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significação da ação e da classificação do
trabalho docente. Isto posto, como
agravante, não obstante, a profissão
docente contrasta com o dilema da
ocupação como “bico” e até mesmo com a
sofismática ideia de missão, o que implica
em um chamado divino e/ou em uma
decisão afetiva/pessoal que pode relativizar
as bases de constituição do
profissionalismo pela “doação”.
Segundo Sacristán e Goméz (1998) a
profissão docente tem um desprestígio em
relação a outras profissões liberais fato que
implica para a sociologia das profissões
conceber docência como uma
“semiprofissão”, um ofício. A ausência de
procedimentos de intervenção comuns e
partilha de conhecimentos teóricos
sedimentados relativamente de modo
consensual afetam a conceituação da ação
docente enquanto profissão. Esta discussão
invariavelmente leva à configuração de
proletarização do trabalho docente.
Segundo Costa (2012, p. 106) a
proletarização docente se estabelece
basicamente, a partir da ideias de que
o trabalho docente se aproxima do
processo do trabalho capitalista. E, as
mesmas categorias utilizadas para
exercer a crítica do processo de
trabalho fabril são aplicadas para
explicar a transformação dos
professores em trabalhadores
proletarizados. Fundamentadamente,
no modo de produção capitalista, a
introdução da lógica racionalizadora
do capital resultou em condições de
trabalho caracterizadas pelo
parcelamento das tarefas, pela
rotinização, pela excessiva
especialização e pela hierarquização,
a resultante disso é a desqualificação
gradativa do trabalhador que perde
tanto seus conhecimentos quanto o
controle de seu trabalho. Ao ser
expurgado da concepção do processo
produtivo e do próprio processo de
trabalho, pela separação entre
concepção e execução, o trabalhador
é expropriado do seu saber e
declinam suas habilidades de ofício.
Ao mesmo tempo, sem controle
intelectual, sobre o processo de
trabalho, ocorre a erosão gradativa de
sua autonomia, e ele se torna
dependente do controle e das
decisões do capital. Neste ponto ele,
geralmente, é requalificado com
bases em treinamentos para executar
apenas tarefas mecânicas de uma
fração do processo global de
produção (grifos no original da
autora).
Ainda na discussão de proletarização
docente a autora considera que “esta lógica
se manifesta pela introdução de: a) técnicas
organizativas de ensino (planejamento por
objetivos, módulos instrucionais, formas
estereotipadas de diagnóstico e avaliação,
ensino programado por computador, etc. e,
b) por técnicas de administração e de
gerenciamento do trabalho na escola
(divisão do trabalho em especialidades por
campo de ação e formas sofisticadas de
controle do trabalho docente e de
promoção na carreira)”. (COSTA, 2012, p.
107).
As interveniências externas às
políticas de gestão educacional que vêm
ferir a autonomia político-pedagógica das