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Ainda, segundo Oliveira (2004), as
comunidades rurais ribeirinhas apresentam
traços identitários que se evidenciam pela
heterogeneidade e pela semelhança,
caracterizando as sociedades rurais
amazônicas pela diversidade e
multiculturalidade. Dentre esses traços
comuns dessas comunidades, destacam-se:
Inexiste saneamento básico; água
tratada; unidades de água; energia
elétrica (a energia, quando existe, é
transmitida por meio de geradores a
óleo ou a bateria) ... A habitação
também é precária; a educação
escolar, quando existe, vai da 1ª a 4ª
séries somente, realizada por meio de
escolas multisseriadas. (Oliveira,
2004, p. 34).
Em Espaços Femininos: gêneros e
identidade em comunidades rurais da
Amazônia, Amorim (1987) aborda os
papéis sociais assumidos pelas mulheres
rurais da Amazônia, contrapondo-se à
imagem de mulher submissa, passiva,
doméstica do lar, afirmando que “as
mulheres têm domínio social, econômico e
cultural sobre determinadas atividades”.
(Amorin, 1987, p. 40). Dessa forma, ainda
que indispensáveis ao desenvolvimento da
economia camponesa, muitas mulheres não
se conformam com o trabalho doméstico e
ocupam outros espaços. “No trabalho das
roças, as mulheres, além de garantirem a
sobrevivência, obtém o lucro do trabalho,
o que reforça sua contribuição na renda
familiar na produção local, abrindo
espaços para novas conquistas”. (Amorim,
1987, p. 40, grifos da autora).
A pesquisa realizada por Pinto
(2001), em O fazer-se das mulheres rurais:
a construção da memória e de símbolos de
poder feminino em comunidades rurais
negras do Tocantins, problematiza as
relações de poder que se estabelecem a
partir das relações de gênero. Segundo
Pinto, “o poder feminino encontra-se
oculto, envolvido até mesmo nos discursos
ideológicos, posto que a mulher, na
maioria das vezes, é desenhada como uma
serva da família” (Pinto, 2001, p. 467,
grifo da autora). Neste artigo, a autora
analisa as diversas formas de poder
exercido e simbolizado pelas mulheres
pesquisadas e seus espaços de poder.
Considerando-se todas as atividades
exercidas pelas mulheres, desde a
manutenção da roça até a fabricação
da farinha, e comparando com as
atividades masculinas é possível
verificar que é equivocada a
classificação das tarefas entre aquelas
leves ou mais pesadas. Todas são
tarefas que exigem esforços físicos
vigorosos. Embora no plano
ideológico, as atividades masculinas
passam a assumir papel de destaque e
importância, a que associa-se força
do homem e o mando que este exerce
sobre o chamado sexo frágil...
Felizmente são ideias que aos poucos
vão transformando-se, pois se
analisarmos numa outra perspectiva
percebemos uma trajetória de luta,
força e poder das mulheres rurais.
(Pinto, 2001, p. 471, grifos da
autora).