REVISTA BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO DO CAMPO
RBEC
THE BRAZILIAN SCIENTIFIC JOURNAL OF RURAL
EDUCATION (Countryside)
R
E
V
IS
TA
B
R
A
S
IL
E
IRA
D
E
E
D
UCA
Ç
Ã
O
DO
C
A
M
PO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS
CAMPUS TOCANTINÓPOLIS
DEPARTAMENTO DE EDUCÃO DO CAMPO
LICENCIATURA EM EDUCÃO DO CAMPO COM
HABILITAÇÃO EM ARTES E MÚSICA
V
.
3
,
N
.
1
,
J
A
N
./
A
BR
.
2018
ISSN: 2525-4863
Expediente / Masthead
Reitor / Rector of the University
Profa. Dr. Luis Eduardo Bovolato
Vice-Reitora / Vice- Rector
Prof. Dra. Ana Lúcia Medeiros
Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação / Research and
PostGraduate Pro-Rector
Prof. Dr. Raphael Sanzio Pimenta
Pró-Reitor de Administração e Finanças / Administration
and Finance Pro-Rector
Prof. Me. Jaasiel Nascimento Lima
Pró-reitor de Assuntos Estudantis e Comunitários /
Student and Community Issues Pro-Rector
Prof. Dr. Kherlley Caxias Batista Barbosa
Pró-reitor de Avaliação e Planejamento / Evaluation and
Planning Pro-Rector
Prof. Dr. Eduardo Andrea Lemus Erasmo
Pró-reitora de Graduação / Graduation Pro-Rector
Prof. Dra. Vânia Maria de Araújo Passos
Pró-reitora de Extensão e Cultura / Extension and Culture
Pro-Rector
Prof. Dra. Maria Santana Ferreira Milhomem
Pró-reitora de Gestão e Desenvolvimento de Pessoas /
People Management Pro-Rector
Prof. Me. Érica Lissandra Bertolossi Dantas
Diretor do Campus de Tocantinópolis / Chief Campus
Tocantinópolis
Prof. Dr. Nataniel da Vera Cruz Gonçalves Araújo
Coordenador do curso de Educação do Campo, campus de
Tocantinópolis / Coordinator Course Rural Education
Campus Tocantinópolis
Prof. Ms. José Jarbas Pinheiro Ruas Júnior
[PT] Revista Brasileira de Educação do Campo
Periodicidade quadrimestral
Universidade Federal do Tocantins, campus Tocantinópolis
Avenida Nossa Senhora de Fátima, n. 1588, 77.900-000
Centro, Tocantinópolis - TO
Coordenação do Curso de Educação do Campo com
Habilitação em Artes e Música
Telefones de contato: (63) 3471-6020 / 3471-6037
E-mails: educacaocampotoc@uft.edu.br
rbec@uft.edu.br
Site da revista:
https://sistemas.uft.edu.br/periodicos/index.php/campo
Editoração da revista: Gustavo Cunha de Araújo
[EN] Brazilian Scientific Journal of Rural Education
(Countryside)
Publication frequency: quarterly
Federal University of Tocantins, Tocantinópolis, Brazil
Avenue Nossa Senhora de Fátima, n. 1588, 77.900-000
Tocantinópolis - TO
Course of Rural Education (countryside) with qualification in
Arts and Music
Contacts: +55(63) 3471-6020 / 3471-6037
E-mails: educacaocampotoc@uft.edu.br
rbec@uft.edu.br
Journal website:
https://sistemas.uft.edu.br/periodicos/index.php/campo
Graphic Design Journal: Gustavo Cunha de Araújo
Revista Brasileira de Educação do Campo, v. 3, n. 1, 388 p., jan./abr. 2018.
Equipe Editorial / Editorial Board
EDITOR CHEFE / EDITOR IN CHIEF
Gustavo Cunha de Araújo, Educação do Campo/UFT,
Tocantinópolis, Tocantins, Brasil
EDITOR ASSISTENTE / EDITORIAL ASSISTANT
Cícero da Silva, Educação do Campo/UFT,
Tocantinópolis, Tocantins, Brasil
EDITORES ASSOCIADOS INTERNACIONAIS /
INTERNATIONAL ASSOCIATE EDITORS
Beatrice Kabui Icheria, Faculty of Education/University of
Pretoria, Pretória, África do Sul
Pere Puig Calvó, Departament de Ciències de l'Educació,
Universitat Internacional de Catalunya, Catalunya,
Espanha
CONSELHO EDITORIAL INTERNACIONAL /
INTERNATIONAL EDITORIAL STAFF
Carlos Manique, Instituto de Educação, Universidade de
Lisboa, Lisboa, Portugal
Daniel Schugurensky, School of Public Affairs and School
of Social Transformation, Arizona State University,
Arizona, Estados Unidos
Dušan Stamenković, Faculty of Philosophy and CogSci
Center, University of Niš, Sérvia
Fernando Hernández, Faculdade de Belas Artes da
Universidade de Barcelona, Universidade de Barcelona
UB, Espanha
Inés Dussel, Departamento de Investigaciones
Educativas Del CINVESTAV-IPN, Cidade do México,
México
Jean-Louis Ichard, Institut INFOCAP, Formation des
acteurs du monde agricole et rural, Paris, França
Jordi González García, Facultad de la Educación,
Universitat Internacional de Catalunya, Catalunya,
Espanha
Lídice Mesa Gómez, Reitoria, Universidade de Artemisa,
Artemisa, Cuba
Luisa Isabel Rodriguez Bello, Departamento de
Castellano, Literatura y Latín, Universidad Pedagógica
Experimental Libertador, Caracas, Venezuela
Manuel José Jacinto Sarmento Pereira, Instituto de
Estudos da Criança, Universidade do Minho, Braga,
Portugal
Pedro dos Santos Ribeiro Mucharreira - Universidade de
Lisboa, Portugal
Martina Paatela-Nieminen, Faculty of Educational
Sciences, University of Helsinki, Helsinki, Finlândia
Roberto García-Marirrodriga, Facultad de Educación
Universidad Internacional de la Rioja, La Rioja, Espanha
SECRETÁRIO DA REVISTA / SECRETARY OF THE
JOURNAL
Saulo Eglain Menezes, Educação do Campo/UFT,
Tocantinópolis, Tocantins, Brasil
REVISÃO / PROOFREADING OF THE JOURNAL
Cícero da Silva, Educação do Campo/UFT,
Tocantinópolis, Tocantins, Brasil
Gustavo Cunha de Araújo, Educação do Campo/UFT,
Tocantinópolis, Tocantins, Brasil
EDITORAÇÃO ELETRÔNICA E PROJETO GRÁFICO
DA REVISTA / DESKTOP PUBLISHING AND GRAPHIC
DESIGN
Gustavo Cunha de Araújo, Educação do Campo/UFT,
Tocantinópolis, Tocantins, Brasil
FOTO DA CAPA / COVER PHOTO JOURNAL
Cícero da Silva, Educação do Campo/UFT, Tocantinópolis,
Tocantins, Brasil
BIBLIOTECÁRIO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO
TOCANTINS / LIBRARIAN OF THE FEDERAL
UNIVERSITY OF TOCANTINS
Edson de Sousa Oliveira, Biblioteca, Universidade Federal
do Tocantins - UFT, Palmas, Tocantins, Brasil
VERSÕES ON-LINE / ONLINE VERSIONS:
https://sistemas.uft.edu.br/periodicos/index.php/campo
E-MAIL
rbec@uft.edu.br
CONSELHO EDITORIAL NACIONAL / NATIONAL EDITORIAL STAFF
Adelaide Ferreira Coutinho, Departamento de Educação II/ UFMA, São Luiz,
Maranhão, Brasil
Agnaldo Rodrigues da Silva, Departamento de Ciências Humanas/UNEMAT, Cáceres,
Mato Grosso, Brasil
Analise de Jesus da Silva, Faculdade de Educação/UFMG, Belo Horizonte, Minas
Gerais, Brasil
Anderson Fabrício Andrade Brasil, Departamento de Educação do Campo/UFT,
Tocantinópolis, Tocantins, Brasil
Cássia Ferreira Miranda, Departamento de Educação do Campo/UFT, Tocantinópolis,
Tocantins, Brasil
Clarice Aparecida Santos, Instituto de Educação/UnB, Planaltina, Brasília, Brasil
Edson Caetano, Departamento de Teorias e Fundamentos da Educação/UFMT,
Cuiabá, Mato Grosso, Brasil
Fátima Costa de Lima, Departamento de Artes Cênicas/UDESC, Florianópolis, Santa
Catarina, Brasil
Fernando José Martins, Centro de Educação e Letras/UNIOESTE, Foz do Iguaçu,
Paraná, Brasil
Geraldo Márcio Alves dos Santos, Departamento de Administração Escolar/UFV,
Viçosa, Minas Gerais, Brasil
Gerda Margit Schutz Foerst, Centro de Educação/UFES, Vitória, Espírito Santo, Brasil
Helena Quirino Porto Aires, Departamento de Educação do Campo/UFT,
Tocantinópolis, Tocantins, Brasil
Idemar Vizolli, Pedagogia/UFT, Arraias, Tocantins, Brasil
Ilma Ferreira Machado, Faculdade de Educação/UNEMAT, Cáceres, Mato Grosso,
Brasil
Janete Maria Lins de Azevedo, Departamento de Fundamentos Socio-Filosóficos da
Educação/UFPE, Recife, Pernambuco, Brasil
João Batista Pereira de Queiroz, Instituto de Educação/UnB, Planaltina, Brasília, Brasil
José Carlos Miguel, Departamento de Administração e Supervisão Escolar/UNESP,
Marília, São Paulo, Brasil
José Jarbas Pinheiro Ruas Júnior, Educação do Campo/UFT, Tocantinópolis,
Tocantins, Brasil
Juliana Chioca Ipolito, Departamento de Pedagogia/UFT, Tocantinópolis, Tocantins,
Brasil
Kaé Stoll Colvero, Instituto de Ciências Exatas e da Natureza/UNILAB, Fortaleza,
Ceará, Brasil
Klivia Cassia Freitas de Sousa, Departamento de Ciências Sociais/UFT,
Tocantinópolis, Tocantins, Brasil
Leon de Paula, Departamento de Educação do Campo/UFT, Tocantinópolis,
Tocantins, Brasil
Lilia Neves Gonçalves, Instituto de Artes/UFU, Uberlândia, Minas Gerais, Brasil
Lourdes Helena da Silva, Departamento de Educação/UFV, Viçosa, Minas Gerais,
Brasil
Maria de Lourdes Bernartt, Departamento Acadêmico de Ciências Humanas/UTFPR,
Pato Branco, Paraná, Brasil
Maciel Cover, Departamento de Educação do Campo/UFT, Tocantinópolis, Tocantins,
Brasil
Mara Pereira da Silva, Departamento de Educação do Campo/UFT, Tocantinópolis,
Tocantins, Brasil
Marco Aurélio Gomes de Oliveira, Departamento de Pedagogia/UFT, Tocantinópolis,
Tocantins, Brasil
Mário Borges Netto, Departamento de Pedagogia/UFT, Tocantinópolis, Tocantins,
Brasil
Marcus Facchin Bonilla, Departamento de Educação do Campo/UFT, Tocantinópolis,
Tocantins, Brasil
Michèle Sato, Departamento de Ensino e Organização/UFMT, Cuiabá, Mato Grosso,
Brasil
Miguel González Arroyo, Faculdade de Educação/UFMG, Belo Horizonte, Minas
Gerais, Brasil
Mônica Castagna Molina, Instituto de Educação/UnB, Planaltina, Brasília, Brasil
Natascha Eugênia Janata, Departamento de Estudos Especializados em
Educação/UFSC, Florianópolis, Santa Catarina, Brasil
Neusa Maria Dal Ri, Departamento de Administração e Supervisão Escolar/UNESP,
Marília, São Paulo, Brasil
Rafael Litvin Villas-Boas, Instituto de Educação/UnB, Planaltina, Brasília, Brasil
Ribamar Ribeiro Júnior, Departamento de Ensino/IFPA, Marabá, Pará, Brasil
Rogério Omar Caliari, Departamento de Ensino/IFES, Colatina, Espírito Santo, Brasil
Salomão Antônio Mufarrej Hage, Instituto de Ciências da Educação/UFPA, Belém,
Pará, Brasil
Sidinei Esteves de Oliveira de Jesus, Departamento de Educação do Campo/UFT,
Tocantinópolis, Tocantins, Brasil
Sônia Maria dos Santos, Faculdade de Educação/UFU, Uberlândia, Minas Gerais,
Brasil
Sérgio Botton Barcellos, Instituto de Ciências Humanas e da Formação/FURG, Rio
Grande, Rio Grande do Sul, Brasil
Wilson José Soares, Departamento de Ensino/IFMT, Rondonópolis, Mato Grosso,
Brasil
Tereza Mara Franzoni, Departamento de Artes Cênicas/UDESC, Florianópolis, Santa
Catarina, Brasil
Ubiratan Francisco de Oliveira, Departamento de Educação do Campo/UFT,
Tocantinópolis, Tocantins, Brasil
[PT] FOCO, ESCOPO E MISSÃO
A Revista Brasileira de Educação
do Campo, de periodicidade
quadrimestral, publica Artigos
originais resultantes de pesquisas
teóricas e/ou empíricas, Dossiês
Temáticos, Ensaios e Resenhas de
temas vinculados à Educação do
Campo sob diferentes campos da
pesquisa, como: História da
Educação do Campo; Movimentos
Sociais; Políticas Públicas; Jovens
e Adultos do Campo; Formação
Docente; Povos Indígenas e
Educação; Didática e Práticas
Pedagógicas em Artes e Música;
Arte na Educação do Campo;
Interculturalidade na Educação do
Campo; Pedagogia da Alternância;
Questão Agrária e Campesinato.
A Revista tem como missão ser um
veículo de comunicação científica
que fomente importantes debates
no campo educacional,
principalmente na área da
Educação do Campo, de
pesquisadores brasileiros e
estrangeiros mestres e doutores,
além de estudantes acompanhados
de seus respectivos orientadores
(titulação mínima de doutor), para o
avanço científico da área e para a
produção de conhecimento.
A Revista Brasileira de Educação
do Campo é uma publicação
quadrimestral do Departamento de
Educação do Campo, curso de
Licenciatura em Educação do
Campo com Habilitação em Artes e
Música, da Universidade Federal
do Tocantins, campus de
Tocantinópolis. Publica textos em
português, espanhol e inglês. A
revista recebe os manuscritos em
fluxo contínuo. É um periódico
científico de acesso aberto e
gratuito, sem taxas de submissão e
de publicação dos textos
submetidos à Revista.
[EN] AIMS & SCOPE
The Brazilian Scientific Journal of
Rural Education (Countryside
Education), quarterly publication,
publishes original articles resulting
from theoretical and/or empirical
research thematic, essays and
reviews of topics related to the
Rural Education (Countryside
Education) in different fields of
research, such as the Rural
Education (Countryside
Education) History; Social
Movements; Public Policies;
Indigenous Peoples and Education;
Teacher Training; Youth and Adult
Rural Education (Countryside
Education); Didactic and
Pedagogical Practices in Arts and
Music; Art in Rural Education
(Countryside Education);
Interculturalism in Rural Education
(Countryside Education); Pedagogy
of Alternation; Land Reform and
Peasantry.
The Scientific Journal's mission is
to be a qualified scientific
communication instrument that
fosters important debates in the
educational field, especially in the
Rural Education (Countryside
Education) area of Brazilians and
foreign Masters and PhD
researchers and students
accompanied by their mentors
(minimum Doctor title required), for
scientific progress in the field and
for producing knowledge.
The Brazilian Scientific Journal of
Rural Education (Countryside
Education) is a quarterly publication
of the Department of Rural
Education (Countryside Education),
Bachelor course of Rural Education
(Countryside Education) and
specialization course in Arts and
Music of the Federal University of
Tocantins, Tocantinópolis city. It
publishes papers in Portuguese,
Spanish and English. The journal
receives manuscripts in continuous
flow. It is an open access Scientific
Journal. No charges - no fees - of
manuscript submission and
publication - no APCs.
[SP] TEMÁTICA Y ALCANCE
La Revista Brasileña de la
Educación Rural, tres veces al año,
publica artículos originales
resultantes de teóricos y / o
archivos temáticos de investigación
empírica, ensayos y reseñas de
temas relacionados con el campo
de la educación rural en diferentes
campos de la investigación, tales
como: Historia de la Educación
Rural (campo); Los Movimientos
Sociales; Políticas Públicas;
Pueblos Indígenas y la Educación;
Formación del Profesorado; la
Jóvenes y Adultos Campo;
Didácticos y Pedagógicos Prácticas
en Artes y Música; Arte en la
Educación Rural; Interculturalidad
en Educación Rural; Pedagogía de
la Alternancia; Cuestión Agraria y
Campesinado.
La misión de la revista es ser un
instrumento de calidad de la
comunicación científica que
promueve debates importantes en
el campo de la educación, sobre
todo en el ámbito de la Educación
Rural de los brasileños y
extranjeros maestros e
investigadores de doctorado y
estudiantes acompañados por sus
tutores (titulación mínima doctor),
para el progreso científico en el
campo y para la producción de
conocimiento.
La Revista Brasileña de la
Educación Rural es una
publicación tres veces al año del
Departamento de Educación Rural,
Licenciatura en Educación Rural
con especialización en Artes y
Música de la Universidad Federal
de Tocantins, campus
Tocantinópolis. Publica textos en
portugués, español e Inglés. La
revista recibe manuscritos en
continuamente. Es una revista
científica abierta y libre, sin pagos
de tasas de presentación y
publicación de los textos
presentados en la revista.
FONTES DE INDEXAÇÃO / INDEXING DATABASES
Indexadores Nacionais e Internacionais (Bases de Dados, Diretórios, Catálogos, Repositórios):
CROSSREF
DOAJ
PORTAL DE PERIÓDICOS DA CAPES
CLASE
ERIHPLUS
REDIB
FLACSO (ARGENTINA)
OPEN SCIENCE DIRECTORY / EBSCO
ROAD
LATINREV
EDUBASE (SBU/UNICAMP)
ULRICH'S WEB
SUMÁRIOS.ORG
LATINDEX
DIADORIM
GOOGLE ACADÊMICO (GOOGLE SCHOLAR)
EZ3/ELETRONIC JOURNALS LIBRARY
MIAR (UNIVERSITAT DE BARCELONA) ACTUALIDAD
IBEROAMERICANA (INDICE INTERNACIONAL DE REVISTAS) PKP (PUBLIC
KNOWLEDGE PROJECT)
DATAVERSE HARVARD
E-JOURNALS.ORG
SHERPA/ROMEO
OASIS BR
LA REFERÊNCIA
RCAAP
LIBRARIES (UNIVERSITY OF MINNESOTA)
WORLDCAT (OCLC)
ZENODO
MENDELEY
ACADEMIA.EDU
ACADEMICKEYS
JOURNALTOCS
CITEULIKE
LIVIVO (ID=1002342)
ZEITSCHRIFTENDATENBANK (ZDB) (2866207-6)
ZDB OPAC (2866207-6)
E-LIS (REPOSITORY E-PRINTS IN LIBRARY & INFORMATION SCIENCE)
RESEARCH - DIRECTORIO DE REVISTAS (JOURNALS & AUTHORS)
BASE
OPENAIRE
LIVRE (REVISTAS DE LIVRE ACESSO)
RESEARCH BIB (ACADEMIC RESOURCE INDEX)
SCILIT (THE SCIENTIFIC LITERATURE DATABASE)
SCIENCE LIBRARY INDEX
REDES SOCIAIS (FACEBOOK)
REDES SOCIAIS (TWITTER)
SUMÁRIO / CONTENTS
Expediente / Masthead
Editorial ................................................................................................................................................ 01
Cícero da Silva, Gustavo Cunha de Araújo
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-4863.2017v3n1p01
Artigos / Articles / Artículos
Martín Rodríguez Vivanco y la Sociología de la educación en Cuba ............................................. 05
Lídice Mesa Gómez
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-4863.2018v3n1p05
Memória educacional no município de Enéas Marques-PR: décadas de (1960-1990) Das
escolas rurais à nuclearização
............................................................................................................................................................... 30
Maricélia Aparecida Nurmberg, Andre Paulo Castanha
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-4863.2018v3n1p30
O tempo aldeia: construindo uma nova prática pedagógica
............................................................................................................................................................... 57
Ribamar Ribeiro Junior, Laecio Rocha de Sena, William Bruno Silva Araujo
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-4863.2018v3n1p57
Rural Education and teaching material: an analysis of History textbooks
............................................................................................................................................................... 76
Cícero da Silva, Ilário Dias Cardoso Filho
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-4863.2018v3n1p76
A Educação Contextualizada para a convivência com o Semiárido Brasileiro como uma prática
emancipadora
............................................................................................................................................................. 104
Luana Patricia Costa Silva, Albertina Maria Ribeiro Brito de Araújo, Alexandre Eduardo de Araújo
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-4863.2018v3n1p104
O Curso Técnico em Cooperativismo realizado pelo PRONERA: uma análise baseada na
Abordagem das Capacitações
............................................................................................................................................................. 126
Conceição Coutinho Melo, Paulo Dabdab Waquil
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-4863.2018v3n1p126
As relações entre escola e comunidade na concepção de professores que atuam na Educação
do Campo
............................................................................................................................................................. 153
Jéssica Pauletti, Sandra Maria Wirzbicki
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-4863.2018v3n1p153
O Ensino da Física na Educação do Campo: descolonizadora, instrumentalizadora e
participativa
............................................................................................................................................................. 177
Roberto Goncalves Barbosa
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-4863.2018v3n1p177
Retratos contemporâneos da Educação do Campo: movimentos investigativos no Vale do
Jiquiriçá-BA
............................................................................................................................................................. 204
Mônica de Almeida Santos, Alcione de Almeida Santos, Maria Célia Santana Orrico, Mariana Martins
de Meireles
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-4863.2018v3n1p204
As multisséries no Campo de Arraias-TO: memórias
............................................................................................................................................................. 223
Jocyleia Santana dos Santos, Samara Caldas Franco
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-4863.2018v3n1p223
A presença da tecnologia na Educação do Campo: mapeamento da produção científica
nacional dos últimos cinco anos
............................................................................................................................................................. 245
Vagner Viera de Souza, Elaine Corrêa Pereira, Celiane Costa Machado
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-4863.2018v3n1p245
O Sistema de Organização Modular de Ensino (SOME) na ótica de egressos no município de
Breves - Pará
............................................................................................................................................................. 260
João Marcelino Pantoja Rodrigues, Gilmar Pereira da Silva
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-4863.2018v3n1p260
A Pedagogia da Alternância no contexto da Educação do Campo: a experiência do Instituto
Educar
............................................................................................................................................................. 287
Luana Bonavigo, Flávia Eloisa Caimi
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-4863.2018v3n1p287
Apontamentos sobre a Educação do Campo em Colorado do Oeste/Rondônia: notas de um
camponês letrado
............................................................................................................................................................. 313
William Kennedy Do Amaral Souza, Raiane Agustinho Lopes, Vanessa Campos Moraes, Marcos
Antonio Oliveira Rodrigues
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-4863.2018v3n1p313
O processo de ensino nas escolas multisseriadas do campo e o Programa Escola Ativa
............................................................................................................................................................. 333
Marco Tulio Santos Ledo
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-4863.2018v3n1p333
Política Editorial / Editorial Policy
Diretrizes e Normas para Publicação / Guidelines and Instructions for Authors
Revista Brasileira de Educação do Campo
The Brazilian Scientific Journal of Rural Education
EDITORIAL
DO
I:
h
tt
p
:/
/
d
x.d
o
i.
o
r
g/
10.20
873/
u
ft.2525
-4863.2018v3
n
1
p
01
Educação do Campo e pluralidade de saberes
Cícero da Silva
1
, Gustavo Cunha de Araújo
2
1
Universidade Federal do Tocantins - UFT, Departamento de Educação do Campo. Avenida Nossa Senhora de
Fátima, 1588, Centro. Tocantinópolis, Brasil. rbec@uft.edu.br.
2
Universidade Federal do Tocantins - UFT.
A Revista Brasileira de Educação do Campo RBEC, ISSN 2525-4863, periódico
do Departamento de Educação do Campo, da Universidade Federal do Tocantins, campus de
Tocantinópolis, lança o seu primeiro número do volume 3, referente ao primeiro semestre de
2018. Este número traz 15 artigos, aprovados dentre os manuscritos recebidos ao longo do
ano de 2017 e 2018.
Os artigos aqui socializados reforça o crescimento de pesquisas a respeito da
Pedagogia da Alternância, escolas do campo, povos indígenas, políticas públicas, movimentos
sociais, práticas pedagógicas e formação de professores, de diferentes estados brasileiros e de
outros países também, o que contribui para que a produção de conhecimento nesse âmbito se
fortaleça e se amplie na educação brasileira.
Abrimos este número com o artigo Martin Rodriguez Vivanco e a Sociologia da
Educação em Cuba”, da autora Lídice Mesa Gómez (Universidade de Artemisa, Cuba), cujo
objetivo da pesquisa é analisar a contribuição de Martin Rodriguez Vivanco para o
desenvolvimento da Sociologia da Educação em Cuba durante a República neocolonial e o
significado de seus conceitos para a atualidade. Os resultados da pesquisa revelaram a visão
de Vivanco sobre a teoria da Sociologia da Educação, refletida no tratamento que fez seu
assunto, sua relação com outras ciências, suas principais categorias, entre outros, que são o
ponto de partida para o estudo desta ciência no país e servir para esclarecer e apoiar as raízes
da pedagogia cubana.
O segundo artigo, intitulado Memória educacional no município de Enéas
Marques-PR: décadas de (1960-1990) das escolas rurais à nuclearização”, de autoria de
Maricélia Aparecida Nurmberg e André Paulo Castanha (UNIOESTE), investiga a história da
Educação do Município de Enéas Marques, situado no Sudoeste do Paraná, entre as décadas
de 1960 e 1990, período em que o número de escolas rurais era muito expressivo. Os achados
da pesquisa mostraram que estas escolas eram em sua maioria multisseriadas, funcionando em
dois períodos, sendo atendidas por um ou dois professores. Todavia, a partir da década de
1990, a gestão municipal iniciou o processo de fechamento/nuclearização destas escolas e os
estudantes passaram a utilizar do transporte escolar, obrigando-os a estudar em escolas
urbanas, fazendo com que a identidade rural fosse se perdendo.
Em O tempo aldeia: construindo uma nova prática pedagógica”, de Ribamar
Ribeiro Junior, Laécio Rocha de Sena e William Bruno Silva Araújo (UFMG, UNIFESSPA e
IFPA), o propósito da investigação é estabelecer diálogo com o pensamento descolonial na
educação a partir da experiência do Curso Técnico em Agroecologia do Campus Rural de
Marabá, do Instituto Federal do Pará (IFPA). Nesse curso, o percurso formativo integra dois
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 01-04
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
1
tempos de estudo: o Tempo Escola e o Tempo Aldeia, caracterizado como “alternância
pedagógica”. A pesquisa mostrou que essa lógica da alternância parte do estudo da realidade
“concreta”, possibilitando aos educandos articulação dos conhecimentos tradicionais e os
técnico-científicos relacionados às dimensões políticas, históricas, naturais. Nessa
perspectiva, parte-se da proposta de educação descolonial e o tempo aldeia se mostrou central
na estratégia de se pensar e repensar formas de educação “outras”, aquelas da modernidade.
No artigo Educação do Campo e material didático: uma análise de livros
didáticos de História”, de autoria de Cícero da Silva e Ilário Dias Cardoso Filho (UFT), o
objetivo da pesquisa é analisar dois Livros Didáticos de História (LDH) utilizados no Ensino
Fundamental (6º ano) em escolas do campo situadas no município de Tocantinópolis-TO. As
análises desse material didático focalizam: (1) conteúdos; (2) atividades; (3) interação
professor-aluno; e as (4) imagens. Tendo em vista a realidade das escolas do campo e do
contexto social, político e econômico em que vivem os camponeses, o estudo revelou que
apenas um dos LDH analisados atende aos princípios defendidos pela Educação do Campo.
Educação Contextualizada para a convivência com o Semiárido Brasileiro
como uma prática emancipadora”, artigo de autoria de Luana Patrícia Costa Silva,
Albertina Maria Ribeiro Brito e Alexandre Eduardo de Araújo (UFPB), tem como principal
objetivo elucidar práticas pedagógicas que esboçam uma relação de Educação para
Convivência com o Semiárido Brasileiro, a partir da experiência da Escola Plínio Lemos
Escola da Terra, localizada no assentamento Zé Marcolino, Prata-PB. Estas práticas são
visualizadas na prática das educadoras que possibilitam um contexto educativo pautado no
ensinar e aprender coletivos. Desta forma, a pesquisa identificou ações emancipadoras que
descortinam os estereótipos destinados às regiões Semiáridas e aos seus sujeitos, na medida
em que passam a ressignificar suas identidades e construir uma nova concepção educativa,
pautada na emancipação e na autonomia.
Em seguida, o artigo O Curso Técnico em Cooperativismo realizado pelo
PRONERA: uma análise baseada na Abordagem das Capacitações, de Conceição
Coutinho Melo e Paulo Dabdab Waquil (INCRA e UFRGS), traz resultados de uma pesquisa
sobre o Curso Técnico em Cooperativismo (TAC), que surge na década de 90 como demanda
do MST em formar técnicos para atuar nas cooperativas dos assentamentos rurais de Reforma
Agrária. Atualmente, o curso é desenvolvido por meio do Programa Nacional de Educação na
Reforma Agrária PRONERA, sob o paradigma da Educação do Campo. Considerando que
se pretendeu investigar se esse curso contribui para a expansão das capacitações de seus
egressos e para o desenvolvimento dos assentamentos rurais, a pesquisa revelou que todos os
entrevistados continuaram seus estudos e atuaram, depois de formados, em entidades ligadas
aos assentamentos. O processo formativo do TAC tem contribuído na expansão da liberdade
dos egressos.
Em As relações entre escola e comunidade na concepção de professores que
atuam na Educação do Campo”, artigo das autoras Jéssica Pauletti e Sandra Maria
Wirzbicki (UFFS), o objetivo é compreender as percepções das relações entre escola e
comunidade a partir de práticas e conhecimento da Educação do Campo entre professores que
atuam em escolas do Ensino Médio da região Sudoeste do Paraná. Os resultados do estudo
possibilitaram organizar categorias que indicam a existência de dificuldades na elaboração do
planejamento por parte dos professores e uma participação efetiva da comunidade, assim
como entendimentos limitados acerca da localidade e organização do currículo. Apesar de
dificuldades, existem tentativas, como a realização de feiras e visitas às propriedades rurais,
além da compreensão do quão é necessário desenvolver temáticas do cotidiano dos alunos nas
aulas, possibilitando abordagens significativas dos conteúdos. Ainda, a partir das análises,
emerge uma problemática maior que envolve os professores, a escola e a comunidade: trata-se
da Educação do Campo com traços fortes da Educação Rural.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 01-04
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
2
No artigo intulado “O Ensino da Física na Educação do Campo: descolonizadora,
instrumentalizadora e participativa”, de autoria de Roberto Gonçalves Barbosa (UFPR), é
discutido o caráter epistemológico crítico da Física sob o viés do colonialismo a partir da qual
se apresenta as possíveis contribuições do ensino desta disciplina no contexto da Educação do
Campo, segundo o autor. Esta pesquisa possibilitou compreender uma abordagem
metodológica desenvolvida com duas turmas de licenciandos do curso de Educação do
Campo Ciências da Natureza da Universidade Federal do Paraná, Setor Litoral.
Na pesquisa seguinte, de autoria de Mônica de Almeida Santos, Alcione de Almeida
Santos, Maria Célia Santana Orrico e Mariana Martins de Meireles (UFRB), intitulado
Retratos contemporâneos da Educação do Campo: movimentos investigativos no Vale
do Jiquiriçá-BA”, as autoras relatam um estudo desenvolvido no povoado do Serrote, área
rural do município de Elísio Medrado-BA, no âmbito dos estudos efetivados pelo
Observatório em Educação do Vale do Jiquiriçá (OBSERVALE/UFRB), que tem como
finalidade ampliar estudos e promover debates sobre a Educação do Campo no Território do
Vale do Jiquiriçá. Dentre outros resultados encontrados, as autoras concluíram que a pesquisa
mostrou a presença de um modelo urbanocêntrico de educação que se distancia dos princípios
e concepções que pautam o movimento por uma Educação do Campo no Brasil, revelando a
predominância de uma educação orientada por um currículo homogêneo e descolado dos
contextos dos estudantes da Educação do Campo.
No artigo As multisséries no Campo de Arraias-TO: memórias”, de Jocyléia
Santana dos Santos e Samara Caldas Franco (UFT), as autoras buscam compreender, a partir
da metodologia da história oral, as dificuldades encontradas pelos educadores e educandos
que vivenciaram a realidade das classes multisseriadas em escolas do campo do município de
Arraias, Estado do Tocantins. A pesquisa constatou que a falta de formação específica para o
docente atuar na multisseriação, a ausência de um currículo voltado para a realidade do campo
e a falta de infraestrutura física, foram os principais aspectos evidenciados.
Em seguida, a partir de uma pesquisa bibliográfica e documental, no artigo intitulado
A presença da tecnologia na Educação do Campo: mapeamento da produção científica
nacional dos últimos cinco anos”, de autoria de Vagner Viera de Souza, Elaine Corrêa
Pereira e Celiane Costa Machado (FURG), o objetivo do estudo foi realizar um mapeamento
das produções científicas brasileiras, dentro da biblioteca digital do SciELO, as quais
abordem as temáticas Tecnologia e Educação do Campo. Os autores afirmam que a pesquisa
possibilitou compreender quais campos as pesquisas estão mais avançadas em relação às
publicações que versam sobre a Tecnologia e Educação do Campo, o que pode vir a atrair
novas pesquisas e publicações nestas áreas menos exploradas.
Na sequência, tem-se o artigo O Sistema de Organização Modular de Ensino
(SOME) na ótica de egressos no município de Breves-Pará, de João Marcelino Pantoja
Rodrigues e Gilmar Pereira da Silva (UFPA), que teve o fito de analisar, a partir das
percepções de egressos do Ensino Médio, as contribuições e limitações do Sistema de
Organização Modular de Ensino (SOME) na formação educacional de jovens do campo no
município de Breves, localizado na Ilha do Marajó/Pará. Os resultados da pesquisa
demonstraram a afirmação da importância do SOME como única alternativa de acesso ao
Ensino Médio para a maioria dos jovens do campo paraense.
O artigo A Pedagogia da Alternância no contexto da Educação do Campo: a
experiência do Instituto Educar”, de Luana Bonavigo e Flávia Eloisa Caimi (Instituto
Educar e UPF), teve o objetivo de investigar as práticas educativas da alternância
desenvolvidas no Instituto Educar, localizado no município de Pontão, Estado do Rio Grande
do Sul. Entre outros resultados, as pesquisadoras constataram que esse Instituto assume uma
organização metodológica baseada na Pedagogia da Alternância que envolve o Tempo Escola
e o Tempo Comunidade, a qual prioriza a educação dos sujeitos inseridos em uma
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 01-04
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
3
coletividade e confere protagonismo aos educandos que ali desenvolvem seus processos
formativos.
O artigo Apontamentos sobre a Educação do Campo em Colorado do
Oeste/Rondônia: notas de um camponês letrado”, de autoria de William Kennedy do
Amaral Souza, Raiane Agustinho Lopes, Vanessa Campos de Moraes e Marcos Antônio
Oliveira Rodrigues (IFRO, UFSC e UFMT), é o penúltimo trabalho. Realizada no Estado de
Rondônia, a pesquisa teve como principal objetivo descrever algumas inquietações sobre a
dicotomia existente entre Educação no Campo e Educação do Campo, a partir do Movimento
dos Pequenos Agricultores (MPA). Os dados obtidos durante a pesquisa possibilitaram
afirmar que as pessoas do MPA acreditam em um sistema educacional melhor, e essa melhora
passa pelo diálogo entre Estado e Movimentos Sociais. No caso do MPA, esse diálogo tem
como ideia central a valorização da cultura camponesa dentro do ambiente escolar e a garantia
da manutenção das escolas do campo, podendo assim, ajudar a diminuir o êxodo rural e,
consequentemente, melhorar a qualidade de vida no campo.
Por fim, O processo de ensino nas escolas multisseriadas do campo e o
Programa Escola Ativa”, artigo de Marco Túlio Santos Ledo (SEMEC-Almenara), fecha
este número da RBEC. Nesse estudo, o objetivo é compreender o processo de ensino-
aprendizagem nas escolas multisseriadas do campo, a partir da análise do Programa Escola
Ativa. Para tanto, utilizou-se como procedimento de pesquisa a revisão bibliográfica. A
pesquisa mostrou que no Programa Escola Ativa as diversas formas de sistematização do
trabalho docente e da atuação discente são instrumentalizadas através de práticas definidas
no Projeto Base. Embora esse programa inclua ações importantes para a integração da escola
e da família e do aluno na comunidade, muitos fatores não se aplicaram devido a elementos
da estrutura organizacional dos sistemas de ensino, como, a não vivência do professor no
campo, a falta de formação nos campos universitários que versem sobre o tema, além das
dificuldades inerentes à prática docente em turmas multisseriadas.
A Revista Brasileira de Educação do Campo agradece aos(as) autores(as) pela
submissão de trabalhos ao periódico e aos(as) avaliadores(as) que contribuíram emitindo
pareceres e revisões dos manuscritos apresentados neste número e também ao longo de 2017 e
2018.
Desejamos a todos e a todas boas leituras!
ORCID
Cícero da Silva
https://orcid.org/0000-0001-6071-6711
Gustavo Cunha de Araújo
https://orcid.org/0000-0002-1996-5959
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 01-04
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
4
Como citar este editorial / How to cite this editorial
APA:
Silva, C., & Araújo, G. C (2018). Educação do Campo e pluralidade de saberes. Rev. Bras. Educ. Camp., 3(1),
01-04.
ABNT:
SILVA, C.; ARAÚJO, G. C. Educação do Campo e pluralidade de saberes. Rev. Bras. Educ. Camp.,
Tocantinópolis, v. 3, n. 1, p. 01-04, 2018.
Revista Brasileira de Educação do Campo
The Brazilian Scientific Journal of Rural Education
A
RTIG
O
/
A
RTICLE
/
A
R
C
ULO
DO
I:
h
tt
p
:/
/
d
x.d
o
i.
o
r
g/
10.20
873/
u
ft.2525
-4863.2018v3
n
1p
05
Martín Rodríguez Vivanco y la Sociología de la educación
en Cuba
Lídice Mesa Gómez
1i
1
Universidad de Artemisa - UA. Asesora do Rector de la Universidad de Artemisa. Rúa 8C, 713, Provincia
Artemisa. Cuba. lidicemg@uart.edu.cu.
RESUMEN. El presente artículo, tiene el objetivo de revelar la
contribución de Martín Rodríguez Vivanco al desarrollo de la
sociología de la educación en Cuba durante la República
neocolonial y la trascendencia de sus concepciones hasta la
actualidad. Se realizó una profunda consulta bibliográfica y
como resultado se constató la asunción en su obra de adelantos
didácticos del movimiento de la Escuela Nueva, los que adecuó
creadoramente al contenido de la asignatura Sociología
Pedagógica que impartía en la Universidad de La Habana. La
sistematización realizada, reveló que sus concepciones acerca de
la teoría de la sociología de la educación se expresan en el
tratamiento que hizo de su objeto de estudio, su relación con
otras ciencias, sus categorías principales, entre otros, que
constituyen el punto de partida para el estudio de esta ciencia en
el país y sirven para esclarecer y sustentar las raíces de la
pedagogía cubana.
Palabras clave: Martín Rodríguez Vivanco, Sociología
Pedagógica, Sociología de la Educación.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 05-29
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
5
mez
,
L
.
M.
(2018
).
M
a
rtí
n
R
o
d
rígu
ez
V
iva
n
c
o
y
la
S
o
c
io
l
o
gía
d
e
la
edu
c
a
c
n
en
C
u
ba
...
Martín Rodríguez Vivanco and the Sociology of the
education in Cuba
ABSTRACT. The present article, has the objective to expose
about the contribution of Martín Rodríguez Vivanco related to
the sociology development of the education in Cuba during the
neo-colonial Republic period and the transcendence of its
conceptions at the present time. A deep bibliographic
consultation was done and as a result was verified the
assumption in his work of didactic advances of the motion of the
New School, the ones that made suitable creatively to the
content of the subject Pedagogic Sociology that he used to teach
at the University of Havana. The realized systematization,
showed that Martin Rodriguez Vivanco conceptions about the
sociology of the education theory are expressed at the treatment
that he made about its object of study, the relation with other
sciences, its main categories, among others, that constitute the
point of departure to the study of this science in the country and
serve to clear and support the roots of the cuban pedagogy.
Key words: Martín Rodríguez Vivanco, Pedagogic Sociology,
Sociology of the Education.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 05-29
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
6
mez
,
L
.
M.
(2018
).
M
a
rtí
n
R
o
d
rígu
ez
V
iva
n
c
o
y
la
S
o
c
io
l
o
gía
d
e
la
edu
c
a
c
n
en
C
u
ba
...
Martin Rodriguez Vivanco e sociologia da educação em
Cuba
RESUMO. Este artigo tem como objetivo revelar a contribuição
do desenvolvimento Martin Rodriguez Vivanco da sociologia da
educação em Cuba durante a República neocolonial e o
significado de seus conceitos para hoje. Foi realizada uma busca
minuciosa da literatura e como resultado a suposição foi
encontrado em seu trabalho de ensino avança o movimento da
Escola Nova, que criativamente adaptados ao conteúdo do curso
Pedagógico Sociologia que ensinou na Universidade de Havana.
Sistematização realizada revelou seus pontos de vista sobre a
teoria da sociologia da educação, refletida no tratamento que fez
seu assunto, sua relação com outras ciências, suas principais
categorias, entre outros, que são o ponto de partida para o estudo
desta ciência no país e servir para esclarecer e apoiar as raízes
da pedagogia cubana.
Palavras-chave: Martin Rodriguez Vivanco, Sociologia
Pedagógica, Sociologia da Educação.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 05-29
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
7
mez
,
L
.
M.
(2018
).
M
a
rtí
n
R
o
d
rígu
ez
V
iva
n
c
o
y
la
S
o
c
io
l
o
gía
d
e
la
edu
c
a
c
n
en
C
u
ba
...
Introducción
El progreso social impone a la
educación importantes retos, tal es el caso
de la conceptualización del aparato teórico
que sustenta ese gran edificio que es la
educación nacional de cada país. En ese
sentido, Cuba asume un sistema de
ciencias de la educación que reconoce a la
Pedagogía como ciencia y núcleo del resto,
por ser ella la única que tiene como su
único objeto de estudio la educación. Se
reconocen como fundamentos de la
Pedagogía a la Filosofía de la educación, la
Sociología de la educación y la Psicología
de la educación, de ahí la importancia de
abordar y someter a la discusión en la
actualidad, temáticas relacionadas con el
surgimiento y conformación del sustento
teórico de la Pedagogía.
En ese sentido, Chávez, J. Suárez, A
y Permuy, L D. (2005) revelaron que “Los
fundamentos teóricos de carácter
sociológico de la pedagogía en Cuba se
debilitaron, al desaparecer la sociología
por varios años de los planes de estudio de
las universidades y ser sustituida por el
materialismo histórico”. (p. 23).
Por ese motivo, se han editado
algunas obras y ensayos sobre esa área del
saber. Así, López, Miranda, Cobas, Valera
y Chávez (2000), reconocen la existencia
de posiciones propiamente sociológicas de
la educación durante la República
neocolonial (1902-1958) en educadores
como Enrique José Varona, Roberto
Agramonte, Laredano del Campo, Fanny
Ascuy, Martín Rodríguez Vivanco, entre
otros. Este último, fue un valioso
exponente de ese período que contribuyó al
desarrollo de la educación, de manera
especial, al plasmar sus concepciones
relacionadas con la sociología de la
educación y la inspección escolar en obras
que en la actualidad constituyen clásicos
antecedentes para el estudio de esa materia.
En el caso de López et al. (2000)
solo se hace referencia al objeto de estudio
de la sociología pedagógica expuesto por
Martín Rodríguez Vivanco en su texto
Introducción a la sociología pedagógica
de 1937.
En este estudio, se parte de
considerar a la sociología pedagógica una
ciencia y antecedente de la sociología de la
educación.
Autores como Blanco (2004),
consideran que la sociología pedagógica,
también llamada sociología educativa o
educacional, constituye un tipo particular
de sociología de la educación que se
desarrolló en las primeras décadas del siglo
XX con notable éxito entre los pedagogos
y algunos aportes inobjetables para el
desarrollo posterior de los estudios
sociológicos de la educación.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 05-29
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
8
mez
,
L
.
M.
(2018
).
M
a
rtí
n
R
o
d
rígu
ez
V
iva
n
c
o
y
la
S
o
c
io
l
o
gía
d
e
la
edu
c
a
c
n
en
C
u
ba
...
Este autor ha reconocido, que el libro
Introducción a la Sociología Pedagógica
de Martín Rodríguez Vivanco de 1937, fue
el primero publicado en español y
dedicado a la sociología de la educación,
por lo que debe considerarse un clásico en
ese campo, aunque, no empleó sus
concepciones como antecedentes para la
conformación de su libro.
Por otra parte, para Rivero y
Proveyer (2005), la sociología pedagógica
es uno de los primeros antecedentes de la
sociología de la educación, “… el punto
inicial de conformación de la sociología de
la educación”. (p. 4) El libro es
fundamentalmente una compilación de
artículos de autores extranjeros que se
relacionan directamente con el contenido
de la asignatura Sociología y Política
Social de la Educación que se imparte en
la carrera de Sociología en la Universidad
de La Habana.
De manera general, en la literatura
pedagógica actual no se refleja la
contribución de Martín Rodríguez Vivanco
a la sociología de la educación en Cuba. Se
aprecia desconocimiento de sus
concepciones teóricas acerca de la familia,
la comunidad, el objeto de estudio de la
sociología pedagógica, los términos
individualización y socialización del
sujeto, la diferencia entre la sociología
pedagógica y de la educación, entre otros
que pueden considerarse el punto de
partida para el estudio de esta ciencia en el
país.
Por todo lo expresado anteriormente,
el presente trabajo persigue como objetivo
revelar la contribución de Martín
Rodríguez Vivanco a la Sociología de la
educación en Cuba durante la República
neocolonial y la trascendencia de sus
concepciones hasta la actualidad.
Desarrollo
La educación cubana tiene una deuda
histórica con el pedagogo Martín
Rodríguez Vivanco, que durante la
República neocolonial se desempeñó como
un valioso exponente del sector. Supo estar
a la altura de su tiempo y dejar obras
escritas que constituyen clásicos de
obligada consulta en el país para
investigadores de la inspección escolar y la
sociología de la educación.
Martín Rodríguez Vivanco (1900-
1985) fue un maestro cubano que nació en
Quiebra Hacha, poblado rural del
municipio Mariel, perteneciente entonces a
la provincia de Pinar del Río. Realizó sus
primeros estudios en una escuela
organizada por los bautistas de su localidad
y en lo adelante estaría vinculado a las
labores de la Iglesia, donde llegó a ocupar
el cargo de Presidente de las Escuelas
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 05-29
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
9
mez
,
L
.
M.
(2018
).
M
a
rtí
n
R
o
d
rígu
ez
V
iva
n
c
o
y
la
S
o
c
io
l
o
gía
d
e
la
edu
c
a
c
n
en
C
u
ba
...
Bautistas de Cuba Occidental, por más de
15 años consecutivos.
Emigró a la capital para formarse
como maestro y desde allí, supo dar
respuesta a necesidades educacionales que
se presentaron en su contexto de manera
creativa, lo que fue posible, debido al alto
nivel de preparación docente y científico-
investigativo, al vasto conocimiento de las
disciplinas pedagógicas, el pasado
educativo del país, así como al excelente
dominio que poseía del idioma inglés y la
capacidad de dirección.
Este pedagogo puso sus
potencialidades al servicio de la educación
nacional, produjo importantes textos
docentes, ocupó responsabilidades
llegando a desempeñarse como decano de
la Escuela de Pedagogía de la Universidad
de La Habana, participó en reformas
educativas, introdujo asignaturas en los
planes de estudio, elaboró proyectos,
programas y libros de texto e impartió la
docencia en instituciones públicas y
privadas.
La Sociología de la educación como
ciencia fue uno de los temas más
recurrentes en la obra escrita de Martín
Rodríguez Vivanco, de ahí, la necesidad de
profundizar acerca del devenir histórico de
la misma y poder apreciar la significación
de sus concepciones para la educación
cubana en aquel período y su
trascendencia.
La revisión bibliográfica realizada
reveló que entre las principales obras
nacionales que abordan contenidos
relacionados con la Sociología de la
educación se destacan Rodríguez (1937,
1943, 1953), en el siglo XX, y más
recientemente López et al. (2000), Blanco
(2004), Rivero y Proveyer (2005).
El desarrollo de este artículo se
estructura en tres epígrafes que inician con
las consideraciones teóricas que sustentan
el estudio de esta temática, le sigue una
breve referencia al desarrollo del
tratamiento sociológico de la educación en
Cuba hasta inicios de los años treinta del
siglo XX y culmina con las concepciones
teóricas de Martín Rodríguez Vivanco
sobre la Sociología de la educación.
Consideraciones teóricas que sustentan
el estudio de esta temática
Para dar cumplimiento al objetivo
propuesto, es preciso esclarecer
primeramente el vocablo contribución.
Este término es muy recurrente en
investigaciones de todo tipo. Las de corte
histórico, con frecuencia ahondan en su
definición. Se asume la propuesta de
Buenavilla (2004), como resultado de la
sistematización resultante del proyecto
Figuras destacadas de la cultura nacional:
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 05-29
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
10
mez
,
L
.
M.
(2018
).
M
a
rtí
n
R
o
d
rígu
ez
V
iva
n
c
o
y
la
S
o
c
io
l
o
gía
d
e
la
edu
c
a
c
n
en
C
u
ba
...
contribución al desarrollo de la educación
y la teoría pedagógica cubana, a partir de
las conceptualizaciones presentadas por
Pérez, F, Álvarez, Z, Barrabia, O, Ortega,
D y Piclin, J en sus tesis de doctorado.
Se asume la definición de Buenavilla
(2004), que luego de sistematizar los
criterios de los autores anteriores, arribó a
la conclusión de que se puede hablar de
contribución a partir de:
Entender las potencialidades que
presenta el educador como aquellas
capacidades inmanentes a la
naturaleza de su personalidad y
obra que generan o constituyen
fuentes en disposición de tributar al
campo teórico, práctico o
metodológico; capacidades que son
portadoras de valores cognitivos y
educativos, éticos y estéticos;
posibilidad de ejercer influencia
educativa en los demás.
Esta contribución está
estrechamente vinculada a las
necesidades de desarrollo propias
del fenómeno, y/o a las demandas
que la sociedad le está planteando
a la educación o al campo teórico
en un momento histórico
determinado.
La interrelación dialéctica entre
el educador y otras personas, y/o
la educación, y/o campo teórico,
que puede ser simultánea, continua
o mediada por el tiempo y las
instituciones y organizaciones
sociales.
Los resultados. (p. 5)
La definición anterior permite reconocer
las potencialidades de Martín Rodríguez
Vivanco, entre las que se destaca su
comportamiento ético y moral apropiado
que le permitieron ejercer influencia
educativa en los demás, de manera directa
con su actuación profesional y ciudadana e
indirecta por medio de la producción de
obras de variado formato.
Otros elementos que le permitieron
contribuir al desarrollo de la educación,
están asociados con el estrecho vínculo del
educador con personalidades e
instituciones dentro y fuera del país que le
permitieron sostener intercambio teórico y
práctico. Como resultado contribuyó al
desarrollo de la sociología de la educación,
a partir de sus concepciones acerca de esta
ciencia, que serán abordadas más adelante.
Breve referencia al tratamiento
sociológico de la educación en Cuba
hasta inicios de los años treinta del siglo
XX
Para comprender la contribución de
Martín Rodríguez Vivanco al desarrollo de
sociología de la educación, es preciso
primeramente conocer el estado de esta
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 05-29
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
11
mez
,
L
.
M.
(2018
).
M
a
rtí
n
R
o
d
rígu
ez
V
iva
n
c
o
y
la
S
o
c
io
l
o
gía
d
e
la
edu
c
a
c
n
en
C
u
ba
...
ciencia en Cuba, antes de que este profesor
redactara sus obras relacionadas con esta
materia.
El tratamiento sociológico de la
educación en el país inicia en el período
Colonial, cuando intelectuales como José
Agustín Caballero, Félix Varela, José de
La Luz y Caballero, José Antonio Saco y
José Martí Pérez, influenciados por la
filosofía ilustrada europea, el empirismo y
el sensualismo característico de la
modernidad se orientan hacia la tendencia
filosófico-sociológica de esta área del
conocimiento. Todos ellos se pronunciaron
en su momento en contra del
escolasticismo y se adelantaron al
surgimiento de la sociología general y de la
sociología de la educación
específicamente. Sus reflexiones acerca del
fenómeno educativo han sido reflejadas
desde un enfoque filosófico social.
Múltiples son las expresiones sobre
la sociología de la educación que aparecen
plasmadas en sus escritos. En ellos se
aprecia como núcleo teórico de su
pensamiento la educación popular. El
padre Varela (1829), abogó por la
preparación intelectual y una sólida
formación ideológica de la juventud. Al
respecto señaló: “El fomento de la
instrucción pública es una obligación que
puede llamarse popular. La necesidad de
instruir a un pueblo es como darle de
comer, que no admite demora”. (p. 315)
Este autor reconoció, además que en
la sociedad todos educan y el efecto de ese
proceso es diferente, como desigual es la
relación entre los agentes que intervienen
en él, por ejemplo, señaló: “… un padre,
un pariente es un maestro continuo a quien
se le tiene mucha consideración y afecto”.
(Varela, 1992, p. 140).
José de La Luz y Caballero (1800-
1862), realizaba el análisis en relación con
la educación y la sociedad desde un
enfoque pedagógico-sociológico. La
sociología de la educación lucista es
apreciable en su quehacer práctico, por
ejemplo, cuando realizó de manera pública
un ensayo del método explicativo con un
éxito asombroso y así acercaba la escuela a
la comunidad.
Otra idea progresista de este
educador fue su propuesta de “… crear
asilos o casas de corrección para
adolescentes, escuelas en cuarteles y
fortalezas, como en cárceles y presidios”.
(Rodríguez, 1926, p. 37) De igual modo
abogaba por el acercamiento de la escuela
a los hogares y gestionó la creación de una
escuela para sordomudos, lo que viene a
ser un verdadero reclamo de educación
para todos.
Por su parte, el Apóstol de la
independencia de Cuba, José Martí Pérez,
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 05-29
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
12
mez
,
L
.
M.
(2018
).
M
a
rtí
n
R
o
d
rígu
ez
V
iva
n
c
o
y
la
S
o
c
io
l
o
gía
d
e
la
edu
c
a
c
n
en
C
u
ba
...
le confirió a la educación una profunda
dimensión político social que lo llevó a
afirmar: “Una ciudad es culpable mientras
no es toda ella una escuela”. (Martí, 1890,
p.
414-415). Evidentemente, existía
claridad en sus ideas acerca de la
influencia educativa que ejerce la sociedad
como un todo armónico sobre el individuo.
En Martí se desarrolló ampliamente
el aspecto social de la educación
independientemente del sexo, raza,
condición social u otro factor. Concebía
que “La escuela ambulante es la única que
puede remediar la ignorancia campesina.”
“Urge abrir escuelas normales de maestros
prácticos, para regarlos luego por valles,
montes y rincones…” (Martí, 1884, p.
291). Esta reflexión expresa la relación
educaciónsociedad en la obra martiana, el
profundo humanismo manifiesto en el
compromiso social que deben contraer los
hombres para con otros hombres.
Por otra parte, expresó: “… todo
esfuerzo por difundir la instrucción es
vano, cuando no se acomoda la enseñanza
a las necesidades, naturaleza y porvenir del
que la recibe”. (Martí, 1885, p. 327). Las
palabras del apóstol refuerzan la idea de
que cuanto más vinculada esté la
preparación que reciba el estudiante al
contexto comunitario, más comprometido
estará con él.
Otro pedagogo de ideas muy
avanzadas acerca de la educación durante
la colonia fue Manuel Valdés Rodríguez.
En relación con la necesaria articulación
que debe existir entre la escuela y el medio
social, sus agencias y agentes para
garantizar su labor, expresó. Citado en
Escalona (1959):
La necesidad suprema con todo, es
armonizar el medio en que se educa.
Querer educar al hombre
divorciándolo de las influencias de su
tiempo y de su sociedad, es pretender
un absurdo. Los cargos que algunos
formulan contra la escuela nacen
propiamente de la inocente opinión
de que ella, por si sola y única, es la
panacea de los males de la
humanidad… Señores, no es
necesario repetirlo, cortar la corriente
de solidaridad y simpatía entre la
escuela y los factores sociales,
equivale a convertir aquella en una
especie de mecanismo arbitrario,
artificial y armónico, propio solo
para romper la ley de la unidad…
¿Comprometen esos factores el
problema y la obra de la escuela? No
cabe duda alguna en afirmarlo… (p.
122).
Los padres fundadores de la
pedagogía cubana reconocían el estrecho
vínculo de la educación con las esferas
macrosociales (economía, política,
ideología, cultura), especialmente con la
independencia nacional y la abolición de la
esclavitud.
En la década de los años 60 y en el
transcurso de la propia guerra de los Diez
años (1868-1878), los sectores de la clase
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 05-29
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
13
mez
,
L
.
M.
(2018
).
M
a
rtí
n
R
o
d
rígu
ez
V
iva
n
c
o
y
la
S
o
c
io
l
o
gía
d
e
la
edu
c
a
c
n
en
C
u
ba
...
media se interesaron por extender los
servicios educacionales a la incipiente
clase obrera. Durante la guerra se
alfabetizó y educó a los campesinos y
esclavos libres. La educación avanzaba
más en la práctica que en la teoría.
En sentido general, López et al.
(2000) aprecia la presencia de rasgos
comunes en las ideas de estas
personalidades en el período colonial
como:
Reconocimiento de la necesidad de
la educación para el progreso social
y el mejoramiento y bienestar de
los pueblos
Elevación del nivel cultural y
educacional del pueblo como
criterio esencial para alcanzar y
valorar el progreso de un país
La función social de la educación
dirigida no sólo a la acumulación
de conocimientos sino a la
formación y el desarrollo del
hombre para la vida
El carácter democrático de la
educación al extender el servicio
educativo a los diferentes sectores y
capas sociales
Crítica a los males y factores
sociales que afectan la educación
La necesidad de vincular el ideal de
educación a las necesidades
concretas de la isla
Análisis de las consecuencias
sociales negativas, que provocan la
utilización del método escolástico
en la organización del contenido de
la enseñanza para la formación de
la personalidad”. (p. 55).
Por su parte Varona (1992),
reflexionaba acerca de la necesidad de
elaborar una teoría sociológica
educacional, que reflejara los problemas
educativos de la Isla. En 1899 planteó
claramente que:
en la sociedad todo educa y todos
educamos... Pero aún nos faltará
mucho para llegar a ese fin, mientras
la colaboración de la familia y la
sociedad, en general, en la obra de
convertir a los niños en hombres no
sea aferrada y no se conspire en la
misma dirección que la disciplina
escolar… (p. 7).
Las ideas anteriores están en función
de la realidad concreta, establecen una
relación teoría-práctica, expresada en el
vínculo de los intereses de los estudiantes
con los de la comunidad en que viven.
Algunos investigadores cubanos
entre ellos López et al. (2000), ubican el
proceso de institucionalización de la
Sociología de la educación en Cuba en el
período comprendido de 1930-1933, como
resultado del esfuerzo personal de
prestigiosos intelectuales que fundaron
cátedras de sociología en las escuelas
normales, los institutos de segunda
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 05-29
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
14
mez
,
L
.
M.
(2018
).
M
a
rtí
n
R
o
d
rígu
ez
V
iva
n
c
o
y
la
S
o
c
io
l
o
gía
d
e
la
edu
c
a
c
n
en
C
u
ba
...
enseñanza y la Universidad de La Habana,
entre los que destacan a Enrique José
Varona, Martín Rodríguez Vivanco,
Roberto Agramonte, Laredano del Campo
y Fanny Ascuy.
Las consideraciones acerca de la
sociología de la educación de los
pedagogos de la Colonia y las primeras
décadas de la República aparecen
recogidas en documentos de diverso
formato como epistolarios, discursos,
manuscritos, en ocasiones incluidos en
documentos de contenido muy general. En
esas condiciones resulta difícil conformar
un texto docente, sin embargo, no se
aprecia rompimiento entre las
concepciones de los precursores de la
pedagogía cubana y Martín Rodríguez
Vivanco, que fue un ferviente seguidor del
legado pedagógico del siglo XIX.
De ahí, la importancia de exponer la
contribución de Martín Rodríguez Vivanco
a la Sociología de la educación en un
período tan complejo de la historia de
Cuba como la República neocolonial.
Concepciones teóricas de Martín
Rodríguez Vivanco acerca de la
Sociología de la educación
El epígrafe se sustenta en la
periodización realizada por la propia autora
Mesa (2013), sobre la obra educativa de
Martín Rodríguez Vivanco, que estableció
como criterio el impacto de su producción
intelectual en el desarrollo de la educación
cubana.
La producción intelectual, a criterio
de Añorga (2012) “… es la producción
inmaterial de los hombres, abarca todas las
actividades humanas, donde se manifieste
la creación, aunque se reduzca a una nueva
forma de exponer los conocimientos y
resultados de otros hombres”. (p. 8).
Añorga (2012) clasifica la
producción intelectual en científica,
técnica y humanista y las define así:
La producción científica, está
relacionada con la producción de
conocimientos, se expresa mediante
investigaciones, sistematizaciones,
producción de conocimientos,
teorías, ciencia consolidada. La
producción técnica: (solución a
problemas prácticos concretos,
inventos, diseños, modelos,
adaptaciones, planes y proyectos). La
producción humanista: (creación y
difusión de valores) filosofía,
literatura, artes plásticas, música,
cultura, educación y deportes. (p. 8).
Mesa (2013) en su estudio determinó
las siguientes etapas para el periodizar la
obra educativa de Martín Rodríguez
Vivanco:
Etapa I. Surgimiento de su obra educativa
(1919-1926)
Etapa II. Impulso productivo de su obra
educativa (1927-1938)
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 05-29
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
15
mez
,
L
.
M.
(2018
).
M
a
rtí
n
R
o
d
rígu
ez
V
iva
n
c
o
y
la
S
o
c
io
l
o
gía
d
e
la
edu
c
a
c
n
en
C
u
ba
...
Etapa III. Perfeccionamiento y
consolidación de su obra educativa (1939-
1953). (p. 57).
Desde la primera etapa en que
comienza a formarse en la Escuela Normal
para Maestros de La Habana recibe la
influencia de educadores insignes de la
nación entre los que se destacan Ramiro
Guerra y Arturo Montori. El acercamiento
a estas figuras lo inclina hacia el estudio de
las raíces educacionales cubanas.
Las concepciones expuestas en este
epígrafe, corresponden a las tres etapas, en
las cuales este autor produjo algunas obras
relacionadas con la sociología de la
educación, que como parte de su
producción intelectual, sirvieron también
para delimitar las etapas. Estos textos
permiten apreciar la madurez de sus
concepciones acerca de la sociología de la
educación de una etapa a la otra.
Desde el año 1926 en que publicó el
artículo El problema campesino, dejó claro
que a pesar de haber emigrado hacia la
capital y permanecer en ella, estaba
comprometido con su origen de clase
humilde y sus raíces rurales.
En el artículo, más que revelar las
penurias que padecía el campesinado
demandó transformaciones generales para
su situación. Así, aunque desde una
posición idealista, exigía públicamente al
gobierno que diera el ejemplo y entregara
tierras a los campesinos, que hasta el
momento no eran dueños ni de sus propios
brazos.
Este pedagogo tuvo la valentía social
de declarar el problema existente y
enfatizar en el papel del estado, como
principal causante de los males del
campesinado en Cuba. Años más tarde, por
la importancia que le confería al asunto,
incluyó el artículo en su libro Introducción
a la Sociología Pedagógica en el capítulo
Comunidad rural, contenido que pasó a
formar parte del legado pedagógico y
social de este autor, donde se evidencia la
maduración de sus ideas y la toma de
partido por los humildes.
La reflexión anterior expresa cómo él
luchó por reformas sociales y extender los
servicios educacionales al sector rural y
para ello se valió fundamentalmente de la
docencia y los medios de prensa.
Martín Rodríguez Vivanco desde
1934, año en que se crea la Cátedra de
Sociología pedagógica y Técnica de
Inspección Escolar en la Escuela de
Pedagogía de la Universidad de La
Habana, estuvo a cargo de la conformación
de los planes de estudio y programas de
ambas asignaturas e incluso de la
elaboración de los libros de texto.
Rodríguez (1943) sostenía el criterio de
que:
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 05-29
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
16
mez
,
L
.
M.
(2018
).
M
a
rtí
n
R
o
d
rígu
ez
V
iva
n
c
o
y
la
S
o
c
io
l
o
gía
d
e
la
edu
c
a
c
n
en
C
u
ba
...
la transformación incesante de la
sociedad actual puede también ser
considerada la causa que determina
ese carácter cambiante, variable, de
los planes de estudio. De lo contrario
estaríamos expuestos a ofrecer una
educación inadecuada
completamente atrasada, a la nueva
generación a nuestro cargo. (p. 26).
Lo anterior explica las adecuaciones
a planes, programas y libros de texto que
realizara con frecuencia.
En 1937, escribió el primer libro de
texto y lo tituló, Introducción a la
sociología pedagógica. El material
contenía las explicaciones de cátedra del
autor con el empleo de los conocimientos
más actualizados a nivel mundial sobre la
temática, los que debió traducir del inglés.
Con profundo respeto expuso los
contenidos auxiliándose de las
consideraciones teóricas de relevantes
personalidades en el estudio de esta
materia como Durkheim E, Comte A y en
mayor número citó autores
norteamericanos, con muchos de los cuales
sostuvo intercambio académico.
Martín Rodríguez Vivanco se
mantuvo a la altura de su época, de ahí que
asumiese los adelantos didácticos del
movimiento de la Escuela Nueva o Activa
y los adecuara creadoramente al contenido
de sus materias.
Esta tendencia pedagógica ha sido
objeto de estudio de importantes
personalidades de la educación. En el
ámbito internacional puede citarse a
Ferriére. (1922), Luzuriaga. (1960),
Octavi. (1978), Zubiria. (1995), entre
otros. En el caso de Cuba ha sido estudiada
por Sánchez-Toledo. (s/f), Chávez. (s/f),
Valera. (2003) y un grupo de
investigadores del Centro de Estudios para
el Perfeccionamiento de la Educación
Superior (CEPES), entre otros.
El activismo es un movimiento de
escuelas nuevas caracterizado por la
aplicación de la psicología a la pedagogía
sin preocupaciones teleológicas. Se
caracterizada por tres aspectos
fundamentales:
La concepción de la infancia y su
repercusión en la educación
La concepción del profesor y su
papel en la educación
La renovación metodológica.
En sentido general, este movimiento
centra su atención en el alumno, potencia
su activismo. El profesor es un guía para la
orientación de la experiencia del alumno,
debe estimular la actividad con el empleo
de métodos renovadores, entre los que se
destaca la atención a las diferencias
individuales, la motivación, la
socialización y la cooperación escuela-
familia, entre otros. Implicaba profunda
transformación de la institución docente, la
familia, la sociedad, elevada preparación
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 05-29
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
17
mez
,
L
.
M.
(2018
).
M
a
rtí
n
R
o
d
rígu
ez
V
iva
n
c
o
y
la
S
o
c
io
l
o
gía
d
e
la
edu
c
a
c
n
en
C
u
ba
...
de los educadores para asumir los altos
retos de la enseñanza y la participación
protagónica de los alumnos, que rompería
con los esquemas tradicionales. Significó
progreso con relación a las concepciones y
prácticas de los siglos anteriores.
Los avances en la educación cubana
se recogen básicamente en las principales
obras publicadas en la etapa, las cuales se
hicieron eco de los adelantos educativos de
Cuba y el mundo. Merecen referencia los
textos: Didáctica de la Escuela Nueva, de
Aguayo A M, Didáctica y dirección del
aprendizaje de González D, Introducción a
la Sociología Pedagógica y Técnica de la
inspección escolar, de Martín Rodríguez
Vivanco, entre otras.
Los pensamientos expuestos en las
obras citadas, en su mayoría, no
encontraron aplicación práctica, aunque
fueron socializados también a través de
revistas pedagógicas, libros de texto,
periódicos y la docencia como parte de los
contenidos de las asignaturas impartidas en
las escuelas normales y en la carrera de
Pedagogía en la Universidad de La
Habana, de modo que sus avances
novedosos pasaron a formar parte del
modo de actuar de muchos educadores.
En Cuba, los seguidores de la
Escuela Nueva de manera general tomaron
sus adelantos didácticos y los adecuaron al
contexto nacional. Se aprecia en ello como
elemento novedoso la indiscutible huella
del legado patriótico y humanista de las
generaciones que antecedieron a estos
educadores, quienes incorporaron como
resultado de la evolución histórica de la
tendencia el componente axiológico a los
aspectos asumidos, lo que distinguió al
movimiento en el país de sus
manifestaciones en el resto del mundo.
Hay que considerar también que
Martín Rodríguez Vivanco recibió la
influencia directa de esta tendencia en
Estados Unidos, país que visi en
reiteradas ocasiones en calidad de líder
bautista en el cargo de Presidente de las
Escuelas Dominicales de Cuba Occidental,
como estudiante de posgrado o de manera
intencional para sostener intercambio
académico.
Estudió y analizó los postulados de
ese movimiento de manera crítica, no los
repitió miméticamente. No asumió el
pragmatismo norteamericano que servía de
base a esta tendencia. En la aplicación que
hizo de la Escuela Nueva, se aprecia
originalidad, acercamiento a las
características e idiosincrasia del cubano y
la consideración de la situación histórica.
Sostenía que el fin de la educación es la
formación del hombre que aporte a la
sociedad y en ese sentido, expresó: “No se
educa al individuo para mismo. La
sociedad asume esa función por él a fin de
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 05-29
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
18
mez
,
L
.
M.
(2018
).
M
a
rtí
n
R
o
d
rígu
ez
V
iva
n
c
o
y
la
S
o
c
io
l
o
gía
d
e
la
edu
c
a
c
n
en
C
u
ba
...
que sea educado para la sociedad antes que
para sí mismo”. (Rodríguez, 1943, p. 23).
En las obras que escribió este
pedagogo sobre sociología de la educación,
trató acerca del objeto de estudio de la
sociología pedagógica, su relación con
otras ciencias, las categorías socialización
e individualización del sujeto, las agencias
de socialización educativa, el papel del
maestro, la familia y la comunidad, entre
otros tópicos.
En el libro Introducción a la
Sociología pedagógica no ofreció una
definición personal del término sociología
pedagógica, lo que no debe considerarse
una limitación, si se tiene en cuenta el
estado incipiente de esta ciencia en aquel
momento. En su lugar, asumió a David
Snedden, que la considera “el conjunto de
conocimientos científicos que derivándose
de la sociología general pueden ser usados
en la práctica educacional, así como en la
dirección del proceso en ese campo de
trabajo”. (p. 27).
Esta obra constituye un valioso
testimonio que prueba que Martín
Rodríguez Vivanco consideró la
Sociología Pedagógica o Educacional una
ciencia aplicada cuyo objetivo fundamental
“… es la determinación de los fines y
objetivos de la educación” (Rodríguez,
1943, p. 26), lo que viene a ser un
planteamiento de mucha generalidad,
aunque llegó a reconocer que esta ciencia
no solo analiza las deficiencias y las
fortalezas de un agente determinado, debe
sugerir soluciones y procedimientos
prácticos para su mejoramiento. Consideró
a la sociología y la psicología pedagógicas
como ciencias básicas de la educación y a
ambas entre complementarias. Al
respecto Rodríguez (1943) señaló:
La sociología pedagógica se
encuentra en el grupo, junto a la
psicología pedagógica, formando con
ella los dos grandes pilares que
sostienen el edificio de la educación.
(p. 17). La educación como un
campo de ciencias aplicadas
completamente desarrollado, ha de
emplear numerosas ciencias. La
psicología le ayudará con dos clases
de contribuciones importantes: a) la
educabilidad de un estudiante dado o
de tipos dados de aprendizaje; y b),
cuáles son los mejores métodos para
dirigir el proceso de aprendizaje. (p.
28).
Establece contactos entre la
psicología y la sociología pedagógicas. La
primera, “… parte del individuo y estudia
el proceso de aprendizaje. La sociología
pedagógica estudia las tendencias,
capacidades, deseos y necesidades del
grupo social.” (Rodríguez, 1943, p. 28).
La psicología y la sociología son
pues complementarias; ambos
estudios son necesarios para
interpretar todas las posibilidades así
del individuo como del grupo social.
Como que la educación depende
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 05-29
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
19
mez
,
L
.
M.
(2018
).
M
a
rtí
n
R
o
d
rígu
ez
V
iva
n
c
o
y
la
S
o
c
io
l
o
gía
d
e
la
edu
c
a
c
n
en
C
u
ba
...
igualmente del proceso de
aprendizaje y del proceso de
socialización sus bases o
fundamentos descansan sobre la
psicología pedagógica y la sociología
pedagógica (p. 28).
El autor define los términos
educación y escuela, que resultan
indispensables cuando se habla de
sociología de la educación.
La categoría educación la trató en
sentido general, en toda la magnitud que la
misma encierra, pues comprendió la
influencia que ejerce la sociedad como un
todo sobre el individuo, lo que se expresa
en el reconocimiento que hace de las
agencias educativas. Sin embargo,
Rodríguez (1943) logra distinguir la
educación escolarizada cuando, señala que:
la educación adquiere
caracteres de mayor organización
y notamos que se encuentra a
cargo de personas especialmente
dedicadas a ese trabajo,
constituyendo una acción
sistemática para la transmisión
del saber, que se lleva a cabo
constantemente y según un plan
de estudios y en un curso de cierta
duración una educación
prolongada. (p. 308).
Con esta reflexión reconoció el
carácter organizativo, continuo y constante
de la educación.
El autor considera que la escuela “…
es la principal agencia educativa puesto
que tiene como función esencialísima
encargarse de la educación”. (Rodríguez,
1943, p. 300).
Según su criterio, “Ninguna otra
institución necesitó tanto el tratamiento
sociológico como la escuela, creada
precisamente por la sociedad como medio
para dar al individuo la indispensable
preparación para que ocupe dignamente su
puesto en el agregado social”. (Rodríguez,
1943, p. 14). “La escuela, ha sido
organizada como una institución
diferenciada y especializada que tiene a su
cargo la tarea de iniciar al joven en los más
recónditos aspectos de la vida cultural”. (p.
74)
El pedagogo compartió en el claustro
universitario con educadores que se
pronunciaron en contra de la coeducación
mientras él se mostraba defensor de la
misma. En ese sentido, se atrevió a afirmar
que “Las escuelas que tienen especial
interés en clasificar los niños según el sexo
están actuando contra la naturaleza desde
el punto de vista social…”. (Rodríguez,
1943, p. 227). Negó que la presencia del
varón contribuya a masculinizar a la niña,
ni la femenina afecte la orientación sexual
del varón. “Cada uno acentúa las
cualidades de su sexo en presencia del otro
y aprenden a respetarse mutuamente y a
tratarse con la debida corrección, además
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 05-29
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
20
mez
,
L
.
M.
(2018
).
M
a
rtí
n
R
o
d
rígu
ez
V
iva
n
c
o
y
la
S
o
c
io
l
o
gía
d
e
la
edu
c
a
c
n
en
C
u
ba
...
de conocerse mejor para futuras relaciones
sociales”. (p. 227).
Rodríguez (1943) señaló además
que:
La escuela ensancha la comunidad.
Es necesario estudiar y coordinar la
naturaleza del niño y las acciones
sociales de la sociedad. Las
actividades de la comunidad a través
de programas de investigaciones,
excursiones, higiene, entre otros. La
escuela como centro abierto a la
comunidad. (p. 90).
De esa manera, le confiaba a la
escuela el carácter de centro promotor de la
cultura. Asumió la escuela como
coordinadora de todas las agencias de
socialización educativa, la cual se debía
convertir en su centro.
Martín Rodríguez Vivanco
refiriéndose a la comunidad consideraba
hacer extensivo el activismo de los
alumnos a la comunidad, cuando se planteó
ocupar el tiempo de la niñez y la juventud
en actividades formativas. Insistió en el
aprovechamiento necesario del edificio
escolar en horarios extraescolares por la
comunidad.
Un antecedente de la sociología de la
educación se aprecia en la referencia que
hizo de las agencias de socialización
educativa cuando citó a la escuela, la
familia, las iglesias, asociaciones diversas,
clubes, corporaciones de distintos tipos, los
campamentos de verano, el museo escolar,
la biblioteca, el teatro, la prensa, la radio,
el cinematógrafo, entre otras que “…
ofrecen grandes oportunidades para la
adquisición de la cultura”. (Rodríguez,
1943, p. 144).
La sociedad cubana actualmente está
enfrascada en lograr el acercamiento
necesario entre el hogar y la escuela.
Martín Rodríguez Vivanco al referirse a la
cooperación escuela hogar con énfasis en
la asistencia a clases, la ayuda con las
tareas, reconocía que la escuela como
aliada del hogar está obligada a mantener
con él una constante cooperación, necesita
de la ayuda que los padres pueden prestar
para que su trabajo sea eficaz. La escuela
debe penetrar en el medio vivido y estudiar
las condiciones existentes en la
comunidad, llegar hasta el hogar y
comprender los problemas que afectan al
educador para acudir eficazmente en su
ayuda”. (Rodríguez, 1943, p. 287).
Este educador sostenía que la escuela
debe compensar la decadencia de la acción
educativa del hogar, debía garantizar: “…
el desarrollo de la habilidad física, de la
habilidad intelectual, la preparación
vocacional, la cooperación entre el hogar y
la escuela…” (Rodríguez, 1943, p. 69).
En ese sentido, se refirió a establecer
mecanismos de cooperación escuela
hogar, a partir de la creación de
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 05-29
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
21
mez
,
L
.
M.
(2018
).
M
a
rtí
n
R
o
d
rígu
ez
V
iva
n
c
o
y
la
S
o
c
io
l
o
gía
d
e
la
edu
c
a
c
n
en
C
u
ba
...
organizaciones de padres y maestros, clubs
de madres, sociedades de amigos de la
escuela. Nada más cercano en la actualidad
al Consejo de escuela y a los padrinos de
los centros educacionales, debido a la
necesidad de crear también alianzas
estratégicas.
La familia a criterio de este
pedagogo “… es el más importante de los
grupos que los sociólogos llaman primarios
y se distinguen porque sus miembros
mantienen contacto personal, cara a cara”.
(Rodríguez, 1943, p. 83).
Agrega más adelante en esta obra,
que:
Desde el punto de vista sociológico
la razón suprema de la existencia de
la familia es su demostrada eficacia
como institución más adecuada para
la crianza del niño y la transmisión al
mismo de la mayor parte de la
herencia social. (p. 83).
Martín Rodríguez Vivanco al igual
que los educadores que le antecedieron
abogó por la educación popular, sin
distinción alguna. En ese sentido, señaló:
“Un buen sistema de educación urbana
debe inscribir toda su población escolar y
brindarle la oportunidad de adecuado
aprendizaje”. (Rodríguez, 1943, p. 155).
Es meritorio destacar, que este autor
reconoció la estrecha relación individuo-
sociedad, expresada mediante la
socialización y la individualización, dos
categorías fundamentales cuando se habla
de sociología de la educación. Sin
embargo, en psicología por ejemplo resulta
común utilizar el concepto de personalidad
para referirse a individualidad. Rodríguez
(1943) reconocía que, en este sentido, es
importante partir de:
¿Qué cosa es la personalidad y cómo
se forma? ¿De qué manera se
encuentra constituida? Nos
encontramos frente a un asunto difícil
de explicar, acerca del cual los
psicólogos y pensadores no han
realizado todavía investigaciones
suficientes, problema acerca del cual
estamos lejos de poder decir la última
palabra. (p. 247).
En la actualidad no existe un
consenso general sobre la definición del
término personalidad, diferentes ciencias,
como la psicología, la pedagogía, la
psiquiatría, la sociología, antropología,
criminología, entre otras, incluyen esta
categoría en sus estudios.
Rodríguez (1943) consideraba “… la
personalidad como síntesis de las
tendencias, como resumen de los impulsos
interiores y de las adquisiciones del medio
circundante, el medio físico y social en que
vivimos”. (247).
Como se aprecia en las
consideraciones de este autor, un papel
importante en la formación de la
personalidad recae en el contexto, el medio
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 05-29
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
22
mez
,
L
.
M.
(2018
).
M
a
rtí
n
R
o
d
rígu
ez
V
iva
n
c
o
y
la
S
o
c
io
l
o
gía
d
e
la
edu
c
a
c
n
en
C
u
ba
...
social, en la asimilación de los contenidos
sociales.
En su momento al referirse a los
factores determinantes de la personalidad
consideraba “que el temperamento sea
básico, interviniendo la inteligencia, el
carácter y las otras adquisiciones durante la
vida del individuo, como son los hábitos,
los conocimientos, las aptitudes, etc.”
(Rodríguez, 1943, p. 247).
A criterio de este pedagogo:
En un medio social cualquiera el
individuo está sometido a la presión
de la tradición, los hábitos de
conducta, los sentimientos, la cultura,
etc., de cuantos le rodean; pero no se
somete de forma pasiva a tales
influencias. Reacciona y llega a
trasmitir sus sentimientos y
experiencias propias, realizándose un
verdadero intercambio,
produciéndose el equilibrio al
formarse la personalidad. (p. 253).
Como se puede apreciar le atribuye
un papel activo, protagónico al sujeto en
formación, lo que se corresponde
plenamente con los presupuestos de la
Escuela Nueva.
A su juicio:
la individualización equivale a la
formación de la personalidad, por el
desarrollo de todos aquellos
elementos que contribuyen a la
edificación del carácter; y la
socialización, se refiere a la
adaptación o ajuste del individuo a la
manera de vivir y trabajar del grupo a
que va a pertenecer. (p. 245).
Agregó, además, refiriéndose a la
individualización que:
Estará mejor preparado para las
funciones sociales, para la defensa
del grupo, para trabajar en pro de la
comunidad, el que ha logrado el
fortalecimiento de su individualismo,
de la parte personal o egoísta de la
vida. Lo necesario será encausarlo
hasta altos ideales y normas de
acción social. (p. 247).
Es apreciable cómo se reflejan los
principios que él sustentaba en lo personal,
en sus concepciones educativas, cuando
asume, por ejemplo, que el individuo debe
seguir las normas de conducta establecidas
por los grupos a que pertenece,
apropiándose de los códigos sociales.
Insiste en que se forma al individuo para la
sociedad.
La comunidad como medio que
rodea al estudiante e incide en su
formación cultural, también fue objeto de
análisis en sus obras. Insistió en las
potencialidades educativas que ofrece la
comunidad, al contar con una o más
escuelas, diversas instalaciones, empresas,
programas de higiene y salud.
Resulta válido destacar cómo este
autor no olvida su origen rural. En este
libro dedicó dos epígrafes a la comunidad
rural, expuso sus tipos y características,
con énfasis, en las condiciones ecológicas,
que devienen en la actualidad en un eje
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 05-29
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
23
mez
,
L
.
M.
(2018
).
M
a
rtí
n
R
o
d
rígu
ez
V
iva
n
c
o
y
la
S
o
c
io
l
o
gía
d
e
la
edu
c
a
c
n
en
C
u
ba
...
transversal del sistema educacional cubano
como es la educación ambiental. El autor
enfatizó en las consecuencias que para la
cultura y la educación se derivan de su
estudio en la comunidad rural.
Martín Rodríguez Vivanco reconocía
la preparación que debe tener el maestro
para trabajar en la comunidad rural.
Establecía como criterio que lo ideal es que
proceda de ese medio, por su sensibilidad
ante los problemas del campesinado. Por
ello, insistía en el papel que debe jugar la
educación en la transformación de la
comunidad rural en general. Al respecto
Rodríguez (1954) expresó:
Es indiscutible que en las
condiciones que rodean esa
comunidad social, que impiden el
mayor bienestar y el mayor progreso
de la misma, ha de desempeñar la
educación un papel trascendente en la
responsabilidad de variar las
condiciones actuales para lograr otras
que son las deseables y las que deben
existir. (p. 178).
Al hablar de la historia de la
educación cubana y en especial del
pensamiento educativo de sus principales
personalidades, es imprescindible abordar
el tema de la moral, objeto de constante
preocupación para estas figuras. En ese
sentido, un elemento distintivo con
relación a los postulados de la Escuela
Nueva en las concepciones de Martín
Rodríguez Vivanco, es el estrecho vínculo
entre cognoscitivo y lo axiológico,
expresado en el aprovechamiento que hacía
de las potencialidades educativas del
contenido de sus textos docentes, para así
fomentar la formación de valores,
convicciones e ideales en sus estudiantes a
través de mensajes certeros.
Lo axiológico en Rodríguez (1943)
se manifiesta firmemente cuando expresó:
La educación puede formar ideales
dinámicos, capaces de mover a los
grandes grupos sociales. Lo prueba la
labor elevada que han tenido los
educadores en casi todos los
movimientos de renovación social y de
progreso En nuestra historia
nacional podemos referirnos al
movimiento educativo de fines del
siglo XIX, que precedió nuestra guerra
de emancipación. (p. 287).
Sobre los valores sociales Rodríguez
(1943) consideró que:
estarán siempre en relación con la
época, tendrán también relación con
las aspiraciones de los individuos o los
grupos sociales, pero no pueden ser
definitivos ni permanentes. Han de
estar siempre en constante renovación.
Los valores sociales fijados para un
momento, para un pueblo, pueden ser
más tarde descartados por ese mismo
pueblo o considerados como falsos por
los demás. (p. 296).
Concebía así el papel cambiante que
tienen en la sociedad los valores en cuanto
al nivel de jerarquía.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 05-29
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
24
mez
,
L
.
M.
(2018
).
M
a
rtí
n
R
o
d
rígu
ez
V
iva
n
c
o
y
la
S
o
c
io
l
o
gía
d
e
la
edu
c
a
c
n
en
C
u
ba
...
Llevó los valores al contenido de la
asignatura Sociología Pedagógica, que le
sirvió además para colectivizar los
métodos de enseñanza grupal, los que
consideró eran empleados para cultivar el
pensamiento constructivo y los hábitos de
concentración mental. Por ejemplo,
planteaba que: “En el juego y en el trabajo
escolar se introducen los más elevados
ideales y se hace responsables a los
alumnos de su propia conducta…”.
(Rodríguez, 1943, p. 57). En otro momento
subrayó: “El sentimiento patriótico, por
ejemplo, puede constituir una poderosa
fuerza que lleva a un individuo al heroísmo
y reunido con otros de condiciones
semejantes produce las gloriosas hazañas
de que está llena la historia de todos los
pueblos”. (Rodríguez, 1943, p. 287).
La asunción por este pedagogo de los
adelantos de la Escuela Nueva constituye
un ejemplo claro de cómo se deben
conocer, divulgar y justipreciar las
tendencias pedagógicas y los adelantos
científicos universales sin perder la esencia
de la nación, sus raíces, lo autóctono y con
ello contribuir a impulsar la ciencia
pedagógica de su tiempo.
Otro elemento que llega hasta hoy
con una fuerza sorprendente es su criterio
acerca del papel que desempeña el maestro
como agente social en la sociedad. Al
respecto, afirmó que “… la labor de la
educación es una obra de buena voluntad y
de entusiasmo enaltecedor”. (Rodríguez,
1941, p. 289).
Este pedagogo compartió la docencia
en centros públicos y privados, sin
embargo, reconocía las ventajas de la
educación pública. Esto se evidencia
cuando señaló: “El trabajo de la escuela
pública consistirá en destruir las
diferencias entre los grupos que componen
las sociedades heterogéneas…”.
(Rodríguez, 1943, p. 17).
Con la inclusión de la asignatura
Sociología Pedagógica en el currículo de
las escuelas normales, realizó una revisión
de los contenidos a abordar, lo que dio
origen a un texto más actualizado en 1953,
con el que cierra la tercera etapa, al que
tituló solamente Sociología Pedagógica.
Con este material Martín Rodríguez
Vivanco intentó contribuir a “… establecer
los fundamentos sólidos a los aspectos
científicos de la pedagogía”. (Rodríguez,
1954, p. V).
En este libro, dejó plasmadas
construcciones teóricas de incalculable
valor para el desarrollo de la pedagogía
cubana y expuso valiosas consideraciones
acerca de la sociología de la educación.
Superó concepciones de la obra anterior,
en que asumió por ejemplo la definición
sociología pedagógica de otro autor. En
esta ocasión, llegó a ofrecer una definición
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 05-29
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
25
mez
,
L
.
M.
(2018
).
M
a
rtí
n
R
o
d
rígu
ez
V
iva
n
c
o
y
la
S
o
c
io
l
o
gía
d
e
la
edu
c
a
c
n
en
C
u
ba
...
provisional orientadora, cuando planteó
“… la sociología pedagógica estudia los
hechos sociales desde el punto de vista de
la educación, o en sus relaciones con la
educación”. (Rodríguez, 1954, p. 7).
Más adelante declaró los límites
entre la sociología general y la sociología
pedagógica donde puntualizó que la
primera “… estudia todos los hechos
sociales” y la segunda “… se circunscribe
al campo especializado de la educación
profesional y científica”. (Rodríguez, 1954,
p. 7). La aclaración final complementa la
definición dada por él, ya que ubica el
campo de esta ciencia en la pedagogía (la
relaciona con la escuela), lo que viene a
corroborar la correspondencia con los
criterios actuales sobre este término en
Cuba.
En esta obra hizo un nuevo
acercamiento a la relación individuo-
sociedad. En ese sentido, expresó: “… el
hombre es sociable por naturaleza, lo que
equivale a reconocer que la existencia en el
aislamiento es completamente imposible”
(Rodríguez, 1953, p. 19).
En el libro incluyó un epígrafe sobre
relaciones de la sociología pedagógica con
otras ciencias y trató acerca del lugar que
ocupa esta entre las ciencias de la
educación. Así dejó claro, que ese asunto
que tanto atrae la atención de los
investigadores de la educación en el
presente ya era tratado por los educadores
durante la República neocolonial.
Rodríguez (1953), reconoció la
necesaria relación de sociología
pedagógica con otras ciencias, por ejemplo
“… la estadística, la historia, la
antropología”. (p. 17).
Consideraba que:
la biología y la psicología han
contribuido con sus valiosos resultados
a esclarecer los estudios de la
naturaleza del hombre… Desde el
punto de vista psicológico el hombre
es un ser inteligente dotado de un
equipo mental susceptible de amplio
desarrollo en condiciones de
favorables… No solo posee una
capacidad de organización superior a
todas las demás especies animales sino
que cuenta con las facultades
específicas para atesorar experiencia,
fabricar instrumentos y desarrollar el
lenguaje… es capaz de desarrollar los
medios que le permiten colocarse en el
más alto grado de progreso cultural.
Ese gran desarrollo de la técnica se
debe a su condición social. (p. 20).
El autor reconoce así una vez más la
educabilidad del hombre, su capacidad
intelectual, creadora y organizativa, que
unido a su condición social le permite vivir
y desarrollarse plenamente.
Plantea que Rodríguez (1953):
…el hombre nace como individuo sin
que posea la condición de persona, la
cual irá adquiriendo lentamente a
medida que realiza el proceso de
maduración en contacto con los
demás miembros de la colectividad…
La individualidad es, por tanto, el
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 05-29
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
26
mez
,
L
.
M.
(2018
).
M
a
rtí
n
R
o
d
rígu
ez
V
iva
n
c
o
y
la
S
o
c
io
l
o
gía
d
e
la
edu
c
a
c
n
en
C
u
ba
...
resultado del desarrollo de las
potencialidades hereditarias o
congénitas bajo la influencia de
factores externos. (p. 21).
El autor asevera que la personalidad
se forma y qué importante papel ejerce la
socialización en ese proceso.
Resulta significativa su afirmación
de que la sociología pedagógica se
relaciona también con otras “sociologías
especiales… por ejemplo, la sociología
rural, urbana, jurídica, médica”
(Rodríguez, 1954, p. 18), entre otras, se
basa en la utilización de datos en
determinados aspectos del estudio de esta
ciencia. Llegó a reconocer que “Entre las
sociologías especiales, que se relacionan
con la sociología pedagógica, debemos
mencionar a la sociología de la educación,
que algunos confunden lamentablemente
con la sociología pedagógica, cuando son
dos materias completamente distintas”. (p.
18).
Aun cuando la Sociología
pedagógica y la Sociología de la educación
no son ciencias totalmente diferentes,
como asevera este autor, porque surgen de
una misma ciencia madre, la sociología y
se relacionan con el fenómeno educativo.
En el caso de la primera estudia los
problemas sociales de la educación, no
desde la Sociología, sino de la Pedagogía y
para la enseñanza. Se preocupa por mejorar
la calidad de la educación escolarizada y
comprender los problemas sociales que la
afectan, por lo que profundiza en los
factores familiares y comunitarios de la
educación. En tanto, la Sociología de la
educación al enfocar el fenómeno
educativo desde perspectivas sociológicas,
colabora a explicar y transformar las
relaciones que se establecen en la esfera
educacional desde el nivel micro hasta el
macro en la sociedad.
El reconocimiento por este autor de
ambas ciencias indica progreso en sus
ideas, ya que, al distinguirlas, incita a la
reflexión en torno a una problemática que
tanto ha costado a la ciencia, en la
actualidad y es uno de los elementos que
viene a corroborar la importancia de buscar
respuestas en su obra.
Las concepciones educativas de
Martín Rodríguez Vivanco en sentido
general, adquieren una significación
trascendental, ya que permiten conocer
cómo se comportaban las ciencias de la
educación durante la República
neocolonial, permite reflexionar acerca de
las relaciones entre la pedagogía y sus
fundamentos o entre ella y otras ciencias
sociales.
Consideraciones finales
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 05-29
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
27
mez
,
L
.
M.
(2018
).
M
a
rtí
n
R
o
d
rígu
ez
V
iva
n
c
o
y
la
S
o
c
io
l
o
gía
d
e
la
edu
c
a
c
n
en
C
u
ba
...
Martín Rodríguez Vivanco fue un
pedagogo que se destacó como digno
exponente de la educación en Cuba durante
la República neocolonial. Contribuyó a la
Sociología de la educación mediante la
docencia, la redacción de textos, planes y
programas de estudios.
Sus concepciones estuvieron
influenciadas por la tendencia pedagógica
más progresista de la época, la Escuela
Nueva, que supo adecuar con creatividad al
contexto nacional. Expuso sus
consideraciones teóricas acerca del objeto
de estudio de la sociología pedagógica, su
relación con otras ciencias, las categorías
socialización e individualización, el papel
de las agencias de socialización educativa
como la escuela, la familia, la comunidad,
distinguió a la sociología pedagógica de la
sociología de la educación, con lo que
incitaba a la reflexión acerca de las
relaciones entre la pedagogía y sus
fundamentos o entre ella y otras ciencias
sociales.
Las concepciones de este pedagogo
pueden considerarse punto de partida para
el estudio de esta materia en el país, de ahí,
la importancia de buscar respuestas en su
obra escrita que sirvan para sustentar las
raíces de la pedagogía cubana.
Referencias
orga, J. (2012). La producción
intelectual: proceso organizativo y
pedagógico. La Habana: Editorial
Universitaria.
Blanco, A. (2004). Introducción a la
Sociología de la educación. La Habana,
Cuba: Editorial Pueblo y Educación.
Buenavilla, R. (2004). Ficha de resultado
2. Proyecto: Figuras destacadas de la
cultura nacional: contribución al
desarrollo de la educación y la teoría
pedagógica cubana. La Habana: Instituto
Superior Pedagógico Enrique José Varona.
Buenavilla, R. (2007). Influencias
educativas: factores objetivos y subjetivos.
Dialéctica de su desarrollo. La Habana:
Instituto Superior Pedagógico Enrique José
Varona.
Comisión Nacional Cubana De La Unesco.
(1992). Enrique José Varona. Trabajos
sobre educación y enseñanza. La Habana:
Editorial Pueblo y Educación.
Chávez, J. Suárez, A & Permuy, L D.
(2005). Acercamiento necesario a la
pedagogía general. Editorial Pueblo y
Educación.
Fullat, O. (1995). Filosofías de la
educación. Barcelona.
López, J., Miranda, O L., Cobas, M.,
Valera, O., & Chávez., J. (2000).
Fundamentos de la Educación. La Habana:
Editorial Pueblo y Educación.
Luzuriaga, L. (1960). La pedagogía
contemporánea. Buenos Aires: Editorial
Losada. S A.
Martí, J. (1884, mayo). Maestros
ambulantes. La América. Nueva York.
Obras Completas. Tomo. 8.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 05-29
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
28
mez
,
L
.
M.
(2018
).
M
a
rtí
n
R
o
d
rígu
ez
V
iva
n
c
o
y
la
S
o
c
io
l
o
gía
d
e
la
edu
c
a
c
n
en
C
u
ba
...
Martí, J. (1885, 4 de diciembre). Los indios
en los Estados Unidos. La Nación. Buenos
Aires. Obras Completas. Tomo. 10.
Martí, J. (1890, marzo). Haití y los Estados
Unidos. Periódico El Partido Liberal.
México. Obras Completas. Tomo. 12.
Mesa, L. (2013). La obra educativa de
Martín Rodríguez Vivanco (Tesis de
doctorado). Universidad de Ciencias
Pedagógicas Enrique José Varona, La
Habana.
Rivero, Y., & Proveyer, C. (2005).
Selección de lecturas de Sociología y
Política Social de la Educación. La
Habana: Editorial Félix Varela.
Rodríguez, M. (1926). La labor
pedagógica de la Sociedad Económica de
Amigos del País (Tesis). La Habana:
Universidad de La Habana.
Rodríguez, M. (1926). El problema
campesino. El País. 17(1), 5-6.
Rodríguez, M. (1937). Introducción a la
Sociología Pedagógica. La Habana:
Editorial Cultural S A.
Rodríguez, M. (1943). Introducción a la
Sociología Pedagógica. La Habana:
Editorial Cultural S A.
Rodríguez, M. (1953). Sociología
Pedagógica. I Parte. La Habana:
Publicaciones Cultural SA.
Varela, F. (1829). El mensajero semanal.
T. 1. 43. Nueva York.
Varela, F. (1992). Misceláneas filosóficas.
La Habana: Editorial Pueblo y Educación.
Revista Brasileira de Educação do Campo y no
participó en el proceso de evaluación del artículo.
Recibido en: 26/06/2017
Aprobado en: 20/08/2017
Publicado en: 15/12/2017
ORCID
Lídice Mesa Gómez
http://orcid.org/0000-0002-2121-5161
i
Conflictos de Interés: Lidice Mesa Gómez es
miembro del Consejo Editorial Internacional de la
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 05-29
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
29
Como citar este artigo
/
How to cite this article
/
Como citar este artículo:
APA:
Gómez, L. M. (2018). Martín Rodríguez Vivanco y la
Sociología de la educación en Cuba. Rev. Bras. Educ.
Camp., 3(1), 05-29.
ABNT:
GÓMEZ, L. M. Martín Rodríguez Vivanco y la
Sociología de la educación en Cuba. Rev. Bras.
Educ. Camp., Tocantinópolis, v. 3, n. 1, p. 05-29,
2018.
Revista Brasileira de Educação do Campo
The Brazilian Scientific Journal of Rural Education
A
RTIG
O
/
A
RTICLE
/
A
R
C
ULO
DO
I:
h
tt
p
:/
/
d
x.d
o
i.
o
r
g/
10.20
873/
u
ft.2525
-4863.2018v3
n
1p
30
Memória educacional no município de Enéas Marques-
PR: décadas de (1960-1990) Das escolas rurais à
nuclearização
Maricélia Aparecida Nurmberg
1
, André Paulo Castanha
2
1
Universidade Estadual do Oeste do Paraná - UNIOESTE. Programa de Pós-Graduação em Educação. Rua
Maringá, 1200, Vila Nova. Francisco Beltrão - PR. Brasil. ir.maricelia@hotmail.com.
2
Universidade Estadual do
Oeste do Paraná - UNIOESTE.
RESUMO: As pesquisas sobre história regional e escolas rurais
são recentes, principalmente no Sudoeste do Paraná. Ainda
carecem de incentivo e novos pesquisadores que se dediquem a
desvelar esta história, com pesquisas pautadas em fontes
documentais e/ou orais. Este texto foi produzido a partir de
referenciais bibliográficos, fontes documentais e depoimentos
orais, procurando registrar a história da Educação do município
de Enéas Marques, situado no Sudoeste do Paraná entre as
décadas de 1960 a 1990, período em que o número de escolas
rurais era muito expressivo. Estas escolas eram em sua maioria
multisseriadas, funcionando em dois períodos, sendo atendidas
por um ou dois professores. Contudo, a partir da década de
1990, iniciou-se o processo de fechamento/nuclearização destas
escolas e os alunos passaram a utilizarem-se do transporte
escolar, com isso, a maioria deles foram estudar em escolas
urbanas, fazendo com que a identidade rural fosse se perdendo.
Palavras-chave: Educação Rural, Nuclearização Escolar,
Sudoeste do Paraná.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 30-56
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
30
Nurmberg, M. A., & Castanha, A. P. (2018). Meria educacional no município de Eas Marques-PR: décadas de (1960-
1990)
Das escolas rurais à nuclearização...
Education memory of Enéas Marques municipality-PR:
1960-1990: From rural schools to nuclear
ABSTRACT: Research on regional history and rural schools is
recent, mainly in the Southwest of Paraná. They still lack the
incentive and new researchers who dedicate themselves to
unveiling this story, with research based on documentary or oral
sources. This text was produced from bibliographical references,
oral testimonies and documentary sources and sought to record
the history of Education in the city of Enéas Marques, located in
the Southwest of Paraná, between the 1960s and 1990s, a period
in which the number of rural schools was very expressive. These
schools were, in their majority, multiseriates, functioning in two
periods and being attended by one or two teachers. However,
from the 1990s, the process of closing/nuclearization of these
schools began, and students began to use school transport, with
the result that most of them went to study in urban schools,
making the rural identity was getting lost.
Keywords: Rural Education, School Nuclearization, Southwest
of Paraná.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 30-56
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
31
Nurmberg, M. A., & Castanha, A. P. (2018). Meria educacional no município de Eas Marques-PR: décadas de (1960-
1990)
Das escolas rurais à nuclearização...
Memoria educacional en el municipio de Enéas Marques-
PR: 1960-1990: De las escuelas rurales a la nuclearización
RESUMEN: Las investigaciones sobre historia regional y
escuelas rurales son recientes, principalmente en el Sudoeste del
Paraná. Todavía carecen de incentivo y nuevos investigadores
que se dediquen a desvelar esta historia, con averiguaciones
pautadas en fuentes documentales y orales. Este texto fue
producido a partir de referencias bibliográficas, testimonios
orales y fuentes documentales y buscó registrar la historia de la
Educación del municipio de Enéas Marques, situado en el
Sudoeste de Paraná entre las décadas de 1960 a 1990 etapa en
que el número de escuelas rurales era muy expresivo. Estas
escuelas eran en su mayoría con distintos niveles de aprendizaje,
funcionando en dos períodos siendo atendidas por uno o dos
profesores. Sin embargo, a partir de la década de 1990 se inició
el proceso de cerramiento/nuclearización de estas escuelas y los
alumnos pasaron a utilizar del transporte escolar, con eso, la
mayoría de ellas fue a estudiar en escuelas urbanas, haciendo
que la identidad rural fuese se perdiendo.
Palabras clave: Educación Rural, Nuclearización Escolar,
Sudoeste de Paraná.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 30-56
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
32
Nurmberg, M. A., & Castanha, A. P. (2018). Meria educacional no município de Eas Marques-PR: décadas de (1960-
1990)
Das escolas rurais à nuclearização...
Introdução
As pesquisas sobre as instituições
escolares são recentes e se intensificaram a
partir da década de 1990 dentro dos cursos
de Pós-graduação. Tais pesquisas são
importantes porque contribuem para
resgatar a memória das instituições
escolares e sua relação com a sociedade,
para desvelar as relações cotidianas em
sala de aula, a organização das escolas,
bem como o contexto que levou a
consolidação ou fechamento de tais
instituições.
Este artigo resultou da investigação
da história da Educação do Município de
Enéas Marques entre as décadas de 1960 e
1990 a partir de documentos e
depoimentos orais, visando contribuir com
a preservação da história educacional do
município. Os objetivos foram: catalogar
os documentos históricos para construir um
acervo documental digital sobre a História
da Educação do município de Enéas
Marques; Mapear as instituições escolares
e sua função social no período; Preservar a
história oral dos envolvidos no processo de
constituição do município e das
instituições escolares, para que a história
não fique esquecida, ou seja, perdida pela
falta de pesquisadores e divulgadores. Seu
desenvolvimento pautou-se nas fontes
documentais e fontes orais. A pesquisa
também está alicerçada em fontes
bibliográficas, as quais permitiram as
articulações entre as questões nacionais,
estaduais e locais. A técnica de produção
de dados se deu pelo cruzamento das
informações e pela análise de conteúdo dos
documentos levantados e das entrevistas
realizadas.
Procuramos entender e analisar como
ocorreu o processo de povoamento de
Enéas Marques e a constituição das escolas
por meio da seguinte metodologia: a)
Investigação nas fontes primárias: leis,
decretos, resoluções, atas escolares, diários
de classe, relatórios finais, documentos
diversos, registros de matrículas, exames
finais, dados estatísticos, fotografias,
jornais e revistas; b) Levantamento
bibliográfico: artigos, livros, dissertações;
trabalhos; c) Entrevistas com ex-prefeito,
ex-professores, pais e pioneiros da
comunidade.
A base teórica para análise e
investigação foi o materialismo histórico-
dialético. Partimos da coleta e análise dos
dados, o contexto histórico que permeou o
processo de constituição das escolas,
buscando captar sua totalidade, desvelar os
fatores sociais, econômicos, religiosos,
históricos, culturais e políticos que
permearam o desenvolvimento da
educação. Conforme Netto: “começa-se
pelo ‘real e pelo concreto’, que aparecem
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 30-56
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
33
Nurmberg, M. A., & Castanha, A. P. (2018). Meria educacional no município de Eas Marques-PR: décadas de (1960-
1990)
Das escolas rurais à nuclearização...
como dados; pela análise, um e outro
elemento são abstraídos e,
progressivamente, com o avanço da
análise, chega-se a conceitos, a abstrações”
(Netto, 2011, p. 42). Segundo Nosella e
Buffa: “para o método dialético, o
fundamental em pesquisas sobre
instituições escolares, é relacionar o
particular (o singular, o dado empírico)
com o geral, isto é, com a totalidade
social” (Nosella & Buffa, 2006, p. 362).
De acordo com Netto (2011), o que
determina os procedimentos a serem
seguidos pelo pesquisador é a estrutura e
dinâmica do objeto. Segundo o autor, “o
método implica, pois, para Marx, uma
determinada posição (perspectiva) do
sujeito que pesquisa: aquela em que se
opõe o pesquisador para, na sua relação
com o objeto, extrair dele as suas múltiplas
determinações” (Netto, 2011, p. 53).
Buscou-se a partir do contexto
histórico, político, social, local, regional e
nacional, identificar as escolas existentes
no passado, quem foram os mentores ou
organizadores, como eram estruturadas e
organizadas, quem eram os professores,
perfil dos alunos atendidos, bem como
quais as instituições que ainda estão em
funcionamento. Este texto expressa uma
síntese dessa pesquisa ampla sobre a
educação em Enéas Marques
i
.
Em sua maioria, as escolas foram
construídas pelo governo municipal
contando com a participação dos pais de
alunos. A maior parte era localizada na
zona rural, representando um número
grande de escolas, visto que Enéas
Marques era e é um município pequeno a
nível populacional, com predominância da
população rural. Segundo Cattelan (2014),
em 1954 foram construídas no município
de Francisco, ao qual Enéas Marques
estava vinculado, várias escolas seguindo o
mesmo padrão: “o padrão ‘A’ era
construído por uma sala de aula 8x12
metros com tábuas beneficiadas, paredes
duplas pintadas a óleo e cobertas de telhas
francesas” (Cattelan, 2014, p. 125).
Essas escolas rurais, em sua maioria,
foram cessadas a partir da década de 1990.
Além destas escolas, identificou-se uma
escola coordenada por religiosas, com a
participação de sacerdotes na coordenação
e execução de escolas de e Grau, por
meio de convênios com entidades. Estes
foram alguns elementos que nos instigaram
a investigar como ocorreu o processo de
constituição e fechamento das Instituições
Escolares do município de Enéas Marques
entre as décadas de 1960-1990.
Por meio da metodologia de “história
oral” deu-se voz a pessoas que
participaram do processo de construção do
município de Enéas Marques e da
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 30-56
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
34
Nurmberg, M. A., & Castanha, A. P. (2018). Meria educacional no município de Eas Marques-PR: décadas de (1960-
1990)
Das escolas rurais à nuclearização...
organização da educação, pois não foram
encontrados estudos específicos sobre a
história das escolas do município.
algumas menções em documentos das
escolas quando pertenciam a Francisco
Beltrão, antes de 1964, data de sua
emancipação. As fontes orais foram
relevantes, pois, a maioria dos pioneiros e
professores das escolas que fecharam,
residem, ainda, no município.
A partir dos dados coletados nos
documentos, encontraram-se nomes de
professores e pessoas residentes do
município que foram selecionadas para a
entrevista, tendo como suporte a
metodologia da História Oral.
Inicialmente, realizamos uma visita a estas
pessoas para apresentar o projeto e os
objetivos, ouvi-las e saber se gostariam de
participar do mesmo, contando suas
memórias. Felizmente, tais pessoas foram
muito abertas e acolhedoras à proposta e
ficaram felizes em contar suas lembranças.
Após a visita organizamos um roteiro de
questões que seriam feitas a cada
entrevistado. Em nova visita realizamos as
entrevistas de forma gravada, depois
transcrevemos e fizemos pequenos ajustes,
devido as repetições ou erros de pronúncia.
Concluída esta parte, voltamos à casa dos
entrevistados com o texto transcrito.
Depois de lido e aprovado, colhemos a
assinatura no termo de cessão, para
fazermos uso do material. No texto,
utilizamos alguns excertos das entrevistas,
as quais, juntamente com os documentos,
são as fontes que dispomos para conhecer a
realidade pesquisada.
Ouvindo uma pessoa podemos
apreender suas memórias e experiências,
que pode ser também de uma localidade ou
região. Segundo Le Goff (1990, p. 477), “a
memória, onde cresce a história, que por
sua vez a alimenta, procura salvar o
passado para servir o presente e o futuro.
Devemos trabalhar de forma a que a
memória coletiva sirva para a libertação e
não para a servidão dos homens”. Por meio
da memória, o passado permanece vivo na
lembrança das pessoas. Para Le Goff
(1990), a memória serve para a libertação
ou para a servidão, depende qual aspecto é
enfocado. Para o autor a memória é
também um instrumento de poder.
Memórias ouvidas que podem ser
memórias de muitos. Memórias que
precisam ser ouvidas e preservadas para
não ficarem esquecidas e também para que
a história seja reconstruída e contada para
as novas gerações. Memórias de vidas, de
escolas, de fatos e de gente, que se
constituíram em fontes históricas.
Para dar conta do objetivo
organizamos o texto com os seguintes
tópicos: Enéas Marques no cenário do
Sudoeste do Paraná; criação das escolas
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 30-56
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
35
Nurmberg, M. A., & Castanha, A. P. (2018). Meria educacional no município de Eas Marques-PR: décadas de (1960-
1990)
Das escolas rurais à nuclearização...
rurais no município de Enéas Marques; e
processo de nuclearização das escolas
rurais.
Enéas Marques no cenário do Sudoeste
do Paraná
O município de Enéas Marques está
localizado no Sudoeste do Paraná. Tem
uma população de 6.195 habitantes
segundo estimativas do IBGE de 2015, e
uma área de 192, 203 Km².
Pela Lei 92, de 25 de agosto de
1961, a vila Jaracatiá
ii
foi elevada à
categoria de Distrito Administrativo de
Francisco Beltrão e, em 18 de fevereiro de
1964, pela Lei Estadual 4.823 foi criado
o Município, passando a chamar-se Enéas
Marques
iii
e sendo desmembrado do
território de Francisco Beltrão. A partir da
emancipação intensificou-se a estruturação
do município, a construção de estradas,
escolas, Igreja, hospital etc.
Até a emancipação de Enéas
Marques, as escolas permaneceram
vinculadas a Francisco Beltrão. No ano de
1964, havia em funcionamento 26 escolas,
número este que foi crescendo e na década
de 1980 até 1990 havia registros de 53
escolas, visto que estava englobado o
território de Nova Esperança do Sudoeste,
emancipado de Enéas Marques em 1992,
pela Lei 9.915. Foi nesse momento em
que se intensificou o processo de
nuclearização das escolas rurais em toda a
região do Sudoeste do Paraná.
Na década de 1940, todo o território
que compõe os municípios da região
Sudoeste do PR pertencia ao município de
Clevelândia. Foi nesse período que teve
início o processo de colonização e
povoamento dessa região de forma mais
acentuada. Como atesta Padis, “... embora,
desde a terceira década deste século, se
pudesse encontrar gaúchos em terras do
sudoeste paranaense, foi a partir de 1952, e
especialmente depois de 1956, que esse
movimento migratório se intensificou de
forma surpreendente” (Padis, 1981, p.
152).
Até a década de 1940 essa região era
uma mata extensa, apresentando uma
diversidade de árvores e plantas nativas,
habitada esporadicamente por indígenas.
Niederheitmann (1986) discorre que na
década de 1940 teve início o povoamento
da região que inicialmente era pertencente
ao território de Francisco Beltrão e, mais
tarde, tornaram-se os municípios vizinhos
de Enéas Marques, Nova Prata do Iguaçu,
Salto do Lontra e Nova Esperança do
Sudoeste.
O povoamento do distrito Jaracatiá
foi semelhante ao dos demais municípios
da Região Sudoeste do Paraná, colonizado
majoritariamente por famílias vindas do
Rio Grande do Sul e Santa Catarina em
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 30-56
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
36
Nurmberg, M. A., & Castanha, A. P. (2018). Meria educacional no município de Eas Marques-PR: décadas de (1960-
1990)
Das escolas rurais à nuclearização...
busca de melhores condições de vida e
sobrevivência, para tanto, buscaram terras
para plantar e de onde retirar sua
subsistência. Como afirmado na publicação
Enéas Marques em Revista:
O lugar foi colonizado rapidamente
pelos colonos vindos do sul, Santa
Catarina e Rio Grande; eram
influenciados também pelas
facilidades oferecidas pela Cango
(Colônia Agrícola Nacional General
Osório), do governo federal, que
marcava o sítio e ajudava as famílias
por um determinado período com
ferramentas, alimentação, assistência
médica e educação (Enéas Marques,
Revista, 1988, p. 5).
A CANGO (Colônia Agrícola
Nacional General Osório) foi criada em
1943 e sua instalação definitiva em
Francisco Beltrão ocorreu em 1948.
Segundo Cattelan, “em 1938, o presidente
Getúlio Vargas, intensificou a política de
ocupação de espaços vazios, conhecida
como ‘Marcha para o Oeste’, a fim de
colonizar o interior do Brasil” (Catellan,
2014, p. 27). Para efetivar a política de
colonização criou as Colônias e Territórios
Federais. Conforme Cattelan:
Como suporte para a colonização e
base de apoio para esta política criou
as Colônias e Territórios Federais.
No Paraná, criou-se a CANGO, em
1943, pelo decreto 12.417. Ela se
instalou primeiramente em Pato
Branco e, posteriormente na pequena
Vila Marrecas. Segundo os relatórios,
a CANGO fornecia lotes de terras
gratuitos para os migrantes, além de
sementes e ferramentas para o
trabalho na agricultura. A CANGO
foi responsável pela criação das
primeiras escolas (Cattelan, 2014, p.
27).
A vinda até o Sudoeste ocorreu de
maneira quase semelhante para a maioria
que aqui migrou: dias em cima de
caminhão, carroça ou cargueiro, com
alguns pertences e alimentos, enfrentando
as intempéries, sol e chuva, abrindo
picadas na mata e se deslocando a pé,
percorrendo grandes distâncias, depois
trazendo seus pertences nos ombros, em
cima de lombos de bois ou cavalos.
Conforme Mendes (2016), “meus pais
vieram abrindo estradas de foice, facão,
enxada, para poder chegar ali com a
carrocinha trazendo seus pertences”.
Os migrantes tinham consciência de
que essas terras eram férteis, mas que ao
chegarem não teriam amparo e precisariam
prover o sustento para suas famílias. Até
que essas terras fossem preparadas e
semeadas, para a colheita, teriam que ter de
onde tirar ou prover os alimentos. Traziam
consigo alguns provimentos e dinheiro
para que suas famílias não passassem
necessidades. Conforme Wessling,
“trouxemos junto alguns porcos para criar
e a vaca de leite. Daí fizemos uma
mangueirinha com o vizinho para criar os
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 30-56
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
37
Nurmberg, M. A., & Castanha, A. P. (2018). Meria educacional no município de Eas Marques-PR: décadas de (1960-
1990)
Das escolas rurais à nuclearização...
porcos e comesemo a vida assim”
iv
(cf.
Laste, 2000, p. 102-103).
As terras da região Sudoeste quando
da chegada dos migrantes em Enéas
Marques eram propriedade do governo
federal, administradas pela CANGO, que
as distribuía aos colonos que aqui
chegavam.
Segundo Martins (1986), para
demarcar o território, os agentes da
CANGO abriram picadas por entre as
matas e construíram sua sede no lado
esquerdo do Rio Marrecas, havia
escritórios, hospedarias, refeitório,
instalações médicas etc. Conforme
Cattelan (2014), a organização dos
Núcleos Coloniais foi fixada pelo Decreto-
Lei 2.009, de 09 de fevereiro de 1940:
“sendo estes definidos como uma reunião
de lotes medidos e demarcados, criados
pela União, Estados, Municípios e por
empresas particulares, a fim de acolher
agricultores em pequenas propriedades”
(Cattelan, 2014, p. 44).
Com base em demandas judiciais
anteriores, em 1951 instalou-se na região a
Clevelândia Industrial Territorial Ltda
(CITLA) que passou a exigir dos colonos o
pagamento pela ocupação destas terras
com a alegação de que era a verdadeira
proprietária.
De acordo com Lazier, “os
emissários da CITLA apareceram como
proprietários das glebas Chopim e
Missões, e passaram a vender a referida
área aos posseiros e demais interessados.
Para tanto, instalou escritórios no
Sudoeste” (Lazier, 1997, p. 27).
Conforme Niederheitmann (1986),
“para acelerar e dividir as atividades de
loteamento da área, em janeiro de 1957,
organizaram-se duas grandes companhias
imobiliárias: Companhia Comercial e
Agrícola Paraná LTDA (COMERCIAL) e
Companhia Colonizadora Apucarana
(APUCARANA)” (Niederheitmann, 1986,
p. 42). Os funcionários dessas companhias
visitavam as propriedades exigindo dos
posseiros a assinatura de documentos de
compra e venda das terras. Aqueles que se
recusavam a assinar ou pagar sofriam
violência ou levavam algo de suas
colheitas ou rebanho, como pagamento.
Aos poucos os posseiros e comerciantes da
região foram se organizando e
manifestando-se contrários as ações dos
“jagunços” enviados pelas companhias
colonizadoras. Situação vivenciada não o
intensamente pelos moradores da região de
Enéas Marques, como os habitavam na
região de Francisco Beltrão, Verê, Santo
Antônio e Pato Branco.
Conforme Lazier, “cansados de
serem roubados, cansados de serem
massacrados, cansados de injustiças, os
posseiros e o povo do Sudoeste do Paraná
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 30-56
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
38
Nurmberg, M. A., & Castanha, A. P. (2018). Meria educacional no município de Eas Marques-PR: décadas de (1960-
1990)
Das escolas rurais à nuclearização...
resolveram colocar um paradeiro naquele
estado de coisas, fazendo justiça com suas
próprias mãos” (Lazier, 1997, p. 58).
No dia 10 de outubro houve uma
mobilização em Francisco Beltrão que
ficou conhecida como Revolta dos
Posseiros de 1957. Segundo
Niederheitmann (1986), os colonos
depredaram os escritórios da CITLA e da
COMERCIAL, obrigando os funcionários
e jagunços a abandonarem os escritórios.
Os papéis e promissórias que os jagunços
obrigavam os colonos a assinar como
compromisso pelo pagamento das terras
que usufruíam, foram jogados nas ruas.
Nos dias seguintes também se mobilizaram
em Pato Branco e Santo Antonio do
Sudoeste. Conforme indicou Lazier, “os
posseiros venceram as companhias
colonizadoras que atuavam como grileiras
e apoiadas pelo Governador do Paraná”
(Lazier, 1997, p. 63).
Após a expulsão das companhias
colonizadoras, os municípios foram sendo
organizados e emancipados, e a região
Sudoeste teve sua população ampliada
consideravelmente, os agricultores
puderam estabelecer-se e trabalhar com
afinco para prover o sustento de suas
famílias.
Padis (1981) traz alguns dados sobre
a população dos municípios do Sudoeste
nas décadas de 1940, 1950 e 1960 a partir
de uma tabela intitulada evolução da
população no sudoeste paranaense”:
apresenta dados de 63 municípios do
Sudoeste e Oeste do Paraná e a existência
ou não de habitantes. Conforme podemos
observar no quadro:
Quadro 1: Evolução da População do Sudoeste Paranaense a partir dos municípios oriundos de Clevelândia.
MUNICÍPIOS
1940
1950
1960
1970
Clevelândia
17.240
53.977
23.634
13.911
Barracão
-
-
14.954
18.430
Santo Antônio do Sudoeste
-
-
26.263
28.789
Capanema
-
-
29.300
21.796
Pato Branco
-
-
51.581
34.280
Francisco Beltrão
-
-
55.498
37.280
Enéas Marques
-
-
-
12.719
Fonte: IBGE, 1970/Padis, 1981, p. 162.
Conforme dados apresentados pelo
autor, na década de 1940 e 1950 havia no
Sudoeste somente o município de
Clevelândia. No ano de 1960, havia
outros municípios: Barracão, Santo
Antônio do Sudoeste, Capanema, Pato
Branco e Francisco Beltrão, desmembrados
de Clevelândia. O autor justifica que “... os
municípios para os quais não indicação
de área e população não estavam ainda
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 30-56
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
39
Nurmberg, M. A., & Castanha, A. P. (2018). Meria educacional no município de Eas Marques-PR: décadas de (1960-
1990)
Das escolas rurais à nuclearização...
criados” (Padis, 1981, p. 163), como é o
caso de Enéas Marques (Jaracatiá). O
distrito Jaracatiá possuía alguns
moradores, mas como estava vinculado ao
território de Francisco Beltrão,
possivelmente estão contabilizados neste
índice de habitantes da população de
Francisco Beltrão, visto que foi
emancipado somente em 1964. A queda da
população nos municípios de Capanema,
Pato Branco e Francisco Beltrão, entre
1960 e 1970, se deu pela emancipação de
novos municípios, que, a partir do censo de
1970 entraram nas estatísticas com
população própria, como foi o caso de
Enéas Marques.
Criação das Escolas Rurais no
município de Enéas Marques
Quando Enéas Marques foi
emancipado de Francisco Beltrão em 1964,
havia escolas funcionando no município
que iniciaram suas atividades na década de
1950. Segundo Damasceno e Beserra
(2004), somente a partir da década de 1930
e, mais sistematicamente, das décadas de
1950 e 1960, o problema da educação rural
foi encarado mais seriamente. Para as
autoras “a educação rural no Brasil torna-
se objeto do interesse do Estado justamente
num momento em que todas as atenções e
esperanças se voltam para o urbano e a
ênfase recai sobre o desenvolvimento
industrial” (Damasceno & Beserra, 2004,
p. 75).
Segundo Cattelan (2014), por volta
de 1953 havia escolas em
funcionamento nas comunidades que
atualmente pertencem a Enéas Marques,
como foi o caso da Escola de Vista Alegre,
que iniciou suas atividades em 04 de
novembro de 1953, onde atuava a
professora Plácida Adria. Segundo a
mesma autora, em 1954, a prefeitura
municipal de Francisco Beltrão criou 20
escolas e contratou os professores, sendo
que alguns deles ministraram aulas em
localidades pertencentes a Enéas Marques
após a emancipação. Pelo depoimento de
Baio (2016) podemos identificar outras
duas escolas no antigo Jaracatiá, que não
se encontrou documentos sobre sua
existência no município de Enéas Marques:
Era uma casinha muito pequena, eu
desconfio uma igreja e que depois se
transformou em escola. Foi nessa
casa que a minha irmã começou a dar
aula e depois logo em seguida eles
construíram uma escola na frente
onde hoje é a Praça Jaracatiá.
Quando a minha irmã deu aula nessa
escolinha, era de a tudo junto
numa sala só. Ensinava as quatro
classes. Depois fizeram essa
escolinha bem na frente da Igreja do
outro lado da Avenida e tinha outra
professora que eu não lembro o nome
e foi distribuída algumas turmas e
2ª, e e depois logo em seguida
foi construído o Educandário o
Colégio das Irmãs
v
(Baio, 2016).
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 30-56
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
40
Nurmberg, M. A., & Castanha, A. P. (2018). Meria educacional no município de Eas Marques-PR: décadas de (1960-
1990)
Das escolas rurais à nuclearização...
Nessa primeira escola, que fora
utilizada como igreja e escola, conforme
Baio (2016) uma das professoras era
Mafalda Wessler, e quando esta casou e
mudou-se foi substituída por outra irmã,
Iva Wessler. Essas escolas tiveram um
período curto de funcionamento, de 1954
até 1962, quando foi inaugurado o
Educandário São José. Segundo Marques
(2016):
Em 1952 começou a funcionar uma
escolinha na sede do Jaracatiá.
Construída de madeira de pinho
lascada e coberta de taboinhas, assim
como todas as casas da época. Era
uma igrejinha que passou a ser
também escola, com 2 filas de bancos
longos onde se acomodavam 4 a 5
alunos em cada. Era multisseriada, da
alfabetização ao ano. A professora
era a Sra Silvia Brusamarelo.
No depoimento de Wessling (2016)
também a referência a duas escolas:
“em frente da igreja não sei se foi a
prefeitura ou o estado que construiu uma
escola e daí a CANGO construiu outra
escola pra da Igreja, as direita, do lado
de cima da rua onde é a praça hoje”.
Segundo ele, algumas professoras dessas
escolas foram Silvia Blusamarelo, Laura
Rech e Maria Schmila.
Cattelan (2014) cita a Escola de
Vista Alegre e também uma escola do Rio
Gamela, onde tinha como professora Laura
Rech. Desse período até 1980, muitas
escolas foram criadas, mas sem nenhum
registro ou aprovação oficial. Os colonos
conversavam com as autoridades
municipais e solicitavam a criação de uma
escola, se comprometiam a ceder o espaço
e contribuir com as despesas da escola. O
município contratava uma professora,
muitas vezes indicada pelos pais,
geralmente uma pessoa da comunidade.
Estas escolas somente foram reconhecidas
oficialmente a partir de 1980. Até 1964
eram geridas pelo município de Francisco
Beltrão, depois por Enéas Marques,
contando com a contribuição dos pais com
doações de alimentos ou fazendo
promoções para arrecadar fundos para a
escola.
Cattelan (2014) apresentou um
quadro sobre as escolas construídas pela
CANGO até 1957. Dentre as escolas que
pertenciam ao território de Francisco
Beltrão, a autora cita: Escola número “13”
Divisor (Zona Jaracatiá); Escola número
“26”-Km 38; Escola mero “27”- Nova
Esperança (Lontra), escolas que até o ano
de 1992 pertenciam ao território de Enéas
Marques. A autora destaca dois padrões de
escolas construídas em 1954, A e B:
Conforme os Atos Oficiais 1, de
1954, o município edificou várias
escolas, que estabeleceram padrões
para a construção adotados desde a
instalação da prefeitura: o padrão
“A” era construído por uma sala de
aula 8x12 metros com tábuas
beneficiadas, paredes duplas pintadas
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 30-56
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
41
Nurmberg, M. A., & Castanha, A. P. (2018). Meria educacional no município de Eas Marques-PR: décadas de (1960-
1990)
Das escolas rurais à nuclearização...
a óleo e cobertas de telhas francesas
(Cattelan, 2014, p. 125).
Conforme a mesma autora, “as casas
padrão A eram construídas nos centros
residenciais nas Sedes Municipais,
encontrando-se concluídas a de Água
Branca e estando em construção as de
Marmeleiro, Concórdia e Jaracatiá”
(Cattelan, 2014, p. 125). Sobre o padrão B,
a autora destacou: “as da classe “B”
dispõem de residência para o professor, são
edificadas nos locais mais distantes, o que
facilita a manutenção do mesmo” (Cattelan,
2014, p. 125). Pelos apontamentos de
Cattelan podemos identificar uma escola
sendo construída no distrito de Jaracatiá
em 1954, provavelmente uma das
primeiras escolas construídas no município
de Enéas Marques.
Quanto ao início de funcionamento
das escolas podemos visualizar de forma
mais sintetizada no quadro abaixo.
Quadro 2: Início de funcionamento das escolas 1956-1975.
Anos
1956
1958
1959
1960
1961
1962
1964
1965
1966
1967
1968
1969
1972
1974
1975
Escolas
4
3
3
7
3
5
3
3
4
1
9
1
1
1
1
Fonte: Documentos da Secretaria de Educação. Dados organizados pelos autores.
As 49 escolas identificadas estavam
localizadas na zona rural, quase todas
construídas em madeira, parecidas com
uma casa dos colonos, contendo uma sala
de aula, varanda e, em algumas delas havia
cozinha. A área das escolas não era muito
grande, a maioria possuía entre 50 e 80m²;
poucas chegavam a 100m² ou mais. A
maioria tinha apenas uma sala e algumas
duas.
Os professores que atuavam nas
escolas eram escolhidos ou indicados pela
comunidade, pois poucos possuíam
escolaridade superior à série. Estes,
geralmente assumiam as escolas nas vilas
maiores. Os que haviam concluído o curso
primário, até a série, eram considerados
como os mais indicados para serem
professores nas escolas rurais.
Segundo Fernandes (2016), “a
pessoa que soubesse ler e escrever era
professor, sabia as quatro operações era
professor e tinha muito pouco, mas muito
mesmo e eu cheguei aqui e me empurraram
para essa função”. Também Silva (2015)
relata como iniciou suas atividades como
professora: “na época eu não tinha nem 15
anos ... As escolas eram longe, os vizinhos
decidiram criar uma escolinha na
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 30-56
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
42
Nurmberg, M. A., & Castanha, A. P. (2018). Meria educacional no município de Eas Marques-PR: décadas de (1960-
1990)
Das escolas rurais à nuclearização...
comunidade. Como eu já tinha na época a
5ª série me indicaram para ser professora”.
No município de Enéas Marques,
encontramos nos documentos da Secretaria
Municipal de Educação registro da
existência de 53 escolas. Em cada uma
delas havia um professor ou mais. No
gráfico que segue detalhamos sobre a
formação de 48 professores, pois dos
demais não encontramos registro de sua
formação. No gráfico abaixo detalhamos
sobre a formação dos professores do
município de Enéas Marques até a década
de 1980.
Gráfico 1: Formação de Professores 1980.
Fonte: Documentos da Secretaria Municipal. Dados organizados pelos autores.
Não foi possível identificar o número
exato de professores do município, mas
considerando que havia aproximadamente
50 escolas, e que a maioria delas tinha
apenas um professor, presumimos que o
total de professores era em torno de 60.
Dos 48 professores identificados nos
documentos e representados no gráfico, 2
possuíam o curso primário incompleto e 22
o curso completo, 12 possuíam o primário
e estavam cursando ou haviam cursado
Logus II, 5 estavam cursando o ginásio ou
tinham o ginásio completo mais Logus II,
1 tinha contabilidade mais Logus II e
apenas 6 tinha a formação mínima do curso
normal/magistério e, destes, apenas um
tinha o superior. Os números revelam a
precariedade da formação docente no ano
de 1980. Metade dos professores que
atuavam no município possuía formação
no mesmo nível do curso que ministravam,
sendo escolhidos para tal função porque
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 30-56
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
43
Nurmberg, M. A., & Castanha, A. P. (2018). Meria educacional no município de Eas Marques-PR: décadas de (1960-
1990)
Das escolas rurais à nuclearização...
não havia pessoas mais instruídas, ou seja,
eram os que possuíam maior grau de
escolaridade. É bom lembrar que na época
poucos professores eram concursados.
A partir das normativas da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação de e
Graus, Lei 5.692/1971, implantada
gradualmente a partir de 1972, os
professores precisaram buscar outros
cursos de formação, a saída mais fácil foi a
oferta do projeto Logus II no município,
para habilitar minimamente os professores.
O projeto Logus II era organizado por
módulos, tantos módulos para cada
disciplina. Os professores vinham para a
cidade e levavam alguns módulos para
casa para estudar. Um dia por mês havia a
aplicação das provas presencias e os
professores poderiam fazer várias delas no
mesmo dia. Assim, cada professor
estabelecia seu tempo de formação. O
Logus II foi uma espécie de formação à
distância, sem o uso da tecnologia.
Lentamente, alguns professores
começaram a se deslocarem para outras
cidades, principalmente para Palmas, para
fazer a graduação na licenciatura, curta ou
plena, em diversas áreas do conhecimento.
A partir de 1980 foi organizada no
município de Enéas Marques uma equipe
pedagógica, para acompanhar a educação,
a qual passou a incentivar os professores a
continuarem seus estudos, a cursar nível
superior, pós-graduação etc., mas até o
início da década de 1990, os professores
com curso superior ainda eram bem
poucos.
Processo de Nuclearização no Município
de Enéas Marques
O processo de nuclearização das
escolas está diretamente relacionado com o
processo de industrialização, modernização
da agricultura e êxodo rural no Brasil.
Segundo Priori et al. “A modernização
agrícola no Estado do Paraná foi
acompanhada de mudanças que
historicamente ocorrem na instalação da
base técnica ao campo, como problemas
sociais, dentre eles, o êxodo rural, a
concentração fundiária ... e o desemprego
no campo” (Priori et al. 2012, p. 115).
Sobre o processo de modernização da
agricultura, Emer afirmou:
Após a modernização da agricultura e
expulsão do campo de uma
considerável parcela da população,
muitas escolas rurais foram
desativadas em razão de critérios
administrativos, isto é, o reduzido
número de crianças em idade escolar
não “justificava” a existência da
escola. Em diversos municípios a
escola rural foi substituída por
transporte e constituída uma
modalidade de escola denominada
nuclearizada, isto é, uma escola
centralizada, ampliada e com
professores habilitados, para onde
converge o transporte de alunos
residentes nas linhas e travessões
(Emer, 1991, p. 309).
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 30-56
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
44
Nurmberg, M. A., & Castanha, A. P. (2018). Meria educacional no município de Eas Marques-PR: décadas de (1960-
1990)
Das escolas rurais à nuclearização...
A década de 1990 foi marcada por
algumas mudanças a vel educacional: a
principal delas que afetou duramente a
educação rural foi o processo de
municipalização do ensino. No Estado do
Paraná, a responsabilidade pelas escolas
até a série foi repassada para os
municípios, o Estado ficou com a
responsabilidade com a segunda fase do
ensino fundamental de a série. A
segunda mudança foi o início do processo
de nuclearização das escolas rurais, várias
escolas fechadas e os alunos transferidos
para escolas cleos ou para escolas
urbanas. As escolas rurais eram de
responsabilidade dos municípios, mas, o
processo de municipalização das escolas
urbanas acabou estimulando e acelerando a
nuclearização das escolas rurais.
A nuclearização ocorreu de forma
gradativa, pois foi necessário conscientizar
os professores e os pais sobre o
fechamento das escolas, o que despertou
resistência por parte dos pais, quanto a
fechar as escolas e ter que enviar seus
filhos para a cidade, ou outra comunidade
mais distante precisando percorrer vários
quilômetros de ônibus até chegar às
escolas. Para concretizar a política de
nuclearização, foi necessário investir em
transporte escolar e adequar às escolas que
receberiam estes alunos. Buscou-se
conscientizar os pais sobre a nova
organização do ensino que seria por séries
e um professor para cada turma.
No decorrer da pesquisa foram
encontrados diversos documentos nos
arquivos municipais, dentre eles atas de
reunião com professores e atas de reuniões
com pais de alunos. A partir de algumas
atas encontradas nos arquivos da Prefeitura
Municipal, podemos compreender como
ocorreu o processo de nuclearização das
escolas. Inicialmente foram
conscientizados os professores sobre as
mudanças, depois os pais, o que nem
sempre foi tão simples, pois seus filhos
eram os mais afetados pelas mudanças que
a nuclearização demandava. No ano de
1990 estavam sendo realizadas reuniões
com os pais para falar sobre a
nuclearização das escolas, como podemos
atestar pela ata da escola XV de
Novembro, da comunidade de Bela União:
“aos quinze dias (15) do mês de agosto de
um mil novecentos e noventa foi realizada
na Escola XV de Novembro a reunião com
todas as mães da comunidade, a fim dos
seguintes assuntos: conversar com as
mães sobre a nuclearização das escolas no
nosso município”.
Nas reuniões com os pais, nem
sempre, o anúncio sobre a nuclearização ou
fechamento das escolas era acolhido de
forma tranquila, mas permeado de
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 30-56
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
45
Nurmberg, M. A., & Castanha, A. P. (2018). Meria educacional no município de Eas Marques-PR: décadas de (1960-
1990)
Das escolas rurais à nuclearização...
insegurança, resistência, exigência de
melhores esclarecimentos, bem como
insistência para que a escola permanecesse
em funcionamento. A ata que segue reflete
um pouco essa realidade.
No dia doze de dezembro de um mil
novecentos e noventa e dois as nove
horas da manhã reuniram-se os pais
dos alunos matriculados.... Nesta
reunião os pais presentes falaram a
respeito da nuclearização dos alunos
onde os pais presentes discordaram
com a opinião, os pais presentes
querem uma reunião com a presença
dos prefeitos dos 2 municípios para
entrarem num acordo. A pretensão
dos pais presentes é que a escola
permaneça aqui, construindo o prédio
que está em situação precária (E. M,
Ata, 1992).
Na Escola São Pedro encontramos os
pais protestando contra o fechamento da
escola.
Aos 3 dias do mês de fevereiro de
1994 reuniu-se os pais dos alunos da
escola São Pedro, da Linha Felipe,
protestando contra o fechamento da
mesma no dia 02 de fevereiro. Nem
todos os pais participaram porque
estavam trabalhando, participando
quase as mães pegando-nos de
surpresa para assinar um documento
que nós não sabemos se foi
endereçado pela vossa pessoa. Se for
ordem do município, nós queremos
veículo disponível para a locomoção
das mesmas porque tem crianças
pequenas que tem dificuldade em
enfrentar escola distante ... Deixando
os pais preocupados com a distância
em as crianças participar em outra
escola, que de 3 a 5 km a mais
próxima, “nós pais pretendia que a
escola ficasse funcionando no mesmo
local. Se assim não for nós estamos
dispostos a deixar as crianças sem
aula” (E. M, Ata, 1994).
Para os pais as mudanças propostas
pela nuclearização geravam insegurança,
pois, os filhos frequentavam a escola perto
de casa e o professor era uma pessoa
conhecida e de confiança. A partir do
fechamento da escola na comunidade, os
filhos teriam que frequentar outra escola,
professores novos e teriam que se deslocar
vários quilômetros, precisaria de transporte
para levar os alunos.
A Senhora Madalena Nurmberg
residente na comunidade de Rio Vitória,
tinha uma das filhas estudando numa
escola na comunidade e participou das
reuniões e conscientização dos pais sobre o
fechamento das escolas. Em depoimento
oral ela relatou como vivenciaram este
momento.
Foi bem difícil porque ali era
pertinho para elas ir, o povo dos
lugares era tudo conhecido e eles
vieram com essa ideia de levar o
povo todo para cidade, tinha que ir
mais cedo, longe, ir de carro e com as
crianças de tudo tipo, de tantos
lugares que não era conhecido
também. A gente achava quase
impossível mais se a ordem era essa,
no fim tivemos que concordar e
mandar (Nurmberg, M, 2016).
Seu esposo, quando da realização de
uma entrevista gravada em 2016,
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 30-56
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
46
Nurmberg, M. A., & Castanha, A. P. (2018). Meria educacional no município de Eas Marques-PR: décadas de (1960-
1990)
Das escolas rurais à nuclearização...
descreveu sobre como foi esse período de
conscientização dos pais. “Nós num
primeiro momento não estávamos de
acordo. Disseram que tinha que fazer, pois
aqui tinha as salas tudo junto os 4 anos
letivos e cada aluno teria um professor
separado por série”. E ainda “devido a
distância e locomoção para levar a piazada
a gente não estava muito de acordo para
mandar os filhos muito longe. Teve um
pequeno atrito, mas por fim eles fecharam
tudo e nos obrigamos a mandar”
(Nurmberg, I, 2016).
No momento de conversa com os
pais eram apresentadas algumas
justificativas sobre o porquê a
nuclearização era importante, para assim
ter maior aprovação dos mesmos. Na ata
da Escola São Pedro foram apresentadas
algumas prerrogativas sobre o porquê a
escola seria fechada e os alunos
transferidos para outra escola.
Aos dias 02 do mês de fevereiro
reuniu-se os pais e professor da
Escola Rural São Pedro para tratar
dos seguintes assuntos:
Nuclearização, com a transferência
dos alunos para a Escola da
comunidade do Alto Pinhal. A
professora explicou da importância
da nuclearização com o novo
processo ou método Ciclo Básico que
é praticamente impossível adotar o
método em uma escola
multisseriadas. A professora explicou
que também é impossível cumprir o
calendário escolar, devido ao trajeto
que a professora tem a percorrer até
chegar a escola todos os dias, e com
as faltas quem iria acabar sendo
prejudicada seria as crianças. E
explicou as vantagens de frequentar
uma escola seriada, com o contra-
turno para as crianças que não
conseguem acompanhar os outros e
que a atual escola São Pedro não
pode acompanhar o método exigido,
daí a necessidade de nuclearizar
(E.M, Ata de Reunião, s/ano).
No decorrer da conscientização dos
pais sobre as mudanças que viriam,
realizavam-se reuniões com os pais,
contando com a participação dos
professores, Secretária de Educação,
vereadores e Prefeito. Em algumas
comunidades, além da reunião, eram
realizadas visitas às famílias, para
conversar e expor mais detalhadamente
que mudanças ocorreriam.
Segundo Farias (2013, p. 50), “a
Prefeitura define, o cleo Regional de
Educação encaminha sem questionar, e a
Secretaria Estadual de Educação se baseia
nos documentos e acaba por sentenciar a
cessação da escola”. Ou ainda “não havia
questionamento sobre o pedido, a não ser
onde raras vezes, a comunidade se
articulava com forças políticas da região
para tentar impedir que a escola tivesse um
fim” (Farias, 2013, p. 50). Conforme a
mesma autora,
Quando a proposição de
fechamento de uma escola seja por
parte do poder público municipal ou
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 30-56
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
47
Nurmberg, M. A., & Castanha, A. P. (2018). Meria educacional no município de Eas Marques-PR: décadas de (1960-
1990)
Das escolas rurais à nuclearização...
estadual, segue o protocolo de uma
reunião com a comunidade, para
explicar os motivos do fechamento
da escola. Nos casos em que a
comunidade não contesta, em seguida
é encaminhado o pedido de cessação
para a SEED. Mas, quando
resistência quanto ao fechamento,
quando o convencimento não cumpre
seu papel, trava-se um jogo de forças,
por um lado o poder público
querendo cessar, por vários motivos,
entre eles justifica o alto custo para a
prefeitura manter a escola no campo
sendo este superior ao de colocar um
ônibus para transportar os estudantes
para uma escola, na área urbana. E,
do outro lado, a comunidade se
organizando para manter a escola no
campo, a partir do enfrentamento e
resistência. Somente nos casos em
que a comunidade se organize e
resiste quanto ao fechamento, é que
discussão sobre as
particularidades apresentadas pelas
famílias que precisam que a escola
esteja na comunidade. Isso não
acontece, sem embates, disputas e
relações de poder (Farias, 2013, p.
50- 51).
A partir de Farias (2013)
identificamos duas realidades relacionadas
ao processo de fechamento das escolas: o
primeiro foi/é o aviso de fechamento de
uma escola que foi/é aceito pelos pais. O
segundo foi/é o aviso de fechamento e a
comunidade resistiu/resiste,
discordou/discorda dessa medida e
buscou/busca de rias formas para que a
escola permanecesse/permaneça na
comunidade. No segundo caso,
obrigou/obriga o poder público apresentar
os motivos para fechar, procurando
convencer a comunidade. Essa situação
exigiu/exige maior discussão, reuniões
para que o convencimento fosse/seja a
última palavra.
Bonetti, ex-prefeito do município
entre 1982-1988 e 1993-1996, entrevistado
em 2016, detalhou como ele viu o processo
de nuclearização:
Foi uma normativa, foi uma política
nova ... A questão de otimizar
recurso público foi também um
argumento. Eu lembro que era uma
política onde se pretendia dar ao
aluno, professores e servidores uma
melhor estrutura na escola. Uma
escolinha pequena seria difícil fazer
aquilo que foi possível fazer num
núcleo. É claro que o deslocamento
do aluno era uma preocupação, a
questão de sair de casa mais cedo, a
questão de segurança, as condições
das estradas, a própria condução dos
ônibus na época, mas se fazia com
muita dedicação, se fazia com muita
cautela, muito respeito, havia muito
diálogo e o resultado na minha
opinião foi positivo, mas eu diria que
o principal fator, na época, não foi
esta questão de otimizar recurso
público, foi também, mas o principal
foi dar uma melhor condição aos
alunos, numa escola mais bem
estruturada (Bonetti, 2016).
Bonetti foi prefeito no município de
Enéas Marques por duas gestões, na
primeira participou do processo de reforma
das escolas e ampliação do espaço escolar.
Na segunda, participou do movimento de
reorganização das escolas que se tornaram
escolas núcleos e, segundo ele
acompanhou diretamente, somente o
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 30-56
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
48
Nurmberg, M. A., & Castanha, A. P. (2018). Meria educacional no município de Eas Marques-PR: décadas de (1960-
1990)
Das escolas rurais à nuclearização...
fechamento da Escola de Bela União.
Bonetti (2016) expressou como foi esse
processo: “eu lembro que foi necessário
muitos dias de conversa, diálogo com os
pais”. Detalhou também como foi a
organização do transporte escolar para que
os alunos pudessem frequentar outras
escolas.
Eu participei pessoalmente do
processo de elaboração de editais e
coordenar esse processo de licitação
para escolher os transportadores
através do que a lei determinava na
época que era através da
concorrência pública, a definição de
linhas e inclusive do convencimento
dos pais que alguns tinham
resistência que o filho tinha que
andar 500 metros. Algum sacrifício
teria que ser feito, sair de casa um
pouco mais cedo, o ônibus não pode
entrar em todas as propriedades, vai
ter uma linha principal e cabe aos
pais então conduzir o seu filho na
melhor segurança possível até o
ponto de parada dos ônibus. Tudo era
estudado para diminuir riscos e levar
os alunos mais próximo da
residência, desde que isso não
implicasse no trajeto em relação ao
horário de chegada da escola
(Bonetti, 2016).
Nas escolas rurais, o professor
realizava todas as atividades sozinho. Com
a nuclearização e a concentração dos
alunos nas escolas que foram escolhidas
para serem núcleos, houve necessidade de
nova organização, mais pessoas
envolvidas, diversos professores,
merendeira, zeladora, diretora, secretária,
pedagoga etc. Os professores que atuavam
nas escolas onde as atividades cessaram
foram remanejados para as outras escolas
juntamente com os alunos e puderam
continuar seu trabalho.
Hoffelder (2016) foi diretora na
Escola Municipal Criança Feliz, localizada
na zona urbana, a qual recebeu um número
expressivo de alunos das escolas fechadas,
justamente nesse período de transição que
foi a nuclearização das escolas. Em
depoimento oral gravado em 2016, ela
afirmou: “Foi um momento muito difícil,
complicado porque como a gente tem o
filho da gente, no interior eles são
acostumados com a família naquele
ambiente e tirar eles foi a mesma coisa que
tirar o filho do seio materno”. Segundo ela,
Eles vieram para um lugar que era
totalmente diferente, depois eles
foram gratificados porque aqui eles
tiveram turmas por série não mais
escolas multisseriada. Quando a
gente começou o trabalho era
multisseriado tinha de 1ª a 4ª série
junto, então trabalhava com uma
série, deixava essa trabalhava com a
outra, as 4 séries junto e foi pensando
nisso que houve a nuclearização para
facilitar mais o trabalho e fazer com
que os alunos também conseguissem
um aprendizado melhor (Hoffelder,
2016).
Hoffelder (2016) destacou como os
pais acataram a mudança de escola pelos
filhos: “teve muita reserva dos pais, não
queriam que fechasse as escolinhas do
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 30-56
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
49
Nurmberg, M. A., & Castanha, A. P. (2018). Meria educacional no município de Eas Marques-PR: décadas de (1960-
1990)
Das escolas rurais à nuclearização...
interior, mas hoje eu acho que eles
acabaram aceitando com o tempo e viram
que você estava ali para ajudar, para
contribuir com eles”. Marques (2016) foi
professora nas escolas multisseriadas e
atuou também nos diversos níveis de
ensino. Também trabalhou como diretora
de escolas e na Inspetoria de Ensino.
Segundo ela, a nuclearização favoreceu aos
professores na busca por maior formação.
“Eles tiveram uma chance de ter uma
formação melhor e vieram todos aqui para
cidade, trouxeram as escolas com
professores e passou a ser seriadas”.
Abreu (2016) foi professor no
município de Enéas Marques e atualmente
(2017) trabalha como Secretário de
Educação no município de Nova Esperança
do Sudoeste. Ele delineou o que
provavelmente motivou a nuclearização
das escolas: “acredito que a intenção era
fechar as escolas, reunir as escolas porque
elas estavam ficando com poucos alunos
exatamente para ser melhor administradas
e geradas menos despesas”. Na sua
compreensão, “a necessidade de
nuclearizar não foi tanto por modernismo
nem por ter uma melhor educação, um
melhor trabalho, mas por exigência de
controlar os gastos públicos”.
Campos (2015), professora da rede
municipal, também atuou na Secretaria de
Educação por mais de 20 anos,
coordenando a organização das escolas e
sendo responsável pelo acompanhamento
dos professores e alunos. Ela relatou como
foi vivenciada a nuclearização das escolas.
Foi um processo bem complicado.
Começou a nuclearização das escolas
quando houve a municipalização do
ensino, o estado repassou as escolas
estaduais para o município que
ficaria responsável pelas escolas de
Pré, de educação infantil e o ensino
fundamental de primeiros anos; o
estado ficaria com a segunda fase do
ensino fundamental que antes era de
serie até serie e segundo grau e
a União ficaria com o terceiro grau.
Então houve uma sobrecarga para os
municípios quando houve a
municipalização da educação. Aqui
nos tínhamos escolas que funcionava
no mesmo prédio que depois foi
separado, a Escola Arnaldo Busato
atendia, de Pré até o segundo grau e
foi separado (Campos, 2015).
Pelo depoimento de Campos
percebemos que o município não estava
preparado para esta mudança, mas a
situação exigia nova organização e os
encaminhamentos foram sendo realizados.
A Escola Arnaldo Busato funcionava no
mesmo prédio da Escola Municipal
Criança Feliz e precisou ser separada, pois,
a escola receberia uma demanda grande de
alunos de 1ª a 4ª série.
Todos os municípios do Paraná
começaram a nuclearização das
escolas. Foi bem traumático no
começo. Os pais eram muito
resistentes de tirar a escola porque
era um ambiente cultural deles.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 30-56
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
50
Nurmberg, M. A., & Castanha, A. P. (2018). Meria educacional no município de Eas Marques-PR: décadas de (1960-
1990)
Das escolas rurais à nuclearização...
Nessa época houve mais transporte
escolar. As mães tinham muito medo
que os alunos iam se perder e mesmo
que a cidade era pequena, que eles
estavam correndo riscos maior vindo
para a cidade. A gente sempre tentou
explicar para eles a diferença de uma
escola aonde cada professor ia
atender a uma série separada de que
um professor com todas as series ...
De uns tempos pra a população
reduziu no município, por exemplo
tem comunidades que a escola fechou
com 8 alunos, outras com 10 com 4
série, enquanto outras escolas com 40
alunos e a escola também foi
nuclearizada. Foi bem difícil para
administração porque de repente tu se
viu com uma proposta dessas e teve
que organizar o seu sistema
totalmente diferente. Na parte
documental teve a cessação de
funcionamento das escolas que é uma
burocracia. A nuclearização foi
gradativa (Campos, 2015).
Pelo depoimento de Campos (2015)
identificamos alguns desafios que foram
citados anteriormente, como a resistência
dos pais ao fechamento das escolas,
insegurança pelos filhos frequentarem as
escolas na cidade, realidade nova,
professores novos e desconhecidos.
Percebemos a mudança do ensino
multisseriado para seriado, a
disponibilização de transporte escolar para
levar os alunos à nova escola e como o
processo de nuclearização gerou uma
grande papelada a ser preenchida pelos
responsáveis pela educação.
Hoje me pergunto até que ponto isso
é certo, é correto? Na parte funcional,
administrativa e econômica teve
ganhos, mas culturalmente eu me
pergunto hoje se isso contribuiu ou
não? Tem vários pensadores que
dizem que não se deve fazer a
nuclearização, mas como manter
essas escolas com 10 ou 30 alunos?
Tu imagina turmas de 10 ou menos
onde hoje o recurso para a educação
é tudo voltado para o número de
alunos e número de professores. Para
ter qualidade você tem que se sujeitar
aos entraves de mandar o teu filho
pequeninho de 6 anos fazer 20 km
dentro de um ônibus enquanto ele
podia com 10 minutos de caminhada
chegar a escola. Mas eu como
professora ainda acredito que foi
melhor, do que você ficar batendo em
cima de uma coisa que não tem
concerto. As escolas muito pertinho
uma tirava aluno da outra e para o
município fazer vários núcleos num
município pequeno como é o nosso
não era viável (Campos, 2015).
Na citação anterior observamos dois
lados da nuclearização: o das mudanças
ocorridas na parte funcional, administrativa
e econômica; e o da retirada da escola da
comunidade, que era considerada um
espaço de construção de conhecimento e
cultura. Ambiguidades que permanecem na
história e que apresenta defensores para
ambos os aspectos.
Segundo Bonetti (2016) “a
diminuição de alunos por escola era uma
realidade, havia na época uma saída um
tanto expressiva de agricultores que
estavam indo para centros urbanos para
buscar renda como Joinville e outras
cidades do Brasil”.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 30-56
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
51
Nurmberg, M. A., & Castanha, A. P. (2018). Meria educacional no município de Eas Marques-PR: décadas de (1960-
1990)
Das escolas rurais à nuclearização...
No ano de 1992 ocorreu a separação
dos territórios de Enéas Marques e Nova
Esperança do Sudoeste. As escolas que
pertenciam ao território de Enéas Marques,
mas que ficavam na região onde se
estabeleceu o novo município, passaram a
ser de responsabilidade de Nova
Esperança, restando no território de Enéas
Marques em torno de 30 escolas. A partir
de 1991 as escolas rurais foram sendo
fechadas e os alunos encaminhados para
outras escolas, ou escolas-núcleo. Os
alunos, inicialmente, foram transferidos
para as escolas municipais de: Vista
Alegre, Criança Feliz (urbana), Cristo Rei,
Rio Bocó, Pinhalzinho, e Alto Pinhal, e
posteriormente restaram duas escolas:
Pinhalzinho e a urbana. Segundo Farias
(2013, p. 56), nas décadas de 1980, 1990 e
2000 foram cessadas 31 escolas no
município de Enéas Marques e 18 em
Nova Esperança. Nossa pesquisa revelou
que foram 36 as escolas fechadas entre
1987 e 2001. Em 1987 uma escola fechada,
de 1991 a 1994 foram cessadas 19 escolas,
de 1996 a 2001 mais 16 escolas,
totalizando 36 cessações.
No município de Enéas Marques
foram encontrados registros de 53 escolas
que a partir da década de 1990 começaram
a ser cessadas. Hoje, em funcionamento
na rede municipal de Ensino, situadas na
Zona urbana: Centro Municipal de
Educação Infantil Anjo da Guarda e Escola
Municipal Criança Feliz Educação
Infantil e Ensino Fundamental e uma na
Zona Rural na comunidade de Pinhalzinho:
Escola Municipal do Campo Treze de
Maio - Educação Infantil e Ensino
Fundamental. Na rede estadual
permanecem duas situadas na zona rural:
Escola Estadual do Campo Pinhalzinho
Ensino Fundamental e Escola Estadual do
Campo Vista Alegre Ensino
Fundamental e uma na zona urbana:
Colégio Estadual Castro Alves Ensino
Fundamental e Médio.
No município de Nova Esperança do
Sudoeste estão em funcionamento na zona
urbana uma Escola Municipal Visconde de
Mauá Educação Infantil e Ensino
Fundamental e o Colégio Estadual Nova
Esperança e na zona rural Escola Rural
Municipal Angastão Cruz Ensino
Fundamental na comunidade do Rio
Gavião e a Escola Rural Municipal Santo
Antonio Ensino Fundamental, localizada
em Barra Bonita.
Aproximadamente 50 escolas foram
fechadas entre a década de 1980, 1990,
2000 e 2010 do município de Enéas
Marques e Nova Esperança do Sudoeste.
Os alunos foram remanejados para as
escolas que estão em funcionamento, mas,
a maioria passou a frequentar as escolas
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 30-56
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
52
Nurmberg, M. A., & Castanha, A. P. (2018). Meria educacional no município de Eas Marques-PR: décadas de (1960-
1990)
Das escolas rurais à nuclearização...
localizadas na zona urbana, necessitando
do uso de transporte escolar.
Considerações Finais
A partir das leituras sobre o processo
de nuclearização e contato com a realidade
de Enéas Marques foi possível perceber
que essa mudança foi consequência de um
período histórico, político e econômico,
mas, principalmente de uma política
governamental, visando reduzir os gastos
com a educação. Uma medida imposta de
cima para baixo. Os envolvidos nesse
processo, os professores e alunos não
foram consultados sobre isso, apenas
sofreram as consequências dessa
prerrogativa.
No município de Enéas Marque e
Nova Esperança do Sudoeste (que até 1992
faziam parte do mesmo território), foram
cessadas aproximadamente 50 escolas, e os
alunos remanejados para outras escolas.
Embora o discurso utilizado no
período de fechamento das escolas rurais
foi a nuclearização, como garantia da
melhoria da qualidade da educação e
economia de gastos, o que ocorreu de fato
foi a urbanização das escolas, mediante a
oferta de transporte escolar. No município
de Enéas Marques, atualmente existe
apenas uma escola na zona rural, que
atende as crianças até o 5º ano. Esse fato é
lamentável, pois, a população rural do
município ainda é superior a 60%.
O município de Enéas Marques é
essencialmente agrícola, a população
permanece em sua maioria no campo e o
fechamento de tantas escolas não pode
passar despercebido, mas deve levar a
reflexão e análise dos fatores e
justificativas apresentadas para motivar tal
procedimento. Por ser uma região,
essencialmente agrícola, tal característica
precisa ser valorizada. A política mais
correta seria manter as escolas na zona
rural, valorizando e incentivando os alunos
a permanecerem no campo, com
possibilidades de estudar, sem
necessitarem se deslocar para a zona
urbana.
O fechamento das escolas rurais/do
campo via o processo de nuclearização ou
urbanização foi justificado pela diminuição
das pessoas no campo, isso é fato. Todavia,
a política de nuclearização acabou
estimulando as famílias a abandonarem o
campo, pois, muitos pais não aguentaram
ver seus filhos submetidos, diariamente, às
condições degradantes do transporte
escolar. A nuclearização foi um modismo
que acabou convencendo vários prefeitos a
fechar escolas, mesmo em município que
tinham dois terços da população na zona
rural. A nuclearização produziu impactos
diretamente na vida dos agricultores, que,
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 30-56
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
53
Nurmberg, M. A., & Castanha, A. P. (2018). Meria educacional no município de Eas Marques-PR: décadas de (1960-
1990)
Das escolas rurais à nuclearização...
rapidamente perderam a identidade de
comunidade, acarretando no abandono
acelerado da vida no campo.
Referências
Brasil. Lei nº 5.692 de 11 de agosto de
1971. Fixa as Diretrizes e Bases para o
Ensino de e graus, e outras
providências. Recuperado de:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L
5692.htm.
Cattelan, C. (2014). Educação Rural no
município de Francisco Beltrão entre 1948
a 1981: A Escola Multisseriada. Francisco
Beltrão. (Dissertação de Mestrado)
Universidade Estadual do Oeste do Paraná,
Paraná.
Damasceno, M. N, & Beserra B. (2004).
Estudos sobre educação rural no Brasil:
estado da arte e perspectivas. Educação e
Pesquisa, 30(1), 73-89. DOI:
http://dx.doi.org/10.1590/S1517-
97022004000100005
Emer, I. O. (1991). Desenvolvimento
Histórico do Oeste do Paraná e a
Construção da Escola. (Dissertação de
Mestrado) Fundação Getúlio Vargas, Rio
de Janeiro.
Farias, M. I. (2013). Os processos de
Territorialização e Desterritorialização da
Educação do campo no Sudoeste do
Paraná. (Dissertação de Mestrado)
Universidade Estadual Paulista, Presidente
Prudente.
Laste, D. D. (2000). Histórico da
Emancipação Política de Enéas Marques
PR. (Trabalho de Conclusão de Curso).
Faculdades de Palmas, Palmas.
Lazier, H. (1997). Análise Histórica da
Posse de Terra no Sudoeste Paranaense.
Francisco Beltrão, PR: Grafit.
Le Goff, J. (1994). História e Memória.
Campinas, SP: Editora da UNICAMP.
Martins, R. S. (1986). Entre Jagunços e
Posseiros. Curitiba, PR: S/I
Netto, J. P. (2011). Introdução ao Estudo
do Método de Marx. São Paulo, SP:
Expressão Popular.
Niederheitmann, L. C. (1986). Das matas
primitivas a Polo de uma Região-
Abordagem Histórica de Francisco
Beltrão. (Trabalho de Curso de
Especialização). Faculdade Estadual de
Filosofia, Ciências e Letras de
Guarapuava, Guarapuava.
Nosella, P., & Buffa, E. (2006). As
pesquisas sobre instituições escolares:
balanço crítico. In Anais Colóquio sobre
Pesquisa de Instituições Escolares.
Campinas, SP: UNICAMP/São Paulo, SP:
UNINOVE.
Padis, P. C. (1981). A Região Sudoeste: o
que é e como foi ocupada. In .
Formação de uma economia Periférica: o
caso do Paraná. São Paulo, SP:
HUCITEC/Curitiba, PR: Secretaria da
Cultura e do Esporte do Governo do
Estado do Paraná.
Priori A. Possamai. L. R. ... et al... (2012).
A modernização do campo e o êxodo rural.
In Priori A., Possamai. L. R. ... et.al...
História do Paraná: séculos XIX e XX (pp.
115-127). Maringá, PR: Eduem. DOI:
http://dx.doi.org/10.7476/9788576285878
Revistas ou Documentos
Enéas Marques. (1988). Enéas Marques em
Revista. Enéas Marques: nossa História,
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 30-56
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
54
Nurmberg, M. A., & Castanha, A. P. (2018). Meria educacional no município de Eas Marques-PR: décadas de (1960-
1990)
Das escolas rurais à nuclearização...
nossa Gente. Departamento de Educação e
Cultural de Enéas Marques. Pato Branco-
PR: Gráfica KAMARO.
Enéas Marques. Ata de 15 de agosto de
1990. Escola XV de Novembro. Arquivo
da Secretaria Municipal de Educação.
Enéas Marques. Ata de 12 de novembro de
1992. Ata de reunião com pais. Arquivo da
Secretaria Municipal de Educação.
Enéas Marques. Ata de 3 de fevereiro de
1994. Escola São Pedro. Arquivo da
Secretaria Municipal de Educação.
Enéas Marques. Ata de 2 de fevereiro
s/ano. Escola São Pedro. Arquivo da
Secretaria Municipal de Educação, s/ano.
Paraná. Lei nº 92 de 25 de agosto de 1961:
A Vila Jaracatiá foi elevada à categoria de
Distrito administrativo. Recuperado de:
http://www.legislacao.pr.gov.br.
Paraná. Lei 4.823 de 18 de fevereiro de
1964: criado o município de Enéas
Marques, Pinhão e Salto do Lontra.
Recuperado de:
http://www.legislacao.pr.gov.br.
Relatos Orais
Abreu, A. I. N. (2016). Depoimento oral
em 06 de junho de 2016. Informações
complementares: casado, instrução: ensino
superior: Gestão de Empresa e Gestão
Pública Profissão: Servidor Público,
professor, Secretário de Educação no
município de Nova Esperança do Sudoeste.
Baio, B. W. (2016). Depoimento oral em
26 de novembro de 2016. Informações
complementares: viúva, instrução: de a
4ª série. Profissão: costureira.
Bonetti, A. C. (2016) Depoimento oral em
26 de novembro de 2015. Informações
complementares: casado, Instrução:
Profissão: técnico em Agropecuária,
prefeito no município de Enéas Marques
1983-1988 e 1993-1996.
Campos, C. M. D. (2015). Depoimento
oral em 07 de julho de 2015. Informações
complementares: casada, instrução: nível
superior, profissão: professora, católica.
Fernandes, J. A. (2016). Depoimento oral
em 02 de fevereiro de 2016. Informações
Complementares: viúva, instrução: 2º grau,
profissão: professora, católica.
Hoffelder, M. do C. V. (2016).
Depoimento oral em 21 de janeiro de 2016.
Informações complementares: casada,
Instrução: nível superior. Profissão:
professora e diretora. Atualmente está
aposentada.
Marques, R. P. (2016). Depoimento oral
em 21 de janeiro de 2016. Informações
complementares: viúva, Instrução:
Pedagogia e Especialização em
Administração Escolar. Profissão:
professora: 32 anos, diretora 9 anos e 3
anos como Inspetora Escolar. Aposentada
a 20 anos.
Mendes, J. D. (2016). Depoimento oral em
12 de fevereiro de 2016. Informações
complementares: Casado. Instrução:
grau. Profissão: agricultor, pedreiro,
gerente de produção.
Nurmberg, I. (2016). Depoimento oral em
2 de fevereiro de 2016. Informações
complementares: casado, instrução: 1ª série
do 2º grau. Profissão: agricultor.
Nurmberg, M. (2016). Depoimento oral em
2 de fevereiro de 2016. Informações
complementares: casada, instrução:
primário. Profissão: agricultora.
Silva, A. M. B. (2015). Depoimento oral
em 27 de junho de 2015. Informações
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 30-56
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
55
Nurmberg, M. A., & Castanha, A. P. (2018). Meria educacional no município de Eas Marques-PR: décadas de (1960-
1990)
Das escolas rurais à nuclearização...
complementares: casada, instrução:
magistério, profissão: professora, católica.
Casada com o cartorário João Ramilio da
Silva.
Wessling, J. (2016). Depoimento oral em
26 de novembro de 2016. Informações
complementares: solteiro, instrução: ano
primário. Profissão: agricultor.
i
A pesquisa intitulou-se: História da Educação do
Município de Enéas Marques 1960 a 1992 e foi
desenvolvida junto ao Programa de Pós-Graduação
em Educação, nível de mestrado, da Universidade
Estadual do Oeste do Paraná UNIOESTE
campus de Francisco Beltrão, entre 2015 e 2017,
sob a orientação do professor André Paulo
Castanha.
ii
Jaracatiá: nome dado ao distrito devido a grande
quantidade desta árvore nativa da região. O
Jaracatiazeiro produz uma fruta semelhante ao
mamão, é uma espécie de mamoeiro do mato,
embora menor. Era muito utilizado na fabricação de
doces caseiros.
iii
O nome foi sugerido pelo Deputado Arnaldo
Busato, em homenagem a Enéas Marques dos
Santos, cidadão curitibano, professor na
Universidade do Paraná, Escritor, Promotor Público
e um dos fundadores da Academia Paranaense de
Letras.
iv
O depoimento de Wessling foi mantido a grafia
utilizada por Laste (2000, p. 102-103).
v
Educandário São José foi um colégio coordenado
pelas Irmãs Escolares de Nossa Senhora e atendia a
alunos de 1ª a 4ª série. Iniciou suas atividades em
1962 e permaneceu até 1968/1969.
Recebido em: 23/08/2017
Aprovado em: 12/09/2017
Publicado em: 15/12/2017
ORCID
Maricélia Aparecida Nurmberg
http://orcid.org/0000-0003-2549-6869
André Paulo Castanha
http://orcid.org/0000-0003-0571-0960
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 30-56
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
56
Como citar este artigo
/
How to cite this article
/
Como citar este artículo:
APA:
Nurmberg, M. A., & Castanha, A. P. (2018). Memória
educacional no município de Enéas Marques-PR:
décadas de (1960-1990) Das escolas rurais à
nuclearização. Rev. Bras. Educ. Camp., 3(1), 30-56.
ABNT:
NURMBERG, M. A.; CASTANHA, A. P. Memória
educacional no município de Enéas Marques-PR:
décadas de (1960-1990) Das escolas rurais à
nuclearização. Rev. Bras. Educ. Camp.,
Tocantinópolis, v. 3, n. 1, p. 30-56, 2018.
Revista Brasileira de Educação do Campo
The Brazilian Scientific Journal of Rural Education
A
RTIG
O
/
A
RTICLE
/
A
R
C
ULO
DO
I:
h
tt
p
:/
/
d
x.d
o
i.
o
r
g/
10.20
873/
u
ft.2525
-4863.2018v3
n
1p
57
O tempo aldeia: construindo uma nova prática pedagógica
Ribamar Ribeiro Júnior
1
, Laécio Rocha de Sena
2
, William Bruno Silva Araújo
3
1
Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG. Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas. Avenida Antônio
Carlos, 6627. Belo Horizonte - MG. Brasil. ribaamr.sociologo@gmail.com.
2
Universidade Federal do Sul e
Sudeste do Pará - UNIFESSPA.
3
Instituto Federal do Pará - IFPA.
RESUMO: Este trabalho busca dialogar com o pensamento
descolonial na educação a partir da experiência do Curso
Técnico em Agroecologia do Campus Rural de Marabá, do
Instituto Federal do Pará. Neste curso o itinerário formativo é
constituído por dois tempos de estudo: o Tempo Escola e o
Tempo Aldeia, caracterizado como “alternância pedagógica”.
Tal lógica parte do estudo da realidade “concreta”,
possibilitando aos educandos articulação dos conhecimentos
tradicionais e os técnico-científicos relacionados às dimensões
políticas, históricas, naturais. Nossa estratégia pedagógica
adotada no CTAI se aproxima em parte da proposta de educação
descolonial e o tempo aldeia se mostrou central na estratégia de
se pensar e repensar formas de educação “outras” aquelas da
modernidade.
Palavras-chave: Agroecologia, Alternância, Interculturalidade,
Currículo.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 57-75
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
57
Ribeiro Júnior, R., Sena, L. R., & Araújo, W. B. S. (2018). O tempo aldeia: construindo uma nova prática pedagógica...
The time village: building a new pedagogical practice
ABSTRACT: This work seeks to dialogue with the decolonial
thinking in education from the experience of the Technical
Course in Agroecology of the Rural Campus of Marabá, Federal
Institute of Pará. In this course the formative itinerary is
constituted by two study times: Time School and Time Village,
characterized as "pedagogic alternation". This logic is part of the
study of "concrete" reality, enabling students to articulate
traditional and technical-scientific knowledge related to
political, historical, and natural dimensions. Our pedagogical
strategy adopted in the CTAI approximates in part the proposal
of decolonial education and the village time was central in the
strategy of thinking and rethinking forms of education "other"
those of modernity.
Keywords: Agroecology, Alternation, Interculturality,
Curriculum.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 57-75
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
58
Ribeiro Júnior, R., Sena, L. R., & Araújo, W. B. S. (2018). O tempo aldeia: construindo uma nova prática pedagógica...
El tiempo aldea: construyendo una nueva práctica
pedagógica
RESUMEN: Este trabajo busca dialogar con el pensamiento
descolonial en la educación a partir de la experiencia del Curso
Técnico en Agroecología del Campus Rural de Marabá, del
Instituto Federal de Pará. En este curso el itinerario formativo
está constituido por dos tiempos de estudio: el Tiempo Escuela y
el Tiempo Pueblo, caracterizado como "alternancia pedagógica".
Tal lógica parte del estudio de la realidad "concreta",
posibilitando a los educandos articulación de los conocimientos
tradicionales y los cnico-científicos relacionados a las
dimensiones políticas, históricas, naturales. Nuestra estrategia
pedagógica adoptada en el CTAI se aproxima en parte de la
propuesta de educación descolonial y el tiempo poblacional se
mostró central en la estrategia de pensar y repensar formas de
educación "otras" aquellas de la modernidad.
Palabras clave: Agroecología, Alternancia, La
Interculturalidad, Currículo.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 57-75
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
59
Ribeiro Júnior, R., Sena, L. R., & Araújo, W. B. S. (2018). O tempo aldeia: construindo uma nova prática pedagógica...
Introdução
Este trabalho resulta da vivência e
pesquisa dos autores sobre as práticas de
ensino no Curso Técnico em Agroecologia
Integrado ao Ensino Médio dos Povos
Indígenas do Sudeste Paraense CTAI, do
Instituto Federal do Pará IFPA, Campus
Rural de Marabá CRMB. O CTAI pode
ser considerado desdobramento da
iniciativa e disposição do CRMB em
dialogar com a diversidade sociocultural da
região de sua abrangência, o Sudeste
Paraense. Neste cenário, o CRMB iniciou,
a partir de 2009, um diálogo constante com
os povos Assurini, Atikum, Parkatêjê,
Akrãtikatêjê, Aikewara-Suruí, Amanayé,
Guarani e Guajajara, bem como com as
instituições que atuavam junto a estes
povos, como CIMI e UFPA em vista a
conhecer e acolher as suas demandas
educacionais. No quadro abaixo
apresentamos a composição dos
integrantes do curso por aldeia e povos.
Quadro I: Composição do número de alunos por aldeia/povo.
POVOS
INDÍGENAS
ALDEIAS
MUNICÍPIOS
DE
ALUNOS
Assuriní
Trocará
Tucuruí
02
Amanayé
Barreirinha
Paragominas
05
Araradewa
Goianésia
01
Atikum
Ororobá
Itupiranga
04
Guarani
Nova Jacundá
Jacundá
02
Guajajara
Guajanaíra
Itupiranga
09
Parkatêjê
Kupejipôkti
Bom Jesus do Tocantins
05
Akrãtikatêjê
Akrãti
05
Suruí
Itahí
São Geraldo do Araguaia
03
Sororó
03
Total
37
Fonte: Arquivos da coordenação do CTAI (2012).
Desse diálogo de mais de dois anos
de construção coletiva foi concebido o
CTAI, como uma experiência pioneira no
âmbito dos Institutos Federais Ifs do
Brasil. O curso está inserido no Eixo
Tecnológico Recursos Naturais do
catálogo de Cursos Técnicos do Ministério
da Educação MEC e desde sua
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 57-75
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
60
Ribeiro Júnior, R., Sena, L. R., & Araújo, W. B. S. (2018). O tempo aldeia: construindo uma nova prática pedagógica...
concepção expressou como uma
experiência desafiadora assumida.
A concepção do curso tomou como
base os princípios da participação efetiva e
diálogo verdadeiro preconizados pelo
CRMB (PPP, 2010). Por turno, herdou o
anseio do CRMB em ofertar uma educação
comprometida com a sustentabilidade dos
povos do campo de sua área de
abrangência. Também considerou a “crítica
ao “processo colonial” na educação da
modernidade, cujos principais
desdobramentos se expressam na negação
da diversidade, na folclorização das
sabedorias e epistemologias ‘outras’
aquelas ocidentais modernas” (Santos,
2005, p. 26-27).
Neste cenário, buscou-se com esta
pesquisa analisar a experiência do CTAI à
luz das teorias descoloniais, desde o
processo de concepção e efetivação e
desenvolvimento do curso, as interfaces
entre avanços e limites da experiência e
suas contribuições para se pensar e
repensar novas propostas de se construir
processos educativos formais “outros”
aqueles hegemônicos na modernidade.
Esta pesquisa contou com a leitura
dos relatórios produzidos pelos educandos
a partir do Tempo Aldeia, com base nos
Plano de Estudo, Pesquisa e Trabalho
PEPT. O PEPT é uma ferramenta
metodológica utilizada para orientar a
pesquisa durante o Tempo Aldeia,
normalmente organizado na forma de um
roteiro, com as questões previamente
discutidas e encaminhadas aos educandos
no último dia de aula de cada Tempo
Escola. Essas orientações dirigidas tinham
como objetivo assegurar o momento de
vivência da pesquisa nas aldeias, onde os
educandos no primeiro momento reuniam a
comunidade para socializar as atividades
escolares e apresentar o PEPT, garantindo
assim, a participação da comunidade no
processo formativo.
Nossa intenção é argumentar com os
autores descoloniais, (Mignolo, 2008 &
Quijano, 1997); as possibilidades de
rompimentos de paradigmas pedagógicos
disciplinares no processo de produção de
conhecimento, para tanto Mignolo (2008,
p. 04) afirma que “a opção descolonial
significa, entre outras coisas, aprender a
desaprender”. Desta forma, a experiência
vivenciada no curso em análise nos
permite construir conexões de uma prática
pedagógica que associa um processo de
aprendizagem de forma relacional com os
processos cotidiano dos educandos,
pautado nas suas experiências
desenvolvidas nas aldeias.
O percurso formativo em análise faz
parte de um processo que chamamos no
curso de alternância pedagógica, dispondo
de instrumentos metodológicos, como o
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 57-75
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
61
Ribeiro Júnior, R., Sena, L. R., & Araújo, W. B. S. (2018). O tempo aldeia: construindo uma nova prática pedagógica...
plano de estudo; Diagnóstico Sociocultural
e Ambiental das Aldeias e uma
organização didática constituída em dois
momentos: o período das atividades
escolares e o da pesquisa na aldeia.
Todavia, o funcionamento do curso se deu
efetivamente pelo envolvimento dos alunos
em atividades de pesquisa, que relacione
no fazer de suas ações na aldeia e
problematize questões relacionadas a ela, é
neste contexto que uma formação
teórica e prática dos educandos.
Neste sentido, o I Ciclo pedagógico
do curso teve como foco a realização do
diagnóstico sociocultural das aldeias, os
primeiros PEPTs orientavam os educandos
a trazer informações sobre a história da
comunidade, da cultura, dos saberes e
práticas dos indígenas. No retorno á escola,
a primeira atividade do Tempo Escola era
articulada pela disciplina de “Metodologia
da Pesquisa”, cujas atividades se davam
com a socialização dos dados pelos
educandos por aldeia e no momento
posterior a sistematização em forma de
relatório. Com base nestas informações, os
professores de outras áreas de
conhecimento tinham acesso para
elaboração de seus planos de aula, baseado
na realidade dessas comunidades.
Vale ressaltar que o Tempo Aldeia é
contabilizado na carga horária, onde as
disciplinas envolvidas destinavam cerca de
30% de carga horária prevista na matriz
curricular do curso, e com
acompanhamento de educadores nas
aldeias em alguns momentos, pois estes
contribuíam com os educandos no processo
de socialização das atividades realizadas
no Tempo Escola, tendo reuniões com as
lideranças indígenas para ouvir as
demandas e tratar de assuntos relacionados
ao curso. Portanto, é nesta vivência que os
diferentes conteúdos vão sendo colocados
em prática.
Quando se observa, por exemplo,
que no II Ciclo do curso tem como
objetivo a caracterização dos
agroecossistemas das aldeias e proposições
para o manejo e gestão dos recursos
naturais, o principal elemento articulador
foi o desenvolvimento das ações para
implantação dos experimentos
socioprodutivos, que foi gerando as
discussões e dados para o percurso
formativo, conjugando assim, em
diferentes experiências para prática de
ensino dos educadores e com princípios
pedagógicos para formação dos técnicos
que terão condições de assumir em suas
aldeias o protagonismo dos projetos.
A pesquisa bibliográfica e
documental propiciou o desenvolvimento
da investigação e favoreceu a análise das
informações coletadas. Os produtos das
pesquisas como Mapas das Aldeias,
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 57-75
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
62
Ribeiro Júnior, R., Sena, L. R., & Araújo, W. B. S. (2018). O tempo aldeia: construindo uma nova prática pedagógica...
Calendário Agrocultural, Livro de História
de Vida e o processo de implantação dos
projetos socioprodutivos, demonstraram
que foi superado com o acúmulo obtido
tanto pelos professores como pelos
estudantes ao longo do curso.
Conhecimento científico e colonização
do saber: regulação versus emancipação
Na perspectiva da colonialidade do
poder, reconhecendo a separação
epistemologicamente operada entre o
sujeito e objeto, Mignolo (2003) demonstra
como a ciência moderna esteve atrelada ao
projeto de colonialidade instaurado na
modernidade, demarcando aquele polo a
ser conhecido (os povos “sem” história e
cultura, como por exemplo, os indo-
americanos) e o sujeito cognoscente,
sujeito do conhecimento. Nessa imbricada
rede de consolidação do projeto moderno-
colonial há uma relação muito intrínseca
entre saber e poder.
Na esteira dessa discussão, afirma ser
indispensável firmar a necessidade de não
reconhecer uma fronteira entre esses
dois polos em questão, mas também a
necessidade de construção de um novo
conhecimento, uma nova ciência,
construída, por sua vez, a partir da
exterioridade.
Falar em colonialidade do poder
significa reconhecer que a consolidação do
conhecimento científico como o
conhecimento verdadeiro se dentro de
um processo marcado por uma diferença
colonial, onde não uma perspectiva
predomina como também outros saberes
são subalternizados.
O pensamento limitar
epistemologicamente propõe um novo
lócus de enunciação, às margens. Mais que
isso, pressupõe uma nova linguagem.
Leva-os a entender que é preciso colocar
em questão as relações de força que
subalternizaram outros saberes, em
detrimento de um só conhecimento.
Dessa forma, a colonialidade do
poder, como nos mostra Quijano (1997),
pressupõe e se a partir de pelo menos
quatro aspectos: i) a classificação e
reclassificação da população do planeta,
tendo a noção de cultural como algo
estruturante; ii) a articulação e
administração dessa classificação através
de instituições (tais como, o Estado,
universidades, igrejas, etc.); iii) a definição
de espaços adequados para esses objetivos
e iv) “uma perspectiva epistemológica para
articular o sentido e o perfil da nova matriz
de poder e a partir da qual canalizar a nova
produção do conhecimento” (p. 41)
A expansão ocidental que se deu a
partir do século XVI, como nos mostra
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 57-75
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
63
Ribeiro Júnior, R., Sena, L. R., & Araújo, W. B. S. (2018). O tempo aldeia: construindo uma nova prática pedagógica...
Mignolo (2003), foi também a “expansão
de formas hegemônicas de conhecimento”,
contribuindo assim para a subalternização
de outras formas de conhecimento
existentes nas terras a serem
“conquistadas”.
A colonialidade é a modernidade
vista por sua margem, pelo outro lado da
fronteira. Segundo Mignolo:
a colonialidade traz para o primeiro
plano a coexistência e interseção
tanto dos colonialismos modernos
quanto das modernidades coloniais
(e, obviamente, a multiplicação das
historias locais que substituem a
história mundial ou universal), na
perspectiva dos povos e historia
locais quem têm de confrontar o
colonialismo moderno (Mignolo,
2003, p. 47).
Para Lander (2005) o pensamento
científico moderno opera de forma hábil no
sentido de produzir uma “naturalização das
relações sociais”. Nessa perspectiva, os
sujeitos são compelidos a acreditarem que
“a sociedade liberal constitui ... não apenas
a ordem social desejável, mas também a
única possível” (Lander, 2005, p. 08). Para
o autor, as ciências sociais contribuíram
sobremaneira nesse processo, levando à
hegemonização da narrativa neoliberal,
interditando outros discursos, outros
conhecimentos. Assim, segundo Lander:
O processo que culminou com a
consolidação das relações de
produção capitalistas e do modo de
vida liberal, até que estas
adquirissem o caráter de formas
naturais de vida social, teve
simultaneamente uma dimensão
colonial/imperial de conquista e/ou
submissão de outros continentes e
territórios por parte das potências
européias, e uma encarniçada luta
civilizatória no interior do território
europeu na qual finalmente acabou-
se impondo a hegemonia do projeto
liberal. (Lander, 2005, p. 12).
São nesse cenário que se constituem
as ciências sociais, estando, portanto
atrelada o seu desenvolvimento ao advento
da modernidade e a sua face colonial.
Nesse sentido, como bem nos afirma
Mignolo (2003) não se pode falar de
modernidade sem considerar a
colonialidade como algo que lhe é
constitutivo, isto é, modernidade e
colonialidade são partes do mesmo
processo.
Ainda acerca da relação entre as
ciências sociais e sua importância na
consolidação e naturalização da sociedade
neoliberal vale destacar que, segundo
Lander (2005, p 13), dois aspectos
fundamentais: primeiramente, “a suposição
da existência de um metarrelato universal
que leva a todas as culturas e a todos os
povos do primitivo e tradicional até o
moderno”. Dessa forma, institui-se a
sociedade liberal europeia como norma,
padrão, devendo as demais sociedades ser
niveladas/classificadas tomando-a como
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 57-75
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
64
Ribeiro Júnior, R., Sena, L. R., & Araújo, W. B. S. (2018). O tempo aldeia: construindo uma nova prática pedagógica...
referência. O segundo aspecto é que, “as
formas do conhecimento desenvolvidas
para a compreensão dessa sociedade [a
europeia] se converteram nas únicas
formas válidas, objetivas e universais de
conhecimento”.
O pensamento ocidental moderno é
um pensamento abissal. Ele consiste num
sistema de distinções visíveis e invisíveis.
As invisíveis constituem o fundamento das
visíveis e são estabelecidas através de
linhas radicais que dividem a realidade
social em dois universos, o universo “deste
lado da linha” e o universo do “outro lado
da linha”. A divisão é tal que o outro lado
da linha desaparece como realidade, se
converte em inexistente (Santos, 2010, p.
29).
Segundo Santos (2010) o que mais
caracteriza o pensamento abissal é
justamente a impossibilidade de
coexistência entre esses dois lados da
linha, sendo que o lado de é
invisibilizado, tornado o outro do
conhecimento ocidental e, portanto, tendo
os seus sujeito e saberes estigmatizados,
menosprezados e desta forma, justificando
a ação colonizadora e reguladora do Estado
moderno. Essa colonização se também
na perspectiva epistemológica, uma vez
que os saberes e práticas do sujeito do lado
de da linha são negados, eclipsados, em
nome de uma única forma de
conhecimento: a ciência. Esta, por sua vez,
se mostrou ao longo da história como um
conhecimento cada vez mais regulador.
É mister ressaltar, conforme Santos
(2010), que cada vez mais essa linha
abissal tem sido colocada em xeque por
esses sujeitos subalternizados. Segundo o
autor, “o outro lado da linha se ergueu
contra a exclusão social, as populações que
haviam sido submetidas ao paradigma da
apropriação/violência se organizam e
clamam pelo direito de serem incluídas no
paradigma” (Santos, 2010, p. 37-38).
A ação política desses sujeitos
subalternizados tem forçado a academia e
o próprio Estado a se repensar e
reestruturar as suas políticas públicas
educacionais. Outros sujeitos, outras
pedagogias. De acordo com Arroyo (2014),
os coletivos populares trazem para as
teorias e práticas educativas que os pensem
produzidos dentro de uma relação marcada
por dominação/subalternização/opressão.
São várias experiências dessas que tem
acontecido no Brasil nos últimos anos, com
avanço de discussões que estão em torno
de uma maior participação destes
“sujeitos”.
A resistência política desses
“sujeitos” subalternizados, invisibilizados,
representa também uma resistência
epistemológica e, com isso, uma pressão a
fim de por fim às linhas abissais (Arroyo,
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 57-75
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
65
Ribeiro Júnior, R., Sena, L. R., & Araújo, W. B. S. (2018). O tempo aldeia: construindo uma nova prática pedagógica...
2010; Santos, 2010). Em suma, é no bojo
dessa compreensão acerca da relação tensa
entre uma racionalidade reguladora que
marca a ciência moderna e a
racionalidade emancipadora, com vistas à
promoção da igualdade social, que a
acadêmica é hoje um campo de disputa
na perspectiva de Bourdieu (2005) entre
diferentes saberes. O diálogo entre
diferentes saberes é fundamental na
construção de uma proposta educacional
com objetivo de promover a igualdade
social e emancipação desses sujeitos
historicamente subalternizados.
Construção participativa e o diálogo
entre diferentes saberes
A construção da proposta do CTAI
teve início 2009 pelo Campus Rural de
Marabá, do Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia do Pará, pautando-se,
sobretudo, pelo diálogo com as lideranças
e sábios de cada aldeia, em vista de
conhecimento de sua história, projetos
societários e desafios dos mais diversos,
tais como aqueles voltados para as
atividades produtivas, gestão do território e
fortalecimento da cultura e identidades de
cada povo.
Dessa forma, o processo de
construção seguiu os seguintes passos: o
primeiro a realização de visitas às aldeias,
com vistas à construção de um breve
diagnóstico sócio cultural e agroambiental
das comunidades indígenas nas diversas
áreas onde havia demanda. Foram
visitados os povos: Aikewara, Atikum,
Guajajara, Guarani, Amanayé,
Akrãtikatêjê, Parkatêjê e Assurini do
Trocará, totalizando 9 povos e 12 aldeias.
Após as visitas foi realizado um
seminário com o objetivo de apresentar e
discutir o diagnóstico preliminar com
vistas ao processo de implantação do
curso. Esse seminário contou com a
presença de instituições governamentais,
não governamentais, representantes e
lideranças de vários povos indígenas. Foi
um momento decisivo para se ter a clareza
de optar por um curso técnico em
agroecologia, pautando-se pelo diálogo e
respeito aos modos de vida de cada povo.
Esse diálogo constante com as
lideranças indígenas e os sábios de cada
povo foram fundamentais, uma vez que
proporcionou novos momentos que
ajudaram a aprofundar essa etapa de
construção, garantindo uma proposta de
curso que dialogasse com os anseios e
desafios de cada povo. Em 2010, ocorreu a
restituição do diagnóstico nas aldeias, com
detalhamento de demandas apresentadas
pelos indígenas, e a construção do Projeto
Político Pedagógico do curso Técnico em
Agroecologia integrado ao Ensino Médio.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 57-75
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
66
Ribeiro Júnior, R., Sena, L. R., & Araújo, W. B. S. (2018). O tempo aldeia: construindo uma nova prática pedagógica...
O curso tem como objetivo a
formação de jovens indígenas do sudeste
paraense, na perspectiva intercultural do
diálogo de saberes/práticas tradicionais e
conhecimentos técnico-científicos e da
articulação de formação humanista e
profissional, através de diferentes práticas,
tempos e espaços pedagógicos, visando
contribuir para a segurança alimentar, a
gestão territorial e ambiental e com os
projetos societários de cada povo.
Ainda em 2010, foi realizada uma
formação dos Educadores do Campus
Rural de Marabá do Instituto Federal de
Educação do Pará CRMB/IFPA sobre
Educação Escolar Indígena. Essa formação
permitiu que o quadro de professores
tivesse acesso aos processos educativos
dos indígenas, tendo em vista que houve
uma participação dos professores das
aldeias e lideranças indígenas.
Somente no ano de 2011, com a
realização do II Seminário dos Povos
Indígenas do Sudeste Paraense, cujo
objetivo foi concluir o ementário das
disciplinas, elaborar as diretrizes de
funcionamento do curso, e discutir a
metodologia do processo de seleção dos
candidatos ao curso, que ocorreu os
encaminhamentos finais para o inicio do
curso. É importante ressaltar, que o ponto
chave do segundo seminário foi aprovar o
documento oficial redigido e assinado
pelos presentes que desencadeou no
processo seletivo, estabelecendo duas
etapas, sendo que todas seriam realizadas
nas aldeias dos povos presentes no
seminário. Uma etapa constituía-se de uma
roda de conversa, onde tinha uma banca
composta por membros do IFPA e
instituições parceiras junto com os
candidatos ao curso, à comunidade e as
lideranças indígenas. A outra, os
candidatos realizaram uma produção de
texto, trazendo vários elementos, como a
historia, cultura e tradições do seu povo,
como também alguns problemas e desafios
da aldeia. Nesse caso, ressaltam-se os
desafios de ordem técnico-produtiva, como
também de políticas públicas.
Esses elementos levantados nas
aldeias, durante o processo seletivo, foram
importantes para o planejamento das
atividades ao longo do percurso formativo
do curso, numa perspectiva de uma
educação escolar indígena que dialogue
com a realidade do educando. Neste
sentido, foram elencados os desafios da
construção da proposta de integração
curricular, com um currículo pautado não
somente em elementos teóricos, mas
concretos, partindo da realidade e
necessidade dos sujeitos demandantes,
integrando não somente partes, conforme
Araújo e Ribeiro Junior (2016).
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 57-75
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
67
Ribeiro Júnior, R., Sena, L. R., & Araújo, W. B. S. (2018). O tempo aldeia: construindo uma nova prática pedagógica...
Ressaltamos o grande desafio de
refletir a região sudeste do Pará, como um
importante território na Amazônia
Oriental, cuja população indígena está
distribuída em várias áreas. Elas compõem
uma multiplicidade de situações, que se
refere à extensão de suas terras, gestão dos
territórios e a socioeconomia, e às questões
de sua organização social. Na questão do
território, existem povos que estão em
Terras Indígenas homologadas com seus
territórios reconhecidos e outros que se
encontram como assentados da reforma
agrária são grupos que migraram para
região sudeste do Pará, vindos de outras
regiões do Brasil. Estes últimos, sobretudo
na década de noventa, porém todos sob
impactos de grandes projetos que
atingiram, diretamente, seus territórios,
suas condições de vida, levando a
constituir estratégias como opção de
reproduzir sua existência. Neste contexto,
estão os “Gavião” da Terra Indígena Mãe
Maria localizados no município de Bom
Jesus do Tocantins no sudeste paraense,
divididos em três grupos locais: os
Parkatêjê, Kyikatêjê e os Akrãtikatêjê, e
também os Aikewara, Guajajara, Atikum,
Amanayé, Guarani, Assurini, todos na
região sudeste do Pará, onde tiveram seus
territórios impactados por grandes
empreendimentos.
Os Aikewara tiverem o contato com
a sociedade nacional, como nos mostra
Laraia e Da Matta (1967) durante o
período de exploração extrativa da
castanha, ainda na década de 1950, e na
década de 1970, com a Guerrilha do
Araguaia, tiveram seu território e sua
aldeia invadida pelo exército brasileiro, a
sua terra sendo cortada por estradas abertas
pelos militares, entre outros fatores. A
atuação do exército na terra indígena
Sororó durante a Guerrilha do Araguaia é
um episodio bastante traumático na
memoria deste povo indígena.
Os povos Guajajara, Atikum e
Guarani são oriundos de outras regiões do
país, e chegam à região muito
recentemente. Ambos sofrem com as
pressões das grandes fazendas que lhes
avizinham e com o seu reduzido território.
Os Atikum e Guajajaras, por exemplo,
vivem em diferentes áreas de assentamento
de Reforma Agrária, no município de
Itupiranga. Enquanto os Guajajaras são
naturais do Maranhão, os Atikum migraram
do estado de Pernambuco. o povo
Guarani vive numa terra indígena, no
município de Jacundá, porém numa área
pequena ainda em fase de expansão.
Do ponto de vista das atividades
sócio produtivas realizadas nas aldeias, o
relatório apontou para os seguintes tipo de
cultivo e territórios de produção (CRMB,
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 57-75
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
68
Ribeiro Júnior, R., Sena, L. R., & Araújo, W. B. S. (2018). O tempo aldeia: construindo uma nova prática pedagógica...
2010), os quais sejam: cultivo de roçados e
produção de farinha, cultivo de sítios e
pomares, horticultura, pequenos animais,
coleta de fruto e caça, criação de gado e
pesca. O beneficiamento e a
comercialização da produção era uma
demanda comum a todas as comunidades
indígenas. O artesanato é uma atividade
realizada na maioria das aldeias, no entanto
essa atividade se encontra ameaçada, tendo
em vista a diminuição crescente dos
recursos naturais.
É frente a esse cenário, e esses
desafios vivenciados pelos povos indígenas
da região sudeste do Pará que foi pensado
e construído, de forma participativa e
dialogada, o Curso Técnico de
Agroecologia. Para potencializar o diálogo
entre as demandas dos povos indígenas e
os saberes científicos discutidos no âmbito
do curso foi fundamental a interface entre
o conhecimento científico e os saberes
tradicionalmente construídos por esses
povos indígenas, operacionalizando assim
uma descolonização do currículo escolar e
uma ecologia dos saberes (Santos, 2010).
Para proporcionar esse espaço, duas
propostas do curso foram executadas com
diferentes estratégias pedagógicas, dentre
as quais se podem citar a alternância
pedagógica e o PEPT (Plano de Estudo,
Pesquisa e Trabalho). Com vistas à
promoção de uma educação intercultural, a
alternância pedagógica, conforme afirma o
PPC do curso, busca o “desenvolvimento
de processos formativos integrados a
articulação entre as áreas do conhecimento
(humanidades, linguagens, exatas e
naturais), saberes tradicionais e científicos,
formação humana e profissional, diferentes
práticas, tempos e espaços pedagógicos”
(CRMB, 2010, p. 36, grifos nossos).
Nessa alternância pedagógica, dois
espaços formativos importantes são o
tempo-espaço aldeia e o tempo-espaço
escola. O primeiro é “se caracteriza por ser
o momento de vivência, pesquisa,
experimentação e ressignificação dos
conteúdos escolares e dos saberes/práticas
tradicionais dos próprios indígenas”
(CRMB, 2010, p. 37). Esse tempo-espaço
formativo é prensado de forma articulada
com o tempo-espaço escola, pois é nele
que “se organiza como um momento de
distanciamento do cotidiano/contexto de
origem, visando desencadear um processo
de escolarização que se faça como
momento de reflexão sobre a vida na
família/comunidade, a produção e a
realidade social mais ampla”. Articulação
entre esses diferentes espaços formativo,
conforme afirmamos é de suma
importância para o diálogo intercultural.
É nesta perspectiva que o PEPT
cumpre um papel enquanto instrumento
pedagógico articulador entre a construção
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 57-75
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
69
Ribeiro Júnior, R., Sena, L. R., & Araújo, W. B. S. (2018). O tempo aldeia: construindo uma nova prática pedagógica...
do conhecimento na escola e a pesquisa
realizada nas aldeias. Aqui a pesquisa
articula a investigação com a práxis.
De acordo com Freire:
Simplesmente, não posso conhecer a
realidade de que participam a não ser
com eles como sujeitos também deste
conhecimento que, sendo para eles,
um conhecimento do conhecimento
anterior (o que se ao vel de sua
experiência quotidiana) se torna um
novo conhecimento (Freire, 1982, p.
35).
Desse modo, empreender uma
pesquisa nessa perspectiva significa
reconhecer os saberes e práticas às quais
esses sujeitos são portadores, bem como o
modo como os mesmo significam sua
prática cotidiana. Mais que isso, ao
adotarmos essa postura, como nos assevera
Borda (1982, p. 52) “soluciona-se não
apenas o problema de ‘para quem’ este
estudo é feito, mas também o da
incorporação do cientista ao meio em que
ele deve atuar”. É essa inserção do
pesquisador na realidade a ser pesquisada,
e sua disposição a dialogar com esses
sujeitos, reconhecendo-os não como
objetos, mas enquanto sujeitos ativos do
pesquisar, que potencializa uma pesquisa-
ação transformadora. De acordo com
Borda,
A potencialidade da pesquisa
participante esprecisamente no seu
deslocamento proposital das
universidades para o campo concreto
da realidade. Esse tipo de pesquisa
modifica basicamente a estrutura
acadêmica clássica na medida em que
reduz as diferenças entre objeto e
sujeito de estudo. Ela induz os
eruditos a descer das torres de
marfim e a se sujeitarem ao juíz das
comunidades em que vivem e
trabalham, em vez de fazerem
avaliações de doutores e catedráticos
(Borda, 1982, p. 60).
Frente às questões colocadas aqui,
partiremos agora para uma reflexão acerca
do PEPT e da articulação entre os
diferentes tempos-espaços formativos para
o diálogo entre os saberes científicos e
aqueles tradicionalmente construídos nas
comunidades indígenas, tendo em vista os
desafios dessas comunidades.
As contribuições da pesquisa do
Tempo Aldeia possibilitaram um exercício
de interculturalidade entre a escola e os
povos indígenas integrantes do curso. Os
conhecimentos trazidos pelos educandos
foram se integrando aos conteúdos das
disciplinas por meio dos dados
socializados e sistematizados. O livro de
História de Vida e Calendário
Agrocultural proporcionou de uma forma
geral uma integração das etnias, onde os
jovens estudantes passaram a conhecer
seus parentes que ainda não tinham muito
conhecimento, apesar de todos os grupos
pertencerem à mesorregião do sudeste
paraense.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 57-75
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
70
Ribeiro Júnior, R., Sena, L. R., & Araújo, W. B. S. (2018). O tempo aldeia: construindo uma nova prática pedagógica...
Para tanto, vale ressaltar a
importância da troca de experiência com
estes conhecimentos, levando em
consideração os sentidos atribuídos à
formação. Para tanto, Silva (2012, p. 169)
reflete sobre os “processos de trabalho,
modos de vida e culturas especificas”
como representações de escola e interação
com os indivíduos. Destacam-se, neste
sentido os diferentes objetivos que estão
atribuídos a este processo de alternância,
Seja como estratégia de inclusão escolar,
cuja ênfase era a permanência do aluno na
atividade familiar produtiva, seja como
estratégia de qualificação profissional do
jovem, cuja ênfase era o subsídio técnico à
agricultura” (Silva, 2012, p. 172).
Essa singularidade é conferida com
os jovens indígenas, sobretudo do ponto de
vista do envolvimento nas atividades
práticas encaminhadas para serem
associadas as suas realidades. O que nos
leva a refletir sobre os processos de
aprendizagem a partir da abordagem de
integração curricular dos conteúdos que
foram sendo trabalhados com evidencia a
uma prática.
Com essa dinâmica os conteúdos
encontram-se em permanente relação,
sempre se complementando e articulados, e
como se trata de nove etnias, um
significado muito grande nesta relação de
práticas e saberes dessas populações
dialogando com novas aprendizagens, o
que considero como aspecto diferenciador,
o propósito que tem de desenvolver
praticas agroecológicas e trocas essas
experiências com o saber institucional.
Silva (2012, p. 29) “pressupõe a
existência de um vai e vem necessário para
permitir ao saber formalizado se confrontar
com a prática e ao saber prático se
formalizar”, é neste confronto que as
contribuições dessa prática educativa do
Curso de Agroecologia do Campus Rural
de Marabá, tem se evidenciado.
Para um curso de Agroecologia essa
experiência em alternância, dando
relevância ao período que os estudantes
ficam na aldeia com atividades, passa a
convergir com uma reflexão às condições
adotada, prevalecendo uma visão critica e
com práticas concretas de um ensino
técnico que leva em consideração o
diálogo com o conhecimento das
populações indígenas. Sobretudo,
rompendo com a lógica das disciplinas
compartimentadas por conteúdos fora da
realidade.
Nos relatórios produzidos pelos
estudantes aborda os limites que encontram
com a comunidade quando são levadas
tarefas que essa comunidade rejeita. Em
um destes documentos assinados por
estudante Atikum, ele resume como a sua
comunidade não deu andamento a proposta
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 57-75
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
71
Ribeiro Júnior, R., Sena, L. R., & Araújo, W. B. S. (2018). O tempo aldeia: construindo uma nova prática pedagógica...
realizada por técnicos da Companhia
Nacional de Abastecimento (CONAB),
durante uma oficina organizada pela
coordenação do curso para constar como
atividade de Tempo Aldeia, que seria a
elaboração de um projeto para ser
submetido ao Programa de Aquisição de
Alimentos (PAA).
Chegamos a fazer uma reunião com
as lideranças e comunidade onde teve
família que se interessou em fazer o
projeto como não tinha
conhecimento não fizeram, por mais
que nós explicamos, o cacique
aconselhou que para fazer o projeto
tinha que ter um conhecimento
suficiente (André Atikum Relatório
de Visita de Campo).
Neste caso o esforço feito foi de
capacitar os jovens estudantes para o
processo de elaboração de projetos. A
deficiência no momento em que o órgão do
governo possibilitou a oportunidade de
uma inserção das comunidades indígenas
em fornecer alimento para o Campus Rural
de Marabá, através do PAA, porém, foram
esbarradas nas limitações técnicas. Pois,
consta que na maioria das comunidades
havia os produtos para serem
comercializados.
O dialogo e interação entre as áreas
de conhecimento se apresenta como
desafios, por ser uma proposta inovadora e
isso exige disponibilidade para
compreender as problemáticas elencadas
pelos alunos, que na maioria das vezes é
trazida como porta-vozes das comunidades
elencadas. Portanto, percebe-se que a
proposta pedagógica do Campus Rural de
Marabá, está clara no sentido de um
projeto de educação em construção, e, que
a educação profissional tem objetivo de
atender os povos do campo. Envolvendo a
dimensão da interdisciplinaridade. É
importante ressaltar que essa formação
técnica e tecnológica associada à
interdisciplinaridade, não pode ser vista
como um modismo. Para isso Stuani
(2010) destaca que:
trabalhar interdisciplinarmente,
requer uma mudança de postura
frente ao conhecimento e ao ato
educativo; exige busca constante por
novos conhecimentos e um maior
diálogo entre as áreas do
conhecimento. Portanto, pensar o
conhecimento em sua totalidade,
envolve romper com as barreiras que
individualizam as disciplinas,
buscando perceber as interfaces que
ligam os diferentes saberes na
compreensão dos fenômenos
estudados. Diria que o sentido do
interdisciplinar está na contribuição
das áreas do conhecimento, no
entendimento de um objeto de estudo
comum, desvelando as várias
dimensões que o envolvem, dando
um sentido de totalidade (Stuani,
2010, p. 78).
Ademais, configura-se que o que foi
pensado, construído e vivenciado neste
curso técnico em agroecologia, não pode
ser compreendido apenas como uma
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 57-75
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
72
Ribeiro Júnior, R., Sena, L. R., & Araújo, W. B. S. (2018). O tempo aldeia: construindo uma nova prática pedagógica...
experiência isolada, pois a forte
participação de outros sujeitos em outras
etapas de formação tem colocado em
destaque o fato de o Tempo Aldeia, ou
Tempo Comunidade (para os cursos
regulares da instituição como Técnico em
Agropecuária Licenciatura em Educação
do Campo), ser um importante instrumento
metodológico de pesquisa, ensino e
extensão, ao mesmo tempo em que são
colocadas na prática as ações que são
desenvolvidas neste período.
Conclusões
Na perspectiva de uma construção de
uma proposta de curso que dialogasse e
respondesse aos desafios da mais diversa
ordem enfrentados pelas comunidades
indígenas da região sudeste do Pará, foi
fundamental um diálogo intercultural entre
os saberes dos povos indígenas da região e
os conhecimentos construídos no âmbito
da academia. Isso por sua, levou-nos a
repensar o lugar do próprio conhecimento
cientifico na sociedade ocidental, vendo-o
numa perspectiva política, alinhada a um
processo moderno/colonial de supressão de
outros saberes e práticas que existem
dentro de uma diversidade e são
desconsideradas em nome desse processo.
Para tanto, foi fundamental o diálogo com
a teoria descolonial, a qual nos faz refletir
profundamente sobre experiências como
esta.
O objetivo deste trabalho em buscar
o diálogo e as contribuições desse processo
de formação integrada nos apresenta uma
análise visando compreender os propósitos
da alternância num curso técnico, onde
jovens de diferentes etnias foram
possibilitados aos domínios de
conhecimento técnico-científico
combinados com suas práticas
desenvolvidas nas suas comunidades,
buscando compreender as lógicas e lugares
diante dos impactos que essas populações
têm sofrido frente aos grandes projetos na
região sudeste paraense.
Portanto, a experiência estudada
figura no cenário de inserção de realidades
socioeconômicas, culturais e ambientais
protagonizadas por sujeitos que vivenciam
nestes territórios uma dinâmica
diversificada, onde o curso passa a ser um
espaço a mais de valorização e vivência da
identidade étnica. O que se aprende e
ensina vai ganhando outro significado,
uma vez que podemos dialogar com
códigos conhecidos e dominados por
indígenas.
Constata-se que o processo de
alternância, mais precisamente o Tempo
Aldeia, foi fundamental para assegurar o
funcionamento do curso e garantir de fato
que a proposta pedagógica fosse validada.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 57-75
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
73
Ribeiro Júnior, R., Sena, L. R., & Araújo, W. B. S. (2018). O tempo aldeia: construindo uma nova prática pedagógica...
Um dos motivos dessa importância está
nas constantes mobilidades feitas pelos
estudantes. A necessidade de estarem perto
da família, às responsabilidades atribuídas
pelas lideranças a estes jovens e o
compromisso de ter uma boa formação,
mesmo considerando todas as dificuldades
de deslocamentos das aldeias para a escola.
Conciliar os dois universos de
aprendizados colocam os professores num
conjunto de circunstâncias, do fazer, do
ensinar e aprender. Isso quebra velhos
paradigmas de uma educação tradicional,
que apenas reproduz. Para um curso
técnico, é um ato de construir currículo
praticando um ensino diferenciado.
Referências
Araújo, W., & Ribeiro Jr, R. (2016).
Convergências entre a pesquisa
agroecológica e a pesquisa
socioantropológica e contribuições dessas
Freire, P. (Org.). (1982). Criando Métodos
de Pesquisa Alternativa: aprendendo a
fazê-la melhor através da ação. São Paulo:
Brasiliense.
IFPA/CRMB. (2010). Projeto Político
Pedagógico do Campus Rural de Marabá.
IFPA/CRMB. (2011). Projeto Político
Pedagógico: Curso Técnico em
Agroecologia Integrado ao Ensino Médio
dos Povos Indígenas do Sudeste Paraense.
IFPA/CRMB. (2013). Relatório de Tempo
Aldeia do Curso Técnico em Agroecologia
Integrado ao Ensino Médio dos Povos
Indígenas do Sudeste Paraense.
Lander, E. (Org.). (2005) A colonialidade
do saber: eurocentrismo e ciências sociais:
perspectivas latino-americanas. Buenos
Aires: CLACSO.
Laraia, R., & Damatta, R. (1967). Índios e
castanheiros: a empresa extrativa e os
índios no médio Tocantins. São Paulo:
Difusão Europeia do Livro.
Mignolo, W. D. (2003). Histórias locais/
projetos globais: colonialidade, saberes
subalternos e pensamento liminar. Belo
Horizonte: Ed. UFMG.
abordagens de pesquisa na construção (2008). Desobediência epistêmica:
curricular. Revista Lugares de Educação,
6(12), 139-157.
Arroyo, M. (2014). Outros sujeitos, outras
pedagogias. Petrópolis: Vozes.
Borda, O. F. (Org.). (1982). Aspectos
teóricos da pesquisa participante:
considerações sobre o significado e o
papel das ciências na participação
popular. São Paulo: Brasiliense.
Bourdieu, P. (2005). Economia das trocas
simbólicas. São Paulo: Editora Perspectiva.
a opção descolonial e o significado de
identidade em política. Cadernos de Letras
da UFF. Dossiê: Literatura, língua e
identidade, 34, 287-324.
Quijano, A. (1997). Colonialidad del
poder, cultura y conocimiento en América
Latina. Anuário Mariateguiano, 9(9).
Santos, B. S. (2005). Para um novo senso
comum: a ciência, o direito e a política na
transição paradigmática. São Paulo:
Cortez.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 57-75
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
74
Ribeiro Júnior, R., Sena, L. R., & Araújo, W. B. S. (2018). O tempo aldeia: construindo uma nova prática pedagógica...
(2010). Descolonizar el saber,
reinventar el poder. Montevideo:
Ediciones Trilce.
Silva, L. (1912). As experiências de jovens
do Campo: alternância ou alternâncias?
Curitiba.
Stuani, G. M. A. (2010). Construção
Curricular Crítica no Ensino de Ciências
Naturais e suas implicações na prática
docente. (Dissertação de Mestrado)
Universidade Federal de Santa Catarina,
Florianópolis.
Recebido em: 22/08/2017
Aprovado em: 02/09/2017
Publicado em: 15/12/2017
ORCID
Ribamar Ribeiro Júnior
http://orcid.org/0000-0002-5859-0408
Laécio Rocha de Sena
http://orcid.org/0000-0003-2275-1051
William Bruno Silva Araújo
http://orcid.org/0000-0002-8988-0926
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 57-75
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
75
Como citar este artigo
/
How to cite this article
/
Como citar este artículo:
APA:
Ribeiro Júnior, R., Sena, L. R., & Araújo, W. B. S.
(2018). O tempo aldeia: construindo uma nova
prática pedagógica. Rev. Bras. Educ. Camp., 3(1), 57-75.
ABNT:
RIBEIRO JÚNIOR, R. R.; SENA, L. R.; ARAÚJO,
W. B. S. O tempo aldeia: construindo uma nova
prática pedagógica. Rev. Bras. Educ. Camp.,
Tocantinópolis, v. 3, n. 1, p. 57-75, 2018.
Revista Brasileira de Educação do Campo
The Brazilian Scientific Journal of Rural Education
A
RTIG
O
/
A
RTICLE
/
A
R
C
ULO
DO
I:
h
tt
p
:/
/
d
x.d
o
i.
o
r
g/
10.20
873/
u
ft.2525
-4863.2018v3
n
1p
76
Rural Education and teaching material: an analysis of
History textbooks
i
Cícero da Silva
1ii
, Ilário Dias Cardoso Filho
2
1
Universidade Federal do Tocantins - UFT. Departamento de Educação do Campo. Avenida Nossa Senhora de
Fátima, 1588. Céu Azul. Tocantinópolis-TO. Brasil. cicolinas@yahoo.com.br.
2
Universidade Federal do
Tocantins - UFT.
ABSTRACT. In this paper, the aim is to analyse history
textbooks (LDH) used by Elementary School (6th grade) in rural
schools located in the municipality of Tocantinópolis-TO.
Considering that the training in the Rural Education perspective
has made it possible to recognize and value knowledge and
culture, seeking the emancipation of the peasants, this
investigation of the selected teaching material includes an
analysis of the following elements of the textbooks: (1) contents;
(2) activities; (3) teacher-student interaction; and (4) images.
The research is of bibliographic nature and qualitative approach.
The corpus consists of two LDHs: one produced for the
Programa Escola Ativa and another for schools located in urban
areas, but also used in the rural schools of research context. In
view of the reality of rural schools and the social, political and
economic context in which the peasants have lived, the research
results have revealed that only one of the LDHs analyzed
follows the principles defended by Rural Education.
Keywords: Textbook, History, Rural Education.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 76-103
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
76
Silva, C., & Cardoso Filho, I. D. (2018). Rural Education and teaching material: an analysis of History textbooks
Educação do Campo e material didático: uma análise de
livros didáticos de História
RESUMO. Neste artigo, o objetivo é analisar Livros Didáticos
de História (LDH) utilizados no Ensino Fundamental (6º ano)
em escolas do campo situadas no município de Tocantinópolis-
TO. Considerando que a formação na perspectiva da Educação
do Campo possibilita reconhecer e valorizar os saberes e a
cultura, buscando a emancipação dos camponeses, o estudo do
material didático selecionado compreende uma análise dos
seguintes elementos das obras: (1) conteúdos; (2) atividades; (3)
interação professor-aluno; e as (4) imagens. A pesquisa é de
natureza bibliográfica, de abordagem qualitativa. O corpus é
constituído por dois LDH: um produzido para o Programa
Escola Ativa e, outro, destinado às escolas situadas no meio
urbano, mas adotado também por escolas do campo do contexto
da pesquisa. Tendo em vista a realidade das escolas do campo e
do contexto social, político e econômico em que vivem os
camponeses, o estudo revelou que apenas um dos LDH
analisados atende aos princípios defendidos pela Educação do
Campo.
Palavras-chave: Livro Didático, História, Educação do Campo.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 76-103
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
77
Silva, C., & Cardoso Filho, I. D. (2018). Rural Education and teaching material: an analysis of History textbooks
Educación Rural y material didáctico: un análisis de libros
didácticos de Historia
RESUMEN: En este artículo, el objetivo es analizar Libros
Didácticos de Historia (LDH) utilizados en la Enseñanza
Fundamental (6º año) en escuelas rurales situadas en el
municipio de Tocantinópolis-TO. Considerando que la
formación en la perspectiva de la Educación Rural posibilita
reconocer y valorar los saberes y la cultura, buscando la
emancipación de los campesinos, el estudio de material
didáctico seleccionado comprende un análisis de los siguientes
elementos de las obras: (1) contenido; (2) actividades; (3)
interacción maestro-alumno; y las (4) imágenes. La
investigación es de naturaleza bibliográfica, de abordaje
cualitativo. El corpus está constituido por dos LDH: uno
producido para el Programa Escola Ativa y, otro, destinado a las
escuelas situadas en el medio urbano, pero adoptado en escuelas
rurales del contexto de la investigación. En vista de la realidad
de las escuelas rurales y del contexto social, político y
económico en que viven los campesinos, el estudio reveló que
sólo uno de los LDH analizados atiende a los principios
defendidos por la Educación Rural.
Palabras clave: Libro Didáctico, Historia, Educación Rural.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 76-103
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
78
Silva, C., & Cardoso Filho, I. D. (2018). Rural Education and teaching material: an analysis of History textbooks
Introduction
The struggle and resistance of social
movements that represent the peasants
against the oppression and the denial of
rights have generated effects. The
“Conferences by a Basic Education of the
countryside”, carried out in the country
since the first that happened in 1998, in the
city of Luziânia-GO, signal in this
direction. From it and, under strong
pressure from the rural social movements,
the Brazilian Government has established
actions aiming to support technically and
financially the States, Municipalities and
the Federal District on the execution of
public policy of Rural Education to meet
the demands of the people of the
countryside, although the current
management is dramatically reducing the
resources allocated to this public policy.
To promote this specific educational
policy in order to meet the demands (in
Elementary School) of the peasants, the
Federal Government implemented some
programs, such as: Programa Escola Ativa
(1997), Programa Nacional de Educação
na Reforma Agrária - PRONERA (1998),
Projovem Campo Saberes da Terra
(2009), just to name a few. In addition,
programs were also created aimed to the
training of teachers of the Rural Education,
as well as the distribution of some teaching
materials (MD) specific to attend schools
in the countryside. Obviously, this set of
actions aims to increase access and the
qualification of the offering of basic
education and higher education to the
people of the countryside. However, we
support the premise that the success of the
training in the perspective of Rural
Education also depends on the MD
elaborated based on the reality of the
context of the countryside.
Thus, the aim of this study
iii
is to
analyze history textbooks used in the sixth
grade of the Elementary School of the
Rural Education in rural schools and in
training program for peasants in the
municipality of Tocantinópolis-TO,
microregion of the Bico do Papagaio. It is,
therefore, of a bibliographical nature and
of qualitative approach. The corpus
consists of two different copies of History
Textbooks (LDH) selected for analysis,
namely: Caderno de Ensino
Aprendizagem: História 5 LDH 1 (of the
Programa Escola Ativa) and Vontade de
Saber História LDH 2, of the sixth year
(produced for schools situated in the urban
environment, but also adopted by schools
in the countryside of Tocantinópolis-TO).
Based on theoretical-methodological
approach taken in the research, in the
analysis of this teaching material of the
sixth grade of Elementary School we focus
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 76-103
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
79
Silva, C., & Cardoso Filho, I. D. (2018). Rural Education and teaching material: an analysis of History textbooks
on constituent aspects of both works, such
as: (1) contents; (2) activities; (3) teacher-
student interaction; and (4) images, whose
intention is to
understand
differences/particularities among the
contents submitted by LDH analyzed in
relation to purposes of Rural Education.
The work is organized in two parts.
The first, in addition to this Introduction,
brings a synthesis of research carried out
about the Textbook (LD) of the Rural
Education, including the production and
distribution of LD by the Ministry of
Education (MEC). The second part
presents methodological aspects of the
research, characterization of the works
analyzed, as well as the discussion of the
research data. In the end, we present some
considerations regarding the study.
The Textbook (LD) in the Rural
Education
The Textbook (LD) consists of a
multitude of knowledge gathered and
selected, conditioned by social theories,
beliefs, values and ideological
intentionality in a limited amount of sheets
of paper (see Arboit & Pacheco, 2013).
Generally, it is divided by area of
knowledge (History, Geography,
Mathematics, Biology, Languages) and
functions as a guide to lead the teaching-
learning process of teachers and students,
with the contents that includes.
Whereas our research object is the
History LD of the Elementary School, we
will not treat about books from other
disciplines in this article. Research
regarding the production, circulation and
uses of History teaching materials (MD
iv
)
of Elementary School, above all in the
Rural Schools, still present a reduced
number. We highlight here the works of
Arboit and Pacheco (2013), Costa (2014)
and Berbat and Feijó (2016).
The study of Arboit and Pacheco
(2013, p. 140) aims to “... know how the
life and work daily of the countryside is
depicted by the schoolbooks used in rural
and urban schools”. According to the
authors, the results of the research showed
that the LD spreads stereotypes which
favor the perpetuation of a dichotomized
vision, conveying beliefs that overvalued
the urban, as natural environment, and
unique of development, economic success
and progress. The rural context in the LD
is minimized, highlighting difficulties,
suffered life, hard work and low
remuneration. According to the authors, it
urges to resign educational public policies
in order to establish in the LD “... a policy
of valuing of the diversity, able to point
new paradigms, which appear on the
horizon as proposal of overcoming of the
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 76-103
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
80
Silva, C., & Cardoso Filho, I. D. (2018). Rural Education and teaching material: an analysis of History textbooks
social inequalities, impregnated in this
capitalist system, aiming to promote social
inclusion” (Arboit & Pacheco, 2013, p.
151).
On the other hand, the research of
Costa (2014, p. 10) has as object of study
the LD of the 5th year of the Elementary
School of the Foundation of the Programa
Escola Ativa, whose aim is to “identify the
discursive strategies turned to the
contextualization of these books prepared
specifically for the Rural Education
evaluating the assumptions leaders of the
choices that characterize them as included
in a specific reality”. In the analysis, the
author uses two LD of the fifth grade of
Elementary School of Escola Ativa, being
one copy of Portuguese Language and one
History.
Differently of what revealed the
study of Arboit and Pacheco (2013), the
findings of the investigation of Costa
(2014) showed that there is an attempt in
the works analyzed privilege experiences
of peasant students, as well as adding to
them new visions regarding the context of
the countryside and bring themes linked to
struggles of social movements by land and
the Agrarian Reform, to the struggle in
favor of the polyculture in contrast to
monoculture, to the protection of the
collective work done by the family in the
community and its participation in school,
as well as the need to specific public
policies turned to meet the demands of the
countryside.
Berbat and Feijó (2016) also
developed a research on MD, whose
purpose is to identify the whether the
relevance or not of the LD from the
countryside regarding the educational
reality of a rural school of municipal public
education network situated in a
municipality in the State of Rio de Janeiro.
The research takes into account the cultural
and social space lived by the students. The
data of this research include LD used by
students, interviews with a teacher and
students of the countryside school.
According to Berbat and Feijó
(2016), the results of the study revealed
that, although the National Textbook
Program of the Countryside (PNLD
Countryside) has the goal to distribute
works that contemplate the specificities of
the field, having in view the reality of the
context “some works do not consider the
multigraded organization, nor are related
so pertinently to the peasant context in his
fights, forms of reproduction of the
existence, identity and culture” (Berbat &
Feijó, 2016, p. 476). So, they are
observations that concern and need to be
solved.
In relation to the public policy turned
to the MD, the Federal Government
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 76-103
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
81
Silva, C., & Cardoso Filho, I. D. (2018). Rural Education and teaching material: an analysis of History textbooks
instituted, at different times of the
trajectory of the Brazilian education,
committees and programs linked to the
Ministry of Education (MEC) with the
assignment of facilitate the evaluation,
purchase and distribution of LD for the
basic education all around the country (see
Freitas & Rodrigues, 2008; Filgueiras,
2013). Although recent, the enhance of the
National Textbook Program of the
Countryside (PNLD Countryside), which
makes the distribution of LD (including
History) for schools located in the
countryside. This program has as its main
aim:
to consider the specificities of the
social, economic, cultural, political,
environmental, of gender,
generational, of race and ethnicity of
the Countryside People, as reference
for the elaboration of textbooks for
the early years of elementary school
(graded and not graded), of
countryside schools, of the public
education networks (Brasil, 2012, p.
9).
It is about a public policy of
fundamental importance, since it can
promote the production of LD to include
the specifics the rural context, although the
search of Berbat and Feijó (2016) has
revealed in its analyses, inadequacies in the
LD of the PNLD Countryside.
Besides the PNLD Countryside, in
recent years the MEC programs turned to
the Rural Education also produce and
distribute some teaching materials (LD,
classnotes, among others) for the schools
in the countryside. The general
coordination of the Rural Education, for
example, in partnership with the
Secretariat of Continuing Education,
Literacy and Diversity (SECAD) and the
MEC elaborated the LD of the Programa
Escola Ativa
v
for the initial series of the
Elementary School, of the education in the
countryside. These LD are part of the
compilation Cadernos de Ensino
Aprendizagem, which brings specific
volumes of: History, Geography,
Portuguese Language, Mathematics,
Sciences and Literacy (see Brasil, 2010).
The LD of the Escola Ativa had its first
edition published in the year 2010, with
pedagogic themes and theoretical-
methodological guidelines turned to the
work in multigraded classes. Therefore,
one of the History LDs analyzed in this
research is part of that referred collection.
Research Methodology
The research of qualitative approach
(Bogdan & Biklen, 1994) and
interpretative analysis of data, it is
characterized as bibliographic. We
understand that the bibliographic review
allows you to present conceptual
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 76-103
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
82
Silva, C., & Cardoso Filho, I. D. (2018). Rural Education and teaching material: an analysis of History textbooks
framework settings, giving support to the
woven analyses regarding the selected data
in the study. In addition, in the qualitative
investigative approach “... everything has
potential to build a clue that enables us to
establish a more insightful understanding
of our object of study” (Bogdan & Biklen,
1994, p. 49).
The corpus of the research consists
of two different copies of History
Textbooks (LDH) used in the sixth grade
of the Elementary School of Rural
Education in countryside schools and
training programs of peasants in the
municipality of Tocantinópolis-TO,
microregion of the Bico do Papagaio,
namely: Caderno de Ensino
Aprendizagem: História 5 LDH 1 (of the
Programa Escola Ativa) and Vontade de
Saber História LDH 2 (produced for
schools situated in the urban environment,
but adopted also by the rural schools from
Tocantinópolis-TO).
Although there are other elements
that deserve attention in researches about
LD, the study of teaching materials (MD)
chosen involves the analysis of the
following elements of both works: (1)
contents; (2) activities; (3) teacher-student
interaction; and (4) images, whose
intention is to understand
differences/particularities among the
contents presented by the LDH analyzed in
relation to the purposes of the Rural
Education.
Teaching material (MD) chosen for the
research
In view of the formative proposal of
Rural Education, the importance of History
teaching and the MD used in the Programa
Escola Ativa in the context of the research,
the LDH 1 chosen for analysis is the
Caderno de ensino e aprendizagem
História 5, of the sixth grade of the
Elementary School, published in 2010 by
the MEC/SECAD (Silva, 2010). The
author of this work is Lulia Queiroz Silva,
the same who writes the other books of the
area of History for the initial grades of the
Elementary School of the Programa Escola
Ativa.
The Cadernos de Ensino e
Aprendizagem of the Escola Ativa, used by
educators of the Rural Education, of
History field, make up a series of 05 (five)
volumes. According to the guidelines of
the referred program, the collection has
been developed to help the student to
develop its activities in the classroom and
in the community, favoring also the
development of its autonomy (Brasil,
2010).
As regards the choice of the second
book of History adopted in schools located
in the countryside, in the municipality of
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 76-103
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
83
Silva, C., & Cardoso Filho, I. D. (2018). Rural Education and teaching material: an analysis of History textbooks
Tocantinópolis-TO, was also selected one
LDH of 6th grade of Elementary School.
However, the LDH 2 was not produced
exclusively for the schools in the
countryside, in addition to not integrate the
textbook Guide: PNLD Countryside 2013
(see Brasil, 2012). Nevertheless, this book
is used by teachers who lecture in schools
situated in rural area of the referred
municipality.
The LDH 2 chosen for analysis is
part of the collection Vontade de Saber
História, which consists of four volumes
(from the 6th to the 9th year of Elementary
School). This LDH is by authorship of
Marco César Pellegrini, Adriana Machado
Dias and Keila Grinberg and was
published by the Editora FTD in 2012.
This is a work that integrates the National
Textbook Program (PNLD) of 2014. It was
evaluated and chosen by teachers from
various schools in the public school system
from all around Brazil, to be worked in the
years of 2014, 2015 and 2016 (Brasil,
2013).
During the collection of the MD for
the research, we verified that the LDH 2 is
used by children of the 6th grade of the
Elementary public Schools of the urban
educational network and some schools
located in rural areas of the municipality of
Tocantinópolis-TO, although it was not
produced in attention to the Rural
Education guidelines. These schools from
the public education system received this
LDH through the PNLD, whose
distribution is made by the MEC, through
the National Fund for the Education
Development (FNDE).
Discussion and data analysis
Following a common feature of the
MDs, in both LDHs the authors do in the
space reserved the presentation - a preview
of the contents and leave a message about
the importance of the study of history. The
LDH 1, Caderno de Ensino Aprendizagem:
História 5, there is a message of
rapprochement with the daily life of the
child of the countryside, in which seeks to
situate it in a universe of responsibility
about the contents that will study. The
LDH 2, Vontade de Saber História 6th
year, the authors also comment about the
purpose of the study of history, to show
respect to the cultural diversity, as the
basis for the exercise of citizenship and the
construction of a better world.
The LDH 1 Caderno de Ensino
Aprendizagem: História 5 6th grade is
organized into four units, divided into
sixteen chapters (see Silva, 2010). In each
unit, the author presents an “Introduction”
of the issues that will be studied and a
proposed activity to be developed by
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 76-103
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
84
Silva, C., & Cardoso Filho, I. D. (2018). Rural Education and teaching material: an analysis of History textbooks
children. The chapters always start with
questions about the topics that will be
discussed by the students, introducing then
a brief introduction of the text-based
content, with a sequence of exercises,
panel mounting or documentaries. At the
end of the completion of the units, the
author congratulates the students and calls
for it to be performed at a school one event
on the subject that was studied in the
chapter. This event is called “Day of the
conquest”, in which the students present
the works (developed) to other peers and
educators from school or invite someone
from the community to tell experiences on
the subject. The end of the book is
composed of a Caderno de Avaliação, with
an objective and discursive questionnaire
related to each one of the units studied.
On the other hand, the LHD 2,
Vontade de Saber História 6th year is
organized into twelve chapters (see
Pellegrini, Days & Grinberg, 2012). The
chapters always start with two or more
images (photography, painting, drawing)
on the main theme to be studied, followed
by the section “Talking about the subject”,
which consists of a small questionnaire.
After this introduction, the authors develop
the contents, and, at the end of each
chapter, is presented the section:
“Exploring the theme”, spaces related to
curiosities, as well as the “activities”. And,
finally, in the subsection “reflecting on the
chapter”, students are invited to perform a
self-evaluation of their learning.
Contents of the LDH and relationship
with the Rural School
The Rural School presents an
innovative formative proposal which,
through a modality of education with
specific grounds, has the purpose of
forming conscious citizens. Because
politically conscious citizens and aware of
their rights, are able to, in collective
Union, fighting to defend the ideals of the
countryside and of the peasants. The
school recommended by the peasants
values its experiences and knowledge-
generating as elements of organization of
its pedagogical structure and its
curriculum.
Thus, the struggle for the
construction of the Rural School,
appreciation of culture, knowledge and
identity of the peasants, must pass through
the selection of the contents (Arroyo,
2013), because the theories present in the
contents are not neutral. They have a
political purpose, that can be linked to a
project that masks the social injustices
produced by the capitalism, especially in
the countryside, showing us the necessity
of struggling against the oppression
(Caldart, 2000).
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 76-103
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
85
Silva, C., & Cardoso Filho, I. D. (2018). Rural Education and teaching material: an analysis of History textbooks
Considering both LDH selected for
analysis and respective contents, Caderno
de Ensino Aprendizagem: História 5
LDH 1 and Vontade de Saber História
LDH 2, the first book (LDH 1) brings
contents turned to the understanding of the
formation of the Brazilian society, starting
with questions about: “How the human
beings occupied the entire planet?”,
“Where did the first people of the
Americas come from?”, “How the human
species came to Brazil?”, until get to the
period of the colonization. The book traces
a historical route from the use, occupation
and domination of the lands of Brazil, in its
various aspects. Therefore, in the LDH 1
Silva (2010) seeks to demonstrate how
every people has its relationship with the
Earth, starting with the Indians, Portuguese
and Africans, whereas these last ones were
brought to Brazil as slaves.
In the chapters of the LDH 1, the
historical narratives about each subject
studied are brief because in this volume it
is explored intensively the use of exercises,
group activities, activities with the family,
whose purpose is to make the classroom a
space reserved for debates, so that through
shared experiences everyone (students and
teacher) enrich their knowledge. How is a
LD turned exclusively for the children of
the countryside, Silva (2010) works
instigating the deconstruction of some
concepts that, of the historiographical point
of view served to legitimize the political
domination and the control of the lands by
the Portuguese people, as “the discovery of
Brazil”.
To demonstrate the difference
between the concepts, such as, for
example, folwark and smallholdings,
dating back to the Portuguese colonization
in Brazil at the time of the Capitanias
Hereditárias, the LDH 1 shows the social
contrasts of the agrarian conflicts in the
country. With this, the child may realize
the political sense of the struggle of its
parents in the settlement and in the social
movement. However, it is important to
note that the discussion and the deepening
of these matters depend on the way the
teacher will approach them with his
students.
Unlike of what Arboit and Pacheco
(2013) found in their search, it is important
to note that, at no time in the LDH 1
Caderno de Ensino Aprendizagem:
História 5 the countryside is presented as a
place of but as a place of backwardness,
but as a place marked by a rich cultural
diversity, due to the presence of the
Indians, river people, sharecroppers,
quilombolas, fishermen, among others.
On the other hand, the LDH 2
following the dominant trend in LD deals
with contents focused on the study of the
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 76-103
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
86
Silva, C., & Cardoso Filho, I. D. (2018). Rural Education and teaching material: an analysis of History textbooks
classical history, spreading knowledge and
discoveries of the Western and Eastern
cultures. The book begins with the study
about “The origin of human beings”, how
did the evolution of humans happened over
the Paleolithic and Neolithic periods, i.e.
the cultural development that starts with
full contact of man with nature. The work
also presents some findings, as the fire and
the invention of the writing, and with the
population growth on the planet Earth the
life will become more complex, arising the
first villages, and then cities. In fact, this
story describes that, with the passage of the
time, the man tends to deny the
nature/countryside where it came from.
In both the LDHs (1 and 2), the
authors discuss the evolution of man. They
portray the possible hypotheses that
describe how the man held or reached the
Americas. They still talk about Bering’s
route Hypothesis, Coastal Route
Hypothesis, Transpacific route Hypothesis
and Atlantic Migration Hypothesis. These
scenarios are described in the LDH 1, for
example, showing how, did the domination
of the Americas happen.
In turn, in the course of the chapters
of the LDH 2 this work focuses on other
people, showing the historical and cultural
transformations of the following
companies: “The peoples of
Mesopotamia”, “Ancient Greeks”, “The
ancient Romans”, “The ancient Chinese”,
among others (Pellegrini, Days &
Grinberg, 2012). The chapters of the LDH
2 are organized by contents whose
historical narrative deepens enough each
theme approached, being accompanied by
many concepts, glossary located at the
margin of the text and several images. The
narratives gravitate around social aspects,
political, economic, cultural and religious
societies studied. Somehow, that allows the
student to accumulate knowledge whose
purpose is the preparation for the labor
market, and not a content-based formation
thought for the reality peasant.
In the LDH 2, when there are
references to the countryside and to the
peasant culture, they appear in connection
with the Egyptian, Greek, Phoenician and
Chinese societies. Therefore, very far from
the political, social and cultural contexts,
of the peasant communities in Brazil,
marked primarily by agrarian conflicts.
One of the few possibilities of
contextualization of the content with the
reality of Brazil appears in the section
reserved for the exercises, in which are
stated some questions about Brazilian
politics, culture, religion and music.
The activities of the LDH
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 76-103
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
87
Silva, C., & Cardoso Filho, I. D. (2018). Rural Education and teaching material: an analysis of History textbooks
The LDH 1 Caderno de Ensino
Aprendizagem: História 5 systematizes, for
students and teachers, how the activities
should be developed during class.
Throughout the work, there are icons that
make reference to the way each activity
must be carried out. Altogether, six
different types of activity are proposed,
such as: “Individual activity”, “Activities
in couples”, “Activities in small groups”,
“Collective Activity”, “home Activity” and
“reading” (Silva, 2010, p. 6).
The “Home activity”, for example,
enhances the importance of the Alternation
Pedagogy (PA), which in the formative
course the child spends some time at
school and another time with its family, in
the community, sharing the knowledge
learned at school (see Silva, 2011). The
“Collective Activity” demonstrates for the
child the feeling of participation, that the
knowledge is expanded when shared in
group in the exchange of life experiences
and knowledge. It directs us, to reinforce
the conception of work and/or training in
social movements, in the settlements and
communities, the fight is collective. For
this reason, the students are motivated to
learn to work collectively.
The chapters of the LDH 1 always
start with the section: “Collective
Activity”, which introduces the content
with a block of questions, as seen in the
example of Figure 1:
Figure 1 Typology of activity questions LDH 1.
Source: Silva, 2010, p. 117.
In General, the questions are
introduced by the pronoun who, what, why,
how, what. In a way, require cognitive
skills and whose solution can sometimes
be found in the text, in addition to such
questions motivate the socialization of
responses among students (see Costa,
2014).
On the whole, the LDH 1 presents a
total
vi
of 43 “Individual activities”, 41
“Collective Activities”, 83 “Activities in
couples”, 27 “Activities in small groups”
and 05 “Home Activities”. The
methodological proposal of these activities
involves: discussion in groups, reading of
short texts, research accomplishment,
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 76-103
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
88
Silva, C., & Cardoso Filho, I. D. (2018). Rural Education and teaching material: an analysis of History textbooks
questionnaires, analysis of charts, graphs,
drawings and works of art that appear in
the book. In relation to the “Home
Activities”, considered important by
involving the participation of the family
members, we realized that the book brings
a reduced number.
Another relevant aspect of the LDH
1 is that it brings some activities that aim
to portray the life and trajectory struggle of
the people of the countryside, as shown in
Figure 2:
Figure 2 - Systematization of activity LDH 1.
Source: Silva, 2010, p. 74.
This type of activity shown in Figure
2 includes the design of Rural Education
proposed for Programa Escola Ativa,
because
... is understood as a form of political
and social action, as opposed to the
traditional rural education,
implementation impoverished of
education constructed for urban
areas. In the context of Rural
Education, the school becomes
recognized as a space for reflection
of the reality of the people of the
countryside, of its work, its
languages, its ways of life and, above
all, of a new political project of
development (Brasil, 2010, p. 18).
Still in the LDH 1, content fixation
exercises require skills and knowledge to
solve them, consisting of recalling or
recognizing information in the text or of a
fact (Costa, 2014). Some issues require
research in other books, magazines and
newspapers, because the texts of the
chapters of the work are summarized.
Analyzing other activities, we
observe that this work also demonstrates,
for example, how should be accomplished
the analysis activity of the maps, which
appear followed by an “Activity in small
groups”. That is, the images are not in the
book only as illustration purpose; for
example, after presenting two Brazil maps
that show the distribution of indigenous
peoples in the national territory: one of
1500 and another current, the book
proposes the following activity on the
maps:
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 76-103
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
89
Silva, C., & Cardoso Filho, I. D. (2018). Rural Education and teaching material: an analysis of History textbooks
Figure 3 - Activity: analysis of Maps LDH 1.
Source: Silva, 2010, p. 24.
According to Carie (2008, p. 30), this
format of activity “proposes the debate and
the exercise of skills involving the
judgment and the criticism, the relationship
between past and present, allowing
students to position themselves on the
themes studied”. It seems also that the
activities of map analysis bring a proposal
of interdisciplinarity, because they relate,
directly, with texts worked on Geography,
especially with regard to the concept of
territory.
As for the proposal or activity format
present in the copy of the LDH 2 Vontade
de Saber História, we verified that they
appear divided into two sections. The first
section “Talking about the subject”,
begins with the introduction of the chapters
in which are presented two or more images
about the central theme to be studied. The
images are followed by questions, being
common the use of pronouns to introduce
them: what, which, who or words as
compare, describe, identify, whose purpose
is to provoke reflection about the contrasts
between past and the present.
In the section “Activities” of the
LDH 2, are proposed various exercises
compound of approximately 20 objective
questions (each) about the content of the
chapter. It seems that solve such activities
means, in a way, to find in the text the
information requested.
Figure 4 - Systematization of activities LDH 2.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 76-103
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
90
Silva, C., & Cardoso Filho, I. D. (2018). Rural Education and teaching material: an analysis of History textbooks
Source: Pellegrini, Dias & Grinberg, 2012, p. 152.
We must point out that the section
“Activities” of that LDH is divided into
five subsections: “Understanding
Exercise”, “Expanding the content”, In
Brazil”, “Discussing the Story” and
“Reflecting about the chapter”. The
authors in subsection “In Brazil” in an
attempt to bring closer the contents of the
Brazilian reality, relate the subject studied
with some fact of Brazil. For example, by
studying the Greek democracy is requested
that the students do a research to know
how the Brazilian democracy works; in the
study of Roman society and its struggle for
territorial expansion, the connection is
made by highlighting the importance of
agrarian reform in Brazil. However, as
highlights Costa (2014) in her search, the
LD needs to present new approaches
regarding the context of the countryside
and bring themes linked to the struggles of
social movements, such as the struggle for
land and Agrarian Reform. Obviously, the
struggle and access to the land cross over
the democracy.
It is also noticed that in the section
“Activities” of the LDH 2 there is not a
clear proposal so that the same be carried
out in groups, couple, collectively, not
even home activities, although the PNLD’s
Guide recommends that “in the activities
include individual and group works to aid
in the learning of important concepts to the
history” (Brasil, 2013, p. 131).
Finally, in the subsection of activity
named “Reflecting about the chapter” the
students are invited to perform a self-
evaluation of its learning acquired about
the chapter studied by checking if they
could understand the contents. The figure
(5) below demonstrates how are made the
questions of evaluation of the learning at
the end of each chapter:
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 76-103
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
91
Silva, C., & Cardoso Filho, I. D. (2018). Rural Education and teaching material: an analysis of History textbooks
Figure 5 - Systematization of activity: reflecting on the chapter - LDH 2.
Source: Pellegrini, Dias & Grinberg, 2012, p. 93.
According to the proposal illustrated
in Figure 5, the information must be shared
with classmates and teacher. Despite being
a systematic activity to the “collective”, we
can point out that this book prioritizes little
the knowledge construction of collective
way in the interaction with the other, for
example. Although the teacher is the actor
responsible for leading the approach of the
text and of the activities proposed in the
LD in the classroom, and the contribution
that this type of activity of the LDH 2 can
provide to the peasants seems fairly limited
considering the formative proposals of the
Rural Education.
Teacher-student interaction
The interactions established between
teacher-student in situations of teaching-
learning in the classroom, and that involve
the LD, this type of MD fulfills the role of
mediator of this dialogue on basic
education, because in it, it is hoped that be
included the content/knowledge needed to
be seized. On the other hand, the teacher
acts as interpreter of the information
present in the LD, since during the
university and continuing education the
teacher must have accumulated theoretical-
methodological knowledge sufficient to
perform “transmission” of knowledge
necessary for the training of students.
In the LDH 1 Caderno de Ensino
Aprendizagem: História 5, the
organizational structure of the contents and
activities aims the debate and the reading
in the classroom. Therefore, numerous
activities are proposed in groups, collective
and in the Community (see Silva, 2010).
The role of the teacher is to mediate the
discussions; to the students, is the
responsible by following the guidance
contained in this LD signalized by icons or
words, as for example, when it is time to
read it is presented the Tip: “Read”.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 76-103
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
92
Silva, C., & Cardoso Filho, I. D. (2018). Rural Education and teaching material: an analysis of History textbooks
To answer certain activities, learners
interpret and find some answers in the text,
while others require broader reflection.
Hence, it is responsibility of the teacher the
task of stimulating the students to the
development of responsibility and
autonomy, in the search of answers to
solve the problems.
The LDH1, considering the teacher-
student relationship, brings all the
guidelines that indicate how to work at
certain times the content, because the
material is very interactive with figures,
maps, drawings, comics, which contributes
to facilitating the access to the information.
Especially, regarding to the use of
drawings of children; showing some
information, as in a comic book, a question
suggesting a search. This aspect of the
work is shown in the image below:
Figure 6 - Teacher-student interaction LDH 1.
Source: Silva, 2010, p. 43.
The teaching-learning process in the
LDH 1 is focused on the student, since this
is handled along the work as active subject
and constructor of knowledge. This student
is what lives in the context of the
countryside and shares with its families
innumerous knowledge linked to the Earth,
nature and peasant culture. The contents of
the LDH 1 also bring an approach linked to
the General History of Brazil. Based on the
contents present in the work and depending
on how these are developed in the
classroom by the teacher, it is possible that
the child understand the concepts linking
them to the process of struggle for agrarian
reform, the Rural Education, why the
existence of so much land concentration
currently in the country, for example.
The texts of the LDH 1 also have a
language that is peculiar to that which we
find in the social movements of the
countryside. Silva (2010) employs words
or phrases such as “occupation of the
Brazilian territory’, “struggle of the social
groups”, “valorization of the contribution
of the cultures”, “mobilization”. This
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 76-103
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
93
Silva, C., & Cardoso Filho, I. D. (2018). Rural Education and teaching material: an analysis of History textbooks
language is the language of the social
movement, who speaks in a variety of
ways, with the rituals and mystique, with
children, with the symbols (Arroyo, 2011),
since the words are not only symbolic
characters, but carry with them a meaning
of political and ideological world, liberator
or oppressor. Furthermore, these words are
related in the activities of an objective way
to the context of the peasants, promoting
the student-teacher interaction and pupil-
countryside-social movement.
On the other hand, it seems that the
teacher-student approach constant in the
LDH 2 Vontade de Saber História is
centered mainly in the figure of the teacher
as keeper of knowledge. This can be
determined based on how that LD is
organized, beginning the content of the
chapters with a general reflection, followed
by several titles and subheads that bring a
historical narrative (see Pellegrini, Days &
Grinberg, 2012) in which the teacher
assumes the role of performing the analysis
of contents and the concepts presented.
But, in the PNDL guidelines,
The pedagogical proposal values the
mediator teacher and approaches of
the socio-interacionist proposal. It
proposes to working with the reading
and the interpretation of images
favoring the construction of historical
knowledge. In the activities, are
included individual and work in
groups to aid in the learning of
concepts important to the story
(Brasil, 2013, p. 131).
As the LDH 2 does not present a
systematic path to be followed regarding
the teaching of contents that gives
autonomy to the teacher use the most
appropriate methodology to its educational
practice: individual reading, reading in
couples, text annotations, text summary
seminars.
In the analyses, it was also found that
the activities of the LDH 2 follow the same
trend, presenting a formal language in the
text and the focus turns to the definition of
many concepts that arise throughout the
book. This makes the figure of the teacher
central in the classroom, since students
may find it difficult to understand the texts.
As the contents of the LDH 2 are
extensive, in the reading of the texts, the
students may lack certain previous
knowledge for interpretation. Therefore,
the teacher can use as teaching resource,
the reading in group to facilitate the
understanding, what enables to improve
the teacher-student interaction.
The images on the LDH
The use of images in the LD is
justified also by the role that assume of
“transport our imaginations” to a historical
past, a current reality or a future time.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 76-103
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
94
Silva, C., & Cardoso Filho, I. D. (2018). Rural Education and teaching material: an analysis of History textbooks
They give visual and imagery grounding,
enriching the cultural capability of the
students and educators, besides of
encouraging playful interaction with the
contents.
In addition, to present images in MD
is a form of legitimate historical speeches
(Ströher, 2012), that is, they validate with
visual evidences that is being said, even
that is not part of the everyday reality of
the learner. The images compound of
pictures, cartoon/caricature, billboard,
newspaper page, magazine, map and
graphics, educate our way of thinking and
perceiving the world around us, because
the human mind is “formed” by words and
pictures. So, we can read the world through
both the words and the images, assigning
meaning and concepts to the things that
surround us. In this dialectical process, we
transform the world and ourselves.
According to Ströher (2012), you can
set three categories of analysis of how the
images are used methodologically in the
LD, namely:
Picture-illustration, with only
decorative function, without direct
relation to the accompanying texts or
that are unnecessary for the
understanding of the same;
Image-proof, presented as a portrait
of the past, confirming or restating
what the text argues, acting as
confirmatory element of the speech
of the author;
Image of monument, which
discusses the source and questions it,
but without taking it as the only truth
of the past (Ströher, 2012, p. 51, bold
in the original).
Following this criterion, we verified
that the LDH 1 is a rich volume
Iconographies. The purpose of them at the
work seems to be to provide to the students
more relaxed learning situations, showing
them the “Little group of the countryside”,
that will accompany them throughout the
course of the initial series. This little group
is presented already in the first copy of the
Coleção Cadernos de Ensino
Aprendizagem História, volume 1. The
name, Little group of the countryside, is a
designation that reinforces the identity of
the peasant culture in the social imaginary
of the child at an early age can learn to
value its people, its culture and the place
where it is living. The figure below
illustrates the actors who make up the little
group of the countryside:
Figure 7 Little group of the countryside LDH 1.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 76-103
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
95
Silva, C., & Cardoso Filho, I. D. (2018). Rural Education and teaching material: an analysis of History textbooks
Source: Silva, 2010, p. 7.
As we verified in other parts of the
LDH 1, the use of photographs, maps,
graphics, paintings and cartoons
(contemporary or not) also presents
themselves as a resource to make reference
directly or indirectly to the subject studied
in each chapter. Because it is a volume
whose theme is developed specifically for
the students in the countryside, most of the
images are used in order to develop a
critical consciousness in children for the
understanding, for example, of how
happened the territorial domain of Brazil,
the slavery, the development of the cities
and the achievements of social rights.
However, some images present in the
LDH 1 seem to be simply laid out on the
work at the criterion of illustration
(picture-illustration), making it
unnecessary the presence of the same to
the understanding of the texts. In some
cases, is not made available for certain
images the methodological feature
appropriate to the interpretation of the
same, that is, it is not proposed any activity
that can involve the interaction in the
classroom, such as is the case of the image
(Figure 8) used when the subject of the text
is the homo’s sapiens (clever man, who
knows, you can know):
Figure 8 Rupestrian paintings - LDH 1.
Source: Silva, 2010, p. 12.
Nevertheless, considering the overall
scope of the work, we can say that most of
the images of the LDH 1 present good
reflective proposals, suggestions of
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 76-103
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
96
Silva, C., & Cardoso Filho, I. D. (2018). Rural Education and teaching material: an analysis of History textbooks
individual or in couple activity,
representation with sticking or drawing.
For example, when the topic of study is the
growth of the cities, are presented pictures
preceded by a brief explanatory content
about the development of Brazilian cities,
framing within the criterion of image-proof
(Ströher, 2012), which validates the
narrative of the text. At the same time, it
proposes an activity to analyze the images,
very positive point of this LD.
It is important to point out that some
images of the LDH 1, such as maps,
photographs and paintings, do not have a
detailed description about its theoretical
approach, in order to facilitate the
understanding of the content, although they
are important to performance of the
exercises. It can instill the kids to argue
(“Talk about”) the issues from what is
shown; that is, taking into account the
reality of the countryside, the teacher can
help students deepen the discussion about a
particular subject linked to the Brazilian
countryside.
In the texts about territory, the LDH
1 also presents images that make it
possible to take the students to understand
that, in the countryside, there are different
forms of occupation of the land. Figure 9,
for example, brings the differences
between the territories of the peasantry and
agribusiness:
Figure 9 Different territories LDH 1.
Source: Silva, 2010, p. 74.
These images of the Figure 9 show
that rural areas are taking varied social and
cultural contexts of empowerment in
accordance with the form of occupation by
man. In this case, the teacher’s role is vital,
because it can explore in the readings and
discussions with students: the story of the
MST in the struggle for Agrarian Reform
in the country, the importance of the
family agriculture which employs more
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 76-103
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
97
Silva, C., & Cardoso Filho, I. D. (2018). Rural Education and teaching material: an analysis of History textbooks
than the agribusiness, the importance of
polyculture for family agriculture, among
other aspects.
The other book of our study, the
LDH 2 Vontade de Saber História 6th
grade, is also rich in images, photographs,
drawings, maps. The identification of some
paintings and photographs is done by the
use of subtitles, as is the case of the images
that appear in the introduction of the
chapters, following the section “Talking
about it”. The figure presented below
demonstrates how the picture-proof is used
in order to prove the veracity of the
narratives that are developed around the
contents. However, it is important to stress
that, “Although they are not only
illustrations, once the images prove the
data transmitted by the text and
complement their ideas, there is not a
keeper work of analysis of them” (Ströher,
2012, p. 56).
Figure 10 Proof-image LDH 2.
Source: Pellegrini, Dias & Grinberg, 2012, p. 131.
The use of the images is quite used in
the LDH 2. However, most of the images
seem to be merely illustrative, without the
intention to elucidate or instigate debate in
the classroom, as shown in Figure 10. For
Ströher (2012, p. 47), “Despite the good
visual treatment of the images, it is
important to stress that the role that these
occupy in relation to the texts that
accompany it is, often, the one of mere
illustrations, or as of evidence that supports
and confirm the written information”.
Often the work does not offer for the
educator and the learner elements which
enable problematize the proper reading of
the images in order to deepen the
discussion of the texts.
Still in the LDH 2, it is frequent the
use of the images in the section
“Activities”, but not for the purpose of
producing a dense interpretation of them,
because what is usually proposed with the
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 76-103
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
98
Silva, C., & Cardoso Filho, I. D. (2018). Rural Education and teaching material: an analysis of History textbooks
use of them is the observation, questions
about the content, questions to compare
them and describe the differences among
them.
As regards the category image-
illustration (Ströher, 2012), the
Iconographies below present in detail the
type of image-illustration commonly used
in the LDH 2, when approached in an
activity accompanying the content:
Figure 11 - Image-illustration LDH 2.
Source: Pellegrini, Dias & Grinberg, 2012, p. 90.
According to Ströher (2012), there
may be resizing of the images to prove the
ideological conceptions that the texts
present. The way how certain authors stand
on the content demonstrates their current
of thought. A phrase, a concept, a photo, a
painting, a charge and a map, can be used
“tendentiously” in order to reinforce a
thought or a bigot idea, depending on how
it will be worked the interpretation by the
author.
Figure 12, presented below, shows a
group of bushmen in the northeast of the
years of 1940. This image depicts the
hardships of life in the backwoods, the
hard work to remove water from the well,
the barefooted woman with a pot of water
on the head, leaving explicit the difficulty
of living in the northeastern backwoods:
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 76-103
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
99
Silva, C., & Cardoso Filho, I. D. (2018). Rural Education and teaching material: an analysis of History textbooks
Figure 12 - Image-illustration LDH 2.
Source: Pellegrini, Dias & Grinberg, 2012, p. 21.
Analyzing how the Figure 12 appears
in the LDH 2, it is noted that there is no
text to explain why these people depicted
in the image are living in this situation. It
is therefore an attempt to corroborate or
legitimize the view that the countryside is
suffering, even if it is not the intention of
the author.
Conclusion
The school, the textbooks and the
curriculum of the Rural Education, as
advocated by the social movements of the
countryside, it must work the pedagogy of
the social movement, the peasant culture,
the identity of the peasants. For this reason,
we analyze in this article two textbooks of
History of 6th grade of Elementary School,
taking into account the following elements:
contents, activities, teacher-student
interaction and pictures.
The LDH 1, Caderno de Ensino
Aprendizagem: História 5, has its graphic
project designed for the schools
multigraded of the countryside. It is a
teaching material whose base texts to
comment regarding certain subject are
reduced, since it explores as the
methodological resources the innumerous
exercises, that can be done through
activities in couple or in collectiveness
(through the exercises and some images
the countryside is approached in the book).
The work meets, even if partially, the
longing of the movements of social
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 76-103
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
100
Silva, C., & Cardoso Filho, I. D. (2018). Rural Education and teaching material: an analysis of History textbooks
struggles of the countryside (landless,
bordering, quilombolas, affected people,
extractive), because some themes of this
book let you work the culture, the identity
and the peasant struggle. However, we
know that in some cases the LD is the only
teaching material of the teacher who
teaches in rural areas.
On the other hand, the LDH 2,
Vontade de Saber História, it is a book
prepared for an urban school, to form
holder subjects of an instrumental
knowledge and technical. The contents of
this LD and their activities do not instigate
the student to question the current reality,
filled by the social inequities, because the
book promotes the memorization of the
concepts, dates and facts of the past.
Therefore, the LDH 2, when used as a
teaching tool in schools in the countryside,
especially in those schools near the town,
do not present theoretical and
methodological subsidies that favor
strengthening of the peasant identity, the
struggle of the working class, the agrarian
reform, the deconstruction of stereotypes.
As we know, the scientific knowledge is
not neutral, but must dialogue with the
multiple contradictions experienced by the
people in the countryside, that seek new
ways to overcome the social injustices
created by the capitalist system.
The research also reinforces that the
success of the teaching materials in the
classroom, regardless of the social context
of the school and the community, it also
depends on the teacher and the teaching
methodology implemented, including
specific aimed objectives and teaching
vision about the process teaching and
learning.
With these lines, we realize that the
defense of the social movements by a
Rural Education comes with a school that
is of and in the countryside, in which the
challenge is even greater: “When is
discussed what to teach in those schools?”;
“How to organize a curriculum that
respects the cultural diversity?”; “How to
elaborate textbooks respecting the various
rural contexts that exist in Brazil?”.
References
Arboit, A. A., & Pacheco, L. M. D. (2013).
Exclusão social no mundo rural: ideologia
e poder nos livros didáticos. Vivências:
Revista Eletrônica de Extensão da URI,
9(16), 140-152.
Arroyo, M. G. (2011). A Educação Básica
e o Movimento Social do Campo. In
Arroyo, M. G., Caldart, R. S., & Molina,
M. C. (Orgs.). Por uma educação do
campo (pp. 08-86). Petrópolis, RJ: Vozes.
Arroyo, M. G. (2013). Currículo, território
em disputa. Petrópolis, RJ: Vozes.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 76-103
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
101
Silva, C., & Cardoso Filho, I. D. (2018). Rural Education and teaching material: an analysis of History textbooks
Berbat, M., & Feijó, G. (2016). Diálogos
com a Educação do Campo: o livro
didático em questão. Revista Brasileira de
Educação do Campo, 1(2), 476-494. DOI:
https://doi.org/10.20873/uft.2525-
4863.2016v1n2p476
Bogdan, R. C., & Biklen, S. K. (1994).
Investigação qualitativa em educação:
uma introdução à teoria e aos métodos.
Porto: Porto Editora.
Brasil. (2010). Escola Ativa: Projeto base.
Brasília, DF: MEC/SECAD.
Brasil. (2012). Guia de livros didáticos:
PNLD Campo 2013 - ensino fundamental.
Brasília, DF: MEC/SECADI.
Brasil. (2013). Guia de livros didáticos:
PNLD 2014 - história: ensino
fundamental: anos finais. Brasília, DF:
MEC/SEB.
Caldart, R. S. (2000). A escola do campo
em movimento. In Benjamin, C., &
Caldart, R. S. (Orgs.). Projeto Popular e
escolas do campo (pp. 24-48). Brasília,
DF: Articulação Nacional Por uma
Educação Básica do Campo.
Carie, N. S. (2008). Avaliações de
Coleções Didáticas de História de a
Série do Ensino Fundamental: um
contraste entre os critérios avaliativos dos
professores e do Programa Nacional do
Livro Didático. (Dissertação de Mestrado).
Campanha Nacional de Material de Ensino
à Fundação Nacional de Material Escolar.
Revista Brasileira de História, 33(65),
313-335.
Freitas, N. K., & Rodrigues, M. H. (2008).
O Livro Didático ao longo do tempo: a
forma do conteúdo. Pesquisa, 3, 26-33.
Pellegrini, M., Dias, A., & Grinberg, K.
(2012). Vontade de Saber História
ano. São Paulo, SP: FTD.
Silva, C. (2011). Pedagogia da
Alternância: um estudo do gênero Caderno
da Realidade com foco na retextualização.
(Dissertação de Mestrado). Universidade
Federal do Tocantins, Tocantins.
Silva, L. Q. (2010). Caderno de Ensino e
Aprendizagem: História 5. Brasília, DF:
MEC/SECAD.
Silva, W. R., et al. (2014). O que são
materiais didáticos? Uma abordagem na
Linguística Aplicada. In SILVA, W. R.,
Santos, J. S., & Melo, M. A. (Orgs.).
Pesquisas em Língua(gem) e demandas do
ensino básico (pp. 263-293). Campinas,
SP: Pontes Editores.
Ströher, C. E. (2012). Aprendendo com
imagens: a função das fontes visuais nos
livros didáticos de História. Aedos, 11(4),
46-70.
Universidade Federal de Minas Gerais,
Belo Horizonte.
Costa, P. F. S. (2014). Análise do discurso
dos livros didáticos para a Educação do
Campo: aspectos semiolinguísticos da
contextualização. (Dissertação de
Mestrado). Universidade Federal de Minas
Gerais, Belo Horizonte.
Filgueiras, J. M. (2013). A produção de
materiais didáticos pelo MEC: da
i
We thank two anonymous reviewers of RBEC for
the contributions to the work.
ii
Conflicts of interest: Cicero da Silva is a member
of the National Editorial Board of the Revista
Brasileira de Educação do Campo, however, it did
not have any participation in the evaluation process
of the manuscript.
iii
This research is part of the scientific activities of
the Group for studies and research in Rural
Education - Gepec (UFT/CNPq).
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 76-103
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
102
Silva, C., & Cardoso Filho, I. D. (2018). Rural Education and teaching material: an analysis of History textbooks
iv
We understanding the teaching material (MD),
according to Silva et al. (2014, p. 264), as: “...
embedded artifacts to the work of the teacher,
serving as an aid to the teaching and learning
process in training contexts”.
v
The Programa Escola Ativa (Active School
Program) was deployed in Brazil in 1997, through
the Northeast Project of the Ministry of education
with the World Bank, being adopted by the School
building Fund FNDE/FUNDESCOLA (Brasil,
2010). The Secretariat of Continuing Education,
literacy and diversity (SECAD) is responsible for
the program management. Brazil adopted this
program having as model the experiment of
Colombia, country in which the Escola Ativa was
launched in 1975 (from 1986, the program receives
funding from the World Bank to expand) (Melo &
Souza, 2013). Of the 5,565 municipalities in Brazil,
3,106 joined to the program in 2008. The Escola
Ativa is intended for multigraded classes, or small
schools, in places of difficult access and with low
population density, with only one teacher. Students
are organized together in the same classroom and
must work in groups, facilitating the flow of
information, which will be shared by other grades
(Brasil, 2010).
vi
As the “reading” involves directly the
development of many activities linked to excerpts
from historical, journalistic and literary texts
throughout the chapters of the LDH 1 we do not
need the total number of activities of the modality
“reading” in this work.
Received August 22, 2017
Accepted September 15, 2017
Published December 15, 2017
ORCID
Cícero da Silva
http://orcid.org/0000-0001-6071-6711
Ilário Dias Cardoso Filho
http://orcid.org/0000-0003-3972-3698
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 76-103
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
103
Como citar este artigo
/
How to cite this article
/
Como citar este artículo:
APA:
Silva, C., & Cardoso Filho, I. D. (2018). Rural
Education and teaching material: an analysis of
History textbooks. Rev. Bras. Educ. Camp., 3(1), 76-
103.
ABNT:
SILVA, C.; CARDOSO FILHO, I. D. Rural
Education and teaching material: an analysis of
History textbooks. Rev. Bras. Educ. Camp.,
Tocantinópolis, v. 3, n. 1, p. 76-103, 2018.
Revista Brasileira de Educação do Campo
The Brazilian Scientific Journal of Rural Education
A
RTIG
O
/
A
RTICLE
/
A
R
C
ULO
DO
I:
h
tt
p
:/
/
d
x.d
o
i.
o
r
g/
10.20
873/
u
ft.2525
-4863.2018v3
n
1p
104
A Educação Contextualizada para a convivência com o
Semiárido Brasileiro como uma prática emancipadora
i
Luana Patrícia Costa Silva
1
, Albertina Maria Ribeiro Brito de Araújo
2
, Alexandre Eduardo de Araújo
3
1
Universidade Federal da Paraíba - UFPB. Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE). Jardim Cidade
Universitária, Campus I, s/n. João Pessoa - PB. Brasil. luana_gca@hotmail.com.
2
Universidade Federal da
Paraíba - UFPB.
3
Universidade Federal da Paraíba - UFPB.
RESUMO. Este trabalho tem como principal objetivo elucidar
práticas pedagógicas que esboçam uma relação de Educação
para Convivência com o Semiárido Brasileiro, a partir da
experiência da Escola Plínio Lemos Escola da Terra,
localizada no assentamento Marcolino, Prata - PB. Esse
processo foi consolidado frente a uma proposta metodológica de
abordagem qualitativa e a partir da pesquisa participante,
pautada nos estudos de Brandão (2002, 2006). As proposituras
encontradas na pesquisa emergem da luta por uma escola do
campo, com a proatividade das mães e se materializa frente à
construção de uma escola que passa a consolidar propostas
pedagógicas pautadas na Educação para Convivência com o
Semiárido Brasileiro. Estas propostas são visualizadas na prática
das educadoras que possibilitam um contexto educativo pautado
no ensinar e aprender coletivos, por meio de intercâmbios,
gincanas e contextualizações, frente à realidade dos sujeitos
envolvidos no processo educativo. Desta forma, foi possível
identificar ações emancipadoras que descortinam os estereótipos
destinados às regiões Semiáridas e aos seus sujeitos, na medida
em que passam a ressignificar suas identidades e construir uma
nova concepção educativa, pautada na emancipação e na
autonomia.
Palavras-chave: Educação Contextualizada, Semiárido,
Educação do Campo.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 104-125
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
104
Silva, L. P. C., Araújo, A. M. R. B., & Araújo, A. E. (2018). A Educação Contextualizada para a convincia com o Semiárido
Brasileiro como uma prática emancipadora...
Contextualized Education for coexistence with the
brazilian Semiarid as an emancipatory practice
ABSTRACT. This work has as main objective to elucidate
pedagogical practices that outline a relationship of Education for
Living with the Brazilian Semi - arid, from the experience of the
Plínio Lemos School - School of the Earth, located in the
Marcolino settlement, Prata - PB. This process was consolidated
against a methodological proposal of a qualitative approach and
from the participant research, based on the studies of Brandão
(2002, 2006). The proposals found in the research emerge from
the struggle for a rural school, with the proactively of the mother
sand materializes in front of the construction of a school that
starts to consolidate pedagogical proposals based on Education
for Coexistence with the Brazilian Semiarid. These proposals
are visualized in the practice of the educators that allow an
educational context based on the teaching and collective
learning, through exchanges, scan sand contextualizations,
facing the reality of the subjects involved in the education al
process. In this way, it was possible to identify emancipator
actions that reveal the stereotypes destined to the semi-arid
region sand their subjects, as they begin to resignify their
identities and build a new educational conception, based on
emancipation and autonomy.
Keywords: Contextualized Education, Semiarid, Rural
Education.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 104-125
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
105
Silva, L. P. C., Araújo, A. M. R. B., & Araújo, A. E. (2018). A Educação Contextualizada para a convincia com o Semiárido
Brasileiro como uma prática emancipadora...
La educación contextualizada para la convivencia con el
semiárido brasileño como una práctica emancipadora
RESUMEN. Este trabajo tiene como principal objetivo elucidar
prácticas pedagógicas que esbozan una relación de Educación
para Convivencia con el Semiárido Brasileño, a partir de la
experiencia de la Escuela Plínio Lemos - Escuela de la Tierra,
ubicada en el asentamiento Marcolino, Prata - PB. Este
proceso se consolidó frente a una propuesta metodológica de
abordaje cualitativo y a partir de la investigación participante,
pautada en los estudios de Brandão (2002, 2006). Las
proposiciones encontradas en la investigación, emergen de la
lucha por una escuela del campo, con la pro actividad de las
madres y se materializa frente a la construcción de una escuela
que pasa a consolidar propuestas pedagógicas pautadas en la
Educación para Convivencia con el Semiárido Brasileño. Estas
propuestas se visualizan en la práctica de las educadoras que
posibilitan un contexto educativo pautado en enseñar y aprender
colectivo, por medio de intercambios, gincanas y
contextualizaciones, frente a la realidad de los sujetos
involucrados en el proceso educativo. De esta forma, fue posible
identificar acciones emancipadoras que descortinan los
estereotipos destinados a las regiones semiáridas ya sus sujetos,
a medida que pasan a resinificar sus identidades y construir una
nueva concepción educativa, pautada en la emancipación y en la
autonomía.
Palabras clave: Educación Contextual, Semiárido, Educación
del Campo.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 104-125
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
106
Silva, L. P. C., Araújo, A. M. R. B., & Araújo, A. E. (2018). A Educação Contextualizada para a convincia com o Semiárido
Brasileiro como uma prática emancipadora...
Introdução
No tocante à região nordeste do
Brasil, deparamo-nos com um contexto
social, político e ambiental que herda as
regras de um conjunto de peculiaridades
que estão inerentes à composição histórica
dessa região. Sendo grande parte da área
desse território composta por
características semiáridas, muito essa
história toma forma, cor e sentido. Um
sentido um tanto quanto distorcido da
realidade existente, mas, mesmo assim, um
sentido estereotipado e encarnado nas
poesias, nas telenovelas, nas falas e nos
livros didáticos.
O Semiárido Brasileiro há muito vem
sendo de flagelados, de retirantes, de fome,
seca e miséria. Essa é uma construção
social que vive no imaginário descritivo
dos territórios semiaridianos, que
acompanha os sujeitos dessas regiões. O
desconhecimento da fauna e da flora, das
peculiaridades do lugar e até mesmo do
povo que nele vive fez com que esse
imaginário tivesse vez e voz na vida
cotidiana dos sujeitos presentes em várias
regiões desse território.
Esse cotidiano ou cotidianos se
apresenta(m) na forma de “lugares” e o
lugar de destaque aqui é o lugar da escola.
A escola como berço, como articulador de
forças, a escola como lugar de
emancipação, de construção social, política
e cultural, como ressignificadora de
processos e ações. Entretanto, essa escola,
que deveria ser esse berço, acontece
também emergida nesse imaginário, pois
ela é fruto dos sujeitos que se fazem
perante a “construção de desconstruções”.
Desconstroem negando, negam sua fala,
suas vestes, sua cultura, seu ofício. Essa
negação é visualizada na condição das
crianças camponesas que há muito estão
inseridas em práticas educativas
colonizadoras, fundadas em uma educação
bancária, que, em suma, desconsideram
processos locais. Desconsideram um
diálogo horizontalizado, que se contrapõe à
inserção de práticas, aprendizagens e
conteúdos desconectados das realidades
nas quais as crianças do campo estão
inseridas, acontecendo, por sua vez, de
forma verticalizada.
A proposta de Educação
Contextualizada para a Convivência com o
Semiárido Brasileiro alicerça-se nessa
negação para propor que a prática
educativa voltada para esses territórios se
ressignifique. Ela vem propor uma nova
forma de “construir descolonizando”. Ela
não nega, assim como faz o processo
colonizador; ela agrega, ela dialoga,
ampara-se na experiência vivida, no lugar
habitado, para assim possibilitar processos
alicerçados em aprendizagens reais e
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 104-125
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
107
Silva, L. P. C., Araújo, A. M. R. B., & Araújo, A. E. (2018). A Educação Contextualizada para a convincia com o Semiárido
Brasileiro como uma prática emancipadora...
contextualizadas, a partir de uma esfera
local. Na Educação para a Convivência
com Semiárido Brasileiro, o processo de
descolonização será possível a partir da
concepção da emergência de uma
nova/outra racionalidade, que, por sua vez,
compreenda, antes do todo, a representação
de suas partes. Desta forma, é necessário
apartar-se da forma colonizadora de
produzir ciência, que, por sua vez, migrou
para distintos âmbitos da sociedade, bem
como para a escola e para os processos
educativos.
É diante desses conflitos que
buscamos elucidar uma experiência que
surge na contramão da concepção
colonizadora e vem construindo processos
pautados no conhecimento para a
emancipação a partir da ótica da Educação
Contextualizada para a Convivência com o
Semiárido Brasileiro. Assim, por meio de
lutas, práticas, respeito aos saberes e
produção do conhecimento, dialogaremos
com uma escola que se materializa a partir
da luta de mulheres-mães no Cariri da
Paraíba, a Escola Plínio Lemos Escola da
Terra.
Esse artigo é um recorte de uma
pesquisa cujas abordagens fazem parte de
nossa dissertação de mestrado e tem como
principal objetivo elucidar práticas
pedagógicas que esboçam uma relação
com a Educação para Convivência com o
Semiárido Brasileiro, a partir da
experiência da Escola Plínio Lemos
Escola da Terra.
Caminhos metodológicos
A metodologia utilizada nesse
processo ancora-se nas pesquisas voltadas
para o entendimento de contextos
populares e de seus sujeitos, assim, esses
estudos possuem raízes nas pesquisas
antropológicas e etnográficas. Enquanto
abordagem, o presente estudo segue uma
concepção qualitativa, sendo esta
compreendida por Bogdan e Biklen (1994,
p. 48):
A investigação qualitativa é
descritiva. Os dados recolhidos são
em forma de palavras ou imagens e
não de números. Os resultados
escritos da investigação contem
citações feitas com base nos dados
para ilustrar e substanciar a
apresentação. Os dados constituem
transcrição de entrevistas, notas de
campo, fotografias, vídeos,
documentos pessoais, memorandos e
outros registros oficiais.
A descrição pontuada pelos autores
aponta para a concepção dessa abordagem,
porém, faz-se necessário pontuar que
realizamos uma pesquisa participante, em
que pudemos vivenciar o modus vivendi
dos sujeitos de pesquisa, no ambiente
pesquisado, emergido dos contextos e
práticas desses sujeitos da investigação. A
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 104-125
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
108
Silva, L. P. C., Araújo, A. M. R. B., & Araújo, A. E. (2018). A Educação Contextualizada para a convincia com o Semiárido
Brasileiro como uma prática emancipadora...
prática de Pesquisa Participante possui
como prisma uma imersão profunda do
pesquisador na realidade estudada e a
indissociabilidade entre pesquisadores e
sujeitos do processo de pesquisa.
Corroborando com nossas
abordagens, Brandão (2006) coloca a
pesquisa participante enquanto ação
participante em duas situações: a primeira
diz respeito à participação efetiva dos
sujeitos enquanto protagonistas na
pesquisa e não meros objetos. Já a segunda
coloca a pesquisa participante enquanto
instrumento científico, político e
pedagógico de produção partilhada do
conhecimento social e também é um
momento de ação social.
É a partir da concepção de pesquisa
participante que utilizamos, enquanto
instrumentos de elaboração dos dados para
subsidiar nossas análises, as entrevistas
semiestruturadas e a observação
participante. Compreendemos que tais
abordagens se complementam e estão em
harmonia uma com a outra. De acordo com
Mello (2005, p. 63):
A prática da Observação Participante
é um mergulho na cultura do outro,
no seu habitat, para entender sua
lógica, sua ordem simbólica,
entrando na “teia” social que
constitui as relações internas do
grupo e entre os diferentes grupos ...
É preciso que esteja o participante-
pesquisador disposto a tal e imbuído
de curiosidade e de uma metodologia
de registro e sistematização dessas
experiências, além de um
indispensável distanciamento crítico.
Por meio desses vieses e aludidos às
concepções de Brandão (2006),
compreendemos que a pesquisa
participante nunca traz uma resposta pronta
e acabada, pois estas não existem; ela
aponta para reflexões e busca investigar
soluções para determinadas situações e, a
partir daí, possibilitar novas investigações.
Como o saber não se configura enquanto
algo neutro, as relações pesquisadas
também não são; elas são cíclicas,
mutáveis, e nenhuma abordagem vai
responder, completamente, as necessidades
imbricadas ali, nessas relações. Portanto,
essas pesquisas trazem mais
questionamentos do que respostas.
Neste sentido, daremos indícios para
vários questionamentos e construções de
possibilidades no campo da produção do
conhecimento e da pesquisa. A ideia não é
de apontar para processos prontos e
acabados, mas de mostrar experiências,
caminhos e sujeitos que constroem e
reconstroem, em suas cotidianidades, os
territórios da Educação do Campo e da
Educação Contextualizada para a
Convivência com o Semiárido Brasileiro.
Pressupostos para uma educação do
campo contextualizada
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 104-125
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
109
Silva, L. P. C., Araújo, A. M. R. B., & Araújo, A. E. (2018). A Educação Contextualizada para a convincia com o Semiárido
Brasileiro como uma prática emancipadora...
Aqui na Região Nordeste
Tem riqueza de montão
Tem pé de mandacaru
E pé de urtiga que se tocar machuca a mão
Tem cabra que come palma
E pássaros que cantam canção
(Verso coletivo de crianças que fizeram parte
da pesquisa)
Brandão (2006), em sua obra “O que
é Educação Popular”, fez uma breve
reflexão sobre a comparação do ensinar e
do aprender nas relações existentes entre
nossos ancestrais, os macacos superiores,
ao relatar a relação da mãe amamentando o
filho aconchegado ao peito, ao realçar as
trocas de olhares, gestos, e do surgimento
de múltiplos sentimentos, que passam
pelas várias formas do ensinar e aprender,
e são nessas relações de vida, sejam entre
macacos (animais), sejam nas relações
humanas, que as relações coletivas fluem e
essas trocas entre esses sujeitos geram do
pensar ao conhecer e, daí, o conhecimento
simbólico de cada coisa. Então, se essas
relações se estabelecem no contato, no
gesto, no olhar e na magnitude de vários
sentimentos, como passarem despercebidas
as relações petrificadas dos modelos
educacionais, que, em sua totalidade,
negam essas formas de ensinar e aprender?
É nessa concepção que buscamos Freire
(1987), quem enfatizou as relações
estabelecidas entre educadores e
educandos, as relações narradoras e
dissertadoras da educação bancária,
fazendo a seguinte colocação:
A narração de conteúdos por isto
mesmo, tende a petrificar-se ou a
fazer algo quase morto, sejam valores
ou dimensões concretas da realidade.
Narração ou dissertação que implica
num sujeito o narrador e em
objetos pacientes, ouvintes os
educandos (Freire, 1987, p. 33).
No que confere à concepção de
educação bancária, Freire (1979) vem
situar que esta se estabelece a partir de
uma “consciência bancária”:
O educando recebe passivamente os
conhecimentos, tornando-se um
depósito do educador. Educa-se para
arquivar o que se deposita. Mas, o
curioso é que o arquivado é o próprio
homem, que assim seu poder de criar,
se faz menos homem, é uma peça ...
A consciência bancária “pensa que
quanto mais se mais sabe”. Mas a
experiência revela que com este
mesmo sistema se formam
indivíduos medíocres, porque não
estímulo para a criação (Freire, 1979,
p. 19-20).
A cada palavra lida da frase de
Freire, estabelecemos relações com
algumas formas atuais que encontramos
em nosso meio educacional. Tão jovens
como sua vontade de mudança são suas
palavras para o retrato da educação escolar
hoje em nosso país.
De acordo com Oliveira (2009), hoje
na educação escolar, possuímos um
sistema de avaliação educacional global,
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 104-125
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
110
Silva, L. P. C., Araújo, A. M. R. B., & Araújo, A. E. (2018). A Educação Contextualizada para a convincia com o Semiárido
Brasileiro como uma prática emancipadora...
que define o que e quando deve ser
ensinado, o que as crianças aprendem
desde os anos iniciais e assim por diante,
amarrando e reduzindo a liberdade das
diferentes realidades definirem suas formas
e metodologias de ensino.
E, na base, como chegam essas ações
amarradas a que são submetidos esses
sujeitos? Elas chegam por intermédio dos
livros didáticos, na negação da realidade
por construção de concepções que negam
seus valores, que negam sua cultura,
negam suas raízes. Não que esses sujeitos
não tenham direito de conhecer outras
culturas e conhecer o mundo no qual eles
se encontram inseridos, porém, faz-se
necessário trabalhar inicialmente com
questões mais pertinentes
ii
à realidade
desses educandos. Eles devem
primeiramente entender o que estão
fazendo ali, o porquê de estarem ali.
Torna-se bastante desmotivador eles terem
uma vivência no seu dia-a-dia e entrarem
em uma sala de aula, onde tudo que está
fora dela passa a ser desconsiderado e, de
certa forma, renegado. Complementando
essa ideia, Araújo (2009) faz a seguinte
pontuação:
Para o homem que faz parte de
determinado contexto, será mais
coerente não fugir das ações de
mudança que envolve a sua
comunidade, pois essas mudanças
irão marcá-lo e ditar normas culturais
de comportamento, que lhes podem
ser mais apropriadas, se ele não for
alijado do processo, se puder fazer
parte da elaboração dos produtos
culturais inerentes à sua realidade
(Araújo, 2009, p. 60).
Essas realidades ficam ainda mais
comprometidas quando estamos falando
sobre comunidades rurais e/ou
assentamentos, assim como acerca de
pequenos centros urbanos, que sentem
esses pacotes educacionais de forma mais
severa. A partir dessa realidade de
educação urbanizada inserida no campo, o
contexto local passa a ser desconsiderado
dentro das escolas, institucionalizando-se
por intermédio de pacotes prontos
(professores da cidade, livros didáticos
urbanizados, currículos verticalizados), em
que as peculiaridades dos contextos e da
identidade dos sujeitos dos territórios
camponeses são negadas. Respaldado nos
modelos educacionais urbanizados e
mediados por educadores que, por sua vez,
não passam por formações voltadas para
lidar com as especificidades de tais
realidades, vai-se consolidando um modelo
de educação bancária, cada vez mais
distante dos sujeitos, imbuindo no processo
educativo a concepção de um campo e de
um Semiárido Brasileiro sem condições de
viver.
Tal modelo, sequer dialoga com a
Lei de Diretrizes e Bases da Educação
(LDB), especificamente com o que é
abordado em seu artigo 28:
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 104-125
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
111
Silva, L. P. C., Araújo, A. M. R. B., & Araújo, A. E. (2018). A Educação Contextualizada para a convincia com o Semiárido
Brasileiro como uma prática emancipadora...
Art. 28 Na oferta da Educação
Básica para a população rural, os
sistemas de ensino promoverão as
adaptações necessárias à sua
adequação, às peculiaridades da vida
rural e de cada região, especialmente:
I Conteúdos curriculares e
metodologias apropriadas às reais
necessidades e interesses dos alunos
da zona rural;
II Organização escolar própria,
incluindo adequação do calendário
escolar às fases do ciclo agrícola e as
condições climáticas; III adequação
a natureza do trabalho na zona rural.
O artigo inserido na LDB, para além
de garantir um direito aos sujeitos do
campo, possibilita que a sociedade civil
reflita sobre como a Educação do Campo
deveria ser tratada, o que vem a reforçar a
construção de concepções mais
consolidadas na Educação do Campo. Uma
das conquistas nesse sentido foi a
aprovação das Diretrizes Operacionais para
Educação Básica nas Escolas do Campo
(Resolução CNE/CEB 1, de 3 de abril
de 2002), que complementam o artigo 28
da LDB. Vejamos o que especifica o Art.
2° da Resolução CNE/CEB N° 1, de 3 de
abril de 2002:
Art. Estas Diretrizes, com base na
legislação educacional, constituem
um conjunto de princípios e de
procedimentos que visam a adequar o
projeto institucional das escolas do
campo às Diretrizes Curriculares
Nacionais para Educação Infantil, o
Ensino Fundamental e Médio, a
Educação de Jovens e Adultos, a
Educação Especial, a Educação
Indígena, a Educação Profissional de
Nível Técnico e a Formação de
Educadores em Nível Médio na
Modalidade Normal.
Entretanto, a efetivação das diretrizes
na prática ainda é muito deficiente. As
escolas que ainda se encontram no campo
estão fechando as portas e esse fato pode
ser observado atualmente em todo o país.
Taffarel e Munarim (2015, p. 46) apontam,
ancorados nos dados do II PNERA
Pesquisa Nacional sobre a Educação na
Reforma Agrária que “as escolas foram
reduzidas em 31,46%, ou seja, 32.512
unidades foram fechadas. Com o
fechamento de escolas, não existe a
possibilidade de enfrentamento dos
gravíssimos problemas que afligem a
Pátria que se quer Educadora”.
Desta forma, existem experiências
que resistem a esse processo de
fechamento e fortalecem a luta por uma
educação do campo, embasadas na
proposta de uma educação voltada para a
realidade camponesa enquanto região
Semiárida, com dinâmicas que se
fundamentam na Educação para
Convivência com o Semiárido Brasileiro,
como é o caso da Escola Plínio Lemos -
Escola da Terra, do Assentamento
Marcolino localizado na cidade de Prata,
Cariri da Paraíba. Junto a esses processos,
pudemos vivenciar várias dinâmicas e
identificar que essas propostas de
educação, voltadas para a realidade
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 104-125
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
112
Silva, L. P. C., Araújo, A. M. R. B., & Araújo, A. E. (2018). A Educação Contextualizada para a convincia com o Semiárido
Brasileiro como uma prática emancipadora...
daquelas crianças, aconteceram a partir da
sensibilidade de educadoras que, mesmo
estando imersas nos processos de uma
educação bancária, pois suas bases
educacionais foram em escolas instituídas
nestes moldes - de transferência de
conteúdos-, elas vem fazendo uso de
metodologias contextualizadas em suas
dinâmicas na escola e estão construindo, de
fato, uma Educação para a Convivência
com o Semiárido Brasileiro, que surge da
concepção de existir no mundo e da luta
por uma escola que sentido ao processo
de ensino e aprendizagem.
Além de se identificarem enquanto
sujeitos sensíveis dentro desses processos,
um ponto que colaborou para essa
identificação da escola, que faz uma
educação voltada para a formação de uma
concepção crítica e de respeito à natureza e
aos sujeitos, foi a participação de uma das
mães e referência militante do
Assentamento no projeto UniCampo
(Universidade Camponesa), que teve início
em junho de 2003 e nasceu de uma
parceria que incluiu a Universidade
Federal de Campina Grande (UFCG) e
outras organizações camponesas e
sindicais da região do Cariri paraibano. O
principal objetivo do projeto era oferecer
formações para jovens camponeses,
agricultores familiares, trabalhadores sem-
terra e para membros e lideranças de
organizações, de forma a reforçar as suas
capacidades de análise e de elaboração de
projetos individuais e coletivos (Tonneau
et al., 2008).
Outra experiência também
importante para o desencadeamento desses
processos foi o intercâmbio que uma das
educadoras da Escola Plínio Lemos
realizou, para conhecer a experiência da
Escola Família Agrícola (EFA) Dom
Fragoso, em Independência - CE. De
acordo com Pinto e Germani (2012), “as
Escolas Famílias Agrícolas têm como
princípios quatro elementos: o
desenvolvimento do meio; a formação
integral; a Pedagogia da Alternância; e o
Associativismo Local, sendo que estes
estão divididos em finalidades e meios”,
sendo um destes meios a Pedagogia da
Alternância. De acordo com Cordeiro, Reis
e Hage (2011, p. 123):
A Pedagogia da Alternância,
utilizada como proposta pedagógica e
metodológica, permite que as ações
sejam refletidas no grupo, facilitando
a compreensão sobre a ação e tendo o
diálogo como instrumento de
participação. Em termos gerais, a
Pedagogia da Alternância vem se
constituindo numa proposta
pedagógica assumida pelos diversos
segmentos da organização curricular
e modalidades de ensino voltadas à
realidade dos jovens e adultos
trabalhadores que têm o campo como
espaço de vida, trabalho e produção
cultural.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 104-125
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
113
Silva, L. P. C., Araújo, A. M. R. B., & Araújo, A. E. (2018). A Educação Contextualizada para a convincia com o Semiárido
Brasileiro como uma prática emancipadora...
Assim, imersos nesse contexto e em
diálogo com essas experiências e mediante
estas sensibilidades e percepções oriundas
da participatividade no Projeto UniCampo,
no Intercâmbio com a EFA e das vivências
diárias dos camponeses e camponesas,
baseiam-se os princípios e metodologias
que nascem e se constituem na Escola
Plínio Lemos Escola da Terra.
É diante desse contexto que as mães
passam a lutar por uma escola para as
crianças do Assentamento Zé Marcolino,
Prata-PB. Em uma carta, uma das
educadoras relata sucintamente como se
deu esse processo:
Começou então uma grande luta para
construir o prédio onde seria
finalmente nossa escola. Com a ajuda
do projeto Dom Helder Câmara que
foi nosso parceiro desde o começo,
conseguiu através do FIDA o recurso
para construção do prédio. Mas o
recurso não foi suficiente para
comprar o material necessário para
construção, então nossas guerreiras
entraram em ação mais uma vez,
foram elas que carregaram as pedras
para fazer o alicerce da escola, e se
encarregaram de pedir, isso mesmo
de pedir, toda ajuda para conseguir
terminar a escola e ser aceita. E
conseguiram. Em 2010 os estudantes
tinham um ótimo espaço para
estudar. Hoje em 2013 fazem 5 anos
que estamos nessa luta, certos de que
parte do nosso dever foi cumprido,
mas que a luta continua, com todo
esforço, dedicação e principalmente
amor, pois como disse Paulo freire: A
educação é um ato de amor, portanto,
um ato de coragem (Educadora
Ângela).
Vale destacar que, antes de receber o
recurso para a construção da escola, uma
das mães sai de sua casa e a cede para que
a escola funcione e, assim, as mães se
organizam, fazem a merenda, limpam e
ajudam na organicidade da escola, no
decorrer do ano, até a construção do
prédio. Foi nesse contexto que
experienciamos um ano de pesquisa-ação
participante. Foi junto à escola que nasceu
a necessidade de se entender como as
dinâmicas vinham acontecendo junto a tais
sujeitos, educadores e educandos, estes que
fazem parte dos vários processos
produtivos e sociais do assentamento, tanto
quanto os agricultores e agricultoras.
Assim, através dessa imersão,
podemos identificar os vários processos
nos quais esses sujeitos estavam inseridos,
com um enfoque principal na visualização
de metodologias voltadas para a
contextualização de conteúdos com a
palma forrageira e nas práticas de
convivência com o semiárido.
Os primeiros contatos junto à escola
e seus sujeitos são impactantes, por
identificar as várias formas de cada um
agir dentro daquele processo/espaço, por
suas ações que se diferenciam de outras
experiências vivenciadas. Entretanto,
quando relatamos que a escola nasce da
luta como esboçado anteriormente, toda
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 104-125
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
114
Silva, L. P. C., Araújo, A. M. R. B., & Araújo, A. E. (2018). A Educação Contextualizada para a convincia com o Semiárido
Brasileiro como uma prática emancipadora...
ação, gesto e sensibilidade de cada um
passam a ser entendidos.
Inicialmente, não tem como tirar o
foco de pequenas ações que acontecem na
escola, como as cadeiras das crianças
estarem comumente em círculos, como a
diretora passar o pano na escola e estar
frequentemente ajudando na merenda das
crianças, junto com a merendeira. Esta, por
sua vez, leva a comida e entrega a cada
criança, uma a uma, conversando
pacientemente com aquela, ou aquele, que
não está querendo comer, com uma
sensibilidade tocante. Acreditamos que os
gestos e as ações da merendeira vão ao
encontro do que é definido por Paulo
Freire (1996, p. 50) quando ele faz a
seguinte reflexão:
Atitude correta de quem se encontra
em permanente disponibilidade a
tocar e ser tocado, a perguntar e a
responder, a concordar e a discordar.
Disponibilidade à vida e a seus
contratempos. Estar disponível é
estar sensível aos chamamentos que
nos chegam aos sinais mais diversos
que nos apeiam, ao canto do pássaro,
à chuva que cai ou que se anuncia na
nuvem escura, ao riso manso da
inocência, à cara carrancuda da
desaprovação, aos braços que se
abrem para acolher ou ao corpo que
se fecha na recusa. É na minha
disponibilidade permanente à vida a
que me entrego de corpo, pensar
crítico, emoção, curiosidade, desejo,
que vou aprendendo a ser eu mesmo
em minha relação com o contrário de
mim.
É a sensibilidade da merendeira e de
Paulo Freire que conseguimos identificar e
comparar com as várias formas que as
educadoras da Escola Plínio Lemos lidam
no seu dia-a-dia com as crianças, mesmo
que, algumas vezes, venham a reprimir
com a fala para chamar a atenção de
alguma das crianças. Percebe-se, no
entanto, que essas ações e tantas outras
acontecem como forma de imenso respeito,
inicialmente pelo que cada um conjuga
como sendo o ato de educar e de aprender
mutuamente com aquelas crianças.
Esse aprender e ensinar mutuamente
faz-nos recordar as colocações de Brandão
(2002), quando ele enfatizou as várias
formas educacionais que, partindo de
estruturas que formam colocam em
formas sujeitos para o mundo dos
negócios com estímulos à competitividade,
desconsiderando qualquer saber ou forma
de trocas mútuas. Porém, ele fala do
desafiar para uma educação que humanize
esses sujeitos, da busca do conhecimento
de significado, e não do conhecimento
vazio, e assim enfatiza o pensar “em uma
educação cujos motivos sejam a formação
‘por toda a vida’ de pessoas cujo destino é
buscar solidariamente a felicidade”
(Brandão, 2002, p. 116), que vai muito
além da busca pelas relações competitivo-
capitalistas estabelecidas em muitos
ambientes de ensino hoje.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 104-125
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
115
Silva, L. P. C., Araújo, A. M. R. B., & Araújo, A. E. (2018). A Educação Contextualizada para a convincia com o Semiárido
Brasileiro como uma prática emancipadora...
Essa sensibilidade ainda nos traz
recordações dos momentos vivenciados
junto aos sujeitos da escola Plínio Lemos,
quando a educadora Ângela, em uma de
nossas conversas, disse uma frase que pode
vir a soar estranho para alguns, como soou
inicialmente - para nós, pelas
experiências que nhamos vivenciados
em outros processos. E assim ela disse:
Eu adoro trabalhar com multisseriado
iii
,
acho que não saberia trabalhar de outra
forma...” (Ângela, Camponesa e
Educadora). Mas, qual o problema das
turmas multisseriadas? Muitos educadores
trabalham com essa forma de ensino! Que
ensino? Que aprender? Que sensibilidade
pode ser identificada nesse processo?
O que chama a atenção na fala da
educadora e se difere de
outras
experiências é a realidade das classes
multisseriadas em uma esfera mais
abrangente. Além das várias dificuldades
encontradas pelo isolamento e o pouco
preparo dos educadores para lidar com tal
heterogeneidade de idades, séries e ritmos
de aprendizagens, muitos deles organizam
suas atividades em forma de seriação, em
uma visão de “ajuntamento”, em que são
realizadas aprendizagens e avaliações
diferenciadas para cada série (Hage, 2011).
Partindo desses modos de
aprendizagens estabelecidos,
os
educadores acabam por conduzir o ensino
a partir da transferência mecânica de
conteúdos repassados por meio de cópia ou
transcrição do quadro, com base em livros
didáticos que, em sua grande maioria,
desconsideram as realidades do meio rural,
e ainda, o espaço escolar é subdividido por
grupos séries, com cantos ou fileiras
seriadas, “como se houvesse várias salas
em uma, separadas por ‘paredes
invisíveis’” (Hage, 2011, p. 100).
De acordo com Arroyo (2010, p. 12):
Essas contraposições entre escola
multisseriada e seriada perderam
sentido. Avançamos no entendimento
de que a organização seriada do
conhecimento levou a uma
compreensão segmentada,
disciplinada, hierárquica e linear
tanto dos conhecimentos quanto dos
processos de ensinar-aprender. Levou
e leva a deixar de fora a riqueza e
complexidade que é inerente à
produção do conhecimento.
Sobretudo, essa organização seriada
levou e leva a avaliar, aprovar e,
principalmente, reprovar milhões de
crianças e adolescentes, de jovens e
adultos porque classificados como
lentos, desacelerados, com problemas
de aprendizagem nos ritmos, na
sequência das séries e dos níveis
escolares.
Desta forma, as escolas
multisseriadas devem “transgredir a
constituição identitária em que se
configuram, ou seja, devem romper,
superar, transcender o paradigma seriado
urbano de ensino, que em sua versão
precarizada se materializa
hegemonicamente nas escolas rurais
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 104-125
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
116
Silva, L. P. C., Araújo, A. M. R. B., & Araújo, A. E. (2018). A Educação Contextualizada para a convincia com o Semiárido
Brasileiro como uma prática emancipadora...
multisseriadas” (Hage, 2011, p. 107). E é
justamente essa transgressão que foi e é
observada nas experiências junto à escola
Plínio Lemos que, à medida que
horizontaliza o ensino-aprendizado, foge
da lógica de “ajuntamento e transferência
mecânica” enfatizada por Hage (2011),
configurando-se, no reinventar da escola
multisseriada, entendendo o processo de
ensino como o todo, de modo a construir o
ensino-aprendizagem identificando as
potencialidades e fragilidades de cada
educando.
Para trazer essa sensibilidade que
tanto nos chamou a atenção no processo,
os escritos não dariam conta, pois é um
sentir deles. Foram percepções dos sujeitos
que a cada dia constroem a escola, e
quando estamos falando desse sentir junto
às turmas multisseriadas, deparamo-nos
com jovens de 21 e 23 anos, educadoras,
que lutaram por uma escola para seu
assentamento, para suas crianças.
Inicialmente, elas tinham formação de
vida, na vivência das dinâmicas junto às
suas famílias. Entretanto, por suas
percepções de vida, elas não entendem
outra forma de trabalhar com aquelas
crianças que não seja com classes
multisseriadas.
Esses processos são vivenciados na
labuta diária das educadoras da escola
onde uma das turmas é de responsabilidade
de Amanda Procópio, de 21 anos,
estudante do curso de Biologia,
camponesa, educadora e filha de Seu
Anselmo Procópio e D. Maria Procópio. A
turma é formada do Maternal ao Pré II, ou
seja, os anos iniciais. A outra turma fica a
cargo da educadora Ângela Procópio, 28
anos, estudante do curso de Pedagogia,
camponesa, educadora e também filha de
Seu Anselmo Procópio e D. Maria
Procópio. Ela trabalha junto às crianças
que estão cursando da Alfabetização ao
ano. Iremos nos deter em algumas
características e processos junto à turma da
educadora Ângela, em função do nível de
seriação mais elevado e da metodologia
que possuía, por envolver mais
especificidades voltadas para a linha que
seguia a pesquisa e ainda, em função de, na
maior parte do tempo, as crianças dos anos
iniciais, da educadora Amanda, serem
destinadas a leituras de contos, músicas e
brincadeiras.
A turma da educadora Ângela é
formada por crianças que estão inseridas
na faixa etária de seis a doze anos, todas
residentes no assentamento ou na
comunidade vizinha, conhecida como
“Cabeça do Boi”. A educadora tenta
contemplar na forma de ensinar a
“totalidade” das crianças e a turma hoje
conta com apenas duas crianças, das vinte,
que ainda não sabem ler, sendo esse um
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 104-125
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
117
Silva, L. P. C., Araújo, A. M. R. B., & Araújo, A. E. (2018). A Educação Contextualizada para a convincia com o Semiárido
Brasileiro como uma prática emancipadora...
dado de extrema relevância e que
materializa e reafirma na prática que a
metodologia que vem sendo utilizada na
escola (Figura 1) possui resultados
profícuos. Essas práticas pautam-se em
gincanas, aulas de campo, experimentos
com palma forrageira, algodão e
intercâmbios e tem como principal
característica o diálogo com o contexto.
Figura 1: Escola Plínio Lemos Escola da Terra.
Fonte: Registro Fotográfico de campo/Assentamento Zé Marcolino/Serrote Agudo, Prata - PB, 2014.
A educadora busca trabalhar com
respeito à realidade das crianças e a
observação de cada um em sua
singularidade. Em uma das várias
conversas, Ângela disse: Josué não sabia
ler e escrever, e não aprendia de jeito
nenhum! Então, eu consegui alfabetizá-
lo porque passei a trabalhar com ele com
palavras que ele gostava como cabra,
bode, barreiro. Foi que ele aprendeu...”
(Educadora Ângela). Para Freire (1979, p.
15), “existe uma reflexão do homem face à
realidade. O homem tende a captar uma
realidade, fazendo-a objeto de seus
conhecimentos. Assume a postura de um
sujeito cognoscente de um objeto
cognoscível”.
À medida que palavras que não
faziam parte de seu convívio eram
compartilhadas com Josué, soavam
estranhas pela não familiarização dele,
daquilo ou daquela palavra verbalizada, ou
escrita, que ele podia vir a não conhecer a
priori. Então, se existia um bloqueio de
aprendizagem, desta forma, ao passar para
o trabalho com palavras como a dos
animais que ele ajudava ao pai a cuidar e
do barreiro que ele sempre ia tomar banho
com os irmãos, ele se sentiu familiarizado
com as palavras, passando a dar uma
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 104-125
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
118
Silva, L. P. C., Araújo, A. M. R. B., & Araújo, A. E. (2018). A Educação Contextualizada para a convincia com o Semiárido
Brasileiro como uma prática emancipadora...
abertura para a aprendizagem, que, em sua
compreensão, apresentara-se de “forma
mais significativa”. Essa é a principal
essência da educação contextualizada.
Em um dos cadernos da Rede de
Educação do Semiárido Brasileiro
(RESAB) diz que não existe uma receita
pronta como a de um bolo para a educação
contextualizada, pois esta nasce das várias
lutas. No assentamento, ela nasce sim da
luta, e principalmente da forma de ensinar
e aprender que florescem junto à
necessidade, à sensibilidade, e à visão das
educadoras de como seria uma forma de
promover dinâmicas de aprendizagens que
trouxessem em suas faces o respeito e a
não negação de suas realidades enquanto
sujeitos do Semiárido. E é nessa
sensibilidade de Ângela, de identificar a
cada dia nas crianças, em sua
singularidade, a necessidade de cada uma
delas, que nasce e floresce a educação
contextualizada.
E, à medida que essas educadoras
internalizam essas concepções, nós
recordamos Freire (1996, p. 35), quando
ele se colocou dizendo que “saber que
devo respeitar à autonomia e à identidade
do educando exige de mim uma prática em
tudo coerente com esse saber”. O que não
se difere da realidade dessas educadoras,
em que, nas várias práticas vivenciadas, foi
possível identificar as inúmeras formas de
educação contextualizada voltadas para a
realidade do Semiárido, local de
“pertencimento” dessas crianças.
No que concerne às discussões em
torno de uma concepção mais consolidada
de educação contextualizada, a RESAB
trabalha com as discussões dos processos
vivenciados nessa região. A RESAB se
consolida pela construção de opções
metodológicas e se situa na importância
das dimensões política e pedagógica de
convivência com o Semiárido.
De acordo com Mattos (2004), um
dos organizadores do caderno Educação no
Contexto do Semiárido Brasileiro, a escola
é um dos principais espaços para a
construção do conhecimento. O autor traz
alguns desafios da Rede para promover
uma educação contextualizada para o
Semiárido Brasileiro:
Na medida em que busca propiciar
uma reflexão no e sobre o universo
escolar que viabilize um novo
diálogo sobre a relação sociedade e
natureza; que junto ao fio do novo
paradigma para aprender, reaprender
a viver e conviver no semiárido; que
crie e recrie novos significados que
possam contribuir com a melhoria da
qualidade de ensino e do sistema
educacional e propicie o
reconhecimento da
identidade/destino comum do homem
tanto a nível local/regional como
planetário (Mattos, 2004, p. 25).
Essas concepções que permeiam a
RESAB enquanto espaço de diálogo sobre
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 104-125
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
119
Silva, L. P. C., Araújo, A. M. R. B., & Araújo, A. E. (2018). A Educação Contextualizada para a convincia com o Semiárido
Brasileiro como uma prática emancipadora...
tal temática não foram discutidas com as
educadoras da escola Plínio Lemos. Em
esfera de formação, essas educadoras como
tantas outras não têm formação
continuada
iv
em consonância com tais
dinâmicas, à da Convivência com o
Semiárido. Entretanto, esses desafios são
vistos e enfrentados diariamente nas
percepções delas em suas salas de aula e
nas várias e várias formas de ensino e
aprendizagem que vão sendo desenhadas,
seja na música de Luiz Gonzaga que
enfatiza as belezas do lugar, que é
trabalhada por Ângela, seja nos desenhos
de mandacaru que Amanda leva para suas
crianças pintarem.
É nessa não negação do lugar
enquanto espaço de legitimidade do outro
(educando) que a escola vem trabalhando e
se afirmando, e foram nessas vivências que
foi possível identificar os processos de
contextualização. Se não existe uma receita
pronta, como explicar o que deve ser
educação contextualizada e identificarmos
essas formas dentro do processo junto a
essas educadoras?
O livro Educação no Contexto do
Semiárido Brasileiro
v
traz a discussão no
olhar de vários estudiosos sobre a temática,
de modo que é possível identificar que a
educação contextualizada nasce a partir do
desenvolvimento de várias experiências
que têm sido possíveis graças ao trabalho
de “várias organizações não
governamentais, pastorais sociais, igrejas e
movimentos sociais, que passaram a apoiar
e socializar iniciativas para a convivência
mais harmônica com o ecossistema dessa
região, referenciando e promovendo uma
nova cultura e uma nova relação com os
recursos naturais” (Braga, 2004, p. 27).
Esses sujeitos são os que fazem, a
cada dia, acontecer à construção de novas
formas de ensinar e aprender, pautadas nas
sensibilidades dos vários escritos de Paulo
Freire e outros autores e atores que
dialogam nesse viés, e assim, tem-se
construído concepções da pedagogia
embasadas no respeito e na singularidade
de cada espaço e de cada sujeito. Braga
(2004, p. 29) ainda complementa:
Temos observado que essas
experiências evidenciam, através das
práticas, vivências e iniciativas de
seus protagonistas, um grande e rico
potencial educativo que precisa ser
conhecido, considerado e valorizado
pelo Estado e pela sociedade, porque
são portadoras de novos sentidos e
significados, de mudança que
apontam para uma nova relação com
o meio ambiente e um novo modelo
de desenvolvimento, sustentando na
solidariedade, na compaixão e no
cuidado com as pessoas e com a
natureza.
Não é uma receita; são receitas. E
elas vêm vislumbradas nas várias vivências
dos sujeitos que fazem o Semiárido.
Ademais, a essas receitas são inseridos
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 104-125
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
120
Silva, L. P. C., Araújo, A. M. R. B., & Araújo, A. E. (2018). A Educação Contextualizada para a convincia com o Semiárido
Brasileiro como uma prática emancipadora...
novos ingredientes e uma nunca é igual à
outra. Elas acontecem nas várias práticas
cotidianas e, à medida que acontecem e são
conhecidas, passam a ser incorporadas às
várias discussões, como as da RESAB,
para construção de metodologias
consolidadas que vão dando forma a
conceitos e princípios para a Educação
Contextualizada para a Convivência com o
Semiárido Brasileiro.
Assim, esses conceitos e princípios
brotam dos educadores, dos camponeses,
de suas sensibilidades e percepção de
respeito, à medida que se doam e recebem
do meio em que vivem, construindo assim
suas identidades enquanto “sujeitos
semiaridianos” e desconstruindo os
estereótipos de um espaço pobre, seco e
sem vida, à medida que dão vida a ele nos
vários processos de participação e diálogo.
Cada momento de participação no
processo junto a esses sujeitos trazia-nos
mais e mais riquezas de aprendizagens e
respeito. Um deles foi se deparar com
Ângela mudando o local da aula para
debaixo dos pés de algaroba
(Prosopisjuliflora).
Chegando de surpresa, ficamos
observando como se dava toda aquela aula
ao ar livre. Tratava-se de uma gincana, na
qual participavam dois grupos, os meninos
e as meninas e a educadora era a
mediadora, realizando algumas
brincadeiras e fazendo alguns
questionamentos, tais como:
Qual a vegetação predominante na
nossa região? O que significa o nome
Caatinga? Cantem uma música que
na letra tenha o nome Sertão? Cite o
nome de três plantas do Bioma
Caatinga
vi
? (Educadora Ângela).
Outro momento que apresenta
resultados do processo pedagógico que
vem acontecendo na escola se esboça em
desenhos, elaborados pelas crianças,
durante a oficina sobre a palma forrageira
(Opuntia fícus indica), suporte forrageiro
muito presente na comunidade. Na figura
2, observa-se o resultado desse processo e
como as crianças enxergam o ambiente e
se enxergam no contexto em que vivem.
Figura 2: Desenho elaborado por um dos educandos durante a oficina de desenhos promovida pelo projeto
“Aprendendo com a Palma Forrageira”.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 104-125
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
121
Silva, L. P. C., Araújo, A. M. R. B., & Araújo, A. E. (2018). A Educação Contextualizada para a convincia com o Semiárido
Brasileiro como uma prática emancipadora...
Fonte: Registro Fotográfico de campo/Assentamento Zé Marcolino/Serrote Agudo, Prata - PB, 2014.
Inserir o contexto não é apenas o
simples fato de trazer as questões
pertinentes à realidade das crianças,
mesmo sendo concebido como um fator de
extrema relevância, porém, estamos a falar
a respeito do todo, do conjunto no qual
acontecem esses processos. E para deixar
mais nítido o que seria esse todo,
recordamo-nos da fala de Brandão (2002),
que, em uma de suas obras, colocou-se a
respeito da educação face a face, fazendo a
seguinte afirmação:
Gestos ... são trocas, onde os
significados do saber chegam a mim
entremeados com os afetos da
emoção que ao próprio significado do
que é dito dão o sentido profundo no
modo como aquilo foi dito. O
momento do encontro, o
relacionamento pessoal, interpessoal,
face a face, corpo-a-corpo, olhos-
nos-olhos e coração-com-coração
(Brandão, 2002, p. 203).
É sobre essas relações que estamos
falando; foram estas vivenciadas e
presenciadas na relação educadora e
educandos. Não são meros conteúdos
dentro de um contexto, mas sim várias
trocas de saberes de um contexto dentro
das relações face a face desses sujeitos,
estes que sentem e amam o que fazem, não
por mera imposição de um sistema, mas
por prazer de se sentirem fazendo e sendo
parte dos vários processos que vivenciam.
Quando a educadora pede: cantem
uma música que na letra tenha o nome
Sertão”, existe todo um sentido de
pertencimento ao lugar, de valorização da
cultura, de quebra de estereótipos. À
medida que as crianças cantam no meu
de serra, deixei ficar meu coração, ai
que saudade eu tenho, eu vou voltar pro
meu Sertão
vii
”, demonstrando a saudade do
sertanejo do seu lugar, de como é bom
voltar para suas origens, tais formas de
aprender e ensinar denotam todo um
aparato de valorização à cultura e à Região
Semiárida; é uma ressignificação e
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 104-125
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
122
Silva, L. P. C., Araújo, A. M. R. B., & Araújo, A. E. (2018). A Educação Contextualizada para a convincia com o Semiárido
Brasileiro como uma prática emancipadora...
valorização da identidade das crianças, de
seus pais e avós, é um processo endógeno,
no entanto, num bom sentido, ou seja, de
construção e respeito à cultura e à natureza
locais.
As educadoras estão em sintonia com
Malvezzi (2007, p. 08), quando o autor
situa que o “Semiárido não é apenas clima,
vegetação, solo, sol ou água. É povo,
música, festa, arte, religião, política e
história. É processo social. Não se pode
compreendê-lo de um ângulo só”. E é
nessa perspectiva que os que fazem a
escola vêm trabalhando, de não ver o
Semiárido como lugar de atraso, de seca e
de pobreza, como muito vem sendo
estereotipado esse território, mas sim, sob
a ótica da identificação dos aspectos da
criação de possibilidade de conviver de
forma harmoniosa nessa região,
respeitando os limites naturais do ambiente
e traçando estratégias de como viver e
conviver com a natureza e suas
potencialidades e especificidades.
Considerações finais
No percurso desta pesquisa, pudemos
compreender como os processos escolares
vinham acontecendo, no que concerne às
práticas de contextualização de conteúdos
junto aos educandos e educadores da
escola Plínio Lemos Escola da Terra. Foi
possível, a partir desse contexto, identificar
a experiência de educação contextualizada
para a Convivência com o Semiárido
Brasileiro, encontrada na escola do
Assentamento Marcolino, onde
pudemos identificar e vivenciar esses
processos nas várias formas de educar
contextualizando, encontrando também os
indícios das pedagogias críticas e os
diálogos junto às concepções Freireanas de
mundo. Ademais, pudemos visualizar
processos de uma educação que mesmo
nascendo em meio a precárias situações
estruturais, estes tornam-se invisibilizados
pela luta e força das mães que construíram
e lutaram pela escola. Não estamos
desviando com isso o olhar para as várias
dificuldades enfrentadas, porém, queremos
que seja entendível que a luta nasce
justamente junto a essas dificuldades.
Junto à Escola, foi observado como
se o ensinar e o aprender, como estes se
entrelaçam e se formam nas dinâmicas das
educadoras, como as formas de
contextualização são rotineiras frente às
práticas pedagógicas. Pudemos identificar
ainda, nesse contexto, que os processos
externos às realidades escolares das
crianças são determinantes dentro do
ambiente escolar, na medida em que,
partindo de formas de ensinar que
englobam o meio em que as crianças estão
inseridas, respeitam valores e
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 104-125
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
123
Silva, L. P. C., Araújo, A. M. R. B., & Araújo, A. E. (2018). A Educação Contextualizada para a convincia com o Semiárido
Brasileiro como uma prática emancipadora...
aprendizagens que são inerentes aos
processos de educação não escolar,
valorizando assim as identidades
camponesas das crianças.
Referências
Araújo, A. M. R. B. (2009). Práticas de
intervenção social em escolas rurais: uma
iniciativa para o fortalecimento de escolas
do campo na Paraíba. (Dissertação de
Mestrado). Universidade Federal da
Paraíba, Paraíba.
Arroyo, G. M. (2010). Escola: terra de
direito. In Antunes-Rocha, M. I., & Hage,
S. M. Escola de direito: reinventando a
escola multisseriada (pp. 9-14). Belo
Horizente: Autêntica Editora.
Bogdan, R., & Biklen, S. (1994).
Investigação qualitativa em educação:
Uma introdução à teoria e aos métodos.
Portugal: Editora Porto.
Braga, O. R. (2004). Educação e
convivência com o Semiárido: uma
introdução aos fundamentos do trabalho
político-educativo no semiárido brasileiro.
In Kuster, A., & Mattos, B. H. O. M. A
educação no contexto do semiárido
brasileiro (pp. 27-46). Fortaleza, CE:
Fundação Konrad Adenauer.
Brandão, C. R. (2002). A educação
popular na escola cidadã. Petrópolis:
Editora Vozes.
Brandão, C. R., & Streck, D. R. (2006).
Pesquisa Participante: o saber da partilha.
Aparecida: Ideias & Letras.
Cordeiro, G. N. K., Reis, N. S., & Hage, S.
M. (2011). Pedagogia da Alternância e
seus desafios para assegurar a formação
humana dos sujeitos e a sustentabilidade
do campo. Em Aberto, 24(85), 115-125.
Ferreira, A. B. H. (2000). Mini-Aurélio
Século XXI Escolar: o minidicionário da
língua portuguesa. Rio de Janeiro: Editora
Nova Fronteira.
Freire, P. (1979). Educação e mudança.
Rio de Janeiro, RJ: Editora Paz e Terra.
Freire, P. (1987). Pedagogia do Oprimido.
Rio de Janeiro, RJ: Editora Paz e Terra.
Freire, P. (1996). Pedagogia da
Autonomia: Saberes Necessários à Prática
Educativa. São Paulo, SP: Editora Paz e
Terra.
Hage, S. M. (2011). Por uma escola do
campo de qualidade social: transgredindo o
paradigma (multi)seriado de ensino. Em
Aberto, 24(85), 97-113.
Kuster, A., & Mattos, B. H. O. M. (2004).
A educação no contexto do semiárido
brasileiro. Fortaleza: Fundação Konrad
Adenauer.
Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996.
(1996, 23 de dezembro). Estabelece as
Diretrizes e Bases da Educação
Nacional. Diário Oficial da União, seção 1.
Malvezzi, R. (2007). Semiárido - uma
visão holística. Brasília, DF: CONFEA -
Superintendência de Comunicação e
Marketing.
Mattos, B. H. O. M. (2004). Introdução. In
Kuster, A., & Mattos, B. H. O. M. A
educação no contexto do semiárido
brasileiro (pp. 27-46). Fortaleza, CE:
Fundação Konrad Adenauer.
Mello, M. (2005). Pesquisa participante e
educação popular: da intenção ao gesto.
Porto Alegre, RS: Editora Ísis - IPPOA -
Instituto Popular Porto Alegre.
Oliveira, I. B. (2009). Currículo em tempos
de globalização: Desigualdades, diferenças
e exclusões. In Pereira, M. Z. C., Carvalho,
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 104-125
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
124
Silva, L. P. C., Araújo, A. M. R. B., & Araújo, A. E. (2018). A Educação Contextualizada para a convincia com o Semiárido
Brasileiro como uma prática emancipadora...
M. E. P., & Porto, R. C. C. (Org.).
Globalização, Interculturalidade e
currículo na cena escolar. Campinas, SP:
Alínea Editora.
Pinto, M. P. A., & Germani, G. I. (2012).
Escola Família Agrícola: um modelo auto
gestionário? In Anais do XXI Encontro
Nacional de Geografia Agrária (pp. 1-14),
Uberlândia, MG.
Resolução CNE/CEB n. 1 (2002, 3 de
abril). Institui Diretrizes Operacionais para
a Educação Básica nas Escolas do Campo.
Recuperado de:
http://portal.mec.gov.br/escola-de-
gestores-da-educacao-basica/323-
secretarias-112877938/orgaos-vinculados-
82187207/13200-resolucao-ceb-2002
Taffarel, C. Z., & Munarim, A. (2015).
Pátria educadora e fechamento de escolas
do campo: o crime continua. Revista
Pedagógica, 17(35), 41-51.
Tonneau, J. P., Caniello, E. S., Sabourin,
E., Leal, F., Duqué, G., & Orós, J. (2008).
Universidade Camponesa no Brasil
Documento cnico e avaliação do ciclo
da UNICAMPO. Campina Grande, PB.
formações pautadas nas Diretrizes Operacionais
para a Educação básica nas escolas do Campo.
v
Livro este que foi resultante da I Conferência
Estadual de Educação Contextualizada para a
Convivência com o Semiárido no Ceará, realizada
em 2003, de autoria de Kuster e Mattos (2004).
vi
Aos poucos, vai se introduzindo nos trabalhos
acadêmicos e textos a diferenciação de que
Caatinga com “C” maiúsculo se refere ao Bioma e
caatinga com “c” minúsculo se refere à principal
vegetação do Bioma Caatinga.
vii
Trecho da música “No meu de Serra” de
autoria de Humberto Cavalcanti Teixeira e
interpretada por Luiz Gonzaga.
Recebido em: 24/07/2017
Aprovado em: 11/10/2017
Publicado em: 15/12/2017
i
Este trabalho é recorte de uma pesquisa de
Mestrado avaliada e aprovada pelo Comitê de
ética em 14 de setembro de 2013.
ii
Corroboramos com a definição do minidicionário
Aurélio: Pertinente adj2g. 1. Relativo,
concernente, pertencente (Ferreira, 2000).
iii
De acordo com Salomão Hage (2011, p. 100),
“Nas escolas multisseriadas, um único professor
atua em múltiplas séries concomitantemente,
reunindo, em algumas situações, estudantes da
pré-escola e dos anos iniciais do ensino
fundamental em uma mesma sala de aula”.
iv
Existem algumas formações anuais que, de acordo
com as educadoras, são muito superficiais”.
Ressaltamos que é de dever das instituições
governamentais (Município e Governo do Estado)
promoverem essas formações contínuas para os
professores de escolas públicas, estando essas
ORCID
Luana Patrícia Costa Silva
http://orcid.org/0000-0002-7949-0975
Albertina Maria Ribeiro Brito de Araújo
http://orcid.org/0000-0003-1357-1366
Alexandre Eduardo de Araújo
http://orcid.org/0000-0002-1422-9864
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 104-125
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
125
Como citar este artigo
/
How to cite this article
/
Como citar este artículo:
APA:
Silva, L. P. C., Araújo, A. M. R. B., & Araújo, A. E.
(2018). A Educação Contextualizada para a
convivência com o Semiárido Brasileiro como uma
prática emancipadora. Rev. Bras. Educ. Camp., 3(1),
104-125.
ABNT:
SILVA, L. P. C.; ARAÚJO, A. M. R. B.; ARAÚJO,
A. E. A Educação Contextualizada para a
convivência com o Semiárido Brasileiro como uma
prática emancipadora. Rev. Bras. Educ. Camp.,
Tocantinópolis, v. 3, n. 1, p. 104-125, 2018.
Revista Brasileira de Educação do Campo
The Brazilian Scientific Journal of Rural Education
A
RTIG
O
/
A
RTICLE
/
A
R
C
ULO
DO
I:
h
tt
p
:/
/
d
x.d
o
i.
o
r
g/
10.20
873/
u
ft.2525
-4863.2018v3
n
1p
126
O Curso Técnico em Cooperativismo realizado pelo
PRONERA: uma análise baseada na Abordagem das
Capacitações
Conceição Coutinho Melo
1
, Paulo Dabdab Waquil
2
1
Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - INCRA. Coordenação Geral de Educação do Campo e
Cidadania - DDE. SBN Quadra 1 Bloco D. Ed. Palácio do Desenvolvimento. Brasília - DF. Brasil.
ceicao4@yahoo.com.br
2
Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFRGS.
RESUMO. Este artigo apresenta resultados de uma pesquisa
sobre o Curso Técnico em Cooperativismo (TAC), que surge na
década de 90 como demanda do MST em formar técnicos para
atuar nas cooperativas dos assentamentos rurais de Reforma
Agrária. Atualmente o curso é realizado através do Programa
Nacional de Educação na Reforma Agrária PRONERA, sob o
paradigma da Educação do Campo. A Educação do Campo é
aqui compreendida como um dos alicerces para o
desenvolvimento rural, sob um prisma multidimensional. Diante
disso, buscou-se um desafiador diálogo entre Economia e
Educação do Campo, contribuindo na discussão sobre um
campo empírico ainda não explorado sob a égide da Abordagem
das Capacitações. Esta abordagem, desenvolvida pelo indiano
Amartya Sen, discute o desenvolvimento como expansão das
capacitações das pessoas para viver a vida que almejam, onde a
renda monetária não é o primordial para o bem-estar, mas outras
variáveis (educação, saúde, liberdade política, etc.). Pretendeu-
se investigar se o curso TAC contribui para a expansão das
capacitações de seus egressos e para o desenvolvimento dos
assentamentos rurais. Todos os entrevistados continuaram seus
estudos e atuaram, depois de formados, em entidades ligadas aos
assentamentos. O processo formativo do TAC tem contribuído
na expansão da liberdade dos egressos.
Palavras-chave: Educação do Campo, PRONERA, Abordagem
das Capacitações.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 126-152
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
126
Melo, C. C., Waquil, P. D. (2018). O Curso Técnico em Cooperativismo realizado pelo PRONERA...
The Technical Course in Cooperatives by PRONERA: an
analysis based on the People’s Capabilities Approach
ABSTRACT. This paper presents results from a research about
the Cooperatives Thechnical Course (TAC), originated in the
90’s after a need of the MST for forming technical staff for
working in cooperatives located in rural settlements as part of
the Land Reform. Nowadays, the course is taught through the
National Program of Education within the Land Reform
(PRONERA), under the paradigm of Rural Education. Rural
Education is understood as one of the motivations for the rural
development, from a multidimensional viewpoint. Therefore, a
challenging dialogue between Economy and Rural Education
emerged, and contributed to a field little explored under the
aegis of the People’s Capabilities Approach. In such approach,
developed by the Indian Amartya Sen, development is seen as
people’s capabilities expansion for living the lives they yearn,
where monetary income is not essential for the well-being, but
other variables (education, health, political liberty, etc.). The
goal in this research was to investigate if the TAC contributes to
the expansion of capabilities of its graduates and to the
development of rural settlements. All the people interviewed
graduated, and after that, worked in entities related to rural
settlements. The TAC has contributed to the graduates’ liberty
expansion.
Keywords: Rural Education, PRONERA, People’s Capabilities
Approach.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 126-152
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
127
Melo, C. C., Waquil, P. D. (2018). O Curso Técnico em Cooperativismo realizado pelo PRONERA...
El Curso Técnico en Cooperativismo realizado de
PRONERA: un análisis basado en el Abordaje de
Capacidades
RESUMEN. Este artículo presenta resultados de una
investigación sobre el Curso Técnico en Cooperativismo (TAC),
surgido en los años 90 como demanda del MST de formar
técnicos para cooperativas de asentamientos rurales de la
Reforma Agraria. Actualmente, el curso es realizado a través del
Programa Nacional de Educación en la Reforma Agraria
(PRONERA), bajo el paradigma de Educación Rural. La
Educación Rural es comprendida aquí como uno de los
alicientes para el desarrollo rural, con enfoque
multidimensional. Por tanto, se buscó un diálogo desafiante
entre Economía y Educación Rural, contribuyendo a la discusión
sobre un campo empírico todavía no explorado bajo la guía del
Abordaje de Capacidades. Este abordaje, desarrollado por el
hindú Amartya Sen, discute el desarrollo como expansión de las
capacidades de las personas para vivir la vida que anhelan, no
siendo primordial el ingreso monetario para el bienestar, sino
otras variables (educación, salud, libertad política, etc.). Se
pretendió investigar si el curso TAC contribuye a la expansión
de las capacidades de sus graduados y al desarrollo de
asentamientos rurales. Todos los entrevistados continuaron sus
estudios y actuaron, al graduarse, en entidades ligadas a
asentamientos. El TAC ha contribuido a la expansión de la
libertad de los egresados.
Palabras clave: Educación Rural, PRONERA, Abordaje de
Capacidades.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 126-152
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
128
Melo, C. C., Waquil, P. D. (2018). O Curso Técnico em Cooperativismo realizado pelo PRONERA...
Introdução
O objetivo principal desta pesquisa
foi investigar se o curso Técnico em
Cooperativismo (TAC), realizado através
do Programa Nacional de Educação na
Reforma Agrária (PRONERA), interfere
na realização de funcionamentos e
expansão das capacitações de seus
egressos.
Para alcançar este objetivo foram
delineados três objetivos específicos: a)
caracterizar o perfil e a trajetória dos
egressos antes e depois de formados no
TAC; b) identificar se o TAC pode ser
considerado um instrumento de expansão
das capacidades dos egressos; e c)
conhecer a análise coletiva que se faz sobre
o resultado do curso TAC, como
instrumento de expansão de capacidades
dos egressos, para o desenvolvimento dos
assentamentos, sob o ponto de vista dos
representantes da Cooperativa Central dos
Assentamentos do RS (COCEARGS).
Conhecer qualitativamente os
resultados deste curso técnico, utilizando-
se de dados quantitativos e de uma
abordagem teórica ainda o utilizada para
este campo empírico, tornou-se um desafio
que se pretendeu alcançar a partir do
seguinte problema de pesquisa: o curso
Técnico em Cooperativismo (TAC)
realizado pelo PRONERA no Rio Grande
do Sul tem contribuído para a expansão das
capacitações dos egressos?
Existem muitas vertentes teóricas
que se baseiam na geração de renda como
variável imprescindível ao
desenvolvimento. Estas abordagens não
dariam conta, portanto, da complexidade
do assunto tratado neste trabalho.
Resolveu-se, pois, lançar mão de uma
abordagem multidimensional na qual o
desenvolvimento fosse analisado para além
da geração de renda, incluindo o debate
acerca da justiça social e que o paradigma
da Educação do Campo pudesse ser
considerado parte integrante do
desenvolvimento rural.
Dessa forma, a perspectiva que mais
se adequou a este trabalho foi a
Abordagem das Capacitações - ou
Abordagem das Capacidades, a depender
da tradução. Portanto, no referencial
teórico utilizado, lançou-se mão de um
audacioso diálogo entre esta Abordagem e
os paradigmas da Educação do Campo.
Foi realizado um trabalho de campo
em nível nacional, visto que o curso
analisado recepciona estudantes de todo o
país, de forma que houvesse em cada
região, pelo menos uma entrevista, na
tentativa de apreender parte da diversidade
brasileira, cujos dados, posteriormente,
demonstraram as diferentes realidades
encontradas, as quais interferem
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 126-152
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
129
Melo, C. C., Waquil, P. D. (2018). O Curso Técnico em Cooperativismo realizado pelo PRONERA...
diretamente na expansão das capacitações
dos egressos.
Esta pesquisa, também pôde
proporcionar às entidades executoras do
curso TAC um banco de dados digital de
todos os egressos, com informações a
respeito do perfil de cada um - origem,
sexo, idade - como também 30 mapas e 54
gráficos dos ingressantes,
desistentes/reprovados e dos próprios
egressos. Para além da discussão
acadêmica que esta pesquisa proporcionou,
essa contribuição para as entidades foi um
importante resultado, para os
pesquisadores de modo geral que
porventura se interessem pela temática,
cujas informações a partir desse trabalho,
já encontrarão sistematizadas.
O curso TAC, para além do que se
pretendia investigar, apresentou variáveis
que ultrapassam os resultados esperados de
um curso técnico. Além da capacitação
profissional, a maior parte dos egressos
entrevistados relatou que teve uma
formação humana que contribui até os dias
atuais na sua vida, como também nas
dinâmicas dos assentamentos rurais de
Reforma Agrária.
Abordagem das Capacitações e
Educação do Campo: um diálogo
possível
Abordagem das Capacitações
A Abordagem das Capacitações foi
desenvolvida por Amartya Kumar Sen a
partir de um diálogo, em muitos aspectos,
com a filósofa Marta Nussbaum. Amartya
Sen é filósofo e economista indiano cujas
contribuições teóricas serviram de base
para a criação do Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH). Em
1998, ganhou o Nobel de Economia, por
suas contribuições à economia do bem-
estar. Seus trabalhos versam,
prioritariamente, sobre desenvolvimento,
desigualdade e justiça.
Apesar de inúmeros trabalhos
publicados, ainda é um desafio à tentativa
de operacionalização da Abordagem das
Capacitações. Alguns trabalhos realizados
por pesquisadores da Universidade Federal
do Rio Grande do Sul (UFRGS) sobre
desenvolvimento rural têm sido
referenciais importantes de
operacionalização da abordagem seniana,
dentre os quais destacam-se no referencial
teórico deste trabalho Kuhn (2004) e
Mattos (2006), os quais contribuem
significativamente para auxiliar na
interpretação das ideias de Amartya Sen.
Crítico da abordagem utilitarista, Sen
(2010) propõe uma nova forma de
considerar os elementos constituintes da
análise do bem-estar. O autor afirma que a
renda passa a ser um meio de realizações, e
não o fim em si do desenvolvimento. Por
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 126-152
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
130
Melo, C. C., Waquil, P. D. (2018). O Curso Técnico em Cooperativismo realizado pelo PRONERA...
esta razão, o Produto Nacional Bruto
(PNB) de um país, ou até mesmo o Produto
Interno Bruto (PIB) per capita, não reflete
a realidade de desenvolvimento do mesmo.
Isto porque outras questões podem ser
mais relevantes que a renda per capita, em
uma análise avaliatória de
desenvolvimento humano. Ele sugere, pois,
que outras variáveis devam ser ponderadas
na base informacional, como, por exemplo,
idade, estado de saúde, escolaridade, clima
social, etc. (Sen, 2010).
Para Sen (2010), a parte central do
processo de desenvolvimento é a superação
de privações de liberdades, que não
significa apenas tornar a vida mais rica,
mas tornar as pessoas seres sociais mais
completos, interagindo e influenciando o
mundo, exercendo sua condição de agente.
Para os indivíduos exercerem esta
condição, as privações de liberdade
deverão ser eliminadas, e somente dessa
forma os indivíduos teriam escolhas e
oportunidades.
Algumas abordagens identificam o
desenvolvimento como o crescimento do
PNB; PIB; aumento de rendas individuais;
industrialização; avanço tecnológico, etc.
Na Abordagem das Capacitações, estes são
os meios de expandir as liberdades, às
quais também dependem de outros
determinantes, como disposições sociais e
econômicas e direitos civis. A liberdade é
o fim e o meio do desenvolvimento; este é
o objetivo em que, consoante Sen (2010),
devemos nos concentrar, e não apenas nos
meios.
Na Abordagem das Capacitações, a
concepção de desenvolvimento, portanto,
consiste na eliminação de privações de
liberdade que limitam as escolhas e
oportunidades das pessoas exercerem sua
condição de agentes.
Para um melhor entendimento deste
ponto nevrálgico da abordagem em
questão, sugere-se a leitura do trabalho de
Kuhn (2004), o qual pontua o seguinte:
Nesse sentido, percebe-se uma
concepção de desenvolvimento
baseada na forma de vida que a
pessoa tem e se ela teve ou não opção
de levar a vida que leva. Para além de
informações objetivas, Sen indica a
necessidade de perceber a avaliação
que o agente tem de sua própria
condição. É preciso identificar se a
pessoa valoriza sua vida e as opções
que tem (ou ainda, se valoriza as
opções que não pode ter ou se
desconhece as opções disponíveis a
outras pessoas). Diversos tipos de
privações, encontradas tanto nos
países ricos como nos países pobres,
passam agora a incorporar uma noção
de desenvolvimento que vai além da
percepção da renda monetária. Sen
aposta na análise de condições de
vida e das oportunidades dos agentes
para conscientizarem-se e exercerem
sua “condição de agência”. É preciso
perceber se, além das condições
materiais de vida, as pessoas têm
acesso a oportunidades que permitem
que elas possam melhorar sua
qualidade de vida. (Kuhn, 2004, p.
37-38).
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 126-152
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
131
Melo, C. C., Waquil, P. D. (2018). O Curso Técnico em Cooperativismo realizado pelo PRONERA...
A Abordagem das Capacitações
procura avaliar a liberdade de escolha.
Além do princípio da liberdade, outros dois
componentes fundamentais dessa
abordagem precisam ser esclarecidos:
funcionamentos (functionings) e
capacitações (capabilities).
Os funcionamentos são os elementos
constitutivos do “estado” da pessoa. São o
“ser” (being) e o “fazer” (doing) do ser
humano. Em outras palavras, são as várias
coisas que o indivíduo pode ser e fazer.
Para contribuir com a interpretação
da concepção de Capacitações
(capabilities), faz-se aqui referência ao
trabalho de Mattos (2006), o qual explica
que as Capacitações são funcionamentos
alternativos, ou seja, são estados ainda não
executados efetivamente pela pessoa, mas
que são passíveis disto e tornam-se
funcionamento por meio de um processo
de escolha. Ainda sobre este assunto,
Mattos(2006) acrescenta o que segue:
O conjunto capacitário (capability ou
capability set) é o conjunto de todas
as capacitações. Logo, o conjunto de
possibilidades que a pessoa tem para
levar a vida que deseja. Este conjunto
está revelando, em última análise, a
liberdade da pessoa em escolher a
vida que deseja levar (Mattos, 2006,
p. 40).
Com base na perspectiva seniana,
capacitação é um tipo de liberdade que
permite realizar combinações alternativas
de funcionamentos. Estes consistem em
uma diversidade de coisas que uma pessoa
pode considerar importante fazer ou ter.
Isto não se resume à ideia de renda, pois
esta é diferente de capacitação, visto que, a
depender da idade, estado de saúde, etc.,
pode-se necessitar de mais renda para obter
os mesmos funcionamentos.
Em contraste com as linhas de
pensamento baseadas na utilidade ou
nos recursos, na abordagem das
capacidades a vantagem individual é
julgada pela capacidade de uma
pessoa para fazer coisas que ela tem
razão para valorizar. Com relação às
oportunidades, a vantagem de uma
pessoa é considerada menor que a de
outra se ela tem menos capacidade
menor oportunidade real para
realizar as coisas que tem razão para
valorizar. O foco aqui é a liberdade
que uma pessoa realmente tem para
fazer isso ou ser aquilo coisas que
ela pode valorizar fazer ou ser (Sen,
2011, p. 265-266).
A expansão da liberdade, segundo a
Abordagem das Capacitações, é vista como
o principal fim e meio do
desenvolvimento. Adotar a visão deste
como liberdade é compreender o processo
de inter-relações entre as diferentes
liberdades e disposições institucionais, que
proporcionam oportunidades sociais. Estas
oportunidades geram liberdades, que por
sua vez influenciam as oportunidades: “...
oportunidades sociais de educação e
assistência médica, que podem requerer a
ação pública, complementam
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 126-152
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
132
Melo, C. C., Waquil, P. D. (2018). O Curso Técnico em Cooperativismo realizado pelo PRONERA...
oportunidades individuais de participação
econômica e política e também favorecem
nossas iniciativas para vencer privações”
(Sen, 2010, p. 10).
Educação do Campo
Em que pese à construção da
dicotomia campo-cidade (gerada pelo fato
de os contextos político e socioeconômico
da realidade brasileira estarem sendo cada
vez mais permeados pelas relações atuais
entre as cidades e o campo), ainda assim
consideramos que o legado histórico
necessita de políticas específicas,
principalmente na área da educação.
A complexidade das condições
socioeconômicas e educacionais das
populações rurais exige maior
coerência na construção de
estratégias que visem alavancar a
qualidade da Educação do Campo.
Desenhar políticas que busquem
suprir as enormes desigualdades no
direito ao acesso e a permanência na
escola para este grupo faz parte desta
estratégia, dito de outra forma: o que
se busca não é somente a igualdade
de acesso ‘tolerada’ pelos liberais,
mas fundamentalmente a igualdade
de resultados (Molina, 2008, p. 28).
Fernandes e Molina (2004) fazem
menção à “superioridade” atribuída ao
espaço urbano, que mascarou as
consequências do modelo de
desenvolvimento agrícola das últimas
décadas, associando aos camponeses,
indígenas e quilombolas a imagem de
grupos inferiores da sociedade,
ocasionando, pois, a negação de direitos.
Portanto, a materialização do direito à
Educação do Campo configura-se como
importante instrumento com potencial -
aliado a outras políticas sociais - para
diminuir as desigualdades e de expansão
das capacidades dos indivíduos para
fazerem o que desejam. “É a compreensão
da ideia do direito a ter direitos que
fundamenta a ação dos movimentos sociais
como demandantes do que está previsto na
lei, mas não materializado na realidade
social” (Molina, 2008, p. 23).
Considerando a educação como uma
das prioridades no meio rural, frente às
históricas injustiças ocasionadas pela
dicotomia entre campo e cidade, as
possibilidades concretas de realização de
justiça social nessa dimensão perpassam
pela discussão acerca de políticas de
redistribuição e reconhecimento.
Os povos do campo
i
, diante desse
legado têm sido tolhidos de muitas
liberdades que contribuem para seu bem-
estar. Como consequência, estão em
desvantagem diante das escolhas do modo
de vida. No âmbito educacional,
principalmente pela privação de acesso a
escolas ou de ensino adequado à realidade
rural, esses povos encontram-se diante de
possibilidades reais muito distintas da
população urbana.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 126-152
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
133
Melo, C. C., Waquil, P. D. (2018). O Curso Técnico em Cooperativismo realizado pelo PRONERA...
Essa desigualdade precisa ser
reparada, de modo que a população das
áreas rurais e da cidade possam ter
resultados semelhantes. O meio para isso,
diante dessas diferenças, também deverá
ser diferenciado. Isto justifica, por
exemplo, a criação, nas Universidades, de
turmas especiais com processo seletivo e
metodologias próprias de graduação para
o público da Reforma Agrária.
Isso que foi dito relaciona-se com o
que Sen (2008) assevera: o que deve ser
igualado são as capacitações, as
oportunidades para atingir objetivos
ligados ao bem-estar weel-being
objectives (Sen, 2008).
A educação é um importante
instrumento para diminuir as
desigualdades, e a Abordagem das
Capacitações contribui para a análise desta
área, conforme aponta Picolotto:
O objetivo intrínseco da Abordagem
das Capacitações é ver a educação
como expansão das capacitações das
pessoas e analisar as desigualdades
educacionais, conforme Unterhalter
(2003), Robeyns (2006), Unterhalter,
Vaughan e Walker (2007). A AC
também pode ser considerada como
uma resposta às limitações das
teorias que avaliam educação
somente a partir da ótica da
satisfação de desejos, recursos ou
resultados (2010, p. 2).
As especificidades de grupos sociais
demandam um tratamento público para a
educação, ou seja, exigem alternativas para
assegurar esta prerrogativa. Tomando por
base as diversas teorias de justiça social,
inclusive a Abordagem das Capacitações,
este deveria ser o papel das políticas
públicas: atender de forma diferenciada os
que possuem necessidades diferenciadas.
No entanto, o atendimento dessas
demandas depende, em parte, da forma
como são percebidas as desigualdades e os
desiguais, pois reflete no modo como o
Estado compreende a si mesmo e atua. Os
desiguais são vistos principalmente como
carentes, marginais, excluídos e
inconscientes, e para cada um desses tipos
o Estado se enxerga e atua diferentemente,
ocultando muitas vezes o problema real da
desigualdade, através das visões
reducionistas dos coletivos feitos desiguais
- coletivos sociais, raciais, do campo, etc.
(Arroyo, 2010).
Contudo, nas políticas educacionais
públicas do ensino básico e processos
avaliatórios, as desigualdades construídas
historicamente muitas vezes são
desconsideradas, e o foco recai sobre
fatores intraescolares (desigualdades
escolares) como, por exemplo, a oferta de
turmas noturnas para educandos fora da
faixa etária. A responsabilização, por sua
vez, é atribuída aos professores e
estudantes. Por isso, Arroyo chama atenção
para a retomada urgente da relação não
superada entre educação e desigualdades
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 126-152
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
134
Melo, C. C., Waquil, P. D. (2018). O Curso Técnico em Cooperativismo realizado pelo PRONERA...
para repensar o Estado, instituições e
políticas. Quando os “coletivos feitos
desiguais” se afirmam como sujeitos de
direitos de políticas, “... as desigualdades
dos coletivos sem-teto, sem-terra, sem-
espaço, sem-comida, sem-universidade,
sem-territórios entram na escola como
nunca antes e interrogam as políticas
educativas, sua gestão e suas análises”
(Arroyo, 2010, p. 1384).
Arroyo (2010) ressalta que as
desigualdades em abstrato não têm rosto
ou lugar, mas os coletivos feitos desiguais
têm raça, classe, etnia, gênero e lugar.
Portanto, pensar as desigualdades de forma
abstrata tem trazido consequências sérias
para a formulação de políticas, sua gestão e
análises. Ainda segundo o autor, cada vez
mais as políticas, nessa perspectiva,
centralizam a ação no Estado, com
políticas generalistas. Assim, os sujeitos
das desigualdades o vistos como
passivos de políticas de um Estado
benevolente, protetor dos desiguais.
A diferença social torna-se um meio
de desigualdade, quando as necessidades
específicas de grupos sociais são ignoradas
ou tratadas de forma uniforme,
desconsiderando-se suas especificidades. O
não reconhecimento, portanto, leva à
construção de territórios de cidadania e de
não cidadania, conforme Arroyo (2010):
A produção das desigualdades esteve
e continua associada a processos de
não reconhecimento, de inexistência,
de não pertença à comunidade
política nem territorial. Como
consequência as presenças
afirmativas dos outros carregam um
profundo significado de
pertencimento, de ocupação do
espaço público, de espaços urbanos,
de terras, territórios, instituições,
escolas, universidades, até do Estado.
Daí que a entrada na escola e na
universidade seja tão importante para
os coletivos feitos desiguais,
inexistentes, desterritorializados,
porque diferentes. Entrar passa a ser
um gesto e ritual carregado de
significados de existência e de
pertença, de disputa e de ocupação de
territórios. Significados radicais que
dão novos sentidos a dominar o
letramento ou numeramento (Arroyo,
2010, p. 1407).
A institucionalização da educação
como direito não foi suficiente por si
para o atendimento às demandas dos
desiguais.
É preciso compreender que os
princípios legais da educação são
convenções sociais que dão ao
Estado as diretrizes e as bases para
estabelecer políticas, neste caso,
educacionais que visem à conquista
dos direitos sociais. Pois, uma
criança não escolarizada, não letrada,
é a certeza de que o direito à
educação, à formação integral, lhe foi
negada, retirada, não, apenas de uma
pessoa; de uma nação que não se fez
igualitária, justa, inclusiva (Garcia,
2008, p. 26-27).
O acesso à educação, neste trabalho
definido como intitulamento, foi
dificultado, como anteriormente relatado, à
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 126-152
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
135
Melo, C. C., Waquil, P. D. (2018). O Curso Técnico em Cooperativismo realizado pelo PRONERA...
grande parcela da população rural
brasileira, devido ao descaso com a
educação rural. A retenção dessa liberdade
(liberdade de escolha, na concepção
seniana), ou seja, a dificuldade de acesso à
educação principalmente no campo
significa, em outras palavras, a privação da
liberdade de estudar e consequentemente
um entrave ao desenvolvimento rural.
A educação como movimento de
reestruturação da educação para o campo
manifesta-se como uma forma política de
redistribuição e reconhecimento às
populações rurais enquanto sujeitos de sua
própria história, que em muitos casos estão
organizados em movimentos sociais.
Os direitos questionam as
desigualdades sociais e recolocam o
julgamento das questões sociais sob a
ótica da igualdade, da diferença e da
justiça, por isso, os direitos não estão
restritos ao marco legal. O direito
para ser direito não necessariamente
precisa ser jurídico, mas deve ser
reconhecido como tal. Portanto, os
movimentos sociais, requerem
sujeitos ativos que tomam para si a
definição de seus direitos e buscam
seu reconhecimento efetivado (Silva,
2006, p. 85).
Destaca-se aqui a materialização do
direito à Educação do Campo a partir da
experiência do PRONERA que será
abordada de forma mais detalhada a seguir.
Esta política tem em seus princípios e
objetivos atender às especificidades de
populações do campo, que historicamente
foram constituidores de coletivos feitos
desiguais não apenas no âmbito de
diferenças econômicas, mas também na
dimensão do não reconhecimento de
direitos, como, por exemplo, o direito à
educação específica.
PRONERA e o Curso Técnico em
Cooperativismo TAC
No final dos anos de 1990, o
Programa Nacional de Educação na
Reforma Agrária - PRONERA surge como
uma política social compensatória
ii
, face ao
tensionamento de diversos atores sociais,
notadamente o Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST),
frente ao governo federal, à época do então
presidente Fernando Henrique Cardoso,
cuja gestão foi marcada pelo
recrudescimento do Estado mínimo. Isso
ocasionou a forte pressão política em
relação ao debate sobre o atendimento às
famílias rurais de acampamentos e
assentamentos de reforma agrária. Nesse
contexto, a educação rural, além de não dar
conta da demanda quantitativa, possuía
uma metodologia de ensino desconectada
da realidade dessas famílias.
Diante da dicotomia campo-cidade
gerada pelo histórico político, social
e econômico da realidade brasileira,
em que pese estar sendo cada vez
mais permeável pelas relações atuais
entre as cidades e o campo, o rural
necessita de políticas específicas, as
quais, na década de 1990 e início dos
anos 2000, surgem principalmente
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 126-152
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
136
Melo, C. C., Waquil, P. D. (2018). O Curso Técnico em Cooperativismo realizado pelo PRONERA...
como resposta às reivindicações dos
movimentos sociais. (Castro & Melo,
2014, p. 98).
Nesta conjuntura, o PRONERA teve
seu marco político em meados de julho de
1997, quando ocorreu o I Encontro
Nacional de Educadoras e Educadores da
Reforma Agrária (ENERA), na
Universidade de Brasília (UnB). Este
evento foi promovido pelos seguintes
atores: MST, UnB, Fundo das Nações
Unidas para a Infância (UNICEF),
Organização das Nações Unidas para a
Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) e
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
(CNBB).
Em 1998, em Luziânia (GO), estes
mesmos atores sociais promoveram a
Conferência Nacional por uma Educação
Básica do Campo, e a partir disso deu-se
início à Articulação Nacional por uma
Educação Básica do Campo, que defende o
campo como um espaço de vida digna e a
construção de uma educação voltada à
realidade concreta das famílias rurais.
Este acúmulo de ações, discussões e
articulações, aliado ao apoio da sociedade
à reforma agrária, culminou na criação do
PRONERA, através da Portaria nº 10 de 16
de abril de 1998, do Ministério
Extraordinário da Política Fundiária, sendo
executado pelo Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária (INCRA).
Nesta Portaria, destaca-se o objetivo
do PRONERA de fortalecer a educação
nos projetos de assentamentos de reforma
agrária, utilizando metodologias
específicas para o campo que
contribuíssem para o desenvolvimento
rural sustentável destes. Este Programa,
apesar de ter sido criado em 1998, torna-se
reconhecido normativamente como Política
Pública somente a partir do Decreto
7.352, de 04 de novembro de 2010.
Dentre os cursos formais realizados
por meio do PRONERA, destaca-se o
Curso Técnico em Cooperativismo. Até o
lançamento do novo Catálogo Nacional de
Cursos Técnicos de Nível Médio,
publicado pelo Ministério da Educação
(MEC) em 2008, este curso era
denominado Curso Técnico em
Administração de Cooperativas, cuja sigla
era e permanece sendo, tanto para o
PRONERA quanto para o MST,
simplesmente "TAC".
O TAC surgiu no município de
Braga, no estado do Rio Grande do Sul em
1993, formando jovens e adultos de todo o
país, e funcionou com base em um sistema
de autogestão, aliando trabalho e estudo.
Todavia, em 1999, para a realização de
uma turma do TAC (turma 05) foi firmado
o primeiro convênio do
INCRA/PRONERA com o Instituto
Técnico de Capacitação e Pesquisa da
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 126-152
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
137
Melo, C. C., Waquil, P. D. (2018). O Curso Técnico em Cooperativismo realizado pelo PRONERA...
Reforma Agrária (ITERRA), em
Veranópolis/RS. No período compreendido
entre 1999 e 2016, foram concluídas 10
turmas do referido curso, todas realizadas
no ITERRA por intermédio do PRONERA
(Pesquisa Direta, INCRA
Sede/PRONERA, out/2017).
Christoffoli (2007), Menezes Neto
(2003), Cerioli (1997), etc. apresentam a
importância do TAC em razão da sua
especificidade metodológica, isto é, do
trabalho como elemento pedagógico e sua
vinculação direta com o processo
produtivo das cooperativas ligadas ao
MST.
Atualmente, a duração do TAC é de
três anos e meio, incluindo em seu
currículo, a partir de 2003, aulas de
Planejamento do Desenvolvimento
Sustentável dos Assentamentos. Segundo
Christoffoli (2007), esta mudança na
estrutura curricular se deu para que se
pudessem desenvolver metodologias que
ajudassem a organizar os assentamentos.
Ademais, é importante ressaltar que,
também com o intuito de organizar os
assentamentos, foi constituída, em 1991
(apenas dois anos antes do surgimento do
curso TAC), a Cooperativa Central dos
Assentamentos do Rio Grande do Sul
(COCEARGS), com sede na cidade de
Porto Alegre.
Esta cooperativa, além de ter como
finalidade organizar os assentamentos do
estado, também surge com o intuito de
representá-los, buscar linhas de crédito,
articular assistência técnica e política dos
assentados, organizar a produção e a
agroindustrialização e incentivar a
cooperação. Ligado à criação desta
cooperativa central, o MST criou, com o
objetivo de estimular e massificar a
cooperação agrícola dentro dos
assentamentos, a Confederação das
Cooperativas da Reforma Agrária
(CONCRAB), em 1992, articulando todas
as cooperativas em âmbito nacional
(Santalucia & Hegedus, 2005).
Desta forma, o TAC, quando da sua
criação, em 1993, esteve estreitamente
ligado ao desenvolvimento das discussões
e práticas de cooperação dos
assentamentos ligados ao MST, e “... surge
como demanda do Movimento para a
formação de quadros técnicos capazes de
dar conta do gerenciamento das
organizações associativas que vinham
sendo constituídas nos assentamentos ...”
(Christoffoli, 2007 p. 71).
Para os assentamentos do Rio
Grande do Sul, este curso é estratégico,
uma vez que contribui com a organização e
o funcionamento das cooperativas
centralizadas pela COCEARGS. Porém,
existe um questionamento que
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 126-152
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
138
Melo, C. C., Waquil, P. D. (2018). O Curso Técnico em Cooperativismo realizado pelo PRONERA...
consideramos relevante: qual seria a
contribuição deste curso na vida dos
egressos?
A Pesquisa de Campo e os principais
resultados encontrados
Na pesquisa exploratória foi possível
o acesso a algumas informações das 493
pessoas que ingressaram no TAC (até o
período desta pesquisa), das quais 265
eram egressos do curso e 228 foram
desistentes/reprovados/transferidos. Dentre
este universo, a pesquisa se deteve aos
egressos das turmas formadas em parceria
entre INCRA, ITERRA e o Instituto de
Pesquisa e Educação do Campo (IPE-
CAMPO), no período de 1999 a 2015,
totalizando o quantitativo de 265 egressos.
Foram analisadas 493 pastas
individuais manualmente - Estas
informações estavam dispersas em diversas
folhas de papel, dentro de antigas pastas de
arquivo suspenso - das quais 265 eram de
egressos e 228 de
desistentes/reprovados/transferidos. Foram
anotadas as informações que serviriam
para esta pesquisa: turma, nome completo,
sexo, data de nascimento,
assentamento/município/estado de origem.
Em relação aos desistentes ou reprovados
do curso, foram anotados apenas o estado
de origem.
O curso TAC teve quatro turmas
formadas anteriormente à criação do
PRONERA, porém esta pesquisa se deteve
às turmas formadas através deste
programa, ou seja, a partir do momento
que este curso passa a ser ofertado através
de uma política pública, e não apenas pelo
MST.
Deste universo escolhido optou-se
pesquisar apenas uma amostragem, apesar
desta pesquisa possuir cunho qualitativo e
utilizar algumas ferramentas do método
quantitativo, a escolha de amostragem não
objetivou a necessidade de
representatividade do universo. A
preocupação gira em torno da qualidade
das informações, atingindo certo grau de
saturação das mesmas. Além disso, para o
atingimento dos objetivos desta pesquisa,
também os atuais representantes da
COCEARGS e da CONCRAB também
serviram de unidade de análise.
Inicialmente foi contatada a diretoria
do Instituto de Educação Josué de Castro
(IEJC), responsável pela administração do
curso no ITERRA E IPE CAMPO (as três
instituições funcionam no mesmo prédio,
localizado no município de
Veranópolis/RS), para explicar os
objetivos da pesquisa e um dos
coordenadores pedagógicos dessa
instituição indicou um representante da
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 126-152
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
139
Melo, C. C., Waquil, P. D. (2018). O Curso Técnico em Cooperativismo realizado pelo PRONERA...
COCEARGS, coincidentemente egresso do
TAC, para iniciar o estudo.
A partir de uma conversa inicial com
esse diretor, que posteriormente participou
da pesquisa enquanto direção da
COCEARGS foi-nos apresentado um
egresso que atualmente trabalha nesta
cooperativa central. Daí em diante, cada
pessoa contatada fornecia o número do
telefone ou correio eletrônico de alguém
que pudesse contribuir para esse trabalho,
de modo que esta “rede solidária”, no
decorrer da pesquisa, nos forneceu
diversos contatos, que em sua maioria se
disponibilizou a participar, embora nem
todos tenham podido, por motivos pessoais
ou de logística.
Por fim, a amostragem foi de 22
pessoas: 19 egressos, dois diretores da
COCEARGS e um diretor da CONCRAB.
Quadro 1 Distribuição dos egressos entrevistados por origem.
Região
Estado de origem
Quantidade de
egressos entrevistados
Centro Oeste (CO)
Mato Grosso do Sul - MS
02
Nordeste (NE)
Ceará - CE
01
Norte (N)
Pará - PA
03
Sudeste (SE)
Minas Gerais - MG
02
Sul (S)
Paraná PR
03
Rio Grande do Sul - RS
08
TOTAL
19
Fonte: Pesquisa de campo (2015).
Para a realização das entrevistas com
os egressos, além daquelas realizadas em
Porto Alegre (RS), foram necessárias oito
viagens de campo, assim distribuídas: uma
para Eldorado do Sul (RS); duas para
Veranópolis (RS); uma para Governador
Valadares (MG); uma para Fortaleza (CE);
uma para Belém (PA); uma para Castanhal
(PA); e uma para Ponta Porã (MS). Em que
pese ter havido três entrevistados do estado
do Paraná, este não foi visitado na pesquisa
de campo. Esses egressos foram
encontrados no Rio Grande do Sul.
Conforme explicado anteriormente,
esta pesquisa se deteve aos dados das
turmas 05 à 13, todas concluídas e
executadas através de convênios entre o
INCRA/PRONERA e o ITERRA e o
IPECAMPO. As turmas anteriores, além
de não terem sido executadas através do
PRONERA, tiveram seus documentos
destruídos no incêndio ocorrido no local
onde funcionava o TAC, município de
Braga/RS.
A partir da análise de 493 pastas
individuais dos ingressantes no curso TAC
nessas nove turmas, foi criado um banco
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 126-152
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
140
Melo, C. C., Waquil, P. D. (2018). O Curso Técnico em Cooperativismo realizado pelo PRONERA...
de dados com informações básicas dos
egressos: nome, sexo, data de nascimento,
origem (assentamento, município, estado),
bem como a origem dos
evadidos/reprovados/transferidos.
A análise deste banco de dados
permitiu, através da estatística descritiva, a
elaboração de algumas representações
gráficas para apresentar o perfil das
turmas. Cabe dizer que este material foi
enviado para o ITERRA, de forma que o
próprio instituto ou demais pesquisadores
possam ter acesso.
Apenas os estados do Acre - AC,
Amazonas - AM, Amapá - AP e Roraima -
RR, todos da região Norte, não tiveram
nenhum ingresso nessas nove turmas,
como pode ser observado no mapa a
seguir:
Figura 1: Mapa de alunos ingressos por estado (T5 a T13).
Fonte: Dados da Pesquisa, 2016; IBGE, 2016. Projeto Cartográfico: Antonio Wellington Lira Moreira.
A maior incidência de origem dos
ingressos é da região Sul e a menor
incidência da região Norte, provavelmente
por conta da localização da escola onde
ocorre o TAC: Veranópolis/RS. A turma
09 foi a única que não teve representação
de todas as regiões, não tendo nenhum
ingressante da região Nordeste.
Com base na abordagem seniana este
tipo de informações é importante para
analisar como um mesmo intitulamento
(Curso TAC) tem repercussões
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 126-152
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
141
Melo, C. C., Waquil, P. D. (2018). O Curso Técnico em Cooperativismo realizado pelo PRONERA...
diferenciadas nas capacitações, dos
egressos, neste caso.
Isto ocorre porque, como enfatiza
Sen (2008), os seres humanos diferem uns
dos outros de muitos modos. Nascem já
com uma determinada herança de riqueza
(ou pobreza) e responsabilidades. Vivem
em ambientes naturais diferentes e as
comunidades ou sociedades às quais
pertencem oferecem oportunidades
diferentes quanto ao que podem ou não
fazer (Sen, 2008).
Mas além dessas diferenças nos
ambientes natural e social e nas
características externas, também
diferimos em nossas características
pessoais (p. ex., idades, sexo,
aptidões físicas e mentais). E estas
são importantes para avaliar a
desigualdade (Sen, 2008, p. 51).
Dos 493 ingressantes, 265
concluíram o TAC e 228 evadiram do
curso (desistiram, reprovaram ou
transferiram-se para outro curso).
Analisando os dados, pode-se afirmar que
a porcentagem de egressos é proporcional
à quantidade de ingressos por região na
seguinte ordem decrescente: Sul (S),
Centro-Oeste (CO), Nordeste (NE),
Sudeste (SE) e Norte (N). Dentre os 22
estados que enviaram estudantes, apenas o
estado da Paraíba - PB não teve egresso.
Figura 2: Mapa de alunos egressos por estado (T5 a T13).
Fonte: Dados da Pesquisa, 2016; IBGE, 2016. Projeto Cartográfico: Antonio Wellington Lira Moreira.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 126-152
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
142
Melo, C. C., Waquil, P. D. (2018). O Curso Técnico em Cooperativismo realizado pelo PRONERA...
De 19 entrevistados, 13 não tinham
possibilidades de fazer um curso técnico
por falta de oferta no município onde
residiam. Apenas três teriam a
oportunidade de fazer um curso técnico
gratuitamente e outros três tinham a oferta
de curso na região onde moravam na época
que ingressaram no TAC, porém, eram
cursos particulares e eles não tinham
condições de custear os mesmos e pagar o
transporte.
Dos egressos, 14 teriam como
primeira escolha outro curso, caso tivesse
sido disponibilizado em seu município ou
pelo próprio ITERRA. De modo geral, os
cursos que teriam escolhidos seriam:
Psicologia, Administração, Contabilidade,
Agronomia, Economia, Educação Física,
Veterinária, Técnico em Agropecuária,
qualquer um de formação política ou que
trabalhasse diretamente com o povo e
qualquer um profissionalizante na área de
gestão, mecânica e eletricidade.
Como foi dito anteriormente, na
prática, apenas três entrevistados teriam
opção de ter realizado algum curso técnico,
mesmo em alguma área que não fosse de
seu interesse. Analisando este resultado da
pesquisa à luz da Abordagem das
Capacitações, a limitação de escolhas, em
outras palavras, a privação de liberdade,
leva o indivíduo a optar por outros
caminhos, diferentes de suas “escolhas
contrafactuais”
iii
.
Dentre os entrevistados, cinco
tinham concluído o ensino médio, estando
assim distribuídos: um magistério, um
auxiliar em contabilidade, um conseguiu o
ensino médio pela nota do Exame Nacional
do Ensino Médio - ENEM, um ensino
médio normal e um cursou duas vezes o
ensino médio (Ciências Humanas e
Administração). Vale ressaltar que todos
os ingressantes no curso TAC participam
das aulas do ensino médio no ITERRA,
mesmo que o tenham concluído
anteriormente.
Apesar de não ter sido a primeira
escolha para a maioria desses egressos,
todos responderam que os motivos que os
levaram a aceitar o convite de cursar o
TAC eram relacionados a dar continuidade
aos estudos e contribuir com o MST,
assentamentos ou cooperativas dos
assentados.
Dentre os entrevistados, três fizeram
ou estão fazendo outro curso técnico e 16
(84%) cursaram algum curso de graduação.
Ou seja, 100% dos entrevistados deram
continuidade aos estudos. Dentre eles, dois
estão cursando mestrado. Cabe ressaltar
que sete dos que cursaram ou estão
cursando graduação e um que está
cursando mestrado realizaram ou estão
realizando estes estudos através do
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 126-152
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
143
Melo, C. C., Waquil, P. D. (2018). O Curso Técnico em Cooperativismo realizado pelo PRONERA...
PRONERA; cinco dos que estão cursando
alguma faculdade particular conseguiram
bolsa integral ou parcial pelo Programa
Universidade para todos PROUNI e um
está cursando graduação em licenciatura
em Educação do Campo pelo Programa
Nacional de Educação do Campo -
PRONACAMPO.
Dentre os 19 entrevistados, 14 estão
sendo/ou foram beneficiados por algum
programa governamental voltado para a
educação. Com isto, arrisca-se afirmar que
estes programas podem configurar-se
como oportunidades sociais para o
desenvolvimento rural, através da
expansão das capacitações dessas pessoas.
Aqui vale ressaltar que houve para
100% dos entrevistados a ampliação das
capacitações proporcionada pelo curso
TAC. Desta forma, identificou-se que o
referido curso pode ser considerado um
instrumento de expansão das capacidades
dos egressos.
Decorrido mais de uma década após
a pesquisa de Menezes Neto (2003), que
apontou que 89% dos estudantes que ainda
estavam cursando o TAC queriam ao final
do curso trabalhar em cooperativas e
apenas 11% na agricultura, percebeu-se
nos resultados que se apresenta neste
trabalho que os anseios dos educandos, em
certa medida, foram alcançados.
Todos os entrevistados neste trabalho
atuaram, depois de formados, em alguma
entidade ligada aos assentamentos (no
setor produtivo ou na área de educação),
permanecendo, a maioria, vinculada a
algum desses tipos de entidades. Apenas
quatro entrevistados trabalham atualmente
fora de área da reforma agrária e em
entidades desconectadas da mesma (um
motorista concursado de prefeitura
municipal, um instalador industrial, uma
educadora e também micro empreendedora
no setor de alimentos e um articulador e
analista de projetos de programa estadual
ligado ao desenvolvimento rural).
Alguns entrevistados relataram outro
fator limitante na liberdade de escolha de
curso técnico em sua região de origem, que
seria o ônus de pagar moradia na sede do
município para frequentar as aulas durante
um a três anos. Aqui, mais uma vez,
percebe-se o que Amartya Sen denomina
privação de liberdade, um entrave ao
desenvolvimento.
Uma questão crucial nesse debate é,
portanto, a importância da Pedagogia da
Alternância como parte de uma
metodologia de ensino que proporcione ao
educando do campo possibilidades de
estudar, mesmo em locais afastados de seu
domicílio.
Esta discussão reforça a importância
das políticas de distribuição e
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 126-152
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
144
Melo, C. C., Waquil, P. D. (2018). O Curso Técnico em Cooperativismo realizado pelo PRONERA...
reconhecimento e do PRONERA como a
materialização do direito à educação,
dentro deste rol de políticas. Quando a
Educação do Campo é questionada pelo
senso comum (e até mesmo por
acadêmicos) como uma movimentação
desnecessária, os depoimentos coletados
nas entrevistas aparecem como
contraponto, reafirmando sua necessidade.
A pedagogia da alternância é isso,
forçava o educando ter uma relação
com a origem dele, começar a
questionar a origem, começar a fazer
parte da origem, porque não adianta
se a gente não tem o indutor, a gente
não consegue ter essa percepção de
você enxergar. E a pedagogia da
alternância era isso, era ter a teoria,
voltar e tentar pôr essa teoria aqui,
que a gente aprendeu na prática.
você retorna com a prática teorizando
ela novamente pra ir aperfeiçoando
no decorrer do período do curso.
Então, isso é muito importante,
porque você consegue relacionar os
fatores e você exercita de fato a tua
massa cinzenta que ela naquele
comodismo. Então, pra mim isso foi
determinante (Entrevistado egresso
09).
O curso TAC também proporcionou
a esses entrevistados uma melhoria na
qualidade de vida, em especial à satisfação
pessoal. A maioria teve sua renda
aumentada depois de formado, ou passou a
adquirir alguma remuneração. A renda,
neste trabalho, é considerada, em
consonância com a abordagem teórica
utilizada, como um meio de buscar mais
liberdade em alguma dimensão da vida.
Não é o fim a que se almeja em termos de
desenvolvimento. Por isso, investigar se
aumentou ou se passou a ter alguma renda
significa compreender se houve um
aumento na possibilidade de expandir
liberdades, tirando o foco das mercadorias.
Além disso, as outras variáveis
investigadas sobre os funcionamentos
foram observadas: conhecimento técnico;
trabalho voluntário; militância em
movimento social; cargo em cooperativa;
liderança comunitária;
elaboração/execução de projetos; aquisição
de carga horária técnica para acesso ao
PRONAF Jovem; acesso ao ensino
superior; contabilidade/gestão da
propriedade familiar e atividades
socioculturais.
O que se destacou nas entrevistas foi
a capacitação na formação humana que a
escola proporcionou a todos. Como
resultado disso, o curso proporcionou
outras variáveis de capacitações e
funcionamentos para além dos objetivos de
um curso técnico.
Como apresentado por Caldart
(2012) o MST desenvolveu uma pedagogia
própria Pedagogia do Movimento com
base na educação popular e na Pedagogia
da Alternância, sendo observada essa
peculiaridade nas entrevistas.
... a escola é o Instituto de Educação
Josué de Castro, o IEJC, mas ele ... é
para além do TAC, porque consegue
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 126-152
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
145
Melo, C. C., Waquil, P. D. (2018). O Curso Técnico em Cooperativismo realizado pelo PRONERA...
buscar outros espaços educativos, por
exemplo, um TAC em qualquer outra
escola não é a mesma coisa, como
numa escola como o ITERRA.
Porque tem algumas atividades que tá
na natureza do movimento social,
não na natureza do curso. Não na
grade curricular a noite cultural, não
na grade a integração, não tá na
grade a holística, não na grade um
monte de trabalho fundamental:
trabalhar, pra ajudar na alimentação,
tu saber que tu vai fazer o pão, ou tu
faz ou tu vai fazer a comida,
garantindo que outro fazendo o
pão... A geleia a gente que produz na
agroindústria. é essa divisão
técnica, é uma escola pra nós, como é
que tu vai aprender no TAC, é uma
divisão técnica do trabalho? Tu faz o
balancete em cada posto de trabalho
que tu faz, se deu errado, isso
quando tu vai pra sala de aula
estudar, fazer um balancete de uma
coisa, tu fez lá, seja no panifício,
seja na prestação de serviço, seja na
agroindústria, então é uma aula viva,
tu aprende TAC e aí tô fazendo o
TAC, tô sendo estudante. ... nossa
escola é diferente, tu tem que saber
que tu tem que lavar prato também,
fazer comida, lavar banheiro, porque
tu suja, né? Então não é fácil fazer
essa pedagogia (Entrevistado egresso
14).
Dessa forma, identificou-se que a
formação nesta metodologia de
aprendizagem proporcionou possibilidades
de adquirir variados tipos de
funcionamentos, ou seja, o TAC
proporcionou o que Amartya Sen
denomina, em outras palavras, as várias
coisas que o indivíduo pode ser e fazer.
Ao ser questionado sobre os motivos
que levaram à criação do curso TAC, a
CONCRAB argumenta que os
assentamentos procuravam na sociedade,
pessoas para ajudar na administração e
associativismo nesses espaços. Porém, os
profissionais eram muito voltados ao
urbano. Quando surgia alguém mais
adequado à realidade rural o custo era
muito alto e as cooperativas não tinham
como pagar pelos serviços. Então, segundo
a CONCRAB, surge o TAC para formar
esses técnicos, criando também, um
compromisso mais político com as
cooperativas, com os assentamentos, para
além de conhecer a parte administrativa, de
forma a contribuir com o desenvolvimento
dos assentamentos, pois a cooperação é
mais ampla que o conhecimento de
cooperativas.
De certa forma a CONCRAB quando
pensou a criação do curso TAC, utilizou-se
de um raciocínio semelhante ao
preconizado na Abordagem das
Capacitações: “O papel fundamental da
educação e o de outros meios de expansão
das capacidades humanas formam uma
conexão sólida no pensamento sobre o
desenvolvimento ...” (Dreze & Sen, 2015,
p. 52).
A COCEARGS verifica uma grande
presença dos egressos no trabalho do MST
como um todo (grupos, associações,
cooperativas, agroindústrias). As turmas
mais recentes são formadas por pessoas
mais novas, com inserção recente no
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 126-152
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
146
Melo, C. C., Waquil, P. D. (2018). O Curso Técnico em Cooperativismo realizado pelo PRONERA...
acampamento ou assentamento, mas o
curso proporciona a aproximação com a
dinâmica destes espaços.
Este “banho de realidade” nos
estudantes, como explicou a COCEARGS,
é possibilitado através da metodologia de
alternância do curso. Além dessa
proximidade com a realidade, os
estudantes relacionam teoria e prática na
convivência social em campo, e isso tem
os ajudado a ter uma boa qualificação
técnica. A entidade prossegue afirmando
que em inúmeros lugares, após o estágio,
muitos estudantes recebem convite para
contribuir profissionalmente nos
assentamentos/cooperativas.
Quando os educandos estão
terminando o curso, muitos deles
ficam na cooperativa que fizeram o
estágio. Eles somam no controle, no
planejamento, acaba criando uma
tarefa bem prática e estratégica.
Acaba fortalecendo o processo de
gestão da cooperativa (Leodimar
Ferreira/COCEARGS, 2015).
Esta rápida absorção de maioria
desses egressos se em boa medida,
segundo a COCEARGS, porque eles
amadurecem durante o curso e se
apropriam de conhecimentos e ferramentas
que são úteis nesses empreendimentos de
pequeno e médio porte para a introdução
de rotinas, procedimentos, ferramentas de
controle, etc., que contribuem com a gestão
das cooperativas, fazem a diferença.
Identifica-se, a partir da análise da
percepção dos representantes das
entidades, que o curso TAC tem
contribuído não apenas para a ampliação
das capacitações dos egressos,
individualmente, mas também para os
coletivos de assentados (cooperativas,
associações, etc.). Portanto, o próprio
Amartya Sen aponta: expandir as
liberdades não é apenas tornar a vida mais
rica, mas tornar seres sociais mais
completos, interagindo e influenciando no
mundo (Sen, 2010).
Considerações Finais
Esta pesquisa investigou se o curso
Técnico em Cooperativismo TAC,
realizado pelo PRONERA no Rio Grande
do Sul, tem contribuído para a expansão
das capacitações dos egressos. Ou seja, se
o TAC interfere na realização de
funcionamentos (estados e ações) e
expansão das capacitações das pessoas que
o concluíram.
Os termos capacitações e
funcionamentos são conceitos da
abordagem teórica, desenvolvida por
Amartya Kumar Sen, na qual esta pesquisa
baseou-se para analisar o campo empírico.
No referencial teórico deste trabalho fez-se
uma interseção da Abordagem das
Capacitações - que mescla princípios
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 126-152
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
147
Melo, C. C., Waquil, P. D. (2018). O Curso Técnico em Cooperativismo realizado pelo PRONERA...
econômicos e filosóficos - com o tema da
Educação do Campo.
De maneira geral, algumas dessas
características do curso TAC já eram de
conhecimento empírico para quem trabalha
no cotidiano do IEJC/ITERRA, porém,
este trabalho embasa com os dados
coletados a partir de uma análise da
estatística descritiva e acrescenta algumas
informações que a observação empírica
não permitira apreender.
Os dados consolidados ilustram e
sistematizam, através de método científico,
os relatos da experiência dos educadores
do IEJC/ITERRA. Além disso, o resultado
desta etapa da pesquisa é um complemento
às publicações, principalmente
livros/cadernos do ITERRA, que versam
sobre a temática, mas tratam o perfil da
escola como um todo, não apresentando
dados quantitativos específicos sobre o
TAC.
Todos os egressos tinham um
intitulamento em comum: o acesso à
escolarização (Ensino médio e/ou ensino
técnico) através do Curso Técnico em
Cooperativismo. Este foi o ponto de
partida para averiguar as outras variáveis.
As diferenças encontradas nos
assentamentos visitados e os relatos que
apresentaram realidades totalmente
diversas da região Sul (onde se concentram
os educandos) foram muito interessantes.
As entrevistas na região Norte, por
exemplo, trouxeram dificuldades anteriores
aos problemas que as cooperativas do Sul
possuem. Questões como violência e falta
de políticas públicas, como assistência
técnica, mostraram que dificilmente as
realizações dos egressos serão as mesmas
daqueles que permaneceram no Sul. Não é
de se admirar que a região Norte tenha
apresentado a maior taxa de evasão.
Apesar de ter sido identificado pelos
próprios entrevistados o empoderamento
feminino através do curso TAC, caberia à
escola traçar novas estratégias para a
equidade entre homens e mulheres na
composição das turmas. Além disso, em
relação à possibilidade de criação de curso
no Nordeste, a maior incidência de evasão
se no Norte, cabendo também uma
discussão acerca da possibilidade de
ampliar o curso para atender a realidade
específica dessa região.
As entrevistas realizadas na região
Sudeste também revelaram a escassez das
políticas públicas nos assentamentos. Este
problema aliado à falta de cooperativas na
região visitada ocasionou, por exemplo, a
falta do funcionamento “emprego
remunerado” para um egresso entrevistado.
Durante a pesquisa de campo, foi
observado que a pesquisa foi bem
recepcionada tanto pelos entrevistados,
como pelas lideranças locais
nos
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 126-152
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
148
Melo, C. C., Waquil, P. D. (2018). O Curso Técnico em Cooperativismo realizado pelo PRONERA...
assentamentos. A dificuldade de
deslocamento não foi grande para chegar
aos assentamentos porque a pesquisa
contou com diversas formas de
contribuição (informações, hospedagem,
caronas, acompanhantes locais, etc.) que o
próprio MST disponibilizou para a
realização das entrevistas.
A maioria dos estudos sobre o TAC
ocorreu no próprio ITERRA, mas a
expansão territorial do campo de
investigação que este trabalho realizou foi
fundamental para complementar a análise
teórica sobre a realidade encontrada.
Avalia-se que a metodologia utilizada foi
adequada para o referencial teórico
escolhido e vice-versa.
Na análise das entrevistas com os
egressos, foram identificadas as variáveis
teóricas que orientaram a pesquisa de
campo. Contudo, a realidade se apresentou
ainda mais diversa, fornecendo outras
variáveis que o trabalho não foi capaz de
elaborar inicialmente, apenas com o
referencial teórico, pois foi o próprio
empírico que revelou essa diversidade.
Para os egressos, de forma geral, o
processo formativo do curso TAC tem
contribuído na expansão da liberdade
deles. Isto porque, ao adquirir capacidade
para realizar funcionamento, não somente
como consequência da titulação de ensino
médio e/ou técnico, mas também pelo
processo educativo experenciado no
ITERRA, esses egressos puderam realizar
atividades diversas, conquistaram espaços
e mudaram o seu modo de ser. Eles
tiveram o leque de escolhas ampliado,
complementado pelas oportunidades
advindas de programas e políticas públicas
(ENEM, PROUNI, PRONACAMPO,
PRONERA), que complementaram a
capacidade de realizações adquirida.
Vale dizer que essas entidades são
coordenadoras do curso em nível nacional
(CONCRAB) e estadual (COCEARGS).
Apesar disso, as mesmas não possuem os
dados de quantos egressos contribuem nas
cooperativas dos assentamentos, nem
mesmo apenas no RS.
Ambas as entidades conseguem
definir o que consideram importante para o
desenvolvimento rural e a forma como o
TAC como um todo vem contribuindo para
o desenvolvimento dos assentamentos.
Este resultado foi além do que se
pretendia: a pesquisa de campo conseguiu
investigar, além da COCEARGS, o ponto
de vista da CONCRAB
iv
.
Estando ou não diretamente nos
assentamentos, essas entidades avaliam
que os egressos, vinculados a movimentos
sociais da classe trabalhadora e atuando
nas cooperativas (ou outras organizações)
de assentamentos, estão contribuindo para
o desenvolvimento desses, diante da
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 126-152
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
149
Melo, C. C., Waquil, P. D. (2018). O Curso Técnico em Cooperativismo realizado pelo PRONERA...
contribuição política e técnica nessas
organizações, na luta por conquistas de
direitos aos assentamentos, ou na
elaboração ou execução de projetos
técnicos/políticos/produtivos que visem
contribuir para o desenvolvimento das
áreas de assentamento.
A pesquisa conclui, portanto, que o
curso TAC tem contribuído para a
expansão das capacitações dos egressos e
não somente aquelas previstas
inicialmente, mas para várias outras,
identificadas durante as entrevistas. Estas
capacitações e funcionamentos observados
devem-se não ao diploma fornecido pela
instituição de ensino, mas pela experiência
pedagógica da escola como um todo.
Por fim, como o trabalho delimitou o
público aos egressos, sendo que a maioria
está vinculada a alguma atividade ligada ao
MST, a maior parte da análise do processo
educativo e seus resultados foi bastante
positiva. Novos estudos poderiam abordar
o universo dos evadidos do curso,
contribuindo assim para ampliar a
discussão desta pesquisa.
Referências
Arroyo, M. G. (2010). Políticas
Educacionais e Desigualdades: à procura
de novos significados. Educação &
Sociedade, 31(113), 1381-1416. DOI:
http://dx.doi.org/10.1590/S0101-
73302010000400017
Caldart, R. S. (2012). Pedagogia do
Movimento Sem Terra. São Paulo, SP:
Expressão Popular.
Castro, V. M. V., & Melo, C. C. (2014).
Programa Nacional de Educação na
Reforma Agrária (PRONERA): uma
proposta de avaliação em profundidade.
Avaliação de Políticas Públicas, 2(14), 96-
107.
Cerioli, P. R. (1997). Educação para a
cooperação: experiência do curso técnico
em administração de cooperativas do MST.
(Monografia de Especialização),
Universidade do Vale do Rio dos Sinos,
Rio Grande do Sul.
Christoffoli, P. I. (2007). Elementos para
um balanço do Curso Técnico em
Administração de Cooperativa. Cadernos
do ITERRA, 7(13), 71-128.
Dreze, J., & Sen, A. (2015). Glória
Incerta: a Índia e suas contradições. São
Paulo, SP: Companhia das Letras.
Fernandes, B. M., & Molina, M. C. (2004).
O campo da educação do campo. In
Molina, M. C., & Azevedo de Jesus, S. M.
S. (Orgs.). Por uma Educação do Campo:
contribuições para a construção de um
projeto de Educação do Campo. (pp. 53-
89). Brasília, DF: Articulação Nacional Por
uma Educação do Campo.
Garcia, R. (2008). Consolidação das
políticas educacionais do campo. Tangará
da Serra, MT: Gráfica e Editora Sanches
LTDA.
Kuhn, D. D. (2004). O microcrédito com
instrumento de desenvolvimento rural no
município de Constantina/RS: a
abordagem seniana de desenvolvimento.
(Dissertação de Mestrado). Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, Rio Grande
do Sul.
Mattos, E. J. (2006). Pobreza rural no
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 126-152
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
150
Melo, C. C., Waquil, P. D. (2018). O Curso Técnico em Cooperativismo realizado pelo PRONERA...
Brasil: um enfoque comparativo entre a
abordagem monetária e a abordagem das
capacitações. (Dissertação de Mestrado).
Universidade Federal do Rio Grande do
Sul, Rio Grande do Sul.
Menezes Neto, A. J. (2003). Além da
Terra: cooperativismo e trabalho na
educação do MST. Rio de Janeiro, RJ:
Quarter.
Molina, M. C. (2008). A
Constitucionalidade e a Justiciabilidade do
Direito à Educação dos Povos do Campo.
In Santos, C. A. (Org.). Educação do
Campo: campo-políticas públicas
educação (pp. 19-32). Brasília, DF:
INCRA/MDA.
Picolotto, V. C. (2010). Educação como
expansão das capacitações: Uma breve
análise dos resultados da Prova Brasil. In
Anais da III Conferência Latino
Americana e Caribenha sobre Abordagem
das Capacitações e Desenvolvimento
Humano (pp. 1-28). Porto Alegre, RS.
Santalucia, M., & Hegedus, P. (2005).
Cooperativismo e Assentamento Rural na
percepção do uso coletivo e individual da
terra mediante metodologia Q: o caso de
Charqueadas. Revista Extensão Rural, 12,
97-128.
Sen, A. (2011). A ideia de Justiça. São
Paulo, SP: Companhia das Letras.
Questões para reflexão (pp. 60-93).
Brasília, DF: MDA.
i
São caracterizadas por populações e comunidades
que têm seus modos de vida, produção e
reprodução social relacionados predominantemente
com a terra, água e florestas. Neste contexto estão
os camponeses, agricultores familiares,
trabalhadores rurais assentados ou acampados,
comunidades tradicionais, etc.
ii
Política compensatória é uma resposta à
reivindicação para que se repare um dano ocorrido
no passado em relação aos membros de
determinado grupo minoritário. Neste trabalho o
surgimento do Pronera é assim considerado pois
repara em parte os efeitos históricos da educação
rural precária.
iii
Escolha contrafactual é o que alguém teria
escolhido se tivesse escolha (Sen, 2008).
iv
Além dos dois representantes da COCEARGS
entrevistados, durante a pesquisa de campo houve a
oportunidade de encontrar no ITERRA um
representante da CONCRAB, que se disponibilizou
a conceder entrevista.
Recebido em: 20/11/2017
Aprovado em: 17/01/2018
Publicado em: 26/02/2018
. (2010). Desenvolvimento
como Liberdade. São Paulo, SP:
Companhia das Letras.
. (2008). Desigualdade
Reexaminada. Rio de Janeiro: São Paulo,
SP: Record.
Silva, M. S. (2006). Da raiz à flor:
produção pedagógica dos movimentos
sociais e a escola do campo. In Molina, M.
C. (Org.) Educação do Campo e Pesquisa
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 126-152
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
151
Como citar este artigo
/
How to cite this article
/
Como citar este artículo:
APA:
Melo, C. C., Waquil, P. D. (2018). O Curso Técnico
em Cooperativismo realizado pelo PRONERA: uma
análise baseada na Abordagem das Capacitações. Rev.
Bras. Educ. Camp., 3(1), 126-152.
ABNT:
MELO, C. C., WAQUIL, P. D. O Curso Técnico em
Cooperativismo realizado pelo PRONERA: uma
análise baseada na Abordagem das Capacitações.
Rev. Bras. Educ. Camp., Tocantinópolis, v. 3, n. 1,
p. 126-152, 2018.
Melo, C. C., Waquil, P. D. (2018). O Curso Técnico em Cooperativismo realizado pelo PRONERA...
ORCID
Conceição Coutinho Melo
http://orcid.org/0000-0001-7758-3345
Paulo Dabdab Waquil
http://orcid.org/0000-0002-9430-7040
Os autores Conceição Coutinho Melo e Paulo
Dabdab Waquil declaram serem responsáveis pela
elaboração do artigo, sendo que a primeira autora
participou da elaboração do projeto, coleta de
dados, análise e interpretação dos dados, escrita e
revisão do conteúdo do manuscrito e o segundo
autor orientou todas as etapas do trabalho, sendo
ambos responsáveis pela aprovação da versão final
a ser publicada.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 126-152
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
152
Revista Brasileira de Educação do Campo
The Brazilian Scientific Journal of Rural Education
A
RTIG
O
/
A
RTICLE
/
A
R
CU
L
O
DO
I:
h
tt
p
:/
/
d
x.d
o
i.
o
r
g/
10.20
873/
u
ft.2525
-4863.2018v3
n
1p
153
As relações entre escola e comunidade na concepção de
professores que atuam na Educação do Campo
Jéssica Pauletti
1
, Sandra Maria Wirzbicki
2
1
Universidade Federal da Fronteira Sul - UFFS. Campus Chapecó. Programa de Pós-Graduação em Educação.
Rodovia SC-484, Km 02. Fronteira Sul - RS. Brasil. paulettijessica@gmail.com.
2
Universidade Federal da
Fronteira Sul - UFFS.
RESUMO. O enfoque na Educação do Campo (EdoC) deve-se
aos intensos movimentos de discussão e implantação de ações
educacionais nesse espaço diferenciado que apresenta
potencialidades variadas de ensino e aprendizagem. Neste
artigo, compreensões voltam-se às percepções das relações entre
escola e comunidade a partir de práticas e conhecimento da
EdoC entre professores que atuam em escolas do Ensino Médio
da região sudoeste do Paraná. Os materiais empíricos da
pesquisa foram coletados por meio de entrevista semiestruturada
desenvolvida junto aos professores de escolas do campo, as
quais foram transcritas e analisadas com base na Análise Textual
Discursiva. Os resultados possibilitaram organizar categorias
que indicam a existência de dificuldades na elaboração do
planejamento por parte dos professores e uma participação
efetiva da comunidade, assim como entendimentos limitados
acerca da localidade e organização do currículo. Apesar de
dificuldades, existem tentativas, como a realização de feiras e
visitas às propriedades rurais, além da compreensão do quão é
necessária desenvolver temáticas do cotidiano dos alunos nas
aulas, possibilitando abordagens significativas dos conteúdos.
Ainda, a partir das análises, emerge uma problemática maior que
envolve esses professores, a escola e a comunidade: trata-se da
Educação do Campo com traços fortes da Educação Rural.
Palavras-chave: Ensino e Aprendizagem do Campo, Cotidiano,
Formação Docente.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 153-176
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
153
Pauletti, J., & Wirzbicki, S. M. (2018). As relações entre escola e comunidade na concepção de professores que atuam na Educação do
Campo...
The school community relations under the conception of
teachers who work with Countryside Education
ABSTRACT. The focus on Countryside Education is due to the
intense actions of discussion and implementation of educational
actions in this differentiated space that features varied teaching
and learning potentialities. In this article, the comprehension
faces the perceptions of the school community relations from the
practices and knowledge of education in the countryside among
teachers who work at Intermediate Education schools in the
South Western region of Paraná. The research empirical
materials were collected by means of semi-structured interviews
developed together with teachers from schools in the field that
were transcribed and analyzed through Discursive Textual
Analysis. The results made it possible to organize categories that
indicate the existence of difficulties in the elaboration of the
planning for some teachers and effective community
participation, as well as limited understanding about the location
and curriculum organization. Despite the difficulties, there have
been attempts, such as the organization of fairs and visits to
rural properties, in addition to the comprehension of how
necessary it is to develop students' daily lives issues to allow for
meaningful approaches of the contents. Also, from the analyses,
a greater concern emerges involving those teachers, the school
and the community, which is education in the countryside with
strong traces of Rural Education.
Keywords: Teaching and Learning in Countryside, Daily,
Teaching Training.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 153-176
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
154
Pauletti, J., & Wirzbicki, S. M. (2018). As relações entre escola e comunidade na concepção de professores que atuam na Educação do
Campo...
Las relaciones entre escuela y comunidad en la concepción
de profesores que actúan en Escuelas Rurales
RESUMEN. El enfoque en la Educación en Escuelas Rurales se
debe a los intensos movimientos de discusión e implantación de
acciones en este espacio diferenciado que presenta
potencialidades variadas de enseñanza y aprendizaje. En ese
artículo, comprensiones se vuelven a las percepciones de las
relaciones entre escuela y comunidad a partir de prácticas y
conocimientos sobre la Educación en Escuelas Rurales entre
profesores que actúan en escuelas de Enseñanza Media de la
región suroeste de Paraná. Los materiales empíricos de busca
fueron colectados por medio de entrevista semiestructurada
desarrollada junto a los profesores de escuelas rurales, las cuales
fueron transcritas y analizadas con base en el Análisis Textual
Discursivo. Los resultados posibilitaron organizar categorías que
indican la existencia de dificultades en la elaboración de
planeamientos por parte de los profesores y una participación
efectiva de la comunidad, así como entendimientos limitados
cerca de la localidad y organización del currículo. A pesar de las
dificultades, existen tentativas, como la realización de ferias y
visitas a las propiedades rurales, además de la comprensión de
cuan necesario es desarrollar temáticas del cotidiano de los
alumnos en las clases, posibilitando abordajes significativos de
los contenidos. Todavía, a partir de los análisis, emerge una
problemática más grande que envuelve esos profesores, la
escuela y la comunidad: se trata de la Educación en Escuelas
Rurales con marcas fuertes de una educación rural que se vuelve
al capitalismo.
Palabras clave: Enseñanza y Aprendizaje en Escuelas Rurales,
Cotidiano, Formación de Profesores.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 153-176
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
155
Pauletti, J., & Wirzbicki, S. M. (2018). As relações entre escola e comunidade na concepção de professores que atuam na
Educação do Campo...
Educação do Campo: Uma história
de conquistas em permanente
construção
Ao pesquisar acerca da Educação
do Campo (EdoC)
i
é necessário ressaltar
a questão geográfica, bem como a
dicotomia entre a zona rural e urbana,
que estão sofrendo alterações com o
passar do tempo. A saída das pessoas da
zona rural foi significativa, considera-se
que entre 1970 e 2010, a população
rural caiu de 44% para 15,6%, o que
demonstra o processo rápido da
urbanização, contudo, ainda são 30
milhões de pessoa que viviam nesse
espaço, em 2010. A redução dessa
população está associada com as taxas
nacionais mais baixas de natalidade;
disparidades sociais e econômicas; a
saída de membros dos núcleos
familiares (geralmente do sexo feminino
para estudar); e, além disso, pelo
crescimento da agricultura moderna,
padronizada por máquinas (Maia &
Buainain, 2015).
Além dos elementos mencionados
como determinantes para a redução da
população do campo, de se
considerar que são poucas as
manifestações do Estado referentes às
políticas educacionais nessa área.
Aquelas feitas, geralmente são em
respostas à visão externa de países, a
exemplo dos Estados Unidos e da
Inglaterra, que afirmavam que as
populações rurais seriam alvo de
marginalização e atraso para o avanço
do capitalismo. Assim, “a política
adotada para a educação rural
justificava-se, então, como resposta à
necessidade de integrar aquelas
populações ao progresso que poderia
advir desse desenvolvimento” (Ribeiro,
2012, p. 298). Por conta disso as
pessoas não eram consideradas sujeitos
das políticas, o que aconteceu foi que:
“... as populações rurais não foram
consultadas acerca de suas demandas,
nem informadas sobre os programas a
elas destinados e, nem ao menos, sobre
a aplicação e avaliação destes
programas” (Idem, p. 299).
Essa situação precisava mudar
uma vez que o campo é um território
com alterações constantes e que carece
de análise, pois: “os territórios são
espaços geográficos e políticos, onde os
sujeitos sociais executam seus projetos
de vida para o desenvolvimento. Os
sujeitos sociais organizam-se por meios
das relações de classe para desenvolver
seus territórios” (Fernandes, 2006, p. 3).
Nesse sentido, começaram as
inquietações a respeito da terra, das
condições de trabalho e da educação aos
sujeitos do campo.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 153-176
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
156
Pauletti, J., & Wirzbicki, S. M. (2018). As relações entre escola e comunidade na concepção de professores que atuam na
Educação do Campo...
A pretensão de reivindicar por
direitos tomou “corpo” ao final da
década de 1980 e se expandiu nos anos
de 1990, uma vez que faltavam políticas
voltadas a esses sujeitos. Com o passar
do tempo, por conta da organização de
intelectuais, das instituições e dos
movimentos sociais, com destaque ao
Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem-Terra MST, o processo de luta
ganha maiores seguidores. A partir da
realização do I Encontro de Educadores
e Educadoras da Reforma Agrária
(ENERA), realizado em 1997,
começaram a ser discutidas as vontades
que deveriam ser pautadas em uma
educação no campo e suas
singularidades. A EdoC foi construída
com os sujeitos que estavam presentes
naquele meio, ela não foi imposta por
uma instituição do governo, foi
organizada e argumentada por ideias do
povo e para o povo do campo. Assim:
O surgimento da expressão
“Educação do Campo” pode ser
datado. Nasceu primeiro como
Educação Básica do Campo no
contexto de preparação da I
Conferência Nacional por uma
Educação Básica do Campo,
realizada em Luziânia, Goiás, de
27 a 30 de julho 1998. Passou a
ser chamada Educação do Campo
a partir das discussões do
Seminário Nacional realizado em
Brasília de 26 a 29 de novembro
2002, decisão posteriormente
reafirmada nos debates da II
Conferência Nacional, realizada
em julho de 2004 (Caldart, 2012,
p. 259-260).
Como podem ser observados nas
descrições, os eventos tinham como
objetivo reforçar a importância de
construir em conjunto uma educação
aos povos do campo. Além desses
marcos citados, desenvolveu-se a partir
do I ENERA o movimento nacional
denominado “Articulação Nacional por
uma Educação do Campo” que
provavelmente contribui para a
continuidade das atividades pelo país.
Associado a isso começaram os
primeiros indícios de olhar
adequadamente para o espaço do
campo, a exemplo da criação do
Programa Nacional de Educação na
Reforma Agrária (PRONERA),
instituído pelo Governo Federal em 16
de abril de 1998.
E, por conta disso, os avanços da
EdoC estão diretamente associados às
ideologias de cidadania e democracia
dos movimentos sociais, entendidos
como elementos e fontes de mudanças.
Deste modo, acredita-se que a força dos
movimentos sociais foi fundamental
para rever o olhar educacional ao
campo, pois se entende que eles foram:
“… os grandes atores desse processo
que se caracteriza simultaneamente
como resistência e negação à ordem
autoritária e como proposição e
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 153-176
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
157
Pauletti, J., & Wirzbicki, S. M. (2018). As relações entre escola e comunidade na concepção de professores que atuam na
Educação do Campo...
instituição de uma ordem democrática
fundada no reconhecimento dos direitos
de cidadania” (Silveira, 2000, p. 79).
Assim, as lutas idealizadas pelos
movimentos sociais possibilitaram
melhorias na qualidade de vida dos
homens do campo, pois questionaram as
diferentes esferas do governo
provocando desestabilização do poder,
influenciando por meio do caráter
político a educação que contribui em
mudanças no campo. Nessa perspectiva,
a EdoC existe graças ao movimento de
inúmeros sujeitos organizados em
instituições, que compõem uma história
de lutas e reivindicações, sendo definida
como: “fruto da organização coletiva
dos trabalhadores diante do
desemprego, da precarização do
trabalho e da ausência de condições
materiais de sobrevivência para todos
(Vendramini, 2007, p. 123).
Dentre as várias reivindicações,
uma delas refere-se à escola, sendo que
essa instituição, por estar localizada no
campo, tem características próprias,
com o objetivo de construir escolas com
lições de democracia, em um cenário
público e de qualidade, respeitando a
realidade e as necessidades dos sujeitos
locais (Paraná, 2010). A escola é um
dos objetos principais da EdoC, na
intenção de incluir os sujeitos no
processo de humanização. uma
diversidade de temas possíveis em torno
da EdoC. Nesse trabalho são abordadas
as relações entre a escola e a
comunidade, dois segmentos que
aparecem constantemente nos discursos
dos movimentos sociais e intelectuais e
em documentos oficiais da área.
Primeiramente, é importante
conhecer diferentes definições para
comunidade, das quais algumas aqui
contempladas. O grupo social
denominado comunidade serviu de base
para estudos como: Os parceiros do Rio
Bonito, Cruz das Almas e Amazon
Town. Nesses trabalhos evidências
da influência da modernidade na
organização coletiva dos sujeitos. Ao
longo da história da modernidade existe
uma tensão conceitual e simbólica das
categorias comunidade e sociedade, a
qual é constituída de diferentes grupos
que a definem na pluralidade de atos e
características (Albuquerque, 1999).
Essa autora define que o conceito de
comunidade pode servir a “todas as
formas de relacionamento
caracterizadas por intimidade, aspectos
emocionais, engajamento moral e
continuidade no tempo” (p. 51).
Na sociologia, de modo geral, as
concepções acerca das relações
comunitárias são pautadas em fatos
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 153-176
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
158
Pauletti, J., & Wirzbicki, S. M. (2018). As relações entre escola e comunidade na concepção de professores que atuam na
Educação do Campo...
sociais organizados em coletividade,
considerando as singularidades
pessoais, cuja unicidade é formada pela
pluralidade e convivência entre os
diferentes, pois o indivíduo não é
pensado isoladamente, deslocado das
condições históricas, culturais e sociais
que lhes conferem existência pela
presença do outro. Assim, a
singularidade, a individualidade de cada
um é entendida como um componente
essencial para a construção do universo
social, não para fazer predominar os
interesses de uma minoria sobre a
coletividade (Trindade, 2001).
Mediante o exposto, destaca-se
que o conceito de comunidade está
relativo e depende do contexto. Aqui
tratar-se com aquelas associadas à
área da educação. No campo escolar,
em termos de documentos oficiais, é
notória a referência sobre a
aproximação que deveria existir entre o
ambiente escolar e a comunidade. Na
introdução dos Parâmetros Curriculares
Nacionais (PCNs) é abordada a
relevância em:
... mostrar a importância da
participação da comunidade na
escola, de forma que o
conhecimento apreendido gere
maior compreensão, integração e
inserção do mundo; a prática
escolar comprometida com a
interdependência escola-
sociedade tem como objetivo
situar as pessoas como
participantes da sociedade
cidadãos - desde o primeiro dia de
sua escolaridade (Brasil, 1998, p.
10).
Essa preocupação apresentada em
um documento amplamente acessado
permite perceber que independente de
onde a escola está inserida, uma
necessidade de relacioná-la com a
comunidade, na intenção de formar
pessoas comprometidas com o seu meio
social. Umas das principais legislações
propostas para apresentar as
especificidades do campo são as
Diretrizes organizadas pelo Conselho
Nacional de Educação (CNE) e Câmera
de Educação Básica (CEB): Resolução
CNE/CEB 1 de 3 de abril de 2002 e
nº 2 de 28 de abril de 2008.
Nas duas resoluções são
apresentadas sugestões do envolvimento
da comunidade na organização das
instituições escolares, apresentando-se
como elemento constituinte nos
trabalhos escolares, na participação
ativa de uma gestão democrática e
constituindo outros mecanismos que
possibilitem estabelecer relações entre a
escola com os movimentos sociais, os
órgãos normativos do sistema de ensino
e os demais setores da sociedade.
Nesse sentido, as existências das
escolas no campo caracterizam-se como
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 153-176
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
159
Pauletti, J., & Wirzbicki, S. M. (2018). As relações entre escola e comunidade na concepção de professores que atuam na
Educação do Campo...
uma forma de inclusão na dimensão
social das comunidades. Trata-se assim,
de um processo de cultura e
humanização, pois é função dessa
instituição ocupar-se dos problemas do
tempo atual, fortalecendo as lutas
sociais e problematizando questões de
cada comunidade e, por consequência,
do país. As pessoas da comunidade
podem colaborar com os educadores na
medida em que houver envolvimento
com as atividades pedagógicas e o
meio, uma vez que: “a tarefa principal
do coletivo de educadores é exatamente
garantir o ambiente educativo da escola,
envolvendo educandos e também a
comunidade em sua construção”
(Caldart, 2003, p. 75).
Na compreensão da educação
como um processo coletivo, o campo
não pode ser entendido como espaço
isolado, e nesse sentido adota-se o
termo “Território Camponês”,
defendido por Fernandes (2012) em
uma das explicações conceituais no
Dicionário da Educação do Campo. De
modo sucinto, o território é uma
unidade de espaço, e as relações ali
presentes, conforme a sua razão de
existir, receberão uma denominação
diferente. Em específico ao campo, essa
unidade pode ser entendida como
território camponês à medida que: “...
compreendemos que a relação social
que constrói esse espaço é o trabalho
familiar, associativo, comunitário,
cooperativo, para o qual a reprodução
da família e da comunidade é
fundamental” (p. 746).
Por conta disso, esse autor coloca
que se estabelecem diferentes culturas
que “dão vida” ao campo, permitindo
multiculturalidades de produções,
costumes, tradições e experiências que
são ensinados as novas gerações que
também são ensinados desde muito
cedo a resistir às insistências
capitalistas, que tomam os territórios
como locais apenas de produção em
grande escala. Nesse sentido, O território
camponês é constituído pelas pessoas
que ocupam um determinado espaço e
pelas relações que elas estabelecem
entre si e com as instituições: o Estado,
o sistema capitalista, o agronegócio e os
movimentos sociais que lutam por
dignidade a esses sujeitos. Em virtude
dessas multiculturalidades, os interesses
são divergentes e carecem de análise,
pois podem influenciar na dinâmica de
legislações, organização escolar,
propostas pedagógicas do corpo
docente, currículo entre outros aspectos.
Para ampliar os entendimentos de como
a EdoC e a comunidade se
relacionam,
são necessárias pesquisas
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 153-176
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
160
Pauletti, J., & Wirzbicki, S. M. (2018). As relações entre escola e comunidade na concepção de professores que atuam na
Educação do Campo...
em diferentes comunidades, tais como
as propostas nesse trabalho, em que são
destacadas as concepções de EdoC entre
docentes que trabalham com essa
modalidade de ensino e expressam de
diferentes maneiras o possível
estabelecimento das relações entre
escola e comunidade. Conhecer e
compreender as concepções dos
professores tem papel fundamental no
processo de ensino e aprendizagem, seja
na educação urbana ou no campo, os
quais são desafiados diariamente pelas
situações que vivenciam.
Assim, esse artigo contempla um
recorte da pesquisa desenvolvida
durante o Trabalho de Conclusão de
Curso (TCC) de Ciências Biológicas da
Universidade Federal da Fronteira Sul
(UFFS-Campus Realeza/PR). O estudo
focou três municípios da região
sudoeste do Paraná, na intenção de
compreender como os professores de
Biologia que atuam em escolas do
campo relacionam os conteúdos com o
cotidiano dos alunos, bem como
estabelecem proximidades dos trabalhos
escolares com a comunidade.
Das diferentes conclusões, o
presente artigo foca em uma das
vertentes, na questão de: como são as
relações entre escola e comunidade a
partir da concepção de educadores da
disciplina de Biologia da rede pública
estadual de Realeza, Marmeleiro e
Francisco Beltrão Paraná, baseando-se
em suas práticas metodológicas e
conhecimentos da EdoC?
Percurso Metodológico da Pesquisa
A presente pesquisa
ii
é de cunho
qualitativo e teve como intenção
principal compreender a realidade por
meio do discurso de quatro professores
de Biologia do Ensino Médio que atuam
em três escolas do campo, que
pertencem ao Núcleo Regional de
Educação (NRE) de Francisco Beltrão
PR. São profissionais formados na área
de Ciências da Natureza e suas
Tecnologias. Os professores serão
identificados por nomes de flores da
região: Rosa, Hortênsia, Margarida e
Girassol.
Um dos pontos chave do estudo é
entender como são as diversidades do
campo em termos geográficos e de
sujeitos. Para obtenção dos dados de
pesquisa, realizou-se uma entrevista
semiestruturada composta de doze
questões, voltadas a sete aspectos, em
especial: 1) formação inicial e
continuada dos professores; 2) tempo de
atuação no magistério com questões
relacionadas diretamente a EdoC e à
organização metodológica; 3) materiais,
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 153-176
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
161
Pauletti, J., & Wirzbicki, S. M. (2018). As relações entre escola e comunidade na concepção de professores que atuam na
Educação do Campo...
4) abordagens de novos conteúdos; 5)
entendimentos da terminologia
“contextualização”; 6) utilização das
propriedades rurais no planejamento/
desenvolvimento das aulas; 7) relação
da escola com a comunidade (espaços e
pessoas) na elaboração e
desenvolvimento das aulas.
Dentre todos esses pontos, a
análise nesse trabalho será remetida aos
dois últimos pontos (seis e sete), sendo
que as questões elaboradas foram as
seguintes: a) Qual é a relação com a
comunidade local na elaboração e
andamento das aulas? b) De que forma
as propriedades rurais das famílias dos
alunos são usadas como local de
estudo? Além dessas questões, os
professores tinham liberdade para
comentar outros pontos que
envolvessem a temática.
O registro das falas dos
professores ocorreu por meio de áudio,
sendo as falas transcritas posteriormente
constituindo o material empírico
analisado. O recorte dos excertos foi
analisado com base na Análise Textual
Discursiva-ATD, caracterizada como
uma mediação entre análise de conteúdo
e de discurso, a qual segue alguns
passos fundamentais: 1. Organização
dos textos em unidades de significados,
baseados na interpretação do
pesquisador, das teorias e reflexões
iniciais; 2. Nessa etapa é possível
estabelecer categorizações que
evidenciam as relações entre os
significados semelhantes; 3. Construção
de textos com as interpretações das
análises do processo, denominando-se
como captação do novo emergente
(Moraes & Galiazzi, 2007).
Ações e Reflexões sobre práticas dos
professores da EdoC
A partir das transcrições das
entrevistas e sucessivas leituras, foi
possível organizar excertos de falas que
contemplassem aspectos da EdoC.
Dessa análise emergiram três categorias
assim organizadas: 1. Comunidade
reduzida aos familiares dos alunos; 2.
Relações da Educação do Campo com
o cotidiano; 3. Rotatividade de
professores, as quais são apresentadas e
problematizadas nos tópicos a seguir.
Comunidade reduzida aos familiares
dos alunos
A primeira categoria expõe alguns
entendimentos de comunidade
apresentados pelos professores
entrevistados mais voltados aos pais ou
familiares que possuem alunos
matriculados nas escolas em que os
professores trabalham sem estabelecer
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 153-176
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
162
Pauletti, J., & Wirzbicki, S. M. (2018). As relações entre escola e comunidade na concepção de professores que atuam na
Educação do Campo...
vínculos com outros grupos/instituições
do contexto local. Essa situação é
reforçada à medida que os pais se
dirigem à escola, mesmo quando não
são convocados para conversar a
respeito do desempenho dos alunos,
sendo essa uma prática mais comum de
acontecer do que na cidade. E quando
convocados, há um compromisso da
participação, de forma pontual. As falas
dos professores Rosa e Girassol
explicitam essas colocações.
Não vêm com muita frequência,
mas eu acho que nas escolas do
interior eles vêm mais, bem mais
do que na cidade, sem você
chamar. Sem ter a necessidade de
chamar para resolver problema, o
pai está ali perto, ou alguém ali
perto, a tia, a avó está ali por
perto, ah vou dar uma passadinha
na escola e chegam (Rosa).
Quando tem reunião com os pais,
eles participam sempre e a gente
fala, a gente questiona, ... eu já
incentivo de eles pedirem em
casa, dos exemplos, mas
perguntem para o pai, para a mãe
se não é melhor aqui, que no
campo é bem melhor, você
consegue mais coisas, então eu
trabalho, eu dou o que eles
fazer em casa perguntando para o
pai e mãe (Girassol).
Pelos depoimentos é possível
compreender que o envolvimento das
famílias do campo com a escola
acontece de forma mais intensa e podem
ser reportados trabalhos, documentos e
campanhas em prol da educação que
utilizam a família como uma parceira
indispensável no processo de ensino e
aprendizagem. Isso é algo que
concordamos, ao passo que se entende
que as famílias são essenciais na
formação das crianças e de sua
importância em participar das atividades
de escola. Contudo, nossa reflexão é na
possibilidade de que outras famílias que
integram a comunidade e que não
possuem filhos em idade escolar ou os
idosos, por exemplo, possam fazer parte
dessa vivência. Desse modo, o caráter
da comunidade pautar-se-ia pela sua
unidade, que é assegurada pela
pluralidade. Isto é, na comunidade, a
diversidade e os conflitos que lhe são
consequentes não são base de separação
entre os seus partícipes; ao contrário,
são atributos para o crescimento
(Trindade, 2001).
Apesar da participação das
famílias com a escola do campo ser
mais expressiva do que na cidade, ela
ocorre especialmente quando a escola
propõe atividades como expresso na
fala de Margarida:
Eles [os pais] vêm para escola, e a
gente [escola] tem todos os
produtos, batata, mandioca,
queijo, ovos, verduras em geral e
coisas assim, a gente faz nas salas
e os pais vêm para uma reunião da
escola e aproveitam para comprar
esses produtos e é uma
gratificação. Já o terceiro ano, tem
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 153-176
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
163
Pauletti, J., & Wirzbicki, S. M. (2018). As relações entre escola e comunidade na concepção de professores que atuam na
Educação do Campo...
as sementes também que a gente
proporciona para as famílias,
vários tipos de semente que eles
podem levar para as casas e
plantar (Margarida).
A feira relatada por Margarida
tem a intenção de comercializar
produtos entre os agricultores, mesmo
que aconteça esporadicamente esse
contato, gera um momento de
compartilhar produtos, experiências e
saberes, uma aula sem livros e cadernos,
no diálogo entre saberes diversos.
Assim, a relação da escola com o
entorno pode ocorrer pelo
estabelecimento de diálogos e confiança
entre os sujeitos, uma vez que haverá
compartilhamento de saberes,
oportunizando voz e vez para que nas
conversas se entendam as necessidades
de ambas as partes (escola e
comunidade) e desenvolvimento de
estratégias de como trabalhar isso
(Bezerra et al., 2010). Tal perspectiva é
reforçada em Cadernos Temáticos do
Paraná, que sugerem: “Investigar a
comunidade é um exercício que pode
revelar um conjunto de características,
elementos da vida cotidiana, que
quando articulados com os conteúdos
escolares podem contribuir muito para
valorizar as especificidades locais”
(Paraná, 2010, p. 67).
Relações da Educação do Campo com
o cotidiano
Nesta categoria foram
organizados aspectos relativos às
especificidades do campo, pensando na
logística da comunidade, que são
vivenciadas na EdoC. Torna-se
essencial reconhecer o entorno, uma vez
que “a realidade da Educação do Campo
e de seus condicionantes históricos é
desconhecida” (Arroyo, 2004, p. 54).
Nesse sentido, uma questão
levantada por um dos docentes diz
respeito à segurança e locomoção de
estudantes e professores quanto à saída
destes da escola. De alguma forma isso
interfere nas atividades escolares, sendo
utilizados os espaços sem a necessidade
de atravessar a rodovia federal,
chamada popularmente de BR.
Então a gente na verdade evita
sair do entorno da escola, mas tem
ali a igreja, tem o pavilhão é tudo
ali em volta. Então
automaticamente qualquer
atividade que tu sai você está
ali envolvida com algum outro
setor da comunidade, mas a gente
na verdade evita sair mais do que
ali em função do perigo mesmo,
da segurança deles para você não
sair na estrada (Rosa).
Outro ponto que pode ser
analisado nesse excerto, é que são
citados alguns espaços que fazem parte
de um contexto histórico que acabam
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 153-176
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
164
Pauletti, J., & Wirzbicki, S. M. (2018). As relações entre escola e comunidade na concepção de professores que atuam na
Educação do Campo...
sendo o núcleo da comunidade,
geralmente são nesses locais que
começam a se instalar as primeiras
casas e por consequência se expandir o
lugar. Nesse quesito, um dos
professores aborda que alguns espaços,
como a igreja, por exemplo, é utilizada
para uma interação entre escola e
comunidade, é um contato simplório e
pontual a princípio, mas revela um
esforço de aproximação.
a escola que eu trabalhava ano
passado, tipo uma vez por mês,
por exemplo, tinha culto, missa
na comunidade, a escola ia junto
na missa, participava meia hora,
quarenta minutos na missa, se a
escola fazia alguma coisa, a
comunidade vinha e participava
(Hortênsia).
O estilo de vida em comum a
partir da afetividade das relações de
parentesco, vizinhança e compadrio, o
pertencimento a um mesmo território e
a prevalência das relações de
reciprocidade são características das
comunidades rurais. Uma curiosidade é
que em todas as cidades grandes, a
comunidade é sinônima de favela, sendo
que parte significativa dos favelados
tem origem nos meios rurais, conhece
seus modos de vida e podemos dizer
que, mesmo passado o tempo e alterado
drasticamente o contexto, o senso
comum acaba acertando em parte
quando chama uma favela de
comunidade (Macedo & Gonçalves,
2014).
As comunidades são formadas por
propriedades rurais, e durante o estudo
questionou-se sobre o uso desses
espaços como local de estudo. A
professora comentou que no colégio que
trabalhava na época da entrevista não
havia realizado, apontando que essa é
uma questão das Casas Familiares
Rurais (CFRs): “... não, nessas turmas
de regular que eu tenho não. Isso
acontece muito na casa familiar”
(Rosa).
As visitas a propriedades rurais
são frequentes no planejamento das
(CFRs), uma vez que nessa modalidade
de ensino os jovens seguem a pedagogia
da alternância, que se firma baseada em
quatro princípios: o próprio método da
alternância
iii
, a ênfase na formação
integral do jovem; a participação das
famílias na condução do projeto
educativo, na gestão da escola e no
desenvolvimento do meio; e o princípio
de levar em conta a realidade das
propriedades rurais e das comunidades
dos alunos. Esse último princípio tem o
intuito de identificar possibilidades para
o desenvolvimento sustentável das
propriedades, o que implica, por sua
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 153-176
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
165
Pauletti, J., & Wirzbicki, S. M. (2018). As relações entre escola e comunidade na concepção de professores que atuam na
Educação do Campo...
vez, a permanência dos jovens no
campo (Burghgrave, 1998).
Outro professor detalhou as
possibilidades de um trabalho levando
em conta os aspectos das propriedades
rurais que estão localizadas nas
imediações da escola.
... agora de momento assim não,
mas se surge a oportunidade a
gente vai, e eles estão sempre
recebendo de portas abertas, então
tem lá o conteúdo, que eles tem na
propriedade, a gente comunica,
daí solicita o transporte e a gente
sempre vai, se é perto também dá.
No decorrer desse ano eu
pretendo fazer, quando eu
trabalhei aqui, eu fui fazer
visita, então foi feito, e quando
eu trabalhava nos outros colégios,
a gente também tentava fazer isso.
Olha tem vários temas tanto no
primeiro, no segundo, no terceiro
quando eu começar a trabalhar a
parte de genética, porque aqui eles
trabalham muito com inseminação
artificial no gado, então quando
alguém na casa vai fazer isso, eu
quero conciliar para levar os
alunos para eles verem, porque se
às vezes tem um que não tem o
outro tem, para eles terem uma
aula prática (Girassol).
É perceptível na fala de Girassol a
relação dos conteúdos da área da
Biologia com o cotidiano dos alunos.
Destaca-se que apesar de todos os
professores entrevistados serem desta
área, a menção é pequena sobre
possíveis atividades que foram ou
serão realizadas na ou com a
comunidade, como esse excerto
apontou. Nesse aspecto, o que se
observa no ensino de Biologia é a
transmissão de conceitos prontos. Na
busca de trabalhar essa questão é
necessário utilizar aspectos teóricos e
práticos para que os sujeitos de forma
geral manifestem-se, transformem e
compreendam o mundo em que estão
inclusos (Carvalho, 2000 apud Giassi,
2009).
Em relação a esse aspecto a
compreensão do cotidiano é um dos
objetivos maiores de uma educação
voltada ao campo em que: “... valorizar
epistemologicamente a educação
experiencial, na sua relação com os
sujeitos sociais que a constituem e seus
espaços de vida e de trabalho, na sua
forma própria de organização, nos seus
aspectos inovadores e na sua capacidade
de mudança” (Vendramini, 2007, p.
129). A afirmação está de acordo com a
ideia de que na EdoC dever-se-ia
compartilhar trocas de saberes
adequados às necessidades e que fossem
valorizados os modos de vida e a
cultura dos sujeitos, pois assim a EdoC
passaria a integrar os movimentos do
campo e não apenas ocupar uma
determinada localidade.
Concomitante a isso, na
organização das Diretrizes de 2002 e
2008 já existem preocupações acerca da
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 153-176
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
166
Pauletti, J., & Wirzbicki, S. M. (2018). As relações entre escola e comunidade na concepção de professores que atuam na
Educação do Campo...
relevância do envolvimento dos
conteúdos com a realidade dos
estudantes, sendo que o discurso
valoriza a diversidade das comunidades
que vive no campo. É mencionada
também a importância de repensar esses
aspectos na formação de professores,
nas diferentes formas de organização da
escola, na adequação dos conteúdos às
necessidades locais e utilização de
práticas pedagógicas contextualizadas.
Portanto, aposta-se na perspectiva
de que a partir do momento em que se
estabelecem diálogos do ensino em sala
de aula com as vivências dos
estudantes, acontece uma relação direta
entre escola e comunidade. Esse
processo: “... decorre do próprio
desenvolvimento intelectual do
estudante cuja cristalização se por
via da sua criatividade e esta é
liberada, efetivamente, quando ele se
põe em confronto com a realidade
concreta do seu meio comunitário”
(Carneiro, 1985, p. 81).
O mesmo autor reitera que não é
possível pontuar escola e comunidade
de forma dissociada, conceber uma
dualidade é determinar a escola como
uma caricatura da realidade inserida
num contexto que ela não dialoga. É
fato que problemáticas em torno da
escola são sintomas de fragilidade de
um sistema amplo voltado à educação,
sendo que a questão básica pauta-se na
necessidade da escola repensar seu
ensino considerando indagações que são
da e para a comunidade. Assim, o
professor torna-se um dos mediadores
fundamentais na escola e por
consequência com os demais integrantes
desse espaço, que pode promover ações
potencializadoras que aproximem a
comunidade dos princípios e atividades
da escola, integrando ideias, reflexões e
ações.
Rotatividade de professores
Na terceira categoria discute-se
como a rotatividade de professores na
EdoC interferem no vínculo entre escola
e comunidade, o que implica em
constantes adaptações de sujeitos,
horários e mudanças de planejamento.
Isso pode interferir no desenvolvimento
de atividades, que envolvam uma
aproximação constante entre os sujeitos
da escola e da comunidade, sendo que a
descontinuidade de sujeitos atrapalha na
idealização de projetos ou continuação
dos mesmos:
Como eu trabalho, tipo assim, ano
passado eu trabalhava numa
escola, esse ano eu comecei em
outra, então não tive muito
contato ainda ... não
continuidade. Exatamente não
continuidade, quando tu começa a
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 153-176
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
167
Pauletti, J., & Wirzbicki, S. M. (2018). As relações entre escola e comunidade na concepção de professores que atuam na
Educação do Campo...
se entrosar no lugar já tem que ir
para outro (Hortênsia).
Como evidenciado por Hortênsia,
faz parte da jornada docente percorrer
quilômetros entre uma escola e outra e
não conseguir conhecer o entorno do
ambiente de trabalho. Esse processo, em
alguns casos, pode refletir no baixo
desempenho escolar e na evasão
escolar, pois não oferece uma qualidade
de educação adequada, comparando-se
com outras instituições (Marcoccia, et
al., 2012).
A questão da rotatividade foi
destacada por um dos docentes, contudo
o assunto apareceu nas demais
entrevistas. Houve menção de que os
trabalhos contínuos não são algo
frequente, em um dos casos o professor
entrou e saiu em curto intervalo de
tempo. Somando-se a isso, todos os
docentes entrevistados trabalham em
escolas do campo e são moradores da
cidade.
Ainda existe uma precária
valorização dos professores do campo,
com crescente desvalorização do
magistério, presente nas relações
contratuais de trabalho
predominantemente temporários, com
baixa remuneração e alta rotatividade,
fato que revela as condições do trabalho
docente e do trabalho em geral na
escola (Carvalho, 2011). Além disso, as
estratégias tímidas tanto de governo por
meio das políticas públicas ou do poder
local ainda tratam as escolas do campo
com descaso, com baixa
disponibilização de materiais e
infraestrutura inadequada (Arroyo,
2004).
Esse ponto é contrário às
ideologias básicas da EdoC, que
apontam a necessidade do professor
conhecer a realidade do aluno o máximo
que puder, para que desse modo possa
estabelecer estratégias de incentivo aos
alunos para que explorem as
potencialidades locais sentindo-se
integrantes do meio. Desse modo, torna-
se tarefa dos educadores promover um
ambiente propício ao ensino e
aprendizagem na escola, envolvendo os
estudantes e a comunidade. Para tanto
existe a necessidade de: “... organização
e formação pedagógica para fazer a
leitura do processo pedagógico da
escola ... assumindo o papel de sujeito
do ambiente educativo, criando e
recriando as estratégias de formação
humana e as relações sociais” (Caldart,
2003, p. 75).
Apesar da dificuldade que
Hortênsia aborda, a vontade de avançar
nessa questão aparece na sua fala, da
qual se compreende uma tentativa de
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 153-176
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
168
Pauletti, J., & Wirzbicki, S. M. (2018). As relações entre escola e comunidade na concepção de professores que atuam na
Educação do Campo...
começar as aproximações por meio de
projetos. Não fica claro o planejamento
ou desenvolvimento desses, mas é certo
que o professor entende que os próprios
alunos podem intermediar a
aproximação entre a escola e a
comunidade.
... ainda não fiz, mas eu tenho
projeto, mas assim, a intenção é,
em determinados conteúdos,
acabar levando para a
comunidade. Até no projeto da
outra escola que eu trabalho, só
que é ensino fundamental, que eu
trabalho em três escolas do
Campo esse ano (Hortênsia).
É notório o ganho ao se envolver
escola e comunidade, sendo que alguns
princípios foram formulados a partir
dessa interação e são válidos de
mencionar: a escola não ensina quando
o sujeito não se sente autônomo no seu
meio comunitário e torna-se alienante
quando seus programas não
trabalham/evidenciam noções de
experiência social. Além do mais, essa
instituição desvirtua o ato de educar ao
não integrar o aluno ao ambiente em
que o mesmo vive e, desse modo, deve-
se preocupar com os interesses da
comunidade (Carneiro, 1985).
Desse modo, para estabelecer
relações entre os sujeitos que fazem
parte do campo, sejam eles
trabalhadores braçais ou funcionários
das instituições, é preciso promover o
envolvimento dos alunos, fazendo-os
agentes mediadores do processo, uma
vez que diariamente eles percorrem
estradas com a intenção de aprender e,
muitos deles, para permanecer no meio
rural com mais conhecimento e
qualidade de vida.
As diferentes faces na/da Educação
do Campo
Ao considerar as falas dos
professores e as análises realizadas em
cada categoria entende-se como
pertinente destinar um tópico para
compreender se a perspectiva de escola
com relação direta com a comunidade,
com a formação docente e com a
educação de modo geral está
relacionada com as intenções da EdoC
ou é apenas uma recriação/reprodução
da Educação Rural.
As lutas dos movimentos foram
uma resposta aos traços iniciais de
negação e desprezo que se prolongam
por toda organização das políticas
públicas voltadas ao campo, sendo que
estas foram de caráter assistencialista e
sem considerar as vontades dos
camponeses.
Em síntese, nossa retrospectiva
histórica da educação brasileira
demonstrou ao longo de muitos
séculos uma educação negada; ou
quando foi oferecida, serviu para
domesticar, cooptar, alienar a
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 153-176
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
169
Pauletti, J., & Wirzbicki, S. M. (2018). As relações entre escola e comunidade na concepção de professores que atuam na
Educação do Campo...
população do meio rural.
Perpetuou-se historicamente uma
educação elitizada e reprodutora
da ordem mantida pelas classes
dominantes. Quando no século
XX, a educação é oferecida às
populações do meio rural pelo
Estado e tem a finalidade de
“modernizar” o país (Locks,
Graupe & Pereira, 2015, p. 143).
A Educação Rural foi pensada
pela classe dominante para manter os
sujeitos no campo, estendendo as sobras
das cidades, em termos de materiais,
professores, políticas e atenção. O que
se pretendia era dar uma educação rasa
em saberes, com saberes impostos que
na maioria das vezes não permitiam
relacionar com a vivência dos
camponeses sem respeitar os tempos da
roça, as datas/planejamentos/bimestres
que são decididos conforme a maioria
das escolas, ou seja, de acordo com as
escolas da cidade (Costa & Cabral,
2016).
Nesse sentido, as autoras
destacam que por meio dessa
universalização do conhecimento
hegemônico do urbano: “... incluem os
camponeses na condição de
protagonistas, dessa forma, deixando-os
excluídos de um processo educativo que
vise à formação humana, tendo essa
apenas como uma extensão da educação
proposta à população urbana,
objetivando a formação do capital
humano” (Idem, p. 193).
A superação e transição de uma
Educação Rural para uma Educação do
Campo deve ser pauta nos esforços
contínuos dos movimentos, poder
público dos municípios, estados e
órgãos do governo federal.
necessidade de reconhecer a pluralidade
do campo, de superação do discurso
desse espaço e dos sujeitos como
atrasados, de valorizar as
especificidades de cada local, mas
reforçando o direito à educação pública
e de qualidade, que o seja mais refém
das mazelas do capitalismo (Arroyo,
2004).
Um dos pontos explicitados e que
contribuem para a discussão nesse
tópico é que as escolas deveriam
preocupar-se com a diversidade do
campo, pensando em problemas
condizentes com a realidade dos
estudantes e da comunidade, assim, o
aluno teria: “... acesso sistematizado do
conhecimento acumulado pela
humanidade vinculado às raízes e
tradições culturais da comunidade, de
modo que a educação escolar produza e
fortaleça um saber que favoreça a
melhoria das condições de vida das
populações campesinas” (Carvalho,
2011, p. 77).
De modo geral, nos excertos
analisados, as intervenções que
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 153-176
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
170
Pauletti, J., & Wirzbicki, S. M. (2018). As relações entre escola e comunidade na concepção de professores que atuam na
Educação do Campo...
envolvem a comunidade são pontuais e
aparentemente já planejadas pela escola,
não uma relação contínua dos
indivíduos e por consequência do saber.
Salienta-se que não está se buscando
culpados, mas sugerindo meios de
diagnosticar e mudar a situação. Uma
das formas é elaborar o Projeto Político
Pedagógico da escola com a
participação comunitária, organizando
encontros em espaços diferentes,
pautando-se na construção democrática
da instituição, organizando-a como uma
rede coletiva entre escolas, educadores e
comunidades que podem interagir entre
si, ao passo que respeitam as
identidades de cada local. Esse processo
pode ser organizado mediante os
gestores públicos e os movimentos
sociais (II Conferência...).
Nesse sentido, é preciso rever os
pilares da EdoC e das intenções dos
movimentos sociais, mesmo com
algumas mudanças possíveis, ainda
existem questões para serem
aperfeiçoadas, como pode ser verificada
na fala de Rosa, que menciona a
formação continuada como momentos
pontuais e direcionados pela Secretaria
Estadual de Educação do Estado do
Paraná (SEED/PR).
Na verdade agora que está tendo,
porque até então não tinha nada
tão específico pro campo, então
agora as capacitações que tem até
pra gente mesmo essas na escola,
essas que vem da SEED, elas
acabam sendo mais específicas e
os últimos que a gente teve
também de que tem durante o ano,
que eles fazem uma parada por
disciplina é em algum momento,
acho que são dois momentos
durante o ano, eles também são
mais direcionados, mas antes
disso, assim, de um tempo pra
que isso está acontecendo (Rosa).
Somado a isso, estão associados
os diagnósticos de falta de escolas, de
bases curriculares, renovação
pedagógica, infraestrutura, valorização
do magistério, altas taxas de
analfabetismo e o descaso das novas
gerações com o local, não conseguindo
formular uma identidade que a faça
pertencer àquele meio ou pelo menos
entender suas complexidades. Essas
dificuldades subsistem e foram
levantadas na presente pesquisa.
É relevante para a caracterização
da EdoC, uma educação dos
camponeses (feita por eles) e não pelo
Estado, como destaca Costa e Cabral
(2016): “defendemos a Educação do
Campo, como direito e não como
esmola ou favor do poder público” (p.
198). Diante das inúmeras limitações
ainda presentes na EdoC, essas autoras
sintetizam que:
No paradigma da Educação do
Campo, a educação está pautada
na identidade dos camponeses.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 153-176
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
171
Pauletti, J., & Wirzbicki, S. M. (2018). As relações entre escola e comunidade na concepção de professores que atuam na
Educação do Campo...
Nesse modelo de educação, a
escola, como criação moderna,
tem papel fundamental na
formação humana, devendo
constituir-se como uma das
instituições de acesso à educação
formal, como garantia do direito à
educação por todos. Essa garantia
deve ocorrer por meio de práticas
educativas que possibilitem
apreender os diversos tipos de
conhecimentos produzidos
socialmente sem perder de vista a
diversidade sociocultural que
identifica cada
povo/grupo/comunidade (p. 201).
Todas essas manifestações e
defesas são entendidas por Caldart
(2012) como “consciência de
mudança”, por conta do protagonismo
dos movimentos, de instituições, de
personagens que auxiliaram nas
discussões teóricas, que promoveram
modificações significativas na
sociedade. Para Ribeiro (2012) “a
educação do campo não admite a
interferência de modelos externos, e
está inserida em um projeto popular de
sociedade, inspirado e sustentado na
solidariedade e na dignidade
camponesas.” (p. 300).
O trabalho coletivo das
“consciências” em cada sujeito
influenciou no envolvimento de um
grande grupo na busca da superação da
histórica Educação Rural, que distancia
a cada dia os povos do campo de suas
bases, costumes e cultura, entendendo
aquele ambiente como um mero espaço
produtivo, em grande escala, pautada na
lógica capitalista que não
está preocupada com questões da
humanidade de princípios de igualdade,
justiça e dignidade. Desse modo:
... a Educação Rural pensa o
campo como espaço de produção,
as pessoas serão vistas como
recursos humanos, pois está
baseada no pensamento
latifundiário do controle político
sobre a terra e as pessoas, sem
perspectivas de desenvolvimento
e emancipação humana, mas na
preparação da força de trabalho.
Na perspectiva desse paradigma, a
educação é pensada para atender
às demandas do capitalismo, do
mercado de produção,
constituindo-se em mecanismo de
alienação para a reprodução da
classe dominante (Costa &
Cabral, 2016, p. 184).
Para a classe dominante que
detém a ordem do agronegócio não é
necessário estruturar uma EdoC,
existindo uma Educação Rural já seria o
suficiente, além do mais, é essa que:
“deve retornar à agenda do Estado,
reciclada pelas novas demandas de
preparação de mão de obra para os
processos de modernização e expansão
das relações capitalistas na agricultura,
demandas que não necessitam de um
sistema público de educação no campo”
(Caldart, 2012, p. 262-263).
Assim, o que se entende é que as
demandas e colocações dos professores
são reflexos de uma educação não
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 153-176
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
172
Pauletti, J., & Wirzbicki, S. M. (2018). As relações entre escola e comunidade na concepção de professores que atuam na
Educação do Campo...
pensada com os sujeitos que frequentam
a escola e aqueles que estão no seu
entorno, pois ainda acredita-se que os
conhecimentos urbanos são melhores,
que as condições das cidades são as
mais adequadas, que o currículo da sede
do município é mais coerente. E por
conta disso, calam-se aqueles que
teriam muito a contribuir para promover
uma escola rica em conhecimentos e
pessoas. Acredita-se que os traços de
potencialidades da EdoC que
apareceram nesse estudo são forjadas e
refletem uma realidade, como as
esboçadas nas discussões acerca da
Educação Rural.
Considerações finais
A intenção do trabalho foi refletir
como as relações entre escola e
comunidade acontecem por meio do
entendimento de professores que atuam
na EdoC. Pela análise foi possível
perceber as dificuldades de se
estabelecerem parcerias de longo prazo,
planejamento conjunto e trocas de
conhecimentos constantes entre os
setores da sociedade que segundo
documentos e estudos deveriam manter
um contato com a escola do campo. A
revisão bibliográfica e os dados
analisados sugerem que ainda persiste
uma perspectiva da Educação Rural,
bem mais evidente em termos práticos
que a almejada na EdoC.
Esse cenário é reflexo de um
contexto maior da educação pública,
que também carece de reformulações e
investimentos, diante da necessidade de
promover a interação entre equipes
escolares e outros agentes educativos
que possibilitem efetivamente a
construção de projetos que qualifiquem
a formação do aluno. Na perspectiva de
melhorias em especial na EdoC, espera-
se que os processos da formação de
identidades possibilitem ao aluno o
desenvolvimento da autoconsciência, ao
mesmo tempo que construam noções da
sociedade e do papel do cidadão do
campo dentro dela.
Até o momento as ações
afirmativas definidas para o campo
foram pontuais e compensatórias, sem
uma organização do coletivo, contudo a
escola e seus sujeitos promovem
tentativas de superar essa questão.
Apesar dos movimentos serem
esporádicos, é por meio de tentativas
pequenas que maiores transformações
podem acontecer. Os professores se
utilizam de diferentes metodologias
para promover a aproximação entre
escola e comunidade, estreitando laços
que permitam acreditar que nas
interações entre sujeitos e saberes
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 153-176
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
173
Pauletti, J., & Wirzbicki, S. M. (2018). As relações entre escola e comunidade na concepção de professores que atuam na
Educação do Campo...
diversos uma EdoC comprometida com
os estudantes do campo possa ser
plenamente desenvolvida. Afinal, todo o
exposto no trabalho e o cotidiano
escolar, revelam que existe uma história
com muitos capítulos a serem escritos.
Referências
Albuquerque. L. M. B. (1999).
Comunidade e sociedade: conceito e
utopia. Raízes, 20, 50-53. Recuperado
de:
http://www.ufcg.edu.br/~raizes/artigos/
Artigo_27.pdf
Arroyo, M. G. (2004). Por um
tratamento público da Educação do
Campo. In Molina, M. C., & Jesus, S.
M. S. A. (Orgs). Contribuições para a
construção de um projeto de Educação
do Campo (pp. 54-62). Brasília, DF.
Recuperado de: www.gepec.ufscar.br
Bezerra, Z. F. et al. (2010).
Comunidade e escola: reflexões sobre
uma integração necessária. Educar, 37,
279-291, Recuperado de: <
http://www.scielo.br/pdf/er/n37/a16n37.
pdf>
Brasil. (1998). Parâmetros curriculares
nacionais: terceiro e quarto ciclos do
ensino fundamental: introdução aos
parâmetros curriculares nacionais.
Brasília. Recuperado de:
http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pd
f/introducao.pdf
Burghgrave, T. T. (1998). A
surpreendente história das Maisons
Familiales Rurales. Edição France
Empire, Salvador.
Caldart, R. S. (2003). A escola do
campo em movimento. Currículo sem
Fronteiras, 3(1), 60-81. Recuperado de:
http://www.gepec.ufscar.br/textos-
1/textos-educacao-do-campo/a-escola-
do-campo-em-movimento/view
Caldart, R. S. (2012). Educação do
Campo. In Caldart, R. S. et al.
Dicionário da Educação do Campo (pp.
259-267). Rio de Janeiro, São Paulo:
Escola Politécnica de Saúde Joaquim
Venâncio, Expressão Popular.
Recuperado de:
http://www.utfpr.edu.br/patobranco/estr
uturauniversitaria/diretorias/dirppg/posg
raduacao/mestrados/ppgdr2/arquivos/di
cionariodeEducacaodoCampo.pdf
Carneiro, M. A. (1985). Educação
Comunitária: faces e formas.
Petrópolis, Vozes.
Carvalho, M. S. (2011). Realidade da
Educação do Campo e os desafios para
a formação de professores da educação
básica na perspectiva dos movimentos
sociais. (Tese de Doutorado).
Universidade Federal da Bahia, Bahia.
Recuperado de:
https://repositorio.ufba.br/ri/bitstream/ri
/9176/1/Marize%20Souza%20Carvalho.
pdf
Conferência Nacional por uma
Educação do Campo CNEC (2004).
Luiziânia. Recuperado de:
http://web2.ufes.br/educacaodocampo/d
own/cdrom1/pdf/013.pdf
Costa, M. L., & Cabral, C. L. O. (2016).
Da Educação Rural à Educação do
Campo: uma luta de superação
epistemológica/paradigmática. Revista
Brasileira de Educação do Campo.
1(2), 177-203 jul./dez. DOI:
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-
4863.2016v1n2p177
Fernandes, B. M. (2006). Os campos da
pesquisa em educação do campo:
espaço e território como categorias
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 153-176
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
174
Pauletti, J., & Wirzbicki, S. M. (2018). As relações entre escola e comunidade na concepção de professores que atuam na
Educação do Campo...
essenciais. In Molina, M. (Org.). A
pesquisa em Educação do Campo (pp.
27-39). Brasília: Programa Nacional de
Educação na Reforma Agrária.
Recuperado de:
file:///C:/Users/Cliente/Downloads/artig
o_bernardo.pdf
Fernandes. B. M. (2012). Território
Camponês. In Caldart, R. S. et al.
Dicionário da Educação do Campo (pp.
746-750). Rio de Janeiro, São Paulo:
Escola Politécnica de Saúde Joaquim
Venâncio, Expressão Popular.
Recuperado de:
http://www.utfpr.edu.br/patobranco/estr
uturauniversitaria/diretorias/dirppg/posg
raduacao/mestrados/ppgdr2/arquivos/di
cionariodeEducacaodoCampo.pdf
Giassi, M. G. (2009). A
contextualização no ensino de biologia:
Um estudo com professores da rede
pública estadual do município de
Criciúma-SC. (Tese de Doutorado)
Universidade Federal de Santa Catarina,
Florianópolis. Recuperado:
https://repositorio.ufsc.br/handle/12345
6789/92695
Locks, G. A. L., Graupe, M. E. G., &
Pereira, J. A. (2015). Educação do
campo e direitos humanos: uma
conquista, muitos desafios. Conjectura:
Filos. Educ., 20, 131-154. Recuperado
de:
http://www.ucs.br/etc/revistas/index.ph
p/conjectura/article/viewFile/3654/pdf_
439
Macedo. M. E., & Gonçalves. M. A.
(2014). Notas sobre os conceitos de
comunidade, comunicação comunitária
e dialogia. Comunicação & Educação.
19(1), 39-49. Recuperado de:
http://www.revistas.usp.br/comueduc/ar
ticle/view/78561
Maia, A. G., & Buainain, A. M. (2015).
O novo mapa da população rural
brasileira. Confins. Recuperado de:
http://confins.revues.org/10548
Marcoccia, P. C. P. et al. (2012).
Políticas públicas da Educação do
Campo: Desafios à formação
continuada de professores. In III
Congresso Ibero Americano de Política
e Administração da Educação.
Recuperado de:
http://www.anpae.org.br/iberoamerican
o2012/Trabalhos/PatriciaCorreiadePaul
aMarcoccia_res_int_GT1.pdf
Moraes, R., & Galiazzi, M. C. (2007).
Análise textual discursiva. Ijuí: Ed.
Unijuí.
Paraná. (2010). Secretaria de Estado da
Educação do Paraná. II Caderno
Temático da Educação do Campo.
Curitiba: SEED-PR.
Resolução CNE/CEB, nº 1 de 3 de Abril
de 2002. Estabelece as Diretrizes
Operacionais para a Educação Básica
nas Escolas do Campo. Recuperado de:
http://www.dominiopublico.gov.br/dow
nload/texto/me4533.pdf
Resolução CNE/CEB, nº 2, de 3 de abril
de 2008. Recuperado de:
http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/re
solucao_2.pdf
Ribeiro, M. (2012). Educação Rural. In
Caldart, R. S. et al. Dicionário da
Educação do Campo (pp. 295-301). Rio
de Janeiro, São Paulo: Escola
Politécnica de Saúde Joaquim
Venâncio, Expressão Popular.
Recuperado de:
http://www.utfpr.edu.br/patobranco/estr
uturauniversitaria/diretorias/dirppg/posg
raduacao/mestrados/ppgdr2/arquivos/di
cionariodeEducacaodoCampo.pdf
Silveira. R. J. (2000). O legado dos
movimentos sociais dos anos 70-80. Rev.
Mediações, 5(1), 79-94. Recuperado de:
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 153-176
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
175
Pauletti, J., & Wirzbicki, S. M. (2018). As relações entre escola e comunidade na concepção de professores que atuam na
Educação do Campo...
http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/m
ediacoes/article/download/9199/7794
Trindade, M. A. S. F. (2001).
Comunidade e Sociedade: norteadoras
das relações sociais. R. FARN, l(l), 165-
174. Recuperado de:
http://www.revistaunirn.inf.br/revistaun
irn/index.php/revistaunirn/article/downl
oad/30/33
Vendramini, C. R. (2007). Educação e
Trabalho: reflexões em torno dos
movimentos sociais do campo. Cad.
Cedes, 27(72), 121-135 Recuperado de:
http://www.scielo.br/pdf/ccedes/v27n72
/a02v2772.pdf
ORCID
Jéssica Pauletti
http://orcid.org/0000-0002-5490-1336
i
Optou-se por utilizar a sigla EdoC por enten-
la como a mais abrangente do que (EC ou EdC)
e que a mesma está ao encontro do pensamento
de Caldart (2003) “No: o povo tem direito a ser
educado no lugar onde vive; Do: o povo tem
direito a uma educação pensada desde o seu
lugar e com participação, vinculada a sua
cultura e às suas necessidades” (p. 18).
ii
Em atenção aos princípios da ética na
pesquisa, o projeto desenvolvido foi aprovado
pelo Comitê de Ética na Pesquisa da
Universidade Federal da Fronteira Sul - UFFS
(Parecer n.° 887.439) e os sujeitos da pesquisa
assinaram o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (TCLE).
iii
As CFRs utilizam o método da alternância,
que consiste no tempo da escola e o tempo
família/comunidade, no qual os estudantes
ficam geralmente uma semana na CFR e uma
semana com a família, alternando segundo os
teóricos dessa área, a teoria e a prática em
ambientes diferentes. O tempo pode ser
diferente, dependendo das instituições, mas
todas seguem a lógica de alternar.
Recebido em: 28/02/2017
Aprovado em: 25/04/2017
Publicado em: 26/02/2018
Sandra Maria Wirzbicki
http://orcid.org/0000-0001-8402-7099
A autora Jéssica foi responsável pela coleta e
transcrição dos dados apresentados no artigo. As
autoras, Jéssica e Sandra foram responsáveis
pela elaboração, análise e interpretação dos
dados, escrita e revisão do conteúdo do
manuscrito. Ambas as autoras foram
responsáveis pela aprovação da versão final a
ser publicada.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 153-176
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
176
Como citar este artigo
/
How to cite this
article
/
Como citar este artículo:
APA:
Pauletti, J., & Wirzbicki, S. M. (2018). As relações
entre escola e comunidade na concepção de
professores que atuam na Educação do Campo.
Rev. Bras. Educ. Camp., 3(1), 153-176.
ABNT:
Pauletti, J., & Wirzbicki, S. M. As relações entre
escola e comunidade na concepção de professores
que atuam na Educação do Campo. Rev. Bras.
Educ. Camp., Tocantinópolis, v. 3, n. 1, p. 153-
176, 2018.
Revista Brasileira de Educação do Campo
The Brazilian Scientific Journal of Rural Education
A
RTIG
O
/
A
RTICLE
/
A
R
C
ULO
DO
I:
h
tt
p
:/
/
d
x.d
o
i.
o
r
g/
10.20
873/
u
ft.2525
-4863.2018v3
n
1p
177
O Ensino da Física na Educação do Campo:
descolonizadora, instrumentalizadora e participativa
Roberto Gonçalves Barbosa
1
1
Universidade Federal do Paraná - UFPR. Setor Litoral. Licenciatura em Educação do Campo. Rua Jaguariaíva,
512, Caiobá, Matinhos - PR. Brasil. robertobarbosa@ufpr.br
RESUMO. Este trabalho apresenta uma discussão teórico-
prática de caráter epistemológico crítico da Física sua história,
natureza e prática sob o viés do colonialismo a partir da qual
se apresenta as possíveis contribuições do ensino desta
disciplina no contexto da Educação do Campo. O artigo se
divide em três partes: na primeira faz-se a crítica à Física, sua
história, epistemologia e ensino, na qual se expõem os traços de
uma Contra-história da Ciência e também a diferenciação entre a
lógica formal e a gica dialética fundamentada no filósofo
brasileiro Álvaro Vieira Pinto. Em seguida, se destaca o caráter
linguístico e reprodutor do ensino da Física. Na segunda parte
discuti-se a Física na Educação do Campo, suas possíveis
contribuições em um ensino centrado no desenvolvimento de
práticas atitudinais, bem como na necessidade de integrar a
Física com outras disciplinas. Por fim, apresenta-se de maneira
sintética uma abordagem metodológica aplicada a duas turmas
de licenciandos do curso de Educação do Campo Ciências da
Natureza da Universidade Federal do Paraná, Setor Litoral.
Palavras-chave: Ensino de Física, Educação do Campo,
Instrumentalização, Descolonização, Participação.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 177-203
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
177
Barbosa, R. G. (2018). O Ensino da Física na Educação do Campo: descolonizadora, instrumentalizadora e participativa...
The Physics Teaching at the Rural Education: decolonizer,
toolize and participative
ABSTRACT. This paper presents a theoretical and practical
discussion of the critical epistemological nature of physics - its
history, nature and practice - under the bias of colonialism, from
which the possible contributions of the teaching of this
discipline in the context of the Rural Education are presented.
The paper is divided into three parts: in the first is did the
critique of the physics, its history, epistemology and teaching,
which exposes traces of a counter-history of science and also the
differentiation between formal logic and dialectical logic
grounded on the Brazilian philosopher Álvaro Vieira Pinto, then
the linguistic and reproductive nature of the teaching of Physics
is highlighted. In the second part, it is thought that physics in the
Rural Education its possible contributions in a teaching centered
on the development of attitudinal practices, as well as in the
need to integrate physics with other disciplines. Finally, a
methodological approach applied to two under graduating
classes of the Rural Education course - Natural Sciences is
presented in a summarizing way.
Keywords: Physics Teaching, Rural Education,
Instrumentalization, Decolonization, Participation.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 177-203
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
178
Barbosa, R. G. (2018). O Ensino da Física na Educação do Campo: descolonizadora, instrumentalizadora e participativa...
La Enseñanza de la sica en la Education Rural:
descolonizadora, instrumentalizadora y participativa
RESUMEN. Este trabajo expone una discusión teórico-práctica
de carácter epistemológico crítico de la Física-su historia,
naturaleza y práctica- bajo el sesgo del colonialismo a partir del
cual se presentan las posibles contribuciones de la enseñanza de
esta disciplina en el contexto de la Educación Rural El artículo
se divide en tres partes: en la primera se hace la crítica a la
Física, su historia, epistemología y enseñanza, en el que se
expone traces de una contra-historia de la ciencia y también la
diferenciación entre la lógica formal y la lógica dialéctica
fundamentada en el filósofo brasileño Álvaro Vieira Pinto, a
continuación se destaca el carácter lingüístico y reproductivo de
la enseñanza de la Física. En la segunda parte, se piensa la
Física en la Educación Rural sus posibles contribuciones en una
enseñanza centrada en el desarrollo de prácticas actitudinales,
así como en la necesidad de integrar la Física con otras
disciplinas. Por último, se presenta de manera sintética un
enfoque metodológico aplicado a dos clases licenciandos del
curso de Educación Rural - Ciencias de la Naturaleza.
Palabras clave: Enseñanza de la Física, Educación Rural,
Instrumentalización, Descolonización, Participación.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 177-203
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
179
Barbosa, R. G. (2018). O Ensino da Física na Educação do Campo: descolonizadora, instrumentalizadora e participativa...
Introdução
Neste artigo é apresentada uma
leitura crítica da Física e do seu ensino no
contexto da Educação do Campo,
sobretudo com um viés discursivo focado
no colonialismo e/ou imperialismo
europeu, que foi responsável pela
subjugação dos povos dos continentes
asiático, americano e africano. O termo
descolonização é emprestado do médico
psiquiatra de Martinica, Franz Fanon, que
teorizou e denunciou os efeitos
psicológicos do colonialismo sobre os
negros e também se debruçou sobre os
processos para libertação e revolução dos
povos africanos. Ideias que influenciaram
também o educador brasileiro Paulo Freire
principalmente em sua obra “Pedagogia do
Oprimido”, de onde extraímos a ideia de
participação.
Na concepção de Freire (1967), a
palavra participação está relacionada a uma
ação humana consciente, crítica e criativa e
que pode levar à transformação da situação
concreta de opressão. Opressão que
também foi e é causada pela Ciência
moderna, que se constituiu a partir da
apropriação dos conhecimentos de povos
invadidos. Hoje, a Ciência está a serviço
do capital sob as mais diferentes
expressões do desenvolvimento
tecnológico, sobretudo o agronegócio, que
se ampara na biotecnologia, engenharia
genética, mecatrônica e robótica para
manter uma gica necrófila. Portanto, é
neste contexto que discutimos a Física, sua
história, epistemologia e linguagem um
trabalho que está dividido em três partes.
Primeiro apresenta-se uma contra-
história da Ciência no que tange à natureza
e à origem da “Ciência moderna”,
destacando aspectos e personagens antes
omitidos pela literatura tradicional sob a
perspectiva do colonialismo europeu nos
países Sul Asiáticos, na África e nas
Américas. Em seguida, realiza-se uma
discussão epistemológica da Ciência/Física
de modo particular diferenciando a lógica
formal da lógica dialética a partir do
filósofo brasileiro Álvaro Vieira Pinto
i
. E
ao final trata-se de algumas das
características da Física que interferem no
processo de ensino e aprendizagem: a
natureza cultural/representacional, a sua
linguagem e os seus objetivos.
Na segunda parte discute-se a Física
na Educação do Campo e suas possíveis
contribuições em um ensino centrado no
desenvolvimento de práticas atitudinais.
Aqui também se destaca a necessidade
interdisciplinar que a Física deve manter
com outras disciplinas para uma formação
mais holística dos sujeitos do campo.
E por fim, são apresentados os
resultados de uma abordagem
metodológica dialógica realizada com
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 177-203
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
180
Barbosa, R. G. (2018). O Ensino da Física na Educação do Campo: descolonizadora, instrumentalizadora e participativa...
estudantes do curso de licenciatura em
Educação do Campo Ciências da
Natureza da Universidade Federal do
Paraná Setor Litoral, abordagem esta
inspirada na frase “o diálogo começa na
busca do conteúdo programático”, do
educador brasileiro Paulo Freire.
Crítica à Física, a sua história,
epistemologia e ao seu Ensino
Contra-história da Ciência/Física
A Física é uma disciplina científica
de grande destaque dentro e fora da
academia, é uma Ciência que reúne
instrumentos técnicos e/ou tecnológicos,
processos e saberes relacionados as
diferentes formas de energia, aos
movimentos das coisas e as interações
entre objetos. A Física busca explicações a
respeito do mundo observando
regularidades e padrões que ocorrem no
meio natural como as fases da Lua, o
movimento do Sol e as mudanças
climáticas. Muitos saberes da Física
advieram de civilizações milenares como
os babilônios, os chineses, indianos,
árabes, sul-africanos e norte-africanos
como os egípcios sem considerar os
conhecimentos advindos dos povos tribais
e/ou indígenas.
Os conhecimentos que geralmente
são creditados aos gregos tiveram a sua
origem no Sul da Ásia e também no Egito.
Segundo Goonatilake (1982), quase todas
as teorias, religiões, filosofias e a
matemática ensinadas pelos pitagóricos
eram conhecidas na Índia no século VI
a.C. isto é, antes de Pitágoras, inclusive o
célebre teorema de Pitágoras era
conhecido no Sul da Ásia, assim como o
conceito de números irracionais.
Conhecimentos que chegaram
posteriormente à Europa graças a
participação dos Árabes.
... Em geral, enquanto a Europa
medieval estava na escuridão
científica, o conhecimento
continuava a crescer rapidamente e
era acumulado no Sul da Ásia. O
estribo para cavalo, o arco de violino
javanês de formato chinês, o arco
pontudo e o dome (cúpula) da
arquitetura budista, a agulha
magnética e o papel, e possivelmente
a pólvora que era conhecida na China
pelo menos dois séculos antes de
ser conhecida na Europa são algumas
invenções tecnológicas que foram
levadas da Ásia para Europa no
período medieval. No início da
renascença a crença que tomou conta
da Europa de que o progresso
tecnológico era desejável e possível,
associado às grandes jornadas
marítimas, os Europeus tiveram ao
seu comando um amplo conjunto de
dispositivos e habilidades...
(Goonatilake, 1982, p. 423).
Para o físico brasileiro Mário
Schenberg (2001, p. 52),
parece que o grande impulso de
desenvolvimento cultural na Europa
surgiu com as cruzadas que não
tinham um objetivo propriamente
religioso, mas também finalidades
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 177-203
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
181
Barbosa, R. G. (2018). O Ensino da Física na Educação do Campo: descolonizadora, instrumentalizadora e participativa...
econômicas de conquistar e saquear,
pois aquelas regiões do Oriente
Médio eram muito mais adiantadas.
Os cruzados entraram em contato
com civilizações adiantadas e de
trouxeram para Europa cristã
conhecimentos e tecnologias
ignorados. Parece que até a própria
arquitetura gótica não foi uma
criação europeia, o princípio dessa
arquitetura foi certamente importado
do Oriente. Assim como o emprego
da energia pluvial (moinho d’água).
Nos séculos XV e XVI, com ajuda
da cartografia e da geografia bastante
desenvolvidas, os europeus rumaram em
direção as Américas refazendo rotas
percorridas por povos indígenas
americanos. Nas Américas e também no
continente africano, eles invadiram,
escravizaram e saquearam objetos, plantas
e conhecimentos dos povos originais.
Conhecimentos que na Europa foram
reorganizados em disciplinas como
Botânica, Física, Química, Biologia,
Astronomia, Medicina, Arqueologia, entre
outras. Conhecimentos que foram
reelaborados e reeditados no contexto
europeu, sobretudo apagando as suas
origens, o que transformou o conhecimento
científico universal e plural em algo
particular e de domínio de uma única
sociedade a europeia. Segundo
Feyerabend (1977),
o surgimento da Ciência moderna
coincide com a supressão das tribos
não ocidentais pelos invasores
ocidentais. As tribos não são apenas
fisicamente suprimidas, mas perdem
a independência intelectual e se vêem
forçadas a adotar a sanguinária
religião do amor fraternal o
Cristianismo. Os membros mais
inteligentes conseguem uma
vantagem adicional: o iniciados
nos mistérios do Racionalismo
Ocidental e no que é sua culminância
a Ciência ocidental (Feyerabend,
1977, p. 453).
Este período foi também chamado de
iluminista, para Smith (1999) o iluminismo
proveu o espírito, o ímpeto, a confiança e a
estrutura econômica e política que facilitou
a busca por novos conhecimentos. Em
outros termos,
Os povos indígenas foram
classificados do mesmo modo que a
flora e a fauna; tipologias
hierárquicas dos humanos e sistemas
de representação foram elaborados e
objetivados por novas descobertas;
mapas culturais foram traçados e
territórios reivindicados e
contestados pelos principais poderes
europeus. Ao mesmo tempo alguns
povos indígenas foram ranqueados e
comparados a outros em termos de
coisas como as crenças nas quais eles
eram considerados próximos aos
humanos’, ‘quase humanos’ ou ‘sub-
humanos’ (Smith, 1999, p. 59).
Adicionalmente a isto, a ideia de
superioridade (Fanon, 2004; Said, 1979)
que povoava o imaginário dos europeus
neste período legitimou o domínio e a
violência sobre homens, mulheres e
crianças indígenas, denominados de
selvagens, bárbaros e o civilizados. Para
o historiador estadunidense Howard Zinn
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 177-203
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
182
Barbosa, R. G. (2018). O Ensino da Física na Educação do Campo: descolonizadora, instrumentalizadora e participativa...
(1997), a desumanização do “inimigo” tem
em si um recurso necessário para as
guerras de conquista. É muito fácil
explicar atrocidades se elas são cometidas
contra infiéis (não cristãos) ou contra
pessoas de raça inferior. Um contexto em
que a Ciência ‘moderna’ (e inclui-se a
Física) é reescrita na Europa e
posteriormente disseminada nas colônias,
tal qual o Brasil e toda a América Latina
na qual surgiriam as escolas e
universidades. Nessas instituições os
conhecimentos científicos produzidos em
diversas partes do mundo são difundidos
com nomes de homens brancos e europeus,
Galileu Galilei, Isaac Newton, Descartes e
Francis Bacon, por exemplo, ocultando as
fontes de tais ideias e omitindo a
contribuição anterior de povos como os
chineses, indianos, árabes, norte e sul-
africanos e também dos povos indígenas.
Tais práticas levaram a
consequências nocivas para os povos não
europeus, pois isto legitimou discursos
negativos e racistas vinculados a
humanidade e a capacidade intelectual de
tais povos, que perduram até os dias de
hoje. Neste sentido, para contrapor tais
discursos são apresentados a seguir alguns
exemplos de conhecimentos físicos que
ainda são estudados e cuja origem étnica
foi omitida.
Quadro 1. Conhecimentos físicos e suas origens
étnicas.
Tipo de conhecimento
Origem história
observacional e/ou
explicativa
Lei da gravitação, leis
Babilônios, Povos
dos movimentos dos
indígenas pré-históricos
corpos, movimento das
Maori (4 mil anos a.C.),
marés e o cálculo
Indianos (Varahamihira
diferencial.
- 505 e 587 d.C.,
Brahma Gupta - 628
d.C. e Bhaskara II -
1114 d.C.) e os povos
indígenas brasileiros
os Tupinambás 1614
(Prasad, 1999; Afonso,
2009; Conner, 2005).
Refração e reflexão da
Árabes físico
luz e pressão
Iraquiano (Al Hazen ou
atmosférica.
Ibn Al-Haitham) 1039
d.C. (Sarton, 1927).
Explosão da supernova,
nebulosa de caranguejo
e a bússola.
Chineses e Egípcios
(1054 d.C)
(Reeves,
1986).
Estrela Sirius, sistema
Povos Sul-africanos ‘Os
solar, anéis de saturno,
Dogons’
estrutura espiral da via
conhecimento milenar
láctea, a aridez da Lua .
(Adams, 2007).
Caráter não uniforme da
Persa e/ou mulçumano
aceleração e
(Al-Biruni - 1021)
consideração que
(Pappademos, 2007).
velocidade da luz é
muito mais rápida que a
velocidade do som.
Fonte: Pesquisa do autor.
Como se pode notar, os
conhecimentos e os sujeitos citados
expõem uma pluralidade geográfica,
cultural e temporal da Ciência ainda
estudada, que não advém dos europeus.
Diversidade que foi omitida em nome da
dominação e da exploração europeia sobre
os outros povos do mundo, prática que
ocorreu por meio de uma limpeza ou
apagamento étnico-cultural que gerou
rótulos e legitimou ações violentas sobre
indígenas, indianos, chineses e africanos.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 177-203
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
183
Barbosa, R. G. (2018). O Ensino da Física na Educação do Campo: descolonizadora, instrumentalizadora e participativa...
Segundo Fanon (2004), a opulência
europeia foi fundada sobre a escravidão. O
bem-estar e o progresso da Europa foram
construídos com o suor e os cadáveres de
negros, árabes, índios e raças amarelas.
Epistemologia crítica da Ciência/Física
A discussão epistemológica que aqui
se apresenta refere-se basicamente a tratar
da relação dialética entre sujeito e objeto,
homem/mulher e o mundo natural e é nesta
relação que a Física/Ciência é produzida.
Baseado nas suas condições de existência,
a humanidade em contato com o mundo o
interpreta e o representa, por esta razão
pode-se dizer que a Ciência faz parte da
cultura humana que envolve entre outras
atividades o estudo das plantas: suas
propriedades medicinais, físicas, químicas
e biológicas; o estudo do Sol: como fonte
de luz, calor e vida; o estudo do mar: sua
natureza, movimento e energia; o estudo
do céu: sua beleza, seus astros, a chuva e
os ventos; o estudo do fogo: seu poder e
calor; o estudo dos animais: sua natureza,
velocidade e fisiologia; etc.
Conhecimentos que estão vinculados
diretamente com a criação e o
aperfeiçoamento de instrumentos técnicos
ou tecnológicos originados historicamente
em seus primórdios da experiência
cotidiana de pessoas comuns tais como,
parteiras, cozinheiras, pescadores,
caçadores, marinheiros, mineradores,
curandeiros, artesãos, agricultores e
comerciantes (Conner, 2005) e que foram
registrados e acumulados durante os
séculos por diferentes povos, ao mesmo
tempo em que a sociedade foi se
modificando e adotando cada vez mais
produtos da Ciência na fabricação da vida,
seus modos de agir e pensar.
Sob regimes imperialistas,
colonialistas e capitalistas os
conhecimentos científicos tornaram-se
instrumentos para fins econômicos e de
domínio de certos grupos sobre outros,
sendo que os grupos dominadores se
apropriaram dos saberes científicos e dos
modos de produção de outros povos para
então produzir mercadorias para compra e
venda. São eles, por exemplo, que
patrocinam os grandes laboratórios de
pesquisa genética-alimentícia, informática,
bélica, das comunicações, e da química
medicinal, estética e industrial. São essas
organizações as quais os cientistas estão
submetidos e que influem em suas
elaborações teórico-metodológicas de
pesquisa e que, portanto, não são formas
neutras nem ‘puras’ de se fazer Ciência.
Na visão de Pinto (1979, p. 152),
A ingênua equiparação da Ciência
“pura” ao trabalho de formulação
teórica, em qualquer ramo do
conhecimento não passa de um
sofisma forjado pelos autores de
Ciência “pura” com o propósito de
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 177-203
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
184
Barbosa, R. G. (2018). O Ensino da Física na Educação do Campo: descolonizadora, instrumentalizadora e participativa...
parecerem, eles próprios, puros.
Trata-se de uma racionalização
destinada a fazer crer que tais
homens de Ciência não servem a
interesses subalternos. Trata-se de
uma ocultação da realidade
existencial do cientista, que este
acolhe e propala com o propósito de
pacificar a própria consciência e
descarregar a responsabilidade pelos
serviços que presta a finalidades às
quais, de outro modo, teria
possivelmente, escrúpulos em servir.
Os pesquisadores que não m
consciência do seu papel enquanto agente
submisso a um sistema de interesses
econômicos e políticos, pode - se dizer que
estão com a sua consciência alienada. “A
consciência alienada é fundamentalmente
consumidora de ideias ... O homem
alienado não pode ser produtor, limita-se a
ser depredador e repetidor de ideias
alheias, é incapaz de ter um pensamento
original” (Pinto, 1979, p. 52)
ii
. Neste
panorama, para nos ajudar a compreender
melhor o fazer Ciência e sua representação
realiza-se, a seguir, uma diferenciação
entre a lógica formal e a lógica dialética.
Lógica formal ou Epistemologia
positivista e Lógica dialética ou
Epistemologia crítica
A alienação referida anteriormente se
deve muitas vezes a ênfase na
consideração da Ciência da perspectiva da
lógica formal, pois como o próprio nome
diz tal lógica foca sobre as normas e
padrões de pensamento formalizados a
partir de recortes da realidade objetiva. A
grande ingenuidade desta corrente de
pensamento é que ela busca, a partir de
premissas específicas, explicar o mundo
por meio de postulados ou leis
supostamente gerais, uma perspectiva cujo
foco está na linguagem, quer dizer no
discurso, no mundo das ideias. Tal
condição muitas vezes leva a uma
confusão que é identificar a Ciência com
sua linguagem, isto é, com sua expressão
formal. Segundo Pinto (1979, p. 79-80),
A linguagem não representa um
ingrediente fundamental para a
constituição da Ciência, como
querem as escolas analistas e
semânticas, que confundem a
transmissão do saber científico com a
formulação dele na relação
existencial entre o homem e a
realidade .... A linguagem, como
modo social de comunicação, só se
constitui em tema de estudo
relacionado com o problema da
Ciência, porque os métodos de
descobrimento da realidade são de tal
maneira complexos e refinados, que
impõe a exigência de que seus
resultados sejam expressos em
manifestações convencionais tão
rigorosas quanto possível, pois se
trata de ‘transmitir’ a outro indivíduo
o que o criador do conhecimento, o
cientista, elaborou ou descobriu.
Logo a Ciência não é linguagem
iii
e
considerar isso, é negar o mundo sensível,
é permitir que o discurso construa o mundo
real objetivo e este torne-se verdadeiro e
inquestionável, independentemente se os
sentidos dizem outra coisa. Além disso, tal
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 177-203
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
185
Barbosa, R. G. (2018). O Ensino da Física na Educação do Campo: descolonizadora, instrumentalizadora e participativa...
visão desconsidera a complexidade do
fazer Ciência, sua riqueza imagética,
lógica, metodológica, prática e filosófica.
Por esta razão a epistemologia positivista é
considerada ingênua ou acrítica, pois ela
não questiona suas afirmações e nem seus
métodos. Um exemplo disso foi a
explicação equivocada dada por Galilei ao
movimento das marés, que se baseou nas
descrições aristotélicas, ptolomaicas e
copernicanas e não em dados
observacionais e empíricos disponíveis na
época. Segundo Afonso (2009, p. 63),
Galileu demonstrou que da
composição desses dois movimentos
circulares uniformes, diurno e anual,
resulta um movimento disforme,
acelerado e retardado, para partes da
superfície terrestre. Para ele, essa
variação na velocidade resultante
provocaria o fluxo e o repuxo das
marés, ou seja, a subida e a descida
do nível médio das águas dos
oceanos, sem necessidade de
participação da Lua.
Os indígenas brasileiros, os
tupinambás que obviamente não
dominavam todas essas nomenclaturas
muito menos o latim, segundo o relato de
um padre capuchinho francês, sabiam de
sua experiência vivencial próxima à costa
brasileira, que a elevação e o abaixamento
do nível do mar se deviam à atração
gravitacional da Lua, uma explicação
conhecida por eles por pelo menos 18 anos
antes de Galileu e 73 anos antes de Newton
(D’Abbeville, 2008).
Diante disso, tal fato expõe a
limitação da lógica formal para conhecer o
mundo, pois esta não adota a prática social
como critério de verdade, quer dizer, a
prática enquanto confirmação do conteúdo
da ideia imaginada (Pinto, 1979). A
experiência científica serve como exemplo
desse tipo de confirmação, porém a sua
validade não está nesta prática em si, mas
em um conjunto de evidências que
pertencem ao contexto sociocultural no
qual os instrumentos e os sujeitos se
inserem. Neste sentido a coerência e a
fidedignidade dessas evidências devem
considerar pelos menos dois aspectos a
finalidade social da pesquisa (para quê? e
para quem?) e a possibilidade de observar
regularidades e padrões por outros sujeitos
sob condições similares. Podemos dizer
que estes dois aspectos são as bases da
epistemologia crítica, pois diferentemente
da epistemologia positivista, que foca ora
nas ideias (idealismo, metafísica) ora na
experiência (empirismo), a lógica dialética
considera a relação inseparável do sujeito-
mundo ou do mundo-sujeito, pois
não é legítimo conceber qualquer
teoria científica, nem examinar o
valor lógico das que compõe a
Ciência atual, em qualquer domínio,
sem mencionar a presença do homem
(ou mulher). ... A necessidade de
tratar os dados das Ciências no seu
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 177-203
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
186
Barbosa, R. G. (2018). O Ensino da Física na Educação do Campo: descolonizadora, instrumentalizadora e participativa...
conteúdo imediato pode fazer-nos
esquecer que tais dados se de um
lado são dados da realidade, do
mundo exterior ou do universo de
abstrações inteligíveis, como nas
matemáticas, por outro lado são
dados do homem ... não ao indivíduo
isolado, mas ao ser social que se
constitui em criador da Ciência
(Pinto, 1979, p. 115).
Por esta razão a epistemologia crítica
contraditória por natureza é mais avançada
em termos de análise, pois encara o mundo
dialeticamente e organiza e disponibiliza
suas ideias formalmente, isto é, engloba a
lógica formal. Sobretudo, considera a
prática social como critério de verdade,
ora, não se prende a discursos para
observar a realidade, mas observa o mundo
e confronta o que e sente com o que é
dito. Por exemplo, não se pode acreditar
que a Ciência começou na Grécia, ou que
Descartes, Galileu e Newton são os
grandes precursores da forma de
pensamento a respeito dos objetos
científicos e tecnológicos que levaria ao
tipo de sociedade em que vivemos hoje.
Isso é uma grande ingenuidade que por
séculos tem sido difundida e reforçada em
nossas mentes principalmente nas escolas e
universidades. Segundo Pinto (1979, p.
56),
O mundo do pensar formal,
metafísico, apresenta-se a si mesmo
autossuficiente, sem desvelar as
próprias imperfeições. É preciso ser
objeto do exame por parte de um
pensamento que o envolve e o
particulariza para que venha
reconhecer sua validade menor. Tal
atitude dificilmente será esperada dos
homens de Ciência, educados no
estilo de pensar formal, geralmente
distantes e desinteressados do que
chamam ‘especulações filosóficas’,
que quase nunca encontram
ressonância no seu espírito,
parecendo-lhe perda de precioso
tempo que deveria ser dedicado ao
trabalho efetivo. Contra tal postura
não cremos que haja remédio senão
na formação adequada de novas
gerações de pesquisadores.
Em face dessas considerações é
possível afirmar que a adoção de uma
epistemologia crítica é uma necessidade
premente, pois ela possibilita uma
compreensão mais totalizante da realidade
cujo sujeito é parte. Neste quadro um
elemento indispensável é a sociologia da
Ciência, o estudo das condições materiais e
sociais em que se realiza esse produto
cultural, na ausência desses elementos,
fatos e condições de produção dos
conhecimentos científicos são omitidos, o
que impossibilita uma compreensão mais
holística dos saberes ensinados. Do ponto
de vista da lógica dialética a
impessoalidade, a atemporalidade e a
suposta rigidez das ideias científicas
servem para ocultar a sua verdadeira
natureza política e ideológica. Foi isso que
os defensores da chamada Ciência
moderna fizeram, ocultaram as fontes de
saber indiana, chinesa, africana e indígena
de suas supostas ‘descobertas’.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 177-203
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
187
Barbosa, R. G. (2018). O Ensino da Física na Educação do Campo: descolonizadora, instrumentalizadora e participativa...
Ensino de Física - reprodução, alienação
e expulsão
A Física de modo geral é tratada
como uma linguagem, símbolos,
terminologias, expressões matemáticas,
que devem ser ensinadas. Neste sentido,
aprender os conceitos e ideias desta
disciplina se refere a dominar palavras e
processos matemáticos. O problema desta
consideração é que esta concepção é
reducionista
iv
, pois despreza um grande
grupo de objetos, práticas e motivações
que levaram a este ou aquele conceito ou
ideia.
Tal condição provavelmente
contribui para que a grande maioria dos
estudantes não a compreenda, pois como
foi dito anteriormente a linguagem é
apenas o aspecto formal da atividade
científica. Quadro que pode ser observado
nas práticas avaliativas que demonstram o
quão reprodutor, no sentido vygotskyano
v
do termo, este processo tem sido, pois é
durante as avaliações que os alunos são
solicitados a repetirem palavras-ideias e/ou
palavras-conceitos e a resolverem
problemas, que raramente o fazem de
maneira estrita.
Um quadro que possivelmente está
vinculado ao foco academicista que subjaz
os objetivos e os processos de ensino e
aprendizagem da Física. Estes de modo
geral são pensados e planejados para um
contexto escolar ou universitário, sem
levar em conta a finalidade social, política
e econômica da formação dos sujeitos.
Além disso, embora as instituições
educacionais tenham um vínculo e um
papel com o todo social, muitas de suas
práticas se voltam para a formação de um
sujeito repetidor ou imitador de ideias, o
que pode levá-lo a ser um sujeito incapaz
de um pensamento original e que produza
ou devolva algo útil ou benéfico para a
sociedade, e não sirva apenas para
ascensão individual em uma carreira
profissional, quando esta ocorre (Schiff,
1993; Tragtenberg, 2004; Alencar, 2004).
Neste contexto, ao considerar que
vivemos em uma sociedade em que
diferenças e divisões de classe, pode-se
dizer que a Física, enquanto um
conhecimento difundido a partir do
pensamento-linguagem euro-estadunidense
e que no Brasil e em outros países é
ensinada em escolas públicas seja na área
urbana ou rural, quando se trata dos filhos
da classe trabalhadora, é possível notar
pelo menos três papéis
vi
que ela cumpre:
a)
ajudar na expulsão desses
estudantes das instituições de ensino e dos
possíveis benefícios sociais que eles
poderiam, quiçá um dia ter. Entre outras
razões, isto se dá pela dificuldade de
apreensão deste conhecimento.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 177-203
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
188
Barbosa, R. G. (2018). O Ensino da Física na Educação do Campo: descolonizadora, instrumentalizadora e participativa...
b)
contribuir na formação de um
sujeito individualista, alienado, sem
criticidade e reprodutor de ideias alheias,
geralmente conservadoras
vii
(Freire, 1987).
c)
formar sujeitos incapazes de criar
algo autêntico ou original e que possam ir
além do que eles aprenderam (Schiff,
1993; Alencar, 2004).
Essas consequências se devem à
insistência em um ensino focado na
memorização de conceitos abstratos
desvinculados da realidade concreta dos
estudantes, bem como da desconsideração
da natureza técnica de sua linguagem e do
desconhecimento do seu escopo. Nesta
direção, a seguir apresentam-se outras
dimensões desse mesmo processo, que
podem contribuir na ou na não
compreensão desta disciplina.
A Física não é a expressão da verdade a
respeito do mundo
É muito comum docentes e
estudantes considerarem que aprender
Física se refere a aprender a verdade sobre
o mundo. Porém, esta visão é equivocada,
pois a Física apenas traduz uma forma
específica de ver e representar a realidade,
que não é a mais correta, nem a mais
verdadeira ou real do que as ideias que os
alunos trazem de casa. Pode-se dizer que
esta confusão ocorre por pelos menos duas
razões: primeiro, às explicações Físicas
que às vezes se aproximam da realidade
dos estudantes (força de atrito, calor,
temperatura, velocidade) e às vezes se
afastam (carga elétrica, campo elétrico e
interações atômicas), e segundo, à ideia de
que aprender Física implica em substituir
os saberes espontâneos dos estudantes por
suas noções e conceitos. Tais concepções
podem confundir os estudantes quanto à
natureza do conhecimento científico. Por
exemplo,
Alunas .... parecem sentir que tópicos
“exóticos” como relatividade e
astrofísica são mais próximos da sua
vida cotidiana que mecânica e
eletricidade, etc. (Angell et al., 2004,
p. 701).
Em uma das minhas turmas de
engenharia Física, eu propus uma
questão sobre a terceira lei de
Newton no exame final. Uma de
minhas melhores alunas após o
exame veio à minha sala muito
chateada. Ela expressou sua confusão
sobre qual dos dois carros após
colidirem ia sentir a maior força, um
carro pequeno, ou um grande
caminhão, e ela reportou que ela
tinha alterado inúmeras vezes a sua
resposta durante a prova. ‘Eu sei,’ ela
disse, ‘que a Terceira lei de Newton
diz que deve ser igual, mas não pode
estar certo, ou pode’. O contexto da
sala de aula a levou a criar um
modelo de ‘Física da sala de aula’ da
terceira lei de Newton, mas a redação
do discurso comum da questão levou
a trazer a resposta dela ao senso
comum, os objetos maiores exercem
uma força maior. Aprender com
sucesso a terceira lei de Newton não
foi o suficiente para ela se sentir
confortável com as situações em que
deve ser utilizada (Redish &
Steinberg, 1999, p. 13).
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 177-203
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
189
Barbosa, R. G. (2018). O Ensino da Física na Educação do Campo: descolonizadora, instrumentalizadora e participativa...
Estes exemplos evidenciam que
uma falta de esclarecimento por parte dos
estudantes a respeito da Física e da sua
relação com a realidade que sob a
perspectiva dialética, trata-se dentre outras
coisas, de uma representação,
interpretação, nominalização de partes da
realidade sensível, aspecto considerado
também por Lemke (1990), ao afirmar que
o que deveria ser ensinado aos estudantes é
que a Ciência é simplesmente uma
maneira, entre outras, de falar a respeito do
mundo, que é importante e útil, mas não é
a melhor, a mais verdadeira, ou ainda, a
mais completa e suficiente (Lemke, 1990,
p. 176). Além disso, o conhecimento físico
é muitas vezes contra-intuitivo, quer dizer,
não se revela de imediato, pois a sua
existência está condicionada a pré-
condições que precisam ser conhecidas.
Segundo Robilotta (1988, p. 12),
O acesso a esse mundo é feito por
meio de sensações, palavras, imagens
e intuição, e a mente busca a
intimidade do objeto a ser conhecido.
Nesse tipo de conhecimento não
existe a clareza fria da razão.
Entretanto, como afirma Schenberg,
‘há coisas que pela sua própria
natureza não podem ser vistas com
muita clareza. São coisas
corpusculares, e se quiser vê-las com
clareza, elas somem. E têm que ser
vistas mesmo assim.’ O
conhecimento está associado ao
enriquecimento do conteúdo da
realidade dos símbolos empregados
no tratamento formal dos problemas
teóricos.
Tais aspectos nos leva a segunda
razão pela qual docentes e estudantes
consideram a Física como expressão da
verdade sobre o mundo. Como é
notoriamente conhecido, as pesquisas em
mudança conceitual provaram que
aprender Física envolve adicionar ao
cabedal de conhecimento dos sujeitos
novas formas de pensar que convivem com
as velhas formas de pensar, portanto não
uma substituição de um conhecimento
pelo outro. Esta ideia se aproxima do que
Mortimer (1996) denominou de perfil
conceitual. Em suas palavras,
A noção de perfil conceitual nos
fornece elementos para entender a
permanência das ideias prévias entre
estudantes que passaram por um
processo de ensino de noções
científicas. Ao mesmo tempo, muda-
se a expectativa em relação ao
destino dessas ideias, que se
reconhece que elas podem
permanecer e conviver com as ideias
científicas, cada qual sendo usada em
contextos apropriados (Mortimer,
1996, p. 34).
Nesta perspectiva é prudente aos
docentes que durante suas avaliações
solicitem aos estudantes que interpretem
um certo aspecto da realidade do ponto de
vista da Física, isto é, que adotem seus
referenciais e representações, ao contrário
de pedirem que opinem sobre determinado
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 177-203
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
190
Barbosa, R. G. (2018). O Ensino da Física na Educação do Campo: descolonizadora, instrumentalizadora e participativa...
assunto, o que permitiria aos estudantes o
uso de um referencial não científico.
Características gramaticais e semânticas
da linguagem científica
Como foi citada anteriormente, a
Física representa uma forma específica de
ver e pensar o mundo material, que possui
uma linguagem particular que se diferencia
da linguagem utilizada em conversas
informais. Roth e Lawless (2002)
salientam que a Ciência é, de fato, “uma
forma de cultura que possui os seus
próprios credos, linguagem, práticas
materiais, percepções, teorias e crenças”
(Roth e Lowless, 2002, p. 369). Nesta
perspectiva, Fang (2004, p. 337) salienta
que,
Diferentemente da linguagem
espontânea do dia-a-dia, que é
funcional para construir o
conhecimento de senso comum em
um contexto da vida cotidiana, a
linguagem científica é funcional para
construir um domínio de crenças e
conhecimento científico. A gramática
especializada da linguagem científica
torna possível ao cientista construir
uma interpretação alternativa do
mundo físico a aquela fornecida pelo
discurso espontâneo da linguagem de
senso comum (Halliday & Martin,
1993; Martin & Veel, 1998).
Desse modo e compreendendo que a
linguagem científica tem características
específicas que influem na aprendizagem
da Física, destacamos algumas
características gramaticais e semânticas
que pertencem a esta disciplina que
dificultam a sua apreensão em nível
linguístico. Fang (2004) aponta 4
características da linguagem científica
escrita: densidade informacional,
abstração, tecnicalidade e autoridade.
A densidade informacional se refere
à quantidade de conceitos e ideias
presentes em uma frase, geralmente
representada por substantivos. Por
exemplo: A luz branca é uma onda
eletromagnética policromática que é
detectada pela retina de nossos olhos.
Se um professor apresentar esta
definição para os estudantes que não
conhecem estes termos dificilmente eles
irão compreendê-la. Portanto, é importante
que os docentes tenham consciência da
complexidade que a definição de um
conceito pode ter para os estudantes.
A segunda característica da escrita
científica relacionada à anterior é a
abstração. Diferentemente da linguagem
adquirida espontaneamente e usada para
representar a experiência cotidiana, a
linguagem científica teoriza as
experiências concretas de vida em
entidades abstratas, que podem então ser
examinadas e criticadas. De acordo com
Christie (2001, p. 66), a nominalização das
frases “afasta do contexto imediato da
experiência de vida dos sujeitos e constrói
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 177-203
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
191
Barbosa, R. G. (2018). O Ensino da Física na Educação do Campo: descolonizadora, instrumentalizadora e participativa...
verdades, abstrações, generalizações e
argumentos”. A nominalização permite ao
autor criar termos técnicos ou novas
entidades, para estabelecer relações de
causa e efeito entre diferentes fenômenos,
e para sintetizar e sistematizar informações
previamente enunciadas (Veel, 1997, p.
184). Como exemplo, observem a
diferença entre as duas frases a seguir:
A primeira, em linguagem menos
técnica, pode expressar-se da seguinte
maneira: O Sol é uma esfera brilhante que
fica sobre nossas cabeças que nos aquece
que vida as plantas e aos animais. Na
linguagem científica eu poderia dizer: O
Sol é uma estrela de quinta grandeza que
emite radiação infravermelha que eleva a
temperatura do planeta terra e faz com
que as plantas realizem a fotossíntese.
Como se podem notar, os termos
estrela, radiação infravermelha, energia,
temperatura, planeta terra e fotossíntese
são expressões que traduzem ideias e
significações sobre a realidade concreta,
elas são consideradas abstratas porque não
podem ser concebidas de modo imediato,
quer dizer, pelos sentidos, elas são criações
da mente humana condicionadas a um
contexto histórico cultural.
Essas terminologias levam ao
terceiro aspecto gramatical da linguagem
científica, que é o seu caráter técnico, pois
como se pode observar anteriormente trata-
se de termos especializados, ou seja, que
quem domina são pessoas que tiveram
uma formação específica. Segundo
Possenti (1997, p. 20), “o domínio da
linguagem técnica é parte importante da
aprendizagem do cientista. Um estudante
de medicina não fala mais em ‘derrame’,
mas em ‘acidente vascular cerebral’ ou,
simplesmente, em AVC”. Logo, aprender
Física também se refere a dominar o jargão
desta área de conhecimento. Contudo, o
que não pode ocorrer é focar quase que
exclusivamente o ensino da Física na sua
terminologia, sua linguagem e jargão,
como se estivesse ensinando a Física em
toda a sua complexidade.
Este caráter técnico aliado a outras
práticas sociais da Ciência e da tecnologia
levam ao último aspecto aqui destacado da
linguagem científica, que é a sua
autoridade. Obviamente não é somente
pela expressão da linguagem técnica que a
Ciência tem um status de autoridade, os
seus resultados eficazes como prever a
chuva, produzir um comprimido, fazer um
avião voar, tudo isso concede à Ciência e à
tecnologia uma autoridade quase
inquestionável em nossa sociedade.
Feyerabend expressa como a Ciência
constrói a sua autoridade em termos
linguísticos.
Não se diz, algumas pessoas
acreditam que a Terra se move em
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 177-203
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
192
Barbosa, R. G. (2018). O Ensino da Física na Educação do Campo: descolonizadora, instrumentalizadora e participativa...
torno do Sol, enquanto outras
consideram que a Terra é uma esfera
oca, onde se contém o Sol, os
planetas, as estrelas fixas. Diz-se: a
Terra gira em torno do Sol e tudo
o mais é pura idiotice (Feyerabend,
1977, p. 456).
Esta autoridade, que muitas vezes é
autoritarismo, submete os cientistas e toda
a sociedade a suas afirmações imperativas
‘verdades parciais’ sobre outras formas de
considerar o mundo, inibindo a diversidade
de ideias, pensamento e práticas.
O conhecimento físico como meio e não
como fim a dualidade conteúdo-
objetivo
O ensino da Física de modo geral
ocorre com foco nos conhecimentos
contidos nos livros didáticos conceitos,
termos, unidades e símbolos, cálculos que
devem ser apreendidos durante as aulas e
embora pareça normal essa forma de
realizar o ensino, ela é reprodutora de
ideias e práticas. Na concepção de Paulo
Freire os conteúdos ou conhecimentos de
ensino devem ser utilizados como um meio
para compreensão da realidade e não como
um objetivo em si mesmo, sobretudo
porque apreender conceitos e ideias em um
campo específico do conhecimento sem
vínculo com o social, não permite
transcendê-lo nem questioná-lo. Ora, se os
docentes desejarem ensinar criticamente é
preciso pensar os objetivos educacionais
para além dos conteúdos, isto é, com foco
no desvelamento da realidade e suas
relações com a humanidade, para escapar
do que eu chamo dualidade conteúdo-
objetivo, na qual ensinar e aprender Física
se refere a memorizar conceitos,
terminologias e simbologias.
Neste sentido, não devemos ter como
objetivo de uma aula de Física aprender as
leis do movimento ou as diferentes formas
de transferir calor entre os corpos, mas sim
propor ou fomentar a busca do
desvelamento de um determinado aspecto
da realidade que exija esses
conhecimentos. Mas aprender esse ou
aquele conceito sem ser uma exigência do
tema em estudo torna a aprendizagem uma
prática vazia e sem sentido.
Assim, o conhecimento conceitual,
informacional é importante, mas quando
desvinculado de um contexto social ou
concreto perde valor e se limita a
compreender uma dimensão muito
particular da realidade que não se liga à
totalidade nem à realidade dos aprendizes.
A Física e a Educação do Campo: a
Física como um instrumento de luta dos
povos do campo
Paradoxalmente para se pensar o
ensino da Física no contexto da Educação
do Campo é preciso, em um primeiro
momento, não pensar na Física. É
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 177-203
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
193
Barbosa, R. G. (2018). O Ensino da Física na Educação do Campo: descolonizadora, instrumentalizadora e participativa...
necessário pensar no sujeito da
aprendizagem, nas suas condições
materiais e sociais, pensar os sujeitos no
mundo e o mundo dos sujeitos, sua posição
dentro da estrutura social e suas condições
de existência de injustiça, desigualdade e
opressão. Segundo Caldart (2004, p. 152),
Os sujeitos do campo são aquelas
pessoas que sentem na própria pele
os efeitos desta realidade perversa,
mas que não se conformam com ela.
São sujeitos da resistência no e do
campo: sujeitos que lutam para
continuar sendo agricultores apesar
de uma modelo de agricultura cada
vez mais excludente; sujeitos da luta
pela terra e pela reforma agrária;
sujeitos da luta por melhores
condições de trabalho no campo;
sujeitos da resistência na terra dos
quilombos e pela identidade própria
desta herança; sujeitos da luta pelo
direito de continuar ser indígena e
brasileiro, em terras demarcadas e
identidades e direitos sociais
respeitados; e sujeitos de tantas
outras resistências culturais,
políticas, pedagógicas.
Neste sentido, se o sujeito que você
ensina é o explorado e o maltratado pelo
sistema capitalista é preciso pensar como
ajudá-lo a superar este estado, pois “não
como verdadeiramente educar os sujeitos
do campo sem transformar as
circunstâncias sociais desumanizantes e
sem prepará-los para serem os sujeitos
dessas transformações” (Caldart, 2004, p.
155). Será que aprender Física pode ajudar
neste compromisso? Como? Perguntas
difíceis de responder, mas vou tentar expor
o meu ponto de vista. Primeiramente, para
saber como a Física pode nos ajudar a
ajudar os alunos, fazemos a seguinte
questão: Do que trata a Física?
a) Surge da relação dialética humanidade-
mundo da ação humana durante sua
experiência vivencial e/ou observacional
e/ou experimental. Experiência que foi se
alterando com a criação de laboratórios e
centros de pesquisa, com instrumentos
tecnológicos cada vez mais sofisticados. A
Física reúne um conjunto de
conhecimentos relacionados à forma como
algumas partes do mundo “funciona”, de
modo geral pertencentes ao mundo natural,
o Sol, os ventos, a Lua.
b) Elabora explicações sobre as coisas do
mundo A atmosfera existe, tem peso e
exerce pressão sobre os nossos corpos. As
marés abaixam e se elevam devido à
interação gravitacional com a Lua. A terra
gira em torno do Sol devido à ação de uma
força gravitacional e/ou da curvatura do
tempo-espaço, uma lente curvada desvia a
trajetória de um feixe de luz.
c) Descreve processos As chuvas
resultam da condensação de vapor d’água
acumulada nas nuvens que se formaram
em razão da evaporação da água dos mares
e rios aquecidos pela radiação solar. O
movimento de um ímã em direção ao
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 177-203
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
194
Barbosa, R. G. (2018). O Ensino da Física na Educação do Campo: descolonizadora, instrumentalizadora e participativa...
centro de uma bobina de cobre produz uma
corrente elétrica induzida.
d) Utiliza a matemática na representação e
resolução de problemas geometria e
álgebra.
F = m.a, W = F. d. cos , Ep = m.g.h , P.V
= n.R.T, d = m/v
e) Adota representações gráficas e
simbólicas.
f) Constrói e utiliza instrumentos que
medem e ampliam sua ação lunetas,
termômetros, relógios, bússolas,
espectrômetros e réguas.
g) Imagina e cria universos, partículas,
fótons, buracos negros, elétrons.
Enfim, a Física vinculada a uma área
mais ampla da Ciência e da tecnologia é
uma construção humana a respeito de
certos aspectos que pertencem ao mundo
não artificial, elaborada em razão de
necessidades (sobrevivência, espiritual e
materiais), razões econômicas (comércio,
guerra) e também da curiosidade (saber em
que mundo vivo). Ela pode ser apresentada
por um sujeito individualmente, mas
resulta sempre de contexto histórico e
social que encontrará fundamento quando
confrontado com outros sujeitos de outras
nações. Talvez esteja a beleza da
Ciência/Física, no encontro das
consciências do mundo (Freire, 1987).
Desse modo, para que o ensino de Física
contribua para além da consolidação de um
discurso crítico a respeito da realidade faz
se necessário,
gestar no bojo dos contextos
concretos novas práticas, junto com
os sujeitos da comunidade, novas
relações, seja para com os sujeitos,
seja para com o conhecimento, com o
método. Ação e reflexão
comprometidas sobre a realidade
mutável, gerando ao mesmo tempo
emancipação humana, talvez seja o
grande prenúncio aos cursos de
Licenciatura por área de
conhecimento, munindo-se para isso
de alguns componentes da luta de
classe, ainda escassos na escola da
classe trabalhadora empobrecida do
campo (Ghedini; Von Oncay;
Debortoli, 2014, p. 108).
Por esta razão acredita-se que pensar
uma Educação do Campo que responda os
anseios destacados anteriormente faz
necessário desenvolver em nossos
estudantes de licenciatura práticas que os
capacitem a agir sobre o mundo para
transformá-lo. Nesta perspectiva os
conteúdos e/ou conhecimentos da Física
devem ser utilizados como um meio e não
como um fim (Freire, 1987). Logo, mais
do que ensinar conteúdos, conceitos e
ideias da Física deve-se primar pelo
desenvolvimento de práticas atitudinais,
que serão instrumentos de ação. Os
conhecimentos devem se submeter à
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 177-203
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
195
Barbosa, R. G. (2018). O Ensino da Física na Educação do Campo: descolonizadora, instrumentalizadora e participativa...
necessidade de compreensão deste ou
daquele aspecto da realidade. Tais saberes
passam a ser condicionados à exigência do
desenvolvimento de práticas que são
elencadas a seguir.
Quadro 2 Práticas atitudinais e formalização.
Práticas atitudinais
Ação-reflexão
Práticas atitudinais
formais Ação-reflexão
I. Curiosear - observar,
tocar, experimentar.
I. Anotar e/ou escrever.
II. Pensar (mundo -
nós, nós mundo)
pensar dialeticamente.
II.
Desenhar e
esquematizar.
III.
Representar
graficamente.
III. Imaginar e Criar
(ideias e objetos).
IV.
Representar
simbolicamente.
IV. Ler e pesquisar.
V. Explicar e descrever
processos.
IV.
Representar
matematicamente e
calcular.
VI. Projetar, construir,
utilizar instrumentos e
experimentos.
V.
Registrar explicações.
VI.
Descrever processos.
VII. Realizar testes.
VIII.
Confrontar,
questionar ideias,
práticas e afirmações.
Fonte: Pesquisa do autor.
Práticas que devem ser
desenvolvidas simultaneamente e a partir
de temas significativos para os sujeitos do
campo, suas relações de vida, trabalho e
condições de existência. Práticas relativas
às ações dos sujeitos tanto no fazer quando
no representar o mundo por meio da
formalização.
Nesta direção a abordagem temática
freiriana tem dois propósitos: aproximar os
estudantes dos conhecimentos científicos a
partir de objetos e práticas que eles
conhecem e ao mesmo tempo, permitir que
se conheça o mundo de uma maneira mais
totalizante. Assim, os conhecimentos e
práticas científicas tornam-se um meio
para o desvelamento da realidade e ao
mesmo tempo um objeto de
instrumentalização dos sujeitos que devem
contribuir para:
a) Ajudar os sujeitos do campo a conhecer
o mundo suas relações com os objetos e
fenômenos naturais, imateriais e
inanimados, terrenos ou extraterrenos, sem
desconsiderar sua natureza histórica e
social.
b) Combater a situação de opressão
apresentar provas científicas de ações
nocivas do agronegócio à sobrevivência
dos sujeitos do campo, construir meios
alternativos para diminuir sua situação de
exploração econômica (aquecedores de
água e geradores alternativos de energia
elétrica).
c) Produzir conhecimento novo novas
relações com o meio ambiente, novas
relações econômicas e novas formas de ver
o mundo.
A Física e a necessidade interdisciplinar
Totalidade do mundo
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 177-203
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
196
Barbosa, R. G. (2018). O Ensino da Física na Educação do Campo: descolonizadora, instrumentalizadora e participativa...
Como foi destacada anteriormente, a
Física trata de certos aspectos da realidade
e por isso ela é limitada e limitante, assim
como é qualquer outra disciplina científica,
pois tais disciplinas são constituídas na
especialização embora tenham diálogo e
influência do todo social. E fatalmente um
processo de ensino e aprendizagem
centrado em uma disciplina tende a levar o
aluno à alienação e consequentemente a
uma visão de mundo muito restrita, que
poderá levá-los a aderirem a mensagens
propaladas por quem tem maior poder de
divulgação ou propaganda de
ideias/ideologias como a mídia televisiva,
radiofônica e jornalística que são
patrocinadas, de modo geral, por grandes
grupos econômicos como o do
Agronegócio.
Por isso, pensar a Educação do
Campo no âmbito das Ciências da natureza
e da Física de modo particular, refere-se a
uma leitura de mundo mais abrangente,
mais complexa e menos reducionista. Por
exemplo, falar a respeito da construção de
uma usina hidrelétrica de produção de
energia não se trata apenas de conhecer os
processos e transformações de energia que
ocorrem na produção da eletricidade.
Implica, sobretudo, em conhecer o lugar,
as pessoas que vivem lá, suas famílias,
seus modos de vida, suas raízes e heranças
materiais e imateriais além dos interesses
políticos e econômicos ocultos por traz de
sua implantação.
Neste âmbito faz necessário estudar e
compreender as dimensões sociais,
históricas, políticas e econômicas que
permeiam tais objetivos e temas, pois a
Física difundida de modo geral é
apresentada de maneira que simplifica e
reduz a realidade. Por isso, os livros
didáticos não podem ser usados como
diretrizes das práticas de ensino, pois estes
apenas fornecem recortes de
conhecimentos conceituais e por esta razão
impedem uma visão mais totalizante ou
crítica da realidade.
O diálogo começa na busca pelo
conteúdo programático uma
abordagem metodológica
Inspirado na frase do educador
brasileiro Paulo Freire “o diálogo começa
na busca pelo conteúdo programático”, foi
elaborada uma abordagem metodológica
aplicada a duas turmas, uma do primeiro
semestre e outra do quinto, do curso de
Educação do Campo Ciências da
Natureza da Universidade Federal do
Paraná, Setor litoral, com o objetivo de
extrair dos estudantes problemas que os
afetam e que poderiam estar vinculados à
Física. Para além da dimensão dialógica
considerou-se também a necessidade de
escapar dos exercícios prontos que os
livros didáticos trazem, que de modo geral
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 177-203
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
197
Barbosa, R. G. (2018). O Ensino da Física na Educação do Campo: descolonizadora, instrumentalizadora e participativa...
não refletem a realidade dos sujeitos do
campo.
Diante disso, procedeu-se com o
seguinte questionamento: Quais são os
nossos problemas físicos? Quais os seus
problemas físicos? Por exemplo; Qual a
velocidade...? Quanto tempo...?, Que
força..., pressão..., energia..., posição...,
espaço..., temperatura..., calor...,
deslocamento. A partir desta
problematização os alunos fizeram as
seguintes questões que são apresentadas no
Quadro 3:
Quadro 3 Questões elaboradas pelos estudantes.
Discussão e Análise
Para analisar as questões elaboradas
pelos estudantes será considerado o
pensamento freireano. Entretanto, em
primeiro lugar será realizada uma análise
da abordagem metodológica empregada.
O método
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 177-203
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
198
Barbosa, R. G. (2018). O Ensino da Física na Educação do Campo: descolonizadora, instrumentalizadora e participativa...
Esta abordagem metodológica trata-
se de uma abordagem dialógica, temática e
problematizadora no estrito sentido
freireano, isto porque ela abre espaço para
que os estudantes se pronunciem e
apontem temas ou questões sobre as quais
eles têm algum interesse ou curiosidade, ao
mesmo tempo em que se estabelece o
diálogo entre educador e educandos. Neste
caso em particular, o educador
corresponsável pelo processo de ensino e
aprendizagem traz os elementos que
provocam a ação, a voz dos educandos,
que por sua vez, dão o primeiro passo em
direção à participação no seu próprio
processo de formação, os quais
problematizam a sua própria realidade.
Esta abordagem pode ser considerada
também uma forma de ensinar os futuros
docentes a escapar do condicionamento
dos livros didáticos que não apresentam
problemas de interesse da classe
trabalhadora, além de que, permite
delimitar os tópicos da Física a serem
estudados de acordo com cada contexto.
As questões dos estudantes
Descrição: Na amostra acima são
apresentadas seis questões, que podem ser
classificadas segundo a sua natureza
curiosa ou de necessidade social. As que se
referem ao terrário e ao voo do pássaro
denominamos de curiosas. As outras,
embora reflitam uma curiosidade pessoal,
vinculam-se a uma situação cotidiana, a
uma necessidade social, isto é, à falta de
água na ilha, à deficiência na rede elétrica,
ao deslocamento dos barcos no oceano, e
ao tempo para que uma ostra se
desenvolva. Neste último exemplo, embora
o problema da maturidade de uma ostra
não seja propriamente um problema que a
Física geralmente se debruce, em um curso
como a licenciatura em Educação do
Campo, que adota a área de conhecimento
como foco de ensino, responder esta
questão não deve ser um problema.
Inferência: Como se podem observar,
as questões produzidas pelos estudantes
são autênticas, vinculadas as suas
curiosidades, bem como ao seu cotidiano.
Questões que foram elaboradas a partir de
termos/conceitos físicos para os quais eles
possuíam uma concepção prévia
coincidente ou não com as significações
dadas pela Física. Diferentemente do
caráter abstrato do ensino conceitual da
Física, esta abordagem metodológica
permite estudar diversos temas vinculados
a um contexto. Enfim, não é a Física pela
Física, mas a Física voltada à compreensão
da realidade e quiçá para resolução prática
do problema da falta d’água ou de energia
elétrica que atinge um determinado grupo
social.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 177-203
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
199
Barbosa, R. G. (2018). O Ensino da Física na Educação do Campo: descolonizadora, instrumentalizadora e participativa...
Considerações finais
Por que um ensino de Física
descolonizador? Primeiro, considera-se
assim como Smith (1999) que o sistema
capitalista atual que também recai sobre o
Brasil e outros países do mundo é uma
extensão da política econômica e social
colonialista e imperialista implantada pelos
países europeus nos continentes
americano, asiático e africano por volta do
século XV. Fruto deste período histórico, a
Física se reestrutura segundo a lógica do
pensamento-linguagem europeu, sua
cultura, valores e símbolos.
Tal disciplina inserida em outros
cenários culturais, como o Brasil, torna-se
um conhecimento estranho. Que exige um
grande esforço para ser apreendido,
contudo atrás dessa dificuldade uma
trapaça, ou seja, sua apresentação que se dá
de forma fragmentada e desvinculada do
seu contexto de produção. Logo, poucos
estudantes irão compreendê-la e os que
assim fizerem correm um grande risco de
alienar-se do mundo objetivo, pois entram
em um mundo conceitual fechado. Os
estudantes filhos da classe trabalhadora, ao
invés disso, são excluídos do sistema
educacional e dos postos de prestígio que
ele supostamente garante. Enfim, esta
dinâmica faz parte de um processo de
domínio que intencionalmente tenta
mostrar aos colonizados que eles são
incapazes de aprender.
Logo, para reverter tal quadro é
preciso escapar desde círculo vicioso do
conteúdo como fim, para o conteúdo como
um meio para compreender, agir e
transformar a realidade. Não apenas isso;
faz-se necessário ajudar os estudantes a ter
o domínio de instrumentos intelectuais, tais
como, classificar, analisar, descrever e
recriar a realidade; e também de
instrumentos técnicos, isto é, projetar,
construir objetos que melhorem suas
condições de vida e de suas comunidades.
Essas práticas, vinculadas a outras
discussões como as questões agrárias e os
fundamentos agroecológicos, permitem
pensar outra abordagem de ensino da
Física para e com os sujeitos do campo que
seja crítica e descolonizadora e portanto
participativa.
Referências
Adams, H. H. (2007). African Observers of
the Universe: the sirius question. In
Sertima, I. V. Black in Science: ancient
and modern (pp. 27-46). New Brunswick:
Transaction Publishers.
Afonso, G. B. (2009). Galileu e a natureza
dos Tupinambás. Scientific American,
Maio.
Alencar, E. S. (2004). Como desenvolver o
potencial criador: um guia para a
liberação da criatividade em sala de aula.
Petrópolis, RJ: Vozes.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 177-203
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
200
Barbosa, R. G. (2018). O Ensino da Física na Educação do Campo: descolonizadora, instrumentalizadora e participativa...
Angell, C., et al. (2004). Physics: frightful,
but fun: Pupils’ and teachers’ views of
physics and physics teaching. Science
Education, 88(5), 683-706. DOI:
https://doi.org/10.1002/sce.10141
Barbosa, R. G. (2014). Educação
científica e tecnológica para a
participação: Paulo Freire e a
criatividade (Tese de Doutorado).
Universidade Estadual de Londrina,
Paraná.
Caldart, R. S. (2004). Por uma educação
do campo: traços de uma identidade em
construção. In Arroyo, M. G., Caldart, R.
S., & Molina, M. C. (Orgs.). Por uma
Educação do Campo (pp. 147-158)
Petrópolis, RJ: Editora Vozes.
Carvalho, M. B. O. (2005). Ser
conservador. Revista Espaço Acadêmico,
50, Recuperado de:
http://www.espacoacademico.com.br/050/
50ccarvalho.htm
Conner, C. D. (2005). The people’s history
of science. New York: Nation books.
Cortês, N. (2003). Esperança e
Democracia: as ideias de Álvaro Vieira
Pinto. Belo Horizonte: Editora UFMG; Rio
de Janeiro, RJ: IUPERJ.
Christie, F. (2001). The development of
abstraction in adolescence in subject
English. In Schleppegrell, M., & Colombi,
M. C. (Eds.). Developing advanced
literacy in first and second language:
Meaning with power (pp. 45-66). Mahwah,
NJ: Erlbaum.
D’Abbeville, C. (2008). História das
missões do padres Capuchinhos na ilha do
Maranhão e terras circunvizinhas.
Brasília, DF: Senado Federal; Conselho
Editorial.
Fang. Z. (2004). Scientific Literacy: A
Systemic Functional Linguistics. Science
Education, 82(2), 335-347. DOI:
https://doi.org/10.1002/sce.20050
Fanon, F. (2004). The Wretched of the
Earth. New York: Groove Press.
Feyerabend, P. (1977). Contra o método.
Rio de Janeiro, RJ: Francisco Alves editor.
Freire, P. (1967). Educação como prática
da liberdade. Rio de Janeiro, RJ: Paz e
Terra.
Freire, P. (1987). Pedagogia do Oprimido.
São Paulo, SP: Paz e Terra.
Ghedini, C. M., Von Oncay, S. T., &
Debortoli, S. F. (2014). Educação do
Campo e prática pedagógica desde um viés
freireano: possibilidade de construção da
consciência e da realidade. In Molina, M.
C. (Org.). Licenciaturas em Educação do
Campo e o Ensino de Ciências Naturais:
desafios à promoção do trabalho docente
interdisciplinar (pp.83-110). Brasília, DF:
MDA.
Goonatilake, S. (1982). Colonies: scientific
expansion (and contraction). Review, 5(3),
413-436.
Lemke, J. L. (1990). Talking science:
language, learning and values. Westport:
Ablex Publishing.
Marcondes Filho, C. (2005). Michel Serres
e os cinco sentidos na comunicação. Novos
Olhares, 16(2), 5-19.
Mortimer, E. F. (1996). Construtivismo,
mudança conceitual e o ensino de
Ciências: para onde vamos? Investigações
em Ensino de Ciências, 1(1), 20-39.
Pappademos, John. (2007). An Outline of
Africa’s Role in the history of Physics. In
Sertima, I. V. Black in Science: ancient
and modern (pp. 177-196). New
Brunswick: Transaction Publishers.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 177-203
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
201
Barbosa, R. G. (2018). O Ensino da Física na Educação do Campo: descolonizadora, instrumentalizadora e participativa...
Pinto, A. V. (1979). Ciência e Existência:
problemas filosóficos da pesquisa
científica. Rio de Janeiro, RJ: Paz e Terra.
Possenti, S. (1997). Leitura e discurso
científico. Cadernos Cedes, 41(1), 9-24.
Prasad, M. (1999). Science and
Technology in Sanskrit in Ancient India.
Recuperado de:
http://sanskritdocuments.org/articles/Scien
ceTechSanskritAncientIndiaMGPrasad.pdf
Redish, E. F., & Steinberg, R. N. (1999).
Teaching physics: figuring out what works.
Physics Today, 52(1), 24-30.
Tragtenberg, M. (2004). Sobre educação,
política e sindicalismo. São Paulo, SP: Ed.
Unesp.
Veel, R. (1997). Learning how to mean-
scientifically speaking: Apprenticeship
into scientific discourse in the secondary
school. In Christie, F., & Martin, J. R.
(Eds.). Genre and institutions: Social
processes in the workplace and school (pp.
161-195). London: Cassell.
Zinn, H. (1997). The Zinn Reader: writings
on disobedience and democracy. New
York: Seven Stories press.
Reeves, H. (1986). Um pouco mais de
azul: a evolução cósmica. São Paulo, SP:
Martins Fontes.
Robilotta, M. R. (1988). O cinza, o branco
e o preto da relevância da história da
Ciência no ensino da Física. Caderno
Catarinense de Ensino de Física, 5,, 7-22.
Roth, W., & Lawless, D. (2002). Science,
culture, and the emergence of language.
Science Education, 86(3), 368-400. DOI:
https://doi.org/10.1002/sce.21308
Said, E. (1979). Orientalism. New York:
Vintage Books.
Sarton, G. (1927). Introduction to the
history of science. Baltimore: Edited and
prepared by Prof. Hamed A. Ead.
Schenberg, M. (2001). Pensando a Física.
São Paulo, SP: Landy Editora.
Schiff, M. (1993). A inteligência
desperdiçada: desigualdade social,
injustiça escolar. Porto Alegre, RS: Artes
Médicas Sul.
Smith, L. T. (1999). Decolonizing
methodologies: research and indigenous
peoples. London: Dunedin: Zed Books.
i
Pensador brasileiro nascido no Rio de Janeiro em
1909. Foi chefe do Departamento de Filosofia do
Instituto Superior de Estudos Brasileiros ISEB
fundado em 1955 e extinto em 1964 com o golpe
militar. Exilado na Iugoslávia, aceita o convite do
educador Paulo Freire para trabalhar no Chile.
Álvaro Vieira Pinto é considerado por muitos o
primeiro e universalmente importante filosofo
brasileiro (Cortês, 2003).
ii
As elites dominantes, em sociedades como as
nossas, normalmente alienadas, comportam-se
como animais irracionais: estes depredam a
natureza para subsistir; o homem alienado depreda
a cultura. Toma desta os bens, as ideias, que
armazena no espírito, mas é incapaz de produzir
com elas qualquer coisa de original, ou seja, de
criar a cultura emergente autêntica, com o auxílio
da que absorveu (Pinto, 1979, p. 52).
iii
Se a Ciência tende agora para a formalização dos
seus enunciados, esta inclinação não deve ser
considerada nem geral nem necessária. É um fato
histórico, representa a etapa atual do
desenvolvimento da criação científica. A
comunicação da técnica de produção do fogo pelos
indivíduos das espécies pré-sapiens poderia ter se
dado apenas mediante gestos ou simples imitação, o
que correspondia, para o grau de desenvolvimento
das forças produtivas de então e do ser em processo
de humanização que as dominava, à “formalização”
possível em tal época (Pinto, 1979, p. 82).
iv
(Michel) Serres condena a própria escrita,
recusando que a história tenha que ser definida pelo
seu aparecimento. O grafocentrismo, para ele, é
mais uma forma de racismo contra as culturas não
letradas. Mas a crítica é um pouco mais ampla e
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 177-203
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
202
Barbosa, R. G. (2018). O Ensino da Física na Educação do Campo: descolonizadora, instrumentalizadora e participativa...
engloba, em realidade, todo o verbo, a palavra, o
discurso: nada insensibiliza mais a carne do que a
palavra, diz ele em Os cinco sentidos. Ou seja, seu
foco implica globalmente tanto a linguagem escrita
quanto a falada, isto é, a própria noção de
representação linguística que faz com que a coisa se
reduza a seus suportes. E tal reducionismo atingiu,
na época atual, graças ao consumo, o cume de seus
desdobramentos, constituindo uma cultura
inteiramente ascética. A administração usa-se da
linguagem para dominar (verborragia vazia dos
políticos), os meios de comunicação seduzem
comunicando, a Ciência impõe seu componente de
verdade pela palavra. Deriva daí uma classe
dominante ébria de digos, produtora de mundos.
A química social, mais forte que os narcóticos, logo
pior, é dos mass media, das modas. E, em meio a
esse barulho geral da comunicação, ninguém presta
atenção, ninguém aprofunda-se em nada. Theodor
W. Adorno dizia que trabalhar em equipe é
desastroso, pois tudo que é atribuído ao indivíduo
pensante evapora-se na abstração que reduz várias
pessoas à fórmula de uma “consciência comum”.
Serres, como Adorno, acha que quando vários
cientistas se reúnem para realizar uma pesquisa, a
ORCID
Recebido em: 29/08/2017
Aprovado em: 12/09/2017
Publicado em: 28/03/2018
pesquisa lhes escapa, pois somente o verbo domina.
O grupo científico, constituído como torre de
marfim, fecha-se num muro linguístico, prestando
atenção unicamente às palavras (Marcondes Filho,
2005, p. 10).
v
Explicação Reprodutora (não criativa) ou
imitação - expressa a linguagem e/ou o pensamento
constante(s) nos materiais didáticos de Física.
Trata-se especificamente de uma das funções da
imitação, que implica, segundo Pino (1993, p.19),
em uma dupla operação semiótica, em que a
reprodução do modelo se constitui em significante
desse modelo, o qual, por sua vez, refere-se à
pessoa imitada. Nesse caso, ocorre um tipo de
alienação de si mesmo pelo próprio sujeito,
processo em que a voz do “eu expressa o
pensamento do “outro” (Wertsch, 1991); (Barbosa,
2014, p. 92).
vi
Estas afirmações são extraídas da tese de
doutorado intitulada “Educação Científica e
Tecnológica para Participação: Paulo Freire e a
criatividade” (Barbosa, 2014).
vii
Ideias adotadas pela classe burguesa que visam
manter (conservar) o status quo (Carvalho, 2005,
n.p.).
Roberto Gonçalves Barbosa
http://orcid.org/0000-0002-0397-4754
O autor foi responsável pela elaboração, análise e
interpretação dos dados; escrita e revisão do
conteúdo do manuscrito, bem como pela aprovação
da versão final a ser publicada.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 177-203
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
203
Como citar este artigo
/
How to cite this article
/
Como citar este artículo:
APA:
Barbosa, R. G. (2018). O Ensino da Física na
Educação do Campo: descolonizadora,
instrumentalizadora e participativa. Rev. Bras. Educ.
Camp., 3(1), 177-203.
ABNT:
Barbosa, R. G. (2018). O Ensino da Física na
Educação do Campo: descolonizadora,
instrumentalizadora e participativa. Rev. Bras. Educ.
Camp., Tocantinópolis, v. 3, n. 1, p. 177-203, 2018.
Revista Brasileira de Educação do Campo
The Brazilian Scientific Journal of Rural Education
A
RTIG
O
/
A
RTICLE
/
A
R
C
ULO
DO
I:
h
tt
p
:/
/
d
x.d
o
i.
o
r
g
/
10.20
873/
u
ft.2525
-4863.2018v3
n
1p
204
Retratos contemporâneos da Educação do Campo:
movimentos investigativos no Vale do Jiquiriçá-BA
Mônica de Almeida Santos
1
, Alcione de Almeida Santos
2
, Maria Célia Santana Orrico
3
, Mariana Martins de
Meireles
4
1
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia - UFRB. Centro de Formação de Professores - CFP. Avenida
Nestor de Melo Pita, 535, Centro, Amargosa - BA. Brasil. monicaalmeida13@gmail.com.
2
Universidade Federal
do Recôncavo da Bahia - UFRB.
3
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia - UFRB.
4
Universidade Federal
do Recôncavo da Bahia - UFRB.
RESUMO. Esse artigo é resultado de uma pesquisa realizada no
povoado do Serrote, zona rural do município de Elísio Medrado-
Bahia, no âmbito dos estudos efetivados pelo Observatório em
Educação do Vale do Jiquiriçá (OBSERVALE/UFRB), que tem
como finalidade ampliar estudos e promover debates sobre a
Educação do Campo no Território do Vale do Jiquiriçá. As
análises que resultam nesse texto decorrem da pesquisa:
“Retratos da Educação do Campo: Cenários Contemporâneos”,
realizada com 12 escolas do campo e 12 professores e
representantes do poder público. A investigação ancorou-se
metodologicamente em uma pesquisa de abordagem qualitativa,
através do uso de entrevistas semiestruturadas e da observação
do contexto escolar. Neste artigo, especificamente, utilizamos os
dados de uma das escolas investigadas, tendo em vista uma
análise mais apurada de relatos de duas colaboradoras e de
dados recolhidos na pesquisa de campo. O estudo revelou a
presença de um modelo urbanocêntrico de educação que se
distancia dos princípios e concepções que pautam o movimento
por uma Educação do Campo no Brasil, revelando a
predominância de uma educação orientada por um currículo
homogêneo e descolado dos contextos dos estudantes,
desvelando assim, retratos de uma Educação Rural, ainda que
estejamos em tempos de luta por uma Educação do Campo.
Palavras-chave: Educação do Campo, Classes Multisseriadas,
Formação de Professores.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 204-222
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
204
Santos, M. A., Santos, A. A., Orrico, M. C. S., & Meireles, M. M. (2018). Retratos contemporâneos da Educação do Campo:
movimentos investigativos no Vale do Jiquiriçá-BA...
Contemporary Peasant Education Pictures: Investigative
Movements in the Jiquiriçá Valley-BA
ABSTRACT. This article is the result of a survey carried out in
the village of Serrote, a rural area in the municipality of Elísio
Medrado-Bahia, in the framework of studies carried out by the
Jiquiriçá Valley Observatory in Education
(OBSERVALE/UFRB), whose purpose is to expand studies and
promote debates on Peasant Education in the Jiquiriçá Valley
Territory. The analyzes that result in this text derive from the
research: “Peasant Education Pictures: Contemporary
Scenarios”, carried out with 12 rural schools and 12 teachers and
representatives of the public power. The research was anchored
methodologically in a qualitative approach research, through the
use of semi-structured interviews and the observation of the
school context. In this article, specifically, we used data from
one of the schools investigated, aiming at a more accurate
analysis of reports from two collaborators and data collected in
the research. The study revealed the presence of an urban-
centric model of education that distances itself from the
principles and conceptions that guide the movement for a
Peasant Education in Brazil, revealing the predominance of an
education oriented by a homogeneous curriculum and detached
from the contexts of the students, revealing thus, portraits of a
Rural Education, although, we are in times of struggle for a
Peasant Education.
Keywords: Peasant Education, Multi-series Class, Teacher
Education.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 204-222
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
205
Santos, M. A., Santos, A. A., Orrico, M. C. S., & Meireles, M. M. (2018). Retratos contemporâneos da Educação do Campo:
movimentos investigativos no Vale do Jiquiriçá-BA...
Contemporáneo retratos de Educación Rural:
Movimientos de Investigación en Valle Jiquiriçá-BA
RESUMEN. Este artículo es el resultado de una investigación
realizada en la ciudad de Serrote, municipio rural de Elísio
Medrado-Bahía, en los estudios efectuados por el Centro de
Educación Jiquiriçá Valley (OBSERVALE / UFRB), que tiene
como objetivo ampliar los estudios y promover debates en
Educación en el Campo en el Territorio Jiquiriçá Valle. Las
análisis que dan lugar a este texto son el resultado de la
investigación: “Retratos Educación en el Campo: Escenarios
Contemporáneos", realizado con 12 escuelas en el campo y 12
profesores y representantes del gobierno. La investigación
metodológicamente apoyada en una investigación cualitativa, a
través del uso de entrevistas y observación del contexto escolar.
En este artículo, en concreto, se utilizan los datos de una de las
escuelas, con el fin un análisis más detallado de dos
colaboradores y los informes de los datos recogidos en la
investigación de campo. El estudio reveló la presencia de un
modelo de educación urbano céntrico que distancia de los
principios y conceptos que guían el movimiento de Educación
en el Campo en Brasil, que revela el predominio de una
educación guiada por un plan de estudios y los hipsters
homogénea de los contextos de los estudiantes, presentación por
lo tanto retratos de una Educación Rural, sin embargo, estamos
en tiempos de lucha por una Educación en el Campo.
Palabras clave: Educación en el Campo, Clase Multiseraria,
Formación de Profesores.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 204-222
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
206
Santos, M. A., Santos, A. A., Orrico, M. C. S., & Meireles, M. M. (2018). Retratos contemporâneos da Educação do Campo:
movimentos investigativos no Vale do Jiquiriçá-BA...
Introdução: os nascedouros desses
escritos...
O presente artigo é resultado de uma
pesquisa de campo realizada no povoado
do Serrote, zona rural do município de
Elísio Medrado-Bahia, no âmbito dos
estudos efetivados pelo Observatório em
Educação do Vale do Jiquiriçá
(OBSERVALE), vinculado à Universidade
Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB),
que tem como finalidade ampliar estudos e
promover debates sobre a Educação do
Campo no Território do Vale do Jiquiriçá
i
.
As análises apresentadas decorrem
da pesquisa: “Retratos da Educação do
Campo: Cenários Contemporâneos”, que
buscou analisar cenários contemporâneos
da Educação do Campo no Território Vale
do Jiquiriçá-BA e, mais especificamente,
nos municípios de Amargosa, Mutuípe e
Elísio Medrado. A referida pesquisa foi
realizada com 12 escolas do campo e 12
professores e representantes do poder
público dos respectivos municípios.
A investigação ancorou-se
metodologicamente em uma pesquisa de
abordagem qualitativa, através do uso de
entrevistas semiestruturadas e da
observação do contexto escolar. Os dados
recolhidos através de pesquisa de campo
constituem-se como um importante acervo
de narrativas orais dos colaboradores e dos
contextos investigados.
Nesse viés, vale destacar que o
estudo aborda especificamente os
resultados da pesquisa que foi
desenvolvida na Secretaria de Educação de
Elísio Medrado e em uma escola do campo
do Serrote, de modo que estiveram
envolvidas na investigação a coordenadora
das escolas do campo e uma das
professoras que atuam nesse contexto.
A Educação ofertada em contextos
campesinos, historicamente, sempre foi
negligenciada e tratada com inferioridade e
descaso pelos governantes, pela elite
brasileira e pelas políticas públicas,
enquanto que o espaço urbano sempre foi
apresentado como padrão de superioridade
e modernidade que deveria ser seguido e
adotado, inclusive, no que diz respeito às
propostas educacionais.
Nesse sentido, nota-se que no cenário
brasileiro, “a educação do campo tem se
caracterizado como um espaço de
precariedade por descasos, especialmente
pela ausência de políticas públicas para as
populações que residem” (Pinheiro,
2011, p. 1). Todavia, apesar da trajetória de
negação e ausência, nos últimos anos
surgiram movimentos sociais que
impulsionaram a construção de um projeto
de desenvolvimento social e educacional,
convocando a participação dos povos do
campo, valorizando, desse modo, suas
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 204-222
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
207
Santos, M. A., Santos, A. A., Orrico, M. C. S., & Meireles, M. M. (2018). Retratos contemporâneos da Educação do Campo:
movimentos investigativos no Vale do Jiquiriçá-BA...
mais diversas formas de vida e seus
anseios.
Nessa perspectiva, dentre os
objetivos desses movimentos, destaca-se a
busca por uma educação de qualidade, de
modo que as próprias origens da Educação
do Campo são marcadas por uma série de
lutas e desafios protagonizados pelos
movimentos sociais, que iniciam com a
luta pela terra e posteriormente com a luta
por uma educação de qualidade, desta vez,
com face campesina.
Sabemos que embora inúmeros
avanços tenham sido alcançados, ainda
muitas dificuldades e desafios que
merecem destaques e visibilidades no
contexto da luta por uma Educação do
Campo. Tomando esse cenário
emblemático de avanços e retrocessos,
nosso trabalho de pesquisa orientou-se a
partir do seguinte problema: Que retratos
constituem a Educação do Campo no
Território do Vale do Jiquiriçá- BA,
considerando a conjuntura desse território
de identidade?”.
Para tanto, buscamos descrever
aspectos do cotidiano escolar vivenciados
por estudantes e professores de escolas do
campo; identificar elementos das práticas
pedagógicas desenvolvidas e as condições
de trabalho docente; analisar propostas de
Educação do Campo desenvolvidas pelo
município em estudo, bem como os
materiais que regulam o trabalho docente;
investigar os contextos não escolares,
como associações, cooperativas,
organizações e movimentos sociais
presentes; e pesquisar sobre o fechamento
de escolas do campo, suas causas e
implicações.
No decorrer deste trabalho, por
questões de sigilo e ética da pesquisa,
optou-se pela utilização de nomes fictícios
para os colaboradores da pesquisa, visando
preservar suas identidades. Vale lembrar
que os nomes fictícios foram escolhidos
pelos participantes, sendo assim, o nome
da professora será Margarida e o da
coordenadora será Eliane.
Os princípios teóricos que orientam
este estudo pautam-se nas discussões e
reflexões tecidas sobre Educação do
Campo no Brasil, tansversalizando
questões importantes no âmbito de sua
trajetória política, social e educacional.
Para tanto, utilizamos os trabalhos de
Caldart (2002; 2004), Fernandes (2012),
Pires (2012), Ribeiro (2012), dentre outros
autores que problematizam questões
importantes no âmbito da Educação do
Campo, entendida como uma realidade
contemporânea que se constitui como um
direito dos povos do campo, uma dívida
histórica e social brasileira.
Em suma, tendo em vista uma
melhor sistematização dos elementos a
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 204-222
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
208
Santos, M. A., Santos, A. A., Orrico, M. C. S., & Meireles, M. M. (2018). Retratos contemporâneos da Educação do Campo:
movimentos investigativos no Vale do Jiquiriçá-BA...
serem discorridos, o artigo encontra-se
estruturado em cinco seções, sendo que a
primeira delas constitui-se por essa
introdução. A segunda delas, intitulada
“Dimensões Históricas e Políticas da
Educação do Campo: Transitando entre as
(Im)possibilidades”, tece discussões sobre
o contexto histórico e social de
consolidação da Educação do Campo no
Brasil, evidenciando as dificuldades e os
desafios existentes nesse processo. A
terceira, “Percursos Metodológicos:
Desvelando Caminhos”, apresenta as
abordagens metodológicas utilizadas e os
instrumentos empregados para a realização
do trabalho. A quarta, Experiências de
Educação do Campo: Relatos das
Colaboradoras”, traz os resultados e
discussões da pesquisa realizada, com
vistas a apresentar dados importantes desse
estudo. E por fim, a quinta,
Considerações Finais: (In)conclusões”,
seção que expõe as principais evidências
resultantes do trabalho de pesquisa.
Dimensões históricas e políticas da
Educação do Campo: transitando entre
as (Im)possibilidades
A Educação do Campo refere-se a
um contexto educacional que tem suas
origens marcadas pela representatividade
das lutas dos movimentos sociais
camponeses, que buscam o direito por uma
educação pensada especificamente para a
realidade do Campo, levando em
consideração as culturas e os costumes da
sua população. Dessa forma, dentre os
diversos movimentos sociais camponeses
existentes, destaca-se o protagonismo
desempenhado pelo Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST),
que foi fundamental para a conquista de
diversos avanços ao longo dos anos.
Nessa conjuntura, é pertinente
lembrar que ainda na atualidade tais
movimentos são fundamentais para o
alcance dos objetivos educacionais e
sociais existentes. A Educação do Campo
constitui-se como um paradigma em
construção, caracterizada por englobar
todos os espaços campesinos. Assim
sendo, o contexto educacional precisa levar
em consideração as especificidades dessa
população, preocupando-se com suas
singularidades e particularidades
históricas, sociais, culturais, políticas e
econômicas que são transversalizadas, no
contexto brasileiro, por dimensões ligadas
à questão agrária e à luta pela terra.
Nessa perspectiva, conforme as
Diretrizes Operacionais para a Educação
Básica nas Escolas do Campo
ii
vêm
destacando,
A educação do campo ... tem um
significado que incorpora os espaços
da floresta, da pecuária, das minas e
da agricultura, mas os ultrapassa ao
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 204-222
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
209
Santos, M. A., Santos, A. A., Orrico, M. C. S., & Meireles, M. M. (2018). Retratos contemporâneos da Educação do Campo:
movimentos investigativos no Vale do Jiquiriçá-BA...
acolher em si os espaços pesqueiros,
caiçaras, ribeirinhos e extrativistas. O
campo, nesse sentido, mais do que
um perímetro não urbano, é um
campo de possibilidades que
dinamizam a ligação dos seres
humanos com a própria produção das
condições da existência social e com
as realizações da sociedade humana
(Brasil, 2002, p. 1).
Nesse sentido, as diretrizes defendem
uma educação que leve em consideração
todos os sujeitos em seus modos de vida e
de existência humana, ultrapassando os
limites físicos do espaço, mas apropriando
também todo um contexto de
heterogeneidades existentes. Dessa forma,
apontam o campo como um meio
fundamental de possibilidades e de
relações das pessoas com a sua própria
produção histórica e cultural. Nessa
perspectiva, um dos maiores objetivos da
Educação do Campo é a busca pela
emancipação humana, proporcionando aos
sujeitos se tornarem protagonistas da sua
própria história.
Nesse viés, é importante destacar a
diferença conceitual existente entre a
Educação do Campo e a Educação Rural.
Durante muito tempo a nomenclatura
utilizada para se referir aos processos
educacionais nos espaços camponeses era a
Educação Rural, termo esse que foi
registrado pela primeira vez durante o
Primeiro Congresso de Agricultura do
Nordeste Brasileiro
iii
.
Essa época foi marcada pela
existência de um grande movimento
migratório das pessoas que moravam no
campo e que iam viver na cidade em busca
de melhores condições de vida. Assim, o
objetivo do mencionado evento era evitar a
migração e manter a população no campo,
de modo que a Educação Rural
“privilegiava o estado de dominação das
elites agrárias sobre os(as)
trabalhadores(as), principalmente para
estabelecer a harmonia e a ordem nas
cidades e elevar a produtividade do
campo” (Pires, 2012, p. 81).
Nesse período, surge o Ruralismo
Pedagógico, um movimento educacional
caracterizado pelo ideal de fixação da
população rural no campo, buscando evitar
a migração de um grande número de
pessoas para os centros urbanos. É nessa
perspectiva que Pires (2012, p. 82) ressalta
que:
O ruralismo pedagógico foi reforçado
pela ideologia do colonialismo, a
qual se pautava na defesa das
virtudes do campo e da vida
campesina para esconder a
preocupação com o seu esvaziamento
populacional, o enfraquecimento
social e político de patriarcalismo e a
forte oposição, por parte dos
agroexportadores, ao movimento
progressista urbano. Ao lado disso, o
ruralismo teve outros apoios como o
de alguns segmentos das elites
urbanas, que apregoavam a fixação
do homem/mulher no campo como
forma de evitar a explosão de
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 204-222
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
210
Santos, M. A., Santos, A. A., Orrico, M. C. S., & Meireles, M. M. (2018). Retratos contemporâneos da Educação do Campo:
movimentos investigativos no Vale do Jiquiriçá-BA...
problemas sociais nas cidades (Pires,
2012, p. 82).
Frente a isso, podemos perceber que
a existência do Ruralismo Pedagógico é
marcada por uma série de ideologias da
elite dominante e obteve grande
repercussão na sociedade, visto que trouxe
consequências para a forma com que os
processos educativos aconteciam. Isso
enfatiza mais uma vez que a educação
direcionada para as áreas rurais vai se
constituindo a partir dos interesses do
Estado brasileiro e essa realidade é
evidente nos mais diferentes aspectos
associados à educação voltada ao campo.
Neste ponto, reiteramos que as
diferenças conceituais entre a Educação
Rural e a Educação do Campo tornam-se
visíveis, pois enquanto a Educação Rural
refere-se a “uma educação na mesma
modalidade da que é oferecida às
populações que residem e trabalham nas
áreas urbanas, não havendo ... nenhuma
tentativa de adequar a escola rural às
características dos camponeses” (Ribeiro,
2012, p. 295), a Educação do Campo se
refere a uma educação pensada
especificamente para os sujeitos do campo,
levando em consideração as suas
pluralidades.
Ainda nessa vertente, ao analisar as
origens da expressão Educação do Campo,
percebe-se que ela é marcada pela I
Conferência Nacional por uma Educação
Básica do Campo, um evento que foi
realizado em 1998 na cidade de Luziânia
(Goiás) e que reuniu professores e
movimentos sociais para discutir sobre a
educação que era ofertada nas áreas rurais.
A partir desse evento, é consolidada a
expressão “Educação Básica do Campo” e,
segundo Caldart (2004, p. 1), “o momento
do batismo coletivo de um novo jeito de
lutar e de pensar a educação para o povo
brasileiro que trabalha e vive no e do
campo”, pois busca-se uma educação que
respeite as especificidades do campo, sem
inferiorizá-las. Isso, inclusive, fica em
evidência nos próprios objetivos do evento,
quando se afirma que é de:
Ajudar a recolocar o rural, e a
educação que a ele se vincula, na
agenda política do Brasil. Todos que
participamos na promoção desse
evento, partilhamos da convicção de
que é possível, e necessário,
pensar/implementar um projeto de
desenvolvimento para o Brasil que
inclua a milhões de pessoas que
atualmente vivem no campo, e de que
a educação, além de um direito, faz
parte dessa estratégia de inclusão
(Brasil, 1998, p. 5).
Além disso, em 2002 aconteceu
outro evento muito marcante em Brasília: o
Seminário Nacional por uma Educação do
Campo. É nesse evento que a expressão
“Educação do Campo” ganha força e
consolida-se, impulsionando as reflexões e
discussões sociais e educacionais acerca da
temática.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 204-222
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
211
Santos, M. A., Santos, A. A., Orrico, M. C. S., & Meireles, M. M. (2018). Retratos contemporâneos da Educação do Campo:
movimentos investigativos no Vale do Jiquiriçá-BA...
Mediante a isso, é importante frisar a
fundamental importância que os
movimentos sociais desempenham para
cada um dos marcos e dos avanços
referentes à Educação do Campo. Assim,
movimentos como os Centros Populares de
Cultura (CPC), os Sindicatos, as
Organizações não-governamentais
(ONGs), a Via Campesina, o Movimento
de Mulheres Camponesas (MMC), o
Movimento dos Atingidos pelas Barragens
(MAB), além de outros, são fundamentais
para as conquistas alcançadas. Nesse
contexto, destaca-se o Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST),
articulando a luta pela terra com a luta pela
educação.
O MST é um movimento
socioterritorial que reúne em suas
bases diferentes categorias de
camponeses pobres como parceiros,
meeiros, posseiros, minifundiários e
trabalhadores assalariados chamados
sem-terra e também diversos
lutadores sociais para desenvolver as
lutas pela terra, pela Reforma agrária
e por mudanças na agricultura
brasileira. (Fernandes, 2012, p. 498).
Vale ressaltar ainda que, inclusive na
contemporaneidade, tais movimentos
continuam possuindo imensa importância,
pois ainda existem muitos desafios a serem
enfrentados, sendo possível perceber a
existência de uma série de descasos que
envolvem a Educação do Campo,
principalmente no que se refere à estrutura
das escolas, materiais didáticos
disponíveis, condições de trabalho dos
professores, dentre outros fatores. Nesse
sentido, um dos aspectos que mais tem
chamado à atenção na atualidade é o
fechamento das escolas do Campo, fato
que traz implicações e consequências para
toda a população camponesa.
Percursos metodológicos: desvelando
caminhos
No que se refere aos princípios
metodológicos, esta investigação se insere
no campo das pesquisas qualitativas, por
considerar dimensões subjetivas e
realidades que não podem ser quantificadas
no decurso da investigação, bem como no
tratamento dos dados. Nesse sentido,
corroboramos com Minayo (2001) quando
afirma que a pesquisa qualitativa trabalha
com o universo de significados, motivos,
aspirações, crenças, valores e atitudes, o
que corresponde a um espaço mais
profundo das relações, dos processos e dos
fenômenos que não podem ser reduzidos à
operacionalização de variáveis
mensuráveis.
Segundo Chizzotti (2003, p. 221), o
termo qualitativo “implica uma partilha
densa com pessoas, fatos e locais que
constituem objetos de pesquisa, para
extrair desse convívio os significados
visíveis e latentes que somente são
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 204-222
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
212
Santos, M. A., Santos, A. A., Orrico, M. C. S., & Meireles, M. M. (2018). Retratos contemporâneos da Educação do Campo:
movimentos investigativos no Vale do Jiquiriçá-BA...
perceptíveis a uma atenção sensível”. Isso
demonstra a amplitude conferida pelo
contexto pesquisado e a importância de
que todos esses elementos sejam
evidenciados.
Nessa perspectiva, realizamos uma
pesquisa de campo que possibilitou uma
maior aproximação com os fenômenos
estudados. Sob esse prisma, convém
destacar que a pesquisa de campo permite
pesquisar na prática os elementos
envolvidos no estudo, num contexto em
que há um encontro entre o pesquisador e o
campo empírico da sua investigação.
Desse modo, as informações colhidas
por meio de uma ida a campo são
extremamente valiosas para a construção
do conhecimento, pois revelam fatos e
detalhes que enriquecem grandemente o
desenvolvimento do trabalho. Com base
nisso, de acordo com as palavras de
Gonçalves (2001, p. 67),
É o tipo de pesquisa que pretende
buscar a informação diretamente com
a população pesquisada. A pesquisa
de campo é aquela que exige do
pesquisador um encontro mais direto.
Nesse caso, o pesquisador precisa ir
ao espaço onde o fenômeno ocorre,
ou ocorreu e reunir um conjunto de
informações a serem documentadas
(Gonçalves, 2001, p. 67).
Por meio disso, é possível perceber
que a realização da pesquisa de campo
constituiu-se um indispensável elemento
da pesquisa, sendo fundamental para a
busca dos objetivos propostos. Portanto,
cada uma das informações colhidas
empiricamente foi fundamental para o
processo da pesquisa e para os seus
resultados.
A pesquisa em questão foi realizada
durante o mês de Junho de 2016 na
Secretaria de Educação de Elísio Medrado-
BA e em uma escola da rede municipal
situada no povoado Serrote, zona rural
desse mesmo município. Sendo assim,
nesta investigação buscamos compreender
o movimento da Educação do Campo no
Vale do Jiquiriçá-BA e, mais
especificamente, no munícipio de Elísio
Medrado, através da construção de
inventários da realidade e de retratos
singulares dos contextos investigados.
Para tanto, utilizamos como
instrumento de coleta de dados a entrevista
semiestruturada, que foi realizada tanto
com a coordenadora das escolas do campo
da região quanto com uma professora que
leciona em uma das turmas multisseriadas
dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental.
A escolha por este instrumento de pesquisa
se deu pela possibilidade de aproximação
com os sujeitos e devido à sua flexibilidade
no decorrer do trabalho, uma vez que
organizamos um roteiro de perguntas que
permitiu a inserção de outras questões ao
longo do diálogo.
Compreende-se a entrevista
semiestruturada como uma entrevista na qual
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 204-222
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
213
Santos, M. A., Santos, A. A., Orrico, M. C. S., & Meireles, M. M. (2018). Retratos contemporâneos da Educação do Campo:
movimentos investigativos no Vale do Jiquiriçá-BA...
as perguntas principais são pré-definidas e
organizadas através de um guia/roteiro, de
modo que tais perguntas estão diretamente
relacionadas aos objetivos traçados na
investigação. Contudo, além dessas questões
iniciais, novas indagações podem surgir no
decorrer da conversa, o que permite uma
abordagem mais consistente e
contextualizada acerca da temática.
Para Manzini (1990/1991, p. 154),
“esse tipo de entrevista pode fazer emergir
informações de forma mais livre e as
respostas não estão condicionadas a uma
padronização de alternativas”. Neste estudo,
as entrevistas foram agendas previamente
com as colaboradoras, gravadas em áudio,
transcritas, posteriormente categorizadas e
analisadas.
No que se refere à importância da
entrevista, Marconi e Lakatos (2007, p.
197) apontam que:
A entrevista é um encontro entre
duas pessoas, a fim de que uma delas
obtenha informações a respeito de
determinado assunto, mediante uma
conversação de natureza profissional.
É um procedimento utilizado na
investigação social, para a coleta de
dados e para ajudar no diagnóstico ou
no tratamento de um problema social
(Marconi & Lakatos, 2007, p. 197).
Diante do exposto, podemos
perceber a complexidade envolvida na
realização das entrevistas e a fundamental
relevância que elas possuem. A partir da
sua realização é possível colher dados e
informações que contribuem para a
compreensão de uma série de elementos do
contexto investigado, de modo que a
utilização desse instrumento se mostrou
imprescindível neste trabalho.
Tendo em vista esses elementos, o
uso da entrevista possibilitou evidenciar e
aprofundar representações sobre as
experiências e as realidades educativas dos
sujeitos, bem como entender os diferentes
mecanismos e os processos históricos
relativos à educação em seus diferentes
tempos e espaços na região investigada.
Devido a isso, o trabalho com as
entrevistas contribuiu na compreensão
acerca da história local, principalmente no
que se refere ao cotidiano vivenciado pelas
participantes da pesquisa.
Nesse viés, as perguntas da entrevista
realizada com a coordenadora tratavam
basicamente de questões acerca de
aspectos que evidenciam a forma com que
a Educação do Campo é conduzida no
município. Neste ponto, durante o diálogo,
buscamos conhecer a proposta de
Educação do Campo do município e
quanto tempo ela foi implementada;
investigar se o município oferece alguma
formação específica ou continuada para os
professores do campo; identificar se existe
alguma parceria entre a secretaria e alguma
organização social; e colher dados sobre a
quantidade de escolas do campo existentes
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 204-222
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
214
Santos, M. A., Santos, A. A., Orrico, M. C. S., & Meireles, M. M. (2018). Retratos contemporâneos da Educação do Campo:
movimentos investigativos no Vale do Jiquiriçá-BA...
no município, incluindo quantas delas
foram fechadas e quais os motivos do
fechamento.
as questões da entrevista realizada
com a professora abordavam aspectos
relacionados ao seu cotidiano escolar, às
características das suas práticas
pedagógicas, a sua relação com os alunos e
com a comunidade e a sua concepção de
Educação do Campo. Além disso, buscou-
se trazer reflexões sobre o fechamento das
escolas do campo e sobre as suas
condições de trabalho, no que se refere a
salário, carga horária, materiais didáticos,
dentre outros aspectos.
O município de Elísio Medrado se
localiza no Recôncavo da Bahia, a cerca de
240 quilômetros da capital Salvador, com
uma área total de aproximadamente 100
km²; onde se encontra uma população
estimada em 7.947 habitantes e uma
densidade demográfica de 41,6 hab./ km²,
(IBGE, 2010). Sua população é
predominantemente rural, isso explica o
fato da sua economia ser baseada
principalmente na agricultura familiar. A
economia do município gira em torno da
agricultura, principalmente através do
cultivo da mandioca, laranja, feijão e
outros produtos agrícolas.
A comunidade do Serrote possuiu
uma cooperativa, mas no momento de
realização do estudo encontrava-se
desativada. Convém frisar que a
comunidade do Serrote teve várias
escolas, no entanto, atualmente a única que
está em funcionamento é a escola onde
essa pesquisa foi realizada.
A instituição escolar onde realizamos
a pesquisa apresenta uma estrutura física
razoável, possui duas salas de aula, uma
cozinha, uma secretaria e dois banheiros.
Não possui área de recreação, o único local
disponível para as crianças brincarem é
uma área no exterior da escola, próxima à
estrada e sem proteção nenhuma. Pelo que
foi possível perceber, as crianças utilizam
o espaço da própria sala de aula para
brincarem. É importante lembrar que nessa
instituição as classes são multisseriadas,
sendo que duas turmas, uma para
atender as crianças do G4, G5 e ano, e a
outra turma o 3°, o 4° e 5° anos.
Experiências de Educação do Campo:
relatos das colaboradoras
A partir da entrevista realizada com a
coordenadora das escolas do campo do
município pesquisado, foi possível
constatar que apesar de as escolas no
perímetro rural serem registradas como
Educação do Campo, o que ocorre é um
ensino urbanocêntrico, no qual se utiliza o
mesmo currículo das escolas urbanas para
educar os alunos que vivem no campo, não
considerando assim, as especificidades
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 204-222
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
215
Santos, M. A., Santos, A. A., Orrico, M. C. S., & Meireles, M. M. (2018). Retratos contemporâneos da Educação do Campo:
movimentos investigativos no Vale do Jiquiriçá-BA...
dessas localidades e dos sujeitos que ali
vivem e estudam. Neste ponto, quando
questionada em relação ao currículo
escolar e se existe uma proposta especifica
de Educação do Campo no município, a
coordenadora respondeu que:
Não, a proposta pedagógica do
município é uma, voltada para
todas as escolas do município, não
tem uma proposta especifica
procampo não. (Eliane, entrevista,
2016).
Com base nessa assertiva, podemos
constatar que isso é algo muito sério, pois
foge totalmente dos princípios da
Educação do Campo, que prioriza que os
indivíduos tenham acesso à educação no
seu local de origem e que considere suas
culturas, ou seja, uma educação que seja no
e do campo. Nesse sentido, Caldart (2002,
p. 149) defende uma educação que seja:
No: o povo tem direito a ser educado
no lugar onde vive; Do: o povo tem
direito a uma educação pensada
desde o seu lugar e com a sua
participação, vinculada a sua cultura
e as suas necessidades humanas e
sociais.
Além disso, outro ponto importante a
ser destacado é o fato de que as classes
multisseriadas também constituem-se
como um elemento marcante da Educação
do Campo e, ao analisar especificamente a
realidade educacional do município de
Elísio Medrado, foi possível identificar que
todas as escolas que estão em
funcionamento atualmente são classes
multisseriadas. A multisseriação se
caracteriza por tratar-se de um ensino em
que o mesmo professor leciona em uma
turma composta por alunos de diferentes
idades e diferentes séries. Nessa
conjuntura, durante a entrevista com a
professora, ela nos afirma que:
Então... eu acho muito importante
essa escola estar em funcionamento
aqui na comunidade. Muitas pessoas
falam assim “Ah a classe é
multisseriada, muito trabalho,
trabalhoso de mais trabalhar com
várias séries juntas”. Realmente, é
muito trabalhoso sim, mas a gente
sabe que não tem como formar uma
turma no campo só com uma série só,
por que a gente tem o que? Vamos
supor três de segundo, três de
terceiro, um G5... Então como é que
vai formar uma turma específica pra
cada série? Então é por isso que
acontece as multisseriadas.
(Margarida, entrevista, 2016).
Dessa forma, podemos perceber
que a professora apresenta uma série de
argumentos pelos quais a existência da
multisseriação se configura como um
elemento de extrema importância para a
Educação do Campo. Realmente, muitas
vezes, as classes multisseriadas são vistas
como inferiores e negativas, devido ao fato
de geralmente serem escolas com poucos
recursos e estruturas precárias. Nesse
mesmo sentido, “essas situações expressam
a precariedade das condições existenciais
em que se encontram as escolas
multisseriadas e o conjunto de professores
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 204-222
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
216
Santos, M. A., Santos, A. A., Orrico, M. C. S., & Meireles, M. M. (2018). Retratos contemporâneos da Educação do Campo:
movimentos investigativos no Vale do Jiquiriçá-BA...
e estudantes que vivenciam a educação
nesse espaço socioterritorial”. (Barros et
al., 2010, p. 27).
Sob esse prisma, vale destacar a
importância de políticas públicas voltadas
para superar a existência dessa
inferiorização para com as turmas
multisseriadas, pois é evidente que tais
classes são importantes para a formação
dos alunos e, em muitos casos, são sua
única opção para se ter acesso ao estudo.
Nessa perspectiva, é muito importante que
haja investimentos em diversos fatores,
visando à valorização das classes
multisseriadas. Dentre esses fatores, está a
melhoria da infraestrutura das escolas, o
investimento em materiais didáticos e,
sobretudo, uma formação adequada de
professores que considere essa realidade.
Dessa forma, a professora Margarida
ressalta em outro trecho da entrevista que é
importante que:
Prepare bem os professores que for
trabalhar na escola do campo, pra que
realmente o aluno tenha um ensino
de qualidade, que o foco maior ali é o
aluno. (Margarida, entrevista, 2016).
Esses relatos nos revelaram
condições singulares de seu trabalho em
classes multisseriadas, demarcando
concepções, posicionamentos e práticas
que atravessam um discurso de valorização
da escola do campo, bem como de seus
sujeitos. Portanto, corroborando com essas
afirmativas:
As escolas multisseriadas, para
atingirem o padrão de qualidade
definido em nível nacional,
necessitam de professores com
formação pedagógica, inicial e
continuada, instalações físicas e
equipamentos adequados, materiais
didáticos apropriados e supervisão
pedagógica permanente (Brasil,
2008, p. 3).
Além disso, durante as entrevistas,
um elemento muito importante discutido
refere-se ao fechamento das escolas do
campo. No município pesquisado, segundo
a coordenadora Eliane, nos últimos três
anos foram fechadas no mínimo quatro
escolas e ela ainda acredita que novas
escolas serão fechadas em breve. Um dos
fatores relacionados a isso é a nucleação
escolar, que consiste em um processo de
transferência dos alunos das escolas
desativadas para centros maiores. Assim,
segundo Eliane, o fechamento das escolas
é provocado pela falta de alunos, como
podemos observar nas palavras da mesma,
quando questionada sobre o assunto:
É, foram fechadas, me parece...em
dúvida... três ou quatro, foram
fechadas por falta de aluno, porque
são determinadas localidades que não
vai surgindo crianças e vai ficando
cinco, quatro, três alunos, não tem
como funcionar escola em uma
localidade com essa quantidade de
aluno porque gera despesas, né?
vai fechando por falta mesmo de
alunos. Agora mesmo aconteceu de
reabrir uma que antes não tinha
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 204-222
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
217
Santos, M. A., Santos, A. A., Orrico, M. C. S., & Meireles, M. M. (2018). Retratos contemporâneos da Educação do Campo:
movimentos investigativos no Vale do Jiquiriçá-BA...
aluno, mais fizeram, o pessoal da
comunidade fizeram movimento e tal
e foi surgindo casos de novas
crianças e teve como reabrir.
Mas foi fechada umas 4 escolas nos
últimos 3 anos. (Eliane, entrevista,
2016).
Nesse sentido, podemos perceber nas
falas da Coordenadora das escolas do
campo, implicitamente, como os interesses
econômicos estão presentes e influenciam
diretamente a educação. O processo de
nucleação das escolas é uma alternativa
das prefeituras para reduzir gastos com
funcionários, com professores e com a
manutenção das escolas em
funcionamento. Assim, ao invés de pagar
vários funcionários e gastar com a
manutenção de escolas, a opção mais
viável para esse modelo educacional
enfrentado pelo Brasil é a transposição dos
alunos e a efetivação constante da
nucleação.
Nesse mesmo contexto, ao
questioná-la sobre o que acontece com os
alunos quando a escola é fechada, ela
afirma que eles são remanejados para a
zona urbana, tem transporte”. Isso nos
evidencia o quanto o fechamento dessas
escolas traz consequências para os alunos,
que eles têm que sair da comunidade em
que vivem, sendo que muitas vezes os
transportes são inadequados e estão em
péssimas condições, de modo que põem
suas vidas em risco. Ainda sobre o
fechamento dessas escolas, a Margarida
destaca que:
Eu não concordo com o fechamento
das escolas do campo, por conta do...
eu falo assim, a criança mora aqui, aí
passa em frente à escola que fica
pertinho da sua casa e tem que
estudar na sede, pra desmanchar o
multisseriado né, geralmente é por
causa disso que as escolas do campo
estão fechando. Eu não concordo
não. (Margarida, entrevista, 2016).
Em síntese, um ponto crucial a
destacar diz respeito à concepção de
Educação do Campo que a professora e a
coordenadora entrevistadas possuem e
quais os significados que elas atribuem às
escolas do campo. Sendo assim, a
coordenadora nos expõe que:
Ah, as escolas do campo é assim,
uma coisa maravilhosa ... Então eu
acho que é assim muito louvável a
localidade que tem uma escola ali
perto para os alunos ficarem na sua
comunidade, todo mundo ali
entrosados, envolvidos, isso é bem
melhor do que tá se locomovendo pra
zona urbana, né? (Eliane, entrevista,
2016).
Nesse mesmo sentido, percebe-se a
grande importância atribuída à Educação
do Campo pela professora. Assim, ao falar
sobre isso, ela retoma a existência de um
processo histórico na comunidade, onde os
alunos que residiam, tinham que sair
para estudar longe. Tais fatos, realmente,
demonstram a importância que as escolas
do campo possuem. Portanto, nas suas
palavras:
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 204-222
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
218
Santos, M. A., Santos, A. A., Orrico, M. C. S., & Meireles, M. M. (2018). Retratos contemporâneos da Educação do Campo:
movimentos investigativos no Vale do Jiquiriçá-BA...
Muita importância! É tanto que teve
uma época que as crianças tinham
que sair daqui e ir pra uma escola
mais adiante. Teve pais que nem quis
né, por conta de que o filho estudasse
próximo à casa deles né, próximo de
casa, bem melhor, no caso deles que
são crianças que têm quatro, cinco
anos, ter que se deslocar daqui, pegar
transporte e ir pra outra escola longe
da sua casa né. Então, eu acho muito
importante essa escola estar em
funcionamento aqui na comunidade.
(Margarida, entrevista, 2016).
Em face disso, observa-se a
fundamental relevância atribuída pela
professora às escolas do campo, bem como
os sentidos que essas escolas representam
para os sujeitos, para que os mesmos
tenham acesso à educação em seu próprio
local de origem. Dessa forma, após as
entrevistas com a professora e com a
coordenadora, é possível conhecer diversos
aspectos da realidade educacional
vivenciada pelos povos do campo no
município de Elísio Medrado,
estabelecendo relações com todo um
processo histórico e social de
inferiorização dos sujeitos residentes no
campo brasileiro.
Considerações finais: (In)conclusões
Historicamente, a Educação do
Campo vem enfrentando uma série de
desafios e dificuldades. Nesse processo,
sabe-se a relevância que os movimentos
sociais desempenham, entretanto, sabemos
que ainda há muito a avançar e que os
desafios não param. Dessa forma, o
trabalho de investigar a realidade
educacional do campo caracteriza-se como
um momento relevante para a
(re)construção de atividades, reunindo
aprendizagens e experiências.
Desse modo, ressaltamos que a
pesquisa, “Retratos da Educação do
Campo: Cenários Contemporâneos”,
revelou que a Educação do Campo na
cidade de Elísio Medrado e, mais
especificamente, no povoado do Serrote,
integra uma realidade brasileira e baiana,
que transita entre o descaso e a valorização
da educação para os povos do campo.
Dessa forma, se por um lado o estudo
revelou a importância da Educação do
Campo para as participantes da pesquisa,
por outro, observa-se que na prática
predomina a existência de uma educação
urbanocêntrica, que apresenta um currículo
homogêneo, descolado dos contextos dos
estudantes.
O estudo evidenciou ainda que,
embora o município em estudo possua um
projeto educacional registrado na secretaria
de educação com a nomenclatura
“Educação do Campo”, identifica-se que
não uma organização curricular
específica para o campo, mas sim, a
adaptação de um modelo, distanciando-se
dos princípios e das concepções que
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 204-222
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
219
Santos, M. A., Santos, A. A., Orrico, M. C. S., & Meireles, M. M. (2018). Retratos contemporâneos da Educação do Campo:
movimentos investigativos no Vale do Jiquiriçá-BA...
pautam o movimento por uma Educação
do Campo no Brasil.
Esta pesquisa revelou também uma
expressividade no fechamento das escolas
do campo no município de Elísio
Medrado-BA, fenômeno que ocorre
também no cenário nacional. O
fechamento dessas escolas tem acarretado
implicações diversas nas comunidades e
nas vidas dos sujeitos do campo, questões
que serão investigadas com profundidade
em pesquisas futuras. Os critérios e
justificativas para o fechamento advêm de
um discurso econômico do poder público
desprovido de uma análise mais apurada
no que tange as dimensões sociais e
educacionais.
Concluindo, ressaltamos a
importância desse estudo para o
diagnóstico de contextos específicos, o que
nos convoca para a ampliação e
aprofundamento de questões evidenciadas
no mesmo, no que se refere à Educação do
campo. Ainda que o contexto investigado
apresente movimentos de avanço na
materialização da Educação do Campo,
identificamos na contemporaneidade a
predominância de retratos de uma
educação rural, por isso, ‘nosso tempo é de
urgências’, sigamos!
Referências
Barros, O. F., Hage, S. M, Corrêa, S. R. M,
& Moraes, E. (2010). Retratos de
Realidade das Escolas do Campo:
multissérie, precarização, diversidades e
perspectivas. In Antunes-Rocha, M. I., &
Hage, S. M. (Orgs.). Escola de Direito:
Reinventando a Escola Multisseriada (pp.
25-34). Belo Horizonte, MG: Autêntica.
Brasil. (1998). Centro de Treinamento
Educacional da CNTI. Conferência
Nacional por uma Educação Básica do
Campo. 27 a 31 de Julho de 1998.
Luziânia, GO. Recuperado de:
http://unesdoc.unesco.org/images/0014/00
1497/149798porb.pdf
Brasil. (2008). Ministério da Educação.
Resolução 2, de 28 de Abril de 2008.
Brasília, DF: MEC.
Brasil. (2002). Ministério da Educação.
Diretrizes Operacionais para a Educação
Básica nas Escolas do Campo. Resolução
CNE/CEB 1, de 3 de Abril de 2002.
Caldart, R. S. (2004). Pedagogia do
Movimento Sem Terra. São Paulo:
Expressão Popular.
Caldart, R. S. (2002). Por uma Educação
do Campo: traços de uma identidade em
construção. In Arroyo, M. G., Caldart. R.
S., & Molina, M. C. (Orgs). Por Uma
Educação do Campo (pp. 148-158).
Petrópolis, RJ: Vozes.
Chizzotti, A. (2003). A Pesquisa
Qualitativa em Ciências Humanas e
Sociais: Evolução e Desafios. Revista
Portuguesa de Educação, 16(2), 220-236
Recuperado de:
http://www.grupodec.net.br/wp-
content/uploads/2015/10/Pesquisa_Qualitat
iva_em_Ciencias_Sociais_e_Humanas_-
_Evolucoes_e_Desafios_1_.pdf
Fernandes, B. (2012). A Reforma Agrária
que o Governo Lula fez e a que pode ser
feita. In Sader, E. (Org.). 10 anos de
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 204-222
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
220
Santos, M. A., Santos, A. A., Orrico, M. C. S., & Meireles, M. M. (2018). Retratos contemporâneos da Educação do Campo:
movimentos investigativos no Vale do Jiquiriçá-BA...
governos pós-neoliberais no Brasil: Lula e
Dilma (pp. 494-518). São Paulo:
Boitempo Editorial.
Gonçalves, E. P. (2001). Iniciação à
pesquisa científica. Campinas. SP: Editora
Alínea.
IBGE. Censo Demográfico 2010
Recuperado de:
https://cidades.ibge.gov.br/brasil/ba/elisio-
medrado/panorama
Manzini, E. J. (1990/1991). A entrevista na
pesquisa social. Didática, 26/27, 149-158.
Marconi, M. A., & Lakatos, E. M. (2007).
Fundamentos de Metodologia Científica.
São Paulo: Atlas.
Minayo, M. C. S. (Org.). (2001). Pesquisa
Social. Teoria, método e criatividade.
Petrópolis: Vozes.
Pinheiro, M. S. D. (2011). A Concepção de
Educação do Campo no Cenário das
Políticas Públicas da Sociedade
Brasileira. Recuperado de:
http://www.anpae.org.br/congressos_antig
os/simposio2007/289.pdf
Pires, A. (2012). M. Educação do Campo
como Direito Humano. São Paulo: Cortez.
Coleção Educação em Direitos Humanos.
Ribeiro, M. (2012). Educação Rural. In
Caldart, R. S., Pereira, I. B., Aletejano, P.,
& Frigotto, G. (Orgs.). Dicionário da
Educação do Campo (pp. 295-301). Rio de
Janeiro, São Paulo: Escola Politécnica de
Saúde Joaquim Venâncio. Expressão
Popular.
Itarana, Planaltino, Santa Inês, São Miguel das
Matas e Ubaíra.
ii
As Diretrizes Operacionais para a Educação
Básica nas Escolas do Campo, promulgada em
2001 e instituída através da resolução 1, de 3 de
abril de 2002, trata-se de um documento oficial que
estabelece diretrizes, normas e princípios para o
atendimento educacional das escolas básicas do
campo. É relevante ressaltar que a aprovação dessas
diretrizes representa um avanço muito importante
para a educação, tendo em vista sua contribuição na
perspectiva legal e prática para a efetivação da
Educação do Campo.
iii
O Primeiro Congresso de Agricultura do Nordeste
Brasileiro foi um evento realizado em Recife PE,
em 1923, que reuniu várias pessoas para tratar
acerca das questões agrárias camponesas e do
trabalho no campo. A proposta do evento era criar
meios para reverter a migração existente do campo
para a cidade, visando estimular a inclusão da
população nas atividades de agricultura.
Recebido em: 28/02/2017
Aprovado em: 17/03/2017
Publicado em: 30/03/2018
i
O Território de Identidade Vale do Jiquiriçá
localiza-se no centro sul da Bahia, composto por 20
municípios: Amargosa, Brejões, Cravolândia, Elísio
Medrado, Irajuba, Itaquara, Itiruçu, Jaguaquara,
Jiquiriçá, Lafaiete Coutinho, Laje, Lajedo do
Tabocal, Maracás, Milagres, Mutuípe, Nova
ORCID
Mônica de Almeida Santos
http://orcid.org/0000-0001-7144-1020
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 204-222
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
221
Como citar este artigo
/
How to cite this article
/
Como citar este artículo:
APA:
Santos, M. A., Santos, A. A., Orrico, M. C. S., &
Meireles, M. M. (2018). Retratos contemporâneos da
Educação do Campo: movimentos investigativos no
Vale do Jiquiriçá-BA. Rev. Bras. Educ. Camp., 3(1),
204-222.
ABNT:
SANTOS, M. A.; SANTOS, A. A.; ORRICO, M. C.
S.; MEIRELES, M. M. Retratos contemporâneos da
Educação do Campo: movimentos investigativos no
Vale do Jiquiriçá-BA. Rev. Bras. Educ. Camp.,
Tocantinópolis, v. 3, n. 1, p. 204-222, 2018.
Santos, M. A., Santos, A. A., Orrico, M. C. S., & Meireles, M. M. (2018). Retratos contemporâneos da Educação do Campo:
movimentos investigativos no Vale do Jiquiriçá-BA...
Alcione de Almeida Santos
http://orcid.org/0000-0002-0356-4309
Maria Célia Santana Orrico
http://orcid.org/0000-0002-3677-9293
Mariana Martins de Meireles
http://orcid.org/0000-0003-3288-3023
Todas as quatro autoras foram igualmente
responsáveis pela construção de todas as etapas do
trabalho, desde a elaboração, análise, interpretação
dos dados, escrita e revisão do conteúdo do
manuscrito, até a aprovação da versão final a ser
publicada.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 204-222
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
222
Revista Brasileira de Educação do Campo
The Brazilian Scientific Journal of Rural Education
A
RTIG
O
/
A
RTICLE
/
A
R
C
ULO
DO
I:
h
tt
p
:/
/
d
x.d
o
i.
o
r
g/
10.20
873/
u
ft.2525
-4863.2018v3
n
1p
223
As multisséries no Campo de Arraias-TO: memórias
Jocyléia Santana dos Santos
1
, Samara Caldas Franco
2
1
Universidade Federal do Tocantins - UFT. Programa de Pós-Graduação em Educação. Avenida NS 15 ACLNO
14 Plano Diretor Sul. Palmas - TO. Brasil. jocyleiasantana@gmail.com.
2
Universidade Federal do Tocantins -
UFT.
RESUMO. A pesquisa investiga quais as dificuldades
enfrentadas pelos educadores e os educandos que vivenciam a
realidade das classes multisseriadas nas escolas da área rural do
município de Arraias-TO. A metodologia utilizada foi a
proposta pela história oral que consiste na realização de
entrevista com os sujeitos envolvidos. Neste caso, foram
entrevistados professores e alunos que vivem no contexto das
classes multisseriadas no município mencionado. Cerca de 1,3
milhões de alunos estudam em classes multisseriadas do campo
no Brasil. A partir do depoimento de professores e alunos,
alguns aspectos ganham destaque: falta de formação específica
para o docente atuar na multisseriação, questão que afeta a
qualidade do ensino; ausência de um currículo voltado também
para a realidade do campo, e a falta de infraestrutura física.
Estas condições implicam em resultados negativos para a
modalidade de Educação no Campo. É necessário construir uma
visão positiva do campo, pensar em uma formação inicial e
continuada que reverta a visão negativa que se tem do campo
com políticas de formação sintonizadas com a dinâmica social
específica, onde está implícita a afirmação de direitos à terra, à
cultura e identidade e à educação.
Palavras-chave: Educação no Campo, Classe Multisseriada,
Formação de Professores, História Oral.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 223-244
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
223
Santos, J.S., & Franco, S. C. (2018). As multisséries no Campo de Arraias-TO: memórias...
The multiseries in Campo de Arraias TO: memories
ABSTRACT. The research investigates the difficulties faced by
educators and learners who experience the reality of the
multisite classes in rural schools in the municipality of Arraias-
TO. The methodology used was the one proposed by the oral
history that consists in the accomplishment of an interview with
the subjects involved. In this case, we interviewed teachers and
students who live in the context of the multi-series classes in the
mentioned municipality. About 1.3 million students study in
multisite countryside classes in Brazil. From the testimony of
teachers and students, some aspects are highlighted: lack of
specific training for the teacher to work in the multiseriate, an
issue that affects the quality of teaching; absence of a
curriculum also focused on the reality of the countryside, and
the lack of physical infrastructure. These conditions imply
negative results for the education modality in the Rural
Education. It is necessary to construct a positive vision of the
field, to think of an initial and continuous formation that
reverses the negative view that has of the field with policies of
formation tuned to the specific social dynamic, where the
affirmation of rights to the land, the culture and identity and
education.
Keywords: Countryside School, Multisserial Class, Teacher
Training.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 223-244
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
224
Santos, J.S., & Franco, S. C. (2018). As multisséries no Campo de Arraias-TO: memórias...
Las multiserias en el Campo de Arraias- TO: memories
RESUMEN. La investigación investiga cuáles son las
dificultades enfrentadas por los educadores y los educandos que
vivencian la realidad de las clases multiserias en las escuelas del
área rural del municipio de Arraias-TO. La metodología
utilizada fue la propuesta por la historia oral que consiste en la
realización de entrevista con los sujetos involucrados. En este
caso, fueron entrevistados profesores y alumnos que viven
contexto de las clases multiserias en el municipio mencionado.
Cerca de 1,3 millones de alumnos estudian en clases
multiseriales del campo en Brasil. A partir del testimonio de
profesores y alumnos, algunos aspectos ganan destaque: falta de
formación específica para el docente actuar en la multiserción,
cuestión que afecta la calidad de la enseñanza; la ausencia de un
currículo volcado también para la realidad del campo, y la falta
de infraestructura física. Estas condiciones implican en
resultados negativos para la modalidad de Educación en el
Campo. Es necesario construir una visión positiva del campo,
pensar en una formación inicial y continuada que revierta la
visión negativa que se tiene del campo con políticas de
formación sintonizadas con la dinámica social específica, donde
está implícita la afirmación de derechos a la tierra, a la cultura y
identidad y educación.
Palabras clave: Educación en el Campo, Clase Multiserial,
Formación de Profesores, Historia Oral.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 223-244
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
225
Santos, J.S., & Franco, S. C. (2018). As multisséries no Campo de Arraias-TO: memórias...
Introdução
Este artigo é resultado de estudo feito
para a disciplina História, Memória e
Educação (HME) do Mestrado em
Educação da Universidade Federal do
Tocantins, focado nas escolas rurais com
classes multisseriadas, localizadas no
município de Arraias, sudeste do Estado do
Tocantins. A disciplina mencionada
propiciou o embasamento teórico para a
metodologia utilizada, a história oral. Em
conformidade com os procedimentos da
área, confeccionou-se um roteiro de
entrevistas pré-estabelecido, ouviram-se
professores e discentes no que diz respeito
as suas trajetórias e percepções sobre o
contexto em que vivem e atuam.
Transcreveram-se as falas, e, em seguida,
obteve-se a autorização para a publicação
dos nomes dos entrevistados após a
assinatura do Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido (TCLE).
Diante disso, identificaram-se as
dificuldades enfrentadas pelos educadores
e os educandos que vivenciam a realidade
das classes multisseriadas nas escolas da
área rural do município de Arraias-TO. Na
HME fez-se um projeto para a construção
do artigo com um cronograma explicitando
tempo para fundamentação teórica,
entrevistas e finalização da pesquisa. Num
período de seis meses, realizou-se pesquisa
bibliográfica e pesquisa de campo e a
consecução do artigo como um exercício
final da disciplina HME com a
metodologia de historia oral (HO).
Utilizou-se principalmente Verena Alberti,
que tem um manual sobre a história oral
onde conceitua que a HO “... não é um fim
em si mesma, e sim um meio de
conhecimento. Seu emprego se justifica
no contexto de uma investigação
científica” (Alberti, 2004, p. 29).
Na pesquisa de campo, primeiro
buscou-se entender o que era a
multisseriação, na perspectiva de Hage
(2010) seria uma reunião de estudantes de
várias séries e níveis em uma mesma sala
de aula, independente do número de
professores responsáveis pela turma.
Embora possa acontecer de uma escola ou
turma ser multisseriada e ter mais de um
professor, no meio rural, contam com
apenas um professor como responsável
pela condução do trabalho pedagógico,
sendo, portanto, unidocente.
Quando se pretende uma educação
de qualidade, é preciso que se pense em
escolas com educador inserido na
realidade, estrutura e condições adequadas
para ministrar aulas e remuneração justa,
além de formação geral e holística, para
multisseriação. A prática educativa deve
despertar a consciência dos sujeitos de
modo que estes consigam associar sua
realidade a outras realidades, construindo
assim um novo saber, novas relações.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 223-244
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
226
Santos, J.S., & Franco, S. C. (2018). As multisséries no Campo de Arraias-TO: memórias...
A pesquisa permitiu inferir que a
realidade das escolas rurais multisseriadas
do município não se faz diferente das
outras escolas rurais brasileiras. As
deficiências, principalmente em relação à
estrutura física, se perpetuam. Observou-se
que, a Educação no Campo tem tido
sucesso e conta com boa vontade e
profissionalidade dos professores em
oferecer um ensino de qualidade aos
alunos.
Educação multisseriada em escolas do
campo: breve abordagem teórica
As classes multisseriadas são uma
realidade na Educação do Campo no Brasil
quase dois séculos. Trata-se da
junção de várias séries numa mesma sala e
na maioria das vezes com apenas um (a)
professor (a).
Segundo Piza e Sena (2001), as
escolas multisseriadas são, historicamente,
consideradas como de segunda categoria e,
o que é pior, sem alternativa de melhoria;
por isso, os educadores e os gestores
optaram por esquecê-las, esperando que
desapareçam como consequência natural
do processo de desenvolvimento das
sociedades. Porém, o desaparecimento
natural não existe na história, trata-se,
sempre, de funções sociais que cumprem
ou deixam de cumprir para desaparecerem
ou para recriarem. Por essa razão, apesar
de todas as mazelas e das políticas de
substituição promulgadas desde a década
de 1980, as escolas multisseriadas vêm
resistindo e adentraram o século XXI. Esse
fato, no entanto, não se faz presente
frequentemente nas pesquisas em história
da educação.
Se, no seu nascedouro, as escolas
multisseriadas atendiam tanto à população
periférica quanto a rural, atualmente elas se
concentram somente na zona rural.
Menezes e Santos (2002, p. 2), ao
desenvolverem o verbete Escolas
Multisseriadas, no Dicionário Interativo da
Educação Brasileira, escrevem que
“acredita-se que a educação no campo
esteja relegada a segundo plano, limitando-
se ao ensino das primeiras letras”,
afirmando também que estas escolas se
constituem predominantemente de classes
multisseriadas.
Esta realidade está presente na
trajetória educacional brasileira desde o
período Imperial, quando além de atender
as cidades, principalmente as periferias
passaram a atender as escolas rurais da
época nesta modalidade. A partir da
República, o ensino seriado foi implantado
nas escolas urbanas, mas o modelo
multisseriado de ensino permaneceu em
vigor no campo.
É preciso entender que as escolas
multisseriadas não podem ser consideradas
como escolas isoladas, pois se trata de um
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 223-244
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
227
Santos, J.S., & Franco, S. C. (2018). As multisséries no Campo de Arraias-TO: memórias...
ambiente que pode ser rico e
potencializador. No entanto, em vez disso,
se apresentam escolas com pouca ou
nenhuma estrutura física, contribuindo para
o desânimo e a evasão escolar.
A inexistência de formação
especifica aos professores da
multisseriação faz com que o ensino
urbano seja implantado no currículo dessas
escolas dificultando mais ainda a prática
dos educadores dessas classes. Dessa
forma, os professores culpam o fracasso do
ensino dessas escolas à multisseriação.
De acordo com Barros et al. (2010),
as escolas multisseriadas são responsáveis
pela iniciação escolar da maioria dos
sujeitos que vivem no campo, por isso,
torna-se tão urgente sua inclusão nas
agendas de discussões da educação
brasileira, para que sejam previstos
investimentos para enfrentar seus desafios.
O ensino desenvolvido nessas classes
é prejudicado, na maioria das vezes, pelo
fato de as escolas não oferecerem uma
estrutura física apropriada. Na verdade, em
vez de escolas, com prédio próprio, são
residências de apenas um cômodo ou dois,
no máximo, em contraste com a estrutura
das escolas urbanas. carência de
equipamentos e mobiliários, livros com
conteúdos voltados para a realidade rural.
Outra questão é que os professores, além
de ministrarem aulas em várias séries, se
sentem sobrecarregados por ter que
assumir outras funções, tais como:
faxineiro, merendeiro, secretário, etc.
Os docentes também se sentem
desconfortáveis por ter que mudar
constantemente de escola e os alunos pela
troca diária de professores, por conta da
relação de trabalho com o ente municipal,
baseada na contratação temporária, e não
em concurso público.
Barros et al. (2010) também aponta
outras dificuldades enfrentadas pelos
professores de classes multisseriadas, uma
delas, a organização do processo
pedagógico das escolas. Os profissionais,
por trabalharem em várias séries ao mesmo
tempo, têm que elaborar planos de aula
separados para cada série. Assim os
professores se sentem perdidos, sem
qualquer espaço para realização completa
de seus trabalhos, e o tempo se torna pouco
para trabalhar com tanta série reunida.
Apesar deste contexto,
aparentemente negativo, a educação
multisseriada é considerada positiva,
educação que ajuda na formação humana,
valoriza a identidade campesina e que não
pode ser esquecida tanto pelo poder
público quanto pelos próprios sujeitos que
vivem essa realidade de perto.
Hage (2004) tem inúmeros trabalhos
sobre escolas multisseriadas e defende que,
Ao atender os estudantes em seu
próprio lugar, em sua própria
comunidade, as classes
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 223-244
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
228
Santos, J.S., & Franco, S. C. (2018). As multisséries no Campo de Arraias-TO: memórias...
multisseriadas podem contribuir
enormemente com o processo de
permanência dos sujeitos do campo
no campo e para com a valorização
da identidade cultural dos mesmos
(Hage, 2004, p. 4).
As escolas com classes
multisseriadas, segundo o autor
supramencionado, podem ser consideradas
como uma boa alternativa para a Educação
do Campo. Portanto, é necessário que os
professores dessas escolas tenham
formação, para que o seu trabalho tenha
mais qualidade e bons resultados. De igual
modo, a estrutura física da escola deve ser
adequada para que haja um melhor
aproveitamento e que o projeto político
pedagógico esteja de acordo também com
suas necessidades.
Educação do Campo: perspectivas
teóricas
uma negatividade do espaço
rural, o campo é visto nas palavras de
Arroyo (2007) como o lugar do atraso, o
outro lugar. A cidade por sua vez, é o
espaço civilizatório por excelência, de
convívio, sociabilidade e socialização, da
expressão da dinâmica política, cultural e
educativa, destaca o autor.
O campo é lugar de trabalho duro, de
luta diária, cheio de riquezas culturais, de
crenças fortíssimas, de histórias de vida
que são apagadas pela desconstrução da
cultura camponesa no momento em que ela
é vista como o quintal ou a extensão da
cidade. Por ser visto dessa forma, tudo o
que vai para as escolas do campo, é o que
sobra das escolas da cidade. É como se o
rural não necessitasse de coisas boas, a
educação basta apenas acontecer, sem se
preocupar com que tipo de ensino está
sendo ofertado neste setor ou que tipo de
material será usado para que a educação
aconteça.
Nesse modelo de educação “a
formulação de políticas educativas e
públicas, em geral, pensa na cidade e nos
cidadãos urbanos como o protótipo de
sujeitos de direitos” (Arroyo, 2007, 158).
Firma-se nesse sentido a concepção de que
a cidade é o modelo a ser seguido, como se
o campo não tivesse sua própria
identidade, prevalecendo o paradigma de
que a educação tanto na cidade quanto no
campo deve seguir os mesmos modelos, ou
seja, essas duas dimensões sociais possuem
as mesmas necessidades, os mesmos
costumes, o mesmo modo de vida.
Nota-se assim que, de modo geral, as
políticas públicas para a Educação do
Campo na contemporaneidade estão ainda
muito próximas das vivenciadas
políticas de educação rural” e do
“ruralismo pedagógico” do que representar
algo de novo, mais progressista.
Principalmente porque a formação
profissional dos agricultores para que se
mantenham inseridos na produção como
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 223-244
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
229
Santos, J.S., & Franco, S. C. (2018). As multisséries no Campo de Arraias-TO: memórias...
camponeses, avança pouco, permanecendo
a quase totalidade das experiências de
Educação do Campo apenas enquanto
formas de se ganhar tempo até que o êxodo
rural proclamado se complete, em acordo
com a uniformização e padronização
fomentadas pelo modelo de
desenvolvimento adotado em nosso País,
centrado no agronegócio e no
neoliberalismo.
Fernandes (2006, citado por
Gonsaga, 2009) faz um paralelo entre
Educação do Campo e educação rural,
concluindo que esta se diferencia daquela
pelo fato de estar inserida nos princípios do
paradigma do capitalismo agrário, tendo
como ideal de educação o trabalhador do
campo como mero executor de tarefas, não
assumindo, portanto, o papel de
protagonista neste processo, mas sim de
subalterno aos interesses do capital.
A Educação do Campo vem sendo
construída pelos movimentos
camponeses a partir do princípio da
autonomia dos territórios materiais e
imateriais ... Para a Educação do
Campo desenvolvimento e educação
tornaram-se indissociáveis. Para a
Educação Rural, desenvolvimento é
apenas um tema a ser estudado.
Compreendendo o Campo como um
território, a Educação precisa ser
pensada para o seu desenvolvimento.
Compreendendo o Rural como uma
relação social do campo, a Educação
é pensada como forma de inserção no
modelo de desenvolvimento
predominante, no caso, o
agronegócio (Fernandes, 2006, citado
por Gonsaga, 2009, p. 52).
Quando se fala de Educação do
Campo, fala-se de uma educação própria
do homem do campo, pensada pelo/com
homem do campo, intercaladas aos
movimentos sociais do campo que lutam
incansavelmente por uma educação de
qualidade neste local.
Daí a importância de se valorizar e
enaltecer o trabalho, a cultura, as relações
sociais, a convivência do homem do campo
no currículo educacional do campo, uma
vez que estes são princípios educativos. O
trabalho é parte do processo educativo na
vida de um sujeito do campo, porquanto,
deve ser entrelaçado no processo de
ensino-aprendizagem, para que o educando
se sinta integrado nesse processo, dando-
lhe autonomia dentro da sala de aula e no
seu convívio social.
Toda a desconstrução do espaço rural
colocando a cidade como o melhor lugar
para se viver faz com que o campo seja
esquecido pelos órgãos públicos. Não
atendimento de saúde, saneamento básico e
a educação, por sua vez, quando existe não
é de boa qualidade.
Arroyo e Fernandes (1999) alertam
que é preciso ter outro olhar sobre o
educando, é necessário que o educador
valorize o que este estudante traz de
importante, suas experiências, histórias e
lutas. Já Fernandes afirma que o campo é:
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 223-244
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
230
Santos, J.S., & Franco, S. C. (2018). As multisséries no Campo de Arraias-TO: memórias...
... lugar de vida, onde as pessoas
podem morar. Trabalhar, estudar com
dignidade de quem tem o seu lugar, a
sua identidade cultural. O campo não
é o lugar da produção
agropecuária e agroindustrial, do
latifúndio e da grilagem de terras. O
campo é espaço e território dos
camponeses e dos quilombolas. É no
campo que estão às florestas, onde
vivem as diversas nações indígenas.
Por tudo isso, o campo é lugar de
vida e, sobretudo de educação.
(Fernandes, 2004, p. 137).
a necessidade de pensar
currículos das escolas rurais elaborados de
acordo com a realidade do aluno,
valorizando identidades e costumes
regionais. Considerando este aspecto, o
estudo buscou identificar e compreender as
dificuldades enfrentadas pelos educadores
e educandos que vivenciam a realidade das
classes multisseriadas nas escolas da área
rural do município de Arraias-TO. Para
tanto, foram entrevistados professores e
alunos.
Apesar das representações negativas
e dos estereótipos que m recaído sobre as
escolas de turmas multisseriadas, seus
professores e seus alunos, outros olhares
parecem apontar para uma nova visão
sobre estas escolas, em que aquilo que até
então foi enxergado como um problema
pode agora ser entendido como solução e
elas passam a ser consideradas, inclusive,
como uma “escola portadora de futuro”
(Amiguinho, 2007).
Trabalhos produzidos recentemente,
a exemplo de Pinho (2004), Hage (2005),
Antunes-Rocha e Hage (2010), Moura e
Santos (2012), Souza (2014), Souza e
Santos (2014), Sousa (2015), têm
demonstrado que nas escolas de turmas
multisseriadas, apesar das condições
precárias, do escasso material, da formação
que poderíamos considerar insuficiente de
seus professores, “nascem pistas para se
pensar alternativas curriculares que
consideram a diferença como possibilidade
de aprendizagem” (Pinho, 2004, p. 3), pois,
em muitas delas acontece um trabalho de
qualidade, com aprendizagem significativa
por parte dos alunos.
Ao longo do estudo, verificou-se que
o município de Arraias não possui o que se
considera uma educação do campo, mas,
sim, uma educação rural. Para se
caracterizar uma educação do campo, deve
ser pensada e organizada pelos povos do
campo e atender aos anseios dos
camponeses.
Por enquanto, a educação rural se
configura uma educação na área rural, por
não ser próprio das comunidades rurais,
não ser pensada a partir delas, por elas, e
com elas, desconsidera o contexto e, assim,
transporta o modelo da cidade para o
campo. É uma educação que existe no
campo, mas é pensada por outros agentes,
no caso do município, organizada pela
Secretaria Municipal de Educação.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 223-244
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
231
Santos, J.S., & Franco, S. C. (2018). As multisséries no Campo de Arraias-TO: memórias...
A Educação no Campo na visão de
professores e alunos
Analisar, a partir das memórias
docentes, as práticas pedagógicas
empreendidas pelos professores de turmas
multisseriadas, com vistas a extrair
repertórios e táticas que demonstrem o
contexto da multissérie é o objetivo desta
seção do artigo.
Rememora-se que este artigo é um
exercício da disciplina História, Memória e
Educação realizada no segundo semestre
do ano de 2014. Simultaneamente, neste
mesmo período os campi da Universidade
Federal do Tocantins (UFT) em Arraias e
Tocantinópolis passaram a oferecer vagas
para cursos regulares de Licenciatura em
Educação do Campo. Dois projetos da
Universidade foram aprovados dentro de
um edital que contemplou 40 instituições
de ensino em todo o país - o Programa de
Apoio à Formação Superior em
Licenciatura em Educação do Campo
(Pronacampo), iniciativa do Ministério da
Educação (MEC), por intermédio da
Secretaria de Educação Superior (SESU),
Secretaria de Educação Profissional e
Tecnológica (SETEC) e da Secretaria de
Educação Continuada, Alfabetização,
Diversidade e Inclusão (SECADI).
(Carrara, 2012)
Segundo dados do Programa
Nacional de Educação na Reforma Agrária
PRONERA (Brasil, 2004), no que se
refere à educação entre os assentados, a
Região Norte tem 390.752 famílias
assentadas. Apresenta um índice médio de
pessoas não alfabetizadas de 14,74%;
44,89% têm nível de escolaridade de a
série e apenas 27,41% cursaram o nível
fundamental completo. 6,72% têm o ensino
médio incompleto; 4,99% completaram o
ensino médio e menos de 1% completou
algum curso de nível superior ou está
cursando (Brasil, 2004). a pesquisa
realizada pelo Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária INCRA
(PRONERA-TO) em 2010, nos projetos de
assentamentos, constatou-se que dos 100%
dos assentados/as, 44% tinham 18 anos,
sendo que destes 12,3% frequentavam a
escola, 87,7% estavam fora da escola e
21,18% tinham escolaridade do até ao
ano e apenas 7,6% concluíram o ensino
médio (Brasil, 2017). Nesse sentido, o
índice de escolaridade no Estado do
Tocantins é baixo, e as políticas públicas
educacionais têm ocorrido de forma
descontinuada e, muitas vezes, não
atendem a perspectiva dos jovens
camponeses, por não considerar o lugar, a
cultura e a forma de produção do campo
como elementos essenciais à educação.
Diante desta demanda, o Campus de
Arraias desenvolveu um Grupo de Estudos
e Pesquisas em Educação do Campo onde
se articulou ações de Ensino, Pesquisa e
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 223-244
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
232
Santos, J.S., & Franco, S. C. (2018). As multisséries no Campo de Arraias-TO: memórias...
Extensão na área da Educação do Campo e
foi contemplado com o projeto intitulado:
“A Educação do Campo em foco: uma
análise interdisciplinar da realidade das
escolas rurais no Sudoeste do Tocantins”,
aprovado em 2010/ CAPES/MEC.
No período de 2011 a 2013, a
Universidade Federal do Tocantins, mais
especificamente, o Campus de Arraias,
apresentou o Projeto Político Pedagógico
para o Curso de Licenciatura em Educação
do Campo, que se destinou à formação
inicial de 120 (cento e vinte) discentes
oriundos da área rural, por ano, para
atuarem nas escolas do campo situadas em
contextos socioculturais diversificados.
Nesse projeto, as justificativas e as
diretrizes curriculares organizativas para o
desenvolvimento do Curso eram para o
atendimento das políticas públicas para a
Educação do Campo, bem como solucionar
as proposições dos Movimentos Sociais e
Sindicais, Fórum Estadual de Educação do
Campo e das secretarias estaduais e
municipais de educação.
A história oral, metodologia utilizada
nesta pesquisa, consiste em realizar
entrevistas gravadas com pessoas que
testemunham acontecimentos, conjunturas,
instituições, modos de vida ou outros
aspectos da história da educação. É uma
prática de apreensão de narrativas feitas
através do uso de meios eletrônicos e
destinadas a recolher testemunhos,
promover análises de processos sócio-
educacionais do presente e facilitar o
conhecimento do meio imediato (Santos &
Azevedo, 2017).
Os depoimentos destacam a
diversidade de metodologia, o desempenho
profissional e o contexto escolar. Roteiro: -
Como se constituíram professores de
turmas multisseriadas? Que formação
possuem? Em que condições exercem a
docência? Que práticas empreendem?
Como organizam o espaço-tempo em sala
de aula num contexto pedagógico marcado
pela pluralidade? Como se relacionam com
alunos, pais, docentes, Secretaria
Municipal de Educação e comunidade?
Que modos de fazer caracterizam a
docência nestes espaços? Que lembranças
do fazer pedagógico lhe marcaram ao
longo desta trajetória?
A opção pela história oral
possibilitou conhecer os docentes e
discentes como sujeitos e como se veem
dentro dessa história. Tramas de
experiências e valores, de saberes, de
formas e de recursos que passamos a
relatar.
Compreendendo os desafios em
trabalhar com classes multisseriadas
Sobre a pergunta: como organizam o
espaço-tempo em sala de aula num
contexto pedagógico marcado pela
pluralidade? a professora Rocha destacou
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 223-244
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
233
Santos, J.S., & Franco, S. C. (2018). As multisséries no Campo de Arraias-TO: memórias...
que necessidade de dedicação especial
para cada aluno, principalmente na fase de
alfabetização. O tempo para trabalhar com
várias séries reunidas é um dos desafios
mais difíceis de enfrentar, segundo os
professores entrevistados. O período é
considerado curto e o número de alunos,
em contrapartida, é grande. Veja o que
dizem os entrevistados:
O desafio é o tempo, porque você
tem que ter tempo para cada aluno, o
tempo eu acho meio que corrido, por
mais que seja pouco aluno. Mas você
tem que ter o tempo é a base, né?!
A alfabetização é a base porque tem
que ser trabalhado perfeito, é como
se você construísse uma casa né,
então a alfabetização pra mim é a
base, então assim o tempo é pouco,
eu acho pouco, não é como na cidade
os meninos aqui não tem uma creche
né, ... vão diretamente pra escola,
que, tudo que eu posso fazer né, é
sanar essa dificuldade, eu faço. Então
é assim o tempo que eu acho pouco,
para mim, eu tenho que ter tempo
para todos, então o tempo eu acho
pouco, porque quando to ensinando
no primeiro ano o segundo tia... o
terceiro tia... ‘Então assim o tempo
pra mim eu acho pouco.’ (Rocha,
2014).
Como foi citado anteriormente, o
período de 2011 a 2013 foi de
reivindicações para a implantação da
Licenciatura em Educação do Campo em
Arraias. A maioria dos alunos do entorno
do Campus da UFT do referido município
faz o curso de Pedagogia ou Matemática.
Uma parte dos docentes
entrevistados terminou há pouco tempo a
própria formação e o contato que teve com
sala de aula foi pequeno. Segundo Hage
(2010), o total desconhecimento do
contexto da multisseriação, a falta de
compreensão mais abrangente desse
processo, muitos professores e professoras
das escolas com turmas multisseriadas
organizam o seu trabalho pedagógico sob a
lógica da seriação, desenvolvendo suas
atividades educativas referenciados por
uma visão de “ajuntamento” de várias
séries, que os obriga a elaborar tantos
planos de ensino e estratégias de avaliação
diferenciadas quanto forem às séries com
as quais trabalham, envolvendo estudantes
da pré-escola e Ensino Fundamental
concomitantemente.
Olha, é um desafio muito grande
porque, eu particularmente que
recém-saído da faculdade e também
não imaginava que eu poderia
trabalhar com sala de aula, enfrentei
o seguinte: porque trabalhar com
multisseriada é muita turma junta ali,
é muito... os alunos que vivem a
realidade local ... eles são muito
deficientes, em questão
principalmente de leitura, de escrita,
quer dizer escrever e interpretar, ler,
escrever e tudo. Então o desafio é
você lidar no meu caso que trabalho
com quatro séries, lidar com quatro
séries ao mesmo tempo, porque é
complicado e ao mesmo tempo em
que você tem que cuidar do
comportamento do aluno você tem
que cuidar também do exercício que
você tem que passar pra ele, tem que
ter o cuidado até da linguagem que
você deve transmitir a eles, por que
de repente eles também não
raciocinam né, esses são os principais
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 223-244
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
234
Santos, J.S., & Franco, S. C. (2018). As multisséries no Campo de Arraias-TO: memórias...
desafios pra trabalhar com escola
multisseriada que estou
encontrando”. (Santos, 2014).
Além disso, é preciso entender e
articular o ensino nas salas multisseriadas
e, segundo os relatos dos professores, não
houve nenhuma preparação prévia para
esta realidade.
É bem difícil, sabe por quê? Por que
assim como eu trabalhei com uma
turma só que não multisseriada, então
se torna bem mais fácil pra você
acompanhar aquele aluno que tem
dificuldade, entendeu? E na sala
multisseriada isso se torna bem
mais difícil porque até pro reforço é
difícil porque você tem alunos com
dificuldades quase todas as turmas,
entendeu? ...então você tem que dar
uma atenção bem maior pra aquele
aluno, e na sala mesmo assim no
normal de sala de aula você não tem
isso, por que toda hora um chama de
um lado outro chama, entendeu?
Então acaba tirando a concentração
daquele que esta com dificuldade,
então com isso tem que levar pro
reforço então pra hora do recreio
chama aquele aluno e senta pra tentar
sanar as dúvidas deles, entendeu? E
contar com o apoio da família que é o
que eu sempre corro atrás (Silveira,
2014).
Apesar das dificuldades, os docentes
enxergam aspectos positivos também, no
cotidiano das salas multisseriadas, que
serão apresentados a seguir.
Os aspectos positivos na multisseriação
A presença da escola na comunidade
rural é o principal motivo para os docentes
entrevistados considerarem positiva a
classe multisseriada. Eles destacaram ainda
o fato de que os alunos valorizam muito ter
um professor perto de casa, portanto, têm
prazer em ir à escola. Isso serve de
inspiração e incentivo para manutenção,
investimento e a valorização da escola do
campo e, principalmente, a valorização do
professor.
O bom ... é quando você trabalha...
por exemplo, ... com os alunos do
terceiro ano, o segundo ano uma série
adiantada o outro ta ali, então assim
às vezes quando você... ta lá na frente
‘ah eu vi isso no terceiro ano,
quando eu tava falando no terceiro
ano, falou sobre isso’. Então isso é
bom acaba acompanhado algo da
outra turma também (Rocha, 2014).
O ensino multisseriado representa
um aliado da aprendizagem, no contexto
dialógico, pois valoriza a diversidade e a
heterogeneidade. Por outro lado,
grandes dificuldades para a contratação e
permanência de professores.
Olha o bom é porque as crianças vêm
mesmo assim com aquele
empolgamento de estudar, porque
aqui pra achar professor não é fácil,
inclusive aqui veio comigo a
segunda pessoa, a outra menina veio
não ficou, ficou três dias só. Então
assim, eles têm empolgamento de vir
porque tem um professor ele
valor, os alunos dão valor no
professor. (Santos, 2014)
De bom é por que é nosso meio por
isso, a gente gosta de fazer, trabalhar
com a turma, a gente trabalha de
pouquinho a pouquinho pra ver o
crescimento de cada aluno, isso
prazer (Silveira, 2014).
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 223-244
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
235
Santos, J.S., & Franco, S. C. (2018). As multisséries no Campo de Arraias-TO: memórias...
Nota-se que os elementos
caracterizados como bons fundamentam-se
no prazer que os professores têm em
ensinar e, mais ainda, ver o aluno
aprendendo. Daí percebe-se que o ensino-
aprendizagem está acontecendo. O aluno
fica feliz por ter escola e o professor fica
feliz por desenvolver sua função de modo
que o aluno consegue aprender.
Como se constrói a organização e o
planejamento para as classes
multisseriadas
Os docentes seguem o planejamento
orientado elaborado juntamente com a
Secretaria Municipal de Educação de
Arraias (TO). A partir deste planejamento,
elaboram o plano diário de aulas. Todos os
professores seguem o planejamento
orientado, mas aqueles que estudaram em
uma classe multisseriada têm mais
facilidade para lidar com tal realidade.
Os planos de aula são feitos
diariamente por alguns professores, outros
preferem fazê-lo semanalmente. Para cada
série é feito um plano de aula. Nota-se pelo
que os professores disseram que isso torna
ainda mais difícil a prática docente, pois
tem que desenvolver vários planos em uma
única turma. É um professor sozinho para
orientar toda a turma.
Para desenvolver os conteúdos,
utilizam a seguinte metodologia: trabalha-
se com o 1º ano, logo após com o 2º,
depois o 3º e assim sucessivamente.
Eu estipulo o tempo, quando eu estou
explicando para o primeiro ano, o
segundo tá respondendo a atividade
rodada, eu sento um pouquinho com
eles, explico, pego o trabalho e assim
sucessivamente, quando eu
termino do primeiro ano eu já vou
pro terceiro, dando um tempo pro
segundo. Dessa forma que é
trabalhado (Rocha, 2014).
Cada um é um, agora esse mês
passado que eu deixei o do primeiro
ano junto com o do segundo porque
tinha um menino e uma menina
assim quase igual do segundo, eu
peguei e deixei junto, fiz a
separação assim, fiz junto e coloquei
primeiro e segundo, aí na hora que
vou trabalhar lá aí faço a diferença,
divido no quadro igual divido uma
parte e ponho primeiro, mas eu
ponho do quarto pra cima, mas é
divisão, aí os separo (Silveira, 2014).
Uma das docentes exemplifica como
separa os temas por disciplina:
Por exemplo, Língua portuguesa, um
dia eu trabalho com Língua
portuguesa, eu peço pra todos os
alunos, eles pegam... Normalmente
eu começo mesmo é com leitura,
eles fazem a leitura prévia, enquanto
o quinto ano fazendo a leitura eu
estou me direcionando para o terceiro
ano, depois que eu termino a
atividade do terceiro ano quando eles
estão copiando eu vou pro segundo
ano (Santos, 2014).
Outra professora afirma que, além de
ministrar as aulas, exerce outras funções
junto aos alunos. Torna-se mãe, psicóloga,
inclusive, merendeira, quando a
funcionária falta. São professores, mas
fazem praticamente todas as funções
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 223-244
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
236
Santos, J.S., & Franco, S. C. (2018). As multisséries no Campo de Arraias-TO: memórias...
dentro da escola. O trabalho docente nas
escolas com turmas multisseriadas se
configura pela sobrecarga de atividades,
instabilidade no emprego e angústias
relacionadas à organização do trabalho
pedagógico. Nessas escolas, um único
professor atua em múltiplas séries
concomitantemente, reunindo estudantes
da pré-escola e dos anos iniciais do ensino
fundamental em uma mesma sala de aula;
sendo obrigado a assumir outras funções,
além da docência, ficando responsável pela
confecção e distribuição da merenda,
limpeza da escola, realização da matrícula
e demais atividades de secretaria e de
gestão (Hage, 2010).
Sobre a formação dos professores que
trabalham com classes multisseriadas
Um dos problemas relatados pelos
professores se refere à organização da aula
e à falta de formação específica para a
multisseriação. O que se percebe é que a
maioria dos professores não sabe como
deve ser ministrado o ensino nessas
classes. O possível fracasso é atribuído ao
modelo adotado, no entanto, se os
professores tivessem uma preparação
prévia adequada, poderiam contornar as
dificuldades, compreendendo aspectos e
desafios, para preparar atividades e um
planejamento enriquecedor para aplicar em
sala de aula.
A formação inicial do docente tem
um caráter mais geral e, ao longo da
atuação, os professores fazem cursos de
aperfeiçoamento da prática, sem foco
específico para trabalhar em uma escola de
classe multisseriada. Observa-se que a
implantação do modelo seriado dentro da
classe multisseriada e pelo que se percebe
isto compromete o processo de ensino-
aprendizagem. Tanto o professor tem
dificuldade em ensinar quanto o aluno tem
em aprender.
Se os professores não possuem essa
capacitação, como que eles aprenderam a
trabalhar com esse modelo de ensino? A
partir deste questionamento os professores
dão detalhes que permitem compreender
como aprenderam a ensinar em uma classe
multisseriada.
Olha, eu acho que já veio desde o
tempo de estudo por que eu saí de
uma sala multisseriada né, eu estudei
nesta mesma sala, então assim isso já
vem desde ... do tempo de estudo.
Mas formação mesmo voltada pra
multisseriação na formação
continuada e planejamento (Rocha,
2014).
O fato de ter estudado em uma classe
multisseriada contribui para a atuação do
professor porque se trata de uma realidade
já experienciada.
Bom, eu estudei em classe
multisseriada quando eu morava na
Lagoa da Pedra, eu estudei assim,
questão de vivência, então eu aprendi
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 223-244
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
237
Santos, J.S., & Franco, S. C. (2018). As multisséries no Campo de Arraias-TO: memórias...
dessa forma, não que tenha
específico uma formação pra
trabalhar né, numa classe
multisseriada (Santos, 2014).
Eu dou conta pelo menos um pouco
pelo fato de ter estudado numa classe
multisseriada, mas formação
especifica para multisseriada nunca
tive (Silveira, 2014).
O número de Licenciaturas em
Educação no Campo cresceu
consideravelmente na última década e hoje
passa de quatro dezenas. Instituições pelo
país acreditam na proposta e participam
desse processo de implantação; entre elas
podemos citar a Universidade Federal do
Tocantins, que oferta a Licenciatura em
dois de seus campi: Arraias e
Tocantinópolis. Os cursos desses campi
foram criados a partir da iniciativa de um
coletivo de educadores que, em resposta ao
Edital Chamada Pública 2, da SECADI,
de 3 de agosto de 2012, propuseram-se a
formular os Projetos Político-Pedagógicos
(PPP) do Curso (Brasil, 2014).
A presença da comunidade e sua
identificação com a UFT foi um fator
essencial na construção da proposta
educacional que valorize o seu território e
os saberes do seu povo. Neste sentido, foi
preciso ampliar e fortalecer ainda mais esta
articulação, esta proximidade e este
diálogo entre UFT-comunidade, professor-
aluno-pais-comunidade, não nos
momentos de integração e de festividades,
mas também no planejamento das
atividades e nas tomadas de decisões
presentes no Projeto Político-Pedagógico
do curso.
É necessário construir uma visão
positiva do campo, pensar em uma
formação inicial e continuada que reverta a
visão negativa que se tem do campo,
destaca Arroyo (2007), e complementa
afirmando a necessidade de implantação de
políticas de formação sintonizadas com a
dinâmica social do campo, onde está
implícita a afirmação de direitos à terra, à
cultura e identidade e à educação.
Classes multisseriadas na visão dos
estudantes
A multissérie pode ser compreendida
como uma organização que possibilita o
desenvolvimento de um processo
educativo diferente, em que os alunos de
faixas etárias e experiências diversas
podem participar e criar formas coletivas
de organização do conhecimento até com
maior maturidade quando comparadas à
metodologia seriada. Isto é, por se
caracterizarem pela diversidade e por
serem heterogêneas, as classes
multisseriadas permitem usar esse aspecto
de modo positivo, buscando, na interação e
na construção de relações das diferenças, a
possibilidade de uma cooperação dentro do
espaço escolar, com aprendizagens
significativas. Para tanto, o professor
precisa organizar-se de maneira a não
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 223-244
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
238
Santos, J.S., & Franco, S. C. (2018). As multisséries no Campo de Arraias-TO: memórias...
centralizar a aprendizagem em si e
acreditar que a troca entre os alunos
também favorece a aprendizagem.
Morin (2001) explica que a
complexidade está presente em cada ser e
em sua interação social e reafirma que, por
mais que se busque a homogeneidade por
níveis de aprendizagem, a diversidade
estará presente. Nesse sentido, a troca de
experiências e a valorização do sujeito e de
sua cultura são desconsideradas no
processo pedagógico, uma vez que a
separação em classes homogêneas vem
reforçar os privilégios daqueles que têm
melhores condições. Mesmo assim, por
mais que se busque a homogeneidade, em
sua essência, isso não é possível.
No entanto, além dos docentes, é
preciso analisar também o contexto da
educação na perspectiva do estudante.
Alunos relataram suas dificuldades em
sala, o que é confirmado no relato dos
professores.
Às vezes eu preciso da ajuda da
professora e ela tá ocupada ensinando
meus outros colegas de outra série,
eu deixo pra mesmo, é muito ruim
(Andrade, 2014).
O aluno não percebe que até mesmo
no ensino seriado a professora não tem
tempo para atender a todos os alunos
individualmente. Não sendo apenas uma
exceção do ensino multisseriado. O
comportamento dos alunos é afetado.
Enquanto a professora ensina um aluno, o
outro fica disperso.
Assim, eu estudo no primeiro ano e
quando às vezes a professora tá
ensinando o segundo ano eu não
consigo prestar atenção nas minhas
tarefas porque fico escutando a
professora ensinando meus outros
colegas, todo mundo junto (Souza,
2014).
O ‘todo mundo junto’ nem sempre
agrada. Os alunos buscam um atendimento
especial nem sempre possibilitado por este
tipo de ensino-aprendizagem, pois “Não, é
muita série junta, às vezes não entendo as
tarefas” (Andrade, 2014).
Na perspectiva de Hage (2005), a
multissérie oportuniza o apoio mútuo e a
aprendizagem compartilhada, a partir da
convivência mais próxima estabelecida
entre estudantes de várias séries na mesma
sala de aula, o que em determinados
aspectos é considerado salutar. Outro aluno
faz uma ressalva, dizendo que gosta “mais
ou menos, eu gosto mais é porque estudo
na roça, perto do meu pai e minha mãe”
(Souza, 2014).
Eles também idealizam a escola que
gostariam que fosse implantada no campo.
“Que fosse igual da cidade, grandona, e
cada um na sua sala, né”? (Andrade, 2014).
O depoimento é confirmado por outro
estudante, ao dizer como gostaria que fosse
a sua escola: “igual daqui de Arraias para
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 223-244
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
239
Santos, J.S., & Franco, S. C. (2018). As multisséries no Campo de Arraias-TO: memórias...
ter mais espaço pra gente brincar” (Souza,
2014).
O desejo é ter espaço próprio e
separado nas salas de aula. E a falta desta
estrutura adequada acaba contribuindo para
a evasão escolar.
Considerações finais
A educação ultrapassa as barreiras da
sala de aula e o mundo interior da criança
porque abrange as relações sociais, o
convívio, a interação e o mundo. E todo
esse aparato deve ser contemplado no
processo ensino-aprendizagem
favorecendo a discussão da temática
proposta neste estudo: uma educação de
qualidade.
Nas palavras de Barros et al. (2010):
Essa situação advém de uma
compreensão universalizante de
currículo, orientada por uma
perspectiva homogeneizadora, que
sobrevaloriza uma concepção
mercadológica e urbanocêntrica de
vida e de desenvolvimento e que
desvaloriza os saberes, os modos de
vida, os valores e concepções das
populações que vivem e são do
campo, diminuindo sua autoestima e
descaracterizando suas identidades.
(Barros et al., 2010, p. 28).
A implantação de políticas públicas, a
construção de uma nova proposta
pedagógica, a elaboração de um currículo
que contemple as relações sociais dos
sujeitos do campo nas palavras de Moraes
et al. (2010):
... implica ouvir os sujeitos do campo
e aprender com suas experiências de
vida, trabalho, de convivência e de
educação; oportunizá-los o acesso à
informação, à ciência e às tecnologia,
sem hierarquizar os conhecimentos,
valores, ritmos de aprendizagem.
Implica também realizar uma ‘escuta
sensível’ ao que os professores e
estudantes vêm realizando no
cotidiano da escola... Enfim, repensar
as práticas e formular novas
propostas sintonizadas com a
realidade dos sujeitos do campo, ou
seja, do lugar dos sujeitos do campo,
sem apartá-los do mundo global, do
contexto urbano, com os quais o
território do campo interage
continuamente, constituindo-se em
sua identidade/subjetividade, a partir
dessa interação (Moraes et al., 2010,
p. 407).
Para conhecer as necessidades das
comunidades que vivem no campo, é
necessário dar-lhes voz, inserir-se no seu
meio. Não basta somente criar escolas no
campo e ter professores nessas escolas. É
preciso mais: que professores e alunos
carecem de condições estruturais
adequadas para estudar e se manter no
campo, em seu lugar de sobrevivência.
Uma escola rural, parafraseando
Marinho (2008, p. 64), “... sem estrutura,
como garantias de estabilidade, prédio
próprio, residência para os professores,
campo de ensaios e de experimentação e
com docentes inexperientes, não pode
oferecer esperança de transformação do
indivíduo ...”.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 223-244
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
240
Santos, J.S., & Franco, S. C. (2018). As multisséries no Campo de Arraias-TO: memórias...
A Educação do Campo está longe de
se tornar prioridade nas agendas públicas,
principalmente, no que diz respeito às
políticas de desenvolvimento rural
sustentável. A cada dia, novos agentes
surgem engajados nessa luta. Percebe-se,
então, que o campo não está mais
sozinho, que possui voz ativa mediada pelo
ingresso de novos sujeitos que perceberam
a necessidade de fortalecer o discurso e as
ações em favor dos povos do campo.
Nesta luta conhecer o campo é
indispensável para a transformação do
mesmo, inserir-se no contexto, na vida do
camponês, conhecer a escola, o aluno, o
professor e toda a realidade faz-se refletir
sobre a dignidade humana, sobre a
importância da educação na vida de um
sujeito. É necessário perceber o valor que
estes possuem, que merecem atenção,
benefícios, que favoreça uma vida melhor,
respeito, valorização. E muito mais que
isso, o compromisso dos órgãos
responsáveis pelo desenvolvimento e
crescimento de fazer valer todos esses
direitos.
É visto que os professores do meio
rural no município de Arraias são
comprometidos com a educação. Não se
pode falar que estão nestas escolas por
causa do salário que recebem. a
necessidade de uma maior valorização
financeira, sendo necessário um esforço
maior para a permanência desses
professores no meio rural com um salário
mais digno.
Percebeu-se ainda a carência dos
povos do campo em atendimento e em
informação. Falta dignidade a esses povos,
falta lazer, comodidade, respeito. Uma
educação de qualidade é uma realidade
para um futuro muito distante, falta muito.
O meio rural no município está realmente
esquecido. O “sertanejo” arraiano,
expressão utilizada pela população local,
referindo-se ao homem que vive no sertão
(campo), necessita urgentemente de
atendimento em todos os aspectos no que
diz respeito à condição de vida humana.
Conscientes da realidade do sistema
educacional brasileiro, embora o modelo
de multissérie permaneça sendo alvo de
debates e muitas divergências,
especialmente quanto a sua eficiência no
processo de ensino-aprendizagem e em
função das especificidades e dificuldades
que o envolvem é preciso considerar que,
as escolas multisseriadas ainda encontram-
se presentes em todas as regiões do Brasil
e revelam-se como protagonistas na
garantia do direito ao acesso à Educação
para grande parte das crianças e
trabalhadores do campo e, portanto, é
preciso tratá-las como aliadas e estimular o
desenvolvimento de estudos e de pesquisas
que colaborem para a oferta de uma
educação de qualidade.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 223-244
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
241
Santos, J.S., & Franco, S. C. (2018). As multisséries no Campo de Arraias-TO: memórias...
Utilizar as entrevistas como
instrumento de pesquisa permitiu-nos
extrair uma importante quantidade de
dados e informações que deram maiores
subsídios à pesquisa. Foi possível perceber
mais claramente como os professores e
alunos enxergam a realidade em que estão
inseridos e identificar, por conseguinte, os
desafios urgentes que precisam ser
alcançados para garantir educação
integradora e de qualidade para centenas
de estudantes que vivem distantes das
zonas urbanas no Tocantins, e no Brasil.
Referências
Alberti, V. (2004). Manual de História
Oral. Rio de Janeiro, RJ: Editora FGV.
Amiguinho, A. (2007). A escola e o futuro
do mundo rural. Lisboa, PT: Fundação
Calouste Gulbenkian.
Andrade, B. T. (2014). Entrevista
concedida a Samara Caldas Franco.
Arraias-TO.
Antunes-Rocha, M. I., & Hage, S. M.
(Orgs.). (2010). Escola de Direito:
Reinventando a escola multisseriada. Belo
Horizonte, MG: Autêntica.
Arroyo, M. G. (2007). Políticas de
formação de educadores(as) de campo.
Cad. Cedes, 27(72). DOI:
http://dx.doi.org/10.1590/S0101-
32622007000200004
Arroyo, M. G., & Fernandes, B. M. (1999).
A educação básica e o movimento social
do campo. Brasília, DF: Articulação
Nacional por uma Educação do Campo.
Barros, O. F. et al. (2010). Retratos de
realidades das escolas do campo:
multissérie, precarização, diversidade e
perspectivas. In Antunes-Rocha, M. I.,
Hage, S. M. (Orgs.). Escolas de Direito:
Reinventando a escola multisseriada (pp.
25-33). Belo Horizonte, MG: Autêntica.
Brasil. (2004). Manual de Operações do
Programa Nacional de Educação na
Reforma Agrária - PRONERA. Brasília,
DF: MDA/INCRA.
Brasil. (2014). Resolução do Conselho de
Ensino, Pesquisa e Extensão CONSEPE,
n.º 05/2014. Dispõe sobre a aprovação do
Projeto Pedagógico do Curso (PPC) de
Licenciatura em Educação do Campo
(Campus de Arraias). Palmas, TO: UFT.
Recuperado de:
http://download.uft.edu.br/?d=2b2b330c-
2a4c-4065-93d3-dc1e7975728d:05-
2014%20-
Brasil. (2017). Curso de Aperfeiçoamento
Escola da Terra. Palmas, TO: UFT.
Recuperado de:
https://docs.uft.edu.br/share/s/szhYPpW_T
SC7Sx6l3E9x9g
Carrara, J. (2012). UFT terá licenciatura
em Educação no Campo. Recuperado de:
http://ww2.uft.edu.br/ultimas-
noticias/10324-2012-12-uft-tera-
licenciatura-em-educacao-do-campo
Fernandes, B. M. (2004). Diretrizes de
uma Caminhada. In Arroyo, M. G.,
Caldart, R. S., & Molina, M. C. (Orgs.).
Por uma educação do campo (pp. 113-
146). Petrópolis, RJ: Vozes.
Gonsaga, E. A. (2009). Pedagogia da
Terra o curso de licenciatura em
educação do campo em Minas Gerais.
(Dissertação de Mestrado). Universidade
Federal Fluminense, Rio de Janeiro.
Hage, S. M. (2004). Educação do Campo
na Amazônia: retratos da realidade das
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 223-244
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
242
Santos, J.S., & Franco, S. C. (2018). As multisséries no Campo de Arraias-TO: memórias...
escolas multisseriadas no Pará. In Reunião
GPT Educação do Campo. Brasília, DF.
Hage, S. M. (2005). GEPERUAZ: aspectos
significativos de sua criação, identidade e
abrangência. In Hage, S. M. (Org.).
Educação do campo na Amazônia:
Retratos de realidade das escolas
multisseriadas no Pará (pp. 22-30).
Belém, PA: M. M. Lima Ltda.
Hage, S. M. (2010). Escolas multiseriadas.
In Oliveira, D. A., Duarte, A. M. C., &
Vieira, L. M. F. (Orgs.). Dicionário:
trabalho, profissão e condição docente.
Belo Horizonte, MG: UFMG/Faculdade de
Educação, CDROM.
Marinho, E. R. (2008). Um olhar sobre a
educação rural brasileira. Brasília, DF:
Universa.
Menezes, E. T., & Santos, T. H. (2002).
Classes multisseriadas” (verbete).
Dicionário Interativo da Educação
Brasileira - EducaBrasil. São Paulo, SP:
Midiamix Editora. Recuperado de:
www.educabrasil.com.br/dicionario
Moraes, E. et al. (2010). Transgredindo o
paradigma (multis)seriado nas escolas do
campo. In Antunes-Rocha, M. I., & Hage,
S. M. (Orgs.). Escolas de Direito:
Reinventando a escola multisseriada (pp.
399-415). Belo Horizonte, MG: Autêntica.
Morin, E. (2001). A religação dos saberes:
o desafio do século XXI. Trad. Flavia
Nascimento. Rio de Janeiro, RJ: Bertrand
Brasil.
Moura, T. V., & Santos, F. J. S. (2012). A
pedagogia das classes multisseriadas: um
olhar sobre a prática pedagógica dos/as
professores/as da roça do município de
Amargosa-BA. In Souza, E. C. (Org.).
Educação e Ruralidades: memórias e
narrativas (auto) biográficas. (pp. 265-
293). Salvador, BA: EDUFBA.
Pinho, A. S. T. (2004). A heterogeneidade
fundante das classes multisseriadas do
meio rural: entre a persistência do
passado e as imposições do presente.
(Dissertação de Mestrado). Universidade
do Estado da Bahia, Salvador.
Piza, F., & Sena, L. B. (2001). PMG 3
Escola Ativa. Salto para o Futuro.
Recuperado de:
www.tvebrasil.com.br/saltoparaofuturo/bol
etim2001
Rocha, T. C. S. (2014). Entrevista
concedida a Samara Caldas Franco.
Arraias-TO.
Santos, M. A. R. (2014). Entrevista
concedida a Samara Caldas Franco.
Arraias-TO.
Santos, J. S., & Azevedo, S. (2017). Vozes
docentes no Pafor Tocantino. In Auler, I.,
& Pinho, M. J. (Orgs.). Perspectivas da
formação docente: o programa Pafor em
foco (pp. 283-300). Palmas, TO: EdUFT.
Sousa, R. C. (2015). Multisseriação e
profissão docente: condições de trabalho
docente de professoras do Território de
Identidade do Baixo Sul. (Dissertação de
Mestrado). Universidade do Estado da
Bahia, Salvador.
Souza, E. C., & Santos, F. J. S. (2014).
Educação rural e multisseriação: rompendo
silêncios e indicando horizontes. In Silva,
M. A., & Cunha, C. (Orgs.). Educação
básica: políticas, avanços e pendências
(pp. 315-345). Campinas, SP: Autores
Associados.
Souza, J. H. M. (2014). Entrevista
concedida a Samara Caldas Franco.
Arraias-TO.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 223-244
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
243
Santos, J.S., & Franco, S. C. (2018). As multisséries no Campo de Arraias-TO: memórias...
Silveira, A. G. (2014) Entrevista
concedida a Samara Caldas Franco.
Arraias-TO.
Recebido em: 30/06/2017
Aprovado em: 30/07/2017
Publicado em: 03/05/2018
ORCID
Jocyléia Santana dos Santos
http://orcid.org/0000-0003-2335-121X
Samara Caldas Franco
http://orcid.org/0000-0003-0268-2589
Declaramos para os devidos fins que Samara
Caldas Franco confeccionou o artigo na disciplina
História, Memória e Educação. A professora
Jocyléia Santana dos Santos foi responsável pela
análise e interpretação dos dados e revisão do
conteúdo para versão final a ser publicada.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 223-244
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
244
Como citar este artigo / How to cite this article /
Como citar este artículo:
APA:
Santos, J. S., & Franco, S. C (2018). As
multisséries no Campo de Arraias-TO: memórias.
Rev. Bras. Educ. Camp., 3(1), 223-244.
ABNT:
SANTOS, J. S.; FRANCO, S. C.; As multisséries
no Campo de Arraias-TO: memórias. Rev. Bras.
Educ. Camp., Tocantinópolis, v. 3, n. 1, p. 223-
244, 2018.
Revista Brasileira de Educação do Campo
The Brazilian Scientific Journal of Rural Education
A
RTIG
O
/
A
RTICLE
/
A
R
C
ULO
DO
I:
h
tt
p
:/
/
d
x.d
o
i.
o
r
g/
10.20
873/
u
ft.2525
-4863.2018v3
n
1p
245
A presença da tecnologia na Educação do Campo:
mapeamento da produção científica nacional dos últimos
cinco anos
Vagner Viera de Souza
1
, Elaine Corrêa Pereira
2
, Celiane Costa Machado
3
1
Universidade Federal do Rio Grande - FURG. Programa de Pós Graduação em Educação em Ciências:
Química da Vida e Saúde. Avenida Itália, Km 8. Campus Carreiros. Rio Grande - RS.
Brasil. vagner@vagnersouza.com.
2
Universidade Federal do Rio Grande - FURG.
3
Universidade Federal do Rio
Grande - FURG
RESUMO. Este artigo tem por objetivo realizar um
mapeamento das produções científicas brasileiras, dentro da
biblioteca digital do SciELO, as quais abordem as temáticas
Tecnologia e Educação do Campo. Com a finalidade de
visualizar o cenário nacional atual em relação às publicações
relacionadas à tecnologia nas escolas do campo, buscamos por
trabalhos em língua portuguesa com as seguintes palavras-
chave: Tecnologia na Educação, Educação do Campo e
Tecnologia da Educação do Campo. Em posse dos resultados,
realizamos uma análise comparativa entre a produção total
recuperada e a produção do período de 2013 a 2017. Assim,
podemos identificar em quais campos as pesquisas estão mais
avançadas em relação às publicações e, onde encontramos
menos resultados, como em relação à Tecnologia e Educação do
Campo, o que pode vir a atrair novas pesquisas e publicações
nestas áreas menos exploradas.
Palavras chave: Mapeamento, Produção Científica, Tecnologia,
Educação do Campo.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 245-259
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
245
Souza, V. V., Pereira, E. C., & Machado, C. C. (2018). A presea da tecnologia na educação do campo...
The presence of technology in Rural Education: mapping
of national scientific production of the last five years
ABSTRACT. The objective of this article is to map the
Brazilian academic productions, within the SciELO digital
library, which will address the topics of Technology and
Education in the rural areas. In order to visualize the current
national scenario in relation to the publications related to
technology in the rural schools, we search for Portuguese-
language works with the following keywords: Technology in
Education, Rural Education and Rural Education Technology.
With the results, we performed a comparative analysis between
the total production recovered and production from the period
from 2013 to 2017. Thus, we can identify in which fields of
study the searches are more advanced in relation to the
publications and, where we find less results, such as those refer
to Technology and Rural Education, which may attract new
research and publications in these less-exploited areas.
Keywords: Mapping, Academic Production, Technology, Rural
Education.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 245-259
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
246
Souza, V. V., Pereira, E. C., & Machado, C. C. (2018). A presea da tecnologia na educação do campo...
La presencia de la tecnología en la Educación del campo:
mapa de la producción científica nacional de los últimos
cinco años
RESUMEN. Este artículo tiene por objetivo realizar un
mapeamiento de las producciones académicas brasileñas, dentro
de la biblioteca digital del SciELO, las cuales aborden las
temáticas Tecnología y Educación del Campo. Con el fin de ver
la escena nacional actual en relación a las publicaciones
relacionadas con la tecnología en las escuelas del campo,
buscamos trabajar en idioma portugués con las siguientes
palabras clave: Tecnología en la Educación, Educación Rural y
Tecnología Educación Rural. En posesión de los resultados,
realizamos un análisis comparativo entre la producción total
recuperada y la producción del período de 2013 a 2017. Así,
podemos identificar en qué campos las encuestas están más
avanzadas en relación a las publicaciones y, donde encontramos
menos resultados, como las que se refiere a la Tecnología y la
Educación del Campo, lo que puede atraer nuevas
investigaciones y publicaciones en estas áreas menos
explotadas.
Palabras clave: Mapeo, Producción Académica, Tecnología,
Educación del Campo.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 245-259
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
247
Souza, V. V., Pereira, E. C., & Machado, C. C. (2018). A presea da tecnologia na educação do campo...
Introdução
A educação é essencial no que tange
o desenvolvimento social do sujeito. A
partir disto, podemos trazer a escola como
principal provedora de conhecimento e
educação, a qual promove aos seus
estudantes meios para que se tornem não
apenas cidadãos, mas sujeitos conscientes
do seu papel na sociedade em que vivem.
A escola é importante, mas não é o único
caminho. Segundo Libâneo (2007, p. 25),
“a escola não é mais a única agência de
transmissão do saber, na verdade ela nunca
deteve sozinha este papel”. Neste mesmo
sentido, Saviani (2005) diz que a escola é
uma instituição que tem seu papel centrado
na socialização do saber sistematizado e
que existe para propiciar a aquisição dos
instrumentos que possibilitam o acesso ao
saber elaborado (ciência), bem como o
próprio acesso aos rudimentos deste saber.
Mesmo existindo outros meios,
alheios à escola, onde o ser humano pode
ter acesso a novos conhecimentos, não
podemos negar o importante papel
desenvolvido pela escola enquanto
instituição de ensino, tanto nas zonas rurais
quanto nas zonas urbanas. A educação nas
áreas rurais é uma temática que vem
fortalecendo-se ao longo dos anos.
Conforme Carlos (2007, p. 131), em
um “âmbito que vai para além do que é
urbano ou do que é rural”, pois longe de
serem meras palavras são conceitos que
reproduzem uma realidade social concreta.
A autora complementa que “a cidade e o
campo se diferenciam pelo conteúdo das
relações sociais neles contidas e estas,
hoje, ganham conteúdo em sua articulação
com a construção da sociedade urbana”.
Quando referimo-nos à educação,
mais especificamente nos tempos atuais, é
preciso destacar a presença da tecnologia.
Este tema está interligado ao nosso
cotidiano, estando presente em quase todas
as atividades diárias. Indiferentemente de
onde estamos, a tecnologia está próxima a
nós. Kenski (2015, p. 23) cita que
“tecnologia é poder”, e este conceito vai
muito além do senso comum. A autora diz
que “... o conceito de tecnologia engloba a
totalidade de coisas que a engenhosidade
do cérebro humano conseguiu criar em
todas as épocas, suas formas de uso, suas
aplicações”. Significa que este conceito é
muito mais amplo do que costumamos
pensar e abrange muito mais do que apenas
“máquinas”.
A tecnologia é essencial para a
educação, ao mesmo tempo em que ambas
não são indissociáveis. Segundo o
dicionário Ferreira (1999), a educação diz
respeito ao “processo de desenvolvimento
da capacidade física, intelectual e moral da
criança e do ser humano em geral, visando
à sua melhor integração individual e
social”. Em consonância, Kenski (2015)
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 245-259
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
248
Souza, V. V., Pereira, E. C., & Machado, C. C. (2018). A presea da tecnologia na educação do campo...
afirma que para ocorrer essa integração é
necessário que valores, conhecimentos,
hábitos e comportamentos sociais sejam
ensinados e aprendidos, por meio da
educação, para ensinar sobre as tecnologias
na base da identidade e da ação do grupo e
que se faça uso destas mesmas tecnologias
para ensinar as bases da educação.
A partir disto, podemos destacar a
relevância que a tecnologia tem na
educação e nos questionamos sobre a sua
contribuição ao ensino, quando o assunto
são as escolas do campo. Pesquisas sobre
esta temática vêm sendo desenvolvidas
atualmente. Compreendendo a tecnologia
como temática importante para a educação
contemporânea, realizamos um
mapeamento das produções científicas
brasileiras, dentro da Scientific Electronic
Library Online (SciELO), as quais
abordem as temáticas “Tecnologia” e
“Educação do Campo”.
Sobre a importância da pesquisa
científica
Desde que a humanidade deixou de
ser nômade, a territorialidade passou a ser
permeada por disputas e conflitos. A
distribuição de terras é historicamente
conhecida e acaba por beneficiar a poucos.
Estes, por sua vez, possuem vastas
extensões de terras, o que promove que
detenham o poder.
Ainda hoje, estas terras que por
muitas vezes são improdutivas ou
destinadas ao agronegócio, são o divisor de
águas entre a riqueza de quem explora o
meio ambiente e o trabalhador do campo e
a pobreza de quem nem ao menos possui
um pedaço de chão para viver. Uma
pequena área de campo, onde se possa tirar
o sustento de sua família, é um privilégio
para poucos. O pequeno agricultor que
planta e colhe para a sua subsistência é o
principal afetado pelo modelo
agroindustrial imposto, que se fortalece a
cada dia.
Pesquisar meios para melhorar a vida
de quem vive no campo é essencial nos
dias de hoje, mesmo com a diminuição do
êxodo rural que, segundo o Censo
Demográfico 2010 do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE, 2010),
caiu pela metade quando comparado com a
década anterior. É preciso qualificar a vida
de quem ainda está nas zonas rurais e
promover meios para que estes sujeitos,
assim como as suas famílias, possam
continuar no campo tendo uma vida digna.
A escola é uma grande parceira no
que diz respeito à promoção de direitos. É
preciso salientar que, para isto, faz-se
necessário o entendimento das
peculiaridades das pessoas e do contexto
onde a escola está inserida. É comum
vermos nos livros didáticos e nas situações
hipotéticas utilizadas para abstrair as
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 245-259
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
249
Souza, V. V., Pereira, E. C., & Machado, C. C. (2018). A presea da tecnologia na educação do campo...
atividades escolares, símbolos que muitas
vezes não fazem sentido para os estudantes
do campo. Não pelo fato de
desconhecimento, mas pela ausência de
simbologia e relação com o seu cotidiano.
Quando se fala, por exemplo, em placas de
trânsito, largas avenidas ou
congestionamento, situações essas que o
fazem parte da vida de quem vive no
campo, ocorre uma quebra na linha de
raciocínio.
A reflexão sobre o trabalho que uma
determinada escola pretende fazer está
diretamente ligada ao seu contexto e ao
perfil dos seus estudantes. Diante disto,
surge a urgência da pesquisa sobre esta
temática, a problematização da docência
no ensino das pessoas que vivem no
campo, levando em consideração artefatos
pertencentes ao meio urbano, mas que
também são encontrados no meio rural. Os
artefatos promovem, de acordo com
Fischer (2006, p. 15), “envolvimento com
a produção e circulação de significados e
sentidos, os quais, por sua vez, estão
relacionados a modos de ser, a modos de
pensar, a modos de conhecer o mundo, de
se relacionar com a vida”.
Realizar uma pesquisa bibliográfica,
muitas vezes, não é uma tarefa simples.
Existem diversas fontes de informação e
nem todas são de acesso aberto e gratuito.
O acesso à informação é algo relevante a
ser discutido, principalmente para as
pessoas que desenvolvem pesquisas. A
busca errada, não confiável e disseminada,
pode acarretar problemas para o
desenvolvimento e conclusão de muitos
trabalhos.
Antes da era da informática um
artigo acadêmico era indexado a uma fonte
de informação, gerando um alto custo e
dificilmente atingia o público ao qual foi
destinado. Segundo Goldenberg, Castro e
Azevedo (2007, p. 92), “antes do advento
da internet, um artigo chegava a seu leitor
por estar indexado, em uma importante
fonte de informação. Desse modo, um
círculo vicioso se fechava, pois os artigos
publicados fora deste circuito dificilmente
atingiam seu público”.
Por sua vez, com o desenvolvimento
das tecnologias, principalmente as voltadas
à informação, houve uma diminuição de
custos, facilidade no acesso e a
possibilidade maior de publicação das
pesquisas realizadas. Logo,
O desenvolvimento das tecnologias
da informação tem diminuído as
dificuldades enfrentadas pelos
editores com poucos recursos. O
custo de produção e distribuição dos
periódicos foi substancialmente
reduzido com os métodos de
publicações eletrônicas. E a
indexação dos artigos, outro ponto
nevrálgico do processo, passou a ser
feito pelos chamados motores de
busca na internet ... Assim, bons
artigos passaram a ter chance de
serem reconhecidos por suas
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 245-259
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
250
Souza, V. V., Pereira, E. C., & Machado, C. C. (2018). A presea da tecnologia na educação do campo...
qualidades (Goldenberg, Castro &
Azevedo, 2007, p. 93).
Por outro lado, inicia-se a discussão
sobre a qualidade das informações. A
mesma ferramenta que possibilita a
publicação de bons artigos, com pesquisas
e resultados, pode, em contrapartida,
viabilizar que outros trabalhos com inferior
ou quase nenhuma qualidade também
sejam publicados. Para isso, surgem
critérios e avaliações, restringindo a
quantidade e buscando maior qualidade da
informação.
Os critérios visam organizar o
processo de seleção, objetivando o alcance
da coerência, adequação e legitimidade das
fontes e recursos de informação. Segundo
Vergueiro (2010), alguns dos critérios são
a precisão, imparcialidade, cobertura ou
tratamento, relevância, atualidade ou valor
histórico e qualidade do trabalho científico.
Isto se atinge através das chamadas
avaliações por pares.
Para encontrar exatamente aquilo que
procuramos, é necessário refinar os
resultados das buscas, de acordo com os
objetivos pretendidos na pesquisa. Para
este refinamento, é possível utilizar filtros
a fim de criar delimitações que, por sua
vez, restringem os resultados recuperados.
Desta maneira, no momento da pesquisa
nas fontes de informação também é
possível utilizar-se de operadores
booleanos como “AND”, “OR” e “NOT”,
com a finalidade de especificar melhor os
termos buscados.
Em relação a esta pesquisa podemos
dizer que optamos por esta área devido ao
nosso entendimento sobre a importância da
produção científica para alavancar, através
das suas publicações, melhorias
significativas no paradigma atual em que
nos encontramos, enquanto sociedade.
Sobre a pesquisa e o mapeamento
A investigação realizada foi de
cunho quantitativo, com o objetivo de
realizar um mapeamento das produções
científicas brasileiras, da biblioteca digital
do SciELO, as quais abordam a temática
da Tecnologia e da Educação do Campo.
Uma pesquisa quantitativa, que tem suas
raízes no pensamento positivista lógico,
tende a enfatizar o raciocínio dedutivo, as
regras da lógica e os atributos mensuráveis
da experiência humana. Por sua vez, a
pesquisa qualitativa tende “a salientar os
aspectos dinâmicos, holísticos e
individuais da experiência humana, para
apreender a totalidade no contexto
daqueles que estão vivenciando o
fenômeno”, conforme citam Polit, Becker e
Hungler (2011, p. 201). Neste mesmo
sentido, Fonseca (2002, p. 20) diz que:
Diferentemente da pesquisa
qualitativa, os resultados da pesquisa
quantitativa podem ser quantificados.
Como as amostras geralmente são
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 245-259
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
251
Souza, V. V., Pereira, E. C., & Machado, C. C. (2018). A presea da tecnologia na educação do campo...
grandes e consideradas
representativas da população, os
resultados são tomados como se
constituíssem um retrato real de toda
a população alvo da pesquisa. A
pesquisa quantitativa se centra na
objetividade. Influenciada pelo
positivismo, considera que a
realidade pode ser compreendida
com base na análise de dados brutos,
recolhidos com o auxílio de
instrumentos padronizados e neutros.
A pesquisa quantitativa recorre à
linguagem matemática para descrever
as causas de um fenômeno, as
relações entre variáveis, etc. A
utilização conjunta da pesquisa
qualitativa e quantitativa permite
recolher mais informações do que se
poderia conseguir isoladamente.
A diferença entre pesquisas
quantitativas e qualitativas não é de
oposição, mas de ênfase, o que não implica
exclusividade (Minayo, 2012). Nesta linha
de pensamento podemos observar a este
respeito três considerações importantes:
1) Não nenhum método melhor do
que o outro, o método, “caminho do
pensamento”, ou seja, o bom método
será sempre aquele capaz de conduzir
o investigador a alcançar as respostas
para as suas perguntas, ou dizendo de
outra forma, a desenvolver seu
objeto, explicá-lo ou compreendê-lo,
dependendo de sua proposta
(adequação do método ao problema
de pesquisa); 2) Os números (uma
das formas explicativas da realidade)
são uma linguagem, assim como as
categorias empíricas na abordagem
qualitativa o são e cada abordagem
pode ter seu espaço específico e
adequado; 3) Entendendo que a
questão central da cientificidade de
cada uma delas é de outra ordem ... a
qualidade, tanto quantitativa quanto
qualitativa depende da pertinência,
relevância e uso adequado de todos
os instrumentos (Minayo & Minayo-
Gómez, 2003, p. 118).
Segundo Gil (2017, p. 41), de acordo
com os seus objetivos, a pesquisa poderá:
... adotar o perfil exploratório, o que
irá proporcionar proximidade com a
problemática. O que, por sua vez,
pode envolver levantamento
bibliográfico, entrevistas com
pessoas que tiveram experiências
com o problema pesquisado ou
análise de exemplos que estimulem a
compreensão.
Desta maneira, tanto a pesquisa
quantitativa quanto a pesquisa qualitativa
apresentam diferenças com pontos fracos e
fortes. Mesmo assim, os elementos fortes
de um complementam as fraquezas do
outro, fundamentais ao maior
desenvolvimento da Ciência.
Metodologia aplicada na pesquisa
Para a realização do mapeamento
sobre o cenário atual da produção
científica com a temática Tecnologia na
Educação do Campo, utilizamos três
termos como palavras-chave: Tecnologia
na Educação, Educação do Campo e
Tecnologia na Educação do Campo.
Partindo destas palavras-chave, a pesquisa
foi realizada na biblioteca digital do
SciELO. A escolha por esta fonte se deu
mediante os seus critérios de avaliação,
indexação e permanência dos periódicos.
Além disso, é uma plataforma de acesso
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 245-259
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
252
Souza, V. V., Pereira, E. C., & Machado, C. C. (2018). A presea da tecnologia na educação do campo...
aberto, a qual contribui para o aumento da
visibilidade, qualidade e credibilidade das
produções nacionais e internacionais.
Primeiramente, foram realizadas
buscas em todos os índices, a fim de obter
um panorama geral sobre o número de
artigos que resultariam nesta etapa. Neste
momento não foram utilizadas
delimitações, como pode ser observado na
Tabela 1.
Tabela 1. Resultados referentes à primeira busca.
Termo pesquisado
Resultados
Tecnologia na Educação
786
Educação do Campo
2616
Tecnologia na Educação do
Campo
91
Fonte: Pesquisa dos Autores (2018).
Dando continuidade ao trabalho, foi
necessário utilizar o índice “resumo” a fim
de delimitar a busca em trabalhos que
tivessem maior relação com os termos
procurados. Logo, pesquisando por este
índice, as palavras-chave estariam
compondo o texto de resumo dos trabalhos.
O primeiro termo a ser pesquisado foi
Tecnologia na Educação, o qual resultou
em 292 resultados. Para refinar estes
resultados com o objetivo de qualificar o
retorno dos dados, foram aplicados alguns
filtros para delimitar estes números.
Na Tabela 2, podemos acompanhar o
resultado obtido da pesquisa, pela palavra-
chave Tecnologia na Educação, sem a
utilização de filtros, logo em seguida
delimitando os resultados pelo país
“Brasil” e, por fim, filtrando pelo idioma
“português”.
Tabela 2. Resultados da busca geral e com a
aplicação de filtros.
Termo
pesquisado
Filtro(s)
aplicado(s)
Resultados
Tecnologia na
Educação
-
292
Tecnologia na
Educação
Brasil
199
Tecnologia na
Educação
Brasil / Idioma
Português
178
Fonte: Pesquisa dos Autores (2018).
Com os dados apresentados na
Tabela 2, podemos observar que, quando o
resultado é filtrado por país, obtemos uma
mudança considerável nos números. Eles
diminuem de 292 para 199 com a
utilização deste filtro, que é essencial
devido ao nosso objetivo de mapear a
produção brasileira. Na continuação do
refinamento dos dados inserimos um novo
delimitador, desta vez em relação ao
idioma das publicações, com intuito de
visualizar a produção brasileira apenas em
nosso idioma.
Ao filtrar os resultados da pesquisa
pelo idioma “português”, observamos uma
diminuição de aproximadamente 40%
(quarenta por cento) no número de artigos
recuperados nesta pesquisa, quando
comparados à busca filtrada apenas pelo
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 245-259
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
253
Souza, V. V., Pereira, E. C., & Machado, C. C. (2018). A presea da tecnologia na educação do campo...
país “Brasil”, a qual diminuía em torno de
32% (trinta e dois por cento). Esta
diferença demonstra que os brasileiros não
produzem apenas em ngua portuguesa e
ressalta a importância de refinar a busca
entre país e idioma, quando pretendemos
encontrar determinados resultados,
baseados nos dados que objetivamos
analisar. De maneira geral, podemos
ressaltar a importância da seleção dos
dados recuperados, visto que, para
obtenção de resultados válidos para a
pesquisa pretendida, é necessário o
tratamento destes dados.
É interessante destacar que, se
comparadas as produções resultantes da
pesquisa (Tabela 3), desde a data inicial de
recuperação (período 1998- 2017) com os
resultados obtidos na delimitação deste
trabalho, que se referem ao período 2013 -
2017, encontramos uma diferença de 96
(noventa e seis) artigos. Ou seja, quase
50% (cinquenta por cento) da produção
científica brasileira, em língua portuguesa,
relacionada com a temática Tecnologia na
Educação foi publicada nos últimos cinco
anos.
Tabela 3. Quantidade total de trabalhos encontrados
no período 1998 2017.
Termo
pesquisado
Período
Total de
trabalhos
recuperados
Tecnologia na
1998 -
178
Educação
2017
Tecnologia na
2013 -
82
Educação
2017
Fonte: Pesquisa dos Autores (2018).
Com a intenção de visualizar o
panorama atual da produção científica
brasileira, consideramos apenas os dados
resultantes da pesquisa, filtrados pelos
últimos 5 (cinco) anos. Na Tabela 4,
podemos acompanhar o número de
publicações relacionadas com a temática
Tecnologia na Educação, filtradas no
período de 2013 a 2017.
Tabela 4. Resultados do período 2013 a 2017,
apresentados ano a ano.
Termo
pesquisado
Ano de
publicação
Resultados
Tecnologia na
Educação
2013
17
Tecnologia na
Educação
2014
13
Tecnologia na
Educação
2015
16
Tecnologia na
Educação
2016
19
Tecnologia na
Educação
2017
17
Fonte: Pesquisa dos Autores (2018).
Como podemos acompanhar na
Tabela 4, a quantidade de trabalhos
relacionados com a temática variam, não
permitindo estabelecer uma linha crescente
ou decrescente de produções.
Voltando a pesquisa para a segunda
palavra-chave, obtemos resultados
diferentes. Quando pesquisamos por
Educação do Campo, pelo índice resumo, o
resultado apresentado é 1547 publicações.
Neste resultado, aplicamos os filtros país
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 245-259
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
254
Souza, V. V., Pereira, E. C., & Machado, C. C. (2018). A presea da tecnologia na educação do campo...
“Brasil” e idioma “português”, conforme a
Tabela 5, apresentada a seguir.
Tabela 5. Resultados da busca geral e com a
aplicação de filtros.
Fonte: Pesquisa dos Autores (2018).
A partir dos resultados desta
pesquisa podemos refletir sobre a
importância de pesquisar e levar
efetivamente a discussão sobre a
tecnologia para as escolas, em especial, as
que se localizam no campo. Este fato pode
mobilizar ações inovadoras em salas de
aula, difundindo o conhecimento de forma
ampla e eficaz, o que poder servir para
diminuir as diferenças sociais, no que
tange a promoção do acesso à informação.
Ainda sobre a análise dos dados,
podemos notar mais uma vez a diferença
entre o número de publicações quando
filtradas por país “Brasil” e o número de
publicações filtradas por país “Brasil”
somado ao filtro idioma “português”.
Nesta situação, os números diminuem em
aproximadamente 25% (vinte e cinco por
cento) e 28% (vinte e oito por cento),
respectivamente. Em contraponto aos
dados da Tabela 2 que, quando aplicados
os mesmos filtros, apresentam uma
diminuição aproximada de 32% (trinta e
dois por cento) e 40% (quarenta por cento).
Quando comparamos o total da
produção recuperada nesta pesquisa
relacionada à temática Educação do
Campo no período 2013 - 2017 com o total
geral de resultados obtidos (Tabela 6),
podemos observar que mais de um terço
dos artigos encontrados foram publicados
nos últimos cinco anos. Isso demonstra um
significativo aumento da produção
científica nesta área do saber.
Tabela 6. Quantidade total de trabalhos encontrados
e nos últimos cinco anos.
Termo
pesquisado
Período
Total de
trabalhos
recuperados
Educação do
1971 -
1121
Campo
2017
Educação do
2013 -
514
Campo
2017
Fonte: Pesquisa dos Autores (2018).
Ao separar os resultados da pesquisa
por ano de publicação (Tabela 7), podemos
observar que não existe uma grande
diferença no número de publicações
quando comparadas ano a ano, assim como
também acontece na Tabela 3.
Continuamos a observar que a quantidade
de publicações referente à temática
Educação do Campo é constante, mesmo
na visualização ano a ano é mais
expressiva quando comparada aos
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 245-259
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
255
Termo
pesquisado
Filtro(s)
aplicado(s)
Resultados
Educação do
Campo
-
1547
Educação do
Campo
Brasil
1165
Educação do
Campo
Brasil/Idioma
Português
1121
Souza, V. V., Pereira, E. C., & Machado, C. C. (2018). A presea da tecnologia na educação do campo...
resultados encontrados com a palavra-
chave anterior.
Tabela 7. Resultados do período 2013 a 2017.
Fonte: Pesquisa dos Autores (2018).
Quando optamos por mesclar as duas
temáticas buscando pela palavra-chave
Tecnologia na Educação do Campo, os
números obtidos são bem diferentes. No
momento em que delimitamos a busca,
passando a pesquisar pelas palavras-chave
no resumo dos artigos, este resultado cai
para 51 (cinquenta e um) trabalhos
recuperados. Os números do resultado da
busca diminuem à medida que vamos
aplicando os filtros país “Brasil” e idioma
“português”, conforme apresentado na
Tabela 8.
Tabela 8. Resultados da busca geral e com a
aplicação de filtros.
Fonte: Pesquisa dos Autores (2018).
À medida que delimitamos a busca
através dos filtros, menores foram os
números de artigos encontrados, ao mesmo
tempo em que melhor nos direcionamos a
um resultado de acordo com o foco da
pesquisa. Isto se deve ao fato de que
diversos artigos que aparecem na
recuperação da busca não necessariamente
estão relacionados com a temática a ser
analisada. Muitos trabalhos apenas citam
alguns dos termos pesquisados, não os
tendo como objeto de estudo.
Na Tabela 9, estão os números totais
referentes às pesquisas no período dos
últimos cinco anos e desde o primeiro
resultado recuperado até 2017.
Tabela 9. Quantidade total de trabalhos encontrados
e nos últimos cinco anos.
Termo pesquisado
Período
Total de
trabalhos
recuperados
Tecnologia na
2009 -
28
Educação do Campo
2017
Tecnologia na
2013 -
15
Educação do Campo
2017
Fonte: Pesquisa dos Autores (2018).
Com estes dados podemos observar
que o resultado mais antigo com a temática
da Tecnologia da Educação do Campo, nas
bases do SciELO, é datado no ano de 2009.
Também é possível visualizar que a
produção referente ao período de 2013 a
2017 é responsável por mais da metade da
produção total encontrada.
Na Tabela 10, podemos visualizar os
resultados da pesquisa pelo termo
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 245-259
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
256
Termo
pesquisado
Ano de
publicação
Resultados
Educação do
Campo
2013
107
Educação do
Campo
2014
94
Educação do
Campo
2015
107
Educação do
Campo
2016
98
Educação do
Campo
2017
108
Termo pesquisado
Filtro
aplicado
Resultados
Tecnologia na
Educação do Campo
-
51
Tecnologia na
Educação do Campo
Brasil
33
Tecnologia na
Educação do Campo
Brasil / Idioma
Português
28
Souza, V. V., Pereira, E. C., & Machado, C. C. (2018). A presea da tecnologia na educação do campo...
Tecnologia na Educação do Campo ano a
ano, no período de 2013 a 2017.
Tabela 10. Resultados do período 2013 a 2017.
Termo pesquisado
Ano de
publicação
Resultados
Tecnologia na
Educação do
Campo
2013
03
Tecnologia na
Educação do
Campo
2014
02
Tecnologia na
Educação do
Campo
2015
03
Tecnologia na
Educação do
Campo
2016
03
Tecnologia na
Educação do
Campo
2017
04
Fonte: Pesquisa dos Autores (2018).
Ao observar a tabela (10), vemos que
não houve grande variação em relação ao
número de trabalhos publicados. Nos anos
de 2013, 2015 e 2016 a quantidade de
trabalhos é a mesma. Podemos identificar o
aumento destes números apenas em 2017,
quando houve a publicação de 4 (quatro)
trabalhos. Os resultados desta pesquisa
apresentam uma baixa variação ano a ano.
Ainda sobre esta temática, é
importante salientar a importância da
tecnologia, enquanto aliada à área da
educação. Tanto nas zonas urbanas quanto
nas rurais a escola deve se manter
atualizada e servir como centro de
referência não somente para o aprendizado,
mas também para a pesquisa. Neste
sentido, Pontuschka (2012, p. 95) diz que
“... persiste ainda a ideia de que o professor
da escola básica não necessita pesquisar.
Tal posição tem reforçado uma concepção
de professor como transmissor ou
repassador de informação, mero usuário do
produto do conhecimento científico”. Isto é
um paradigma que deve ser superado,
evidenciando e reforçando o papel do
docente enquanto pesquisador.
Considerações
O mapeamento destes dados foi
importante para obter um panorama geral
das produções científicas brasileiras em
língua portuguesa, que abordam as
temáticas da Tecnologia e da Educação do
Campo, dentro da biblioteca digital do
SciELO. A partir deste trabalho,
começamos a identificar em quais campos
a pesquisa esta mais avançada em relação à
produção científica e, onde o número de
trabalhos encontrados é menor, o que pode
vir a atrair novas pesquisas e publicações.
Notamos que as temáticas da Educação do
Campo e da tecnologia são tendências
atuais, e que podem abrir caminhos para
novas pesquisas.
É interessante destacar que, a partir
dos resultados filtrados por idioma,
podemos detectar que a produção nacional
não se restringe ao idioma português, pois
observamos uma diminuição considerável,
ao aplicarmos este filtro.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 245-259
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
257
Souza, V. V., Pereira, E. C., & Machado, C. C. (2018). A presea da tecnologia na educação do campo...
Com base nos dados explicitados no
mapeamento, que se referem aos resultados
da produção científica brasileira e no
idioma português, com a temática
Tecnologia na Educação, podemos
concluir que houve um aumento na
publicação de artigos relacionados a esta
temática. O mesmo pode ser observado em
relação à temática Educação do Campo.
Ambas mostraram um aumento no número
de resultados obtidos, quando filtrados
pelos últimos cinco anos e comparados aos
resultados totais recuperados.
Quando passamos a focalizar na
temática da Tecnologia na Educação do
Campo, encontramos números bem
distintos em comparação aos resultados
recuperados quando buscamos pelas
palavras-chave “Tecnologia na Educação”
e “Educação do Campo” separadamente.
Os artigos referenciados a este tema
publicados no nosso país e em língua
portuguesa apresentam números
relativamente baixos, como podemos
observar ao comparar os dados das tabelas.
Este fato pode indicar uma provável
carência de pesquisadores nesta área, a
qual pode justificar-se dentre inúmeros
motivos como: a falta de investimentos,
carência de políticas blicas dedicadas à
pesquisa, ou até mesmo, pouco interesse
em levar temas como a tecnologia para
dentro das escolas do campo.
Referências
Carlos, A. F. (2007). Seria o Brasil “menos
urbano do que se calcula”? In Carlos, A. F.
(Org.). O espaço urbano: novos escritos
sobre a cidade (pp. 129-136). São Paulo,
SP: Contexto.
Ferreira, A. B. H. (1999). Novo Aurélio
Século XXI: o dicionário da ngua
portuguesa. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira.
Fischer, R. M. B. (2006). Televisão &
Educação: fruir e pensar a TV. Belo
Horizonte, MG: Autêntica.
Fonseca, J. S. (2002). Metodologia da
pesquisa científica. Fortaleza, CE: UEC.
Gil, A. C. (2017). Como elaborar projetos
de pesquisa. São Paulo, SP: Atlas.
IBGE. (2010). Censo Demográfico.
Recuperado de: http://www.ibge.gov.br
Kenski, V. M. (2015). Educação e
tecnologias: o novo ritmo da informação.
Campinas, SP: Papirus.
Libâneo, J. C. (2007). A escola com que
sonhamos é aquela que assegura a todos a
formação cultural e científica para a vida
pessoal, profissional e cidadã. In Costa, M.
V. (Org.). A escola tem futuro? (pp. 23-
50). Rio de Janeiro, RJ: Lamparina.
Minayo, M. C. (2012). O desafio do
conhecimento: pesquisa qualitativa em
saúde. São Paulo, SP: Hucitec.
Minayo, M. C. S., & Minayo-Goméz, C.
(2003). Difíceis e possíveis relações entre
métodos quantitativos e qualitativos nos
estudos de problemas de saúde. In
Goldenberg, P., Marsiglia, R. M. G., &
Gomes, M. H. A. (Orgs.). O clássico e o
novo: tendências, objetos e abordagens em
ciências sociais e saúde (pp. 117-142). Rio
de Janeiro, RJ: Fiocruz.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 245-259
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
258
Souza, V. V., Pereira, E. C., & Machado, C. C. (2018). A presea da tecnologia na educação do campo...
Goldenberg, S., Castro, R. C. F., &
Azevedo, F. R. M. (2007). Interpretação
dos dados estatísticos da SciELO
(Scientific Eletronic Library Online). Acta
Cir. Bras. 22(1), 1-7. DOI:
http://dx.doi.org/10.1590/S0102-
86502007000100001
Polit, D. F., Beck, C. T., & Hungler, B. P.
(2011). Fundamentos de pesquisa em
enfermagem: métodos, avaliação e
utilização. Porto Alegre, RS: Artmed.
Pontuschka, N. N. (2012). Para ensinar e
aprender Geografia. São Paulo, SP:
Cortez.
Saviani, D. (2005). Pedagogia Histórico-
crítica: Primeiras aproximações.
Campinas, SP: Autores Associados.
Vergueiro, W. (2010). Seleção de
materiais de informação. Brasília:
Brinquet de Lemos.
Recebido em: 08/12/2017
Aprovado em: 30/01/2018
Publicado em: 06/04/2018
ORCID
Vagner Viera de Souza
http://orcid.org/0000-0001-6667-222X
Elaine Corrêa Pereira
http://orcid.org/0000-0002-3779-1403
Celiane Costa Machado
http://orcid.org/0000-0003-0685-8078
Declaramos que os autores foram responsáveis pela
elaboração, análise e interpretação dos dados;
escrita e revisão do conteúdo do manuscrito. Os
autores também foram responsáveis pela aprovação
da versão final a ser publicada
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 245-259
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
259
Como citar este artigo
/
How to cite this article
/
Como citar este artículo:
APA:
Souza, V. V., Pereira, E. C., & Machado, C. C. (2018).
A presença da tecnologia na educação do campo:
mapeamento da produção científica nacional dos
últimos cinco anos. Rev. Bras. Educ. Camp., 3(1), 245-
259.
ABNT:
SOUZA, V. V.; PEREIRA, E. C.; MACHADO, C.
C. A presença da tecnologia na educação do campo:
mapeamento da produção científica nacional dos
últimos cinco anos. Rev. Bras. Educ. Camp.,
Tocantinópolis, v. 3, n. 1, p. 245-259, 2018.
Revista Brasileira de Educação do Campo
The Brazilian Scientific Journal of Rural Education
A
RTIG
O
/
A
RTICLE
/
A
R
C
ULO
DO
I:
h
tt
p
:/
/
d
x.d
o
i.
o
r
g/
10.20
873/
u
ft.2525
-4863.2018v3
n
1p
260
O Sistema de Organização Modular de Ensino (SOME) na
ótica de egressos no município de Breves - Pará
João Marcelino Pantoja Rodrigues
1
, Gilmar Pereira da Silva
2
1
Universidade Federal do Pará - UFPA. Programa de Pós-Graduação em Educação. Campus Universitário do
Marajó - Breves. Alameda IV, 3418, Parque Universitário, Breves - PA. Brasil. joaompr@ufpa.br.
2
Universidade
Federal do Pará UFPA.
RESUMO. O presente trabalho é resultante de pesquisa em
educação que analisa, a partir das percepções de egressos do
ensino médio, as contribuições e limitações do Sistema de
Organização Modular de Ensino (SOME) na formação
educacional de jovens do campo no município de Breves, na
Ilha do Marajó/Pará, perante as necessidades e expectativas
desse público. A pesquisa se realizou por meio de um estudo de
campo tomando como referência o materialismo histórico-
dialético, sendo referenciado pela abordagem qualitativa na vila
Mainardi, comunidade pioneira na oferta do SOME no meio
rural brevense. Como principal técnica de coleta de dados
utilizou-se a entrevista semiestruturada com seis jovens
egressos, cujas respostas foram tratadas à luz da análise de
conteúdo. Os resultados apontam para a afirmação da
importância do SOME como única alternativa de acesso ao
ensino médio para grande parcela dos jovens do campo paraense
e, ao mesmo tempo, revelam o descompasso da experiência
“somista” em relação às necessidades e expectativas desse
público quanto ao ensino médio.
Palavras-chave: Sistema de Organização Modular de Ensino,
Ensino Médio, Juventude do Campo.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 260-286
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
260
Rodrigues, J. M. P., & Silva, G. P. (2018). O Sistema de Organização Modular de Ensino...
The Modular Teaching Organization System (MTOS)
from the perspective of graduates in the municipality of
Breves - Pará
ABSTRACT. This work is the result of a research in education.
It analyzes contributions and limitations of the Modular
Teaching Organization System in the education of young people
in the rural environment of the municipality of Breves, Pará,
from the perceptions of high school graduates. It considers the
needs and expectations of this public. The research was carried
out through a qualitative field study in the Mainardi village, a
pioneer community in the offering of this program in the rural
environment of Breves. The main technique of data collection is
a semi-structured interview with six young graduates, whose
responses were treated in light of the thematic content analysis.
The results point to the affirmation of the importance of this
program as the only alternative of access to secondary education
for a large portion of young people from the rural environment
of Pará. At the same time, the results reveal the mismatch of the
experience in relation to the needs and expectations of this
public of secondary education.
Keywords: Modular Teaching Organization System, High
School, Rural Youth.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 260-286
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
261
Rodrigues, J. M. P., & Silva, G. P. (2018). O Sistema de Organização Modular de Ensino...
El Sistema de Organización Modular de Enseñanza
(SOME) en la óptica de egresados en el municipio de
Breves - Pará
RESUMEN. El trabajo es resultado de la investigación en
educación analiza, a partir de las percepciones de egresados de
la enseñanza media, contribuciones y limitaciones del Sistema
de Organización Modular de Enseñanza (SOME) en la
formación educativa de jóvenes del medio Rural del municipio
de Breves - Pará, ante las necesidades y expectativas de ese
público. La investigación se realizó por medio de un estudio de
campo de base cualitativa en la villa Mainardi, comunidad
pionera en la oferta del SOME en este medio rural. Como
principal técnica de recolección de datos se utilizó la entrevista
semiestructurada con seis jóvenes, cuyas respuestas fueron
tratadas a la luz del análisis de contenido temático. Los
resultados apuntan a la afirmación de la importancia del SOME
como única alternativa de acceso a la enseñanza media para gran
parte de los jóvenes del campo paraense y al mismo tiempo
revelan el descompás de la experiencia 'somista' en relación a las
necesidades y expectativas de ese público en cuanto a la
enseñanza media.
Palabras clave: Sistema de Organización Modular de
Enseñanza, Enseñanza Media, Juventud del Campo.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 260-286
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
262
Rodrigues, J. M. P., & Silva, G. P. (2018). O Sistema de Organização Modular de Ensino...
Introdução
O Sistema de Organização Modular
de Ensino (SOME) é uma política
educacional estabelecida no estado do Pará
no princípio da década de 1980, com o
intuito de levar a educação pública,
especialmente o ensino médio, às
populações do interior não atendidas pela
oferta regular.
O foco de nossa inquietação se volta
para os jovens egressos
i
desse sistema no
ensino médio no município de Breves,
mais especificamente na Vila Mainardi,
localidade pioneira de tal oferta no meio
rural brevense, e que constituiu o lócus da
pesquisa. A partir da ótica desses sujeitos,
buscamos compreender e analisar as
contribuições e limitações do processo
formativo do ensino médio experienciado
no SOME.
O crescimento da oferta educacional
no âmbito do sistema modular, ao longo
das três últimas décadas, é evidenciado em
dados oficiais, como o “Mapa Exclusão
Social do Estado do Pará 2017” (Fundação
Amazônia de Amparo a Estudos e
Pesquisas [Fapespa], 2017, p. 33), que
registra a presença do SOME em
quatrocentas e sessenta e cinco localidades
do Estado, atendendo a trinta e seis mil
alunos, o que nos uma dimensão do seu
alcance nos dias atuais.
Ao longo desse período, o SOME
tem acumulado êxitos, por um lado ao
alcançar parcelas da população que
dificilmente seriam atendidas pela oferta
regular , e dilemas, por outro, ao não
solucionar problemas crônicos que têm se
reproduzido desde os primórdios do
sistema, como a questão infraestrutural e
organizativa.
Embora a política tenha sido
implantada, em seus primórdios, nas sedes
urbanas de alguns municípios do interior,
como Nova Timboteua e Igarapé-Miri
(Oliveira, 2010a), foi no meio rural que se
expandiu e se consolidou nas últimas
décadas em território paraense.
Sua regulamentação ocorreu no mês
de abril de 2014, quando foi sancionada a
Lei Estadual nº. 7.806, conhecida entre os
profissionais da área como “Lei do
SOME”, que dispõe sobre sua
regulamentação e funcionamento. Embora
esse dispositivo legal não seja o foco de
nossa preocupação neste trabalho,
acreditamos que ele o deve deixar de ser
mencionado nas reflexões sobre o sistema
modular, por se tratar de um documento
norteador de referência legal no que tange
a esse sistema.
A expansão progressiva da política e
sua importância estratégica no âmbito
educacional paraense tem despertado a
atenção de pesquisadores como Oliveira
(2010b), Queiroz (2010), Brayner (2013) e
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 260-286
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
263
Rodrigues, J. M. P., & Silva, G. P. (2018). O Sistema de Organização Modular de Ensino...
Silva, Barros e Oliveira (2014), para citar
alguns, que passaram a se debruçar sobre a
temática e levaram a discussão ao meio
acadêmico. Todavia, apesar desse esforço,
percebemos que a produção em torno da
questão é ainda incipiente, ensejando a
continuidade e a ampliação das pesquisas,
com a diversificação dos ângulos de
análise.
Foi pensando nesta incipiência e, ao
mesmo tempo, na necessidade de
ampliação dos estudos, bem como na
relevância social e acadêmica da temática,
justificada pelo expressivo alcance da
política em nível estadual desde que
surgiu, que nos propusemos a
problematizar: como os jovens egressos do
SOME na vila Mainardi, meio rural do
município de Breves, na Ilha do Marajó,
percebem o Sistema de Organização
Modular de Ensino quanto às contribuições
e limitações dessa política à sua formação
no ensino médio, tendo como referência as
necessidades e expectativas dessa
juventude?
Partindo dessa inquietação,
definimos o seguinte objetivo geral para o
estudo: analisar, a partir da ótica de
egressos do ensino médio da Vila
Mainardi, as contribuições e as limitações
do Sistema de Organização Modular de
Ensino (SOME) na formação educacional
de jovens do meio rural do município de
Breves na Ilha do Marajó, no estado do
Pará, perante as necessidades e as
expectativas dessa população jovem.
Assim, considerando o foco do
problema e o objetivo pretendido com a
investigação, estabelecemos alguns eixos
teóricos que consideramos basilares a uma
análise mais sistêmica do objeto, quais
sejam: Sistema de Organização Modular
de Ensino, Ensino Médio, Juventude (e,
em particular, Juventude do Campo) e
Educação do Campo. Tais eixos nos
serviram de guias teóricos para a condução
das fases seguintes do estudo.
Caracterização da pesquisa
Considerando a natureza do objeto e
a configuração do problema de pesquisa
sobre o qual nos debruçamos, e ainda com
base nas contribuições teóricas de Gil
(2002), entendemos o estudo de campo
como a estratégia mais adequada a esta
empreitada, uma vez que focaliza uma
comunidade geográfica que pode ser uma
comunidade de trabalho, de estudo, de
lazer, ou ainda voltada para qualquer
atividade humana.
A partir dessa conceituação, e num
esforço de aproximação metodológica,
trazemos ao plano de nossa análise a Vila
Mainardi primeira localidade a ofertar
turmas do SOME no meio rural brevense,
fato ocorrido em março de 2008 com o
funcionamento de uma turma de 1º ano do
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 260-286
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
264
Rodrigues, J. M. P., & Silva, G. P. (2018). O Sistema de Organização Modular de Ensino...
ensino médio na Escola Municipal de
Ensino Fundamental Ivo Mainardi. Dos
quarenta alunos que iniciaram as atividades
naquela ocasião, dezoito se formaram no
ano de 2010. Até o início do ano de 2015,
doze turmas haviam sido formadas no
ensino médio no meio rural de Breves
ii
por
intermédio desse sistema.
Ampliando um pouco mais a
contextualização de nosso objeto, é
também pertinente justificarmos a escolha
do município de Breves, no qual se situa a
Vila Mainardi, tanto por sua indubitável
condição de polo regional no Marajó
quanto por ser a sede da 13ª Unidade
Regional de Educação - URE, da
Secretaria de Estado de Educação
SEDUC/ Pará, que responde, no Estado,
pelas ações educacionais desenvolvidas na
região, coordenando, além de Breves,
outros oito municípios da região das ilhas:
Anajás, Bagre, Curralinho, Portel,
Melgaço, Gurupá, Chaves e Afuá. Assim,
conjugando nosso objeto de inquietação
com a análise empreendida por Gil (2002),
nos convencemos de que a configuração
contextual da Vila Mainardi, associada ao
modo como pensamos o problema de
pesquisa, constituiria terreno propício à
implementação de um estudo de campo,
como de fato o foi.
Nesse percurso, optamos pelo
desenvolvimento de uma abordagem
qualitativa ancorada nos pressupostos do
materialismo histórico-dialético. Para
tanto, referenciamo-nos na corrente que
defende essa utilização conjunta, pela
riqueza propositiva que traz ao método
científico. Araújo (2012) destaca que em
pesquisa social não é proibido ao
marxismo assumir procedimentos próprios
do chamado método qualitativo.
Com esse intuito, estabelecemos esse
foco qualitativo com base em autores como
Minayo (2013; 2014), buscando tomar os
sujeitos da pesquisa em uma perspectiva
dialética, constituídos de múltiplas
determinações históricas, em relação
dinâmica com o contexto contraditório no
qual estão imersos: sujeitos, portanto,
também contraditórios, também dialéticos,
também históricos, e forjados na
materialidade histórica de uma sociedade
de classes.
Considerando o foco qualitativo que
elegemos para a investigação, optamos
pela entrevista semiestruturada como
técnica principal de coleta de dados,
utilizada junto a jovens egressos do ensino
médio modular na Vila Mainardi, que
designamos como “E1” (Entrevistado 1)
até “E6”. O tratamento e a interpretação do
material obtido em campo realizaram-se
por meio da análise de conteúdo temática
com base, sobretudo, nas contribuições de
Franco (2007) e Bardin (2011). Não
obstante, também fizemos uso de
observação e análise documental, mas
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 260-286
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
265
Rodrigues, J. M. P., & Silva, G. P. (2018). O Sistema de Organização Modular de Ensino...
como procedimentos acessórios para o
fornecimento de elementos subsidiários a
uma visualização mais detalhada do objeto.
O “SOME” aparece e se expande: uma
visão geral do sistema
Conforme destacado, o SOME
surge com a finalidade de atender às
comunidades do interior do Pará que não
recebiam a oferta de ensino regular,
particularmente o ensino médio. A partir
de então, o sistema modular se expandiu
exponencialmente pelo Estado, tornando-
se a principal política de oferta do ensino
médio no campo, conforme aponta
Oliveira (2010b, p. 18), “Este que fora
pensado a princípio como medida
transitória, passou a fazer parte
indispensável do Sistema Estadual de
Ensino e a única forma de estender o
Ensino Médio às comunidades rurais,
devido às grandes distâncias entre elas e à
baixa densidade demográfica”.
Com a Lei Estadual 7.806, de 29
de abril de 2014, o sistema passa a ser
regulamentado como uma Política Pública
Educacional do Estado do Pará, com uma
intencionalidade expressa legalmente:
Art. O Ensino Modular visa
garantir aos alunos acesso à educação
básica e isonomia nos direitos,
assegurando a ampliação do nível de
escolaridade e a permanência dos
alunos em suas comunidades,
observando as peculiaridades e
diversidades encontradas no campo,
águas, florestas e aldeias do Estado
do Pará.
Parágrafo único. O Ensino Modular é
direcionado à expansão das
oportunidades educacionais em nível
de ensino fundamental e médio para
a população escolar do interior do
Estado, onde não existir o ensino
regular, de modo complementar ao
ensino municipal. (Lei Estadual nº.
7.806, 2014.)
Como se observa, embora o nível
médio seja o que constitui o atendimento
preponderante do SOME, também o ensino
fundamental é abrangido por este sistema.
Contudo, esta própria Lei prevê o repasse
do nível fundamental via SOME à
responsabilidade das municipalidades,
conforme segue:
Art. 18. A Secretaria de Estado de
Educação, no prazo de até dezoito
meses, a contar da publicação desta
Lei, desenvolverá estudo,
planejamento e reordenamento da
oferta dos anos finais do ensino
fundamental na modalidade do
Sistema de Organização Modular de
Ensino, visando transferir a gerência
desses anos finais às prefeituras cujo
ensino fundamental esteja
municipalizado. (Lei Estadual nº.
7.806, 2014)
Isso implica dizer que essa política
tende a se consolidar como de oferta
unicamente de ensino médio. Assim, para
o propósito desta pesquisa, preocupa-nos
especificamente este nível de ensino por
ser o preponderante no SOME.
Seu funcionamento ocorre com a
composição de circuitos, que são assim
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 260-286
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
266
Rodrigues, J. M. P., & Silva, G. P. (2018). O Sistema de Organização Modular de Ensino...
conceituados pelo parágrafo do artigo
da sobredita Lei: “Para fins desta Lei,
denomina-se circuito o conjunto de
localidades em que o professor deverá
atuar durante o ano letivo, devendo na
composição do mesmo priorizar o
município e a URE em que o professor
estiver lotado.”
Cada circuito é composto por quatro
localidades/ polos, nos quais os professores
atuam em rodízio, ministrando os blocos
de disciplinas
iii
. A figura a seguir ilustra
essa lógica:
Figura 1 O circuito do SOME.
Fonte: Pesquisa dos autores (2016).
Os professores são lotados com
jornada integral de 40 (quarenta) horas
semanais, como define o caput do artigo
da referida Lei, em consonância com o
disposto no artigo 35 da Lei Estadual
7.442/2010 (Plano de Cargos, Carreira e
Remuneração dos Profissionais da
Educação Básica da Rede Pública de
Ensino do Estado do Pará).
O parágrafo 3º do artigo da Lei do
SOME também estabelece que podem ser
desenvolvidos projetos educacionais nas
comunidades como forma de
complementar a carga horária docente,
conforme segue:
§ 3º O professor lotado no SOME
poderá complementar a carga horária
de sala de aula com projetos
educacionais na sua área de atuação,
de modo a atingir a jornada de 40
(quarenta) horas semanais, quando a
oferta de turmas não for suficiente
para atingir o limite da carga horária
em regência de classe da respectiva
jornada. (Lei Estadual nº. 7.442,
2010)
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 260-286
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
267
Rodrigues, J. M. P., & Silva, G. P. (2018). O Sistema de Organização Modular de Ensino...
Como vemos, o desenvolvimento dos
projetos pelos docentes nas comunidades,
embora seja uma forma plausível de
conferir um maior grau de materialidade
aos conteúdos do ensino, não constitui uma
dimensão efetivamente integrante da
organização pedagógica do sistema
modular, uma vez que sua implementação
está diretamente condicionada a uma
questão de complementaridade de carga
horária.
O espaço de funcionamento do
SOME nas comunidades rurais do Estado
é, por sua vez e em geral, constituído de
salas de escolas municipais que são
cedidas para as turmas modulares, nos
horários em que estão ociosas, sendo
denominadas “Escolas Polo”. Contudo,
inexiste uma equipe gestora específica do
sistema modular nas localidades de
funcionamento. Assim, embora os alunos
estudem em sua comunidade (ou em áreas
vizinhas), são vinculados a uma “Escola
Sede”, situada na cidade e responsável pelo
atendimento das demandas pedagógico-
administrativas em conjunto com as
Unidades Regionais de Educação. A figura
a seguir ilustra essa lógica de organização
do sistema:
Figura 2 Organização pedagógico-administrativa do SOME
Fonte: Pesquisa dos autores (2016).
Para a manutenção do sistema é
celebrado um Convênio de Cooperação
Técnica entre a Secretaria de Estado de
Educação do Pará e os municípios,
conforme disposto no artigo 17 da Lei do
SOME. E eis aí um dos imbróglios que
perpassam seu funcionamento, visto que,
não raro, os governos municipais
argumentam (mesmo depois da assinatura
do convênio) que tal atribuição é de
competência prioritária do governo
estadual, ao passo que o governo estadual
alega que, sem a contribuição das
municipalidades, não há como chegar às
localidades mais longínquas do meio rural
paraense.
A Lei nº. 9394/1996, ao estabelecer
as competências da esfera municipal no
âmbito da oferta educacional, assim
dispõe:
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 260-286
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
268
Rodrigues, J. M. P., & Silva, G. P. (2018). O Sistema de Organização Modular de Ensino...
Art. 11. Os municípios incumbir-se-
ão de:
V - oferecer a educação infantil em
creches e pré-escolas, e, com
prioridade, o ensino fundamental,
permitida a atuação em outros níveis
de ensino somente quando estiverem
atendidas plenamente as necessidades
de sua área de competência e com
recursos acima dos percentuais
mínimos vinculados pela
Constituição Federal à manutenção e
desenvolvimento do ensino. (Lei nº.
9.394, 1996).
Todavia, sem deixar de considerar os
respectivos âmbitos de competência
estabelecidos legalmente, entendemos que
o adequado funcionamento do SOME, pela
complexidade que envolve sua
implementação, exige uma atenção
interfederativa que concorra para a
materialização do regime de colaboração,
também amparado pelos mesmos
instrumentos legais ora citados.
A ótica dos egressos sobre o Sistema de
Organização Modular de Ensino
O exercício de sistematização e
categorização do material das entrevistas,
considerando nossas opções
medotológicas, permitiu a emergência de
um conjunto de categorias que Minayo
(2014, p. 178) denomina de “empíricas”,
que são aquelas “construídas a posteriori, a
partir da compreensão do ponto de vista
dos atores sociais, possibilitando desvendar
relações específicas do grupo em questão”.
Com base em Bardin (2011, p. 134),
buscamos a codificação do material
oriundo das entrevistas, extraindo as
unidades de registro, que são unidades de
significação codificada e correspondem ao
segmento de conteúdo considerado
unidade de base, visando à categorização e
à contagem frequencial. Deste esforço,
procedemos às inferências por intermédio
das quais chegamos aos agrupamentos
categoriais, conforme quadro a seguir:
Quadro 1: demonstrativo de análise de conteúdo temática de entrevista semiestruturada.
Unidades de registro
Subcategorias empíricas
Categorias empíricas
Fonte: Pesquisa dos autores (2016).
Não obstante, convém enfatizar que
essa estratégia não implica uma
compartimentação estática da análise, pois
temos clara a recomendação de Minayo
(2013, p. 27) a qual corroboramos:
O tratamento do material nos conduz
a uma busca da lógica peculiar
interna do grupo que estamos
analisando, sendo esta a construção
fundamental do pesquisador. Ou seja,
análise qualitativa não é uma mera
classificação de opiniões dos
informantes, é muito mais. É a
descoberta de seus códigos sociais a
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 260-286
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
269
Rodrigues, J. M. P., & Silva, G. P. (2018). O Sistema de Organização Modular de Ensino...
partir das falas, símbolos e
observações. A busca da
compreensão e da interpretação à luz
da teoria aporta uma contribuição
singular e contextualizada do
pesquisador.
Com esse cuidado, para o qual o
materialismo histórico-dialético também se
mostra essencial, buscamos a interlocução
do rico material empírico com as
discussões teóricas levantadas ao longo da
empreitada. E, desse plano analítico, têm-
se os principais resultados da pesquisa,
apresentados nos subtópicos seguintes.
Se o professor “SOME”: o
descumprimento do calendário escolar
Destacamos como primeira categoria
empírica aquela que emergiu de modo
mais incisivo, perpassando as falas de
todos os entrevistados. Procedemos à
identificação e ao isolamento das unidades
de registro, com seu posterior agrupamento
em conjuntos, conforme íamos
identificando um determinado padrão nas
respostas. Percebemos que os dados
apontavam para uma insatisfação em
relação à garantia do cumprimento dos
módulos em consonância com o calendário
escolar, constatação manifesta em duas
distintas situações, a que denominamos
subcategorias empíricas. Tais
subcategorias apontavam para um conjunto
maior, que veio a constituir a categoria
empírica, conforme exemplificado no
quadro a seguir:
Quadro 2 Descumprimento do calendário escolar.
Unidades de registro
Subcategorias empíricas
Categoria empírica
“Esse último que foi a gente tava
quase dois meses sem professor. E
ano retrasado nós terminamos em
abril o ano de 2014 e ano de 2015
não se sabe quando vai terminar.
Acho que férias a gente tem todo
tempo. A gente fica mais de férias
do que estuda.” (E6)
recorrência de longos intervalos
entre os módulos
“Terminava os cinquenta dias, a
descumprimento do calendário
gente esperava uma semana, duas
escolar
semanas, vinha outro. Às vezes a
gente esperava até meses pra vim
um professor." (E3)
“no meio do mês assim aparecia
recorrência de módulos com
período reduzido
um professor e quando aparecia já
era muito corrido, aí passava
trabalho em cima de trabalho.
(E1)
Fonte: Pesquisa dos autores (2016).
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 260-286
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
270
Rodrigues, J. M. P., & Silva, G. P. (2018). O Sistema de Organização Modular de Ensino...
O Quadro 2 apresenta um
demonstrativo do que obtivemos em
campo. O que observamos no conjunto das
respostas é que o não cumprimento do
calendário escolar se reflete tanto nos
longos intervalos entre um módulo e outro
muito recorrentes pelo que se pôde
depreender das falas quanto dentro de um
mesmo módulo, pelo não cumprimento dos
cinquenta dias letivos por uma parcela dos
professores.
É importante enfatizar que, embora
essa insatisfação seja evidente não
somente no conteúdo das falas em si, mas
na maneira de colocá-lo, nas ênfases,
expressões dos rostos, etc. os egressos
também não se eximiram, por outro lado,
de elogiar o trabalho daqueles professores
que se esforçavam em cumprir com a sua
jornada. Contudo, a ausência desse
comprometimento por parte de outros
colegas de trabalho faz com que, em uma
análise mais geral, se associe ao SOME
uma visão negativa, nesse aspecto.
Esse achado converge com o
resultado da pesquisa de Oliveira (2010b)
realizada nos municípios de Santarém e
Belterra, segundo a qual o cumprimento
das datas estabelecidas no calendário
escolar tem sido um ponto central das
reivindicações dos alunos quando o tema é
o SOME.
Depreendemos, a partir de tais
constatações, ser o descumprimento do
calendário escolar uma das grandes
limitações do SOME. É evidente que, se no
percurso formativo do aluno o sistema
demonstra dificuldades em garantir um
mínimo necessário dos conteúdos de
ensino, mais gritante ainda são essas
dificuldades se considerarmos a
necessidade de uma formação sob a
perspectiva unitária, que aqui defendemos
como condição para a formação integral do
indivíduo e que tem Antônio Gramsci
como um de seus grandes expoentes. É
ancorado neste autor, e mais
especificamente em seu “Caderno 12, Os
intelectuais e o princípio educativo”, que
Nosella (2011) busca aquilo que denomina
de “princípio pedagógico próprio do ensino
médio”:
A última fase da escola unitária
(ensino médio) deve ser concebida e
organizada como fase decisiva, na
qual se tende a criar os valores
fundamentais do 'humanismo', a
autodisciplina intelectual e a
autonomia moral necessárias a uma
posterior especialização, seja ela de
caráter científico (estudos
universitários), seja de caráter
imediatamente prático-produtivo
(indústria, burocracia, comércio etc.).
O estudo e o aprendizado dos
métodos criativos na ciência e na
vida devem começar nesta última
fase da escola. (Gramsci
iv
, 2000, p.
39, apud Nosella, 2011, p. 1060).
Ora, isso pressupõe, entre outras
questões, a potencialização de uma
ambiência efetivamente escolar ao sujeito,
o que obviamente requer a garantia de
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 260-286
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
271
Rodrigues, J. M. P., & Silva, G. P. (2018). O Sistema de Organização Modular de Ensino...
regularidade no tempo escolar, e que
também extrapole os limites da sala de aula
e promova momentos de socialização com
seus pares e com a comunidade a seu
redor, contribuindo para a criação de
atitudes e valores pautados em uma
educação efetivamente cidadã. De certo,
avaliando por esse prisma, não dúvidas
de que ainda temos muito a avançar, tanto
no SOME quanto no próprio ensino
regular.
Se o aluno “SOME”: o desafio da
permanência escolar
Também a questão da evasão escolar
emergiu como limitação do sistema
modular, decorrente da instabilidade na
oferta dos módulos, apontada na categoria
anterior, bem como pela indisponibilidade
do transporte escolar, e a oposição
emprego x estudos para muitos jovens.
Pudemos perceber que a instabilidade na
oferta é desencadeadora de um processo de
desmotivação que acaba ocasionando
muitas desistências, conforme nos foi
relatado. outros desistiam pela
impossibilidade de conciliar os estudos
com o emprego na iniciativa privada local.
Quadro 3 Evasão escolar.
Unidades de registro
Subcategorias empíricas
Categoria empírica
“A desmotivação, tristeza, era essa
da falta de professor.” (E2)
“falta de professor. Quando faltava
professor, a gente ia duas, três
vezes à noite lá e nunca tinha
professor e ninguém sabia dar
nenhuma informação pra gente. E
isso desmotivava.” (E4)
Desmotivação discente decorrente
da instabilidade na oferta modular
“Muitas vezes é por isso que
muitos desistem, porque custa a ir
professor, e quando vai é rápido.”
(E6)
“A dificuldade era da locomoção.
A gente tinha que batalhar. Eu
Evasão escolar
trabalhava não era pra comer, nem
vestir, era pra despesa só da
gasolina.” (E2)
Indisponibilidade de transporte
escolar
“Muitos não aguentavam por causa
do gasto que era muito grande,
todo dia gasolina. Muitos paravam
até no primeiro mês já.” (E5)
“tem muitos pais de família, que
tem filho, tem mulher e precisam
do trabalho. E como eles precisam
Oposição emprego x estudos
mais do trabalho, eles optam pelo
trabalho.” (E3)
272
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 260-286
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
Rodrigues, J. M. P., & Silva, G. P. (2018). O Sistema de Organização Modular de Ensino...
“e a partir do momento em que eu
saí (do emprego) eu melhorei mais
meus estudos.” (E1)
Fonte: Pesquisa dos autores (2016).
Tais constatações fazem mais sentido
à medida que consideramos o contexto que
delineia as condições de produção do
conteúdo em questão. Assim, é importante
compreendermos a Vila Mainardi como
uma propriedade privada com três núcleos
principais de produção: serraria, fábrica de
gelo e indústria de beneficiamento de açaí
em polpa para exportação. Tal situação nos
remete ao que Marx e Engels, em A
Ideologia Alemã (1988, p. 55-56), nos
dizem a respeito da propriedade privada:
“Ela é a expressão mais flagrante da
subordinação do indivíduo à divisão do
trabalho, a uma determinada atividade que
lhe é imposta”. No caso da Mainardi,
percebemos que a relação de emprego
estabelecida entre a empresa e os alunos
trabalhadores do SOME se constitui como
obstáculo ao desenvolvimento dos estudos
no ensino médio. Agica produtiva do
setor privado local exige prontidão e
disponibilidade do trabalhador para o
cumprimento das metas de produção, não
raro induzindo o aluno a ter de escolher
entre trabalhar ou estudar.
Essa subordinação dos trabalhadores
à divisão do trabalho trazia um elemento
que a agudizava ainda mais: o fato de a
moradia ser condicionada à relação de
emprego, uma vez que as residências são
de propriedade da empresa. Quando a
relação empregatícia é desfeita, o ex-
empregado deve entregar a moradia e sair
do local. É o que destaca E3: “Lá quando
tu sai, quando eles te mandam da empresa,
tu tem que deixar a casa, porque quando tu
sai provavelmente entrando outro, aí a
casa já vai pra quem entrando... Lá
tudo é cobrado”. Com efeito, a manutenção
do vínculo empregatício é também, para
alguns, a única garantia (ainda que
temporária) de um lugar para morar, o que
torna a relação de dependência ainda mais
brutal.
Assim, sem desconsiderar que haja
outros desencadeadores do fenômeno da
evasão na realidade estudada, para além
dos que emergiram das falas dos sujeitos,
parece-nos evidente que as características
socioeconômicas dos alunos, com aquelas
da localidade em questão e as do próprio
funcionamento do sistema modular,
compõem um conjunto oportuno à
manifestação do fenômeno da evasão, que
precisa ser levado em consideração no
planejamento da política.
O sentimento de inclusão/exclusão
discente
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 260-286
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
273
Rodrigues, J. M. P., & Silva, G. P. (2018). O Sistema de Organização Modular de Ensino...
Outra categoria empírica emergente
reflete o sentimento de inclusão/exclusão
discente. O sentimento de exclusão parece
compartilhado entre os entrevistados,
particularmente no que se refere à
organização do sistema, à (não) inserção
dos discentes nas programações culturais
da escola Ivo Mainardi e aos aspectos
infraestruturais, caracterizando uma
limitação do SOME também nesse sentido.
Ao longo da pesquisa de campo, foi
revelador perceber o binômio
“inclusão/exclusão” emergindo durante a
fala de um mesmo sujeito: em geral, ao
mesmo tempo em que se expunha o
descontentamento com determinada
situação, mencionando expressamente o
termo “exclusão”, ou subentendendo-o, em
um conjunto maior, havia uma
preocupação em mencionar momentos em
que atitudes de inclusão, principalmente
por parte de alguns professores, se faziam
presentes como elemento catalizador de
estímulo aos alunos.
Por essa razão, embora cientes da
inviabilidade de uma análise conceitual
mais pormenorizada dos termos “exclusão
e “inclusão” neste estudo, dados os
objetivos e a delimitação da pesquisa, não
poderíamos, por outro lado, deixar tais
conceitos de fora de nosso plano analítico,
visto que emergiram espontaneamente das
falas dos sujeitos.
Assim, ao tratar de tais termos,
procuramos ter em conta o alerta de
autores como Oliveira (2000) e Ribeiro
(2006) quanto aos cuidados necessários à
utilização do conceito. Esta, por exemplo,
ao tratar do termo “exclusão”, afirma que
este tem o mérito de ampliar a
compreensão de problemas que fazem
parte das relações sociais no modo de
produção capitalista, mas que não podem
ser explicados tão somente pela
expropriação da terra ou pela apropriação
do produto do trabalho, dos meios de
produção e de sobrevivência. E, ao mesmo
tempo, nos faz lembrar que:
É um conceito meramente descritivo
e, como tal, tem alguma utilidade,
entretanto apresenta-se como
impessoal e neutro. Sem um adjetivo
que o qualifique (social, escolar...), é
abstrato, e para concretizar-se
relaciona, de maneira contraditória,
seres humanos posicionados como
sujeitos que excluem, de um lado, ou
como objetos que são excluídos, de
outro. (Ribeiro, 2006, p. 158).
O quadro a seguir traz um
demonstrativo do que emergiu da pesquisa
em relação a esses aspectos:
Quadro 4 Sentimento de inclusão/ exclusão discente.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 260-286
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
274
Rodrigues, J. M. P., & Silva, G. P. (2018). O Sistema de Organização Modular de Ensino...
Unidades de registro
Subcategorias empíricas
Categorias empíricas
“Aí bem dizer a gente era
Sentimentos de inclusão/exclusão
associados à organização do
SOME
excluído, sabe? Era só professor e
aluno, professor e aluno... O
diretor não dava muito apoio.”
(E3)
“porque a gente falava que a
gente tinha direito, que a gente
Sentimentos de inclusão/exclusão
era aluno, apesar de ser de outra
associados à (não) inserção nas
instituição, mas a gente era aluno
programações culturais da escola
dali daquela localidade, sempre
Ivo Mainardi
foi.” (E2)
Sentimento de inclusão/exclusão
“o diretor lá só cedia a escola, a
Sentimentos de inclusão/exclusão
associados à inadequação
infraestrutural
sala, né? Às vezes até a água
faltava.” (E2)
“se a gente fosse pedir na
secretaria do fundamental, a
coordenação de ficava
reclamando ‘esse papel não é pra
vocês, é pro fundamental’, jogava
na cara, né? Aí tem que melhorar
isso.” (E1)
Fonte: Pesquisa dos autores (2016).
Tais limitações, por sua vez,
reforçam na realidade estudada a “situação
de invisibilidade” constatada nos estudos
de Weisheimer (2005), como característica
dessa população juvenil residente no
campo.
A “situação de invisibilidade” a que
está sujeito esse segmento da
população se configura numa das
expressões mais cruéis de exclusão
social, uma vez que dessa forma
esses jovens não se tornam sujeitos
de direitos sociais e alvos de políticas
públicas, inviabilizando o
rompimento da própria condição de
exclusão. Nesse contexto, a
juventude rural aparece como um
setor extremamente fragilizado de
nossa sociedade. Enquanto eles
permanecerem invisíveis ao meio
acadêmico e ao sistema político, não
sendo socialmente reconhecidos
como sujeitos de direitos,
dificilmente serão incluídos na
agenda governamental. (Weisheimer,
2005, p. 8)
A situação que, para o autor, se faz
perceber particularmente no plano
acadêmico e no político, encontra
ressonância na problemática do SOME, ao
analisarmos, por exemplo, a quantidade
incipiente de trabalhos científicos sobre
essa temática, bem como no político, ao
analisarmos as limitações do sistema se
reproduzindo décadas, sem a
implementação de iniciativas concretas que
deem conta de sua resolutividade.
Por outro lado, a contradição da
realidade nos mostra que, mesmo em meio
a um ambiente desfavorável, é possível
emergirem sentimentos de inclusão
observados, por exemplo, no elogio dos
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 260-286
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
275
Rodrigues, J. M. P., & Silva, G. P. (2018). O Sistema de Organização Modular de Ensino...
entrevistados ao trabalho de alguns
professores que, não obstante as
dificuldades do sistema, se transformavam
em motivadores dos alunos, fazendo-os
persistirem na empreitada até o final. Ou
ainda nos momentos em que a gestão da
escola polo, mesmo tendo sua
responsabilidade restrita ao ensino
fundamental, buscava agregar também os
alunos do SOME nos eventos culturais da
escola, muito embora isso não ocorresse de
modo sistemático. São situações como
essas que contribuem para que o aluno siga
em frente, conclua o ensino médio e
alcance, por exemplo, o ingresso em um
curso superior, configurando, ao mesmo
tempo, uma dimensão contributiva do
sistema para esse público jovem.
A (in)adequação das práticas docentes à
realidade do jovem do campo
Outra limitação do SOME se refere à
(in)adequação das práticas docentes à
realidade do jovem do campo expressa,
mediante a ótica dos egressos, no não
esforço de alguns professores em
contextualizar os conteúdos de ensino com
as práticas sociais, focando o trabalho
apenas no repasse de um conteúdo
fragmentado. Tal limitação também se
expressa na ausência de um trabalho
sistemático com projetos educativos na
localidade, o que a nosso ver poderia
contribuir para uma maior interação do
aluno com sua comunidade, conferindo um
diferencial ao sistema modular. Não
obstante, utilizamos o termo
“(in)adequação” pelo fato de haver relatos,
embora muito pontuais, que apontaram
para a preocupação de alguns poucos
docentes em potencializar a comunidade
local como elemento referencial para suas
práticas.
Quadro 5 (In)adequação das práticas docentes à realidade do jovem do campo.
Unidades de registro
Subcategorias empíricas
Categorias empíricas
“Tinha uns (professores) que não
(des)contextualização dos
conteúdos de ensino com as
práticas sociais
(in)adequação das práticas
docentes à realidade do jovem
do campo
olhavam o lado social, o lado que
se tá vivenciando, só explicavam
o conteúdo, mas teve uns que
sempre olhavam o lado da
comunidade, sempre voltado na
realidade mesmo.” (E2)
“Era mais focado no conteúdo
mesmo. O professor nem se
preocupava. Queria só passar o
conteúdo.” (E3)
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 260-286
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
276
Rodrigues, J. M. P., & Silva, G. P. (2018). O Sistema de Organização Modular de Ensino...
“O único projeto que teve foi a
feira de talentos. Nenhum outro
professor fez... Durante eu estar
estudando nenhum outro professor
tinha feito um projeto.” (E3)
inexistência de um trabalho
sistêmico com projetos educativos
no SOME
Fonte: Pesquisa dos autores (2016).
As questões sintetizadas no Quadro 5
emergem como fatores contributivos à
dificuldade de adequação das práticas dos
professores do ensino modular à realidade
do jovem do campo, refletindo uma
limitação do SOME tanto com relação ao
cumprimento das diretrizes nacionais do
ensino médio quanto daquelas relacionadas
à Educação do Campo:
Pois se trata de um modelo de ensino
feito por módulos com pouca ou
nenhuma articulação com as
diretrizes da educação do campo.
Consideramos ser um tipo de
educação que ocorre no campo,
todavia não existe capacitação aos
professores a respeito da concepção
filosófica que vem norteando a
Educação do Campo, fazendo com
que os professores desconheçam essa
orientação tácita e teórica de que o
que se deveria fazer nestas escolas
seria uma modalidade de educação
que valorizasse as práticas, a cultura,
as condições geográficas dos jovens.
(Silva, Barros & Oliveira, 2014, p.
7).
À necessidade de uma formação
adequada dos professores para trabalhar
com essas distintas realidades se soma a de
construção de uma proposta pedagógica
para o sistema modular, posicionamento
corroborado por Brayner (2013, p. 103).
Entendemos que isso precisa ocorrer por
intermédio de um processo democrático
que ouça e contemple as expectativas do
sujeito jovem do campo em relação ao
ensino médio. Uma proposta que garanta a
implementação de instrumentos
democráticos de avaliação permanente do
sistema como premissa do processo de
planejamento.
A inadequação do acompanhamento
pedagógico e administrativo
Ficou evidente, ainda, como
limitação do sistema modular, a
inadequação do acompanhamento
pedagógico e administrativo, atinente ao
distanciamento da coordenação pedagógica
em relação aos polos e à fragilidade na
comunicação entre as instâncias que
constituem o sistema.
Quadro 6 Inadequação do acompanhamento pedagógico e administrativo.
Unidades de registro
Subcategorias empíricas
Categoria empírica
“Na verdade esse
acompanhamento pedagógico,
eles só iam lá quando acontecia
alguma coisa... ‘Ah, denunciaram
distanciamento da coordenação
pedagógica em relação aos polos
inadequação do
acompanhamento pedagógico e
administrativo
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 260-286
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
277
Rodrigues, J. M. P., & Silva, G. P. (2018). O Sistema de Organização Modular de Ensino...
o professor porque ele fez tal
coisa’, varavam pra pra
saber.” (E3)
“Ele (professor) deixou pra Belém
a nota. Aí quando esses alunos
que encerravam o ensino médio
vieram procurar pra poder fazer a
universidade tava lá pra Belém a
nota. Não tava nem na URE, nem
no MCP. E aí ele disse que não,
ele não deixou aí porque ele foi
contratado de de Belém, então
ele tinha que deixar lá.”
fragilidade na comunicação entre
as instâncias que constituem o
SOME
Fonte: Pesquisa dos autores (2016).
Tal achado reafirma o constatado no
estudo de Silva, Barros e Oliveira (2014)
que, ao tratarem do nível de improviso
existente no processo de ensino modular,
fazem referência à inadequação dos
espaços onde as aulas são ministradas e à
ausência de gestão dos espaços e do
próprio processo pedagógico, uma vez que
não funcionários técnicos para atuar nas
escolas.
Conclusão semelhante a esta é a de
Oliveira (2010b, p. 105) que, em uma
análise histórica dos elementos
administrativos e pedagógicos do SOME,
afirma:
Ficou confirmado que nunca existiu,
desde a sua implantação, cerca de
trinta anos, acompanhamento
pedagógico no SOME, exceto pelos
dados sobre aprovação e média de
notas dos alunos, suscitando
preocupação constante quanto à
ausência de instrumentos para o
acompanhamento técnico-pedagógico
e avaliativo do trabalho dos
professores.
Isso evidencia que se trata de outro
desafio a ser vencido para que o
funcionamento do sistema ocorra de modo
mais fluido e próximo do jovem do campo
e de suas expectativas em relação ao
ensino médio.
O SOME e a função dual do ensino
médio
Ficaram evidenciados, nesse aspecto,
elementos que apontam para as finalidades
às quais tem servido o SOME, que, por seu
turno, convergem para uma função dual do
ensino médio, como categoria empírica, de
acordo com o demonstrativo a seguir:
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 260-286
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
278
Rodrigues, J. M. P., & Silva, G. P. (2018). O Sistema de Organização Modular de Ensino...
Quadro 7 Função dual do ensino médio.
Unidades de registro
Subcategorias empíricas
Categoria empírica
“Os alunos que entram no ensino
SOME como meio de acesso
imediato ao mercado de trabalho
médio lá na Mainardi eles entram
só pra estudar mesmo e querer
terminar o ensino médio pra sair
pra trabalhar.” (E1)
função dual do ensino médio
“agora que eu fui aprovado nesse
curso (superior). Se não fosse
SOME como meio de acesso à
esse programa do SOME pra lá
universidade
não teria como.” (E5)
Fonte: Pesquisa dos autores (2016).
Pudemos perceber que a função ora
atribuída ao SOME remete à afirmação do
dualismo que perpassa a história do ensino
médio (Krawczyk, 2014; Nosella, 2015),
que neste caso do sistema modular atende,
com uma formação fragmentada, a um
público da classe trabalhadora, cuja
formação serve a uma perspectiva de
acesso imediato a uma relação de trabalho
assalariada junto à iniciativa privada local
para atender às necessidades prementes de
sobrevivência desse jovem. Por outro lado,
essa formação também apresenta
elementos que nos permitem visualizar a
contradição, como por exemplo, no
trabalho daqueles professores que
demonstram compromisso com a formação
humana e estimulam seus alunos a
almejarem outros patamares de
sociabilidade.
Nesse contexto, ao mesmo tempo em
que para alguns egressos o SOME é a
instância terminal dos estudos, é também
notória a entrada de egressos do sistema no
ensino superior como uma tendência
emergente, particularmente da Vila
Mainardi, sobretudo por sua relativa
proximidade com a cidade, o que nos
permite vislumbrar também a
contradição. O meio que tem se mostrado
mais favorável a esse ingresso é a
educação a distância em faculdades
privadas da cidade. Dos seis egressos
entrevistados, quatro são universitários,
dos quais três estudam nesta modalidade.
Foi um posicionamento recorrente entre
estes a afirmação de que, não fosse o
SOME, dificilmente estariam hoje se
graduando em uma universidade, pois não
teriam condições de vir para a cidade
cursar o ensino médio.
É bem verdade que o ingresso em um
curso superior não necessariamente
significa que os alunos terão maiores
patamares de inserção social. Todavia, não
se pode negar que, por meio desse acesso,
se descortinam novas possibilidades que
sequer poderiam ser sonhadas para alguns
não fosse o sistema modular.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 260-286
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
279
Rodrigues, J. M. P., & Silva, G. P. (2018). O Sistema de Organização Modular de Ensino...
O SOME e a migração rural-urbana
discente
Foi perceptível uma possível relação
do SOME com a questão da migração
rural-urbana juvenil na realidade em
questão. Tal constatação se deu ao
ouvirmos egressos que, mesmo com a
manifesta dificuldade de residir no meio
urbano, vieram morar na cidade com a
intenção de concluir o ensino médio na
rede regular, dadas as dificuldades
encontradas no SOME. E também ao
ouvirmos outros que, ao concluírem o
ensino médio no sistema modular, têm
buscado a cidade para obter formação
superior, o que certamente, neste caso, não
significa uma negação da vida no meio
rural, pois mesmo entre alguns destes foi
enfática a afirmação de que pretendem
retornar para contribuir com sua
comunidade após a conclusão dos estudos.
Quadro 8 Migração rural-urbana discente.
Unidades de registro
Subcategorias empíricas
Categoria empírica
“No meu caso, como eu moro
Possibilidade de ida para a cidade
associada à disponibilidade de
mais recursos no meio urbano
aqui (na cidade), como eu tenho
opção, eu terminando o ensino
médio, vou procurar fazer curso.”
(E1)
“seria mais fácil porque fica tudo
perto. Conhecimento, internet fica
perto, livros, seja o que você
quiser, em qualquer lugar, você
pode encontrar livros, comprar...
E lá (na Mainardi) não, tu ainda
tem que vir, tem que pesquisar, às
vezes não tem os recursos
adequados lá.” (E3)
“tinha uns (colegas do SOME)
Possibilidade de ficar no meio
rural associada à identidade com o
lugar de origem
que falavam que se eles
arranjassem um trabalho fora, não
Migração rural-urbana discente
tinham vontade de voltar mais lá
não, só se fosse pra passeio
rápido. Sempre eu falava: ‘se for
pra repassar meus conhecimentos,
vai ser pras futuras gerações
daqui’.” (E2)
“eu já morei muito tempo lá (na
Mainardi)... Só que tem aquela
vontade de ir pra lá, porque foi lá
que eu cresci e de mostrar pras
outras pessoas, tipo ser espelho
das outras pessoas, sabe? Que um
dia eu fui que nem eles, eu fui
aluna e agora eu tô dando aula
lá.” (E3)
Fonte: Pesquisa dos autores (2016).
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 260-286
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
280
Rodrigues, J. M. P., & Silva, G. P. (2018). O Sistema de Organização Modular de Ensino...
A situação em questão nos remete à
“Carta Proposta da Juventude
Trabalhadora Rural”, de março de 2015,
que entende a migração juvenil como
fenômeno complexo, fortemente
condicionado aos aspectos sociais,
econômicos e culturais estruturantes: “É
preciso entender o êxodo rural não como
escolha individual e privada, mas,
articulado ao conjunto de oportunidades
concretas vivenciadas pela juventude
trabalhadora rural, no que se refere ao
acesso a direitos e ao exercício pleno da
sua cidadania.” (Confederação Nacional
dos Trabalhadores na Agricultura
[CONTAG], 2015, p. 2). Desse modo, a
perspectiva desse exercício pleno da
cidadania parece em certa medida
condicionada à ida para a cidade que,
embora também não garantia concreta
alguma, se mostra como uma opção mais
viável ou, até, inevitável, em certos casos.
Essa reafirmação de uma relação de
dependência com a cidade é reforçada em
um posicionamento teórico de Leão e
Antunes-Rocha quanto à questão:
as limitações de acesso à educação e
ao trabalho, e a questão fundiária têm
levado os jovens a construir projetos
de saída do campo em busca de
melhores condições de vida. Por
outro lado, isso não representa uma
negação da vida no campo. Muitos
jovens constroem projetos de saída,
mas com perspectivas de retorno
futuro. Outros mantêm trajetórias de
idas e vindas entre o campo e a
cidade. (Leão & Antunes-Rocha,
2015, p. 23).
Certamente, não podemos, a partir
dos exemplos citados, inferir
generalizações de que o ingresso no ensino
superior direcione necessariamente a uma
perspectiva de retorno do egresso para
desenvolver um trabalho em sua
comunidade de origem. O que queremos é
chamar atenção para o fato de que a
experiência educativa no SOME abre
condicionantes que interferem em maior ou
menor grau nesse conflito da permanência
ou saída do campo para o qual nos alertam
os autores citados.
Considerações finais
Evidentemente, os resultados aqui
apontados não pretendem nem poderiam
dar conta da complexidade que perpassa
o funcionamento de uma política pública
que se espraiou nas últimas décadas pelas
mais recônditas regiões do estado do Pará.
Dada a delimitação estabelecida para esta
investigação, é inevitável que haja muitas
limitações no estudo, que ensejam a
diversificação dos ângulos de análise por
intermédio de novas investigações, para o
que almejamos que outros pesquisadores se
sensibilizem com a temática e se
proponham a enriquecer a discussão.
De nossa parte, uma vez que nos
propusemos a centrar o foco de nossa
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 260-286
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
281
Rodrigues, J. M. P., & Silva, G. P. (2018). O Sistema de Organização Modular de Ensino...
atenção no aluno, o principal interessado e
a razão da existência da política em pauta,
não nos é possível vislumbrar com
exatidão, a partir da ótica da gestão do
sistema ou, mesmo, dos docentes do
SOME, possíveis condicionantes do que
fora suscitado por nossos interlocutores.
São, pois, aspectos que estão para além dos
propósitos desta pesquisa, visto que
requerem um estudo mais detido a partir de
outros ângulos analíticos.
Assim, não temos por ora como
estabelecer uma discussão quanto às reais
causas da instabilidade na oferta dos
módulos e, portanto, das dificuldades em
garantir a devida sequência entre as
disciplinas, sem longos intervalos. De igual
modo, não podemos fazer uma análise
comparada do fenômeno da evasão entre
os sistemas regular e o modular de ensino,
até mesmo pela dificuldade de se levantar
dados estatísticos dessa natureza no
SOME. Tampouco temos como visualizar
as necessidades formativas ou motivações
dos professores que atuam no sistema
modular. Não obstante, estamos cientes,
por um lado, de que limitações dessa
natureza são próprias a qualquer tipo de
pesquisa, dada a característica do
inacabamento inerente ao próprio processo
de construção do conhecimento e, por
outro lado, cientes de que vislumbar o
objeto a partir da ótica do público atendido
foi uma experiência deveras enriquecedora
e pertinente.
É preciso perceber, ainda, que o
público jovem que demanda pelo ensino
médio no meio rural brevense está
espraiado por aproximadamente cento e
setenta localidades do município, muitas
delas de difícil acesso à sede do município,
com deslocamento de mais de vinte e
quatro horas de viagem via fluvial, que
constitui o único acesso na região,
conforme nos relata o Plano Municipal de
Educação, aprovado pela Lei Municipal nº.
2.388, de 2015. Destas localidades, apenas
cinco são atendidas pelo SOME, o que nos
chama a atenção para a ausência de
políticas públicas para o atendimento desse
contingente, bem como para uma maior
capilaridade daquelas já existentes.
Em uma análise mais geral, de tudo o
que fora exposto nas falas obtidas, notamos
alguns aspectos que remetem aos achados
de outras pesquisas realizadas sobre o
SOME, particularmente os trabalhos de
Queiroz (2010), Oliveira (2010b), Brayner
(2013) e Silva, Barros e Oliveira (2014),
mas que não se limitaram a isso.
Assim, com atenção à ótica dos
sujeitos egressos, nossos interlocutores
mas ao mesmo tempo colocando-a sob os
pressupostos do materialismo histórico-
dialético, que toma tais percepções como
constructos, cujo cerne é a materialidade
social, na qual os sujeitos se (re)fazem
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 260-286
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
282
Rodrigues, J. M. P., & Silva, G. P. (2018). O Sistema de Organização Modular de Ensino...
cotidianamente e ao mesmo tempo com a
triangulação em relação à experiência por
nós obtida na coordenação regional da
política no ano de 2009, e ao material
teórico trazido para a presente discussão,
nos foi possível perceber o sistema
modular como uma política de afirmação e
de negação concomitantes.
De afirmação, por promover a
garantia do acesso à educação a parcelas
significativas da população paraense; por
permitir a um grupo cada vez maior de
sujeitos a formação em um nível cuja
realidade, algum tempo, parecia
utópica; por inscrever no âmbito de sua
referência normativa legal, a Lei do
SOME, a necessidade de uma formação
que reconheça a(s) identidade(s) dos povos
dos campos, águas e florestas. Mas de
negação, ao não percebermos a concretude
devida destes pressupostos na
implementação do sistema, que deixa a
desejar em infraestrutura,
acompanhamento pedagógico, e em outros
aspectos, configurando, em grande medida,
a reprodução de um modelo educacional
citadino no meio rural.
Ao mesmo tempo, percebemos a Vila
Mainardi como uma totalidade, que em sua
dinâmica reproduz a lógica capitalista
vigente: a propriedade privada
determinando uma divisão do trabalho que
induz o jovem trabalhador/ estudante a
uma formação suficiente para ingressar no
mercado e atender a sua necessidade
imediata de sobrevivência. Mas que é
também contraditória, visto que um
número crescente de egressos tem
quebrado essa lógica e ingressado em um
curso superior, vendo-se em condições de
projetar novas perspectivas formativas.
Compreendemos também a Mainardi
inserida em um contexto maior: o jovem
trabalhador do campo, estudante do
SOME, tem dificuldades específicas
relacionadas ao sistema modular, mas é
também um jovem da classe trabalhadora,
que, assim como o da cidade, anseia por
uma formação educacional e, junto a tantos
outros jovens, sente e compartilha
dificuldades oriundas da condição social
que os une.
Referências
Araújo, R. M. L. (2012). O marxismo e a
pesquisa qualitativa como referência para
investigação sobre educação profissional.
In Araujo, R. M. L., & Rodrigues, D.
(Orgs.). A Pesquisa em Trabalho,
Educação e Políticas Públicas (pp. 157-
184). Campinas, SP: Alínea.
Bardin, L. (2011). Análise de conteúdo.
São Paulo, SP: Edições 70. (Obra
originalmente publicada em 1977).
Brayner, C. N. M. (2013). Um estudo
avaliativo do Ensino Médio modular a
partir das Diretrizes Operacionais da
Educação Básica nas Escolas do Campo
no Pará (Dissertação de Mestrado).
Universidade do Estado do Pará, Pará.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 260-286
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
283
Rodrigues, J. M. P., & Silva, G. P. (2018). O Sistema de Organização Modular de Ensino...
Confederação Nacional dos Trabalhadores
na Agricultura CONTAG (2015). Carta
Proposta da Juventude Trabalhadora
Rural. 2015. Recuperado de
www.contag.org.br/imagens/f2330carta_iii
_festival_final-2.doc>
Ferreira, A. B. H. (2000). Miniaurélio
Século XXI Escolar: o minidicionário da
língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira.
Franco, M. L. P. B. (2007). Análise de
conteúdo. Brasília, DF: Líber Livro.
Gil, A. C. (2002). Como elaborar projetos
de pesquisa. São Paulo, SP: Atlas.
Gramsci, A. (2000). Cadernos do Cárcere.
Rio de Janeiro, RJ: Civilização Brasileira.
Fundação Amazônia de Amparo a Estudos
e Pesquisas. (2017). Mapa Exclusão Social
do Estado do Pará 2017. Recuperado de
http://seplan.pa.gov.br/sites/default/files/P
DF/loa/loa2018/mapa_de_exclusao_social
_do_para_2017.pdf
Krawczyk, N. (2014). Uma roda de
conversa sobre os desafios do ensino
médio. In Dayrell, J., Carrano, P., & Maia,
L. M. (Orgs.). Juventude e ensino médio:
sujeitos e currículo em diálogo (pp. 75-
98). Belo Horizonte, MG: editora UFMG.
Leão, G., & Antunes-Rocha, M. I. (2015).
Juventude no/do campo: questões para um
debate. In Leão, G., & Antunes-Rocha, M.
I. (Orgs.). Juventudes do campo (17-27).
Belo Horizonte, MG: Autêntica Editora.
Lei nº. 9.394/1996. (1996, 23 de
dezembro). Estabelece as Diretrizes e
Bases da Educação Nacional. Recuperado
de:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L
9394.htm
Lei Estadual 7.442, de 2 de julho de
2010. (2010, 2 de julho). Dispõe sobre o
Plano de Cargos, Carreira e Remuneração
dos Profissionais da Educação Básica da
Rede Pública de Ensino do Estado do Pará
e dá outras providências.
Lei Estadual nº. 7.806, de 29 de abril de
2014. (2014, 29 de abril). Dispõe sobre a
regulamentação e o funcionamento do
Sistema de Organização Modular de
Ensino SOME, no âmbito da Secretaria
de Estado de Educação SEDUC, e dá
outras providências. Diário Oficial do
Estado do Pará. Belém, PA, 30 abr. 2014.
Cad. 1 (pp. 5-6).
Lei Municipal 2.388, de 24 de junho de
2015. (2015, 24 de junho). Aprova o Plano
Municipal de Educação - PME e outras
providências. Poder Público Municipal.
Prefeitura Municipal de Breves.
Recuperado de:
http://simec.mec.gov.br/sase/sase_mapas.p
hp?uf=PA&tipoinfo=1
Marx, K., & Engels, F. (1988). A ideologia
Alemã. São Paulo, SP: Martins Fontes.
(Obra originalmente publicada em 1932).
Minayo, M. C. S. (2013). O desafio da
pesquisa social. In Minayo, M. C. S.
(Org.). Pesquisa Social: teoria, método e
criatividade (9-29). Petrópolis, RJ: Vozes.
Minayo, M. C. S. (2014). O desafio do
conhecimento: pesquisa qualitativa em
saúde. São Paulo, SP: Hucitec Editora.
Nosella, P. (2011). Ensino médio: em
busca do princípio pedagógico. Educ.
Soc., 32(117), 1051-1066. DOI:
http://dx.doi.org/10.1590/S0101-
73302011000400009
Nosella, P. (2015). Ensino médio: unitário
ou multiforme? Revista Brasileira de
Educação, 20(60), 121-142. DOI:
http://dx.doi.org/10.1590/S1413-
24782015206007
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 260-286
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
284
Rodrigues, J. M. P., & Silva, G. P. (2018). O Sistema de Organização Modular de Ensino...
Oliveira, A. R. (2000). Educação e
exclusão: a contribuição da Filosofia da
Educação na determinação conceptual.
Perspectiva, 18(34), 11-31.
DOI: https://doi.org/10.5007/%25x
Oliveira, R. (2010a, 13 de julho). SOME:
30 anos de educação no campo [Blog].
Recuperado de:
http://ribaprasempre.blogspot.com.br/2010/
07/some-30-anos-de-educacao-no-
campo.html
Oliveira, R. M. (2010b). Elementos
administrativos e pedagógicos do SOME
na percepção de seus autores (Dissertação
de Mestrado). Universidade Católica de
Brasília, Brasília.
Queiroz, A. G. (2010). O Sistema Modular
de Ensino no Estado do Pará:
contribuição para o desenvolvimento
educacional no município de Abaetetuba
(Dissertação de Mestrado). Universidade
de Taubaté, Taubaté.
Ribeiro, M. (2006). Exclusão e educação
social: conceitos em superfície e fundo.
Educ. Soc., 27(94), 155-178. DOI:
http://dx.doi.org/10.1590/S0101-
73302006000100008.
Silva, G. P., Barros, O. F., & Oliveira, V.
B. (2014). Políticas de formação, currículo
e trabalho para o ensino médio do campo
na Amazônia: o Sistema de Organização
Modular de Ensino - Some e sua atuação
no município de Cametá-baixo
Tocantins/PA. In XXII Encontro de
Pesquisa Educacional do Norte Nordeste.
EPENN, 28 a 31 de outubro de 2014,
Natal, Brasil: Anais [Recurso Eletrônico] /
Universidade Federal do Rio Grande do
Norte. Centro de Educação. Programa de
Pós-graduação em Educação. Natal, RN.
Weisheimer, N. (2005). Estudos sobre os
Jovens Rurais do Brasil: mapeando o
debate acadêmico. Brasília, DF: Nead/
MDA.
1
O dicionário da língua portuguesa Aurélio
(Ferreira, 2000, p. 251) define egresso como aquele
“1. Que saiu, se afastou.”. Para o efeito deste
trabalho, consideramos como alunos egressos
aqueles que: 1. Concluíram o ensino médio no
SOME; 2. Evadiram; 3. Foram transferidos para
outra unidade de ensino ou modalidade de oferta.
2
Fonte: Escola Sede do SOME em Breves “Maria
Câmara Paes”. Jan. 2015.
3
Língua portuguesa, Educação Física, História,
Geografia, Biologia, Física, Química, Matemática,
Língua Estrangeira Moderna (1º, e anos);
Arte, Filosofia e Sociologia ( ano). Conforme o
“Modelo Curricular para o Ensino Médio Sistema
Modular de Ensino”, aprovado pela Resolução nº.
761/1998 CEE/Pará.
4
Gramsci, A. (2000). Cadernos do Cárcere. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira.
Recebido em: 22/11/2017
Aprovado em: 23/01/2018
Publicado em: 21/04/2018
ORCID
João Marcelino Pantoja Rodrigues
http://orcid.org/0000-0001-8168-8596
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 260-286
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
285
Como citar este artigo
/
How to cite this article
/
Como citar este artículo:
APA:
Rodrigues, J. M. P., & Silva, G. P. (2018). O Sistema
de Organização Modular de Ensino (SOME) na ótica
de egressos no município de Breves - Pará. Rev. Bras.
Educ. Camp., 3(1), 260-286.
ABNT:
RODRIGUES, J. M. P.; SILVA, G. P. O Sistema de
Organização Modular de Ensino (SOME) na ótica de
egressos no município de Breves - Pará. Rev. Bras.
Educ. Camp., Tocantinópolis, v. 3, n. 1, p. 260-286,
2018.
Rodrigues, J. M. P., & Silva, G. P. (2018). O Sistema de Organização Modular de Ensino...
Gilmar Pereira da Silva
http://orcid.org/0000-0001-9814-9089
Os autores declaram que foram responsáveis pela
elaboração, análise e interpretação dos dados;
escrita e revisão do conteúdo do manuscrito, bem
como pela aprovação da versão final a ser
publicada.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 260-286
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
286
Revista Brasileira de Educação do Campo
The Brazilian Scientific Journal of Rural Education
A
RTIG
O
/
A
RTICLE
/
A
R
C
ULO
DO
I:
h
tt
p
:/
/
d
x.d
o
i.
o
r
g/
10.20
873/
u
ft.2525
-4863.2018v3
n
1p
287
A Pedagogia da Alternância no contexto da Educação do
Campo: a experiência do Instituto Educar
Luana Bonavigo
1
, Flávia Eloisa Caimi
2
1
Centro de Ensino Superior Riograndense/Instituto Educar. Programa de Pós-Graduação em Educação. Rua
Duque de Caxias, 990. Ronda Alta - RS. Brasil. luanabbonavigo@gmail.com.
2
Universidade de Passo Fundo -
UPF
RESUMO. Superando-se a visão urbanocêntrica, em que o
campo é tido como lugar de atraso, e ultrapassando-se a
perspectiva de antagonismo entre cidade-campo, busca-se
reconhecer tempos e modos específicos de ser, viver e produzir,
concebendo a educação e a escola segundo diferentes formatos
de organização, de acordo com as necessidades das populações
que vivem do/no campo. Com base nesses pressupostos, a
educação do/no campo circunscreve a temática geral deste
artigo, onde se busca travar diálogo com a Pedagogia da
Alternância como alternativa para viabilizar uma proposta
educativa que possa fazer frente às demandas e especificidades
dessas populações. Trata-se de um estudo de caráter
bibliográfico, que se volta para o entendimento contextual,
histórico e conceitual da Educação do Campo e da Pedagogia da
Alternância, combinado à investigação exploratória das práticas
educativas pautadas na experiência da alternância, que se
realizam no Instituto Educar de Pontão/RS. Conclui-se que o
Instituto Educar assume uma organização metodológica
alternante entre Tempo Escola e Tempo Comunidade, prioriza a
educação dos sujeitos inseridos em uma coletividade e confere
protagonismo aos educandos que ali desenvolvem seus
processos formativos.
Palavras-chave: Educação do Campo, Pedagogia da
Alternância, Tempo Escola, Tempo Comunidade.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 287-312
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
287
Bonavigo, L., & Caimi, F. E. (2018). A Pedagogia da Alternância no contexto da Educação do Campo: a experiência do Instituto
Educar...
The Pedagogy of Alternation in the Context of Rural
Education: the experience of the Educar Institute
ABSTRACT. Overcoming the urban-centric vision, where the
countryside is considered a place of backwardness and
surpassing the perspective of city-countryside antagonism, this
paper intend to recognize specific times and ways of being,
living and producing, conceiving education and school by
different organizational formats, according to the needs of the
population living in/from the countryside. Based on this
assumption, education in the countryside circumscribes the
general theme of this article, aiming to establish a dialogue with
the Alternation Pedagogy as an alternative to enable an
educational proposal that can meet the demands and specificities
of these populations. This is a bibliographical study focused on
the contextual, historical and conceptual understanding of rural
education and the Alternation Pedagogy, combined with the
exploratory investigation of educational practices based on
alternation experiences carried out at the Instituto Educar” in
Pontão/RS. The conclusion is that Instituto Educar assumes an
alternating methodological organization between School Time
and Community Time, prioritizes the education of the subjects
inserted in a collectivity and confers protagonism to the students
who develop their formative processes there.
Keywords: Rural Education, Alternation Pedagogy, School
Time, Community Time.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 287-312
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
288
Bonavigo, L., & Caimi, F. E. (2018). A Pedagogia da Alternância no contexto da Educação do Campo: a experiência do Instituto
Educar...
La Pedagogía de la Alternancia en el contexto de la
Educación del Campo: la experiencia del Instituto Educar
RESUMEN. Superando la visión urbanocéntrica, en que el
campo es considerado como lugar de retraso, y superando la
perspectiva de antagonismo entre ciudad-campo, se busca
reconocer tiempos y modos específicos de ser, vivir y producir,
concibiendo la educación y la escuela según diferentes formatos
de organización, de acuerdo con las necesidades de las
poblaciones que viven del/en el campo. Con base en este
presupuesto, la educación del campo circunscribe la temática
general de este artículo, donde se busca frenar diálogo con la
Pedagogía de la Alternancia como alternativa para viabilizar una
propuesta educativa que pueda hacer frente a las demandas y
especificidades de esas poblaciones. Se trata de un estudio de
carácter bibliográfico, que se vuelve hacia el entendimiento
contextual, histórico y conceptual de la Educación del Campo y
de la Pedagogía de la Alternancia, combinado a la investigación
exploratoria de las prácticas educativas pautadas en la
experiencia de la alternancia, que se realizan en el Instituto
Educar de Pontão/RS. Se concluye que el Instituto Educar
asume una organización metodológica alternante entre Tiempo
Escuela y Tiempo Comunidad, prioriza la educación de los
sujetos insertados en una colectividad y confiere protagonismo a
los educandos que allí desarrollan sus procesos formativos.
Palabras clave: Educación del Campo, Pedagogía de la
Alternancia, Tiempo Escuela, Tiempo Comunidad.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 287-312
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
289
Bonavigo, L., & Caimi, F. E. (2018). A Pedagogia da Alternância no contexto da Educação do Campo: a experiência do Instituto
Educar...
Introdução
O Instituto Educar é uma escola do e
no campo que nasceu da força do
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra (MST), num contexto de lutas em
prol de uma educação voltada a seus
povos, cuja proposta pedagógica enseja
uma organização na qual o educando
alterna entre períodos de internato em
tempo integral na escola e períodos de
permanência na família/comunidade. Essa
alternância tem como objetivo manter os
alunos próximos do seu local de residência,
vivenciando seus aprendizados na teoria e
na prática, constituindo-se como uma
possibilidade singular de Educação do e no
Campo.
No intuito de cultivar processos
formativos humanos, a Educação do
Campo se constrói gradativamente e
simboliza um feito recente de conquistas
idealizadas pelos trabalhadores rurais e
suas organizações. O movimento que
busca uma Educação do e no Campo vem
se consolidando na sociedade brasileira por
lutas sociais que muito tempo
denunciam os processos de exclusão
enfrentados pelos sujeitos que vivem em
tais contextos. Essa exclusão se caracteriza
diante de seus direitos à terra, à educação,
à moradia, à cultura e à vida.
De acordo com Caldart (2002), a
Educação do Campo, vista a partir da sua
constituição histórica, se efetivou mediante
lutas sociais que buscavam os direitos da
população do campo. Assim, foi se
construindo por meio da pressão social de
povos que se preocupavam com a
consolidação de políticas públicas de
caráter coletivo que visassem à
estruturação de uma educação dos
camponeses e não apenas para os
camponeses.
Situamos nosso estudo sobre o
pressuposto de que a Educação do Campo,
em permanente construção, visa ao
reconhecimento das necessidades, das
capacidades e dos interesses da população
que vive, trabalha e sobrevive do e no
campo. Desse modo, evidencia-se a
necessidade de pensar alternativas
educativas que correspondam às suas
demandas. Uma das práticas educativas
que se destaca nos estudos sobre Educação
do Campo é a Alternância, caracterizando-
se como uma organização que permite a
vivência dos sujeitos intercalando tempos
formativos entre a escola e a comunidade,
podendo ser utilizada como uma pedagogia
em si ou como uma forma de organização
metodológica.
Assim, neste artigo tem-se o objetivo
de analisar o contexto abrangente, histórico
e social da Educação do Campo e
compreender as possibilidades da
Alternância como prática educativa, para
então investigar as especificidades do
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 287-312
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
290
Bonavigo, L., & Caimi, F. E. (2018). A Pedagogia da Alternância no contexto da Educação do Campo: a experiência do Instituto
Educar...
Instituto Educar. Para tal, abordamos
inicialmente o contexto mais amplo da
Educação do Campo e da Pedagogia da
Alternância para, posteriormente, chegar
aos fundamentos específicos do Instituto
Educar, realizando uma inserção
exploratória com vistas a analisar a
construção cultural e histórica implicada
no desenvolvimento dos processos
educativos.
Da Educação Rural à Educação do
Campo: um histórico de lutas
Segundo Caldart (2002), a Educação
do Campo deve ser compreendida
mediante um olhar voltado às construções
elaboradas ao longo dos anos por
movimentos que lutam pela garantia dos
direitos da população do campo. Como
traço marcante, é possível identificar a luta
constante para que o ensino seja entendido
em dupla acepção, no e do campo: “No: o
povo tem direito de ser educado no lugar
onde vive. Do: o povo tem direito a uma
educação pensada desde seu lugar e com a
sua participação, vinculada à cultura e às
suas necessidades humanas e sociais”
(Caldart, 2002, p. 18).
Segundo informações documentadas
pela Secretaria de Educação Continuada,
Alfabetização, Diversidade e Inclusão
(Secadi), no caderno temático sobre a
Educação do Campo publicado pelo
Ministério da Educação (Brasil, 2007),
desde a colonização do Brasil os
trabalhadores rurais foram explorados e
impedidos de acessar as mesmas condições
que os conterrâneos do meio urbano, o que
gerou
um forte preconceito em relação aos
povos que vivem e trabalham no
campo, bem como uma enorme
dívida social. Ao mesmo tempo, a
suposição de que o conhecimento
“universal”, produzido pelo mundo
dito civilizado deveria ser estendido -
ou imposto - a todos, de acordo com
a “capacidade” de cada um, serviu
para escamotear o direito a uma
educação contextualizada, promotora
do acesso à cidadania e aos bens
econômicos e sociais, que respeitasse
os modos de viver, pensar e produzir
dos diferentes povos do campo. Ao
invés disso, se ofereceu, a uma
pequena parcela da população rural,
uma educação instrumental, reduzida
ao atendimento de necessidades
educacionais elementares e ao
treinamento de mão de obra (Brasil,
2007, p. 10).
O referido caderno temático revela
que durante anos a preocupação
educacional do país priorizou a elite
brasileira que, frente ao crescimento das
favelas na periferia urbana, percebia a
educação rural como meio de conter o
fluxo de migração do campo para a cidade.
Em 1961, a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (Lei nº. 4.024/61)
afirma esse caráter instrumentalista e de
ordenamento social, adotando a Educação
Rural como forma de favorecer a
adaptação do sujeito ao seu meio para,
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 287-312
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
291
Bonavigo, L., & Caimi, F. E. (2018). A Pedagogia da Alternância no contexto da Educação do Campo: a experiência do Instituto
Educar...
assim, manter a população do campo na
zona rural (Brasil, 2007).
Buscando a participação das camadas
populares, houve a mobilização de
educadores, religiosos e de alguns partidos
políticos para a organização de um
movimento de educação popular que
reivindicava a construção de uma educação
voltada às necessidades e particularidades
culturais dos povos do campo. No contexto
de luta pelo fim da ditadura civil-militar, as
organizações ligadas à educação popular,
na década de 1980, incluíam a Educação
do Campo como tema estratégico para a
redemocratização do país. As organizações
sociais aliam-se a organizações
comunitárias do campo, a sindicatos de
trabalhadores rurais, a partidos políticos de
esquerda e a educadores resistentes à
ditadura militar.
Ganham destaque, na luta por um
sistema público de ensino para o campo, as
ações educativas do Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST),
da Comissão Pastoral da Terra (CPT), do
Movimento de Educação de Base (MEB) e
da Confederação Nacional dos
Trabalhadores na Agricultura (Contag). Ao
mesmo tempo, para agregar força às
mobilizações, emergem, inspiradas em
modelos franceses, as Escolas Famílias
Agrícolas (EFA) e as Casas Familiares
Rurais (CFR), instituições que
preconizavam uma proposta pedagógica
para a educação no meio rural a partir da
Pedagogia da Alternância, que
possibilitasse aos educandos a divisão
sistemática do tempo de formação entre o
campo e a escola (Brasil, 2007).
No ano de 1988 é promulgada a nova
Constituição da República Federativa do
Brasil, que reafirma o Estado Democrático
e assegura o compromisso da União em
promover a educação para todos, com
respeito às diferenças culturais e regionais.
Em dezembro de 1996 se estabelece a nova
Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (Lei nº. 9.394/96), que propõe
diretrizes e bases comuns de ensino para
todas as regiões, adequando a educação às
diferenças regionais e rurais (Brasil, 1996).
Essa Lei é considerada um marco que
insere a Educação do Campo na política
educacional.
As lutas pela democratização do
ensino no meio rural são fortemente
protagonizadas pelos militantes da reforma
agrária. O conceito inicialmente foi
explorado como Educação Básica do
Campo em discussões nacionais que
partiram das mobilizações realizadas pelo
MST. Com o pressuposto de construção de
uma escola voltada para a realidade dos
trabalhadores rurais, o referido Movimento
vem, décadas, lutando por políticas
públicas em instâncias locais, estaduais e
nacionais que correspondam às suas
necessidades.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 287-312
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
292
Bonavigo, L., & Caimi, F. E. (2018). A Pedagogia da Alternância no contexto da Educação do Campo: a experiência do Instituto
Educar...
Um marco histórico representativo
dessa luta pela educação situa-se no ano de
1997, quando o MST em parceria com a
Universidade de Brasília (UnB), com o
Fundo das Nações Unidas para a Infância
(Unicef), com a Organização das Nações
Unidas para a Educação, a Ciência e a
Cultura (Unesco) e com a Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB),
organizou o primeiro Encontro Nacional de
Educadoras e Educadores da Reforma
Agrária (Enera). Nesse encontro, os
debates visavam às experiências educativas
do MST, assim, as discussões pautaram-se
pela construção de uma proposta que
atendesse às especificidades dos sujeitos
do campo, ficando explícita, pela
perspectiva dos participantes, a
insuficiência da oferta educacional para
esses povos (Santos, Molina & Jesus,
2010).
O primeiro Enera consolidou um
grupo representativo para tomar frente no
processo de construção de um projeto
educacional que considerasse a perspectiva
dos trabalhadores do campo. Herdeiro
desse encontro é criado no ano de 1998 o
Programa Nacional de Educação na
Reforma Agrária (Pronera), que se
constituiu como uma política pública de
Educação do Campo, instituída no âmbito
do Ministério do Desenvolvimento Agrário
(MDA) e executada a partir do ano de
2001 pelo Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária (Incra)
(Santos, Molina & Jesus, 2010).
No ano de 2001 é aprovado pelo
Conselho Nacional de Educação (CNE) o
Parecer 36/2001 que, ao se referir à Lei
de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (Lei 9.394/96), propõe medidas
de adequação dos sistemas da escola à vida
no campo. As condições apresentadas
nesse parecer revelam as percepções
históricas que circundam a utilização do
termo Educação Rural, deixando explícita
a concepção de Educação do Campo que,
mesmo
tratada como educação rural na
legislação brasileira, tem um
significado que incorpora os espaços
da floresta, da pecuária, das minas e
da agricultura, mas os ultrapassa ao
acolher em si os espaços pesqueiros,
caiçaras, ribeirinhos e extrativistas. O
campo, nesse sentido, mais do que
um perímetro não-urbano, é um
campo de possibilidades que
dinamizam a ligação dos seres
humanos com a própria produção das
condições da existência social e com
as realizações da sociedade humana
(Brasil, 2001, p. 01).
Esse parecer provocou a
incorporação de argumentos que
contemplam a mudança do termo
Educação Básica do Campo para Educação
do Campo, visto que o direito à educação
abrange desde a educação infantil até o
ensino superior (Caldart, 2013). No ano de
2003, o Ministério da Educação criou,
através da Portaria nº 137 de 03 de junho, o
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 287-312
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
293
Bonavigo, L., & Caimi, F. E. (2018). A Pedagogia da Alternância no contexto da Educação do Campo: a experiência do Instituto
Educar...
Grupo Permanente de Trabalho (GPT) de
Educação do Campo. O GPT, no ano de
2004, publicou um caderno intitulado
Referências para uma Política Nacional de
Educação do Campo, com o objetivo de
expandir as discussões no âmbito político e
social “com vistas à formulação e
implementação de políticas de educação e
de desenvolvimento sustentável do campo”
(Brasil, 2004, p. 5).
Em 2004 também é criada, no âmbito
do Ministério da Educação, a Secadi
i
,
vinculando uma coordenação de Educação
do Campo. No mesmo ano destaca-se,
ainda, a realização da II Conferência
Nacional por uma Educação do Campo,
com o lema “Educação do Campo: direito
nosso, dever do Estado!” Caldart (2013)
ressalta que o encontro contou com um
número expressivo de participantes das
mais diversas instituições e proporcionou
momentos de explanação de projetos e a
organização de entidades para integrar a
Articulação Nacional por uma Educação
do Campo.
No ano de 2007, a Secadi/MEC
publicou um caderno temático que
descreve a trajetória da Educação do
Campo destacando, naquele momento, a
primazia pela inclusão social e pela
diversidade. Os escritos enfatizam que o
ensino para a população camponesa
deveria abranger as diferenças culturais e
sociais e não apenas geográficas, um
pensamento que reflete um histórico de
lutas sociais pelos direitos da população
campesina (Brasil, 2007).
Em 2010 é criado o Fórum Nacional
de Educação do Campo (Fonec), com o
objetivo de exercer
análise crítica constante, severa e
independente acerca de políticas
públicas de Educação do Campo;
bem como a correspondente ação
política com vistas à implantação, à
consolidação e, mesmo, à elaboração
de proposições de políticas públicas
de Educação do Campo (Fonec,
2010, p. 1).
No mesmo ano é estabelecido o
Decreto nº 7.352/2010, que dispõe sobre a
política de Educação do Campo e o
Pronera. Efetiva-se, nesse momento, o
comprometimento da União, em
colaboração com os estados e municípios,
com o desenvolvimento de um regime de
ampliação e qualificação da educação
básica e superior às populações do campo
de acordo com o Plano Nacional de
Educação (PNE 2001-2010) (Brasil, 2010).
O Pronera tem o objetivo de
fortalecer a educação na reforma agrária,
desenvolvendo projetos educacionais com
metodologias voltadas à população do
campo, tendo como princípios a promoção
do desenvolvimento e a ampliação das
condições democráticas a esses cidadãos
(Santos, Molina & Jesus, 2010). O público
alvo dos programas é composto por jovens
e adultos dos projetos de assentamentos
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 287-312
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
294
Bonavigo, L., & Caimi, F. E. (2018). A Pedagogia da Alternância no contexto da Educação do Campo: a experiência do Instituto
Educar...
criados pelo Incra. Conforme dados
disponibilizados por essa instituição
ii
, até
maio de 2016 o Pronera contava com
167.648 mil alunos atendidos pela
Educação de Jovens e Adultos (EJA),
9.116 alunos formados em nível médio,
5.347 alunos graduados em nível superior,
1.765 alunos especialistas em nível de pós-
graduação e 1.527 alunos em Residência
Agrária Nacional (Incra, 2016).
A atuação do Pronera se efetiva por
meio de parcerias das instituições públicas
de ensino, das instituições comunitárias
sem fins lucrativos e dos governos
estaduais e municipais com os movimentos
sociais e sindicais de trabalhadores e
trabalhadoras rurais. Em decorrência de
uma dessas parcerias, no ano de 2005 se
consolida a criação do Instituto Educar,
uma escola do campo fruto da conquista
dos Trabalhadores Rurais Sem Terra,
durante uma caminhada de luta pela
reforma agrária, priorizando as mudanças
estruturais na organização e nas relações
sociais no campo.
De acordo com Caldart (2002), a
Educação do Campo prioriza a diversidade
humana em suas dimensões histórica,
política e social, concebendo o sujeito
como protagonista de sua formação. A
escola, nessa perspectiva, é objeto central
de constantes reflexões, tendo os
educadores papel fundamental na
formulação pedagógica. Conforme o
Decreto nº 7.352/10, são princípios da
Educação do Campo:
I - respeito à diversidade do campo
em seus aspectos sociais, culturais,
ambientais, políticos, econômicos, de
gênero, geracional e de raça e etnia;
II - incentivo à formulação de
projetos político-pedagógicos
específicos para as escolas do campo,
estimulando o desenvolvimento das
unidades escolares como espaços
públicos de investigação e
articulação de experiências e estudos
direcionados para o desenvolvimento
social, economicamente justo e
ambientalmente sustentável, em
articulação com o mundo do
trabalho;
III - desenvolvimento de políticas de
formação de profissionais da
educação para o atendimento da
especificidade das escolas do campo,
considerando-se as condições
concretas da produção e reprodução
social da vida no campo;
IV - valorização da identidade da
escola do campo por meio de
projetos pedagógicos com conteúdos
curriculares e metodologias
adequadas às reais necessidades dos
alunos do campo, bem como
flexibilidade na organização escolar,
incluindo adequação do calendário
escolar às fases do ciclo agrícola e às
condições climáticas;
V - controle social da qualidade da
educação escolar, mediante a efetiva
participação da comunidade e dos
movimentos sociais do campo
(Brasil, 2010, s/p).
Uma educação que se compromete
com a população do campo empenha-se
em fomentar discussões sobre aspectos
trabalhistas e aspectos educacionais, cujo
entendimento não se restringe ao entorno
de uma qualificação para o mercado de
trabalho, mas sim, da preparação ampla
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 287-312
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
295
Bonavigo, L., & Caimi, F. E. (2018). A Pedagogia da Alternância no contexto da Educação do Campo: a experiência do Instituto
Educar...
para a vida. O compromisso é pensar o
trabalho como locus de formação humana,
tendo em vista o educando em interação
com as relações sociais, culturais e
políticas. Trata-se de construir um
processo de formação que não esteja em
consonância apenas com os interesses
capitalistas, mas que seja próximo da
realidade das camadas populares
trabalhadoras do campo (Menezes & Neto,
2009).
A questão pedagógica que se coloca
para a Educação do Campo tenciona a
recuperação do vínculo entre formação
humana e produção material da existência
(Caldart, 2013). Nesse sentido, a
intencionalidade educativa enfatiza
padrões de relações sociais que o
excluem os povos do campo, mas que lhes
garante o direito de pensar a pedagogia
partindo das particularidades de seu
contexto. Caldart (2013) salienta que
pensar os vínculos diante de uma realidade
específica é uma contribuição original da
Educação do Campo, é analisar a relação
“com a produção na especificidade da
agricultura camponesa, da agroecologia; o
trabalho coletivo... Vida humana misturada
com terra... Ciência, tecnologia, cultura,
arte potencializadas como ferramentas de
superação da alienação” (Caldart, 2013, p.
262).
Para a efetivação dos princípios
pedagógicos da Educação do Campo,
algumas experiências vêm sendo
efetivadas e se constroem percorrendo a
mesma caminhada de luta por uma
educação que considere as particularidades
da população camponesa. Destacam-se,
nesse sentido, as seguintes organizações:
as escolas localizadas em assentamentos da
reforma agrária, que se pautam nos estudos
do MST, as CFR e as EFA, que seguem os
princípios europeus da Pedagogia da
Alternância.
A Pedagogia da Alternância como uma
modalidade à Educação do Campo
As primeiras discussões da
Alternância como prática educativa no
mundo emergiram no ano de 1935, na
região Sudeste da França (Estevam, 2001;
Begnami, 2003; Gimonet, 2007; Sobreira
& Silva, 2014). Nos anos de 1930 a Europa
transitava por um contexto trágico, entre as
duas guerras mundiais, e a França, nesse
cenário, buscava sua reconstrução diante
das grandes perdas que levaram à
destruição social e econômica do país. Um
dos setores da economia francesa mais
afetados foi a agricultura que, em
decorrência disso, sofreu com o
desinteresse do Estado, vivendo um
período de grandes dificuldades. Além
desses problemas, o sistema de educação
na França estava direcionado aos contextos
urbanos e o ensino para a população rural
se tornava inacessível. Os indivíduos que
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 287-312
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
296
Bonavigo, L., & Caimi, F. E. (2018). A Pedagogia da Alternância no contexto da Educação do Campo: a experiência do Instituto
Educar...
desejavam estudar precisavam abandonar
suas casas e, tendo em vista que a
sobrevivência das famílias dependia da
agricultura, mudar-se para a cidade
significava a perda de uma mão de obra
fundamental (Estevam, 2001).
Begnami (2003) refere que na França
pós Primeira Guerra Mundial enfrentava-se
um grave êxodo rural, os jovens que
escolhiam ficar no campo não possuíam
formação adequada e aqueles que optavam
por estudar deixavam suas propriedades
para morar nas cidades. O sistema
educacional da França não estava
acolhendo as necessidades do meio rural,
razão pela qual moradores rurais franceses,
insatisfeitos com essa situação, se uniram e
iniciaram um movimento em busca de uma
educação que considerasse os ideais do
campo.
O agricultor Jean Peyrat foi um dos
pioneiros na luta camponesa na França
que, depois de se decepcionar ao ver seu
filho Ives abandonar os estudos ao não se
adaptar à escola urbana optando apenas
pelo trabalho no campo, procura o Padre
Granereau, amigo de movimento social,
para expor suas angústias diante da
situação dos povos rurais. Ambos, o
agricultor e o padre, passam a reunir os
povos rurais difundindo uma idealização
de escola alternativa do campo. Os
pioneiros rapidamente ganharam a adesão
do povo, que se juntou na luta por uma
formação integral, humanista e profissional
direcionada ao campo (Begnami, 2003).
O grupo de agricultores franceses
buscava uma educação organizada, que
atendesse às especificidades dos jovens,
com vistas a uma formação que dialogasse
com os preceitos agrícolas fundamentais
para o desenvolvimento de sua região.
Iniciaram com uma experiência organizada
pelo Padre Granereau, que cedeu um
espaço da própria paróquia para as aulas e
assumiu a responsabilidade de ser o
primeiro monitor. A experiência foi
alcançando resultados significativos, de
modo que alunos, famílias e comunidade
assumiram juntos a tarefa de fortalecer
esse processo. No ano de 1937 essa
experiência se oficializou e as famílias
criaram uma associação. Em 1941
adotaram um estatuto independente e
institucionalizaram a primeira Associação
Maison Familiale de Lauzun (Casa
Familiar de Lauzun). Os resultados
positivos começaram a ganhar força e a se
multiplicar em âmbito nacional, passando a
se denominar Maison Familiale Rurale
(Casa Familiar Rural) os lugares dedicados
ao ensino desses povos (Begnami, 2003).
Diante da necessidade de formação
dos jovens agricultores, as Maisons
francesas buscavam ações educativas que
preparassem para uma formação geral e
técnica, cujo objetivo maior girava em
torno da transformação de sua realidade na
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 287-312
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
297
Bonavigo, L., & Caimi, F. E. (2018). A Pedagogia da Alternância no contexto da Educação do Campo: a experiência do Instituto
Educar...
busca constante de interação entre ação e
reflexão. Decorre, a partir desse momento
histórico, um longo processo de progressos
e retrocessos, uma caminhada de superação
que nunca se findou, mas que, baseada em
atender às necessidades do povo rural, se
reconstruiu conforme as exigências da
sociedade.
É importante ressaltarmos que a
construção pedagógica da Alternância não
se baseou em métodos ou teorias
concretizadas, mas, sobretudo pautou-se
nos interesses dos agricultores e foi se
constituindo conforme os resultados das
primeiras experiências. Assim, foi um
processo mediante o qual os alunos,
famílias e comunidades foram porta-vozes
que
perceberam, escutaram e se
conscientizaram dos problemas, das
necessidades. Questionaram-se,
formularam hipóteses e têm
enunciado soluções ... inventaram,
realizaram, agiram, implementaram,
arriscaram. Uma vez engajada na
ação, observaram, escutaram,
olharam as práticas. Analisaram,
destacaram os componentes do
sistema e os fatores de êxito e de
fracasso ... extraíram ideias,
pensamentos, saberes e
conhecimentos ... para entender
melhor, agir melhor a fim de prestar
um serviço educativo, responder às
necessidades, contribuir para o
desenvolvimento das pessoas e do
meio rural (Gimonet, 2007, p. 27).
Dessa forma, a experiência
pedagógica alternante foi aos poucos
logrando êxitos e se multiplicando pelo
mundo. No caso do Brasil, a Pedagogia da
Alternância surgiu no ano de 1969, no
Espírito Santo e, após essa data, percorreu
um longo caminho até ser reconhecida e
efetivada em diversas experiências
educativas do campo. Esse primeiro
movimento foi influenciado por um padre
vindo da Itália para atuar em uma região
ocupada por descendentes italianos, ao
perceber que essa região poderia se adaptar
a um projeto italiano de seu conhecimento
denominado EFA. Em discussão com a
comunidade, inauguraram no ano de 1968
a primeira EFA do Brasil, no mesmo ano
em que foi criado o Movimento de
Educação Promocional do Espírito Santo
(Mepes), para representar os agricultores
com ações na área da educação, saúde e
ação comunitária. As primeiras
experiências educacionais iniciaram, como
dito, no ano de 1969 e se expandiram
para outros estados, o que possibilitou a
criação da União Nacional das Escolas
Famílias Agrícolas do Brasil (Unefab), que
passou a coordenar as atividades,
defendendo os interesses dos agricultores
(Estevam, 2001).
O sistema adotado pelas EFA
brasileiras manteve o regime de
alternância, caracterizado por uma semana
na escola e uma semana na propriedade,
para os estudantes do ensino fundamental;
e de 15 dias na escola e 15 dias na
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 287-312
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
298
Bonavigo, L., & Caimi, F. E. (2018). A Pedagogia da Alternância no contexto da Educação do Campo: a experiência do Instituto
Educar...
propriedade, para os estudantes do ensino
médio. O principal objetivo das EFA era
de atuar sobre os interesses do homem do
campo e, visto que no momento de sua
consolidação o estado do Espírito Santo
passava por uma crise econômica e social,
buscar uma elevação cultural, social e
econômica do seu povo (Estevam, 2001).
Nos anos de 1980 surge no Brasil
uma segunda experiência, desvinculada das
EFA, que visava à implementação das CFR
na região Nordeste. Esse movimento
contou com influência direta das Maisons
francesas que se voltaram primeiramente a
essa região devido ao momento
educacional que estava vivenciando com o
desenvolvimento de programas realizados
pela Superintendência do Desenvolvimento
do Nordeste (Sudene). No Sul do Brasil, o
processo de implantação das CFR iniciou
no Paraná no ano de 1987 e contou com
um expressivo apoio do governo
paranaense. A institucionalização do
projeto permitiu sua rápida expansão aos
outros estados do Sul e culminou na
criação da Associação Regional das Casas
Familiares Rurais do Sul do Brasil
(Arcafar-Sul), que passou a coordenar os
projetos das CFR (Estevam, 2001).
No Rio Grande do Sul, a primeira
experiência que adotou a Pedagogia da
Alternância como proposta metodológica
ocorreu no norte do estado, mediante a
criação da Casa Familiar Rural Santo
Isidoro (CFRSI), que começou suas
atividades no ano de 2002 no município de
Frederico Westphalen. A CFRSI se
constituiu ligada à Associação Regional
das Casas Familiares Rurais do Rio Grande
do Sul (Arcafar-RS) que é filiada à
Arcafar-Sul. Já, no ano de 2009 foi criada,
no município de Santa Cruz do Sul, a
primeira EFA no Sul do Brasil,
denominada Escola Família Agrícola de
Santa Cruz do Sul (Efasc). Essa se
constituiu ligada à Associação Gaúcha Pró-
Escolas Famílias Agrícolas (Agefa) que é
filiada à União Nacional das Escolas
Famílias Agrícolas do Brasil (Unefab) e à
Associação Internacional dos Movimentos
Familiares de Formação Rural (AIMFR).
Aos poucos, as experiências em
alternância foram sendo divulgadas por
todo o país e ganharam ampla adesão dos
movimentos sociais que lutavam pelo
direito dos pequenos agricultores, tendo o
MST como um forte precursor na luta pela
educação campesina. No processo de sua
construção pedagógica constituíram a
chamada Pedagogia do Movimento, que
tem como um de seus pilares de
sustentação a Alternância. Inspirado nas
experiências produzidas em escolas do
campo, o MST incorpora como preceito
fundamental a integração entre escola,
família, sujeito e comunidade (Kolling,
Vargas & Caldart, 2013).
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 287-312
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
299
Bonavigo, L., & Caimi, F. E. (2018). A Pedagogia da Alternância no contexto da Educação do Campo: a experiência do Instituto
Educar...
A Lei 9.394/96, ao estabelecer as
Diretrizes e Bases da Educação Nacional
aborda, no Artigo 23, a possibilidade de a
educação básica se organizar em “séries
anuais, períodos semestrais, ciclos,
alternância regular de períodos de estudos,
grupos não-seriados, com base na idade, na
competência e em outros critérios, ou por
forma diversa de organização” (Brasil,
1996, s/p). Mediante respaldo legal,
diversas experiências vêm sendo
vivenciadas no Brasil com base na
Pedagogia da Alternância. Nelas, busca-se
manter os objetivos fundantes da
Alternância, que visam articular atividades
escolares e práticas, tendo em vista a
proximidade do aluno com o seu contexto.
No momento, pesquisadores e entidades
sugerem a utilização da terminologia
Centros Familiares de Formação por
Alternância (CEFFA) ao se referirem às
instituições do campo que assumem a
Alternância como práxis pedagógica
(Teixeira, Bernartt & Trindade, 2008).
Expomos, a seguir, a caracterização
da Alternância como prática pedagógica,
assim como seus pressupostos, organização
metodológica, finalidades, métodos e
instrumentos educativos. De imediato,
compreende-se que a proposta pedagógica
da Alternância se elabora a partir do
pressuposto ideológico de que a
experiência vivida é fundamental na
formação dos jovens (Gimonet, 2007). Sua
metodologia se organiza de modo que o
educando passe um período de contato
direto com a escola e outro período de
contato direto com sua comunidade. Todas
as atividades são articuladas através de um
Projeto Político-Pedagógico (PPP), que
vincula “comunidade e escola, projetos e
currículo, realidade social e escola”
(Martins, 2008, p. 103). O PPP da escola
do campo é o documento que norteia as
práticas de gestão e as ações pedagógicas,
cuja construção simboliza a identidade da
escola camponesa.
Como metodologia de organização
escolar, a Pedagogia da Alternância
articula momentos de ensino entre
atividades escolares e atividades
socioprofissionais. Para compreender seus
objetivos, as disciplinas escolares
abrangem temáticas voltadas às
necessidades da sociedade, relacionando a
vida coletiva, o meio ambiente, a formação
profissional, social, política e econômica
com disciplinas básicas (Teixeira, Bernartt
& Trindade, 2008). As instituições de
ensino que se organizam segundo o regime
da Alternância buscam introduzir em seu
currículo outros saberes que estejam de
acordo com o contexto em que se insere a
escola, os educandos e a comunidade.
Gimonet (2007, p. 28) destaca como
finalidades básicas da Alternância “a
formação integral da pessoa, a educação e,
de maneira concomitante, a orientação e a
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 287-312
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
300
Bonavigo, L., & Caimi, F. E. (2018). A Pedagogia da Alternância no contexto da Educação do Campo: a experiência do Instituto
Educar...
inserção socioprofissional”,
fundamentalmente comprometidas com o
desenvolvimento da comunidade onde está
inserido o CEFFA. Desse modo, as
práticas pedagógicas se comprometem com
os educandos, oferecendo-lhes subsídios
para que articulem teoria, técnica e prática,
com vistas à sua formação global,
preparando-os para o acesso a programas,
empregos ou para prosseguir nos estudos.
Os princípios norteadores da
alternância pedagógica se comprometem
com a primazia da experiência. Segundo
Gimonet (2007), os saberes devem
percorrer a vida e a escola, articulando-se
entre espaços de formação que ocorrem em
um processo de três tempos: 1) o meio
familiar e profissional, que permite a
socialização e a observação; 2) o CEFFA
que possibilita a formalização e
estruturação dos saberes teóricos e formais;
e, 3) o meio em que serão aplicados os
saberes a partir de experimentações. O
autor destaca, conforme demonstra-se na
Figura 1, que esses três tempos estão
imbricados e sua sequência caracteriza a
unidade de formação da Pedagogia da
Alternância. Desde a chegada ao CEFFA,
o educando transita entre os três tempos,
socializando e investigando no meio
vivencial, formalizando os saberes no
CEFFA e aplicando-os posteriormente,
sendo que esse processo é contínuo e tem
como propósito viabilizar ao educando a
ligação e interação entre os dois espaços, o
meio vivencial e o CEFFA.
Figura 1: Sequência de alternância ou unidade de formação.
Fonte: Adaptado de Gimonet (2007, p. 30).
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 287-312
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
301
Bonavigo, L., & Caimi, F. E. (2018). A Pedagogia da Alternância no contexto da Educação do Campo: a experiência do Instituto
Educar...
Conforme demonstra Gimonet
(2007), o primeiro contato do educando
com o CEFFA ocorre em um momento de
preparação, no qual ele passa dias
vivenciando as rotinas e adaptando-se a
esse novo meio. A fase preparatória visa
apresentar aos sujeitos os princípios, os
objetivos e os fundamentos pedagógicos da
alternância para que, assim, optem
conscientemente sobre sua permanência ou
não nesse processo formativo. Além do
mais, a fase preparatória possibilita uma
aproximação inicial com o CEFFA, dando
início à sequência de alternância entre
momentos no meio vivencial e momentos
no Centro de Formação, intercalando-se as
vivências com as comunidades e com as
famílias. Essas servem, primeiramente,
para investigar e observar os saberes
experienciais que, após as vivências diretas
nos centros de formação, permitem a
estruturação e a formalização dos saberes
teóricos, serve também para a
concretização prática desses saberes.
Seguindo essa concepção, a
articulação da teoria com a prática se
efetiva em espaços que alternam entre a
escola e a propriedade, comunidade,
assentamento, acampamento ou
movimento social a que o educando se
vincula. As atividades devem primar por
uma formação contínua de inter-relação
entre os três tempos - família, instituição e
comunidade -, obedecendo a um princípio
formativo integral do sujeito. Isso, tendo
em vista a exigência profissional, humana
e social. Todos os envolvidos - educandos,
educadores, famílias e comunidade -,
tornam-se co-formadores, de modo que,
mediante os princípios de cooperação e
ação, os saberes são partilhados e o
educando tem autonomia na construção de
sua formação (Gimonet, 2007).
Para Gimonet (1998), a perspectiva
da formação por Alternância eleva o
educando ao centro do debate, sendo
considerado como um adulto alternante,
ator de sua própria formação. Conforme
demonstra-se na Figura 2, o autor destaca
seis componentes que estão em constante
interação com o jovem alternante que
busca envolver-se com o lugar de sua
experiência, com os sistemas de gestão e
operação pedagógicos, com as ações de
formação do projeto educativo, com todos
os parceiros dos tempos de formação e
com a rede de formadores do conjunto.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 287-312
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
302
Bonavigo, L., & Caimi, F. E. (2018). A Pedagogia da Alternância no contexto da Educação do Campo: a experiência do Instituto
Educar...
Figura 2: Esquema dos componentes em interação na formação por Alternância.
Fonte: Adaptado de Gimonet (1998, p. 2).
Os métodos e os instrumentos
pedagógicos são sistematizados segundo as
condições objetivas encontradas em cada
momento enfrentado pelas instituições e
conforme cada turma de educandos. Com
vistas ao permanente movimento da
formação humana, a metodologia está em
constante construção e faz parte da prática
dos educandos e educadores envolvidos no
processo da Alternância. Tais proposições
evidenciam que a Pedagogia da
Alternância não consiste apenas em um
método pedagógico que alterna Tempo
Escola (TE) e Tempo Comunidade (TC).
Essa é uma condição necessária para a
efetivação desse método, mas não a única.
Sua metodologia de organização enfatiza o
processo de aprendizagem centrado no
educando em ação e em interação com sua
família, sua comunidade e a instituição
formadora.
Os estudos apresentados por
Gimonet (1998; 2007) destacam a
Pedagogia da Alternância como um
construto pedagógico completo,
identificando suas finalidades, objetivos e
instrumentos. Essa arquitetura pedagógica
é encontrada nos CEFFA, que seguem as
definições e propostas do método. No
entanto, atualmente, os princípios da
Alternância como prática educativa podem
ser encontrados não apenas no sentido de
uma pedagogia em si, mas também como
um modelo organizativo em interlocução
com outras metodologias.
Sobreira e Silva (2014) destacam que
além das experiências encontradas nas
Escolas Famílias Agrícolas (EFA) e nas
Casas Familiares Rurais (CFR), existe no
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 287-312
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
303
Bonavigo, L., & Caimi, F. E. (2018). A Pedagogia da Alternância no contexto da Educação do Campo: a experiência do Instituto
Educar...
Brasil uma expansão de práticas
alternantes, que pode ser percebida em
programas governamentais como o
Programa ProJovem Campo Saberes da
Terra, desenvolvido no âmbito do
Ministério da Educação e o Programa
Residência Agrária, desenvolvido no
âmbito do Ministério do Desenvolvimento
Agrário, e, também, em Cursos ligados à
Via Campesina oferecidos pela Fundação
de Desenvolvimento da Pesquisa (Fundep)
ou pelo Instituto Técnico de Capacitação e
Pesquisa da Reforma Agrária (Iterra).
Estas práticas conjugam tempo escola e
tempo comunidade e se consolidam na
interação entre teoria e prática, experiência
e reflexão.
Assim, por ser uma metodologia que
permite o acesso e a permanência da
população do e no campo, a Pedagogia da
Alternância atualmente no Brasil é
assumida pela Educação do Campo e está
inserida em diversos programas e projetos
educacionais, sendo adotada por políticas
setoriais, como as defendidas pelo
Ministério do Desenvolvimento Agrário
(MDA), mediante o Programa Nacional de
Educação na Reforma Agrária (Pronera).
Além disso, de acordo com Hage et al.
(2011), o Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra (MST) tem
fundamentado suas propostas educacionais
utilizando princípios da Pedagogia da
Alternância, como é o caso das escolas
localizadas em assentamentos da reforma
agrária, que seguem os princípios
educativos pautados pelo MST.
Após o reconhecimento de algumas
especificidades da Pedagogia da
Alternância, verificando sua construção
histórica e social, prosseguimos o estudo
com vistas a compreender a Alternância
como uma organização metodológica
educativa. Levando em consideração que
nosso campo investigativo é uma escola
localizada em um assentamento da reforma
agrária, o Instituto Educar, se faz
necessário identificar como a prática
alternante se efetiva nesse espaço.
Salientamos, todavia, que as práticas
alternantes, mesmo não se solidificando
como uma pedagogia, buscam manter o
objetivo norteador da mesma,
proporcionando, assim, aos povos do
campo, uma educação que condiz com suas
necessidades, possibilitando ao sujeito
estudante um contato direto com o seu
meio.
O Instituto Educar: uma conquista dos
trabalhadores rurais
O processo de constituição do
Instituto Educar se efetivou diante de um
contexto histórico de ocupações, embates,
lutas e conquistas resultantes dos conflitos
por terra enfrentados por trabalhadores
rurais. O Instituto Educar está localizado
em um assentamento no norte do estado do
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 287-312
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
304
Bonavigo, L., & Caimi, F. E. (2018). A Pedagogia da Alternância no contexto da Educação do Campo: a experiência do Instituto
Educar...
Rio Grande do Sul, fazendo parte de uma
rota de luta pela terra que se situa próxima
aos municípios de Pontão, Ronda Alta e
Sarandi.
Segundo Benincá (2016), foi nessa
região altamente agrícola que em 1981
surgiu o acampamento dos “Sem-Terra”,
com mais de 600 famílias alojadas ao
longo da estrada, provindas de diversos
municípios da região, descendentes de
imigrantes europeus e de caboclos. A
região ficou reconhecida pela expressão
das lutas de classe, quando os povos
atingidos pela ação dos acampamentos,
“conseguiram operar a transformação de
sua concepção de mundo, depositaram sua
noutra filosofia de ação: a filosofia de
transformação da atual estrutura social”
(Benincá, 2016, p. 200).
Após anos, uma das consequências
da luta consciente dos pequenos
agricultores nessa região foi à criação do
Instituto Educar. Fundado no mês de
janeiro de 2005, esse educandário se
estabeleceu mediante uma parceria com o
Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS-
Campus Sertão) e o Pronera, e vem
atuando mais de dez anos na formação
de jovens e adultos que pertencem a
acampamentos, assentamentos,
reassentamentos e movimentos sociais de
diversas partes do país.
Segundo consta no PPP (Instituto
Educar, 2012), o Instituto Educar se
compromete com a formação profissional
do homem do campo, com a preservação
do meio ambiente e com o
desenvolvimento sustentável dos
assentamentos, pautando-se nos seguintes
objetivos:
a) Promover a ação de capacitação de
agricultores assentados e acampados
nas áreas de Reforma Agrária e de
pequenos agricultores, nas mais
diversas áreas do conhecimento
técnico-científico.
b) Propiciar o acesso à escolarização
em todos os níveis, elevando o grau
de escolarização dos povos do
campo.
c) Estimular desenvolvimento rural e
a melhoria de vida do homem e da
mulher do campo, da infância a
velhice e de suas comunidades.
d) Atuar na defesa, prevenção e
conservação do meio ambiente,
incentivar a agroecologia e promover
a visão sistêmica da produção e o
desenvolvimento sustentável.
e) Apoiar iniciativas relacionadas
com a promoção da reforma Agrária,
de um projeto popular de
desenvolvimento do campo de um
modelo de agricultura que garanta a
soberania alimentar e a vida do povo
no e do campo.
f) Formar agricultores, com
especialização técnica em
agroecologia, que contribuam para a
organização de base dos
trabalhadores e a ampliação de um
novo modelo de agricultura de
desenvolvimento para o campo
brasileiro, em vista da manutenção
do homem e mulher do campo e sua
qualidade de vida (Instituto Educar,
2012, p. 8).
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 287-312
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
305
Bonavigo, L., & Caimi, F. E. (2018). A Pedagogia da Alternância no contexto da Educação do Campo: a experiência do Instituto
Educar...
O Instituto Educar oferece
atualmente dois cursos, sendo um de nível
médio, o Curso Técnico em Agropecuária
com Ênfase em Agroecologia Integrado ao
Ensino Médio, em parceria com o IFRS,
campus Sertão e com o Pronera, e outro,
em nível pós-médio, o Curso Superior em
Agronomia com Ênfase em Agroecologia,
em parceria com a Universidade Federal da
Fronteira Sul e o Pronera.
O Instituto Educar segue
metodologias específicas que podem ser
articuladas de acordo com as demandas
locais, procurando sintonizar as práticas
pedagógicas com os movimentos sociais
representados pelos educandos e suas
famílias. Por isso, descrever sua
metodologia pautando-se apenas em uma
forma peculiar de pedagogia se torna
inviável, devido às diversas articulações
existentes para mobilizar uma formação
participativa, de acordo com as
especificidades de cada sujeito que passa
por esse ambiente.
Tendo em vista que o método
pedagógico do Instituto não é
dogmatizado, pois continua em permanente
mudança seguindo as transições de
pessoal, políticas e sociais, estabelecemos
um vínculo com a equipe pedagógica e de
coordenação que nos apoiou para a
descrição da metodologia que se constitui,
neste momento, como guia das práticas
pedagógicas estabelecidas.
Segundo os colaboradores com quem
travamos esse diálogo inicial, o Instituto
Educar foi uma conquista dos
trabalhadores rurais que buscavam uma
educação digna a seus povos. Como um
feito recente, que completou apenas doze
anos em 2017, as diretrizes organizativas
do Instituto Educar se apoiaram em
experiências de outras escolas
estabelecidas mais tempo, que
demonstravam frutos significativos nos
assentamentos. Segundo a manifestação de
um colaborador, todos os sujeitos
envolvidos com o Instituto Educar são
multiplicadores capazes de contribuir com
o processo de formação dos membros do
coletivo. Ainda, destaca que as ações
realizadas nesse contexto são avaliadas em
reuniões semanais, sendo que
quinzenalmente ocorre o que denominam
leitura do processo, que são encontros de
coordenadores pedagógicos e de turma,
organizados para refletir sobre os
processos metodológicos realizados no
Instituto Educar.
A inserção exploratória no campo
investigado nos proporcionou uma
percepção sobre as singularidades
educativas propostas pelo Instituto Educar.
Constatamos, de fato, que as metodologias
adotadas na instituição não são cópias de
manuais e, tampouco estão fielmente
descritas em livros e periódicos. O Instituto
Educar se organiza em instâncias
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 287-312
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
306
Bonavigo, L., & Caimi, F. E. (2018). A Pedagogia da Alternância no contexto da Educação do Campo: a experiência do Instituto
Educar...
representativas, como uma forma
estratégica de manter a dinâmica e o
funcionamento da Escola. Educandos,
educadores, funcionários e todos que
convivem nesse ambiente são inseridos em
algum núcleo, respondem e se articulam
nessa coletividade. A coletividade primária
é denominada de Núcleo de Base (NB),
que assume a função de “ser a instância de
base do processo de gestão (da escola e do
MST), fazer a formação político-
ideológica, implementar as tarefas
determinadas pelas coletividades maiores”
(Iterra, 2004, p. 46). A divisão dos núcleos
busca integrar todos os educandos, para
isso são cumpridos alguns critérios como:
cada NB deve contar com a participação de
uma representatividade feminina;
os
educandos oriundos da mesma localidade
são distribuídos em diferentes núcleos; os
educandos de um mesmo movimento são
divididos para que cada núcleo conte com
uma representatividade quando possível.
O Instituto Educar defende uma
metodologia pensada pela coletividade, por
acreditar em uma educação para todos e
todas, uma educação das pessoas inseridas
em um conjunto maior. Os processos
educativos do Instituto Educar são
realizados pelos sujeitos que fazem parte
desse coletivo. Nesse contexto, a
organização ocorre mediante um regime de
alternância, no qual cada turma percorre
um ritmo intercalando períodos entre TE,
de permanência e maior influência da
escola e TC, de permanência e maior
influência da comunidade.
O TE ocorre no Instituto Educar e
constitui-se de momentos em que os alunos
têm aulas práticas e teóricas, oficinas,
atividades de campo, capacitações
técnicas, dentre outras ocupações. A
recorrência dos dias é determinada
conforme cada turma, normalmente, são 90
dias consecutivos em que os alunos
vivenciam diariamente processos coletivos
de ensino. Nesse período os alunos ficam
alojados na escola, divididos em quartos
femininos e masculinos e assumem total
responsabilidade pela organização do
ambiente. As atividades são mantidas
diante de uma disciplina organizativa em
que cada educando fica responsável, junto
com o seu coletivo, por manter a ordem de
determinado setor.
Durante o TE, os horários são
definidos semanalmente, podendo ocorrer
aula nos três turnos e também nos finais de
semana. Não uma carga diária pré-
estabelecida, os dias se efetivam no
decorrer de tempos educativos, que são
momentos onde os alunos se dedicam a
determinadas tarefas. Os tempos
educativos visam à organização e à auto-
organização dos educandos, como forma
de alcançar os objetivos almejados.
Podemos descrever os seguintes tempos
para esse período: tempo aula, tempo
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 287-312
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
307
Bonavigo, L., & Caimi, F. E. (2018). A Pedagogia da Alternância no contexto da Educação do Campo: a experiência do Instituto
Educar...
trabalho, tempo formatura (para turmas
finalistas), tempo oficina, tempo leitura,
tempo estudo, tempo cultura, tempo
notícias, tempo reflexão escrita, tempo
educação física, tempo núcleo de base
(NB), tempo verificação de leitura (VL)
(Iterra, 2004).
Normalmente, o dia inicia com o
café da manhã às 6h30min, sendo que até
às 7h30min deve ocorrer a limpeza do
refeitório, a organização dos quartos e a
higiene pessoal. Às 7h40min começa a
motivação, momento no qual todos os
alunos se encontram para iniciar o dia
cantando o hino do MST, com palavras de
ordem e com a mística, em que alguns
alunos (cada dia um grupo diferente) ficam
responsáveis por realizar uma reflexão,
podendo ser sobre questões políticas,
sociais ou culturais atuais, em memória a
grandes personagens, ou de alerta a
situações de indisciplina. Também nesse
momento são referidos em voz alta os
acontecimentos do dia anterior e as
principais notícias. As aulas iniciam às 8h
e se estendem até às 12h, retornando das
14h às 17h, com intervalos para almoço e
lanches. Podem ser intercalados com o
tempo aula, tempos educativos de leitura,
oficina e estudo.
Como uma continuidade do TE
ocorre o TC, período em que os alunos
retornam aos seus assentamentos ou aos
seus movimentos para não se distanciar
dos vínculos com a comunidade. Da
mesma forma que o TE, o TC ocorre em
um período consecutivo, normalmente de
90 dias, em que o educando vai
experimentar, socializar, pesquisar e
exercitar a liderança. Em cada TC o
Instituto Educar orienta atividades
específicas a serem realizadas, que visam
dar continuidade ao processo formativo de
cada educando. Os tempos educativos no
TC dividem-se em: tempo trabalho, tempo
leitura e estudo, tempo formatura, tempo
NB, tempo reflexão escrita, tempo notícias
e tempo cultura. Nesse momento as
maiores influências são dos familiares e
dos movimentos sociais.
O Instituto Educar estabelece, para
cada etapa, algumas “situações de
aprendizagem” a serem desenvolvidas no
decorrer do curso, são outras
possibilidades, além dos tempos
educativos, que devem ser organizadas,
planejadas e preparadas em conjunto. São
consideradas situações de aprendizagem:
seminário de crítica e autocrítica, trabalho
voluntário, contribuição ao Instituto,
participação em eventos, viagens de estudo
ou visitas educativas, semana dos
clássicos, seminários, mostra cultural. As
situações de aprendizagem contemplam os
objetivos e as demandas de cada turma, e
se efetivam ao cumprir uma
intencionalidade pedagógica que leve em
conta o processo educativo em andamento.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 287-312
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
308
Bonavigo, L., & Caimi, F. E. (2018). A Pedagogia da Alternância no contexto da Educação do Campo: a experiência do Instituto
Educar...
Diante do exposto, podemos
perceber que o princípio educativo do
Instituto Educar compreende o educando
como um sujeito que protagoniza o seu
processo formativo. A alternância, os
tempos educativos e as situações de
aprendizagem, atuam como pilares
metodológicos que contribuem para que o
educando exerça esse protagonismo em
seus processos de aprendizagem.
Considerações Finais
Com base na investigação teórica
realizada, identificamos que a Educação do
Campo se efetiva mediante lutas sociais
que buscam os direitos da população do
campo e se consolida como uma educação
que prioriza a diversidade humana em suas
dimensões histórica, política e social ao
conceber o sujeito como protagonista
principal de sua formação. A Pedagogia da
Alternância, por sua vez, se estrutura a
partir das necessidades dos agricultores
como uma prática educativa que busca
atender às peculiaridades e demandas do
povo rural. Atualmente, a Pedagogia da
Alternância é uma modalidade à Educação
do Campo e pode ser utilizada como uma
pedagogia em si ou como uma forma de
organização metodológica.
Em nossa inserção exploratória
constatamos que no Instituto Educar
uma organização metodológica alternante,
que segue o regime da alternância entre
Tempo Escola e Tempo Comunidade e que
prioriza a educação das pessoas inseridas
em uma coletividade. Os processos
educativos do Instituto Educar são
realizados pelos sujeitos que ali vivenciam
e seguem o princípio que compreende o
educando como um sujeito que protagoniza
o seu processo formativo.
O Instituto Educar assim como a
Educação do Campo se constituiu
historicamente mediante lutas sociais que
priorizavam os direitos da população do
campo e, por esse motivo, pauta uma
formação voltada às dimensões histórica,
política e social, na qual o sujeito é visto
como o protagonista de sua formação.
Nesse sentido, a Alternância é utilizada
como uma forma de organização
metodológica visando à experiência vivida
que articula teoria e prática, escola e
comunidade, possibilitando que os jovens
mantenham o vínculo com o campo e,
fundamentalmente, apliquem seus
conhecimentos teóricos em suas
propriedades.
Reconhecemos que esse cenário de
Educação do Campo, com enfoque para a
organização metodológica alternante, tal
como é desenvolvida no Instituto Educar,
garante aos povos do campo os seus
direitos de vivenciar processos educativos
a partir das particularidades de sua cultura.
Mesmo que a prática alternante vivenciada
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 287-312
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
309
Bonavigo, L., & Caimi, F. E. (2018). A Pedagogia da Alternância no contexto da Educação do Campo: a experiência do Instituto
Educar...
nesse espaço não se constitua como uma
pedagogia em si, mantém o objetivo
norteador da mesma proporcionando,
assim, aos povos do campo, uma educação
que condiz com suas necessidades,
possibilitando ao estudante um contato
direto com o seu meio.
Referências
Begnami, J. B. (2003). Formação
pedagógica de monitores das Escolas
Famílias Agrícolas e alternâncias: um
estudo dos processos formativos de cinco
professores (Dissertação de Mestrado).
Universidade Nova de Lisboa e Université
François Rabelais de Tours-França, Minas
Gerais.
Benincá, E. (2016). Conflito Religioso e
Práxis: o conflito religioso na ação
política dos acampamentos de
Encruzilhada Natalino e da Fazenda
Annoni. Passo Fundo, RS: Editora IFIBE.
Brasil. (1996). Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional 9.394/96, de 20 de
dezembro de 1996. Brasília, DF:
MEC/Conselho Nacional de Educação.
Brasil. (2001). Ministério da Educação.
Conselho Nacional de Educação. Parecer
nº. 36, de 4 de dezembro de 2001. Dispõe
sobre Diretrizes Operacionais para a
Educação Básica nas Escolas do Campo.
Recuperado de:
http://pronacampo.mec.gov.br/images/pdf/
mn_parecer_36_de_04_de_dezembro_de_
2001.pdf
Brasil. (2004). Grupo de Trabalho de
Educação do Campo. Referências para
uma política nacional de educação do
campo: caderno de subsídios. Brasília, DF.
Brasil. (2007). Secretaria da Educação
Continuada, Alfabetização e Diversidade.
Cadernos SENAD/MEC. Educação do
campo: diferenças mudando paradigmas.
Brasília, DF. Recuperado de:
http://portal.mec.gov.br/secad/arquivos/pdf
/educacaocampo.pdf
Brasil. (2010). Decreto n. 7.352/10, de 04
de novembro de 2010. Dispõe sobre a
política de educação do campo e o
Programa Nacional de Educação na
Reforma Agrária Pronera. Brasília, DF.
Recuperado de:
http://portal.mec.gov.br/docman/marco-
2012-pdf/10199-8-decreto-7352-de4-de-
novembro-de-2010/file
Caldart, R. S. (2002). Por uma educação do
campo: traços de uma identidade em
construção. In Kolling, J. E., Cerioli, P. R.,
& Caldart, R. S. (Orgs.). Educação do
campo: identidade e políticas públicas (pp.
18-25). Brasília, DF.
Caldart, R. S. (2013). Educação do campo.
In Caldart, R. S. et al. (Org.). Dicionário
da educação do campo (pp. 257-265). Rio
de Janeiro, RJ/São Paulo, SP: Escola
Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio,
Expressão Popular.
Estevam, D. O. (2001). Casa familiar
rural: a formação com base na pedagogia
da alternância em Santa Catarina
(Dissertação de Mestrado). Universidade
Federal de Santa Catarina, Santa Catarina.
FONEC. (2010). Fórum Nacional de
Educação do Campo. Carta de criação do
Fórum Nacional de Educação do Campo.
Brasília, DF.
Gimonet, J. C. (1998). A alternância na
formação: método pedagógico ou novo
sistema educativo? A experiência das
Casas Familiares Rurais. In Demol, J., &
Pilon, J. (Orgs.). Alternance,
developpement personnel et local (pp. 51-
66) Paris: L’Harmattan.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 287-312
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
310
Bonavigo, L., & Caimi, F. E. (2018). A Pedagogia da Alternância no contexto da Educação do Campo: a experiência do Instituto
Educar...
Gimonet, J. C. (2007). Praticar e
compreender a pedagogia da alternância
dos CEFFAs. Petrópolis, RJ: Vozes.
Hage, S. M., Cordeiro, G. N. K., & Reis,
N. S. (2011). Pedagogia da Alternância e
seus desafios para assegurar a formação
humana dos sujeitos e a sustentabilidade
do campo. Em Aberto, 24(85), 115-125.
Recuperado de:
http://emaberto.inep.gov.br/index.php/ema
berto/article/view/2489
INCRA. (2016). Homepage. Recuperado
de:
http://www.incra.gov.br/educacao_pronera
Instituto Educar. (2012). Projeto
pedagógico do curso técnico em
agropecuária integrado ao ensino médio-
Santos, C. A., Molina, M. C., & Jesus, S.
(Orgs.). (2010). Memória e história do
Pronera: contribuições para a educação
do campo no Brasil. Brasília, DF:
Ministério do Desenvolvimento Agrário.
Sobreira, M., & Silva, L. (2014). Vida e
construção do conhecimento na pedagogia
da alternância. Revista Eletrônica de
Educação, 8(2), 212-227. DOI:
http://dx.doi.org/10.14244/19827199915
Teixeira, E., Bernartt, M., & Trindade, G.
(2008). Estudos sobre a pedagogia da
alternância no Brasil: revisão de literatura
e perspectivas para a pesquisa. Educação e
Pesquisa, 34(2), 227-242. Recuperado de:
http://www.scielo.br/pdf/ep/v34n2/02.pdf
Polo Pontão. IFRS: Sertão.
i
No ano de 2016, em razão de uma reestruturação
ITERRA. (2004). Instituto de Educação
Josué de Castro. Método pedagógico.
Veranópolis, RS.
Kolling, E. J., Vargas, M. C., & Caldart, R.
S. (2013). MST e Educação. In Caldart, R.
S. et al. (Orgs.). Dicionário da educação
do campo (pp. 500-507). Rio de Janeiro,
RJ/São Paulo, SP: Escola Politécnica de
Saúde Joaquim Venâncio, Expressão
Popular.
Martins, F. J. (2008). Organização do
trabalho pedagógico e Educação do
Campo. Revista Educação, 33(1), 93-106.
Recuperado
de: https://periodicos.ufsm.br/reveducacao/
article/view/21/pdf
ministerial, a Secadi foi extinta, causando
desconforto à comunidade que defende a
representatividade da mesma na educação de
direitos humanos, no âmbito da cidadania, inclusão
e combate às desigualdades.
ii
Esses dados estão disponíveis publicamente no
site do Incra, no item Pronera Educação.
Disponível em:
<http://www.incra.gov.br/educacao_pronera>.
Acesso em 12 mai. 2016.
Recebido em: 02/02/2018
Aprovado em: 23/02/2018
Publicado em: 24/04/2018
Menezes Neto, A. J. (2009). Formação de
professores para a educação do campo:
projetos sociais em disputa. In Martins, A.,
& Rocha, M. (Orgs.). Educação do campo:
desafios para a formação de professores
(pp. 25-38). Belo Horizonte, MG:
Autêntica.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 287-312
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
311
Bonavigo, L., & Caimi, F. E. (2018). A Pedagogia da Alternância no contexto da Educação do Campo: a experiência do Instituto
Educar...
ORCID
Luana Bonavigo
http://orcid.org/0000-0002-3323-1708
Flávia Eloisa Caimi
http://orcid.org/0000-0001-5509-6060
Declaramos que as autoras Luana Bonavigo e
Flávia Eloisa Caimi foram responsáveis pela
elaboração, análise e interpretação dos dados, pela
escrita e revisão do conteúdo do manuscrito. As
autoras também foram responsáveis pela aprovação
da versão final a ser publicada.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 287-312
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
312
Como citar este artigo
/
How to cite this article
/
Como citar este artículo:
APA:
Bonavigo, L., & Caimi, F. E. (2018). A Pedagogia da
Alternância no contexto da Educação do Campo: a
experiência do Instituto Educar. Rev. Bras. Educ.
Camp., 3(1), 287-312.
ABNT:
BONAVIGO, L.; CAIMI, F. E. A Pedagogia da
Alternância no contexto da Educação do Campo: a
experiência do Instituto Educar. Rev. Bras. Educ.
Camp., Tocantinópolis, v. 3, n. 1, p. 287-312,
2018.
Revista Brasileira de Educação do Campo
The Brazilian Scientific Journal of Rural Education
A
RTIG
O
/
A
RTICLE
/
A
R
C
ULO
DO
I:
h
tt
p
:/
/
d
x.d
o
i.
o
r
g/
10.20
873/
u
ft.2525
-4863.2018v3
n
1p
313
Apontamentos sobre a Educação do Campo em Colorado
do Oeste/Rondônia: notas de um camponês letrado
William Kennedy do Amaral Souza
1
, Raiane Agustinho Lopes
2
, Vanessa Campos de Moraes
3
, Marcos Antonio
Oliveira Rodrigues
4
1
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia - IFRO. Departamento de Ensino. BR 435,
km 63. Zona Rural. Colorado do Oeste - RO. Brasil. william.souza@ifro.edu.br.
2
Universidade Federal de Santa
Catarina - UFSC.
3
Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT.
4
Universidade Federal de Mato Grosso -
UFMT
RESUMO. Este trabalho abordará as inquietações sobre a
dicotomia existente entre Educação no Campo e Educação do
Campo. A partir da leitura de referencial teórico, decidimos
confrontar o que conhecemos do sistema educacional brasileiro,
com a realidade por nós vivenciada e, além disso, confrontar o
discurso oficial de educação plural com o desejo e a necessidade
de movimentos sociais por uma educação mais digna. O
movimento social escolhido para a nossa análise foi o
Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), por ser um
movimento de amplo alcance e respaldo em nossa região. Para
isso elegemos uma pessoa integrante do movimento para a
realização de uma entrevista semiestruturada. O entrevistado é
graduado em um curso diretamente envolvido com a Educação o
que também lhe embasamento teórico para discorrer sobre tal
temática. De acordo com os dados coletados, as pessoas do
MPA acreditam em um sistema educacional melhor e, essa
melhora passa pelo diálogo entre Estado e Movimentos Sociais.
No caso do MPA, esse diálogo tem como ideia central a
valorização da cultura camponesa dentro do ambiente escolar e,
a garantia da manutenção das escolas do campo, assim, pode
ajudar a diminuir o êxodo rural e, consequentemente melhorar a
qualidade de vida.
Palavras-chave: Educação do Campo, Movimento Social,
Sistema Educacional.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 313-332
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
313
Souza, W. K. A., Lopes, R. A., Moraes, V. C., & Rodrigues, M. A. O. (2018). Apontamentos sobre a Educação do Campo
em Colorado do Oeste/Rondônia: notas de um camponês letrado...
Notes on Rural Education in Colorado do Oeste/Rondônia:
notes of a literate peasant
ABSTRACT. This paper will address concerns about the
dichotomy between Education in the countryside and Rural
Education. Based on the theoretical reference reading, we
decided to confront what we know of the Brazilian educational
system, with the reality we experienced and, in addition, to
confront the official discourse of plural education with the desire
and need of social movements for a more dignified education.
The social movement chosen for our analysis was the Small
Farmers' Movement (MPA), as it is a movement of wide reach
and support in our region. For this we elect a person who is part
of the movement to carry out a semi-structured interview. The
interviewee is graduated in a course directly involved with
Education which also gives him theoretical background to
discuss this topic. According to the data collected the people of
the MPA believe in a better educational system, and this
improvement goes through the dialogue between the State and
Social Movements. In the case of the MPA, this dialogue has as
its central idea the valorization of the peasant culture within the
school environment and, the guarantee of the maintenance of the
rural schools can thus help to reduce the rural exodus and
consequently to improve the quality of life.
Keywords: Rural Education, Social Movement, Educational
System.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 313-332
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
314
Souza, W. K. A., Lopes, R. A., Moraes, V. C., & Rodrigues, M. A. O. (2018). Apontamentos sobre a Educação do Campo
em Colorado do Oeste/Rondônia: notas de um camponês letrado...
Apuntes sobre la Educación del Campo en Colorado do
Oeste/Rondônia: notas de un campesino letrado
RESUMEN. Este trabajo abordará las inquietudes sobre la
dicotomía existente entre Educación en el Campo y Educación
del Campo. A partir de la lectura de referencial teórico,
decidimos confrontar lo que conocemos del sistema educativo
brasileño, con la realidad por nosotros vivida y, además,
confrontar el discurso oficial de educación plural con el deseo y
la necesidad de movimientos sociales por una educación más
digna. El movimiento social elegido para nuestro análisis fue el
Movimiento de los Pequeños Agricultores (MPA), por ser un
movimiento de amplio alcance y respaldo en nuestra región.
Para ello elegimos a una persona integrante del movimiento para
la realización de una entrevista semiestructurada. El entrevistado
es graduado en un curso directamente involucrado con la
Educación lo que también le da basamento teórico para discurrir
sobre tal temática. De acuerdo con los datos recogidos las
personas del MPA creen en un sistema educativo mejor y, esa
mejora pasa por el diálogo entre Estado y Movimientos
Sociales. En el caso del MPA, ese diálogo tiene como idea
central la valorización de la cultura campesina dentro del
ambiente escolar y, la garantía del mantenimiento de las
escuelas del campo, así, puede ayudar a disminuir el éxodo rural
y, consecuentemente, mejorar la calidad de vida.
Palabras clave: Educación del Campo, Movimiento Social,
Sistema Educativo.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 313-332
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
315
Souza, W. K. A., Lopes, R. A., Moraes, V. C., & Rodrigues, M. A. O. (2018). Apontamentos sobre a Educação do Campo
em Colorado do Oeste/Rondônia: notas de um camponês letrado...
Introdução
O Brasil possui uma grande área
territorial e uma enorme diversidade
cultural. Com uma diversidade de povos e
referências culturais dentro da nação, cada
região segue determinadas tradições. Isso
nos leva a pensar que, embora estando em
um modelo nacional, o sistema
educacional pode respeitar e adaptar-se às
especificidades de cada região,
possibilitando que a educação realizada na
região Sudeste possa ser ligeiramente
diferente da oferecida na região Norte, por
exemplo. Então, se a educação se
diferencia de uma região para a outra pelas
diversidades culturais logo, a Educação do
Campo precisa ser uma educação que traga
aspectos diferentes da educação ofertada
na cidade, pois o povo do campo vive
cultura e costumes diferentes. Isso está
preconizado na Lei 9.394, de 20 de
dezembro de 1996, que estabelece as
Diretrizes de Bases da Educação Nacional
(Brasil, 1996), lei essa que o Senado
Federal há pouco tempo lançou uma edição
impressa atualizada. O artigo 28 da
referida lei diz:
Na oferta de educação básica para a
população rural, os sistemas de
ensino promoverão as adaptações
necessárias à sua adequação às
peculiaridades da vida rural e de cada
região, especialmente:
I conteúdos curriculares e
metodologias apropriadas às reais
necessidades e interesses dos alunos
da zona rural;
II organização escolar própria,
incluindo adequação do calendário
escolar às fases do ciclo agrícola e às
condições climáticas;
III adequação à natureza do
trabalho na zona rural. (Brasil, 1996,
p. 21).
O campo é caracterizado por suas
especificidades, costumes, tradições, quase
sempre distintos da cidade. Logo, a
educação ofertada para os trabalhadores
que estão no campo precisa atender toda a
sua diversidade. A conceituação do termo
Educação do Campo abrange toda essa
diversidade cultural, a qual pode se
caracterizar como um movimento
constituído pelos sujeitos sociais que
integram as realidades camponesas, e que
almejam vincular o processo de vida no
campo com os pressupostos educacionais
aliando assim escola e vida, os
pressupostos da cotidianidade camponesa e
os métodos educativos formais. Segundo
Caldart,
A Educação do Campo nomeia um
fenômeno da realidade brasileira
atual, protagonizado pelos
trabalhadores do campo e suas
organizações, que visa incidir sobre a
política de educação desde os
interesses sociais das comunidades
camponesas. Objetivo e sujeitos a
remetem às questões do trabalho, da
cultura, do conhecimento e das lutas
sociais dos camponeses e ao embate
(de classe) entre projetos de campo e
entre lógicas de agricultura que têm
implicações no projeto de país e de
sociedade e nas concepções de
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 313-332
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
316
Souza, W. K. A., Lopes, R. A., Moraes, V. C., & Rodrigues, M. A. O. (2018). Apontamentos sobre a Educação do Campo
em Colorado do Oeste/Rondônia: notas de um camponês letrado...
política pública, de educação e de
formação humana. (Caldart, 2012, p.
259).
É de vital importância pensarmos o
quanto o embate entre os projetos para o
campo brasileiro reflete em modelos para o
sistema educacional. Na lógica da
Revolução Verde e do modelo
agroexportador, o campo deve ser
minimamente povoado. População essa
que deve estar diretamente envolvida com
as tarefas do agronegócio, trabalhando
dentro dos grandes latifúndios de
monocultura. Isso requer a expulsão das
populações campesinas, entre elas,
indígenas, quilombolas, ribeirinhos e
demais povos que praticam uma
agricultura que tem a natureza como
parceira e não como inimiga. Na lógica dos
movimentos sociais, o campo deve ser
lugar da mais ampla diversidade de povos,
fazendo diferentes formas de agricultura.
Quando nos referimos à Educação do
Campo estamos nos referindo a uma
educação que atender os anseios da
população camponesa e não apenas levar o
sistema educacional para o campo:
Utilizar-se-á a expressão campo, e
não a mais usual, meio rural, com o
objetivo de incluir no processo da
conferência uma reflexão sobre o
sentido atual do trabalho camponês e
das lutas sociais e culturais dos
grupos que hoje tentam garantir a
sobrevivência desse trabalho. Mas,
quando se discutir a Educação do
Campo, se estará tratando da
educação que se volta ao conjunto
dos trabalhadores e das trabalhadoras
do campo, sejam os camponeses,
incluindo os quilombolas, sejam as
nações indígenas, sejam os diversos
tipos de assalariados vinculados à
vida e ao trabalho no meio rural.
Embora com essa preocupação mais
ampla, uma preocupação especial
com o resgate do conceito de
camponês. Um conceito histórico e
político. (Kolling, Nery & Molina,
1999, p. 26).
A ideia de Educação do Campo é um
avanço para a ideia de Educação Rural,
porque essa ideia não se resume em levar a
educação, ela necessita de fazer-se
literalmente em contato com os
trabalhadores que ela se destina. Se antes
pensávamos que “o destinatário da
educação rural é a população agrícola
constituída por todas aquelas pessoas para
as quais a agricultura representa o principal
meio de sustento” (Petty, Tombim & Vera,
1981, p. 33), agora dizemos que “a
Educação do Campo projeta futuro quando
recupera o vínculo essencial entre
formação humana e produção material da
existência, quando concebe a
intencionalidade educativa na direção de
novos padrões de relações sociais”
(Caldart, 2012, p. 265). Esse vínculo
essencial aparece nas Teses sobre
Feuerbach
i
, onde Marx (com a colaboração
fundamental de Engels que as editou pela
primeira vez) destaca a centralidade da
atividade humana, da práxis como relação
indissociável entre teoria e prática e
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 313-332
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
317
Souza, W. K. A., Lopes, R. A., Moraes, V. C., & Rodrigues, M. A. O. (2018). Apontamentos sobre a Educação do Campo
em Colorado do Oeste/Rondônia: notas de um camponês letrado...
constitutivo central do processo de
humanização, como prática criadora e
transformadora de uma nova realidade
social. Nesse aspecto Marx sublinha que
toda vida social é essencialmente prática.
Parece-nos que recuperar o vínculo
essencial não tem sido a intenção do
sistema educacional brasileiro e, muito
menos, da educação oferecida aos
trabalhadores do campo. Nos lugares onde
ainda existem escolas no campo, que estão
sob constantes ataques para que se efetue o
seu desmonte, é oferecida a mesma
educação que acontece na área urbana, o
que contraria a própria LDB. Efetivamente
é a separação, a distinção da Educação do
Campo para a Educação no Campo.
Em busca de maior conhecimento
desta problemática, resolvemos indagar ao
movimento social de maior expressão em
nossa região, qual a concepção de
Educação do Campo, quais os entraves do
sistema educacional no meio rural e quais
as alternativas para a melhoria desse
sistema. O movimento social mais atuante
em nossa região é o Movimento dos
Pequenos Agricultores (MPA), que é um
movimento da luta pela terra e pela
Educação do Campo. Está representado em
todo o Brasil e é expressivo na região de
Colorado do Oeste, estado de Rondônia.
O interesse é saber a importância da
Educação do Campo para estes
trabalhadores e, em que medida o
movimento considera este tema importante
para a sociedade em geral. Pois
acreditamos que o campo e a cidade
formam um conjunto, não existe a
dicotomia campo/cidade. Essa
concorrência entre o rural e o urbano é
algo criado a partir de interesses humanos.
Raymond Williams nos diz que ao
contrário de dicotomia, existe uma ligação
entre esses termos. Nas palavras dele:
Na longa história das comunidades
humanas, sempre esteve bem
evidente esta ligação entre a terra da
qual todos nós, direta ou
indiretamente, extraímos nossa
subsistência, e as realizações da
sociedade humana. E uma dessas
realizações é a cidade. (Williams,
1989, p. 11).
O problema reside nos interesses
humanos em criar essa diferenciação e
hierarquização entre o campo e a cidade.
Ainda é Williams quem nos explica que:
O campo passou a ser associado a
uma forma natural de vida paz,
inocência e virtudes simples. À
cidade associou-se a ideia de centro
de realizações de saber,
comunicações, luz. Também
constelaram-se poderosas
associações negativas: a cidade como
lugar do barulho, mundanidade e
ambição; o campo como lugar do
atraso, ignorância e limitação.
(Williams, 1989, p. 11).
Reparem que o jogo de palavras, os
adjetivos usados servem para qualificar de
maneira pejorativa o campo. Quando
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 313-332
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
318
Souza, W. K. A., Lopes, R. A., Moraes, V. C., & Rodrigues, M. A. O. (2018). Apontamentos sobre a Educação do Campo
em Colorado do Oeste/Rondônia: notas de um camponês letrado...
estipulamos que o campo é “lugar de
atraso, ignorância e limitação” estamos
incentivando o êxodo rural, pois ninguém
quer ser “atrasado”, ao passo que ser
“ambicioso” não é visto necessariamente
como algo tão mau em nossa sociedade.
A realidade do grupo de camponeses
brasileiros organizados em movimentos
sociais é distinta de muitos brasileiros.
Esses trabalhadores lutam por objetivos
que abrangem toda a classe trabalhadora
do país, entre os quais podemos citar as
lutas por menor desigualdade social; pela
conservação das tradições culturais; pela
preservação do meio ambiente; pelo
desinchaço dos grandes centros urbanos;
pela produção de alimentos de qualidade,
sem agrotóxicos e; por boas condições para
manterem seus filhos no campo, o que
envolve diretamente o sistema educacional.
Para Martins (2009), a sugestão da
Educação do Campo para os camponeses
não é simplesmente pedagógica, ela busca
relacionar escola e vida e deseja à
veiculação de uma determinada concepção
de campo, qual seja um lugar de vida.
Atentos ao Decreto 7.352, de 4 de
novembro de 2010, o qual nos diz que o
sujeito deve ser educado dentro de suas
características culturais e de vida,
investigamos o que o Movimento dos
Pequenos Agricultores (MPA) de Colorado
do Oeste Rondônia, cidade do interior do
Estado localizada a 759 km da Capital,
Porto Velho, através de uma de suas
lideranças, pensa sobre a Educação do
Campo e de que maneira eles querem essa
educação.
Formado no final de 1997 com o fim
do departamento rural da Central Única
dos Trabalhadores (CUT), e com a crise do
movimento sindical que, após cumprir
importante papel na luta camponesa se viu
enredado na burocracia estatal, o MPA é:
... um movimento camponês, de
caráter nacional e popular, de massa,
autônomo e de luta permanente,
constituído por grupos de famílias
camponesas. Seu principal objetivo é
a produção de comida saudável para
as próprias famílias e também para
todo o povo brasileiro, garantindo
assim, a soberania alimentar do país.
Além disso, busca o resgate da
identidade e da cultura camponesa,
respeitando as diversidades regionais.
(MPA, 2017).
Hoje, o MPA está organizado em 17
estados e tem avançado na elaboração
sobre o Campesinato e sobre o que
denomina Plano Camponês, que é um
plano a partir do campo para a sociedade
brasileira como um todo e tem base em
dois pilares: 1) condições para produzir e;
2) condições para viver bem no campo. E
viver bem no campo também passa por
uma educação de qualidade que para o
MPA significa uma Educação do Campo.
Optamos por uma entrevista do tipo
semiestruturada, na qual o entrevistador
segue um roteiro estabelecido e o efetua
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 313-332
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
319
Souza, W. K. A., Lopes, R. A., Moraes, V. C., & Rodrigues, M. A. O. (2018). Apontamentos sobre a Educação do Campo
em Colorado do Oeste/Rondônia: notas de um camponês letrado...
com indivíduos selecionados de acordo
com alguns critérios, que no caso era o fato
de ser um representante do Movimento dos
Pequenos Agricultores de Colorado do
Oeste. Este tipo de entrevista acontece
diante de uma relação de questões fixas,
assim a entrevista acontecerá de maneira
igualitária para todos os entrevistados (Gil,
1999. p. 121).
Por isso, consideramos proveitoso
dialogar com alguém envolvido
diretamente com a vida no campo sobre as
questões que envolvem esse modo de vida
e, sobretudo, o ideal de educação que o
MPA tem para os trabalhadores que estão
no campo. O entrevistado é Luiz e, como
foi dito anteriormente, é uma das
lideranças do MPA em Rondônia.
Formado em Pedagogia da Terra, pela
Universidade Federal de Rondônia
(UNIR), Luiz também esteve na Venezuela
em 2010 e 2011 ajudando na construção do
Instituto Latino-Americano de
Agroecologia, onde participava da
coordenação político- pedagógica.
O representante da população
camponesa foi indagado sobre diversos
temas, sendo que a ênfase recaiu no ideal
de educação que o movimento quer para os
jovens camponeses, e para os produtores
rurais da região, e a participação da
comunidade camponesa na educação
escolar desses jovens.
Perguntas da curiosidade e respostas de
quem enxerga as necessidades
A princípio foi direcionada uma
pergunta sobre a situação do Programa de
Ensino Médio no Campo de Rondônia
(PROEMCRO) hoje nas escolas rurais, e o
representante do MPA nos diz que: “O
PROEMCRO está sendo lecionado em
nossas escolas rurais da mesma forma que
é lecionado na cidade e isso não é o que
queremos, pedimos uma educação que
atenda às nossas necessidades.” Esse é o
indício de que os movimentos sociais têm
uma concepção formada para essa
diferenciação. Sabemos que os
movimentos sociais, sobretudo os
movimentos do campo, buscam a
construção de um modelo pedagógico que
aproveite a experiência dos trabalhadores
envolvidos e que traga exemplos de
atividades que tenham nexos com a
realidade desses trabalhadores. Sabemos
que é preciso mais estudo, mas, arriscamos
a dizer que os movimentos do campo
implementam modelos educacionais tendo
como base um misto entre as ideias de
Paulo Freire e Moisey M. Pistrak, o que,
no nosso entendimento é algo muito
valioso.
Martins (2009) nos fala que a
Educação do Campo busca relacionar
escola e vida, até mesmo se deseja a
veiculação de uma apontada concepção de
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 313-332
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
320
Souza, W. K. A., Lopes, R. A., Moraes, V. C., & Rodrigues, M. A. O. (2018). Apontamentos sobre a Educação do Campo
em Colorado do Oeste/Rondônia: notas de um camponês letrado...
campo, na qual esse seja um lugar de vida,
sendo um local propício a uma vida rica
em cultura e tradições.
O MPA
ii
também foi questionado se
a Educação do Campo pode ajudar a
diminuir a criminalidade nos grandes
centros urbanos, e a resposta é positiva.
Para Luiz:
Com certeza, ela vai ajudar a fixar o
homem no campo fazendo com que o
êxodo rural diminua e isso diminuirá
a criminalidade, mas do jeito que se
encontra a Educação do Campo, está
é estimulando os jovens a irem para a
cidade. (Luiz, 2017).
Nesse questionamento o MPA faz
uma reflexão muito interessante, ele nos
diz que:
O jovem sente-se estimulado a ir para
a cidade, pois a propaganda é que
eles encontrarão um bom serviço,
lazer e qualidade de vida. Porém
quando chegam a realidade é
totalmente diferente, muitas vezes
acabam sem emprego nas ruas e
ficando vulneráveis a entrar para o
mundo da criminalidade. (Luiz,
2017).
Em um mundo em que a propaganda
estimula o consumo desenfreado, a cidade
também faz a sua propaganda. As levas de
jovens trabalhadores rurais que partem
para os centros urbanos serão parte do
exército de reserva e poderão garantir mão
de obra barata para as indústrias
capitalistas. Esse processo de cerceamento
das condições de vida do homem do campo
- processo esse que se inicia na Inglaterra
nos primórdios da Revolução Industrial -,
faz com que a massa de trabalhadores fique
a mercê das vontades capitalistas. Com
essa reflexão é possível retornar um pouco
em nossa entrevista e lembrar a ligação da
cidade com o campo, pois a partir dessas
palavras pode ser entendido que o homem
do campo precisa manter-se em seu local
de origem, porém recebendo toda a
assistência necessária: educação, saúde,
lazer, etc. O Estado tem-se furtado a sua
tarefa de prover condições igualitárias a
todos os cidadãos. Parte dos trabalhadores
do campo insiste em ficar no campo -
mesmo com as dificuldades impostas pela
lógica capitalista - pois ali estão suas
raízes, seus costumes e é nesse ambiente
que eles encontram em sua perspectiva,
conforto, tranquilidade, segurança e maior
qualidade vida. Nesse espaço, costuma-se
ter um melhor uso dos conceitos de
solidariedade e reciprocidade, porque
Na comunidade o espaço da festa,
do jogo, da religiosidade, do esporte,
da organização, da solução dos
conflitos, das expressões culturais,
das datas significativas, do
aprendizado comum, da troca de
experiências, da expressão da
diversidade, da política e da gestão
do poder, da celebração da vida
(aniversários) e da convivência com a
morte (ritualidade dos funerais).
Tudo adquire significado e todos têm
importância na comunidade
camponesa. Nas comunidades
camponesas as individualidades têm
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 313-332
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
321
Souza, W. K. A., Lopes, R. A., Moraes, V. C., & Rodrigues, M. A. O. (2018). Apontamentos sobre a Educação do Campo
em Colorado do Oeste/Rondônia: notas de um camponês letrado...
espaço. As que contrastam com o
senso comum encontram meios de
influir. Os discretos são notados. Não
anonimato na comunidade
camponesa. Todos se conhecem. As
relações de parentesco e vizinhança
adquirem um papel determinante nas
relações sociais do mundo camponês.
Nisto se distingue profundamente das
culturas urbanas e suas mais variadas
formas de expressão. (Görgen, 2009,
p. 5).
Outro ponto importante da entrevista
é a visão que o MPA tem para o processo
pedagógico. Quando Luiz foi questionado
como os professores deveriam trabalhar
determinadas disciplinas, como: Geografia,
Português, Matemática, História, entre
outras, ele logo nos diz que:
Primeiro a educação precisa
atravessar as quatro paredes, o campo
é rico em locais para lecionar uma
aula diferenciada, porém os
professores insistem em se limitarem
entre quatro paredes. Podem
construir uma horta com os alunos,
com isso eles irão trabalhar a escrita
para elaborar o projeto, a matemática
para desenvolver os cálculos
necessários, metros quadrados,
espaçamento de sementes, quantos
reais serão gastos; dentro da
geografia pode-se trabalhar o solo, o
clima; em história pode se
trabalhar as tradições dos
camponeses e até mesmo realizar
feiras para divulgar as tradições.
(Luiz, 2017).
De certo modo, é uma proposta
pedagógica que se assemelha ao ideal
freiriano de uma participação ativa dos
trabalhadores no processo educacional, a
partir da sua própria realidade. Ou como
propõe Delizoicov, Angotti e Pernambuco
(2003) que, a partir das ideias do próprio
Paulo Freire indicam como estratégia a
Experimentação Problematizadora, que
tem como característica central a
participação dos educandos em todas as
fases do processo de aprendizagem. Essa
proposta pedagógica é dividida em três
momentos pedagógicos, quais sejam (i)
situação problema (problematização); (ii)
organização do conteúdo; e (iii) aplicação
do conhecimento. O primeiro momento,
situação problema, se caracteriza em
iniciar a aula mediante um problema que
coloque os alunos em contexto e, permita a
eles levantarem hipóteses sobre o
determinado problema. No segundo
momento os alunos, juntamente com o
professor, organizam os conhecimentos
fazendo anotações e dialogando. no
último momento os alunos apresentam suas
hipóteses e o resultado, tendo a intervenção
do professor para orientar os alunos a
compreenderem o fenômeno científico.
O que vai de encontro com as
propostas de Pistrak, que no clássico
Fundamentos da Escola do Trabalho
(2011), advoga que a escola que fará a
transformação social precisa ser
transformada e para isso, não basta alterar
os conteúdos nela ensinados. É preciso
mudar o jeito da escola, suas práticas e sua
estrutura de organização e funcionamento,
tornando-a coerente com os novos
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 313-332
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
322
Souza, W. K. A., Lopes, R. A., Moraes, V. C., & Rodrigues, M. A. O. (2018). Apontamentos sobre a Educação do Campo
em Colorado do Oeste/Rondônia: notas de um camponês letrado...
objetivos de formação de cidadãos,
capazes de participar ativamente do
processo de construção da nova sociedade.
Sabendo disso, o MPA luta por uma
educação no campo, porém do campo.
Kolling, Cerioli e Caldart (2002)
conceituando a Educação no Campo dizem
que “o povo tem direito a ser educado no
lugar onde vive”. E vão além dizendo que
para a Educação do Campo se efetivar o
povo camponês deve participar.
O povo tem direito a uma educação
pensada desde o seu lugar e com sua
participação, vinculada à sua cultura
e às suas necessidades humanas e
sociais, assumida na perspectiva de
continuação da luta histórica pela
constituição da educação como um
direito universal, que não deve ser
tratada nem como serviço nem como
política compensatória e muito
menos como mercadoria. (Kolling,
Cerioli & Caldart, 2002, p. 26).
Os autores que defendem a luta dos
camponeses mostram que não basta ter
uma escola no campo, mas é necessário
que a educação aconteça mediante o modo
que vivem esses trabalhadores, para que
essa educação consiga atender as
necessidades desses trabalhadores sem
desvalorizar seus costumes e tradições.
Para Ausubel, Novak e Hanesian
(1978) a aprendizagem apresenta duas
extremidades, em um lado a aprendizagem
mecânica (decoração), sendo a que o
estudante arquiva conceitos avulsos e
carentes de significado. Já do outro lado
existe a aprendizagem significativa, na
qual novos conhecimentos (conceitos) são
conectados a conhecimento prontamente
existente na estrutura cognitiva do
aprendiz, de um modo substantivo e não
arbitrário. Por isso, o historiador inglês
Edward Palmer Thompson sugere que
devemos aproveitar a experiência dos
indivíduos para desenvolver outras
racionalidades educativas, que buscam a
valorização humana e não do capital.
Corroborando com Gramsci, ele afirma:
Pois Gramsci também insistia que
essa filosofia não era apenas a
apropriação de um indivíduo, mas
provinha de experiências
compartilhadas no trabalho e nas
relações sociais, estando implícita na
realidade, unindo-o a todos os
companheiros de trabalho na
transformação prática do mundo real
(Thompson, 1998, p. 20).
A experiência pode ampliar a visão
de mundo dos trabalhadores e é um
conceito central para a conscientização das
pessoas. E a experiência vem, sobretudo,
do trabalho, apesar de se reduzir a
dimensão educativa do trabalho à sua
função instrumental didático-pedagógica,
ou seja, aprender fazendo. Sem
desconsiderar essa dimensão, o que marca
a concepção do trabalho como princípio
educativo é a ordem ontológica (inerente
ao ser humano) e, consequentemente,
ético-política (trabalho como direito e
como dever).
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 313-332
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
323
Souza, W. K. A., Lopes, R. A., Moraes, V. C., & Rodrigues, M. A. O. (2018). Apontamentos sobre a Educação do Campo
em Colorado do Oeste/Rondônia: notas de um camponês letrado...
O trabalho como atividade
especificamente humana é processo de
criação da vida e da história, e sua forma
de organização em uma sociedade traz
transformações sociais específicas; porém,
na forma social do capitalismo, o trabalho
tornou-se mercadoria e o trabalhador não é
dono do produto do seu trabalho, ou seja,
na sociedade capitalista o trabalhador
realiza um trabalho alienado. No sistema
capitalista, quando o trabalhador percebe
que é explorado, a própria condição de
exploração o educa, porém pode propiciar
tanto a emancipação ou simplesmente a
adaptação. O trabalho é uma forma de
fazer o homem pensar, portanto tem um
princípio educativo. A própria forma de
trabalho capitalista não é natural, mas
produzida pelos seres humanos. A luta
histórica é para supe-la. Para isso é
preciso recuperar a relação entre
conhecimento e a prática do trabalho e
mais, trata-se de recuperar a sociabilidade
perdida nas esferas do sistema capitalista.
Também por isso Luiz, quando
perguntado sobre felicidade no trabalho,
afirmou que:
Posso dizer que sim, pois aqui na
propriedade produzimos alimento de
grande qualidade e consigo tirar meu
sustento. Muita gente não vê o campo
como um ambiente para viver, porém
aqui também podemos possuir
internet, televisão, computador,
celular e trabalhar. (Luiz, 2017).
Durante as palavras da liderança do
MPA percebeu-se que eles valorizam
muito o aspecto cultural do movimento,
deixando claro que um objetivo é não
deixar seus valores culturais acabarem. Ele
relata uma situação que acontece
geralmente nas escolas:
Geralmente tem alguns eventos nas
escolas que têm apresentações de
danças, músicas, teatros e outras
atrações, em que os jovens
camponeses participam, e em vez
deles apresentarem músicas e danças
do seu povo eles dançam e cantam
lepo, lepo
iii
. Isso nos causa um
impacto muito grande, pois
percebemos que as nossas tradições
estão se perdendo com o tempo.
(Luiz, 2017).
A fala de Luiz traz a ideia de que os
valores culturais campesinos estão se
perdendo com a entrada de valores
culturais do mundo urbano que chegam ao
campo a partir da expansão de tecnologias,
sobretudo as tecnologias referentes às
mídias. Logicamente que Luiz não está
defendendo um modelo de campo em que
as modernas tecnologias não cheguem, um
modelo do século passado; ele defende a
manutenção de valores que liguem os
trabalhadores com o seu lugar, com o seu
estar no mundo. E outro modelo de escola,
que está sendo construído nas lutas dos
trabalhadores, e que possa ajudar na
manutenção de valores. Para Marlene
Ribeiro, estudiosa dos processos de
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 313-332
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
324
Souza, W. K. A., Lopes, R. A., Moraes, V. C., & Rodrigues, M. A. O. (2018). Apontamentos sobre a Educação do Campo
em Colorado do Oeste/Rondônia: notas de um camponês letrado...
educação popular, as possibilidades de
mudança estão sempre abertas, segundo
ela:
A escola tem estado associada aos
valores do individualismo, da
competição e da dependência,
peculiares ao modo capitalista de
produção que lhe define princípios e
objetivos. Entretanto, é preciso
considerar que as mudanças que
ocorrem no mundo do trabalho e na
configuração do Estado, de um lado,
e as formas cooperativas de trabalho
associadas às organizações
comunitárias e aos movimentos
sociais populares, de outro, mostram
uma sociedade em movimento, na
qual as possibilidades de mudança
não estão dadas, mas vão sendo
lentamente construídas (Ribeiro,
2001, p. 36).
Importante notar também que a
dicotomia campo/cidade continua a
atravancar o processo educacional. Nesta
dicotomia o campo aparece como arcaico,
atrasado, ignorante e a cidade se mostra
como avançada, moderna e inteligente. O
docente que não conhece ou não quer
trabalhar com a dinâmica da Educação do
Campo acaba reproduzindo as mazelas
desta dicotomia, o que o MPA aponta
como um desrespeito ao povo camponês.
Vejamos a fala de Luiz:
Os professores geralmente usam
como arma para tentar controlar os
alunos a seguinte frase “estudem para
não ser igual ao seu pai”, isso eu
considero um grande desrespeito ao
nosso povo, pois o que tem o pai
desse aluno? É um trabalhador que
luta por seus objetivos. Com este
preconceito que geralmente os
professores vem para a sala de aula
no campo. (Luiz, 2017).
Dizer que o aluno não deve “ser
igual ao seu pai”, quando este pai é um
camponês honesto e trabalhador, chega a
soar como uma brutalidade. Os professores
que reproduzem esta fala podem ser vistos
como medrosos, que tentam com ela
valorizar o saber formal em detrimento ao
saber informal, aos saberes que vêm da
experiência, como bem relatou Thompson
(1998). Para este pensador a experiência de
vida dos indivíduos também pode levar ao
acúmulo de saberes com os quais as
pessoas definem o seu estar no mundo.
Os homens e mulheres também
retornam como sujeitos, dentro deste
termo - não como sujeitos
autônomos, "indivíduos livres", mas
como pessoas que experimentam
suas situações e relações produtivas
determinadas como necessidades e
interesses e como antagonismos, e
em seguida "tratam" essa experiência
em sua consciência e sua cultura (as
duas outras expressões excluídas pela
prática teórica) das mais complexas
maneiras (sim, "relativamente
autônomas") e em seguida (muitas
vezes, mas nem sempre, através das
estruturas de classe resultantes)
agem, por sua vez, sobre sua situação
determinada. (Thompson, 1981, p.
182).
Isso é confirmado pelo depoimento
de Luiz que, ao nos contar parte de sua
trajetória, deixa clara a importância da
experiência, da vivência de dilemas
cotidianos para se aprender na vida,
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 313-332
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
325
Souza, W. K. A., Lopes, R. A., Moraes, V. C., & Rodrigues, M. A. O. (2018). Apontamentos sobre a Educação do Campo
em Colorado do Oeste/Rondônia: notas de um camponês letrado...
apreender o mundo e assim formar uma
identidade própria que se apropria dos
saberes dos demais para a formulação de
suas próprias decisões. Eis o que nos diz
Luiz, quando indagado sobre a decisão
para participar do movimento:
Comecei a participar do movimento
em 2001, na verdade minha família já
vinha participando das lutas
sindicais, então em 2001 comecei a
participar, fui a uma luta dos sem-
terras em São Paulo e, a partir de
quando voltei, comecei a participar
das atividades do MPA, foi uma
experiência muito bacana, fui
gostando vi que aquilo era um espaço
de olhar o mundo de forma diferente,
até então eu via a concepção de olhar
o mundo de uma forma muito
ingênua eu produzia com agrotóxico
ai eu vi que o movimento tinha uma
proposta diferente, que era a
produção de alimentos saudáveis
então acabei me encantando e
entrando, em 2002 comecei a
participar do debate da educação na
verdade entrei um pouco perdido no
movimento. Em 1997 teve o encontro
do ENERA para as áreas de reforma
agrária e em 98 ampliou mais. em
2003 eu comecei a participar um
pouco perdido ainda estudando o
Livro da Educação do Campo e ainda
em 2003 tive a oportunidade de
ajudar a formar o curso de Pedagogia
da Terra na UNIR, e eu fui um dos
que ingressaram no curso. (Luiz,
2017).
Para Gramsci (1991), a cultura deve
ser compreendida no seu sentido mais
amplo possível, ou seja, como a articulação
entre o conjunto de representações e
comportamentos e o processo dinâmico de
socialização, constituindo o modo de vida
de uma população determinada. Portanto,
cultura é o processo de produção de
símbolos, de representações, de
significados e, ao mesmo tempo, prática
constituinte e constituída do/pelo tecido
social. Ao discutir cultura,
primordialmente no plano da luta
hegemônica e como expressão da
organização político-econômica dessa
sociedade, Gramsci afirma que a cultura é
parte das ideologias que cimentam o bloco
social. Um grupo de trabalhadores que se
organiza em um movimento social e
valoriza a sua cultura, valoriza a si mesmo.
Para não concluir e ficar pensando um
pouco mais
Os pontos abordados nos mostram
como o Movimento dos Pequenos
Agricultores está preparado, sabem o
porquê e as causas de suas lutas. Lutam por
uma vida dentro de suas diversidades
culturais e que possam continuar morando
e vivendo em seu espaço de direito com
qualidade de vida, assim podendo seus
filhos e netos frequentar uma escola em
que abordem seus aspectos culturais e que
façam sentir orgulho de ser camponês.
Com isso podemos questionar o
Estado brasileiro que, a Constituição
apresenta o direito à preservação cultural e
de tradições, e o direito de receber uma
educação voltada para suas origens (Brasil,
1988). Então, surge a pergunta, o porquê
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 313-332
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
326
Souza, W. K. A., Lopes, R. A., Moraes, V. C., & Rodrigues, M. A. O. (2018). Apontamentos sobre a Educação do Campo
em Colorado do Oeste/Rondônia: notas de um camponês letrado...
de isso tudo não acontecer, sendo que foi o
próprio governo que estimulou esse povo a
sair dos grandes centros urbanos nos anos
60, 70 e 80 do século passado, para habitar
regiões rurais, que ainda eram matas e com
altos índices de doenças. Rondônia foi um
dos estados a receber levas de migrantes
em busca de melhores condições de vida.
Segundo Araújo,
Rondônia pode ser apreciado como
um espaço experimental de políticas
de colonização e reforma agrária
implantada pela União, onde vários
projetos foram implantados em
meados do século XX. Neste
trabalho, propus-me analisar como se
a organização social, produtiva e
ambiental de um assentamento no
Estado de Rondônia, que nas
décadas de 1970 e de 1980 o
Governo dos Militares criou uma
série de programas e projetos para
colonizar a Amazônia brasileira,
sendo Rondônia um dos Estados que
recebeu grande parte desses
migrantes. No intuito de dar “terra
sem homens para homens sem terra”,
o governo federal criou diversos PICs
e PADs (Projetos Integrados de
Colonização e Projetos de
Assentamentos Dirigidos,
respectivamente) colocando, assim,
pessoas a esmo nas distantes terras
do Norte do país. (Araújo, 2015, p.
23).
Essa nova configuração ampliou o
espaço do campesinato em Rondônia,
transformando-o ao longo do tempo em um
estado onde a agricultura campesina se
destaca. Ainda é Araújo quem nos indica:
Somando-se todos os projetos de
colonização implantados em
Rondônia entre 1970 e 1980 e aqui
citados, tem-se uma área de
aproximadamente 2,6 milhões de
hectares, sendo que 1.795.521
hectares (68%) foram destinados aos
pequenos camponeses com lotes de
até 100 hectares. Ao longo dos anos,
o espaço do campesinato consolidou-
se nesses extratos de até 100 hectares
que representam atualmente 80% dos
estabelecimentos rurais do Estado.
Estaria, a partir de então, formada
uma nova configuração espacial: os
PICs para os pequenos camponeses e
os PADs para os médios e grandes
produtores rurais. (Araújo, 2015, p.
51).
Hoje, acontece o inverso do que
aconteceu a 50 anos atrás, a política
pública estimula o povo do campo a sair do
campo, pois não escolas de qualidade,
não uma política adequada para
continuar produzindo alimento para suas
regiões. O sucateamento das políticas
públicas que devem atender os
trabalhadores rurais é mais um passo para a
saída do homem do campo em busca da
cidade. Desse modo, o êxodo rural tem um
adendo para o seu aumento. Não à toa, a
teoria marxista reclama do Estado e afirma
que este serve aos interesses da classe
dominante. O MPA faz uma reflexão sobre
esse aspecto. Luiz nos diz:
Há 50 anos éramos estimulados a sair
do meio urbano para vir para regiões
ainda não desenvolvidas, onde não
tinha estradas, hospitais e escolas,
regiões cobertas por floresta, então
formamos a região derrubamos,
plantamos e produzimos,
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 313-332
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
327
Souza, W. K. A., Lopes, R. A., Moraes, V. C., & Rodrigues, M. A. O. (2018). Apontamentos sobre a Educação do Campo
em Colorado do Oeste/Rondônia: notas de um camponês letrado...
implantamos nossa cultura. Porém
hoje as políticas públicas nos
estimulam a deixar o campo, assim
faço uma reflexão: fomos usados
para amaciar a terra, para que hoje
possa ser implantada grandes
fazendas de soja e etc... (Luiz, 2017).
Fica a impressão de que as políticas
públicas são implementadas de modo tão
lento e ineficiente para que os camponeses
desistam de suas lutas aos poucos. É
possível ver que os latifundiários estão
tomando conta das extensões rurais, pois
hoje na região Cone Sul de Rondônia
(onde se situa o município de Colorado do
Oeste) pode-se observar grandes
plantações de soja, milho e sorgo. E tendo
certa noção da quantidade enorme de
agrotóxicos utilizada nessas lavouras,
sabemos que uma diminuição da
qualidade de vida na região. Em recente
estudo, Batista (2016) nota o avanço das
monoculturas em nossos campos:
Na Amazônia brasileira, Rondônia
fora um dos estados mais impactados
pela expansão da fronteira agrícola
verificada nas últimas duas décadas,
sendo a soja a cultura sobejamente
reconhecida como representativa
desse fenômeno ... na safra 2015/16,
cerca de 760 mil toneladas de soja
foram colhidas em Rondônia, sendo
que quase a totalidade dos 250.000
hectares cultivados com o grão nesse
ano/safra, fica localizada no Cone
Sul do Estado, considerada como
região do agronegócio em Rondônia.
(Batista, 2016, p. 14).
Sendo isso totalmente o contrário a
luta do MPA, que em seu site diz:
O Movimento dos Pequenos
Agricultores, após este processo de
construção orgânica, de luta, de
elaboração e de afirmação
camponesa, tem como mensagem
política produzir alimentos
saudáveis, respeitando a natureza,
para alimentar o povo brasileiro e
fortalecer o campesinato! Através
desta mensagem o MPA expressa a
missão do Campesinato e também a
missão do próprio MPA como
organização camponesa. (MPA,
2017).
O MPA tem avançado na elaboração
sobre o campesinato e sobre o Plano
Camponês, que as famílias camponesas
produzem orientadas pela finalidade
comum da reprodução dos respectivos
grupos familiares, em perspectiva que
incorpora consistência entre gerações a
geração operante se vê parte constitutiva
das realizações de seus ascendentes e
descendentes. Esse tipo de produção
agrícola tem como uma de suas principais
preocupações a boa convivência com a
natureza, de modo que essa natureza possa
render frutos para as gerações futuras.
Também por isso o modelo educacional a
ser implantado para o trabalhador rural
deve ser aquele que atenda as
particularidades deste grupo social.
O protagonismo dos movimentos
sociais camponeses no batismo originário
da Educação do Campo nos ajuda a puxar
o fio de alguns nexos estruturantes desta
“experiência”, e, portanto, nos ajuda na
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 313-332
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
328
Souza, W. K. A., Lopes, R. A., Moraes, V. C., & Rodrigues, M. A. O. (2018). Apontamentos sobre a Educação do Campo
em Colorado do Oeste/Rondônia: notas de um camponês letrado...
compreensão do que essencialmente ela é e
na “consciência de mudança” que assinala
e projeta para além dela mesma.
Quando se discute a Educação do
Campo, se discute que tipo de educação
que se volta ao conjunto dos trabalhadores
e das trabalhadoras do campo, sejam os
camponeses, incluindo os quilombolas,
sejam as nações indígenas, sejam os
diversos tipos de assalariados vinculados à
vida e ao trabalho no meio rural. E esta
tem sido uma luta árdua, ainda mais em
nosso caso, em que o Estado encontra-se
atravessado por interesses dos grupos
capitalistas. Para Caldart,
O Estado não pode negar o princípio
(republicano) da universalização do
direito à educação, mas, na prática,
não consegue operar a sua realização
sem que se disputem, por exemplo,
os fundos públicos canalizados para a
reprodução do capital, o que, no caso
do campo, significa, hoje
especialmente, fundos para o avanço
do agronegócio, inclusive em suas
práticas de Educação corporativa.
(Caldart, 2012, p. 262).
Embora com essa preocupação mais
ampla, há uma preocupação especial com o
resgate do conceito de camponês, ou com a
tarefa histórica do campesinato. A
diversidade de grupos camponeses
espalhados Brasil afora expressa a força
dos camponeses. O campesinato é parte da
classe trabalhadora, e tem participado
ativamente na luta contra um modelo sócio
econômico que o explora.
A educação é um ponto central nessa
discussão. Se admitimos que a educação
pode emancipar os trabalhadores, então um
modelo educacional em consonância com
os aspectos culturais de cada grupo de
trabalhadores é vital para a transformação
social.
Temos uma preocupação prioritária
com a escolarização da população do
campo. Mas, para nós, a educação
compreende todos os processos
sociais de formação das pessoas
como sujeitos de seu próprio destino.
Nesse sentido, educação tem relação
com cultura, com valores, com jeito
de produzir, com formação para o
trabalho e para a participação social.
(Kolling, CerioliI & Caldart, 2002, p.
19).
O Movimento dos Pequenos
Agricultores ainda comenta sobre a
formação de profissionais construída para
atender o povo do campo:
Hoje se formam muitos agrônomos,
veterinários e zootecnistas, porém a
maioria deles não volta para o campo
para ajudar os pais, para aplicar o seu
conhecimento no sítio do pai, mas
geralmente vão trabalhar na cidade
em lojas agropecuárias ou em
grandes multinacionais, assim o povo
do campo acaba sendo jogado de
lado. Existem essas situações, pois a
educação brasileira acontece apenas
para abastecer as grandes empresas e
não para desenvolver a sociedade
brasileira. (Luiz, 2017).
Por isso, o Movimento dos Pequenos
Agricultores luta por uma Educação do
Campo, pois para a maioria dos
campesinos é difícil ver seus filhos saírem
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 313-332
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
329
Souza, W. K. A., Lopes, R. A., Moraes, V. C., & Rodrigues, M. A. O. (2018). Apontamentos sobre a Educação do Campo
em Colorado do Oeste/Rondônia: notas de um camponês letrado...
para cursar o ensino superior e o
voltarem depois para ajudar a desenvolver
a produção na terra. Em Colorado do Oeste
o campus inaugural do Instituto Federal
de Rondônia-IFRO (antiga escola agrícola)
e, nem esse fato ameniza esse êxodo da
juventude rural ou parece que agudiza
ainda mais. Em recente pesquisa sobre a
concepção do que é agricultura familiar
com os alunos do campus Colorado do
Oeste do IFRO, Souza et al. (2015)
chegam a conclusões alarmantes. Em uma
pesquisa que entrevistou 208 alunos, nota-
se que o agronegócio ganha espaço da
agricultura familiar na concepção de
agricultura que produz alimentos para
todos. Quando perguntados qual grupo
ajuda a resolver o problema da fome no
mundo, 151 alunos disseram que a união
entre agricultura familiar e agronegócio
resolve o problema da fome. Ora, é
praticamente domínio público a
informação de que dados apontam que
cerca de 70% dos alimentos consumidos
no Brasil são fruto da agricultura familiar.
Outro dado interessante da pesquisa é que
metade dos entrevistados afirmou serem
filhos de agricultores e desses, 80% se
dizem filhos de pequeno agricultor. E,
ainda mais alarmante, é o fato de que 75%
dos entrevistados disseram que desejam
trabalhar em grandes complexos
agroindustriais, sobretudo no estado
vizinho, o Mato Grosso. Isso nos leva a
pensarmos que o campus Colorado do
Oeste do IFRO acaba realizando uma
educação que não leva em conta a
realidade de seus alunos, em sua maioria
oriunda da agricultura familiar e acaba tão
somente, formando mão de obra para as
empresas capitalistas, corroborando com a
teoria marxista de que o Estado - com
todas os seus braços - está a serviço da
classe dominante. Nas palavras de
Mészáros,
A educação institucionalizada,
especialmente nos últimos 150 anos,
serviu - no seu todo - ao propósito de
não fornecer os conhecimentos e o
pessoal necessário à máquina
produtiva em expansão do sistema
capital, como também gerar e
transmitir um quadro de valores que
legitima os interesses dominantes,
como se não pudesse haver nenhuma
alternativa à gestão da sociedade
(Mészáros, 2008, p. 35).
O que entra em choque com as ações
do MPA e de grande parte dos movimentos
sociais que lutam por uma sociedade mais
igualitária e justa, em que o sistema
educacional seja direcionado para a
formação do “homem omnilateral” (Marx,
2004).
Referências
Araújo, M. E. B. (2015). A vida e a
produção no Assentamento Margarida
Alves em Nova União. (Dissertação de
Mestrado). Universidade Federal de
Rondônia, Porto Velho.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 313-332
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
330
Souza, W. K. A., Lopes, R. A., Moraes, V. C., & Rodrigues, M. A. O. (2018). Apontamentos sobre a Educação do Campo
em Colorado do Oeste/Rondônia: notas de um camponês letrado...
Ausubel, D. P., Novak, J. D., & Hanesian,
H. (1978). Educational Psychology: A
Cognitive view. Nova York: Holt,
Rinehardt & Winston.
Batista, J. A. (2016). Adoção da
agricultura de precisão na Amazônia:
Estudo de caso na região cone sul do
estado de Rondônia. (Dissertação de
Mestrado). Universidade Federal de Santa
Maria, Santa Maria.
Brasil. Lei 9.394, de 20 de dezembro de
1996. (1996, 23 de dezembro). Estabelece
as Diretrizes e Bases da Educação
Nacional. Recuperado de:
http://www.senado.gov.br/sf/legislacao
Constituição da República Federativa do
Brasil. (1988, 05 de outubro). Recuperado
de:
http://www.senado.gov.br/sf/legislacao/con
st/
Caldart, R. S. (2012). Educação do Campo.
In Caldart, R. S., Pereira, I. B., Alentejano,
P., & Frigotto, G. (Orgs.). Dicionário da
Educação do Campo (pp. 259-266). Rio de
Janeiro, RJ: Expressão Popular.
Delizoicov, D., Angotti, J. A., &
Pernambuco, M. C. A. (2003). Ensino de
Ciências: Fundamentos e Métodos. São
Paulo, SP: Editora Cortez.
Gil, A. C. (1999). Métodos e Técnicas de
Pesquisa Social. São Paulo, SP. São Paulo,
SP: Atlas S. A.
Görgen, F. S. A. (2009). Agricultura
camponesa. Santa Cruz do Sul, RS:
Cadernos de Estudos Cooperfumos.
Gramsci, A. (1991). Concepção dialética
da história. Rio de Janeiro, RJ: Civilização
Brasileira.
Kolling, E. J., Néry, I., & Molina, M. C.
(1999). Por uma educação básica do
campo (memória). Brasília, DF:
Articulação Nacional por uma Educação
do Campo.
Kolling, E. J., Cerioli, P. R., & Caldart, R.
S. (2002). Educação do campo: identidade
e políticas públicas. Brasília, DF:
Articulação Nacional por uma Educação
do Campo.
Luiz. (2017). Apontamentos sobre
educação. Colorado do Oeste, Rondônia.
Entrevistadores: Marcos Antonio Oliveira
Rodrigues, Vanessa Campos Moraes e
Raiane Agustinho Lopes.
Martins, F. J. (2009). Educação do Campo:
processo de ocupação social e escolar. In
Congresso Internacional de Pedagogia
Social. Recuperado de:
http://www.proceedings.scielo.br/scielo.ph
p?pid=MSC0000000092008000100006&s
cript=sci_arttext
Marx, K. (2004). O Capital. Crítica da
Economia Política. Rio de Janeiro, RJ:
Civilização Brasileira.
Marx, K., & Engels, F. (2007). A Ideologia
Alemã. São Paulo, SP: Boitempo.
Mészáros, I. (2008). A educação para além
do capital. São Paulo, SP: Boitempo
Editorial.
Movimento dos Pequenos Agricultores
(2017). Quem somos. Recuperado de:
http://www.mpabrasil.org.br
Petty, M., Tombim, A., & Vera, R. (1981).
Uma alternativa de educação rural. In
Werthein, J., & Bordenave, J. D. (Orgs.).
Educação rural no Terceiro Mundo (pp.
31-64). Rio de Janeiro, RJ: Paz e Terra.
Pistrak, M. M. (2011). Fundamentos da
escola do trabalho. São Paulo, SP:
Expressão Popular.
Ribeiro, M. (2001). Trabalho cooperativo
no MST e ensino fundamental rural:
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 313-332
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
331
Souza, W. K. A., Lopes, R. A., Moraes, V. C., & Rodrigues, M. A. O. (2018). Apontamentos sobre a Educação do Campo
em Colorado do Oeste/Rondônia: notas de um camponês letrado...
desafios à educação básica. Revista
Brasileira de Educação, 17, 20-39. DOI:
http://dx.doi.org/10.1590/S1413-
24782001000200003
Recebido em: 26/01/2018
Aprovado em: 18/02/2018
Publicado em: 23/04/2018
Souza, W. K. A., Fernandes, A. B. V.,
Chichoki, M. V., & Bairros. (2015).
Agricultura familiar: discutindo as
concepções a partir de saberes e
experiências. In anais do X Congresso
Norte Nordeste de Pesquisa e Inovação,
Rio Branco - Acre.
Thompson, E. P. (1981). A miséria da
teoria ou um planetário de erros: uma
crítica ao pensamento de Althusser. Rio de
Janeiro, RJ: Zahar Editores.
Thompson, E. P. (1998). Costumes em
comum: estudos sobre a cultura popular
tradicional. São Paulo, SP: Companhia das
Letras.
Williams, R. (1989). O campo e a cidade
na história e na literatura. São Paulo, SP:
Companhia das Letras.
ORCID
William Kennedy do Amaral Souza
http://orcid.org/0000-0001-6271-9422
i
As 11 teses foram editadas em vários livros da
literatura de Marx e Engels. No nosso caso fizemos
a leitura a partir de: Marx, K., & Engels, F. (2007).
A Ideologia Alemã. São Paulo, SP: Boitempo.
ii
Quando dizemos MPA, estamos dando à
entrevista de Luiz um caráter de fala do
Movimento, tendo em vista ser ele uma liderança
com voz ativa e embasamento teórico do
Movimento para tais falas.
iii
Lepo Lepo é uma música do grupo de pagode
baiano Psirico. A letra fala sobre uma pessoa que
está em difícil situação financeira, e caso sua amada
queira se relacionar com ele é porque gosta do seu
"lepo lepo". A expressão que dá título à canção
deixa a possibilidade de várias interpretações.
Raiane Agustinho Lopes
http://orcid.org/0000-0001-5243-0764
Vanessa Campos de Moraes
http://orcid.org/0000-0002-9842-7672
Marcos Antonio Oliveira Rodrigues
http://orcid.org/0000-0001-5168-5650
Declaramos que os autores Marcos Antonio
Oliveira Rodrigues, Raiane Agustinho Lopes,
Vanessa Campos de Moraes e William Kennedy do
Amaral Souza, foram responsáveis pela elaboração,
análise e interpretação dos dados; escrita e revisão
do conteúdo do manuscrito. Os autores também
foram responsáveis pela aprovação da versão final a
ser publicada.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 313-332
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
332
Como citar este artigo
/
How to cite this article
/
Como citar este artículo:
APA:
Souza, W. K. A., Lopes, R. A., Moraes, V. C., &
Rodrigues, M. A. O. (2018). Apontamentos sobre a
Educação do Campo em Colorado do
Oeste/Rondônia: notas de um camponês letrado. Rev.
Bras. Educ. Camp., 3(1), 313-332.
ABNT:
SOUZA, W. K. A.; LOPES, R. A.; MORAES, V. C.;
RODRIGUES, M. A. O. Apontamentos sobre a
Educação do Campo em Colorado do
Oeste/Rondônia: notas de um camponês letrado.
Rev. Bras. Educ. Camp., Tocantinópolis, v. 3, n. 1,
p. 313-332, 2018.
Revista Brasileira de Educação do Campo
The Brazilian Scientific Journal of Rural Education
A
RTIG
O
/
A
RTICLE
/
A
R
C
ULO
DO
I:
h
tt
p
:/
/
d
x.d
o
i.
o
r
g/
10.20
873/
u
ft.2525
-4863.2018v3
n
1p
333
O processo de ensino nas escolas multisseriadas do campo
e o Programa Escola Ativa
Marco Túlio Santos Ledo
1
1
Escola Estadual Joel Mares. Secretaria Estadual de Educação. Rua Flaviano Antunes Reis, nº 246. Bairro São
Francisco. Almenara - MG. Brasil. marcotuliosantosledo@yahoo.com.br.
RESUMO. Este estudo tem por objetivo compreender o
processo de ensino-aprendizagem nas escolas multisseriadas do
campo, a partir da análise do Programa Escola Ativa. Para tanto,
utilizou-se como procedimento de pesquisa a revisão
bibliográfica, com foco nos estudos de Antunes-Rocha et al.
(2010), Nascimento (2009), Ribeiro (2009), entre outros que
retrataram sobre a temática, fazendo uma reflexão histórica
sobre a Educação do Campo no Brasil, seguida de uma análise
dos marcos legais que ratificam este ensino e, posteriormente, de
uma análise do programa. Pode-se evidenciar com este trabalho
que no Programa Escola Ativa as diversas formas de
sistematização do trabalho docente e da atuação discente são
instrumentalizadas através de práticas já definidas no Projeto
Base. Apesar de o programa incluir ações importantes para a
integração da escola e da família e do aluno na comunidade,
muitos fatores não se aplicaram devido a elementos da estrutura
organizacional dos sistemas de ensino, como, a não vivência do
professor no campo, a falta de formação nos campos
universitários que versem sobre o tema, além das dificuldades
inerentes à prática docente em turmas multisseriadas.
Palavras-chave: Escola Ativa, Educação do Campo,
Autonomia, Comunidade, Escola.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 333-358
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
333
Ledo, M. T. S. (2018). O processo de ensino nas escolas multisseriadas do campo e o Programa Escola Ativa...
The teaching process in the multisite campuses and the
Escola Activa Program
ABSTRACT. The aim of this study is to understand the
teaching-learning process in the multisseries schools of the
countryside, based on the analysis of the Active School
Program. To do so, the bibliographic review was used as a
research procedure, focusing on the studies of Antunes-Rocha
et al. (2010), Nascimento (2009), Ribeiro (2009), among others
that portrayed the theme, making a historical reflection on The
Rural Education in Brazil, followed by an analysis of the legal
frameworks that ratify this teaching and, later, an analysis of the
program. It can be evidenced with this work that in the Active
School Program the different forms of systematization of the
teaching work and of the student action are instrumented
through practices already defined in the Base Project. Although
the program includes important actions for the integration of the
school and the family and the student in the community, many
factors have not been applied due to elements of the
organizational structure of the education systems, such as the
lack of experience of the teacher in the countryside, lack of
training in the university fields that deal with the subject,
besides, the inherent difficulties of the teaching practice in
multisseriados classes.
Keywords: Active School, Rural Education, Autonomy,
Community School.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 333-358
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
334
Ledo, M. T. S. (2018). O processo de ensino nas escolas multisseriadas do campo e o Programa Escola Ativa...
El proceso de enseñanza en las escuelas multiserias del
campo y el Programa Escuela Activa
RESUMEN. Este estudio tiene como objetivo comprender el
proceso de enseñanza-aprendizaje en las escuelas multigrado en
el campo, a partir del análisis del Programa Escuela Activa. Por
lo tanto, se utilizó para buscar el procedimiento de revisión de la
literatura, centrándose en Antunes-Rocha et al. todos los
estudios (2010), Nacimiento (2009), Ribeiro (2009), entre otros
retratado en el tema, haciendo una reflexión histórica sobre la
Educación Rural en Brasil, seguido de un análisis de los marcos
legales que ratifican esta enseñanza y posteriormente un análisis
del programa. Puede mostrar este trabajo en el programa de
Escuela Activa las diversas formas de sistematización de la
enseñanza y el rendimiento de los estudiantes son
instrumentalizados a través de prácticas que ya están definidas
en el Proyecto de Base. Aunque el programa incluye acciones
importantes para la integración de la escuela y la familia y la
comunidad de estudiantes, muchos factores no aplican-debido a
los elementos de la estructura organizativa de los sistemas
educativos, como no vivir el maestro en el campo, la falta
formación en cursos universitarios que tienen que ver con el
asunto, además, las dificultades inherentes a la práctica de la
enseñanza en las clases multigrado.
Palabras clave: Activo Escuela, Educación Rural, Autonomía,
Comunidad, Escuela.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 333-358
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
335
Ledo, M. T. S. (2018). O processo de ensino nas escolas multisseriadas do campo e o Programa Escola Ativa...
Introdução
A vivência e os costumes de uma
sociedade são configurados a partir da
construção de métodos e práticas histórico-
culturais, estabelecidos nos
relacionamentos e no convívio de um povo
no percurso da história, no tempo e no
espaço. Em cada sociedade, desta maneira,
cria-se um perfil de interação de símbolos
que demonstram a sua formação, o seu
perfil etnográfico, social, econômico e
cultural.
Desta maneira, pode-se observar que
a associação que se faz do meio rural é de
que o mesmo é um mero abastecedor dos
centros urbanos com o fornecimento de
matérias-primas, como gêneros
alimentícios. Para tanto, diversos
estereótipos são levados a figura do campo
e do campesino, tais como, “roça”,
“caipira”, “Jeca”, entre outros muito
utilizados nas diversas regiões do país.
É percebível também que até os anos
1990 não havia políticas públicas voltadas
para o homem do campo. O que levou até
esse período uma massificação do processo
de êxodo rural. Neste mesmo aspecto, não
existiam políticas educacionais voltadas
para a população residente na zona rural,
cujas atividades estão relacionadas a
diversos setores da economia primária,
entre elas: a pecuária, agricultura, pesca,
extrativismo, entre outras. Diante dessa
característica foi levado às escolas do
campo um modelo de ensino
fundamentado nos padrões escolares
urbanos, que vão desde o livro didático até
a metodologia utilizada no processo ensino
e aprendizagem.
Assim, podemos observar também,
que no caso do meio rural, desde o período
de colonização indígena, não havia uma
configuração específica para a escola do
campo. Para a população indígena, a escola
possuía um papel com fins para a
sobrevivência e a coletividade, ou seja, a
população nativa brasileira fora levada a
compreender o espaço escolar como um
processo de inserção no cotidiano dos
colonizadores, conforme apontam
Florestan Fernandes (1989) e Bartolomeu
Melià (1979), tendo por base a construção
conjunta, ou seja, o aprender fazendo.
Se analisarmos este mesmo contexto,
a população campesina teve um processo
evolutivo no período imperial. Não havia
uma legislação própria que tratasse
exclusivamente da educação para a
população do campo e procurou-se atender
as necessidades mercantis e dos grandes
latifúndios através do regime de
“Plantation”, um sistema monocultor e
escravista.
Novamente, percebemos que a
Educação do Campo fora excluída da
política educacional brasileira e aos
campesinos restringiram-se apenas às
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 333-358
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
336
Ledo, M. T. S. (2018). O processo de ensino nas escolas multisseriadas do campo e o Programa Escola Ativa...
noções básicas de estudo da matemática,
como aprender as “continhas”, as primeiras
letras no campo da linguagem e a escritura
do nome. Até então, as escolas
funcionavam para atender aos interesses
dos proprietários de terra que indicavam
local e profissional para o ensino rural.
No período republicano, em especial,
da Era Vargas, a Constituição da República
de 1934, em seu artigo 149 estabeleceu que
a educação é um direito de todos e deve ser
ministrado pela família e pelos poderes
públicos proporcionando eficientes
resultados na vida rural e econômica da
nação. Entretanto, nenhuma política
educacional eficaz fora implementada para
as famílias campesinas.
Contudo, a Educação do Campo nos
últimos anos toma um papel de destaque na
construção do perfil educacional do país,
pois até o inicio da década de 1990 a
aplicação de um ensino para as populações
localizadas, residentes e dependentes
fundamentalmente da terra era
simplesmente um ensino aplicado
metodologicamente ao meio urbano. Não
existiam políticas educacionais criadas e
voltadas para o pessoal do campo, porém, a
partir da promulgação da Lei 9394 de 20
de dezembro de 1996, que estabeleceu as
Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(LDB), o termo passou a compor o quadro
de educação como uma das modalidades
específicas do ensino fundamental e
médio.
Atualmente, existem diversos
programas desenvolvidos pelo Ministério
da Educação, em âmbito nacional, com
parceria de universidades, estados e
municípios, estando entre eles, o Programa
Escola Ativa, o Programa Dinheiro Direto
na Escola Campo, Programa Dinheiro
Direto na Escola Água, Projovem
Campo, PNLD Campo e ainda Cursos de
graduação e pós-graduação em Educação
do Campo. Pode-se perceber uma
ampliação, no campo da educação, de
políticas voltadas para o campo, como, a
criação das Diretrizes Educacionais para a
Educação do Campo do Estado de Minas
Gerais.
Dentre os programas anteriormente
listados, o de maior abrangência em todo o
território nacional, conforme dados do
Instituto Nacional de Pesquisas
Educacionais, com mais de 39.732 escolas
e 1.321.833 de alunos fora o Programa
Escola Ativa.
Todos esses números demonstram a
importância do programa, presente em
mais de 80% dos municípios brasileiros.
Além disso, o Programa engloba atividades
de diferentes campos da Pedagogia, como
a Pedagogia do Campo, do Oprimido e da
Alternância, além de exigir a valorização
da relação escola-comunidade.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 333-358
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
337
Ledo, M. T. S. (2018). O processo de ensino nas escolas multisseriadas do campo e o Programa Escola Ativa...
Diante disso, este trabalho buscou
compreender o processo de ensino nas
escolas multisseriadas do campo e a
aplicação da metodologia do Programa
Escola Ativa, identificando os espaços
educativos e a relação escola-comunidade.
Para tanto, realizou-se pesquisa de cunho
bibliográfico a fim de fundamentar a
pesquisa, tendo como elementos basilares,
o estudo de autores como Antunes-Rocha
et al. (2010), Nascimento (2009), Ribeiro
(2009), entre outros.
Com este trabalho, busca-se
demonstrar elementos fundamentais sobre
o Programa Escola Ativa e sua
aplicabilidade no campo teórico nos
municípios brasileiros. Para tanto,
estruturou-se este trabalho com a seguinte
organização: análise histórica e legal da
Educação do Campo, demonstrando seu
processo evolutivo, culminando com a
análise de políticas pedagógicas para a
Educação do Campo, como o Programa
Escola Ativa.
A Construção Histórica da Educação
Rural e Formação da Educação do
Campo
A história da educação no Brasil
remonta que os primeiros ensinamentos
foram realizados pelos jesuítas da
Companhia de Jesus, ainda no Brasil-
Colônia, com o objetivo de catequizar os
índios que habitavam o território recém-
colonizado.
Para Azevedo (1976),
... a Companhia de Jesus tinha como
princípio formar um exército de
soldados da Igreja Católica capazes
de combaterem a heresia e converter
os pagãos, apresentando desse modo
características de uma milícia. Para
atingir seus objetivos, os jesuítas
soldados de Cristo , deveriam
passar por uma reciclagem
intelectual e científica para combater
os vícios e os pecados e purificá-los
contra o mal. Seu papel na sociedade
portuguesa da época foi
fundamental, pois cabia a eles
propiciar as condições necessárias
para educar os grupos sociais menos
favorecidos da população. Portanto,
sua obra tornava-se uma atividade
de caridade. (Azevedo, 1976, p. 22).
Deste modo, podemos observar as
primeiras nuances da formação de uma
educação rural no Brasil, influenciando
diretamente o processo de construção da
escola rural, sistematizando o modelo de
educação a ser utilizado e implementado
no Brasil. É importante ressaltar que o
processo educacional proposto pelos
jesuítas seguiu vieses diferentes: de um
lado uma instituição educativa com
finalidades específicas, voltadas para o
grupo elitista brasileiro e de outro uma
educação com o objetivo de atendimento à
formatação de mão de obra para
atendimento aos interesses econômicos.
A vinda dos padres jesuítas, em
1549, não só marca o início da
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 333-358
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
338
Ledo, M. T. S. (2018). O processo de ensino nas escolas multisseriadas do campo e o Programa Escola Ativa...
história da educação no Brasil, mas
inaugura a primeira fase, a mais
longa dessa história, e, certamente a
mais importante pelo vulto da obra
realizada e, sobretudo pelas
consequências que dela resultaram
para nossa cultura e civilização ... se
transformaram na única força capaz
de influir no domínio do senhor do
engenho. Isto foi conseguido não
através dos colégios, como dos
confessionários, do teatro e,
particularmente, pelo terceiro filho,
que deveria seguir a vida religiosa.
(Ribeiro, 2009, p. 28).
Em 1815, com a elevação do Brasil
a Reino Unido à Portugal e Algarves,
houve-se profundas transformações
sociais, econômicas e políticas na nação.
A presença da família real trouxe
inúmeras modificações para o campo
educacional, entre elas, a abertura de
instituições de ensino. Entretanto, a
educação escolar somente será discutida
com no Projeto Constitucional de 1823,
dissolvida no mesmo ano, por ato do
imperador D. Pedro I, que abordava em
seu artigo 250 que “para os índios, haveria
catequese e civilização e, para os negros,
emancipados lentamente, haveria
educação religiosa e industrial”. Ou seja,
a educação estava associada à classe
social em especial a etnia que deveria
discriminar o modelo de proposição
educacional.
Em 1824, com a outorga da
primeira Constituição no Brasil, o ensino
e a escola estavam garantidos como
direito apenas àqueles denominados de
“cidadãos brasileiros”, excluindo-se para
tanto os grupos indígenas e escravos.
No governo regencial, em 1834, o
Padre Diogo Antônio Feijó, institui o Ato
Adicional em que descentralizava o ensino
primário para as províncias, cabendo a
estas a responsabilização sobre o ensino
primário e secundário. Logo, por tratarem-
se de governos nomeados pelo império, os
chefes de províncias eram deliberadamente
elitistas, deixando a margem novamente os
públicos desfavorecidos, como, negros,
mestiços e indígenas.
Para Ghiraldelli Junior (1990),
As poucas escolas públicas
existentes na cidade eram
frequentadas pelos filhos das
famílias de classe média. Os ricos
contratavam preceptores, geralmente
estrangeiros, que ministravam aos
filhos o ensino em casa, ou os
mandavam a alguns poucos colégios
particulares, leigos ou religiosos...
Em todo vasto interior do país havia
algumas precárias escolinhas rurais,
em cuja maioria trabalhavam
professores sem qualquer formação
profissional, que atendiam qualquer
formação profissional, que atendiam
as populações dispersas em imensas
áreas rurais. (Ghiraldelli Junior,
1990, p. 26).
Com a queda do Império em 1889 e,
o advento da República, iniciaram-se
discussões sobre a erradicação do
analfabetismo. Contudo, com a
promulgação da Constituição da República
em 1891 não houve menção sobre a
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 333-358
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
339
Ledo, M. T. S. (2018). O processo de ensino nas escolas multisseriadas do campo e o Programa Escola Ativa...
educação campesina, cabendo aos estados
da federação a constituição de seus
sistemas de ensino. Logo, a educação
pública voltou-se apenas para o processo
de alfabetização com vistas a atender uma
prerrogativa para o quesito de poder votar.
Ressalta-se que este processo fora voltado
exclusivamente ao público masculino.
Durante o período da República
Velha (1889-1930) o processo de
valorização da educação centrou-se apenas
para os centros urbanos. Somente com a
Constituição de 1934 é que a educação
passa a ser direito de todos.
Art. 149 - A educação é direito de
todos e deve ser ministrada, pela
família e pelos Poderes Públicos,
cumprindo a estes proporcioná-la a
brasileiros e a estrangeiros
domiciliados no País, de modo que
possibilite eficientes fatores da vida
moral e econômica da Nação, e
desenvolva num espírito brasileiro a
consciência da solidariedade
humana. (Brasil, 1934).
Nota-se que alguns avanços também
foram percebidos nesta Constituição, além
de tornar-se direito público, estabelece-se a
necessidade de um Plano Nacional de
Educação, compartilha com Estados e
Municípios a responsabilização pela
educação, além da fixação de valor a ser
aplicado em educação.
Até a década de 1940, o Brasil não
apresentava escolas na zona rural dos
municípios, organizadas e financiadas pelo
poder público. O ensino acontecia tão
somente nos meios urbanos e a escola era
um lugar de difícil acesso para a grande
maioria da população, principalmente, em
níveis mais elevados de ensino, como, o
Ensino Médio.
A educação rural no Brasil inicia-se
com a edição do Decreto nº 4.958, de 14 de
novembro 1942, que criava o Fundo
Nacional de Ensino Primário. Esse fundo
estabelecia parceria com Estados para a
transferência de recursos e também passou
a este ente federativo a responsabilidade
pela oferta do ensino primário nas áreas
rurais. Os Estados, por sua vez,
transferiram receitas aos municípios e os
incumbiram da oferta do ensino na zona
rural.
Segundo Antunes-Rocha et al.
(2010),
A educação escolar para crianças do
meio rural ficou sob a
responsabilidade administrativa e
pedagógica do governo municipal,
cabendo a ele contratar e demitir
professores, construir e fechar
escolas, aceitar, ou não, a oferta de
alguns Estados no sentido de
construir parcerias para a formação
docente. (Antunes-Rocha et al. 2010,
p. 12).
As escolas rurais dependiam de
acordos firmados entre os fazendeiros e as
prefeituras locais, a fim de construir ou
ceder espaço para a oferta das aulas. Isso
tudo estava atrelado à imposição dos
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 333-358
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
340
Ledo, M. T. S. (2018). O processo de ensino nas escolas multisseriadas do campo e o Programa Escola Ativa...
proprietários de terra em indicar os
professores que seriam custeados pela
administração. Contudo, os interesses
partidários influenciavam com determinada
demasia, até mesmo, ocorrendo o não
pagamento dos professores e, inclusive, a
sua demissão e o fechamento de escolas.
Somente a partir da década de 1970 o
tema do campo começa a ser percebido e
assumir relevância nos meios acadêmicos,
devido à expansão e modernização do
campo. Além disso, o Brasil passava por
diversas mudanças econômicas que
afetaram diretamente a sua indústria, com
altos investimentos na indústria
automobilística. As famílias brasileiras que
viviam em situação de miséria eram
obrigadas a retirarem seus filhos das
escolas para auxiliarem na formação da
renda familiar.
Segundo Romanelli (2014),
... ainda que os objetos verbalizados
do sistema de ensino visem a
atender aos interesses da sociedade
como um todo, é sempre inevitável
que as diretrizes realmente
assumidas pela educação escolar
favorecem mais as camadas sociais
detentoras de maior representação
política nessa estrutura. Afinal,
quem legisla, sempre o faz segundo
uma escala de valores próprios da
camada a que pertence, ou seja,
segundo uma forma de encarar o
contexto e a educação, forma que
dificilmente consegue ultrapassar os
limites dos valores inerentes à
posição ocupada pelo legislador
estrutural social. (Romanelli, 2014,
p. 30).
É possível perceber que a educação
nacional passou a ter consideráveis
mudanças. Após a promulgação da
Constituição de 1967 e com a edição da
Lei 5.692, de 11 de agosto de 1971, que
fixou as Diretrizes e Bases para o ensino
de 1° e 2º graus, criou-se a possibilidade de
construir um currículo mais próximo às
particularidades do meio rural, conforme
os artigos e inciso § do art. 11º.
Contudo, mudanças estruturais ainda não
foram efetivas nos vários territórios
educacionais da escola rural multisseriada.
A partir deste momento os meios
acadêmicos iniciam discussões sobre o
processo de formação de professores,
acompanhamento pedagógico e
investimento para expansão das escolas do
campo. Além disso, outro entrave
associado às escolas rurais estava na
descontinuidade da oferta de ensino, o
baixo número de alunos atendidos, as
dificuldades de transporte, as chuvas, as
épocas de plantio e colheita, que levavam
de forma constante ao fechamento de
instituições educacionais em todo o país.
Tal fato agrava-se com a formação do
discurso docente que supervalorizava a
cidade em detrimento ao campo, isso
ainda, atrelado ao fato de que na maioria
das escolas funcionavam somente as três
primeiras séries primárias.
Por isso, quando da promulgação da
Constituição de 1988 (Brasil, 1988) o
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 333-358
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
341
Ledo, M. T. S. (2018). O processo de ensino nas escolas multisseriadas do campo e o Programa Escola Ativa...
perfil educacional no Brasil era
preocupante. Contudo, o dispositivo
constitucional, presente no artigo 37, II,
estabeleceu a necessidade de concurso
público para investidura em cargos
públicos, o que levou muitos municípios a
realizarem exames para atuar como
professores. Entretanto, a maioria dos
professores do campo ou não possuía a
habilitação específica para concorrer ao
concurso ou não conseguia ser aprovados
nos certames, o que levou a processos de
demissão em massa.
Para Antunes-Rocha et al. (2010),
A realização de concursos foi aos
poucos impactando o perfil dos
docentes. O cenário de professores
sem habilitação foi se modificando
com a presença de docentes com
nível médio e, em muitos casos, com
nível superior. Sabe-se que, me
muitos municípios, os professores
que não tiveram condições de
submeterem-se ao concurso foram
afastados de sua função. Alguns
aceitaram o cargo de serviços gerais.
(Antunes-Rocha et al., 2010, p. 23).
Em 1996, com a promulgação da Lei
9394, de 20 de dezembro de 1996 (Brasil,
1996), que estabeleceu as Diretrizes e
Bases da Educação Nacional, ocorreram
mudanças na estruturação da Educação
Rural, pois definiu-se como uma das
competências dos municípios a
responsabilização pela educação nas
escolas do campo e pelas situadas na zona
urbana, ofertando de forma obrigatória a
educação básica (educação infantil e
ensino fundamental). Com isso, os
municípios iniciaram o processo de
nucleação de escolas, tendo-se em vista
que os alunos da zona rural passaram a ter
o direito da progressão nos estudos e
também ao acompanhamento pedagógico.
Diante dessa necessidade a solução
encontrada pelos municípios fora o
transporte dos alunos do campo para as
escolas urbanas.
Todavia, esta prática não fora bem
aceita pelos movimentos sociais, entre eles
o Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem Terra (MST), a Confederação
Nacional dos Trabalhadores na Agricultura
(Contag), pois as lutas pela terra e pela
reforma agrária estavam presentes em sua
rotina e o transporte dos alunos para o
meio urbano descaracterizaria a sua
formação social do jovem do campo, o que
levou a inserção dos movimentos sociais
na elaboração de políticas educacionais,
criando o Movimento por uma Educação
do Campo.
Para Bezerra Neto (1999), a
importância do MST está presente na sua
formação humanística e de valorização da
terra, desde os primeiros momentos de
conhecimento da criança, o que se percebe
na crítica que é feita a introspecção
conteudística das escolas isoladas urbanas
as instituições do meio rural.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 333-358
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
342
Ledo, M. T. S. (2018). O processo de ensino nas escolas multisseriadas do campo e o Programa Escola Ativa...
Os primeiros conhecimentos de toda
criança estão ligados a seu habitat.
Os conhecimentos da criança rural
estão ligados à vida na roça, mas os
conteúdos oferecidos a ela pela
escola tradicional partem do
princípio de que para ser culto, é
preciso ser letrado, contando com
uma formação típica para os desafios
do mundo urbano e submetendo a
criança a um calendário escolar que
não valoriza a prática de seus pais,
nem a sua dimensão temporal, uma
vez que esse calendário é elaborado
para ser praticado a partir do ano
civil e não do ano agrícola, mais
próximo à realidade do homem do
campo (Bezerra Neto, 1999, p. 74).
Para Moraes e Muller (2003) os
movimentos sociais estabelecem uma
relação dialética entre o que se vive e o que
se percebe:
A experiência ... constitui e nega,
opõe e resiste, estabelece mediações,
é espaço de prática, intervenção,
obstaculização, é processo de
formação de identidades de classe e,
poderíamos acrescentar, de gênero,
de geração, de etnias. Processos
dialeticamente articulados que ela, a
experiência, expressa de forma
privilegiada. (Moraes & Muller, 2003
p. 341).
Portanto, para os movimentos sociais
a educação deve estar ligada ao meio de
vivência do aluno para tornar-se uma
aprendizagem significativa para a
formação da identidade de classe, além de
ser uma forma de resistência para o grupo
ao qual está inserido.
Segundo Figueiredo (2009),
A luta de uma escola de qualidade no
campo acompanhou a luta pela
reforma agrária no nosso país,
representando um sonho de muitas
famílias que, mesmo sem
escolaridade, defendiam a
importância da escola como
instrumento de transformação
política e social da realidade injusta e
arbitraria a qual viviam. Neste
contexto de luta, o sonho foi aos
poucos criando raízes reais praticas,
inaugurando nos primeiros anos do
novo século, a conquista Legal da
Educação do Campo, alicerçada nos
princípios do trabalho e a
sustentabilidade, da coletividade e da
solidariedade, do respeito à
diversidade cultural e saberes da
terra. (Figueiredo, 2009, p. 01).
Esse Movimento passou a lutar pela
oferta de uma política pública específica
voltada para a Educação do Campo, com
práticas diferenciadas de ensino, alicerçada
na formação humana, sendo abordada
como estratégia de desenvolvimento do
campo.
Contudo, a construção de uma
proposta que aborde de forma homogênea
tantas heterogeneidades torna-se
complicado. Portanto, Antunes-Rocha et
al. (2010) abordam que a Educação do
Campo é um processo de luta constante, e,
que este inovador caminho vem ampliando
seu espaço de atuação, abarcando espaços
junto aos trabalhadores e trabalhadoras da
educação, que de forma participativa e
atuante possam contribuir para o
planejamento, execução e avaliação de
uma proposta completiva, que abranja os
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 333-358
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
343
Ledo, M. T. S. (2018). O processo de ensino nas escolas multisseriadas do campo e o Programa Escola Ativa...
diferentes envolvidos no processo de
ensino e assuma o compromisso com a
sustentabilidade.
Diante dessa abordagem, pode-se
perceber que a construção do perfil de
educação rural começa a ser desconstruído,
dando espaço à chamada Educação do
Campo. A partir do momento em que se
aglutinou a participação da sociedade e dos
movimentos sociais, bem como a
participação dos agentes envolvidos na
construção de uma proposta de ensino
participativa, rompe-se com o perfil de
educação rural, pois se estabelecem novas
relações sociais, nas quais o aluno passa a
ser sujeito de sua história de forma a atuar
na sociedade e na sua comunidade.
Neste sentido, Antunes-Rocha et al.
(2010) abordam que:
A Educação do Campo afasta-se,
pois, da educação rural, no sentido de
que tem como “bandeira de luta”, a
emancipação, a resistência das
populações campesinas, o
oferecimento do direito da opção
de escolha do próprio destino, seja
ela permanecer no campo, tirando
dele seu sustento, seja buscando na
cidade a realização, a concretização
de seus planos. O que importa é que
seja uma decisão e não uma
imposição. (Antunes-Rocha et al.
(2010, p. 17).
Diante do exposto, deve-se visar uma
escola que alcance os processos de
democracia e de formação para o exercício
pleno da cidadania, para que assim, possa
promover o desenvolvimento e a
sustentabilidade das novas gerações.
Porém, apesar destes avanços
significativos, estabelecidos pelas lutas
sociais, ainda é visível nas escolas do
campo a contemplação de aspectos de
escolas urbanas ao invés de elementos de
valorização da cultura do homem do
campo, dentre os quais, a flexibilização de
currículo e de calendário.
Em seu Artigo 28, a Lei 9394/96
permite aos sistemas de ensino, em
especial, aos sistemas municipais,
responsável por aproximadamente 95% da
Educação do Campo no país, que os
mesmos possam realizar adaptações tanto
no que se refere ao currículo escolar,
saindo-se da concepção de Currículo
Básico Comum estratificado, para um
currículo versátil que atenda aos interesses
da população do campo, além é claro de
permitir ainda a reestruturação do
calendário escolar, de acordo com as
necessidades sazonais do campo, em
virtude das colheitas. Tal elemento é muito
importante para analisar-se a dinâmica
pedagógica e de migração do campo, que a
cada período de plantio e colheita, mudam-
se de localização, como elemento para
manter-se com posto de trabalho.
No âmbito da organização das
escolas, podemos observar que o modelo
de seriação não é mais estratificado, mas
abre espaço para o modelo da
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 333-358
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
344
Ledo, M. T. S. (2018). O processo de ensino nas escolas multisseriadas do campo e o Programa Escola Ativa...
multisseriação, no qual alunos de
diferentes séries/anos contemplam o
mesmo espaço pedagógico de
aprendizagem, assimilando conteúdos
diferentes, de acordo com o ano ao qual
estão vinculados.
Diante da realidade da Educação do
Campo, mesmo após a publicação da Lei
9394/96, Figueiredo (2009, p. 03) atesta
que
Os livros didáticos que chegavam até
estas escolas, na maioria das vezes,
eram as sobras dos que foram
distribuídos, nas escolas públicas
urbanas, sem que os professores
tivessem participado da escolha dos
mesmos. A princípio esta diversidade
de livros didáticos pode ser ponto
positivo, pois obriga o professor a
usar mais de um tipo de livro por
série, todavia, na prática, esses livros
quando utilizados não representam
mudança metodológica nem
ideológica, constituindo a mesma
práxis como se o professor estivesse
utilizando um livro para cada série
(já que as turmas são multisseriadas).
(Figueiredo, 2009, p. 03).
Estudos de Rocha, Passos e Carvalho
(2010) apontam que
Segundo dados do INEP (2002) o
ensino na zona rural do Brasil
embora represente 50% dos
estabelecimentos de educação básica
e 15% das matrículas, seus
indicadores são horríveis: apenas
5,2% dos estabelecimentos possuem
bibliotecas, 0,5% possuem
laboratórios de ciências ou
informática, 0,4% tem acesso à
Internet, 8% possuem equipamentos
de tv/ vídeo/ parabólica, apenas 58%
possuem energia elétrica e 78%
possuem algum tipo de esgotamento
sanitário. Apenas 9% das funções
docentes de à 4ª série possuem
formação em nível superior
(enquanto na zona urbana o
percentual é 38%); na à 8ª, onde o
mínimo legal é educação superior,
este índice é de apenas 42% (nas
escolas urbanas são 79%). os
salários, segundo os questionários do
SAEB, são de R$ 296 para os
professores de à série (na zona
urbana R$ 619) e R$ 351 para os
professores(as) de 5ª à 8ª série (na
zona urbana R$ 870). Por fim,
constata-se que 67% dos 3,6 milhões
de alunos(as) da zona rural que
possuem acesso ao transporte escolar
são levados para escolas situadas na
zona urbana, onde, com certeza, vão
ajudar a engrossar os índices de
evasão e fracasso escolar. Cabe dizer
que 70% dos estabelecimentos de
ensino da zona rural de educação
básica possuem até 50 alunos e que
52% dos estabelecimentos de ensino
fundamental situados na zona rural
possuem uma sala de aula apenas.
Segundo censo demográfico do
IBGE (2000) a taxa de analfabetismo
da população de 15 anos ou mais do
campo é 29,8% (no urbano o
percentual cai para 10,3%) e o
número médio de anos de estudos da
população nessa mesma faixa etária é
de 3,4 anos na zona rural enquanto
no urbano esse número é de 7,0 anos.
(Rocha, Passos & Carvalho, 2010, p.
18).
Mesmo após uma década de
aprovação da Lei 9394/96, ainda é
discrepante a realidade das escolas do
campo, em detrimento as propostas e
avanços expostos para a educação urbana.
Ainda é visível a utilização político-
partidária da escola do campo como
recurso para obtenção de votos,
apadrinhamentos políticos, entre outros,
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 333-358
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
345
Ledo, M. T. S. (2018). O processo de ensino nas escolas multisseriadas do campo e o Programa Escola Ativa...
deixando-se como segundo plano o
processo de ensino e aprendizagem.
Em 03 de abril de 2002 a Câmara de
Educação Básica do Conselho Nacional de
Educação aprovou as Diretrizes
Operacionais para a Educação Básica nas
Escolas do Campo. Essas diretrizes são a
consequência da luta dos movimentos
sociais na busca de uma educação de
qualidade do campo para o povo do
campo. Nelas estão estabelecidas
definições e princípios para a construção
de um projeto pedagógico que contemple a
uma educação pública de qualidade para o
campo.
O Parágrafo Único do artigo das
Diretrizes da Educação do Campo apontam
que:
A identidade da escola do campo é
definida pela sua vinculação às
questões inerentes à sua realidade,
ancorando-se na temporalidade e
saberes próprios dos estudantes, na
memória coletiva que sinaliza
futuros, na rede de ciência e
tecnologia disponível na sociedade e
nos movimentos sociais em defesa de
projetos que associem as soluções
exigidas por essas questões à
qualidade social da vida coletiva no
país. (Brasil, 2002).
Ou seja, a consolidação do perfil e da
identidade da escola torna-se o marco
regulamentador para a construção do
projeto pedagógico, reconhecendo os
valores e as múltiplas identidades que este
espaço propõe para a formação humana.
Esta diversidade na construção da proposta
pedagógica é refletida novamente no artigo
5º, que retrata a diversidade do campo, fato
que é tachado novamente no artigo 7º,
quando destaca a possibilidade de criação
de um calendário escolar específico para as
escolas do campo.
Assim, Ribeiro (2009) aponta que:
O Projeto Político-Pedagógico deve
ver a escola como um todo em sua
perspectiva estratégica, não apenas
em sua dimensão pedagógica. É uma
ferramenta gerencial que auxilia a
escola a definir suas prioridades, a
converter as prioridades em metas
educacionais e operacionais, a decidir
os caminhos a serem seguidos para
alcançar as metas de ensino e
aprendizagem, a ponderar se os
resultados foram ou não atingidos,
bem como os motivos dos sucessos e
possíveis fracassos. (Ribeiro, 2009,
p. 18).
Sobre as diretrizes para o campo,
Antunes-Rocha et al. (2010, p. 43)
afirmam que “as diretrizes representam
uma conquista para educação do campo,
que, segundo elas a especificidade do
campo não é mais uma característica
ignorada. A identidade do campo vem à
tona transbordando sua cultura, seus
aspectos sociais, econômicos e políticos”.
Portanto, deve-se compreender que a
educação é uma importante ferramenta
para o desenvolvimento integral do campo,
estabelecendo elos entra a formação
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 333-358
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
346
Ledo, M. T. S. (2018). O processo de ensino nas escolas multisseriadas do campo e o Programa Escola Ativa...
escolar e a formação profissional aliadas à
formação humana.
Neste quadro multifacetado da
Educação do Campo foram abertas
políticas públicas para a melhoria da
qualidade da Educação do Campo. Entre
elas tem-se a criação do Programa
Nacional de Educação na Reforma Agrária
(PRONERA), que serviu como base de
parceria entre movimentos sociais e
universidades para a promoção da
formação do homem e mulher do campo
com a oferta de cursos de Educação de
Jovens e Adultos (EJA), cursos técnicos,
de graduação com a utilização da
“Pedagogia da Terra” e da “Pedagogia da
Alternância”, englobando povos indígenas,
quilombolas e diversos outros sujeitos
sociais. Ainda, diante dessa política
voltada para a educação, temos o Programa
Escola Ativa, criado em 1997, como uma
estratégia pedagógica para auxiliar as redes
de ensino no trabalho multisseriado. Em
seguida tiveram-se outras políticas, como o
Escola da Terra, que visa a formação
continuada de professores das escolas
multisseriadas do campo e ainda o
Programa Nacional de Educação do
Campo (Pronacampo), instituído pelo
Decreto nº 7.352/2010.
Logo, entender essas políticas
públicas é essencial para compreender-se o
processo de mutabilidade que vem
ocorrendo nas escolas do campo, seja no
campo legal ou metodológico. Assim, um
dos programas que tiveram maior alcance
no campo educacional fora o Programa
Escola Ativa.
Estratégias Pedagógicas para a
Educação do Campo: Programa Escola
Ativa
O Programa Escola Ativa integrou
uma das ações do Ministério da Educação
de proposta de ensino para as escolas
multisseriadas do campo. O programa fora
criado em 1997 e iniciou os seus trabalhos
como projeto piloto nas regiões Norte,
Nordeste e Centro-Oeste, e tinha como
objetivo ampliar e melhorar a oferta do
ensino nas escolas multisseriadas de
educação fundamental do campo, indo
desde a formação docente até a
implementação de projetos de melhoria da
infraestrutura e de oferta de materiais de
apoio pedagógico, aliando-se a uma
metodologia diferenciada de ensino e ao
protagonismo juvenil.
Segundo Gonçalves (2009),
O PEA esteve, inicialmente, ligado
ao Projeto Nordeste/MEC e, em
1999, foi assumido pelo Fundo de
Fortalecimento da Escola o
FUNDESCOLA, fundo este
constituído com recursos de
empréstimo contratados pelo Brasil
junto ao Banco Mundial para a
melhoria da qualidade das escolas de
educação fundamental. Este
Programa foi inspirado em seu
homólogo colombiano, o Programa
Escuela Nueva (PEN), uma das
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 333-358
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
347
Ledo, M. T. S. (2018). O processo de ensino nas escolas multisseriadas do campo e o Programa Escola Ativa...
principais estratégias do governo
colombiano para atender a população
rural, no que tange à educação básica
cuja origem, por sua vez, remonta à
década de 1960 e à implantação do
modelo de Escola Unitária, então
divulgado pela UNESCO.
(Gonçalves, 2009, p. 16).
Pode-se perceber que o Programa
não é uma estratégia exclusiva do governo
brasileiro, mas uma junção de políticas
governamentais internacionais a fim da
melhoria da qualidade do ensino nas
comunidades rurais, o que por sua vez,
implica em analisar a realidade nacional
para a real eficácia do programa.
Nos últimos anos o programa teve
uma grande expansão, atingindo todos os
Estados brasileiros, e com ações agregadas,
que vão desde a disponibilização de
material didático específico do programa
até a liberação de recursos através do
Programa Dinheiro Direto na Escola para
as escolas multisseriadas a fim de melhoria
da infraestrutura física das escolas.
Em 2008, o Programa Escola Ativa
passa a ser parte integrante de política do
Ministério da Educação, integrando a
Secretaria de Educação Continuada,
Alfabetização e Diversidade (SECAD),
atualmente, a SECADI, estando atrelado à
Coordenação Geral de Educação do
Campo. Em 2009, o Ministério da
Educação abriu através do Plano de Ações
Articuladas (PAR) a possibilidade de
adesão dos municípios ao Programa, que
em 2010, atingiu mais de 85% das escolas
multisseriadas do campo, conforme dados
do Instituto Nacional de Pesquisas
Educacionais INEP.
Baseado no Programa colombiano de
referencia internacional, o Escuela Nueva,
o Programa Escola Ativa buscou promover
o resgate dos sujeitos do campo nas
dimensões sociopolíticas, com o
envolvimento de diversos fatores, como a
organização do trabalho pedagógico, que
busca transformar o aluno em autor de sua
história e este deve atuar junto à
comunidade de forma a contribuir para o
desenvolvimento local, através do avanço
da participação da família na escola,
aplicando o processo pedagógico ao qual
denominamos de Pedagogia da
Alternância.
Segundo o MEC (Brasil, 2010), o
Programa Escola Ativa tem por finalidade
Valorizar o profissional da educação
escolar, através da busca de
condições adequadas de formação
em caráter inicial e continuado ,
remuneração, acompanhamento
pedagógico, possibilidades de
intercâmbio e formas de
aprendizagem em serviço, estudo da
diversidade e dos processos de
interação e de transformação do
campo. Cabe a este profissional,
destacada participação no processo
de ensino e de aprendizagem para
além da condição de mero
observador ou provocador de
conflitos cognitivos. Seu papel
consiste em promover situações de
envolvimento e compromisso dos
estudantes com o estudo e ação sobre
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 333-358
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
348
Ledo, M. T. S. (2018). O processo de ensino nas escolas multisseriadas do campo e o Programa Escola Ativa...
sua realidade e com a valorização dos
povos do campo. A gestão
democrática do ensino público
corresponde à participação da
comunidade na elaboração do projeto
pedagógico da escola, na definição
de prioridades e na organização de
tarefas administrativas e gestão dos
recursos da própria unidade escolar,
bem como ao cuidado com o
patrimônio da escola. Para o
Programa Escola Ativa, a gestão
democrática encontra-se concretizada
no elemento curricular ‘Colegiado
Estudantil’ e nos outros instrumentos
de participação que chamam os
estudantes para assumir
responsabilidades ante a escola e a
comunidade, valorizando a
experiência extraescolar, as formas
de trabalho e sobrevivência e relação
com o meio ambiente que
respondem, juntos, pela grande
diversidade das populações do
campo. (Brasil, 2010, p. 22).
Pode-se verificar que a dimensão do
Programa busca a promoção de uma
educação para a transformação social com
uma formação educativa, política, social,
econômica e cultural, além de propiciar a
construção de uma educação voltada para
valores humanísticos.
É necessário notar que as
diversidades constantes nas regiões
brasileiras, no que se refere ao ensino e a
aprendizagem nas escolas campesinas são
muito dicotômicas. Tal fato pode ser
amplamente verificado pela falta de
profissionais para o exercício do
magistério nas regiões Norte e Nordeste do
país, uma vez que ainda é comum que as
escolas funcionem em prédios cedidos por
latifundiários que determinam os
profissionais que estarão diretamente
vinculados aos espaços educativos.
Tal fator é discrepante frente a
realidade necessitada pelo programa, uma
vez que, a inserção do jovem no meio
campesino, como ator do processo
educativo, é algo ainda pouco explorado e
pouco conhecido pela maioria dos
profissionais.
Segundo Speyer (1983), a
necessidade de contato dos indivíduos com
a realidade que o cerca é muito importante
para o pleno desenvolvimento humano.
O contato humano urbano, na sua
maior parte, é o relacionamento de
indivíduos, condicionado pelo papel
que desempenham no complexo
social de que fazem parte. Ao
contrário, o relacionamento no meio
rural é de pessoas que se conhecem:
conhecem sua história, seus
relacionamentos, suas angústias, seus
anseios. É evidente que esse nível de
relacionamento também se pode
atingir na cidade, mas o que se
distingue aqui é a comunidade urbana
e a comunidade rural: aquela é
individualizada, esta é personalizada.
(Speyer, 1983, p. 51).
Ou seja, o contato do indivíduo com
o espaço físico que está ao seu entorno é de
extrema importância para o
estabelecimento de relações concretas com
o saber, principalmente, por haver uma
maior integração entre família e escola.
Contudo, é necessário que se
estabeleçam estratégias de ensino a fim de
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 333-358
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
349
Ledo, M. T. S. (2018). O processo de ensino nas escolas multisseriadas do campo e o Programa Escola Ativa...
nortear o trabalho pedagógico. Neste
sentido, o Programa Escola Ativa tinha
entre as suas proposições trabalhos em
grupo para a troca de experiências,
compartilhamento de ideias a fim de
proporcionar a formação de um educando
autônomo e responsável, através de uma
mudança de pensamento e o estímulo ao
desenvolvimento das tarefas e da ação
social local.
Porém, a formação de muitos
docentes restringe-se a aplicação de
metodologias voltadas para o ensino de
conteúdos, que foge em muito à prática
voltada para a formação cidadã. Contudo,
para que tais elementos se conduzam é
necessário que o professor ressignifique a
sua formação e a forma de conceber a
educação, para que possa atuar de forma
profícua na construção da cidadania do
campo (Brasil, 2010).
Essa modificação do perfil docente,
saindo da prática da escola tradicional para
a escola nova, reflete-se muito na
necessidade de promoção do aluno no
centro do processo educativo.
O eixo do trabalho pedagógico
desloca-se, portanto, da compreensão
intelectual para a atividade prática,
do aspecto lógico para o psicológico,
dos conteúdos cognitivos para os
métodos ou processos de
aprendizagem, do professor para o
aluno, do esforço para o interesse, da
disciplina para a espontaneidade, da
quantidade para a qualidade. A
prática determina a teoria. Esta deve
se subordinar àquela, renunciando a
qualquer tentativa de orientá-la, isto
é, de prescrever regras e diretrizes a
serem seguidas pela prática e
resumindo-se aos enunciados que
vierem a emergir da própria atividade
prática desenvolvida pelos alunos
com o acompanhamento do professor
(Saviani, 2006, p. 48).
Por outro lado, observa-se uma
dinamização do processo didático,
estabelecendo metodologias de ensino que
afirmam ser consideradas superiores às
metodologias docentes, havendo uma
hierarquização do saber do professor para
o aluno e deste para com a comunidade.
Assim, a formação no espaço educativo é
um importante elemento para a
materialização ideológica na comunidade.
A partir dos elementos e das proposições
realizadas, apesar de não atenderem às
realidades locais, demonstram uma
significação do espaço urbano sobre o
espaço campesino, que o aluno é levado
a inserir-se na comunidade e desta para o
território ao qual está vinculado.
É o caso, por exemplo, do colegiado
estudantil e do conselho escolar que são
ações propostas na metodologia do
programa e normatizado na Lei 9394/96,
em seu artigo 14, inciso II.
Segundo Brasil (2010, p. 34),
O Colegiado Estudantil constitui-se
de um coletivo de representantes dos
comitês, proposto pelo Programa
Escola Ativa, como forma de
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 333-358
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
350
Ledo, M. T. S. (2018). O processo de ensino nas escolas multisseriadas do campo e o Programa Escola Ativa...
fortalecer a gestão democrática e a
participação dos estudantes e da
comunidade. Sua função é estimular
a auto-organização dos estudantes, a
tomada de decisões coletivas, a
cogestão. O Colegiado Estudantil terá
sua representação no Conselho
Escolar, conforme estrutura prevista
na LDB/96, que reúne, também,
educadores e comunidade. A
experiência demonstra que esta
participação contribui para que os
estudantes compreendam as diversas
formas existentes de compromisso
com a sociedade, os mecanismos de
participação e gestão, além de
favorecer a aprendizagem
cooperativa. O Colegiado deve
constituir-se em um espaço de
formação política e de aprendizagem
do compromisso da escola com a
comunidade. (Brasil, 2010, p. 34).
Todavia, essa prática não se vincula
efetivamente nas escolas campesinas, uma
vez que, a grande maioria dos atores a
serem envolvidos neste processo são pais
de alunos, que vivem do cultivo e da
produção familiar ou como “agregados” a
fazendeiros, que dificultam a participação
e interação da família com a escola. Outro
aspecto muito importante a ser analisado é
que a grande maioria das instituições de
ensino localiza-se em áreas cedidas e são
utilitárias do transporte escolar, ou seja, o
aluno e a família residem em comunidades
distantes da escola a qual os filhos estão
matriculados e muitas das escolas do
campo contam com número reduzido de
alunos.
O chamamento da comunidade para
integra-se ao processo de construção da
identidade da escola é um importante
elemento para a efetivação dos objetivos
da escola. Assim, estabelece o caderno
base do programa:
A escola deve procurar aprofundar
sua inserção na comunidade da qual
faz parte por meio de atividades
curriculares relacionadas à vida
diária, ao ambiente natural e social, à
vida política e cultural e às condições
materiais dos educandos e da
comunidade (Brasil, 2010, p. 36).
O programa conta ainda com os
cadernos de ensino e aprendizagem de
diferentes componentes curriculares que
traçam o perfil do estudante a ser formado.
Neles são traçados os objetivos de
aprendizagem para cada ano de
escolaridade. Apesar de seu caráter
interdisciplinar, o material didático não
parte da realidade das regiões brasileiras
nem da realidade local para conduzir o
processo de ensino por parte do
profissional da educação. Este, muitas
vezes, não possui formação nas diferentes
áreas do saber para relacioná-las de forma
dinâmica e construtiva para a formação
integral do aluno.
Conforme Brasil (2010, p. 31),
O livro do estudante auxilia,
principalmente, o trabalho
simultâneo do educador com as
várias séries. Seu papel é sempre o de
introduzir novos conteúdos,
estabelecendo relações com o que a
criança sabe. O educador deve
ampliar as atividades escolares de
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 333-358
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
351
Ledo, M. T. S. (2018). O processo de ensino nas escolas multisseriadas do campo e o Programa Escola Ativa...
ensino-aprendizagem para além do
livro do estudante. Considerando que
a própria realidade é uma totalidade
com múltiplas relações, é nela que se
encontra a interdisciplinaridade à
disposição do trabalho escolar.
(Brasil, 2010, p. 31).
Os cadernos apresentam a seguinte
estrutura: Atividades Básicas, Atividades
Práticas e Atividades de Aplicação e
Compromisso. Essas atividades
“favorecem a pesquisa e a
problematização, possibilitam a construção
do conhecimento no coletivo e
individualmente, estimulam a cooperação,
o diálogo, a reflexão e o compartilhamento
de ideias” (Brasília, 2010).
As atividades básicas propostas nos
livros do aluno buscam explorar os
conhecimentos prévios dos alunos,
explorando o conhecimento da
comunidade e aprofundando-se em áreas
do conhecimento. Entretanto, os livros
buscam determinar ao aluno a forma de
aprendizagem e a sua atuação na
comunidade, o que condiciona uma forma
de hierarquia do próprio processo de
ensino, partindo-se das atividades básicas,
práticas e de aplicação.
Além do livro didático, o programa
distribui às escolas participantes do
Programa materiais de apoio pedagógico,
como globo terrestre, bússola, esqueleto
humano, alfabeto móvel cursivo, ábaco.
Outra estratégia utilizada pelo
Programa são os Cantinhos de
Aprendizagem, que estão incluídos na sala
de aula para promover uma aprendizagem
compartilhada e interdisciplinar. Fator
preponderante tanto no ensino urbano
quanto do campo são basilares para um
aprofundamento do processo de
aprendizagem do aluno.
Os Espaços de Pesquisa é o
fortalecimento e a vinculação do perfil do
professor como mediador de aprendizagem
e também como pesquisador de
proposições pedagógicas que elevem a
atuação do aluno como ser pensante e
crítico frente ao processo de ensino e,
consequentemente, a aprendizagem.
Porém, torna-se necessário que o professor
se integre com a comunidade local, na qual
a escola está inserida, fato este muito
imprevisível, haja vista que muitos
professores se deslocam do meio urbano
para ministrar aula nas escolas do campo e
depois retornam para localidade de origem,
não havendo, portanto, contato com a
comunidade.
A lei 9394/96 ressalta entre os
princípios da educação, em seu artigo 3º,
VIII, a gestão democrática, o que permite
que a escola não mais seja o centro de
controle do professor. É fato que a maioria
das escolas campesinas conta com apenas a
figura do professor como responsável por
toda uma dinâmica que envolve não apenas
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 333-358
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
352
Ledo, M. T. S. (2018). O processo de ensino nas escolas multisseriadas do campo e o Programa Escola Ativa...
o papel de mediador da aprendizagem, mas
também de diretor, responsável por
matrículas, acompanhamento pedagógico,
inclusive, limpeza e realização da merenda
escolar.
Um dos elementos norteadores do
Programa e também dos Movimentos
Sociais está no estreitamento de relações
da escola e da comunidade. Isso se deve ao
fato de que a escola tem um papel
fundamental de contribuir para o
desenvolvimento humano e local, mas para
tanto, ela deve se inserir nos espaços
dinâmicos e construtivos das comunidades
do campo, a fim de conhecer a realidade de
vivência do aluno e poder nela inferir de
maneira proveitosa, destacando as
habilidades e competências dos educandos.
Assim, Brasil (2010, p. 35) retrata
que
A escola deve procurar aprofundar
sua inserção na comunidade da qual
faz parte por meio de atividades
curriculares relacionadas à vida
diária, ao ambiente natural e social, à
vida política e cultural e às condições
materiais dos educandos e da
comunidade. Neste sentido, o
Programa Escola Ativa inclui este
elemento de modo a estimular uma
maior interação entre a escola e a
comunidade. Ao adotar uma
organização diferenciada do trabalho
pedagógico, em que os anos iniciais
do Ensino Fundamental formam uma
etapa menos fragmentada, busca-se
apontar para uma matriz formadora e
uma compreensão mais ampliada,
integral e multidisciplinar deste
período do desenvolvimento. Busca-
se, desta forma, compreender a
infância como constituída de
diferentes estágios de
desenvolvimento e não como
sequência de séries escolares. (Brasil,
2010, p. 35).
A escola, assim, precisa refletir sobre
o tipo de relação que pretende e deve
manter com o meio social no qual está
inserida. Um projeto de educação deve
considerar as interações entre os sujeitos e
deste com o ambiente, uma vez que
influencia e é influenciada pelos mesmos.
Além das propostas a serem
desenvolvidas para a aprendizagem do
aluno, o Programa contemplou a formação
continuada de professores.
A União, através de parceria com as
Instituições de Ensino Superior, realizou a
formação continuada de coordenadores e
técnicos do programa indicados pelas
Secretarias de Educação e cadastrados no
ato da adesão do município ao Programa
Escola Ativa. Cada Coordenador/Técnico
era responsável por, no máximo, 25
escolas multisseriadas no município. Esses
técnicos eram capacitados por uma
universidade parceira, que no caso de
Minas Gerais fora a Universidade Federal
de Minas Gerais (UFMG), e tinham por
obrigação realizar o repasse aos
professores que integravam as escolas da
rede.
O curso de formação de educadores
tinha uma média de 240 horas, subdividido
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 333-358
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
353
Ledo, M. T. S. (2018). O processo de ensino nas escolas multisseriadas do campo e o Programa Escola Ativa...
nos seguintes módulos: metodologia do
Programa Escola Ativa; Alfabetização e
Letramento; Introdução à Educação do
Campo; Práticas Pedagógicas em
Educação do Campo; Gestão Educacional
no Campo e A Tecnologia na Educação do
Campo.
Entendemos que um aspecto
relevante do curso refere-se a sua
potencial capacidade de atingir um
grande número de educadores de
forma indireta, pois, a formação de
técnicos seria realizada
simultaneamente com a formação dos
educadores. Neste sentido, na medida
em que os técnicos recebem a
formação estariam repassando suas
aprendizagens para os educadores da
rede nos microcentros. (Brasil, 2010,
p. 36).
A formação continuada de
professores é um importante elemento para
o processo de ensino e aprendizagem,
principalmente, na aplicabilidade de novas
metodologias de ensino. Todavia, a
mudança da práxis docente ocorre tão
somente com apoio e aplicabilidade de
metodologia, que mais uma vez, repete os
erros do passado de formação continuada
sem o devido acompanhamento de
resultados.
Apesar de a proposta do programa
tentar contemplar as diretrizes para a
Educação do Campo, a mesma adentra-se
em um campo pragmático, por não
considerar a formação como elemento
concreto, valorizando-se apenas a prática
docente individual, baseada em planos cuja
base é o livro-base desconsiderando-se o
contexto sócio histórico e político da
formação de educadores para atuação no
campo, caracterizando este como espaço
de vivência e de interações sociais
diversas, como, alunos de comunidades
diferentes, modos de vida, costumes,
aspectos linguísticos, entre outros.
Conclusão
A proposta de uma educação voltada
para o campo é uma das maiores
reivindicações dos movimentos sociais
ligados à questão da terra, exatamente pela
necessidade de fortalecer o vínculo do
homem do campo com a terra, com o meio
rural e quebrar a formação de estereótipos
moldados pela sociedade urbanizada.
Contudo, o fato de se estabelecer regras
metodológicas não indica a formação de
uma educação de qualidade, mas sim, a sua
aplicabilidade moldada por uma sociedade
urbanizada, excluindo mais uma vez os
movimentos e grupos sociais defensores da
Educação do Campo e para o campo da
formulação da política educacional.
Apesar de o Brasil ser considerado
um país agrário, com mais da metade de
seu mercado de exportação ser voltado
para os produtos da agropecuária, ainda é
incipiente uma política de formação e de
valorização do homem do campo. O fato é
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 333-358
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
354
Ledo, M. T. S. (2018). O processo de ensino nas escolas multisseriadas do campo e o Programa Escola Ativa...
que somente na última década se criou
propostas, como o Programa Escola Ativa,
a fim de que se promova um ensino de
qualidade nas escolas multisseriadas do
campo. Contudo, mesmo com a aplicação
do Programa, os dados demonstram que a
situação nas escolas localizadas na zona
rural é desanimadora. A maioria das
escolas não possui condições estruturais
para o seu funcionamento, os prédios em
condições precárias, sem estrutura física
e/ou humana para o desenvolvimento das
competências humanas. fatos que
remontam até o funcionamento de escolas
em currais.
A proposta do programa é inovadora
no sentido de agregar valor à comunidade e
às relações do aluno de forma
interdisciplinar e ainda levando o aluno a
desenvolver-se e a ver-se presente na
comunidade. Esse papel é realmente
excepcional, pela necessidade de
participação da família nas decisões
escolares e no acompanhamento da
aprendizagem do filho. Entretanto, esta
prática é individual, partindo-se apenas do
campo dos saberes populares,
distanciando-se dos saberes científicos.
Contudo, alguns entraves podem ser
vistos ao se analisar o programa. De um
lado tem-se a falta de dados concretos
sobre o desenvolvimento do programa nos
municípios brasileiros. Não existe uma
política de controle de resultados e de
acompanhamento do desenvolvimento da
metodologia do programa por parte do
órgão gestor, que é o Ministério da
Educação, nem mesmo pelas Secretarias de
Educação, que veem o programa como
mais uma proposta governamental. Isso
dificulta nos estudos sobre os seus avanços
e entraves, fato que o diferencia do
Escuela Nueva colombiano, em que existe
farta literatura sobre o tema e dados do
governo sobre a aplicação do programa e
os avanços do mesmo.
Desta maneira, ainda se verifica
outro entrave, a fim de proporcionar o
pleno desenvolvimento do programa, que é
o fato de que as famílias muitas vezes
encontram-se muito afastadas das escolas o
que, por sua vez, impediria o acesso
daquelas às escolas, por motivos de
trabalho e ainda pela mudança constante
dos alunos devido à sazonalidade das
culturas produzidas no país.
Por outro lado, essa pesquisa torna-se
importante para o educador por abrir
espaço em um tema ainda pouco explorado
pelos cursos de graduação. A Educação do
Campo vem assim ampliando o leque de
possibilidades, levando a promoção de
diferentes estratégias e propostas para um
campo do saber que ainda galga os seus
primeiros passos na busca de estudos mais
aprofundados sobre o tema.
Outra contribuição desta pesquisa
está no fato de poder servir de apoio para a
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 333-358
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
355
Ledo, M. T. S. (2018). O processo de ensino nas escolas multisseriadas do campo e o Programa Escola Ativa...
compreensão de uma política
governamental, relativamente nova, que
vem se construindo a cada ano, não apenas
pela inserção do Programa Escola Ativa,
mas pelas possibilidades dadas às novas
visões sobre o campo, partindo-se de
metodologias para um público esquecido
por séculos por governos e políticas
públicas, que agora vem tentando pagar
esta dívida social, através de estratégias
como o Programa Nacional do Livro
Didático Campo (PNLD Campo), que
apenas atendeu ao público dos anos
iniciais, deixando-se de lado, mais uma
vez, os demais níveis de ensino, como os
anos finais do ensino fundamental. E
também pelo uso exacerbado do transporte
escolar dos alunos do campo para a cidade
para concluírem a educação básica.
Portanto, pode-se considerar que o objetivo
desta pesquisa que era de compreender a
metodologia do programa Escola Ativa,
fora atingido ao revelar que o programa,
apesar de ser uma proposta inovadora para
os moldes brasileiros, desconstruiu-se ao
não ser debatido com os movimentos
sociais, com as instituições e redes de
ensino, particularizando-se em uma
metodologia estratificante, e de não
respeito às realidades das comunidades e
dos povos campesinos. Além disso,
possibilitou a construção de uma análise
sobre as dificuldades e entraves deste
programa que fora utilizado nas escolas de
Minas Gerais.
Por fim, a pesquisa possibilitou
adentrar em um novo universo, daqueles
que representam a diversidade de ensino,
esquecidos e apenas considerados por
anos, como uma extensão do ensino
urbano. Portanto, construir uma Educação
do Campo e um estudo sobre a mesma é
construir possibilidades para antigas
necessidades.
Referências
Antunes-Rocha, M. I., et al. (2010). Da
Educação Rural à Educação do Campo:
Possibilidades de atuação nas classes
multisseriadas. Belo Horizonte, MG:
UFMG.
Azevedo, F. (1976). A cultura brasileira.
São Paulo, SP: Melhoramentos.
Bezerra Neto, L. (2003). Avanços e
retrocessos da Educação Rural no Brasil
(Tese de Doutorado). Universidade
Estadual de Campinas, Campinas.
Brasil. (1934). Constituição da República
dos Estados Unidos do Brasil, promulgada
em 16 de julho de 1934.
Recuperado de:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Cons
tituicao/Constituicao34.htm
Brasil. (1988). Constituição da República
Federativa do Brasil, promulgada em 05
de outubro de 1988. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/const
ituicao/constituicao.htm
Brasil. (1996). Lei 9394, de 20 de
dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes
e Bases da Educação Nacional. 6 ed.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 333-358
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
356
Ledo, M. T. S. (2018). O processo de ensino nas escolas multisseriadas do campo e o Programa Escola Ativa...
Brasília: Edições Câmara, 2011 (série
legislação).
Brasil. (2002). MEC/CNE/CEB. Diretrizes
Operacionais para a Educação Básica das
escolas do Campo. Resolução 01 de 03
de abril de 2002.
Brasil. (2010). MEC/SECAD. Projeto
Base. Brasília, DF. Recuperado de:
http://portal.mec.gov.br/index.php?option=
com_docman&view=download&alias=571
6-escola-ativa-projeto-base&Itemid=30192
Fernandes (1989). O Desafio Educacional.
São Paulo, SP: Vozes.
Figueiredo, T. M. M. (2009). Educação do
campo: uma nova possibilidade para
antigas necessidades. In: Encontro mineiro
de educação no campo FAE/UFMG. Belo
Horizonte, julho/2009. Recuperado de:
http://www.lfti.com.br/EMEC/trabalhos/92
/EDUCACAO%20DO%20CAMPO%20T
EXTO%20P%20UFMG.pdf.
Ghiraldelli Junior, P. (1990). História da
Educação. São Paulo, SP: Cortez.
Gonçalves, G. B. B. (2009). Programa
Escola Ativa: educação do campo e
trabalho docente (Tese de Doutorado).
Universidade do Estado do Rio de Janeiro,
Rio de Janeiro.
Melià, B. (1979). Educação indígena e
alfabetização. São Paulo, SP: Loyola.
Moraes, M. C. M., & Müller, R. G. (2003).
Tempos em que a “razão deve ranger os
dentes”: E. P. Thomson, história e
sociologia. In Congresso Brasileiro de
Sociologia, 11 (pp. 2-17). Campinas, SP:
Unicamp.
Nascimento, C. G. (2009). Educação do
Campo e Políticas Públicas para além do
capital: Hegemonia em disputa (Tese de
Doutorado). Universidade de Brasília,
Brasília.
Ribeiro, V. (2009). Práticas Pedagógicas
em Educação do Campo. Belo Horizonte,
MG: UFMG.
Romanelli, O. O. (2014). História da
educação brasileira (1930-1973). Rio de
Janeiro, RJ: Vozes.
Rocha, E. N., Passos, J. C., & Carvalho, R.
(2010). A. Educação do campo: Um Olhar
Panorâmico. In. Almeida, R. A., & Guerra,
M. D. S. Educação do Campo (pp. 39-53).
Montes Claros, MG: Unimontes.
Saviani, D. (2006). Escola e democracia.
Campinas, SP: Autores Associados.
Speyer, A. M. (1983). Educação e
campesinato: Uma educação para o
homem do meio rural. São Paulo, SP:
Edições Loyola.
Recebido em: 19/11/2016
Aprovado em: 15/02/2017
Publicado em: 26/04/2018
ORCID
Marco Túlio Santos Ledo
http://orcid.org/0000-0003-3296-9185
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 333-358
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
357
Como citar este artigo
/
How to cite this article
/
Como citar este artículo:
APA:
Ledo, M. T. S. (2018). O processo de ensino nas
escolas multisseriadas do campo e o Programa Escola
Ativa. Rev. Bras. Educ. Camp., 3(1), 313-358.
ABNT:
LEDO, M. T. S. O processo de ensino nas escolas
multisseriadas do campo e o Programa Escola Ativa.
Rev. Bras. Educ. Camp., Tocantinópolis, v. 3, n. 1,
p. 333-358, 2018.
Ledo, M. T. S. (2018). O processo de ensino nas escolas multisseriadas do campo e o Programa Escola Ativa...
O autor é responsável pela elaboração, análise e
interpretação dos dados; escrita e revisão do
conteúdo do manuscrito. O autor também foi
responsável pela aprovação da versão final a ser
publicada.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 1
p. 333-358
jan./abr.
2018
ISSN: 2525-4863
358
Revista Brasileira de Educação do Campo
The Brazilian Scientific Journal of Rural Education
DIRETRIZES E NORMAS PARA PUBLICAÇÃO /
GUIDELINES AND INSTRUCTIONS FOR AUTHORS
Diretrizes e Normas para Publicação /
Guidelines and Instructions for Authors
[PT] SUBMISSÕES
Diretrizes para Autores
1. Ao enviar o trabalho, os (as) autor (as/es) deverá ter conhecimento de que a publicação de
textos acadêmicos de sua autoria como artigos, ensaios, resenhas e entrevistas implica a cessão
integral dos seus direitos autorais à Revista Brasileira de Educação do Campo, tanto no formato
físico (se houver) quando no formato eletrônico (on line) da revista.
Tutorial para autores(as) que queiram enviar manuscritos a revista:
https://sistemas.uft.edu.br/periodicos/index.php/campo/Autores
OBS. A Revista Brasileira de Educação do Campo publicará imagens de menores de 18
anos, caso o(s) autor(s) assuma total responsabilidade das imagens e que possui
autorização escrita dos pais ou responsáveis. Caso contrário, as imagens deverão preservar
o anonimato de menores de 18 anos.
OBS. Os(as) autores(as) deverão referenciar de maneira explícita outras publicações de
outros(as) autores(as) citadas no seu trabalho. DEVE-SE EVITAR TOTALMENTE A
PRÁTICA DE PLÁGIO E DE AUTO-PLÁGIO. Sobre isso, a RBEC se reserva no direito
de utilizar softwares anti-plágio para procura/identificação de plágio nos textos recebidos
pela revista, buscando evitar que tal prática ocorra e que a ética e a boa conduta científica
na pesquisa sejam fielmente cumpridas.
ATENÇÃO: Os textos enviados à revista devem atender as regras do novo Acordo
Ortográfico da Língua Portuguesa, que passou a ser obrigatório no Brasil a partir de
janeiro de 2016!
Os artigos serão publicados na revista apenas quando forem avaliados e aceitos para publicação
pelos pareceristas e avaliadores ad hoc. A revista tem como critérios para publicação dos artigos
selecionados:
A)
Originalidade e contribuição à revista e, consequentemente, à educação do campo;
B)
Consistência e rigor teórico e metodológico da pesquisa;
Os artigos aprovados para publicação não implica que os mesmos serão publicados na
edição seguinte. Assim, todo artigo aprovado entra na fila de edição. Ou seja, cabe a
Comissão Editorial decidir quais artigos serão publicados em determinado mero da
revista, considerando as temáticas e demandas editoriais da revista.
A Revista Brasileira de Educação do Campo se reserva no direito de arquivar os artigos
corrigidos pelos autores que foram aceitos para publicação, e que não foram enviados
dentro do prazo estipulado pela revista na carta de aceite do manuscrito.
Após ter o artigo aprovado para ser publicado na revista, o(a) autor(a) deverá incluir uma
nota ao final do manuscrito indicando a contribuição de cada autor na elaboração do
artigo. Além disso, a revista se reserva no direito de solicitar ao(a) autor(a) a versão em
inglês do artigo aprovado (versão final), revisada e traduzida por um profissional da área
do idioma.
2. Os conteúdos dos textos e as opiniões emitidas nos manuscritos publicados neste
periódico são de inteira responsabilidade dos (as) autor (as/es), e não da Revista Brasileira
de Educação do Campo.
3. Em alguns casos que a revista entender for necessário, quando apropriado e solicitado, o (a)
autor (a) deverá enviar para a revista um atestado de que a pesquisa foi aprovada pelo Comitê de
Ética da instituição.
4. Os Dossiês Temáticos podem ser organizados por pesquisadores nacionais e estrangeiros,
como proposta para publicação na revista.
5. Os documentos suplementares são aqueles que se referem a conjuntos de dados, instrumentos
de pesquisas entre outros (como por exemplo, a declaração que se refere o item 1), que não se
enquadram no corpo do texto. Assim, quando necessários na submissão (enviados pelo autor (a)
na etapa de submissão), não devem conter qualquer tipo de identificação de autoria.
Obs. Não haverá qualquer tipo de pagamento aos autores que tiverem seus manuscritos
publicados nesta revista. A Revista Brasileira de Educação do Campo é um periódico científico
eletrônico de acesso aberto e gratuito, com o objetivo de socializar conhecimento e contribuir
para o avanço científico da área da pesquisa em Educação do Campo e, consequentemente, para
a Educação em geral.
6. No processo de submissão (envio) do manuscrito à Revista Brasileira de Educação do Campo
(on line, pelo site da Revista, acesso com login e senha:
(https://sistemas.uft.edu.br/periodicos/index.php?journal=campo&page=index), deverão ser
inseridas nos sistema da Revista informações como: nome (s) completo (s) do/da (s) autor (as)
(es), (no máximo três), seu (s) endereço (s), filiação institucional e o email do (a) autor (a)
principal para correspondência, além de seu endereço físico institucional. Essas informações não
devem ser inseridas no texto, apenas no sistema da Revista.
7. Em documentos do Microsoft Office Word, a identificação do autor deve ser removida das
propriedades do documento (no menu do Word > Opções do Word ou propriedades), para evitar
quebra de anonimato.
8. A Revista Brasileira de Educação do Campo aceitará apenas uma publicação a cada 2
anos na revista, do (a) mesmo (a) autor (a).
9. Com o objetivo de evitar a endogenia, a Revista Brasileira de Educação do Campo não
permitirá uma porcentagem maior que 20% dos manuscritos publicados a cada edição da
Revista, de autores (as) oriundos da Universidade Federal do Tocantins, de quaisquer campi.
10. A revista aceita submissões de manuscritos nos idiomas português, espanhol e inglês.
11. Os textos (artigos, ensaios, resenhas, entrevistas) deverão ser submetidos pela internet, por
meio do Portal: https://sistemas.uft.edu.br/periodicos/index.php?journal=campo&page=index
12. Caso o artigo, resenha, ensaio ou entrevista tenha sido publicado anteriormente em anais de
eventos científicos, na forma de resumo simples ou expandido, o (a) autor (a) deverá
OBRIGATORIAMENTE informar o editor e relatar essa informação no texto enviado a revista,
em nota no final do texto.
OBS. Os trabalhos aceitos para publicação seguem o fluxo editorial da revista.
Na redação do artigo, devem ser observadas as seguintes informações:
1.
Os artigos e ensaios deverão conter obrigatoriamente: resumo, palavras-chave; abstract,
keywords; resumen, palabras-clave; Introdução, Desenvolvimento (discussão),
Conclusão/Considerações Finais e Referências.
OBS. A tradução do resumo e do artigo para outros idiomas (inglês e espanhol), bem como
da revisão gramatical, é de inteira responsabilidade de seus autores(as), e não da Revista
Brasileira de Educação do Campo.
2.
O título do artigo e do ensaio deve ser obrigatoriamente em português, inglês e espanhol e ter
no máximo 15 palavras.
3.
Para o artigo e o ensaio, o resumo, o abstract e o resumen não devem ultrapassar 200 palavras
cada um, respectivamente. Deverão conter as principais informações do trabalho (problema e
objetivos da pesquisa, metodologias utilizadas, contribuições/avanços para a área de pesquisa,
resultados e conclusões). Devem vir acompanhados de no máximo cinco palavras-chave,
separadas por vírgulas.
4.
Os artigos deverão ter no mínimo 15 e não deverão ultrapassar 25 páginas, incluindo figuras,
quadros, tabelas e referências. Deverão ser escritos utilizando o processador de texto do
Windows (Word), Times New Roman, fonte 12, espaço 1,5 entre linhas e margens: inferior,
superior, esquerda e direita de 2,5cm. Todas as páginas devem ser numeradas sequencialmente.
Os ensaios deverão ter no mínimo 12 páginas e não exceder 15 páginas.
Obs. Tamanho do papel: A4.
5.
São aceitas figuras coloridas (fotos, desenhos, mapas). No entanto, deveo ter uma resolução
de 300dpi, preferencialmente gravadas no formato JPG e tamanho 12cm x 8,5cm. Devem tem
títulos/referências/fontes abaixo das figuras e serem numeradas sequencialmente em algarismos
arábicos, quando referidas no corpo do texto.
OBS. No caso de utilização de imagens (fotografias, figuras etc.) a responsabilidade pelos
direitos de reprodução será exclusivamente dos(as) autores(as), e não da Revista Brasileira
de Educação do Campo.
6.
As citações com menos de 40 palavras devem estar entre aspas e incorporadas no parágrafo,
no corpo do texto. As citações com mais de 40 palavras devem vir em parágrafo separado, com
recuo de 1,5cm na margem esquerda, tamanho 11, sem aspas. Ambas as citações devem seguir
as normas da APA (American Psychological Association (APA) - 6. ed. no item "Modelos de
Referências e Citações" dessas diretrizes (logo abaixo).
OBS. Caso necessite suprimir um texto durante uma citação, usa-se três reticências: ... e não
[...]. Exemplo: Segundo Farias (2000, p. 45) a necessidade da arte...é relevante para a
sociedade". Utiliza-se [] apenas quando for inserir um texto ou palavra dentro da citação.
7.
Quando realmente for necessário, as notas deverão ser inseridas no fim do texto (notas de fim)
do documento e devem ter caráter explicativo. Devem ter tamanho (fonte) 10 e não excederem
três linhas.
8.
O arquivo contendo o trabalho (artigo, ensaio, resenha, entrevista) a ser anexado (enviado)
pelo sistema da Revista (site da revista) durante a submissão on line não deverá ultrapassar o
tamanho de 2MB, nem poderá ser acompanhado com qualquer tipo de informação que
comprove a autoria do trabalho. É preciso manter o anonimato do (s) autor (es) no corpo do
texto e nas figuras, tabelas etc.
9.
As Resenhas e entrevistas podem ser enviadas sem seguir as normas de formatação
estabelecidas pela Revista. Caso sejam aprovadas, serão adequadas às Normas da Revista
Brasileira de Educação do Campo.
10.
Caso seja incluídos links no corpo do texto, o mesmo deve seguir o procedimento no Word:
“inserir hiperlink”, e deve estar ativo.
11.
Os textos (artigos, ensaios, resenhas, entrevistas) deverão ser submetidos pela internet, por
meio do Portal: https://sistemas.uft.edu.br/periodicos/index.php?journal=campo&page=index
12.
Caso o artigo, resenha, ensaio ou entrevista tenha sido publicado anteriormente em anais de
eventos científicos, na forma de resumo simples ou expandido, o (a) autor (a) deverá
OBRIGATORIAMENTE informar o editor e relatar essa informação no texto enviado a revista,
em nota no final do texto.
OBS. Os trabalhos aceitos para publicação seguem o fluxo editorial da revista.
Na redação do artigo, devem ser observadas as seguintes informações:
1.
Os artigos e ensaios deverão conter obrigatoriamente: resumo, palavras-chave; abstract,
keywords; resumen, palabras-clave; Introdução, Desenvolvimento (discussão),
Conclusão/Considerações Finais e Referências.
OBS. A tradução do resumo e do artigo para outros idiomas (inglês e espanhol) é de inteira
responsabilidade de seus autores(as), e não da Revista Brasileira de Educação do Campo.
2.
O título do artigo e do ensaio deve ser obrigatoriamente em português, inglês e espanhol e ter
no máximo 15 palavras.
3.
Para o artigo e o ensaio, o resumo, o abstract e o resumen não devem ultrapassar 200 palavras
cada um, respectivamente. Deverão conter as principais informações do trabalho (problema e
objetivos da pesquisa, metodologias utilizadas, contribuições/avanços para a área de pesquisa,
resultados e conclusões). Devem vir acompanhados de no máximo cinco palavras-chave,
separadas por vírgulas.
4.
Os artigos deverão ter no mínimo 15 e não deverão ultrapassar 25 páginas, incluindo figuras,
quadros, tabelas e referências. Deverão ser escritos utilizando o processador de texto do
Windows (Word), Times New Roman, fonte 12, espaço 1,5 entre linhas e margens: inferior,
superior, esquerda e direita de 2,5cm. Todas as ginas devem ser numeradas sequencialmente.
Os ensaios deverão ter no mínimo 12 páginas e não exceder 15 páginas.
Obs. Tamanho do papel: A4.
5.
São aceitas figuras coloridas (fotos, desenhos, mapas). No entanto, deveo ter uma resolução
de 300dpi, preferencialmente gravadas no formato JPG e tamanho 12cm x 8,5cm. Devem tem
títulos/referências/fontes abaixo das figuras e serem numeradas sequencialmente em algarismos
arábicos, quando referidas no corpo do texto.
OBS. No caso de utilização de imagens (fotografias, figuras etc.) a responsabilidade pelos
direitos de reprodução será exclusivamente dos(as) autores(as), e não da Revista Brasileira
de Educação do Campo.
6.
As citações com menos de 40 palavras devem estar entre aspas e incorporadas no parágrafo,
no corpo do texto. As citações com mais de 40 palavras devem vir em parágrafo separado, com
recuo de 1,5cm na margem esquerda, tamanho 11, sem aspas. Ambas as citações devem seguir
as normas da APA (American Psychological Association (APA) - 6. ed. no item "Modelos de
Referências e Citações" dessas diretrizes (logo abaixo).
OBS. Caso necessite suprimir um texto durante uma citação, usa-se três reticências: ... e não
[...]. Exemplo: Segundo Farias (2000, p. 45) a necessidade da arte.. relevante para a
sociedade". Utiliza-se [] apenas quando for inserir um texto ou palavra dentro da citação.
7.
Quando realmente for necessário, as notas deverão ser inseridas no fim do texto (notas de fim)
do documento e devem ter caráter explicativo. Devem ter tamanho (fonte) 10 e não excederem
três linhas.
8.
O arquivo contendo o trabalho (artigo, ensaio, resenha, entrevista) a ser anexado (enviado)
pelo sistema da Revista (site da revista) durante a submissão on line não deverá ultrapassar o
tamanho de 2MB, nem poderá ser acompanhado com qualquer tipo de informação que
comprove a autoria do trabalho. É preciso manter o anonimato do (s) autor (es) no corpo do
texto e nas figuras, tabelas etc.
9.
As Resenhas e entrevistas podem ser enviadas sem seguir as normas de formatação
estabelecidas pela Revista. Caso sejam aprovadas, serão adequadas às Normas da Revista
Brasileira de Educação do Campo.
10.
Caso seja incluídos links no corpo do texto, o mesmo deve seguir o procedimento no Word:
“inserir hiperlink”, e deve estar ativo.
PADRÕES DE REFERÊNCIAS E CITAÇÕES
1. As referências deverão vir após o texto, serem organizadas em ordem alfabética e alinhadas à
esquerda. Deverão se basear na norma da American Psychological Association (APA) - 6. ed.,
para melhor indexação e internacionalização do periódico. Todos os(as) autores(as) utilizados no
trabalho obrigatoriamente deverão ser citados nas referências.
2. EM CITAÇÕES NO CORPO DO TEXTO:
Para um autor: Costa (2015) ou (Costa, 2015);
Para dois autores: Barbosa e Oliveira (2012) ou (Barbosa & Oliveira, 2012);
Para três autores: Silva, Freire e Araújo (2009) ou (Silva, Freire & Araújo, 2009); ou, usar et al.
se os autores estiverem dentro de parenteses.
Para mais de três autores: Silva et al. (2008) ou (Silva et al., 2008).
3. NAS REFERÊNCIAS:
ARTIGOS DE PERIÓDICOS/REVISTAS CIENTÍFICAS
Um autor
Vieira, D. (2015). História da Educação. Educação e Social, 37(1), 4-24.
(Obs. o número 37 se refere ao volume da revista/periódico, e o 1 ao número da
revista/periódico).
Dois autores
Moreira, D., & Silva, M. (2014). Arte-Educação. Revista Arte, 37(1), 344-355.
Três autores
Silva, D., Oliveira, H. Souza, M., & Fonseca, S. (2013). Educação do Campo. Revista Social,
12(1), 23-45.
Quatro autores
Silva, D., Oliveira, H. Souza, M., & Fonseca. (2013). História da Música. Revista Social, 12(1),
23-45.
Cinco autores
Silva, D., Oliveira, H. Souza, M., Farias, M., & Fonseca. (2013). História da Música. Revista
Social, 12(1), 23-45.
Seis ou mais autores
Silva, D., Oliveira, H. Souza, M., Farias, M., Fonseca, H., & Fonseca. (2010). História da
Sociedade. Revista Social, 9(1), 33-47.
Silva, D., Oliveira, H. Souza, M., Farias, M., Fonseca, H., & Fonseca...Pereira, A. (2010).
Perspectivas da Educação do Campo. Revista Estadual, 3(1), 22-33.
(Neste caso, na referência coloca-se até 7 autores. Se tiver mais de 8 autores, coloca-se os 6
primeiros, depois reticências e, posteriormente, o último autor)
Autoria Desconhecida
O problema do método. (2010). São José dos Campos: Editora da Cidade.
(Neste caso, quando não há autor, a referência deve-se iniciar pelo título, em itálico. A
citação no corpo do texto deve vir com esse título em itálico ou entre aspas).
Com autor (a) organizador (a) de livro
Silva, D. (Org.). (2016). História da arte. São Paulo: Fonseca e Silva.
Artigo com DOI
Soares, A. B. (1990). Visualidade camponesa. Tocantinense, 12(35), 199-228.
DOI:xxxxxxxxxxxxxxxxx. (no lugar do "x", colocar o DOI).
ARTIGO ACEITO PARA PUBLICAÇÃO, MAS AINDA NÃO FOI PUBLICADO
Borges, A. (no prelo). A novidade camponesa. Revista Científica. Recuperado de: http://
fageicnbek.pdf
TRABALHO NÃO PUBLICADO OU SUBMETIDO PARA PUBLICAÇÃO
Silva, J. (2016). Sobre métodos de leituras visuais. Manuscrito submetido para publicação.
(Neste caso, não se coloca o nome do periódico/revista ou Editora a qual foi submetido o
trabalho).
OBS. Mais de 3 autores nas citações no corpo do texto, utiliza-se et al. Ex. Araújo et al.
(2000) ou (Araújo, et al., 2000)
ARTIGO DE JORNAL
Freitas, A. (2000, 15 de julho). A noção da realidade. Jornal da Cidade, p. A1.
POSTAGEM EM BLOG
Vieira, A. (1999, 13 de julho). Sobre a luta camponesa [Web log post]. Recuperado de
http://fhqncjdjc.php
ANAIS DE EVENTOS (CONGRESSOS, SEMINÁRIOS ETC.)
Netto, G. (2005). O problema da estética. In Anais da 2a Jornada de Educação de Uberlândia
(pp. 204-220). Uberlândia, MG.
LIVRO
Silva, D. (1995). O campesinato. São Paulo, SP: Editora Fontes.
Carvalho, D., & Souza, F. (2003). Educação do Campo. Rio de Janeiro, RJ: Livreiro Editora.
CAPÍTULO DE LIVRO
Martins, H. (1980). Interpretação visual. In Souza, D. (Org.), Teorias estéticas (pp.1-34). São
Paulo, SP: Cortez.
TESE OU DISSERTAÇÃO
Gomes, G. H. (2016). A ilustração camponesa (Dissertação de Mestrado). Universidade Federal
do Tocantins, Tocantins.
Kato, G. V. (1995). Sobre histórias em quadrinhos (Tese de Doutorado). Universidade Federal
do Tocantins, Tocantins.
DOCUMENTOS LEGISLATIVOS BRASILEIROS IMPRESSOS
Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. (1996, 23 de dezembro). Estabelece as Diretrizes e
Bases da Educação Nacional. Diário Oficial da União, seção 1.
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (18a ed.). (1998). São Paulo, Saraiva.
Recuperado de: http://www.senado.gov.br/sf/legislacao/const/
Decreto n. 3.298. (1999, 20 de dezembro). Regulamenta a política nacional para a integração da
pessoa portadora de deficiência, consolida as normas de proteção e outras providências.
Brasília, DF: Presidência da República.
DOCUMENTOS LEGISLATIVOS BRASILEIROS ON LINE
Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. (1996, 23 de dezembro). Estabelece as Diretrizes e
Bases da Educação Nacional. Recuperado de: http://www.senado.gov.br/sf/legislacao
Constituição da República Federativa do Brasil. (1988, 05 de outubro). Recuperado
de: http://www.senado.gov.br/sf/legislacao/const/
Decreto n. 3.298. (1999, 20 de dezembro). Regulamenta a política nacional para a integração da
pessoa portadora de deficiência, consolida as normas de proteção e outras
providências. Recuperado de: http://www.senado.gov.br/sf
OBS. Para outros exemplos de referências, acesse o site da APA: http://www.apastyle.org/
[EN] GUIDELINES AND INSTRUCTIONS FOR AUTHORS
1.
By submitting the manuscript, the authors must submit a statement claiming transfer of
their copyright to the journal, stating that the manuscript is a new and original, is not
being subjected to any other scientific journal evaluation, does not present conflicts of
interest, meets all the ethical procedures of scientific research and has the author’s
permission to be published.
NOTE. The Brazilian Journal of Rural Education will only publish images of children
under the age of 18, in case the author (s) assumes full responsibility for the images and
has written permission from the parents or guardians.
NOTE. The authors should explicitly refer to other authors’ publications cited in their
work. THE PLAGIARISM AND SELF-PLAGIARISM PRACTICE MUST BE AVOIDED
TOTALLY.
2.
The content of the texts and the points of view expressed therein are the sole
responsibility of author.
3.
When appropriate and requested, the author must send to the scientific journal a
certificate that the research was approved by the Ethics Committee of the institution.
4.
Thematic Dossier can be organized by doctoral researchers, as proposed for publication
in the journal.
5.
Additional documents are those that refer to data sets, research instruments among
others, that do not fit in the text. Thus, when required in the submission (submitted by
the author in the submission stage), it must not contain any identification of authorship.
Note. There will not be any kind of payments to authors who have their manuscripts published
in this journal. The Brazilian Journal of Rural Education (Countryside Education) is an
electronic open access journal, in order to socialize knowledge and contribute to the scientific
advancement in the research area of Rural Education (Countryside Education) and Education in
general.
6.
During the submission process (sending) of the manuscript to the Brazilian Journal of
Rural Education (Countryside Education) (online, at the journal website, accessed with
login and password through the
URL: https://sistemas.uft.edu.br/periodicos/index.php/campo), it should be included in
the journal system information such as complete name(s) of the author(s) (maximum
three), their address(es), institutional affiliation and e-mail of the lead author for
correspondence, as well as its institutional physical address. This information should not
be inserted in the text, just in the journal system.
7.
The Brazilian Journal of Rural Education (Countryside Education) will only accept a
publication per year in the journal by the same author.
8.
The journal accepts submissions of manuscripts in Portuguese, Spanish and
English.
9.
The papers (articles, essays, reviews) must be submitted online, through the
URL: https://sistemas.uft.edu.br/periodicos/index.php/campo
10.
In the Microsoft Office Word documents, the author identification should be removed
from the document properties (on the Word menu> Word Options or property).
11.
If the manuscript has been previously published in conference proceedings, in the form
of abstract or full text, the author shall mandatorily inform the situation in the text sent to
the journal, on the first page.
12.
Articles should contain: abstract, keywords; resumen, palabras-clave; Introduction,
Development (discussion) Conclusion and References.
13.
The title should be in Portuguese, English and Spanish and have a maximum of 15
words.
14.
The abstract and resumen should not exceed 200 words. They should contain the main
manuscript information (problem and objectives of the paper, the methods used,
advances to the research area, main results and conclusions). They must be followed by a
maximum of five keywords, separated by commas.
15.
Manuscripts must be at least 15 and should not exceed 25 pages, including figures, tables
and references. They should be written using the Microsoft Word processor (Word),
Times New Roman, 12, spacing 1.5 between lines and the following margins: lower,
upper, left and right 2.5 cm. All pages should be numbered sequentially.
16.
Color pictures are accepted (photos, drawings, maps). However, they should have a
resolution of 300dpi, preferably saved in JPG format, and have size 12 cm x 8.5 cm.
They must have titles/references right below them and be sequentially numbered in
Arabic numerals, when referred to in the text.
16. Citations should follow the APA (American Psychological Association).
17. When really necessary, the notes should be inserted in the final page in the text and
should have explanatory character. They must have size 10 and not exceed three lines.
18. The file containing the paper (article, essay, review) to be attached (sent) to the journal
website (URL / journal website) during the online submission must not exceed the size
of 2MB or may be accompanied by any type of information that proves the authorship of
the paper. It is necessary to maintain the anonymity of the author(s) in the text and
figures, tables etc.
19. If links are included in the text, the following procedure in Word is required: "insert
hyperlink", and this link must be active.
20. Manuscripts submitted to the journal should follow the APA guidelines (American
Psychological Association) 6
th
ed.
[EN] The Brazilian Scientific Journal of Rural Education (Countryside) receives articles,
essays, reviews and interviews.
20.1. Citations in the paper, use to an author: Costa (2015) or (Costa, 2015); for two authors:
Barbosa and Oliveira (2012) or (Barbosa & Oliveira, 2012); to three authors: Silva Freire and
Araújo (2009) or (Silva Freire & Araújo, 2009); for more than three authors: Silva et al. (2008)
or (Silva et al., 2008).
20.2. An author
Vieira, D. (2015). History of Education. Education and Social, 37(1), 4-24.
20.3. Two authors
Moreira, D., & Silva, M. (2014). Art Education. Art Journal, 37(1), 344-355.
20.4. Three authors
Silva, D. Oliveira, Souza H., M., & Fonseca, S. (2013). Music history. Social Journal, 12(1), 23-
45.
20.5. FOUR AUTHORS
Silva, D. Oliveira, Souza H., M., & Fonseca. (2013). Music history. Social Journal, 12(1),
23-45.
20.6. FIVE AUTHORS
Silva, D. Oliveira, H. Souza, M. Farias, M., & Fonseca. (2013). Music history. Social Journal,
12(1), 23-45.
20.7. SIX OR MORE AUTHORS
Silva, D. Oliveira, H. Souza, M. Farias, M. Fonseca, H., & Fonseca. (2010). History of the
Company. Social Journal, 9(1), 33-47.
Silva, D. Oliveira, H. Souza, M. Farias, M. Fonseca, H., & Fonseca…Pereira, A. (2010).
Perspectives of Rural Education. State Journal, 3(1), 22-33.
AUTHOR UNKNOWN
20.8. The problem of method. (2010). São José dos Campos: Publisher City.
(In this case, when there is no author, reference should be initiated by the title in italics. The
citation in the text should come with that title in italics or quotation marks).
WITH AUTHOR ORGANIZER BOOK
20.9. Silva, D. (Eds.). (2016). Art history. São Paulo: Fonseca e Silva.
ARTICLE WITH DOI
30.0.
Smith, A. B. (1990). Peasant visuality. Tocantinense, 12(35), 199-228. DOI: .
ARTICLE ACCEPTED FOR PUBLICATION, BUT HAS NOT BEEN PUBLISHED
30.1.
Borges, A. (in press). The peasant novelty. Scientific Journal. Retrieved from:
http://fageicnbek.pdf
TEXT NOT POSTED OR SUBMITTED FOR PUBLICATION
30.2.
Silva, J. (2016). About methods for visual readings. Manuscript submitted for publication.
(In this case, do not put the name of the journal or Publisher which the work was submitted).
NEWSPAPER ARTICLE
30.3.
Freitas, A. (2000, July 15). The notion of reality. Journal of the City, p. A1.
POSTING IN BLOG
30.4.
Vieira, A. (1999, July 13). About the peasant struggle [Web log post]. Retrieved from
http://fhqncjdjc.php
EVENT PROCEEDINGS (CONFERENCES, SEMINARS ETC.)
30.5.
Netto, G. (2005). The problem of aesthetics. In Proceedings of the 2th Day of Uberlândia
Education (pp. 204-220). Uberlândia, MG.
[ES] INSTRUCCIONES A LOS AUTORES
1. Mediante la presentación de la artículo, el autor deben presentar una declaración afirmando
transferir sus derechos de autor a la revista, que su manuscrito es un trabajo único y original, no
está siendo sometido a otra revista (nacional o internacional) para su publicación, no entre en
conflicto de interés, que cumple con todos los procedimientos éticos de la investigación
científica y tiene su permiso para ser publicado.
2. El contenido de los textos y las opiniones expresadas en el mismo son de la exclusiva
responsabilidad del autor (s).
3. En su caso y solicitó, debe ser enviado a la revista un certificado de que la investigación fue
aprobado por el Comité de Ética de la institución.
4. Los archivos temáticos pueden ser organizados por los investigadores de doctorado
nacionales y extranjeros, tal como se propone para su publicación en la revista.
5. Los documentos adicionales son aquellos que se refieren a conjuntos de datos, instrumentos
de investigación, entre otros, que no encajan en el texto. Por lo tanto, cuando sea necesario, en la
presentación (presentado por el autor (a) la fase de presentación), no debe contener ningún tipo
de identificación de la autoría.
Nota. No habrá ningún tipo de pagos a los autores que tienen sus manuscritos publicados en esta
revista. La Revista Brasileña de la Educación Rural (Educação do Campo) es una revista
electrónica de acceso libre y abierto, con el fin de socializar el conocimiento y contribuir al
avance científico del área de investigación en el campo de la educación rural y por lo tanto para
la educación en general.
6. En el proceso de envío del manuscrito a la Revista Brasileña de la Educación Rural (Educação
do Campo) (en nea en el sitio web de la revista, con el acceso de usuario y contraseña. Site:
(https://sistemas.uft.edu.br/periodicos/index.php?journal=campo&page=index), debe incluirse
en el sistema de información de la revista, como el nombre (s) completo (s) (s) autor (s)
(máximo tres), su email electrónico, afiliación institucional y autor de correo electrónico para la
correspondencia, así como su dirección física institucional. Esta información no debe ser
insertada en el texto, sólo en el sistema de revista.
7. La Revista Brasileña de la Educación Rural (Educação do Campo) sólo aceptará una
publicación por año en la revista del mismo autor (a).
8. La revista acepta presentaciones de manuscritos en portugués, español e Inglés.
9. Los textos (artículos, ensayos, reseñas) deben presentarse en línea, a través del
Portal: https://sistemas.uft.edu.br/periodicos/index.php?journal=campo&page=index
10. En los documentos de Microsoft Office Word, la identificación del autor debe ser eliminado
de las propiedades del documento (en el menú Word> Opciones de Word o la propiedad).
11. Si el manuscrito ha sido publicado previamente en las actas de congresos, en forma de
resumen o texto completo, (a) autor (a) deberá informar obligatoriamente la situación en el texto
enviado a la revista, en la primera página.
12. Los artículos deben contener: resumen, palabras clave; abstract, keywords; Introducción,
Desarrollo (discusión) Conclusión / Consideraciones finales y Referencias.
13. El título debe ser en portugués, Inglés y español y tienen un máximo de 15 palabras.
14. El resumen y el abstract no deben exceder las 200 palabras. Debe contener la información
principal del manuscrito (problema y los objetivos del trabajo, los métodos utilizados, Los
avances en el ámbito de la investigación, los resultados principales y conclusiones). Ellos deben
estar acompañados por un máximo de cinco palabras clave, separadas por comas.
15. Los artículos deben ser de al menos 15 y no deben exceder las 25 páginas, incluyendo
figuras, tablas y referencias. Ellos deben ser escritos utilizando el procesador de textos de
Windows (Word), Times New Roman, tamaño 12, interlineado de 1,5 líneas y márgenes:
superior, inferior, izquierda y derecha de 2,5 cm. Todas las páginas deben estar numeradas
secuencialmente.
16. Imágenes en color se aceptan (fotografías, dibujos, mapas). Sin embargo, deben tener una
resolución de 300dpi, preferiblemente guardado en formato JPG, y tienen un tamaño de 12 cm x
8,5 cm. Deben tener títulos / referencias a continuación las cifras y estar numeradas
consecutivamente en números arábigos, cuando se hace referencia en el texto.
17. Las citas deben cumplir con las normas de APA (American Psychological Association) - 6.
ed.
18. Cuando realmente necesario, las notas deben insertarse en la última página de texto y debe
tener carácter explicativo. Debe tener el tamaño 10 y no superior a tres líneas.
19. El archivo que contiene la obra (artículo, ensayo, crítica, reseña) que se adjunta (enviado)
por el sistema de revista (Portal / web de la revista), durante la presentación en línea no debería
exceder el tamaño de 2 MB o puede estar acompañada de ningún tipo de información que
confirma la autoría de la obra. Es necesario mantener el anonimato del autor (s) (s) en el texto y
figuras, tablas, etc.
20. Los comentarios pueden ser enviados sin seguir las normas de formato establecidas por la
revista. Si se aprueba, será adecuada a las normas de la Revista Brasileña de Educación Rural.
21. Si los enlaces se incluyen en el texto, se debe seguir el procedimiento en Word: "Insertar
hipervínculo", y debe estar activo.
22. Las referencias deben venir después del texto, están ordenados alfabéticamente y
alineados a la izquierda. Ellos deben estar basadas en el estándar de la APA (American
Psychological Association) - 6. ed., para una mejor indexación y la internacionalización de
la revista. Todos los autores utilizados en el trabajo deben mencionarse obligatoriamente
en las referencias.
23. citas en el texto, utilizan a un autor: Costa (2015) o (Costa, 2015); por dos autores: Barbosa
y Oliveira (2012) o (Barbosa & Oliveira 2012); a tres autores: Silva, Freire y Araújo (2009) o
(Silva, Freire & Araujo, 2009); durante más de tres autores: Silva et al. (2008) o (Silva et al.,
2008).
ARTÍCULOS
Un autor
Vieira, D. (2015). Historia de la Educación. Educación y Social, 37(1), 4-24.
Dos autores
Moreira, D., & Silva, M. (2014). Educación técnica. Art Journal, 37(1), 344-355.
Tres autores
Silva, D. Oliveira, H. Souza, M., & Fonseca, S. (2013). Historia de la Música. Diario Social,
12(1), 23-45.
Cuatro autores
Silva, D. Oliveira, H. Souza, M., & Fonseca. (2013). Historia de la Música. Diario Social, 12(1),
23-45.
Cinco autores
Silva, D. Oliveira, H. Souza, M. Farías, M., & Fonseca. (2013). Historia de la Música. Diario
Social, 12(1), 23-45.
Seis o más autores
Silva, D. Oliveira, H. Souza, M. Farías, M. Fonseca, H., & Fonseca. (2010). Historia de la
Compañía. Revista Social, 9(1), 33-47.
Silva, D. Oliveira, H. Souza, M. Farías, M. Fonseca, H., & Fonseca...Pereira, A. (2010).
Perspectivas de la educación rural. Diario Estado, 3(1), 22-33.
Autor desconocido
El problema del método. (2010). São José dos Campos: Editorial Ciudad.
(En este caso, cuando no hay autor, la referencia debe ser iniciado por el título en cursiva. La
cita en el texto debe venir con ese título en cursiva o comillas).
Con el autor (a) organizador (a) libro
Silva, D. (Eds.). (2016). Historia de la arte. San Pablo: Fonseca y Silva.
El artículo con el DOI
Smith, A. B. (1990). visualidad campesino. Tocantinense, 12(35), 199-228. DOI:
XXXXXXXXXXXXXXXXX. (En lugar de "x", colocando el DOI).
ARTÍCULO Aceptado para su publicación, pero no ha sido publicado
Borges, A. (en prensa). La novedad campesino. Diario científica. Obtenido de:
http://fageicnbek.pdf
El trabajo no ENVIADOS O presentado para su publicación
Silva, J. (2016). Acerca de los métodos para las lecturas visuales. Manuscrito presentado para
su publicación.
(En este caso, no ponga el nombre de la revista o editor que se haya presentado la obra).
ARTÍCULO DE PERIÓDICO
Freitas, A. (2000, 15 de julio). La noción de la realidad. Diario de la Ciudad, p. A1.
BLOG INTERNET
Vieira, A. (1999, 13 de julio). Sobre la lucha campesina [Web mensaje de registro]. Obtenido de
http: //fhqncjdjc.php
PROCEDIMIENTOS DE EVENTOS (conferencias, seminarios, etc.)
Netto, G. (2005). El problema de la estética. En Actas de la 2a Jornada de Educación
Uberlândia (pp. 204-220). Uberlândia, MG.
LIBRO
Silva, D. (1995). El campesinado. Sao Paulo, SP: Editora fuentes.
Carvalho, D., y Souza, F. (2003). Educación Rural. Río de Janeiro, RJ: Editorial librería.
CAPÍTULO DE UN LIBRO
Martins, H. (1980). La interpretación visual. En Souza, D. (Eds.), Estética teorías (pp.1-34). Sao
Paulo, SP: Cortez.
Tesis o disertación
Gomes, G. H. (2016). La ilustración campesino (Tesis). Universidad Federal de Tocantins,
Tocantins.
Revista Brasileira de Educação do Campo
The Brazilian Scientific Journal of Rural Education
POLÍTICA EDITORIAL / EDITORIAL POLICY
Política Editorial / Editorial Policy
[PT] POLÍTICAS
[PT] Foco e Escopo da Revista
A REVISTA BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO DO CAMPO - RBEC, de periodicidade
quadrimestral publica Artigos originais resultantes de pesquisas teóricas e/ou empíricas, Dossiês
Temáticos, Ensaios, Entrevistas e Resenhas de temas vinculados à Educação do Campo sob
diferentes campos da pesquisa, como: História da Educação do Campo; Movimentos Sociais;
Políticas Públicas; Povos Indígenas e Educação; Formação Docente; Jovens e Adultos do
Campo; Didática e Práticas Pedagógicas em Artes e Música; Arte na Educação do Campo;
Interculturalidade na Educação do Campo; Pedagogia da Alternância; Questão Agrária e
Campesinato.
A Revista tem como missão ser um veículo de comunicação científica de qualidade que fomente
importantes debates no campo educacional, principalmente na área da Educação do Campo, de
pesquisadores brasileiros e estrangeiros mestres e doutores, além de estudantes acompanhados
de seus respectivos orientadores (titulação nima de mestre ou doutor), para o avanço
científico da área e para a produção de conhecimento.
A Revista Brasileira de Educação do Campo é uma publicação quadrimestral do Departamento
de Educação do Campo, Curso de Licenciatura em Educação do Campo com Habilitação em
Artes e Música, da Universidade Federal do Tocantins, câmpus de Tocantinópolis. Publica
textos em português, espanhol e inglês.
A revista recebe os manuscritos em fluxo contínuo. É um periódico científico de acesso
aberto e gratuito, sem taxas de submissão e de publicação dos textos submetidos à Revista.
Na seção de Artigos, serão publicados artigos originais, realizados ou em andamento, sob
diferentes temas referentes à Educação do Campo, além de revisões de literatura de pesquisa
educacional. Na seção Ensaios, serão publicados textos ensaístas de temas relacionados à
Educação do Campo. Na seção Resenhas, serão publicadas resenhas de livros publicados nos
últimos três anos, de temas pertinentes à Educação do Campo, e Educação em geral. Na
seção Dossiês Temáticos, serão publicados grupos de artigos temáticos relacionados a um dos
campos da pesquisa da Revista Brasileira de Educação do Campo. Na seção Entrevistas, serão
publicadas entrevistas de professores/pesquisadores com relevante experiência e contribuição no
campo da pesquisa em Educação do Campo e, Educação, em Geral. Além disso, o periódico
reserva o direito de publicar edições especiais em seus números.
O título abreviado da revista é Rev. Bras. Educ. Camp., que deve ser usado em bibliografias
que citarem esta revista.
[EN] POLICY
[EN] AIMS & SCOPE
The Brazilian Scientific Journal of Rural Education (Countryside Education), quarterly
publication, publishes original articles resulting from theoretical and/or empirical research
thematic, essays and reviews of topics related to the Rural Education (Countryside Education) in
different fields of research, such as the Rural Education (Countryside Education) History; Social
Movements; Public Policies; Indigenous Peoples and Education; Teacher Training; Youth and
Adult Rural Education (Countryside Education); Didactic and Pedagogical Practices in Arts and
Music; Art in Rural Education (Countryside Education); Interculturalism in Rural Education
(Countryside Education); Pedagogy of Alternation; Land Reform and Peasantry.
The Scientific Journal's mission is to be a qualified scientific communication instrument that
fosters important debates in the educational field, especially in the Rural Education (Countryside
Education) area of Brazilians and foreign Masters and PhD researchers and students
accompanied by their mentors (minimum Doctor title required), for scientific progress in the
field and for producing knowledge.
The Brazilian Scientific Journal of Rural Education (Countryside Education) is a quarterly
publication of the Department of Rural Education (Countryside Education), Bachelor course of
Rural Education (Countryside Education) and specialization course in Arts and Music of the
Federal University of Tocantins, Tocantinópolis city. It publishes papers in Portuguese,
Spanish and English. The journal receives manuscripts in continuous flow. It is an open access
Scientific Journal. No charges - no fees - of manuscript submission and publication -
no APCs.
The abbreviated title of the journal is Rev. Bras. Educ. Camp., which should be used in
bibliographies when citing the journal.
[ES] POLÍTICAS
[ES] TEMÁTICA Y ALCANCE
La Revista Brasileña de la Educación Rural (Educacão do Campo), tres veces al año, publica
artículos originales resultantes de teóricos y / o archivos temáticos de investigación empírica,
ensayos y reseñas de temas relacionados con el campo de la educación rural en diferentes
campos de la investigación, tales como: Historia de la Educación Rural (campo); Los
Movimientos Sociales; Políticas Públicas; Pueblos Indígenas y la Educación; Formación del
Profesorado; la Jóvenes y Adultos Campo; Didácticos y Pedagógicos Prácticas en Artes y
Música; Arte en la Educación Rural; Interculturalidad en Educación Rural; Pedagogía de la
Alternancia; Cuestión Agraria y Campesinado.
La misión de la revista es ser un instrumento de calidad de la comunicación científica que
promueve debates importantes en el campo de la educación, sobre todo en el ámbito de la
Educación Rural de los brasileños y extranjeros maestros e investigadores de doctorado y
estudiantes acompañados por sus tutores (titulación mínima doctor), para el progreso científico
en el campo y para la producción de conocimiento.
La Revista Brasileña de la Educación Rural (Educação do Campo) es una publicación tres veces
al año del Departamento de Educación Rural, Licenciatura en Educación Rural con
especialización en Artes y Música de la Universidad Federal de Tocantins, campus
Tocantinópolis. Publica textos en portugués, español e Inglés. La revista recibe manuscritos
en continuamente. Es una revista científica abierta y libre, sin pagos de tasas de
presentación y publicación de los textos presentados en la revista.
El título abreviado de la revista es Rev. Bras. Educ. Camp., Que debe ser usado en bibliografías,
citando la revista.
[PT] AVALIAÇÃO PELOS PARES
Todos os textos submetidos à revista serão analisados pela equipe editorial, quanto o
atendimento às normas e ao escopo da revista. Caso seja aprovado nesta primeira fase, o texto
será encaminhado a dois pareceristas ou avaliadores ad hoc (avaliação cega por pares / blind
review) da área de conhecimento da pesquisa, que emitirão pareceres quanto a sua aceitação ou
não, visando à qualidade científica do manuscrito e relevante contribuição para a pesquisa em
educação. O artigo será aprovado se receber dois pareceres favoráveis. O artigo será recusado se
receber dois pareceres desfavoráveis. Caso haja um parecer favorável e outro desfavorável entre
os pareceristas, o manuscrito será encaminhado a um terceiro avaliador.
O prazo para resposta da aceitação ou recusa dos manuscritos enviados a Revista Brasileira de
Educação do Campo pode variar de acordo com o processo das avaliações, as quais os
pareceristas ou avaliadores ad hoc poderão solicitar modificações e/ou correções dos textos
enviados a revista pelos (as) autor (a/es).
Caso seja solicitado ao autor (a) reformular/corrigir/revisar o manuscrito, o mesmo deverá
reenvia-lo no prazo máximo de 30 (dez) dias. Posteriormente, após nova reavaliação do texto
feita por um parecerista ou avaliador ad hoc, o manuscrito passará para a etapa final, que
consiste no encaminhamento para a publicação.
Os critérios de avaliação/arbitragem adotados pela Revista Brasileira de Educação do
Campo são:
1.
Relevância, contribuição e domínio do tema para a pesquisa científica e educacional;
2.
Linguagem clara e coerência do texto;
3.
Articulação entre o tema e a fundamentação teórica;
4.
Coerência nas análises dos dados e na argumentação;
5.
Uso da bibliografia adequada e atualizada.
6.
Atendimento as normas da APA(American Psychological Association)
Obs. Os avaliadores deverão estar cadastrados no sistema da revista.
OBS. A Revista Brasileira de Educação do Campo se reserva no direito de publicar artigos de
autores convidados. Contudo, seus manuscritos também serão avaliados no sistema blind
review.
OBS. Textos publicados em Anais de eventos científicos, no formato Resumo ou Texto
completo, deverão ser informados obrigatoriamente pelo(a) autor(a) ao Editor da revista, durante
o processo de submissão do manuscrito, para avaliação.
OBS. Os Dossiês propostos por pesquisadores renomados da área educacional serão analisados
pela equipe editorial da revista, visando atender os critérios de avaliação adotados pela revista.
Nesse sentido, os dossiês podem ser aprovados ou recusados pelos editores da revista.
Caso algum artigo seja aprovado/aceito para ser publicado na revista e fique constatado no texto,
após o aceite, plágio, fabricação de dados e informações, autoria fraudulenta entre outras
práticas de má conduta científica, o artigo será recusado/rejeitado e não será publicado na
revista.
Tutorial para avaliadores ad hoc/pareceristas da revista:
https://sistemas.uft.edu.br/periodicos/index.php/campo/Tutorial
[EN] REVIEW PROCESS FOR SUBMISSIONS
All papers submitted to the journal will be analyzed by the Editorial Review Staff, aimed at
checking the compliance with the guidelines and the journal's scope. If approved this first step,
the text will be designated to two reviewers (Blind Review) with Research Knowledge in the
area who will suggest its acceptance or not, aiming at the scientific manuscript quality and
relevant contribution to the field of Education.
The deadline for acceptance or rejection response of manuscripts submitted to journal may vary
according to the process of assessments, in which the reviewers may request modifications
and/or corrections to be made in the texts.
The reviewer guidelines of the Brazilian Journal of Rural Education (Countryside
Education) are:
1.
Relevance and contribution to the theme area of scientific and educational research;
2.
Clear language and coherence of the article;
3.
Relationship between the theme and the theoretical foundation;
4.
Consistency in data analysis and argumentation;
5.
Use of appropriate and updated bibliography.
[ES] EVALUACIÓN DE MANUSCRITOS POR LOS COLABORADORES DE LA
REVISTA
Los textos presentados a la Revista serán analizadas por los editores, destinadas a comprobar el
cumplimiento de las normas y el alcance de la revista. Si se aprueba este primer paso, el texto
será enviado a dos evaluadores ad hoc (evaluación ciega por pares) Investigación Área de
conocimiento que va a dar una opinión en cuanto a su aceptación o no, con el objetivo de la
calidad científica y relevante manuscrito contribución a la investigación en la educación. El
plazo para la respuesta de aceptación o rechazo de los manuscritos presentados a la Revista
puede variar de acuerdo con el proceso de las evaluaciones, que los revisores pueden solicitar
modificaciones y / o correcciones a realizar en los textos.
Los criterios de evaluación/arbitraje adoptados por la Revista Brasileña de la Educación
Rural (Educação del Campo/Rural) son:
1. Relevancia, la contribución y el área de tema para la investigación científica y la
educación;
2. Lenguaje claro y coherencia del texto;
3. La relación entre el tema y el fundamento teórico;
4. La consistencia en el análisis de los datos y argumentos;
5. Utilizar la bibliografía adecuada y actualizada.
[PT] DIRETRIZES PARA AVALIAÇÃO
Os critérios de avaliação/arbitragem adotados pela Revista Brasileira de Educação do
Campo são:
1.
Relevância, contribuição e domínio do tema para a pesquisa científica e educacional;
2.
Linguagem clara e coerência do texto;
3.
Articulação entre o tema e a fundamentação teórica;
4.
Coerência nas análises dos dados e na argumentação;
5.
Uso da bibliografia adequada e atualizada.
6.
Atendimento as normas da APA(American Psychological Association)
OBS. OS AVALIADORES DEVERÃO LEVAR EM CONSIDERAÇÃO AS NORMAS DA
APA (American Psychological Association), E NÃO DA ABNT, NO PROCESSO DE
AVALIAÇÃO DOS MANUSCRITOS.
[EN] PEER REVIEW PROCESS - The reviewer guidelines of the Brazilian Journal
of Rural Education (Countryside Education) are:
1.
Relevance and contribution to the theme area of scientific and educational
research;
2.
Clear language and coherence of the article;
3.
Relationship between the theme and the theoretical foundation;
4.
Consistency in data analysis and argumentation;
5.
Use of appropriate and updated bibliography.
[ES] Los criterios de evaluación/arbitraje adoptados por la Revista Brasileña de la
Educación Rural (Educação do Campo) son:
1. Relevancia, la contribución y el área de tema para la investigación científica y la
educación;
2. Lenguaje claro y coherencia del texto;
3. La relación entre el tema y el fundamento teórico;
4. La consistencia en el análisis de los datos y argumentos;
5. Utilizar la bibliografía adecuada y actualizada.
POLÍTICA DE PRIVACIDADE / PRIVACY POLICY
Os nomes e endereços informados nesta revista serão usados exclusivamente para os serviços
prestados por esta publicação, não sendo disponibilizados para outras finalidades ou a terceiros.
The names and email addresses entered in this journal will be used exclusively for the services
provided by this publication and is not available for other purposes or to third parties.
AHEAD OF PRINT
Informamos que a Revista Brasileira de Educação do Campo adota a Publicação Avançada de
Artigos (PAA), também conhecida como Ahead of Print (AOP). O objetivo é acelerar a
divulgação dos artigos recebidos, avaliados, revisados e aprovados pela revista, dentro de cada
edição. É importante assinalar que tal prática é bastante utilizada por diversas revistas nacionais
e internacionais, além de possibilitar a divulgação mais rápida dos artigos indexados nas bases
de dados para pesquisa. Por isso, contamos com a celeridade dos colegas avaliadores dos artigos
submetidos ao periódico e dos(as) autores(as) no envio dos textos corrigidos dentro dos prazos
estabelecidos pela revista.
[EN] AHEAD OF PRINT
We inform that the Brazilian Journal of Rural Education adopts the Advanced Publication of
Articles (PAA), also known as Ahead of Print (AOP). The objective is to accelerate the
dissemination of the articles received, evaluated, reviewed and approved by the journal.
POLÍTICA DE VERIFICAÇÃO E COMBATE A QUALQUER TIPO DE PLÁGIO
/ VERIFICATION POLICY AND PREVENTING ANY TYPE OF PLAGIARISM
A Revista Brasileira de Educação do Campo seguirá as diretrizes contidas no COPE (Committee
on Publication Ethics) e terá também seus próprios códigos de conduta e ética, não aceitando
fraudes, más condutas, violações de ética ou plágio de qualquer forma. Caso seja identificada
algumas dessas práticas nos manuscritos recebidos, como por exemplo, a de plágio, os mesmos
serão tratados de acordo com as orientações do COPE. Diante disso, os autores deverão visitar o
site da COPE para maiores informações sobre ética em
pesquisa: http://publicationethics.org/resources/flowcharts
[EN] The Brazilian Journal of Rural Education will follow the guidelines contained in the COPE
(Committee on Publication Ethics), not accepting plagiarism. If any conduct of plagiarism is
identified in the manuscripts received, they will be treated according to the COPE guidelines.
More information at website: http://publicationethics.org/resources/flowcharts
CÓDIGOS DE ÉTICA E CONDUTA (Boas práticas) / CODE OF ETHICS AND
CONDUCT
1.
Editores:
contribuir para melhorar a qualidade da revista, visando garantir a qualidade científica
dos textos nela publicados e se estão de acordo com as Diretrizes e Escopo da RBEC;
esclarecer dúvidas que eventualmente possam surgir de avaliadores, revisores, autores e
leitores quanto ao conteúdo da revista, como, por exemplo, publicações, avaliações,
chamadas de artigos e demais informações da revista;
contribuir para a qualidade científica na área da Educação do Campo e educação, em
geral;
evitar desvios de ética e conduta na revista que possam prejudicar as boas práticas para a
pesquisa científica;
quando necessário, os editores publicarão correções, retratações e esclarecimentos a
comunidade acadêmica, referentes a publicações e/ou informações não verídicas ou
afirmações distorcidas ou enganosas de autores, tendo como rigor a verdade científica e
o respeito à comunidade acadêmica.
atualizar a política editorial, bem como as diretrizes e normas da revista quando for
necessário;
decidir pela aprovação final ou recusa dos artigos, entrevistas, resenhas e dossiês
enviados a revista, considerando sempre os pareceres feitos pelos
avaliadores/pareceristas designados;
zelar pelo bom cumprimento dos prazos referentes ao envio de pareceres pelos
avaliadores.
2.
Autores(as):
os autores deverão evitar qualquer prática que leve a conduta científica, como, por
exemplo, plágio e autoplágio, manipulação de dados e informações da pesquisa, fraudes
na pesquisa e nas autorias dos textos, bem como qualquer outra prática que infrinja a
ética na pesquisa acadêmico/científica. Caso contrário, a RBEC se reserva o direito de,
além de tomar as devidas providências legais, excluir permanentemente o texto
publicado na revista que apresente tais práticas;
promover o debate democrático na revista, independente de crenças, instituições,
localidades, entre outros, pautado pelo respeito a todos os envolvidos;
citar órgãos de fomento que financiam ou financiaram a pesquisa publicada na RBEC;
atender as diretrizes e normas de publicação da RBEC antes da submissão de qualquer
trabalho à revista.
3.
Revisores/Avaliadores(as):
pautar pela ética durante as avaliações realizadas nos manuscritos recebidos pela revista;
seguir os critérios de avaliação informados pela RBEC, nas Diretrizes da revista;
zelar pela qualidade científica e critérios de avaliação da revista;
garantir a confidencialidade do material avaliado;
caso haja algum conflito de interesse nas avaliações, os avaliadores e revisores deverão
informar aos editores da revista.
4.
Conflitos de interesses:
caso haja conflitos de interesses entre editores, avaliadores, revisores e autores que não
possam ser solucionados pelos editores da revista, a decisão final será tomada pelo
Colegiado do Curso de Educação do Campo, da Universidade Federal do Tocantins,
Campus de Tocantinópolis, Departamento ao qual a RBEC está vinculada.
5.
Cumprimento do Código de Ética e de Conduta:
autores(as), avaliadores/revisores, editores e equipe editorial da RBEC deverão cumprir
o presente Código de Ética e de Conduta, que entrará em vigor na data de sua
publicação.
A Revista Brasileira de Educação do Campo, além de incentivar a pesquisa científica, que possa
contribuir para o debate acadêmico nacional e internacional, informará aos leitores sobre
qualquer informação a respeito das publicações, chamadas de artigos, conteúdos da revista e/ou
outras informações relevantes para a comunidade acadêmica e científica, visando incentivar o
debate democrático neste periódico, pautado pelo respeito a todos os envolvidos. Também, a
revista se reserva no direito de, quando for necessário, atualizar e revisar esses Códigos de
Éticas e Condutas.
[EN] ETHICS AND CONDUCT CODES OF THE BRAZILIAN JOURNAL OF RURAL
EDUCATION (GOOD PRACTICE CODES)
1.
Editors:
contribute to improving the journal quality, in order to guarantee the scientific quality of
the texts published in it and their accordance with the Guidelines and Scope of the
RBEC;
clarify any doubts that may eventually arise from revisers, evaluators, authors and
readers regarding the content of the journal, such as publications, evaluations, article
calls and other journal information;
contribute to the scientific quality in the area of Rural Education and education in
general;
avoid ethics and conduct deviations in the journal that could prejudice good practices for
scientific research;
editors shall, where necessary, publish corrections, retractions, and clarifications to the
academic community regarding untruthful publications and/or or distorted or misleading
information presented by the authors, with rigor to scientific truth and respect for the
academic community.
2.
Authors:
The authors must avoid any practice that would lead to scientific misconduct, such as
plagiarism and auto-plagiarism, manipulation of research data and information, fraud in
the research and authorship of texts, as well as any other practice that infringes ethics in
the academic/scientific research. Otherwise, the RBEC reserves the right to, in addition
to taking appropriate legal measures, delete permanently from the journal the text
published presenting such practices;
promote the democratic debate in the journal, independently on beliefs, institutions,
localities, among others, guided by respect for all involved;
mention funding agencies that financed or finance the research published in the RBEC;
comply with the RBEC guidelines and publication standards before submitting any work
to the journal.
3.
Revisers/Evaluators:
touch upon ethics during the evaluations carried out in the manuscripts received by the
journal;
follow the assessment criteria informed by the RBEC, in the Journal Guidelines;
ensure the scientific quality and evaluation criteria of the journal;
ensure the confidentiality of the material evaluated;
in case of any conflict of interest in the evaluations, revisers and evaluators should
inform the journal editors.
4.
Conflict of interests:
in case of conflict of interests between editors, revisers, evaluators and authors that
cannot be resolved by the journal editors, the final decision will be made by the
Collegiate of the Course of Rural Education, at the Federal University of Tocantins,
Campus of Tocantinópolis, Department to which the RBEC is associated.
5.
Compliance with the Ethics and Conduct Codes:
authors, evaluators/revisers, editors and editorial staff of the RBEC shall comply with
these Ethics and Conduct Codes, which shall come into force on the date of its
publication.
The Brazilian Journal of Rural Education, in addition to encouraging scientific research that may
contribute to the national and international academic debate, will inform readers of any
information regarding publications, articles calls, journal contents and/or other relevant
information to the academic and scientific community, aiming to encourage the democratic
debate in this journal, based on respect for all those involved.
FONTES DE INDEXAÇÃO / INDEXING DATABASES
Crossref
DOAJ
Portal de Periódicos da CAPES
Clase
ERIHPLUS
REDIB
FLACSO (ARGENTINA)
OPEN SCIENCE DIRECTORY / EBSCO
ROAD
LatinREV
Edubase (SBU/UNICAMP)
ULRICH's WEB
Sumários.Org
Latindex
Diadorim
Google Acadêmico (Google Scholar)
EZ3/Eletronic Journals Library
MIAR (Universitat de Barcelona)
Actualidad Iberoamericana (Indice Internacional de Revistas)
PKP (Public Knowledge Project)
Dataverse Harvard
E-Journals.Org
SHERPA/RoMEO
OASIS BR
La Referência
RCAAP
Libraries (University of Minnesota)
WorldCat (OCLC)
Zenodo
Mendeley
Academia.Edu
AcademicKeys
JournalTOCs
CiteULike
LIVIVO (ID=1002342)
Zeitschriftendatenbank (ZDB) (2866207-6)
ZDB OPAC (2866207-6)
E-L is (Repository E-Prints in Library & Information Science)
ResearcH - Directorio de Revistas (Journals & Authors)
BASE
OpenAIRE
Livre (Revistas de Livre Acesso)
Research Bib (Academic Resource Index)
Scilit (The Scientific Literature Database)
Science Library Index
Redes Sociais (Facebook)
Redes Sociais (Twitter)
PERIODICIDADE / PUBLICATION FREQUENCY
A Revista Brasileira de Educação do Campo é um periódico científico eletrônico de acesso
aberto e gratuito, de periodicidade quadrimestral, da Universidade Federal do Tocantins, câmpus
de Tocantinópolis.
[EN] The Brazilian Journal of Rural Education is an electronic journal of free and open access,
quarterly, from the Federal University of Tocantins, campus Tocantinópolis, Brazil.
POLÍTICA DE ACESSO LIVRE / OPEN ACCESS POLICY
Esta revista oferece acesso livre imediato ao seu conteúdo, seguindo o princípio de que
disponibilizar gratuitamente o conhecimento científico ao público proporciona maior
democratização mundial do conhecimento.
[EN] This journal provides immediate open access to its content on the principle that freely
available scientific knowledge to the public supports a greater global democratization of
knowledge.
ARQUIVAMENTO / ARCHIVING
Esta revista utiliza o sistema LOCKSS para criar um sistema de arquivo distribuído entre as
bibliotecas participantes e permite às mesmas criar arquivos permanentes da revista para a
preservação e restauração. Saiba mais...
This journal uses the LOCKSS system to create a distributed file system through the
participating libraries and it allows them to create permanent journal files for preservation and
restoration.
DECLARAÇÃO DE DIREITO AUTORAL
Proposta de Aviso de Direito Autoral Creative Commons
1.
Proposta de Política para Periódicos de Acesso Livre
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
1.
Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira
publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative
Commons Attributionque permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento
da autoria e publicação inicial nesta revista.
2.
Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para
distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em
repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e
publicação inicial nesta revista.
3.
Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.:
em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer ponto antes ou
durante o processo editorial, que isso pode gerar alterações produtivas, bem como
aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (Veja O Efeito do Acesso Livre).
[EN] DECLARATION OF COPYRIGHT
[EN] Proposal for Copyright Notice Creative Commons
1. Policy Proposal to Open Access Journals
Authors who publish with this journal agree with the following terms:
1.
Authors retain copyright and grant the journal right of first publication with the work
simultaneously licensed under the Creative Commons Attribution License, which allows
sharing the work with the recognition of its initial publication in this journal.
2.
Authors are able to take on additional contracts separately, with non-exclusive
distribution of the paper version published in this journal (e.g.: publish in an institutional
repository or as a book), with an acknowledgment of its initial publication in this journal.
3.
Authors are permitted and encouraged to post their work online (e.g.: in institutional
repositories or on their website) at any point before or during the editorial process, as it
can lead to productive exchanges, as well as increase the impact and the citation of
published work (See the Effect of Open Access).
TUTORIAL PARA AVALIADORES AD HOC/PARECERISTAS DA REVISTA:
https://sistemas.uft.edu.br/periodicos/index.php/campo/Tutorial
TUTORIAL PARA AUTORES QUE QUEIRAM ENVIAR ARTIGOS PARA A
REVISTA:
https://sistemas.uft.edu.br/periodicos/index.php/campo/Autores