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aos adultos. Foi assim que eu
comecei a trabalhar. Aí vinha a
cavalo, passar o rio cheio, teve uma
enchente, uma vez mesmo que o
cavalo deu um passo me levou com
cavalo e tudo. Eu só saí porque Deus
não quis que eu morresse nesse dia.
Quase que eu morro. (Silveira, 2012).
De acordo com as depoentes, no
período em que iniciaram o magistério, era
muito difícil designar professores para a
zona rural, primeiro, por causa das
condições precárias de trabalho existentes
naquele meio e, depois, pelos baixos
salários que lhes eram oferecidos.
Contudo, elas mencionaram que a
comunidade tinha respeito e grande
consideração pelo docente, mesmo sendo,
em sua maioria, professoras leigas, com
apenas o 4º ano primário concluído. A
professora Etemízia Ramos Batista de
Andrade mencionou a receptividade da
comunidade rural Pita, município de São
Cristóvão, região da Grande Aracaju:
... era um povo maravilhoso, um
povo ordeiro, um povo amigo. Eles
diziam: ‘A senhora aqui é a
presidente do lugar. Uma ordem da
senhora vele tudo.’ Morei na escola
com minha mãe ... Os alunos
choraram quando eu saí, choraram
muito, eu também chorei. Pela noite
eles chegavam lá, aquele pessoal com
cachimbo na boca. Os tabaréus, eles
diziam: ‘Vamos fazer companhia
para professora que ela está sozinha
com a mãe’. Chegavam lá, contavam
histórias de trancoso para distrair.
Recebia muito presente. Eu não
comprava nada de verdura. Na Pita, o
povo plantava muito, era tomate,
cebola, alface, ovos. Pela manhã, o
povo me levava um prato de mingau.
(Andrade, 2013).
A professora Josefa de Andrade
Fontes também se referiu ao respeito e à
receptividade da comunidade rural no
povoado Botequim, município de Santa
Luzia Itanhy, Centro-Sul sergipano:
... lá era um lugar de cachaceiro,
nenhum tocava em mim. Na minha
escola nunca nenhum chegou perto,
porque eles respeitavam. Eu ia para
escola rural, eles me davam cavalo.
Eu me acostumei muito com as
minhas alunas, uma dormia comigo
de noite. Eu não tinha medo, o
pessoal era bom comigo. (Fontes,
2015).
A professora Maria José de Carvalho
Eleotério também ressaltou esse mesmo
aspecto:
... eu deixava os meus filhos e ia
receber o dinheiro, quando chegava
em casa, sem nenhum tostão, que não
tinha verba. Passei assim dois anos.
Não recebia um centavo. Aí me
deram um conselho para cobrar dos
pais. Aí eu disse: ‘Olhe eu não quero
cobrar, porque seis, oito, quinze,
pode, têm a possibilidade de pagar e
os outros que não tiverem?’ Então, é
quando eu for cobrar de um, vou ter
que cobrar de todos e eu não quero
inimizade. É melhor eu ensinar de
graça e vocês fazem o que bem achar
de acordo. Oxente! não me faltava
farinha, não me faltava feijão.
Levavam o que tinham. Era peixe por
toda parte, era camarão, era siri, era
feijão. Eu quando trazia para cá dava
a uma amiga que tinha uma
moreninha. Era macaxeira, era
inhame. Não me faltava nada e eu
criava inúmeras galinhas, não me