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Nádia: - Eu tinha, como é que eu vou
te dizer, eu acho que eu tinha uns 13
pra 14 anos. Nós morava no interior, a
mãe tinha muita galinha, tinha vaca de
leite, tinha tudo, fazia queijo. Daí a
mãe dizia pra mim: tu pega, só escuta a
história! Tu leva ovos, manteiga e
queijo pra cidade, tu vende e daí tu vai
no mercado e daí tu traz isso, traz isso
e traz aquilo. Assim, a mãe se virava,
porque o véio botou tudo fora o
dinheiro, dinheiro não tinha, o pai
botava tudo fora. Daí eu já era uma
mocinha né, 13 pra 14 anos. Daí eu
disse pra mãe: eu vou, daí eu compro
as coisas que falta, vou no mercado,
mercado Itaú em Pinhalzinho e daí eu
disse: e se sobrar mãe eu posso
comprar um shampoo pra mim? Na
minha vida até que eu tô viva, nunca
mais vou esquecer. Era um vidro de
shampoo seda, cor de rosa, e eu
comprei pra mim. E daí ainda sobrou
dinheiro e eu levei tudo pra casa, pra
mãe. Daí quando eu cheguei em casa, e
aquele véio viu aquilo (silêncio). Eu
achei que ele ia me matar, porque eu
comprei aquele shampoo. Maquiagem
na minha vida eu nunca tive, eu não
tive batom, não tinha base, não tinha
esmalte, não podia.
Considerando a faixa etária de
mulheres com menos de 30 anos, as
trajetórias de vida narradas trazem
elementos distintos acerca de suas relações
com o trabalho e com o acesso a educação
escolar, relatando inclusive experiências de
formação no Ensino Superior, como é o
caso de Tina, 26 anos, recentemente
formada em Administração, trabalhando
em uma farmácia e, no momento da
entrevista, em licença maternidade.
- Pois é, como eu trabalhei um ano no
escritório de contabilidade, foi uma
experiência assim que eu gostei
bastante, sabe? Então eu queria ir
mais pra esse lado sabe, tipo um
escritório, alguma coisa assim sabe,
porque eu gosto muito dessa parte
também né. Então na verdade eu tô
em busca né, pra ver se vai surgir
alguma coisa. Mas aqui em Santa
Maria do Herval é meio complicado,
não tem muito opção assim de
emprego, então eu vou esperar,
vamos ver quando surgir alguma
coisa... Eu acho que em qualquer
emprego que eu vou tá eu quero tá
feliz. Independente do emprego, acho
que a gente tem que se adaptar a
qualquer emprego assim.
No entanto, o maior acesso à
escolaridade, inclusive ao Ensino Superior,
nos parece que ainda não foi acompanhado
pela possibilidade de se inserir em postos
de trabalho no município condizentes com
a formação escolhida, possibilitando a
permanência na comunidade.
Considerações Finais
Ao estudarmos as trajetórias de vida,
cabe destacar que não as compreendemos
como relatos objetivos, lógicos,
cronológicos e lineares que as mulheres
apresentaram de suas experiências.
Entendemos que os relatos de tais
trajetórias resultam em narrativas,
construídas por essas mulheres e
reconstruídas analiticamente na pesquisa.
Sendo assim, o trabalho analítico dessas
narrativas foi o de investigar de que
maneira tais trajetórias singulares de