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“preparação do documento base da I
Conferência, concluído em maio de 1998”,
onde estão presentes os “argumentos do
batismo” do que seria a Educação do
Campo (Caldart, 2012, p. 260).
Durante a realização do I ENERA, os
participantes elaboraram um manifesto
intitulado ‘Manifesto dos Educadores e
Educadoras da Reforma Agrária’.
Destacamos a defesa expressa no
Manifesto, em sentido mais amplo, da
“escola pública, gratuita e de qualidade
para todos, desde a educação infantil até a
Universidade”, afirmando a necessidade de
construir uma “identidade própria das
escolas do meio rural” em vistas a novas
formas de desenvolvimento do campo,
“baseadas na justiça social, na cooperação
agrícola, no respeito ao meio ambiente e na
valorização da cultura camponesa” (MST,
1997).
A unidade que se estabelece a partir
do I ENERA, entre frações de classes
distintas (trabalhadores representados por
Sem Terras, Sindicatos Rurais,
Universidades e Burguesia representada
pelos Organismos Multilaterais, por
exemplo, a UNESCO), tem como ponto
comum a luta por políticas públicas para a
educação do campo. Caldart, expressa essa
relação contraditória de interesses que
coadunam na luta pelo direito à educação
ao afirmar que: “tínhamos ideias diferentes
entre pessoas que estavam lá,
posicionamentos inclusive políticos
diferentes, mas, por exemplo, conseguiu-se
em momentos da mística uma
identificação” (Anhaia, 2010, p. 81, extrato
de entrevista com Caldart).
A partir da entrevista concedida à
Anhaia em 2010, Caldart demonstra a
clareza de que a unidade que se
estabeleceu a partir do I ENERA, entre
frações de classes distintas, diz respeito
unicamente a luta pelo direito à educação.
Demonstra claramente a compreensão em
relação aos objetivos de organismos
internacionais – UNESCO e UNICEF, em
“amenizar os conflitos”, estabelecer
harmonia entre as classes a fim de manter a
luta de classes sob controle.
Não se trata de uma aliança no
sentido de projeto. Nós sabemos qual
é o papel desses organismos ... Se a
gente analisar as posições do
UNICEF e da UNESCO, tanto mais
da UNESCO, ela pode nos mostrar
em que pé estão as crises do próprio
capitalismo, porque justamente
demonstra a intenção de amenizar os
próprios conflitos, o que você faz
para que certas ações não eclodam
em conflitos mais fortes. Quando se
vê que existe uma tensão no campo,
pode-se apoiar determinadas
iniciativas, indo na linha de como a
gente age para a situação não ficar
insustentável. Eu posso até ser
favorável a Reforma Agrária para
que isso não se transforme em algo
efetivamente desestabilizador da
sociedade. O papel desses
organismos não é conjuntural, ele é
estrutural. Que ajuste você faz na
sociedade capitalista para que ela
possa se manter capitalista? Para isso
você tem que harmonizar, você tem