como é possível a riqueza na sociedade
burguesa (Moradillo, 2010).
Nos manuscritos de Paris, de 1844,
Marx expõe, a partir de uma perspectiva
moralista, o problema do dinheiro: da
“divindade visível”, da “prostituta
universal”, “o proxeneta universal dos
homens e dos povos”, como Shakespeare
denomina (Marx, 2006, p. 159).
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No livro 1 do Capital, de 1867, após
exaustivos estudos para compreender a
sociedade burguesa da sua época, Marx
(1980) explica o dinheiro de forma
científica, de como a tríade fetichóide
funciona.
Marx (1980) tem como ponto de
partida, na sua pesquisa, nos seus estudos,
a noção de riqueza e não de mercadoria.
Não qualquer forma histórica de riqueza,
mas aquela que domina o modo de
produção capitalista, que aparece como
uma “imensa acumulação [coleção] de
mercadorias” (Marx, 1980, p. 41). Ele
parte da forma fenomênica, daquilo que
aparece na sociedade capitalista. Nesse
momento, após perquirir por longo tempo
o seu objeto de estudo, a sociedade civil
burguesa, e tecer a crítica da economia
política, historicizando-a, encontra-se ele
em condições de analisar a mercadoria, e
afirma: “a mercadoria, isoladamente
considerada, é a forma elementar dessa
riqueza” (Marx, 1980, p. 41).
Pela manifestação da riqueza na
sociedade capitalista, procura ele as suas
contradições e incongruências, por isso a
necessidade de ir às mercadorias, para
elucidar as suas artimanhas, seus nexos e
significados dentro de relações sociais. A
mercadoria é um objeto prático, que tem
uma utilidade e satisfaz alguma
necessidade humana, contém vida social e
carrega com ela essa tensão de ser valor de
uso (mais propriamente uso) e de troca
(mais propriamente valor). A mercadoria é
a “célula” da sociabilidade mercantil, o
elemento que particulariza a totalidade
capitalista, a parte que contém a totalidade.
A partir desse ponto, Marx
destrincha a fenomenologia da sociedade
capitalista, expondo os dois fatores da
mercadoria: o valor de uso e o valor de
troca e sua contradição. Mostrará que a
substância do valor de uso é o trabalho
concreto, que serve de pedestal para o
trabalho abstrato, ou melhor, o valor.
Como na sociedade capitalista o que
importa não é o valor de uso para satisfazer
necessidades humanas e sim a troca, onde
o valor se valoriza, a contradição se instala.
Ao desmontar a mercadoria, Marx
mostra que o valor de uso é histórico,
contingente, tem como base as qualidades
imanentes ao trabalho concreto na sua
capacidade de converter a natureza em
objetos práticos, úteis, podendo se
converter em mercadoria ou não. Essa é a
“condição eterna” do homem, da existência
do ser social, metabolismo necessário a
qualquer agrupamento humano
historicamente existente. É impensável
uma sociedade que não produza os meios
de subsistência dela mesmo.
Marx mostrará que o valor das coisas
tem a ver com o trabalho humano
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incorporado nelas e sua magnitude com o
tempo de trabalho (médio) socialmente
necessário para produzi-las. Essa é a
essência da teoria do valor-trabalho. É isso
que interessa para Marx, o valor é nada
menos do que atividade humana
incorporada nas coisas, é relação social
historicamente determinada, configurada.
O valor é expressão do desenvolvimento
social da humanidade
vii
.
O trabalho de intercâmbio orgânico
com a natureza, de condição eterna do
homem - esse é seu sentido positivo -,
assume na sociedade capitalista a sua
máxima alienação, o seu sentido negativo,
pois se torna mercadoria: deixa de ser
produtor de valores de uso para ser
produtor de valor, de mais valia
viii
. Esse é o
seu conteúdo histórico.
Assim, podemos afirmar, a partir de
Marx, que dentro da realidade social atual,
determinada por relações capitalistas de
produção, a riqueza é fruto da apropriação
por parte de alguns - os donos dos meios
de produção - do trabalho produtivo de
muitos, que no dia a dia, por estarem
apartados dos meios fundamentais de
produção da nossa existência, tem que
vender a sua força de trabalho para dar
conta da sua existência - se torna uma
mercadoria -, se alienando nesse processo.
Podemos afirmar, ainda com Marx
(1980), que por esse caminho tortuoso que
tem exaurido o trabalhador e destruído a
natureza, a sociedade capitalista propiciou
à humanidade o desenvolvimento das
forças produtivas a tal ponto que é possível
superar as carências individuais e sociais -
o reino das necessidades -, tornando plena
a possibilidade do reino da abundância e,
com isso, possibilitando um salto da
humanidade para outro patamar de
sociabilidade, uma verdadeira comunidade,
o comunismo. Porém, dentro de relações
sociais de classe, isso não pode se
configurar. A lógica do capital não visa à
reprodução do ser social como fundamento
e sim à valorização de valor através da
“esfola” do trabalhador, que vende sua
força de trabalho (Moradillo, 2010).
Finalizamos esse item com a
seguinte síntese: o ser social é uma
totalidade, um complexo de complexos
(Lukács, 2010); para compreender
qualquer parte dessa totalidade
(complexo), devemos sempre buscar a
gênese e a função social de cada complexo
constitutivo dessa totalidade complexa. Por
gênese entendemos não a origem
histórica, mas, sobretudo, sua origem
ontológica. Para nós, a partir de Lukács
(2010), a função social de determinado
complexo significa a função que essa
determinada parte desempenha na
reprodução do ser social. É buscando a
gênese e a função social que se descobre
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sempre a natureza mais íntima de
determinada parte da realidade social
(Tonet, 2007).
Ainda que o trabalho seja o fundante
do ser social, constitui apenas um dos
momentos da realidade social. Desde o seu
momento original, outros momentos
comparecem, como a sociabilidade, a
linguagem e a consciência. A educação
aparece desde os primórdios na
necessidade de compartilhar experiências
de sentido gregário. Outros vão surgir com
o desenvolvimento das forças produtivas e
aumento da complexidade da sociedade. O
trabalho é a única categoria cuja função
social é a produção dos bens materiais
necessários à existência humana. Essa é
uma constatação ontológica, é a condição
eterna do ser social (Marx, 1980; 2006). A
partir do trabalho surgem as outras
atividades humanas. Entre o trabalho e as
outras atividades humanas existe uma
dependência ontológica, todas têm uma
autonomia relativa, que não dependem
mecanicamente do trabalho; havendo uma
determinação recíproca entre todas elas,
que se relacionam e se constituem
mutuamente nesse processo (Tonet, 2007).
Após essa leitura, o leitor pode se
questionar: é necessário que um professor
de Ciências da Natureza do campo conheça
todos os princípios tratados até aqui? Quais
as relações destas concepções com a
prática pedagógica do professor?
Entendemos que essas questões podem
aparecer diante do atual pragmatismo que
assola a formação docente, seja no campo
ou na cidade, que busca respostas
imediatas que desemboquem na sua prática
pedagógica. O grande problema desse
imediatismo e recuo teórico na formação
docente é que sem as discussões que
fizemos anteriormente, a tão propalada
“educação crítica” fica esvaziada de
sentido, vira um refrão vazio que ressoa
sem dizer quase nada. Desfetichizar o que
é o ser humano do ponto de vista
ontológico como a sociedade regida pelo
capital acumula riqueza e exaure o
trabalhador é imprescindível para que o
professor de Ciências da Natureza encontre
ressonância destas concepções nos seus
pressupostos pedagógicos e educacionais,
evitando, assim, cair nas armadilhas dos
discursos modernos educacionais, que na
aparência se dizem críticos e progressistas,
mas que nas suas bases servem como
instrumento ideológico da burguesia.
E quais são, então, esses princípios
educacionais e pedagógicos gerais? É com
o que nos deteremos no próximo item deste
trabalho.
c) Pressupostos e princípios
educacionais e pedagógicos gerais
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A educação como um complexo
social, que tem como função garantir que
as novas gerações se apropriem do legado
de conhecimentos, habilidades e valores
sociais conquistados pelas gerações
precedentes e a atual - garantir a
reprodução social -, está compelida a cada
instante a lidar com a tensão dialética entre
o momento da conservação e da
transformação, sendo que o polo da
transformação põe em evidencia a relação
entre outras duas categorias fundamentais
para uma educação crítica: necessidades e
possibilidades. As necessidades e
possibilidades produzidas em cada
momento da história social da humanidade,
tanto ao nível do indivíduo como no da
totalidade social, põem novas
determinações e movimento na esfera da
reprodução social, fazendo com que o polo
da transformação esteja sempre presente no
ato educativo (Moradillo, 2010).
Por isso, defendemos que o
professor, em sua práxis, deve ter claro
para que tipo de prática social está
formando os indivíduos, qual é o projeto
histórico de sociedade almejado.
O professor tem que ter clareza de
que a constatação que se faz da realidade
precisa ser interpretada, julgada. É preciso
ter um juízo de valor. Aqui aparece a
questão de classe. Não tem como, numa
sociedade que se estrutura na distinção de
classes sociais, entre aqueles que
produzem a riqueza e aqueles que se
apropriam dela, o professor deixar de se
posicionar eticamente. Ao valorar, ele
também projeta, toma posição de classe e
propõe a sociedade e o homem que se quer
formar e que se almeja. Por isso, o projeto
político-pedagógico expressa essa
intencionalidade, é uma ação interessada,
deliberada, que compõe estratégias
transformativas ou conservadoras. Os
conteúdos a serem ensinados, a relação
com os alunos, os referenciais científico-
culturais e a metodologia que se adota
expõem, além do máximo
desenvolvimento cultural da humanidade,
o compromisso de classe (Soares, 1992).
Pelo que foi exposto até aqui,
percebemos que defender a perspectiva
sócio-histórica na formação de professores
é conceber o trabalho no seu sentido
ontológico: como fundante do ser social e
que sempre remete para além dele mesmo,
criando, assim, o mundo da cultura, das
objetivações humanas, expressas nos
objetos matérias, ideias e instituições.
Dessa forma, o trabalho é também
categoria central para entendermos a
produção do conhecimento. Essa é a sua
dimensão epistemológica.
No Projeto Político-Pedagógico -
PPP da área das Ciências da Natureza do
curso Licenciatura em Educação do
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Campo, defendemos o trato com o
conhecimento e a organização do mesmo a
partir das categorias da totalidade social,
da mediação e da contradição dialéticas,
tendo sempre o trabalho como fundante do
ser social, no seu movimento histórico, no
contexto sócio-histórico. Assim, é possível
articular a educação e a ciência com as
questões políticas, econômicas, éticas,
socioambientais e epistemológicas, dentre
outras, em cada momento histórico, através
de um método que incorpore o
categorial/lógico e o histórico como
dimensões do real (Moradillo et al., 2011).
Por isso, o PPP do curso deve ter
como princípio a educação pelo trabalho
como um processo de formação humana.
Educação pelo trabalho considera o
trabalho como princípio educativo,
compreendendo o trabalho como fundante
do ser social e que se expressa no tempo
como intercâmbio orgânico entre o homem
e a natureza. Sendo assim, os conteúdos
escolares devem expressar o modo pelo
qual o homem dominou e domina a
natureza para produzir sua humanidade,
diferentemente da educação para o
trabalho, em que se pressupõe uma
formação profissional para atuação no
mercado de trabalho (Kuenzer, 2005;
Pistrak, 2006). Disto não decorre afirmar
que não seja importante a formação para a
vida produtiva, para o trabalho. O que
defendemos é uma formação “pelo
trabalho - emerge aí a história social do
homem, que, no momento adequado,
desemboca na formação “para” o trabalho,
para uma profissão, com o fim de
proporcionar aos sujeitos sociais vida
produtiva, de acordo com as necessidades
da reprodução da totalidade social. É
lógico que numa sociedade que visa formar
mão de obra para suprir as necessidades do
capital, a educação “para” o trabalho se
apresenta desde os primeiros anos
escolares para os filhos da classe
trabalhadora, e o interesse da totalidade
social aparece com seu viés classista, ou
melhor, como interesse da classe
dominante. Este é um dos limites
existentes na sociedade capitalista para
termos uma educação que esteja pautada
“pelo” trabalho e não “para” o trabalho. É
possível tencionar por dialeticidade nessa
contradição, e avançarmos nos cursos em
que podemos trazer essa abordagem
(Moradillo, 2010).
Desse modo, a educação pelo
trabalho passa a ser princípio educativo e
ponto focal de qualquer processo educativo
que tem como pressuposto a emancipação
humana.
É pertinente reafirmar e deixar claro
que o trabalho como princípio educativo
expressa essa dupla dimensão: ontológica
(fundante do ser social, nossa protoforma)
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e epistemológica (os conhecimentos são
produzidos por dentro de relações sociais,
para dar conta da nossa existência, tendo o
trabalho, na sua forma histórica concreta a
sua base).
Na nossa prática educativa, a
explicitação e execução de ações que
levam em consideração a educação pelo
trabalho conseguem colocar em evidência
as contradições relativas aos conflitos
sociais, políticos, éticos, ambientais e
filosóficos que permeiam a sociedade
atual, a partir do referencial teórico-
metodológico do materialismo histórico e
dialético (Moradillo, 2010; Moradillo et
al., 2011).
Os pressupostos da formação
docente, acima mencionados, implicam em
um currículo no qual se discuta o trabalho
como fundante do ser social, correntes
epistemológicas e sua consequência na
produção do conhecimento científico, o
papel da história no ensino de ciências,
relações entre ciência, tecnologia e
sociedade no seu movimento histórico,
discussões sobre ética e ambiente na
sociedade contemporânea, a geopolítica
mundial dominante, com sua dualidade
estrutural: campo x cidade, as relações
entre as formas de produzir conhecimento,
bens materiais e valores sociais. Um
currículo dessa natureza tem como objetivo
romper com as perspectivas idealistas de
educação e superar a matriz curricular de
base empírico-analítica que tem
predominado nos cursos de formação de
professores de ciências (Moradillo, 2010;
Moradillo et al., 2011).
Para esse propósito, leva-se em
consideração a organização dos
componentes curriculares por área de
conhecimento
ix
, trabalhando de forma a
buscar a interdisciplinaridade
x
de
conteúdos formativos socialmente
relevantes, através do sistema de
complexos proposto por Pistrak (2006),
objetivando a auto-organização dos
estudantes e a realidade como base da
produção do conhecimento, a prática social
como ponto de partida e de chegada
(Pistrak, 2006; Saviani, 2006).
O sistema de complexos foi
apresentado por Pistrak (2006), educador
do período pós-revolução russa, como a
“organização sintética de todo o ensino”
(Pistrak, 2006, p. 132), do programa, não
como “uma técnica metodológica de
organização do programa” (Pistrak, 2006,
p. 133) tendo como finalidade “ajudar o
aluno a compreender a realidade atual de
um ponto de vista marxista, isto é, estudá-
la do ponto de vista dinâmico e não
estático” (Pistrak, 2006, p. 134). Desse
modo, propunha a organização do trabalho
pedagógico através de um sistema que
garante a compreensão da realidade atual
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de acordo com o método dialético, através
de aproximações sucessivas, como “elos
numa única corrente” (Pistrak, 2006, p.
137), e procurando desenvolver a auto-
organização dos estudantes.
A partir da nossa experiência,
defendemos que os complexos: Sociedade,
Natureza, Trabalho e Educação sejam
estudados por todas as áreas de um curso
de Licenciatura em Educação do Campo e,
no caso da área das Ciências da Natureza,
o complexo Recursos Sócio-Naturais seja
abordado, trazendo as especificidades da
área (química, física e biologia). Esses
complexos foram escolhidos devido ao seu
caráter geral necessário buscar os “elos
da corrente” para dar conta de cada um
deles) e o seu vínculo com o plano social:
não são fortuitos, nem insignificantes e se
ligam à histórica luta dos explorados
contra os exploradores. O Sistema de
Complexos contribui para a apropriação de
questões filosóficas, artísticas, da cultura
corporal e da ciência moderna com a
compreensão de sua aplicação técnica,
permitindo aos estudantes, além da
percepção crítica, uma intervenção ativa na
sociedade, com seus problemas, interesses,
objetivos e ideais (Colavolpe & Taffarel,
2009).
Na ação pedagógica, considerando o
sistema de complexos de Pistrak como
organizador do currículo e do ensino, a
pedagogia que melhor se alinha aos nossos
princípios e pressupostos filosóficos,
dentro da nossa experiência, é a Pedagogia
Histórico-Crítica - PHC (Saviani, 2006).
Para Saviani (2006), proponente das bases
da PHC, “O trabalho educativo é o ato de
produzir, direta e intencionalmente, em
cada indivíduo singular, a humanidade que
é produzida historicamente e coletivamente
pelo conjunto dos homens”, sendo
necessária, para isso, a “identificação dos
elementos culturais que precisam ser
assimilados pelos indivíduos da espécie
humana para que eles se tornem humanos”
através de “formas mais adequadas para
atingir esses objetivos” (Saviani, 1995, p.
17).
A PHC entende a educação como
“atividade mediadora no seio da prática
social global” (Saviani, 2006, p. 74) em
que professores e estudantes são “agentes
sociais” “não antagônicos” (Saviani, 2006,
p. 70 e 82). Sendo assim, a educação é, ela
mesma, uma prática social condicionada
pelo todo social e de natureza histórica. A
Pedagogia Histórico-Crítica toma tais
pressupostos como ponto de partida para a
ação educativa que, tendo como objetivo
contribuir para a libertação dos dominados
e a inclusão dos excluídos, priorizando os
conteúdos, pois “sem conteúdos relevantes,
conteúdos significativos, a aprendizagem
deixa de existir, ela transforma-se num
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arremedo, ela transforma-se numa farsa”
(Saviani, 2006, p. 55). Os conteúdos da
cultura são fundamentais por se
constituírem em instrumentos
indispensáveis para a participação política
das camadas populares que, desse modo,
poderão fazer valer os seus interesses
frente aos dominadores, e assim participar
efetivamente das discussões das questões
sociais visando a sua transformação.
Saviani (2006 propõe uma sequência
de ações como momentos da atividade
educativa: partir da realidade (imediata,
caótica), problematizar a realidade,
instrumentalizar o educando (análise),
realizar a catarse (síntese), estabelecimento
de nova visão da realidade (mediada, rica
de determinações).
Sendo assim, na área das Ciências da
Natureza, o ensino de ciências deve
problematizar a prática social em que o
educando está inserido - o imediato, o
singular/particular - ou seja, o cotidiano,
que se apresenta de forma sincrética, e é
aparentemente caótico. A partir desse
ponto cabe ao processo educativo trazer as
mediações necessárias - conhecimentos
como instrumentos de pensamento - para a
apropriação da realidade social na sua
totalidade, na sua concretude, o concreto-
pensado.
A problematização que defendemos a
partir da PHC permite colocar em
evidência os problemas a serem
solucionados e suas contradições que
podem ser resolvidas a partir de uma ação
teórica consubstanciada em uma
concepção de realidade que a entenda
como histórica, contingente e transitória e
que pode (deve!) ser abordada do ponto
de vista material ou da luta dos seres
humanos pela existência, isto é, tendo o
trabalho como fundante do ser social
(Marx, 2006; Marx & Engels, 2007).
Por isso, para a
instrumentação/análise, é necessário tratar
o conhecimento científico escolar dentro
da abordagem sócio-histórica, na qual o
sujeito social e a ciência fazem parte de um
mesmo movimento histórico em que parte
e totalidade estão articuladas. Dessa
maneira, no ensino de ciências, não basta
tratar os produtos da mesma, é preciso
tratar também dos processos, isto é, não
basta somente o ensino de ciências, mas
também o ensino sobre a ciência
(Matthews, 1995).
A partir da análise sócio-histórica,
em que parte e totalidade estão articuladas,
onde o lógico/categorial e o histórico são
constitutivos da realidade social, podemos
chegar a uma síntese rica de
determinações, propiciando o processo
catártico e, retornando ao problema que
deu origem ao processo educativo/de
ensino, a tendência é que o estudante
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participante do mesmo esteja em um
patamar superior de conhecimento, não
do ponto de vista quantitativo, mas,
sobretudo, do ponto de vista da
metodologia de análise (onde os
pressupostos ontológico e epistemológico
são explicitados), elevando a qualidade do
seu pensamento e da sua ação social.
Em consonância com a organização
do ensino proposta por Pistrak (2006) e do
ensino através da PHC, defendemos que no
processo formativo dos estudantes da área
das Ciências da Natureza também seja
explicitado como se o processo de
aprendizagem, dentro da perspectiva
crítico-dialética, tendo como referência a
teoria do desenvolvimento humano da
Escola de Vigotski, também denominada
de Psicologia Histórico-Cultural.
Partimos do pressuposto de que a
Escola de Vigotski traz uma perspectiva
materialista do processo de gênese e
desenvolvimento do ser social e do seu
psiquismo. A tarefa à qual a Psicologia
Histórico-Cultural se detém é estudar o
psiquismo humano superando a dicotomia
da ciência psicológica que explica a psique
humana, ora por vias organicistas, ora por
vias idealistas a-históricas (Luria, 1979;
Vigotski, 2009; Martins, 2013). A
superação de tal dicotomia implica
fazermos uma análise dialética que entende
o ser humano não como um somatório de
fatores naturais e sociais ou como um ser
que se adapta numa relação homem meio.
O entendimento dialético requer assumir
que, na apropriação cultural, o sujeito
(trans)forma seu psiquismo, ou seja,
uma nova forma ao seu modo de pensar e
sentir o mundo que não pode ser mais
explicada pela via biológica, mas a
incorpora por superação (Martins, 2013;
Messeder Neto, 2016).
Vigotski encontrará no signo a
ferramenta psicológica central para que
esse psiquismo possa sofrer a
transformação cultural que supera, por
incorporação, os limites biológicos. É o
signo que se interpõe entre o sujeito e o
mundo e medeia as transformações do
psiquismo humano, permitindo que o
sujeito deixe de ser refém dos estímulos
imediatos e passe a ter controle da sua
conduta (Vigotski, 2009).
A palavra é, para Vigotski, o signo
dos signos. O desenvolvimento do
significado das palavras representa para a
Psicologia Histórico-Cultural as mais
amplas possibilidades de desenvolvimento
do pensamento do sujeito. Esses
significados trazem uma síntese, em
termos de pensamento, daquilo
produzido no seio da cultura, e que é
compartilhada com o sujeito à medida que
ele vai se apropriando destes significados.
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O desenvolvimento do psiquismo
humano passa, portanto, pela
aprendizagem dos conceitos construídos
pela humanidade, caracterizando o
processo de formação dos sujeitos como
um processo educativo. Não por acaso,
Vigotski tratará a aprendizagem como
promotora do desenvolvimento, sendo na
relação do processo de apropriação da
cultura humana que as faculdades
psíquicas se transformam e se humanizam.
A Psicologia Histórico-Cultural
conferirá grande importância à educação
escolar, que esta teria como função
disponibilizar para os sujeitos os
significados mais elaborados e que melhor
generalizam as propriedades dos objetos e
fenômeno. Esse sistema de significados de
máxima generalização é chamado por
Vigotski de conceitos científicos. A real
aprendizagem desses conceitos projeta o
psiquismo do sujeito a novos patamares,
permitindo que ele compreenda o mundo e
a si mesmo para além dos limites imediatos
e pragmáticos da vida cotidiana, numa
relação cada vez mais consciente com as
produções do gênero humano.
O significado do conceito se
desenvolve, muda no tempo histórico,
espelha a totalidade em processo do devir
social a partir do trabalho. A importância
disso? É que, no processo educativo, o ato
de reproduzir ativamente as objetivações
humanas significa muitas vezes não a
atividade de utilizar o objeto, mas também
a atividade que reproduz o próprio objeto.
E a reprodução do objeto, seja ele físico ou
ideal, requer, para se tornar científico, a
compreensão da sua gênese e de seu
desenvolvimento a partir do trabalho, ato
fundante do ser social. Isso tem a máxima
importância para um projeto político-
pedagógico que pense a educação nos seus
vários níveis: fundamental, médio e
superior, e que se preocupa em
disponibilizar para as novas gerações,
principalmente da classe trabalhadora do
campo ou da cidade, os conhecimentos
científicos socialmente relevantes
conquistados pela humanidade.
O processo de produção da
humanidade em cada sujeito de maneira
intencional não é um trabalho fácil. Eis que
esta é a tarefa do professor que não pode
ser reduzida a um simples organizador de
espaços ou facilitador de aprendizagens. O
professor é o sujeito que ensina! Por ser o
mais experiente, por deter o conhecimento
acumulado e sistematizado naquele
momento, por ter a prévia-ideação do
processo - as finalidades da ação educativa,
aonde se quer chegar, os objetivos -, por
dominar a lógica e a historicidade daqueles
conhecimentos, esse professor pode ser
capaz de propiciar ao aluno, por intermédio
da ação do mesmo em direção ao objeto de
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estudo, os nexos e significados do real para
que aquele objeto do conhecimento tenha
sentido, constitua signo.
Isso não significa negar a
especificidade do aluno e suas mediações
com o cotidiano. Está claro para nós que o
professor de Ciências da Natureza da
Educação do Campo precisa conhecer as
especificidades locais, inclusive, para
ajudar os estudantes na construção dos
significados científicos. Mas, não significa
que isso deve se converter em uma química
do campo, uma física do campo, uma
biologia do campo etc. A grande potência
dos conhecimentos científicos, está na
generalização que se materializa nos
diversos exemplares. Sendo assim, o
professor pode até partir das vivências e
relações do campo para ensinar conceitos,
mas não pode parar aí, se quiser de fato
fazer esses estudantes alçarem voos com
pensamento conceitual. A riqueza do
processo educativo, pelas vias do
pensamento conceitual cientifico, está na
possibilidade do conhecimento da
realidade local ao mesmo tempo em que
nos reconhecemos como seres humanos e
entendemos o mundo para além dos
cárceres da imediaticidade pragmática.
Nesse momento, finalizamos essa
parte da fundamentação colocando os
limites históricos que configuram os níveis
individual e social das nossas
intervenções. A educação por si só não
tem o poder de transformar a sociedade.
Podemos, sim, contribuir de forma
revolucionária, disponibilizando à classe
trabalhadora os conhecimentos
socialmente conquistados pela
humanidade e que lhes são negados pela
sociedade de classes, elevando a sua
consciência de classe e potencializando a
sua ação educativa e social (Moradillo et
al., 2011).
Conclusão
Diante do exposto, saímos na defesa
de que o Projeto Político-Pedagógico da
área das Ciências da Natureza dos cursos
de Licenciatura em Educação do Campo
deve ter como pano de fundo a forma com
que o ser humano produz e reproduz a sua
existência a partir do trabalho, produzindo
o mundo da cultura, com seus vários
complexos sociais que vão sendo
produzidos historicamente, a exemplo da
educação, para dar conta da sua
existência/reprodução.
Torna-se fundamental nessa
abordagem compreender a educação como
um complexo social que se originou nos
primórdios do desenvolvimento do ser
social e que surge - para além do trabalho
de intercâmbio com a natureza - com a
função social de garantir para as novas
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gerações os conhecimentos, habilidades e
valores sociais conquistados pelo
agrupamento social/comunidade ao qual
pertence, através da transmissão dos
mesmos. Por isso, para nós, é sempre
importante compreender e explicar a
educação através da sua relação reflexiva
com a sociedade (totalidade social), no seu
movimento histórico, compondo uma
unidade indissolúvel que foi perdida em
muitos cursos de formação de professores.
Dessa relação reflexiva, dois pilares
são fundamentais para compreender e
explicar a sociedade: a ontologia do ser
social: o que é o ser social? Como ele
produz e reproduz a sua existência? E a
economia política, tendo como referência a
teoria do valor-trabalho. A partir desses
dois pilares, teremos o trabalho como
categoria fundante do ser social e
modulador da práxis social. No PPP, a
categoria trabalho assume também o papel
articulador do conhecimento e passa a ser
princípio educativo. Com base nesses
fundamentos gerais, macro estruturantes,
concebendo o trabalho como categoria
axial, é possível, agora, articular os
conhecimentos específicos da ciência, da
educação e da pedagogia, sempre em seu
movimento categorial/lógico e histórico
com a totalidade social e entre si.
Defendemos, portanto, um PPP e um
currículo para os cursos de Licenciatura
em Educação do Campo, em especial para
a área das Ciências da Natureza, que tenha
como pressuposto a concepção sócio-
histórica de homem, natureza e sua
relação, a partir do trabalho, com suas
consequências na concepção de sociedade,
conhecimento, ciência, educação, ensino e
aprendizagem, dentre outras;
possibilitando, dentro dos limites postos na
sociedade atual, a superação das
perspectivas idealistas de educação e de
ciência empírico-analítica.
Dessa forma, esses princípios e
pressupostos filosóficos, educacionais e
pedagógicos apresentados visam formar
professores que irão atuar na educação do
campo, em especial do ao ano do
ensino fundamental e no ensino médio,
levando em conta a realidade do campo -
do ponto de vista sócio-educacional -, e
indo além - uma educação universalizante -
, através de ações pedagógicas que
explicitem a educação como um direito das
pessoas que vivem no campo e como
ferramenta de desenvolvimento e
transformação social.
Ao trazer a abordagem sócio-
histórica e ao trabalhar a perspectiva
historicizadora do homem e da realidade
social no currículo da área das Ciências da
Natureza dos cursos de Licenciatura em
Educação do Campo, acreditamos que
estamos avançando no sentido da luta
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i
Este artigo é fruto de vários trabalhos publicados
ao longo desses últimos 8 anos, tratando da
formação de professores, em particular da área das
Ciências da Natureza e Matemática da Licenciatura
em Educação do Campo.
ii
Um dos autores do manuscrito foi coordenador,
juntamente com outro colega, da área das Ciências
da Natureza e Matemática.
iii
Reconhecemos a diversidade de posições teóricas
e ideopolíticas que se encontram no espectro
denominado de s-moderno. Logo abaixo iremos
fazer algumas considerações gerais sobre o pós-
modernismo.
iv
Os Pós-modernos tendem a considerar a cultura
nos seus aspectos particulares, como aquilo que
identidade a determinado grupo ou comunidade.
Nesse artigo iremos tratar a cultura dentro da
tradição marxista: como resultado acumulado das
objetivações humanas a partir do trabalho ao longo
da história (Malanchen, 2016).
v
Ver as reformas do Estado brasileiro proposta em
1995 por Bresser Pereira, Ministro da
Administração e Reforma do Estado no governo de
Fernando Henrique Cardoso (Sguissardi & Silva
Júnior, 2009).
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vi
Ver Neto & Braz (2009), dentre outros autores,
sobre as três principais fases da sociedade
capitalista: capitalismo mercantil (acumulação
primitiva), capitalismo industrial e capitalismo
monopolista/financeiro.
vii
Aqui não vamos expor a análise que Marx vai
fazer a partir das trocas simples de produtos
(valores de uso) até chegar a forma complexa, onde
valor se valoriza. No entanto, defendemos que essa
abordagem seja feita também nos cursos de
formação de professores.
viii
A mais valia está relacionada ao trabalho
excedente produzido pela mercadoria força de
trabalho.
ix
Não abordaremos nesse texto as contradições que
estão postas por trás da formação de professores por
área de conhecimento, principalmente na
conjuntura atual.
x
A interdisciplinaridade tem como pressuposto a
teoria do conhecimento que toma a realidade como
totalidade e radicaliza na análise da realidade
social, dentro do referencial teórico-metodológico
baseado no materialismo histórico e dialético
(Moradillo, 2010).
Recebido em: 09/07/2017
Aprovado em: 24/08/2017
Publicado em: 13/12/2017
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APA:
Moradillo, E. F., Neto, H. S. M., Massena, E. P.
(2017). Ciências da Natureza na Educação do Campo:
em defesa de uma abordagem sócio-histórica. Rev.
Bras. Educ. Camp., 2(3), 991-1019. DOI:
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-
4863.2017v2n3p991
ABNT:
MORADILLO, E. F.; NETO, H. S. M.; MASSENA,
E. P. Ciências da Natureza na Educação do Campo:
em defesa de uma abordagem sócio-histórica. Rev.
Bras. Educ. Camp., Tocantinópolis, v. 2, n. 3, p.
991-1019, 2017. DOI:
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-
4863.2017v2n3p991
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Edilson Fortuna de Moradillo
http://orcid.org/0000-0001-5457-3718
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de 300dpi, preferencialmente gravadas no formato JPG e tamanho 12cm x 8,5cm. Devem tem
títulos/referências/fontes abaixo das figuras e serem numeradas sequencialmente em algarismos
arábicos, quando referidas no corpo do texto.
OBS. No caso de utilização de imagens (fotografias, figuras etc.) a responsabilidade pelos
direitos de reprodução será exclusivamente dos(as) autores(as), e não da Revista Brasileira
de Educação do Campo.
6. As citações com menos de 40 palavras devem estar entre aspas e incorporadas no parágrafo,
no corpo do texto. As citações com mais de 40 palavras devem vir em parágrafo separado, com
recuo de 1,5cm na margem esquerda, tamanho 11, sem aspas. Ambas as citações devem seguir
as normas da APA (American Psychological Association (APA) - 6. ed. no item "Modelos de
Referências e Citações" dessas diretrizes (logo abaixo).
OBS. Caso necessite suprimir um texto durante uma citação, usa-se três reticências: ... e não
[...]. Exemplo: Segundo Farias (2000, p. 45) a necessidade da arte...é relevante para a
sociedade". Utiliza-se [] apenas quando for inserir um texto ou palavra dentro da citação.
7. Quando realmente for necessário, as notas deverão ser inseridas no fim do texto (notas de fim)
do documento e devem ter caráter explicativo. Devem ter tamanho (fonte) 10 e não excederem
três linhas.
8. O arquivo contendo o trabalho (artigo, ensaio, resenha, entrevista) a ser anexado (enviado)
pelo sistema da Revista (site da revista) durante a submissão on line não deverá ultrapassar o
tamanho de 2MB, nem poderá ser acompanhado com qualquer tipo de informação que
comprove a autoria do trabalho. É preciso manter o anonimato do (s) autor (es) no corpo do
texto e nas figuras, tabelas etc.
9. As Resenhas e entrevistas podem ser enviadas sem seguir as normas de formatação
estabelecidas pela Revista. Caso sejam aprovadas, serão adequadas às Normas da Revista
Brasileira de Educação do Campo.
10. Caso seja incluídos links no corpo do texto, o mesmo deve seguir o procedimento no Word:
“inserir hiperlink”, e deve estar ativo.
PADRÕES DE REFERÊNCIAS E CITAÇÕES
1. As referências deverão vir após o texto, serem organizadas em ordem alfabética e alinhadas à
esquerda. Deverão se basear na norma da American Psychological Association (APA) - 6. ed.,
para melhor indexação e internacionalização do periódico. Todos os(as) autores(as) utilizados no
trabalho obrigatoriamente deverão ser citados nas referências.
2. EM CITAÇÕES NO CORPO DO TEXTO:
Para um autor: Costa (2015) ou (Costa, 2015);
Para dois autores: Barbosa e Oliveira (2012) ou (Barbosa & Oliveira, 2012);
Para três autores: Silva, Freire e Araújo (2009) ou (Silva, Freire & Araújo, 2009); ou, usar et al.
se os autores estiverem dentro de parenteses.
Para mais de três autores: Silva et al. (2008) ou (Silva et al., 2008).
3. NAS REFERÊNCIAS:
ARTIGOS DE PERIÓDICOS/REVISTAS CIENTÍFICAS
Um autor
Vieira, D. (2015). História da Educação. Educação e Social, 37(1), 4-24.
(Obs. o número 37 se refere ao volume da revista/periódico, e o 1 ao número da
revista/periódico).
Dois autores
Moreira, D., & Silva, M. (2014). Arte-Educação. Revista Arte, 37(1), 344-355.
Três autores
Silva, D., Oliveira, H. Souza, M., & Fonseca, S. (2013). Educação do Campo. Revista Social,
12(1), 23-45.
Quatro autores
Silva, D., Oliveira, H. Souza, M., & Fonseca. (2013). História da Música. Revista Social, 12(1),
23-45.
Cinco autores
Silva, D., Oliveira, H. Souza, M., Farias, M., & Fonseca. (2013). História da Música. Revista
Social, 12(1), 23-45.
Seis ou mais autores
Silva, D., Oliveira, H. Souza, M., Farias, M., Fonseca, H., & Fonseca. (2010). História da
Sociedade. Revista Social, 9(1), 33-47.
Silva, D., Oliveira, H. Souza, M., Farias, M., Fonseca, H., & Fonseca...Pereira, A. (2010).
Perspectivas da Educação do Campo. Revista Estadual, 3(1), 22-33.
(Neste caso, na referência coloca-se até 7 autores. Se tiver mais de 8 autores, coloca-se os 6
primeiros, depois reticências e, posteriormente, o último autor)
Autoria Desconhecida
O problema do método. (2010). São José dos Campos: Editora da Cidade.
(Neste caso, quando não há autor, a referência deve-se iniciar pelo título, em itálico. A
citação no corpo do texto deve vir com esse título em itálico ou entre aspas).
Com autor (a) organizador (a) de livro
Silva, D. (Org.). (2016). História da arte. São Paulo: Fonseca e Silva.
Artigo com DOI
Soares, A. B. (1990). Visualidade camponesa. Tocantinense, 12(35), 199-228.
DOI:xxxxxxxxxxxxxxxxx. (no lugar do "x", colocar o DOI).
ARTIGO ACEITO PARA PUBLICAÇÃO, MAS AINDA NÃO FOI PUBLICADO
Borges, A. (no prelo). A novidade camponesa. Revista Científica. Recuperado de: http://
fageicnbek.pdf
TRABALHO NÃO PUBLICADO OU SUBMETIDO PARA PUBLICAÇÃO
Silva, J. (2016). Sobre métodos de leituras visuais. Manuscrito submetido para publicação.
(Neste caso, não se coloca o nome do periódico/revista ou Editora a qual foi submetido o
trabalho).
OBS. Mais de 3 autores nas citações no corpo do texto, utiliza-se et al. Ex. Araújo et al.
(2000) ou (Araújo, et al., 2000)
ARTIGO DE JORNAL
Freitas, A. (2000, 15 de julho). A noção da realidade. Jornal da Cidade, p. A1.
POSTAGEM EM BLOG
Vieira, A. (1999, 13 de julho). Sobre a luta camponesa [Web log post]. Recuperado de
http://fhqncjdjc.php
ANAIS DE EVENTOS (CONGRESSOS, SEMINÁRIOS ETC.)
Netto, G. (2005). O problema da estética. In Anais da 2a Jornada de Educação de Uberlândia
(pp. 204-220). Uberlândia, MG.
LIVRO
Silva, D. (1995). O campesinato. São Paulo, SP: Editora Fontes.
Carvalho, D., & Souza, F. (2003). Educação do Campo. Rio de Janeiro, RJ: Livreiro Editora.
CAPÍTULO DE LIVRO
Martins, H. (1980). Interpretação visual. In Souza, D. (Org.), Teorias estéticas (pp.1-34). São
Paulo, SP: Cortez.
TESE OU DISSERTAÇÃO
Gomes, G. H. (2016). A ilustração camponesa (Dissertação de Mestrado). Universidade Federal
do Tocantins, Tocantins.
Kato, G. V. (1995). Sobre histórias em quadrinhos (Tese de Doutorado). Universidade Federal
do Tocantins, Tocantins.
DOCUMENTOS LEGISLATIVOS BRASILEIROS IMPRESSOS
Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. (1996, 23 de dezembro). Estabelece as Diretrizes e
Bases da Educação Nacional. Diário Oficial da União, seção 1.
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (18a ed.). (1998). São Paulo, Saraiva.
Recuperado de: http://www.senado.gov.br/sf/legislacao/const/
Decreto n. 3.298. (1999, 20 de dezembro). Regulamenta a política nacional para a integração da
pessoa portadora de deficiência, consolida as normas de proteção e outras providências.
Brasília, DF: Presidência da República.
DOCUMENTOS LEGISLATIVOS BRASILEIROS ON LINE
Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. (1996, 23 de dezembro). Estabelece as Diretrizes e
Bases da Educação Nacional. Recuperado de: http://www.senado.gov.br/sf/legislacao
Constituição da República Federativa do Brasil. (1988, 05 de outubro). Recuperado
de: http://www.senado.gov.br/sf/legislacao/const/
Decreto n. 3.298. (1999, 20 de dezembro). Regulamenta a política nacional para a integração da
pessoa portadora de deficiência, consolida as normas de proteção e outras
providências. Recuperado de: http://www.senado.gov.br/sf
OBS. Para outros exemplos de referências, acesse o site da APA: http://www.apastyle.org/
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1. By submitting the manuscript, the authors must submit a statement claiming transfer of
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3. When appropriate and requested, the author must send to the scientific journal a
certificate that the research was approved by the Ethics Committee of the institution.
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in the journal.
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Note. There will not be any kind of payments to authors who have their manuscripts published
in this journal. The Brazilian Journal of Rural Education (Countryside Education) is an
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advancement in the research area of Rural Education (Countryside Education) and Education in
general.
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Rural Education (Countryside Education) (online, at the journal website, accessed with
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8. The journal accepts submissions of manuscripts in Portuguese, Spanish and
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9. The papers (articles, essays, reviews) must be submitted online, through the
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10. In the Microsoft Office Word documents, the author identification should be removed
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11. If the manuscript has been previously published in conference proceedings, in the form
of abstract or full text, the author shall mandatorily inform the situation in the text sent to
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12. Articles should contain: abstract, keywords; resumen, palabras-clave; Introduction,
Development (discussion) Conclusion and References.
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manuscript information (problem and objectives of the paper, the methods used,
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maximum of five keywords, separated by commas.
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and references. They should be written using the Microsoft Word processor (Word),
Times New Roman, 12, spacing 1.5 between lines and the following margins: lower,
upper, left and right 2.5 cm. All pages should be numbered sequentially.
16. Color pictures are accepted (photos, drawings, maps). However, they should have a
resolution of 300dpi, preferably saved in JPG format, and have size 12 cm x 8.5 cm.
They must have titles/references right below them and be sequentially numbered in
Arabic numerals, when referred to in the text.
16. Citations should follow the APA (American Psychological Association).
17. When really necessary, the notes should be inserted in the final page in the text and
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of 2MB or may be accompanied by any type of information that proves the authorship of
the paper. It is necessary to maintain the anonymity of the author(s) in the text and
figures, tables etc.
19. If links are included in the text, the following procedure in Word is required: "insert
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20. Manuscripts submitted to the journal should follow the APA guidelines (American
Psychological Association) 6
th
ed.
[EN] The Brazilian Scientific Journal of Rural Education (Countryside) receives articles,
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20.1. Citations in the paper, use to an author: Costa (2015) or (Costa, 2015); for two authors:
Barbosa and Oliveira (2012) or (Barbosa & Oliveira, 2012); to three authors: Silva Freire and
Araújo (2009) or (Silva Freire & Araújo, 2009); for more than three authors: Silva et al. (2008)
or (Silva et al., 2008).
20.2. An author
Vieira, D. (2015). History of Education. Education and Social, 37(1), 4-24.
20.3. Two authors
Moreira, D., & Silva, M. (2014). Art Education. Art Journal, 37(1), 344-355.
20.4. Three authors
Silva, D. Oliveira, Souza H., M., & Fonseca, S. (2013). Music history. Social Journal, 12(1), 23-
45.
20.5. FOUR AUTHORS
Silva, D. Oliveira, Souza H., M., & Fonseca. (2013). Music history. Social Journal, 12(1),
23-45.
20.6. FIVE AUTHORS
Silva, D. Oliveira, H. Souza, M. Farias, M., & Fonseca. (2013). Music history. Social Journal,
12(1), 23-45.
20.7. SIX OR MORE AUTHORS
Silva, D. Oliveira, H. Souza, M. Farias, M. Fonseca, H., & Fonseca. (2010). History of the
Company. Social Journal, 9(1), 33-47.
Silva, D. Oliveira, H. Souza, M. Farias, M. Fonseca, H., & Fonseca…Pereira, A. (2010).
Perspectives of Rural Education. State Journal, 3(1), 22-33.
AUTHOR UNKNOWN
20.8. The problem of method. (2010). São José dos Campos: Publisher City.
(In this case, when there is no author, reference should be initiated by the title in italics. The
citation in the text should come with that title in italics or quotation marks).
WITH AUTHOR ORGANIZER BOOK
20.9. Silva, D. (Eds.). (2016). Art history. São Paulo: Fonseca e Silva.
ARTICLE WITH DOI
30.0. Smith, A. B. (1990). Peasant visuality. Tocantinense, 12(35), 199-228. DOI: .
ARTICLE ACCEPTED FOR PUBLICATION, BUT HAS NOT BEEN PUBLISHED
30.1. Borges, A. (in press). The peasant novelty. Scientific Journal. Retrieved from:
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TEXT NOT POSTED OR SUBMITTED FOR PUBLICATION
30.2. Silva, J. (2016). About methods for visual readings. Manuscript submitted for publication.
(In this case, do not put the name of the journal or Publisher which the work was submitted).
NEWSPAPER ARTICLE
30.3. Freitas, A. (2000, July 15). The notion of reality. Journal of the City, p. A1.
POSTING IN BLOG
30.4. Vieira, A. (1999, July 13). About the peasant struggle [Web log post]. Retrieved from
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EVENT PROCEEDINGS (CONFERENCES, SEMINARS ETC.)
30.5. Netto, G. (2005). The problem of aesthetics. In Proceedings of the 2th Day of Uberlândia
Education (pp. 204-220). Uberlândia, MG.
[ES] INSTRUCCIONES A LOS AUTORES
1. Mediante la presentación de la artículo, el autor deben presentar una declaración afirmando
transferir sus derechos de autor a la revista, que su manuscrito es un trabajo único y original, no
está siendo sometido a otra revista (nacional o internacional) para su publicación, no entre en
conflicto de interés, que cumple con todos los procedimientos éticos de la investigación
científica y tiene su permiso para ser publicado.
2. El contenido de los textos y las opiniones expresadas en el mismo son de la exclusiva
responsabilidad del autor (s).
3. En su caso y solicitó, debe ser enviado a la revista un certificado de que la investigación fue
aprobado por el Comité de Ética de la institución.
4. Los archivos temáticos pueden ser organizados por los investigadores de doctorado
nacionales y extranjeros, tal como se propone para su publicación en la revista.
5. Los documentos adicionales son aquellos que se refieren a conjuntos de datos, instrumentos
de investigación, entre otros, que no encajan en el texto. Por lo tanto, cuando sea necesario, en la
presentación (presentado por el autor (a) la fase de presentación), no debe contener ningún tipo
de identificación de la autoría.
Nota. No habrá ningún tipo de pagos a los autores que tienen sus manuscritos publicados en esta
revista. La Revista Brasileña de la Educación Rural (Educação do Campo) es una revista
electrónica de acceso libre y abierto, con el fin de socializar el conocimiento y contribuir al
avance científico del área de investigación en el campo de la educación rural y por lo tanto para
la educación en general.
6. En el proceso de envío del manuscrito a la Revista Brasileña de la Educación Rural (Educação
do Campo) (en línea en el sitio web de la revista, con el acceso de usuario y contraseña. Site:
(https://sistemas.uft.edu.br/periodicos/index.php?journal=campo&page=index), debe incluirse
en el sistema de información de la revista, como el nombre (s) completo (s) (s) autor (s)
(máximo tres), su email electrónico, afiliación institucional y autor de correo electrónico para la
correspondencia, así como su dirección física institucional. Esta información no debe ser
insertada en el texto, sólo en el sistema de revista.
7. La Revista Brasileña de la Educación Rural (Educação do Campo) sólo aceptará una
publicación por año en la revista del mismo autor (a).
8. La revista acepta presentaciones de manuscritos en portugués, español e Inglés.
9. Los textos (artículos, ensayos, reseñas) deben presentarse en línea, a través del
Portal: https://sistemas.uft.edu.br/periodicos/index.php?journal=campo&page=index
10. En los documentos de Microsoft Office Word, la identificación del autor debe ser eliminado
de las propiedades del documento (en el menú Word> Opciones de Word o la propiedad).
11. Si el manuscrito ha sido publicado previamente en las actas de congresos, en forma de
resumen o texto completo, (a) autor (a) deberá informar obligatoriamente la situación en el texto
enviado a la revista, en la primera página.
12. Los artículos deben contener: resumen, palabras clave; abstract, keywords; Introducción,
Desarrollo (discusión) Conclusión / Consideraciones finales y Referencias.
13. El título debe ser en portugués, Inglés y español y tienen un máximo de 15 palabras.
14. El resumen y el abstract no deben exceder las 200 palabras. Debe contener la información
principal del manuscrito (problema y los objetivos del trabajo, los métodos utilizados, Los
avances en el ámbito de la investigación, los resultados principales y conclusiones). Ellos deben
estar acompañados por un máximo de cinco palabras clave, separadas por comas.
15. Los artículos deben ser de al menos 15 y no deben exceder las 25 ginas, incluyendo
figuras, tablas y referencias. Ellos deben ser escritos utilizando el procesador de textos de
Windows (Word), Times New Roman, tamaño 12, interlineado de 1,5 neas y márgenes:
superior, inferior, izquierda y derecha de 2,5 cm. Todas las páginas deben estar numeradas
secuencialmente.
16. Imágenes en color se aceptan (fotografías, dibujos, mapas). Sin embargo, deben tener una
resolución de 300dpi, preferiblemente guardado en formato JPG, y tienen un tamaño de 12 cm x
8,5 cm. Deben tener tulos / referencias a continuación las cifras y estar numeradas
consecutivamente en números arábigos, cuando se hace referencia en el texto.
17. Las citas deben cumplir con las normas de APA (American Psychological Association) - 6.
ed.
18. Cuando realmente necesario, las notas deben insertarse en la última página de texto y debe
tener carácter explicativo. Debe tener el tamaño 10 y no superior a tres líneas.
19. El archivo que contiene la obra (artículo, ensayo, crítica, reseña) que se adjunta (enviado)
por el sistema de revista (Portal / web de la revista), durante la presentación en línea no debería
exceder el tamaño de 2 MB o puede estar acompañada de ningún tipo de información que
confirma la autoría de la obra. Es necesario mantener el anonimato del autor (s) (s) en el texto y
figuras, tablas, etc.
20. Los comentarios pueden ser enviados sin seguir las normas de formato establecidas por la
revista. Si se aprueba, será adecuada a las normas de la Revista Brasileña de Educación Rural.
21. Si los enlaces se incluyen en el texto, se debe seguir el procedimiento en Word: "Insertar
hipervínculo", y debe estar activo.
22. Las referencias deben venir después del texto, están ordenados alfabéticamente y
alineados a la izquierda. Ellos deben estar basadas en el estándar de la APA (American
Psychological Association) - 6. ed., para una mejor indexación y la internacionalización de
la revista. Todos los autores utilizados en el trabajo deben mencionarse obligatoriamente
en las referencias.
23. citas en el texto, utilizan a un autor: Costa (2015) o (Costa, 2015); por dos autores: Barbosa
y Oliveira (2012) o (Barbosa & Oliveira 2012); a tres autores: Silva, Freire y Araújo (2009) o
(Silva, Freire & Araujo, 2009); durante más de tres autores: Silva et al. (2008) o (Silva et al.,
2008).
ARTÍCULOS
Un autor
Vieira, D. (2015). Historia de la Educación. Educación y Social, 37(1), 4-24.
Dos autores
Moreira, D., & Silva, M. (2014). Educación técnica. Art Journal, 37(1), 344-355.
Tres autores
Silva, D. Oliveira, H. Souza, M., & Fonseca, S. (2013). Historia de la Música. Diario Social,
12(1), 23-45.
Cuatro autores
Silva, D. Oliveira, H. Souza, M., & Fonseca. (2013). Historia de la Música. Diario Social, 12(1),
23-45.
Cinco autores
Silva, D. Oliveira, H. Souza, M. Farías, M., & Fonseca. (2013). Historia de la Música. Diario
Social, 12(1), 23-45.
Seis o más autores
Silva, D. Oliveira, H. Souza, M. Farías, M. Fonseca, H., & Fonseca. (2010). Historia de la
Compañía. Revista Social, 9(1), 33-47.
Silva, D. Oliveira, H. Souza, M. Farías, M. Fonseca, H., & Fonseca...Pereira, A. (2010).
Perspectivas de la educación rural. Diario Estado, 3(1), 22-33.
Autor desconocido
El problema del método. (2010). São José dos Campos: Editorial Ciudad.
(En este caso, cuando no hay autor, la referencia debe ser iniciado por el título en cursiva. La
cita en el texto debe venir con ese título en cursiva o comillas).
Con el autor (a) organizador (a) libro
Silva, D. (Eds.). (2016). Historia de la arte. San Pablo: Fonseca y Silva.
El artículo con el DOI
Smith, A. B. (1990). visualidad campesino. Tocantinense, 12(35), 199-228. DOI:
XXXXXXXXXXXXXXXXX. (En lugar de "x", colocando el DOI).
ARTÍCULO Aceptado para su publicación, pero no ha sido publicado
Borges, A. (en prensa). La novedad campesino. Diario científica. Obtenido de:
http://fageicnbek.pdf
El trabajo no ENVIADOS O presentado para su publicación
Silva, J. (2016). Acerca de los métodos para las lecturas visuales. Manuscrito presentado para
su publicación.
(En este caso, no ponga el nombre de la revista o editor que se haya presentado la obra).
ARTÍCULO DE PERIÓDICO
Freitas, A. (2000, 15 de julio). La noción de la realidad. Diario de la Ciudad, p. A1.
BLOG INTERNET
Vieira, A. (1999, 13 de julio). Sobre la lucha campesina [Web mensaje de registro]. Obtenido de
http: //fhqncjdjc.php
PROCEDIMIENTOS DE EVENTOS (conferencias, seminarios, etc.)
Netto, G. (2005). El problema de la estética. En Actas de la 2a Jornada de Educación
Uberlândia (pp. 204-220). Uberlândia, MG.
LIBRO
Silva, D. (1995). El campesinado. Sao Paulo, SP: Editora fuentes.
Carvalho, D., y Souza, F. (2003). Educación Rural. Río de Janeiro, RJ: Editorial librería.
CAPÍTULO DE UN LIBRO
Martins, H. (1980). La interpretación visual. En Souza, D. (Eds.), Estética teorías (pp.1-34). Sao
Paulo, SP: Cortez.
Tesis o disertación
Gomes, G. H. (2016). La ilustración campesino (Tesis). Universidad Federal de Tocantins,
Tocantins.
Revista Brasileira de Educação do Campo
POLÍTICA EDITORIAL / EDITORIAL POLICY
Política Editorial / Editorial Policy
[PT] POLÍTICAS
[PT] Foco e Escopo da Revista
A REVISTA BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO DO CAMPO - RBEC, de periodicidade
semestral publica Artigos originais resultantes de pesquisas teóricas e/ou empíricas, Dossiês
Temáticos, Ensaios, Entrevistas e Resenhas de temas vinculados à Educação do Campo sob
diferentes campos da pesquisa, como: História da Educação do Campo; Movimentos Sociais;
Políticas Públicas; Povos Indígenas e Educação; Formação Docente; Jovens e Adultos do
Campo; Didática e Práticas Pedagógicas em Artes e Música; Arte na Educação do Campo;
Interculturalidade na Educação do Campo; Pedagogia da Alternância; Questão Agrária e
Campesinato.
A Revista tem como missão ser um veículo de comunicação científica de qualidade que fomente
importantes debates no campo educacional, principalmente na área da Educação do Campo, de
pesquisadores brasileiros e estrangeiros mestres e doutores, além de estudantes acompanhados
de seus respectivos orientadores (titulação nima de mestre ou doutor), para o avanço
científico da área e para a produção de conhecimento.
A Revista Brasileira de Educação do Campo é uma publicação semestral do Departamento de
Educação do Campo, Curso de Licenciatura em Educação do Campo com Habilitação em Artes
e Música, da Universidade Federal do Tocantins, câmpus de Tocantinópolis. Publica textos em
português, espanhol e inglês.
A revista recebe os manuscritos em fluxo contínuo. É um periódico científico de acesso
aberto e gratuito, sem taxas de submissão e de publicação dos textos submetidos à Revista.
Na seção de Artigos, serão publicados artigos originais, realizados ou em andamento, sob
diferentes temas referentes à Educação do Campo. Na seção Ensaios, serão publicados textos
ensaístas de temas relacionados à Educação do Campo. Na seção Resenhas, serão publicadas
resenhas de livros publicados nos últimos três anos, de temas pertinentes à Educação do Campo,
e Educação em geral. Na seção Dossiês Temáticos, serão publicados grupos de artigos temáticos
relacionados a um dos campos da pesquisa da Revista Brasileira de Educação do Campo. Na
seção Entrevistas, serão publicadas entrevistas de professores/pesquisadores com relevante
experiência e contribuição no campo da pesquisa em Educação do Campo e, Educação, em
Geral. Além disso, o periódico reserva o direito de publicar edições especiais em seus números.
O título abreviado da revista é Rev. Bras. Educ. Camp., que deve ser usado em bibliografias
que citarem esta revista.
[EN] POLICY
[EN] AIMS & SCOPE
The Brazilian Scientific Journal of Rural Education (Countryside Education), biannual
publication, publishes original articles resulting from theoretical and/or empirical research
thematic, essays and reviews of topics related to the Rural Education (Countryside Education) in
different fields of research, such as the Rural Education (Countryside Education) History; Social
Movements; Public Policies; Indigenous Peoples and Education; Teacher Training; Youth and
Adult Rural Education (Countryside Education); Didactic and Pedagogical Practices in Arts and
Music; Art in Rural Education (Countryside Education); Interculturalism in Rural Education
(Countryside Education); Pedagogy of Alternation; Land Reform and Peasantry.
The Scientific Journal's mission is to be a qualified scientific communication instrument that
fosters important debates in the educational field, especially in the Rural Education (Countryside
Education) area of Brazilians and foreign Masters and PhD researchers and students
accompanied by their mentors (minimum Doctor title required), for scientific progress in the
field and for producing knowledge.
The Brazilian Scientific Journal of Rural Education (Countryside Education) is a biannual
publication of the Department of Rural Education (Countryside Education), Bachelor course of
Rural Education (Countryside Education) and specialization course in Arts and Music of the
Federal University of Tocantins, Tocantinópolis city. It publishes papers in Portuguese,
Spanish and English. The journal receives manuscripts in continuous flow. It is an open access
Scientific Journal. No charges - no fees - of manuscript submission and publication -
no APCs.
The abbreviated title of the journal is Rev. Bras. Educ. Camp., which should be used in
bibliographies when citing the journal.
[ES] POLÍTICAS
[ES] TEMÁTICA Y ALCANCE
La Revista Brasileña de la Educación Rural (Educacão do Campo), dos veces al año, publica
artículos originales resultantes de teóricos y / o archivos temáticos de investigación empírica,
ensayos y reseñas de temas relacionados con el campo de la educación rural en diferentes
campos de la investigación, tales como: Historia de la Educación Rural (campo); Los
Movimientos Sociales; Políticas Públicas; Pueblos Indígenas y la Educación; Formación del
Profesorado; la Jóvenes y Adultos Campo; Didácticos y Pedagógicos Prácticas en Artes y
Música; Arte en la Educación Rural; Interculturalidad en Educación Rural; Pedagogía de la
Alternancia; Cuestión Agraria y Campesinado.
La misión de la revista es ser un instrumento de calidad de la comunicación científica que
promueve debates importantes en el campo de la educación, sobre todo en el ámbito de la
Educación Rural de los brasileños y extranjeros maestros e investigadores de doctorado y
estudiantes acompañados por sus tutores (titulación mínima doctor), para el progreso científico
en el campo y para la producción de conocimiento.
La Revista Brasileña de la Educación Rural (Educação do Campo) es una publicación semestral
del Departamento de Educación Rural, Licenciatura en Educación Rural con especialización en
Artes y Música de la Universidad Federal de Tocantins, campus Tocantinópolis. Publica textos
en portugués, español e Inglés. La revista recibe manuscritos en continuamente. Es una
revista científica abierta y libre, sin pagos de tasas de presentación y publicación de los
textos presentados en la revista.
El título abreviado de la revista es Rev. Bras. Educ. Camp., Que debe ser usado en bibliografías,
citando la revista.
[PT] AVALIAÇÃO PELOS PARES
Todos os textos submetidos à revista serão analisados pela equipe editorial, quanto o
atendimento às normas e ao escopo da revista. Caso seja aprovado nesta primeira fase, o texto
será encaminhado a dois pareceristas ou avaliadores ad hoc (avaliação cega por pares / blind
review) da área de conhecimento da pesquisa, que emitirão pareceres quanto a sua aceitação ou
não, visando à qualidade científica do manuscrito e relevante contribuição para a pesquisa em
educação. O artigo será aprovado se receber dois pareceres favoráveis. O artigo será recusado se
receber dois pareceres desfavoráveis. Caso haja um parecer favorável e outro desfavorável entre
os pareceristas, o manuscrito será encaminhado a um terceiro avaliador.
O prazo para resposta da aceitação ou recusa dos manuscritos enviados a Revista Brasileira de
Educação do Campo pode variar de acordo com o processo das avaliações, as quais os
pareceristas ou avaliadores ad hoc poderão solicitar modificações e/ou correções dos textos
enviados a revista pelos (as) autor (a/es).
Caso seja solicitado ao autor (a) reformular/corrigir/revisar o manuscrito, o mesmo deverá
reenvia-lo no prazo máximo de 30 (dez) dias. Posteriormente, após nova reavaliação do texto
feita por um parecerista ou avaliador ad hoc, o manuscrito passará para a etapa final, que
consiste no encaminhamento para a publicação.
Os critérios de avaliação/arbitragem adotados pela Revista Brasileira de Educação do
Campo são:
1. Relevância, contribuição e domínio do tema para a pesquisa científica e educacional;
2. Linguagem clara e coerência do texto;
3. Articulação entre o tema e a fundamentação teórica;
4. Coerência nas análises dos dados e na argumentação;
5. Uso da bibliografia adequada e atualizada.
6. Atendimento as normas da APA(American Psychological Association)
Obs. Os avaliadores deverão estar cadastrados no sistema da revista.
OBS. A Revista Brasileira de Educação do Campo se reserva no direito de publicar artigos de
autores convidados. Contudo, seus manuscritos também serão avaliados no sistema blind
review.
OBS. Textos publicados em Anais de eventos científicos, no formato Resumo ou Texto
completo, deverão ser informados obrigatoriamente pelo(a) autor(a) ao Editor da revista, durante
o processo de submissão do manuscrito, para avaliação.
OBS. Os Dossiês propostos por pesquisadores renomados da área educacional serão analisados
pela equipe editorial da revista, visando atender os critérios de avaliação adotados pela revista.
Nesse sentido, os dossiês podem ser aprovados ou recusados pelos editores da revista.
Caso algum artigo seja aprovado/aceito para ser publicado na revista e fique constatado no texto,
após o aceite, plágio, fabricação de dados e informações, autoria fraudulenta entre outras
práticas de má conduta científica, o artigo será recusado/rejeitado eo se publicado na
revista.
Tutorial para avaliadores ad hoc/pareceristas da revista:
https://sistemas.uft.edu.br/periodicos/index.php/campo/Tutorial
[EN] REVIEW PROCESS FOR SUBMISSIONS
All papers submitted to the journal will be analyzed by the Editorial Review Staff, aimed at
checking the compliance with the guidelines and the journal's scope. If approved this first step,
the text will be designated to two reviewers (Blind Review) with Research Knowledge in the
area who will suggest its acceptance or not, aiming at the scientific manuscript quality and
relevant contribution to the field of Education.
The deadline for acceptance or rejection response of manuscripts submitted to journal may vary
according to the process of assessments, in which the reviewers may request modifications
and/or corrections to be made in the texts.
The reviewer guidelines of the Brazilian Journal of Rural Education (Countryside
Education) are:
1. Relevance and contribution to the theme area of scientific and educational research;
2. Clear language and coherence of the article;
3. Relationship between the theme and the theoretical foundation;
4. Consistency in data analysis and argumentation;
5. Use of appropriate and updated bibliography.
[ES] EVALUACIÓN DE MANUSCRITOS POR LOS COLABORADORES DE LA
REVISTA
Los textos presentados a la Revista serán analizadas por los editores, destinadas a comprobar el
cumplimiento de las normas y el alcance de la revista. Si se aprueba este primer paso, el texto
será enviado a dos evaluadores ad hoc (evaluación ciega por pares) Investigación Área de
conocimiento que va a dar una opinión en cuanto a su aceptación o no, con el objetivo de la
calidad científica y relevante manuscrito contribución a la investigación en la educación. El
plazo para la respuesta de aceptación o rechazo de los manuscritos presentados a la Revista
puede variar de acuerdo con el proceso de las evaluaciones, que los revisores pueden solicitar
modificaciones y / o correcciones a realizar en los textos.
Los criterios de evaluación/arbitraje adoptados por la Revista Brasileña de la Educación
Rural (Educação del Campo/Rural) son:
1. Relevancia, la contribución y el área de tema para la investigación científica y la
educación;
2. Lenguaje claro y coherencia del texto;
3. La relación entre el tema y el fundamento teórico;
4. La consistencia en el análisis de los datos y argumentos;
5. Utilizar la bibliografía adecuada y actualizada.
[PT] DIRETRIZES PARA AVALIAÇÃO
Os critérios de avaliação/arbitragem adotados pela Revista Brasileira de Educação do
Campo são:
1. Relevância, contribuição e domínio do tema para a pesquisa científica e educacional;
2. Linguagem clara e coerência do texto;
3. Articulação entre o tema e a fundamentação teórica;
4. Coerência nas análises dos dados e na argumentação;
5. Uso da bibliografia adequada e atualizada.
6. Atendimento as normas da APA(American Psychological Association)
OBS. OS AVALIADORES DEVERÃO LEVAR EM CONSIDERAÇÃO AS NORMAS DA
APA (American Psychological Association), E NÃO DA ABNT, NO PROCESSO DE
AVALIAÇÃO DOS MANUSCRITOS.
[EN] PEER REVIEW PROCESS - The reviewer guidelines of the Brazilian Journal
of Rural Education (Countryside Education) are:
1. Relevance and contribution to the theme area of scientific and educational
research;
2. Clear language and coherence of the article;
3. Relationship between the theme and the theoretical foundation;
4. Consistency in data analysis and argumentation;
5. Use of appropriate and updated bibliography.
[ES] Los criterios de evaluación/arbitraje adoptados por la Revista Brasileña de la
Educación Rural (Educação do Campo) son:
1. Relevancia, la contribución y el área de tema para la investigación científica y la
educación;
2. Lenguaje claro y coherencia del texto;
3. La relación entre el tema y el fundamento teórico;
4. La consistencia en el análisis de los datos y argumentos;
5. Utilizar la bibliografía adecuada y actualizada.
POLÍTICA DE PRIVACIDADE / PRIVACY POLICY
Os nomes e endereços informados nesta revista serão usados exclusivamente para os serviços
prestados por esta publicação, não sendo disponibilizados para outras finalidades ou a terceiros.
The names and email addresses entered in this journal will be used exclusively for the services
provided by this publication and is not available for other purposes or to third parties.
AHEAD OF PRINT
Informamos que a Revista Brasileira de Educação do Campo adota a Publicação Avançada de
Artigos (PAA), também conhecida como Ahead of Print (AOP). O objetivo é acelerar a
divulgação dos artigos recebidos, avaliados, revisados e aprovados pela revista, dentro de cada
edição. É importante assinalar que tal prática é bastante utilizada por diversas revistas nacionais
e internacionais, além de possibilitar a divulgação mais rápida dos artigos indexados nas bases
de dados para pesquisa. Por isso, contamos com a celeridade dos colegas avaliadores dos artigos
submetidos ao periódico e dos(as) autores(as) no envio dos textos corrigidos dentro dos prazos
estabelecidos pela revista.
[EN] AHEAD OF PRINT
We inform that the Brazilian Journal of Rural Education adopts the Advanced Publication of
Articles (PAA), also known as Ahead of Print (AOP). The objective is to accelerate the
dissemination of the articles received, evaluated, reviewed and approved by the journal.
POLÍTICA DE VERIFICAÇÃO E COMBATE A QUALQUER TIPO DE PLÁGIO
/ VERIFICATION POLICY AND PREVENTING ANY TYPE OF PLAGIARISM
A Revista Brasileira de Educação do Campo seguirá as diretrizes contidas no COPE (Committee
on Publication Ethics) e terá também seus próprios códigos de conduta e ética, não aceitando
fraudes, más condutas, violações de ética ou plágio de qualquer forma. Caso seja identificada
algumas dessas práticas nos manuscritos recebidos, como por exemplo, a de plágio, os mesmos
serão tratados de acordo com as orientações do COPE. Diante disso, os autores deverão visitar o
site da COPE para maiores informações sobre ética em
pesquisa: http://publicationethics.org/resources/flowcharts
[EN] The Brazilian Journal of Rural Education will follow the guidelines contained in the COPE
(Committee on Publication Ethics), not accepting plagiarism. If any conduct of plagiarism is
identified in the manuscripts received, they will be treated according to the COPE guidelines.
More information at website: http://publicationethics.org/resources/flowcharts
CÓDIGOS DE ÉTICA E CONDUTA (Boas práticas) / CODE OF ETHICS AND
CONDUCT
1. Editores:
contribuir para melhorar a qualidade da revista, visando garantir a qualidade científica
dos textos nela publicados e se estão de acordo com as Diretrizes e Escopo da RBEC;
esclarecer dúvidas que eventualmente possam surgir de avaliadores, revisores, autores e
leitores quanto ao conteúdo da revista, como, por exemplo, publicações, avaliações,
chamadas de artigos e demais informações da revista;
contribuir para a qualidade científica na área da Educação do Campo e educação, em
geral;
evitar desvios de ética e conduta na revista que possam prejudicar as boas práticas para a
pesquisa científica;
quando necessário, os editores publicarão correções, retratações e esclarecimentos a
comunidade acadêmica, referentes a publicações e/ou informações não verídicas ou
afirmações distorcidas ou enganosas de autores, tendo como rigor a verdade científica e
o respeito à comunidade acadêmica.
atualizar a política editorial, bem como as diretrizes e normas da revista quando for
necessário;
decidir pela aprovação final ou recusa dos artigos, entrevistas, resenhas e dossiês
enviados a revista, considerando sempre os pareceres feitos pelos
avaliadores/pareceristas designados;
zelar pelo bom cumprimento dos prazos referentes ao envio de pareceres pelos
avaliadores.
2. Autores(as):
os autores deverão evitar qualquer prática que leve a conduta científica, como, por
exemplo, plágio e autoplágio, manipulação de dados e informações da pesquisa, fraudes
na pesquisa e nas autorias dos textos, bem como qualquer outra prática que infrinja a
ética na pesquisa acadêmico/científica. Caso contrário, a RBEC se reserva o direito de,
além de tomar as devidas providências legais, excluir permanentemente o texto
publicado na revista que apresente tais práticas;
promover o debate democrático na revista, independente de crenças, instituições,
localidades, entre outros, pautado pelo respeito a todos os envolvidos;
citar órgãos de fomento que financiam ou financiaram a pesquisa publicada na RBEC;
atender as diretrizes e normas de publicação da RBEC antes da submissão de qualquer
trabalho à revista.
3. Revisores/Avaliadores(as):
pautar pela ética durante as avaliações realizadas nos manuscritos recebidos pela revista;
seguir os critérios de avaliação informados pela RBEC, nas Diretrizes da revista;
zelar pela qualidade científica e critérios de avaliação da revista;
garantir a confidencialidade do material avaliado;
caso haja algum conflito de interesse nas avaliações, os avaliadores e revisores deverão
informar aos editores da revista.
4. Conflitos de interesses:
caso haja conflitos de interesses entre editores, avaliadores, revisores e autores que não
possam ser solucionados pelos editores da revista, a decisão final será tomada pelo
Colegiado do Curso de Educação do Campo, da Universidade Federal do Tocantins,
Campus de Tocantinópolis, Departamento ao qual a RBEC está vinculada.
5. Cumprimento do Código de Ética e de Conduta:
autores(as), avaliadores/revisores, editores e equipe editorial da RBEC deverão cumprir
o presente Código de Ética e de Conduta, que entrará em vigor na data de sua
publicação.
A Revista Brasileira de Educação do Campo, além de incentivar a pesquisa científica, que possa
contribuir para o debate acadêmico nacional e internacional, informará aos leitores sobre
qualquer informação a respeito das publicações, chamadas de artigos, conteúdos da revista e/ou
outras informações relevantes para a comunidade acadêmica e científica, visando incentivar o
debate democrático neste periódico, pautado pelo respeito a todos os envolvidos. Também, a
revista se reserva no direito de, quando for necessário, atualizar e revisar esses Códigos de
Éticas e Condutas.
[EN] ETHICS AND CONDUCT CODES OF THE BRAZILIAN JOURNAL OF RURAL
EDUCATION (GOOD PRACTICE CODES)
1. Editors:
contribute to improving the journal quality, in order to guarantee the scientific quality of
the texts published in it and their accordance with the Guidelines and Scope of the
RBEC;
clarify any doubts that may eventually arise from revisers, evaluators, authors and
readers regarding the content of the journal, such as publications, evaluations, article
calls and other journal information;
contribute to the scientific quality in the area of Rural Education and education in
general;
avoid ethics and conduct deviations in the journal that could prejudice good practices for
scientific research;
editors shall, where necessary, publish corrections, retractions, and clarifications to the
academic community regarding untruthful publications and/or or distorted or misleading
information presented by the authors, with rigor to scientific truth and respect for the
academic community.
2. Authors:
The authors must avoid any practice that would lead to scientific misconduct, such as
plagiarism and auto-plagiarism, manipulation of research data and information, fraud in
the research and authorship of texts, as well as any other practice that infringes ethics in
the academic/scientific research. Otherwise, the RBEC reserves the right to, in addition
to taking appropriate legal measures, delete permanently from the journal the text
published presenting such practices;
promote the democratic debate in the journal, independently on beliefs, institutions,
localities, among others, guided by respect for all involved;
mention funding agencies that financed or finance the research published in the RBEC;
comply with the RBEC guidelines and publication standards before submitting any work
to the journal.
3. Revisers/Evaluators:
touch upon ethics during the evaluations carried out in the manuscripts received by the
journal;
follow the assessment criteria informed by the RBEC, in the Journal Guidelines;
ensure the scientific quality and evaluation criteria of the journal;
ensure the confidentiality of the material evaluated;
in case of any conflict of interest in the evaluations, revisers and evaluators should
inform the journal editors.
4. Conflict of interests:
in case of conflict of interests between editors, revisers, evaluators and authors that
cannot be resolved by the journal editors, the final decision will be made by the
Collegiate of the Course of Rural Education, at the Federal University of Tocantins,
Campus of Tocantinópolis, Department to which the RBEC is associated.
5. Compliance with the Ethics and Conduct Codes:
authors, evaluators/revisers, editors and editorial staff of the RBEC shall comply with
these Ethics and Conduct Codes, which shall come into force on the date of its
publication.
The Brazilian Journal of Rural Education, in addition to encouraging scientific research that may
contribute to the national and international academic debate, will inform readers of any
information regarding publications, articles calls, journal contents and/or other relevant
information to the academic and scientific community, aiming to encourage the democratic
debate in this journal, based on respect for all those involved.
FONTES DE INDEXAÇÃO / INDEXING DATABASES
Crossref
http://search.crossref.org/?q=Revista+Brasileira+de+Educa%C3%A7%C3%A3o+do+Campo
DOAJ
https://doaj.org/toc/2525-
4863?source=%7B%22query%22%3A%7B%22filtered%22%3A%7B%22filter%22%3A%7B%
22bool%22%3A%7B%22must%22%3A%5B%7B%22term%22%3A%7B%22index.issn.exact
%22%3A%222525-
4863%22%7D%7D%2C%7B%22term%22%3A%7B%22_type%22%3A%22article%22%7D%
7D%5D%7D%7D%2C%22query%22%3A%7B%22match_all%22%3A%7B%7D%7D%7D%7
D%2C%22from%22%3A0%2C%22size%22%3A100%7D
Portal de Periódicos CAPES
http://link.periodicos.capes.gov.br/sfxlcl41?url_ver=Z39.88-
2004&url_ctx_fmt=infofi/fmt:kev:mtx:ctx&ctx_enc=info:ofi/enc:UTF-8&ctx_ver=Z39.88-
2004&rfr_id=info:sid/sfxit.com:azlist&sfx.ignore_date_threshold=1&rft.object_id=3710000001
134234
CLASE
http://clase.unam.mx/F?func=find-b-0&local_base=cla01
ERIHPLUS
https://dbh.nsd.uib.no/publiseringskanaler/erihplus/periodical/info?id=489279
REDIB
https://www.redib.org/recursos/Record/oai_revista3291-revista-brasileira-educac%C3%A3o-
campo
OPEN SCIENCE DIRECTORY / EBSCO
https://atoz.ebsco.com/Titles/SearchResults/8623?SearchType=Contains&Find=Revista+Brasile
ira+de+Educa%C3%A7%C3%A3o+do+Campo&GetResourcesBy=QuickSearch&resourceType
Name=allTitles&resourceType=&radioButtonChanged=
ROAD
http://road.issn.org/issn/2525-4863-revista-brasileira-de-educacao-do-campo
Edubase (SBU/UNICAMP)
http://portal.edubase.modalbox.com.br/index.php/site/revistas/
ULRICH's WEB
https://ulrichsweb.serialssolutions.com/login
FLACSO (ARGENTINA)
http://flacso.org.ar/latinrev/revistas-adheridas/
Sumários.Org
http://www.sumarios.org/revistas/revista-brasileira-de-educa%C3%A7%C3%A3o-do-campo
Latindex
http://www.latindex.org/latindex/ficha?folio=25817
Diadorim
http://diadorim.ibict.br/handle/1/1283
Google Acadêmico (Google Scholar)
https://scholar.google.com.br/citations?user=PEWZXNYAAAAJ&hl=pt-BR
EZ3/Eletronic Journals Library
http://rzblx1.uni-
regensburg.de/ezeit/searchres.phtml?bibid=AAAAA&colors=7&lang=en&jq_type1=KT&jq_ter
m1=&jq_bool2=AND&jq_type2=IS&jq_term2=2525-
4863&jq_bool3=AND&jq_type3=PU&jq_term3=&hits_per_page=50&search_journal=Start+Se
arch
MIAR (Universitat de Barcelona)
http://miar.ub.edu/issn/2525-4863
SHERPA/RoMEO
http://www.sherpa.ac.uk/romeo/search.php
Actualidad Iberoamericana (Indice Internacional de Revistas)
http://www.citrevistas.cl/actualidad/b2b_g8.htm
PKP (Public Knowledge Project)
http://index.pkp.sfu.ca/index.php/browse/index/262
Dataverse Harvard
https://dataverse.harvard.edu/dataverse/educampo
Libraries (University of Minnesota)
https://primo.lib.umn.edu/primo-explore/jsearch?query=any,contains,2525-
4863&tab=jsearch_slot&vid=TWINCITIES&lang=en_US&offset=0&journals=any,2525-4863
WorldCat (OCLC)
https://www.worldcat.org/title/revista-brasileira-de-educacao-do-campo-rbec-
rbec/oclc/957360960?referer=list_view
Zenodo
https://zenodo.org/record/61583
Mendeley
https://www.mendeley.com/profiles/revista-brasileira-de-educao-do-campo/
Academia.Edu
https://uft.academia.edu/RevistaBrasileiradeEduca%C3%A7%C3%A3odoCampo
AcademicKeys
http://humanities.academickeys.com/jour_main.php
JournalTOCs
http://www.journaltocs.ac.uk/index.php?action=browse&subAction=pub&publisherID=2716&j
ournalID=36857&pageb=1&userQueryID=1161&sort=&local_page=1&sorType=&sorCol=1
CiteULike
http://www.citeulike.org/user/rbec
LIVIVO (ID=1002342)
https://www.livivo.de/?FS=ID=1002342
Zeitschriftendatenbank (ZDB) (2866207-6)
http://beta.zdb-opac.de/zdb/list.xhtml?t=2866207-6&key=all
ZDB OPAC (2866207-6)
http://dispatch.opac.d-
nb.de/DB=1.1/SRT=YOP/LNG=DU/CMD?ACT=SRCHA&IKT=8506&TRM=2866207-6
E-Lis (Repository E-Prints in Library & Information Science)
http://eprints.rclis.org/29951/
ResearcH - Directorio de Revistas (Journals & Authors)
http://www.journalsandauthors.com/humanidades.html
BASE
https://www.base-
search.net/Search/Results?lookfor=Revista+Brasileira+de+Educa%C3%A7%C3%A3o+do+Ca
mpo&type=all&oaboost=1&ling=1&name=&newsearch=1&refid=dcbasde
OpenAIRE
https://www.openaire.eu/search/publication?articleId=od______2659::4c34d028a9524c59dde12
e58d51785c5
Livre (Revistas de Livre Acesso)
http://www.cnen.gov.br/centro-de-informacoes-nucleares/livre
Research Bib (Academic Resource Index)
http://journalseeker.researchbib.com/view/issn/2525-4863
Scilit (The Scientific Literature Database)
http://www.scilit.net/journals/540953
Science Library Index
http://www.scinli.com/index.php/sub-directory/submission-view/732
Redes Sociais (Facebook)
https://www.facebook.com/revistabrasileiradeeducacaodocampo/?ref=aymt_homepage_panel
PERIODICIDADE / PUBLICATION FREQUENCY
A Revista Brasileira de Educação do Campo é um periódico científico eletrônico de acesso
aberto e gratuito, de periodicidade semestral, da Universidade Federal do Tocantins, câmpus de
Tocantinópolis.
[EN] The Brazilian Journal of Rural Education is an electronic journal of free and open access,
biannual, from the Federal University of Tocantins, campus Tocantinópolis, Brazil.
POLÍTICA DE ACESSO LIVRE / OPEN ACCESS POLICY
Esta revista oferece acesso livre imediato ao seu conteúdo, seguindo o princípio de que
disponibilizar gratuitamente o conhecimento científico ao público proporciona maior
democratização mundial do conhecimento.
[EN] This journal provides immediate open access to its content on the principle that freely
available scientific knowledge to the public supports a greater global democratization of
knowledge.
ARQUIVAMENTO / ARCHIVING
Esta revista utiliza o sistema LOCKSS para criar um sistema de arquivo distribuído entre as
bibliotecas participantes e permite às mesmas criar arquivos permanentes da revista para a
preservação e restauração. Saiba mais...
This journal uses the LOCKSS system to create a distributed file system through the
participating libraries and it allows them to create permanent journal files for preservation and
restoration.
DECLARAÇÃO DE DIREITO AUTORAL
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