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ninguém mais faria isso, não. Aí, elas
queriam ir pra casa delas no fim de
semana, algumas porque eram
casadas, tinham deixado os filhos...
Outras, quando o proprietário da
escola passava a gostar do trabalho
delas, arranjava até um local pra ela
fazer a casinha e passar a morar na
comunidade, aí melhorava (S. B. U.,
2015).
Com o passar do tempo intensificou-
se a resistência dos pais à escolarização
dos filhos, pois não aceitavam a rígida
proibição da língua pomerana, imposta
desde o governo nacionalista de Vargas. A
proibição da língua foi traumática na
organização social e comunitária do povo
pomerano, interferindo no processo de
escolarização até os dias atuais.
Eles não gostavam de mandar pra
escola porque tinham receio dos
brasileiros. Eu lembro que logo que
comecei eles falavam assim: e se os
brasileiros vierem e mandarem a
gente embora daqui. Porque houve
uma época, eu não sei nos anos 30,
40, em que o governo proibiu os
pomeranos de se comunicarem.
Depois da guerra de 1945, veio uma
notícia de que os brasileiros iriam
invadir as colônias alemãs. Eu não
sei qual o propósito final, eu não sei.
Eu entendia sempre da mamãe que
era pra amedrontar as pessoas. Então
a gente viveu assim muito... O
pomerano se isolou muito justamente
porque tinha medo dos brasileiros.
Eu tive muito medo dos brasileiros.
As professoras também não sabiam.
Hoje não, hoje muitos professores
falam pomerano na escola. Há esse
contato mais familiar. Antes não. Os
professores vinham de Vitória, de
Santa Leopoldina e se comunicavam
na língua nacional (G. B., 2015).
Outro fator que interferia na
frequência era à distância. Havia poucas
escolas e os pais não mandavam os filhos
para a escola em função dela. Conforme
G.B., a região de Garrafão apresentava os
maiores problemas com relação à
frequência dos alunos e professores e por
isso eram priorizadas nas visitas de
supervisão. Onde não havia esses
problemas, as visitas eram raras, pois não
havia carro disponível para esse serviço e
era preciso alugar um jeep para chegar às
escolas.
Nesse período foram construídas
várias escolas no município. Em 1962, na
gestão do governador Carlos Lindenberg e
do prefeito Argeo Uliana, esposo de D. S.,
foi construído o novo prédio da Escola
Singular Fazenda Borchardt, também em
terreno doado pelo Sr. João Borchardt,
onde a escola funciona até os dias atuais.
Era comum à época, a doação de terreno
para construção de escolas, assim como a
doação dos pais de dias de serviço,
diminuindo os custos da construção, como
nos relatou Dona S.B.U.:
Na época a gente motivava a
comunidade a construir as escolas e
quando a gente conseguia o dinheiro
do estado pra construir, o povo se
reunia e construía e cuidava, porque
eu incentivava muito, eu dizia, olha
isso aí é patrimônio de vocês, isso é
da comunidade, quanto mais vocês
cuidarem, mais tempo vai aguentar e
os filhos de vocês vão poder usufruir
disso e graças a Deus eu consegui