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Nas diferenças apontadas, entre o
método tradicional e a proposta de
educação ancorada em Paulo Freire,
encontra-se a concepção de que o ensino
transcende o conteúdo e a forma, atingindo
algo há mais na vida dos educandos e
educadores que participam do processo.
Assim, nas falas das educadoras, fica
evidente a emancipação ocorrida com a
formação política que ocorre dentro das
salas de aula do projeto, conforme pode ser
observado no relato abaixo.
Eu não posso esperar pelo INCRA
pra dar aulas pros meus alunos, não
posso depender da UnB pra fazer
alguma coisa. O ponto que eu
cheguei foi conquistado, agora eu
tenho que segurar aquilo ali.
Independente se eu vou ganhar ou se
vou perder, eu não posso deixar meus
alunos a ver navios. Quer dizer, você
nada, nada e nada e vai morrer na
praia? Eu não posso fazer uma coisa
dessas. O que tiver ao meu alcance
eu vou fazer. (Educadora Dorothy).
Participando do projeto eu comecei a
ver que ler e escrever é bem mais do
que você colocar no papel. Eu passo
pros meus alunos que as pedras no
caminho não são motivos pra gente
desanimar, é como no caminho das
águas, se ela não consegue passar
num canto ela vai por outro e
ninguém para. (Educadora Anita).
No que concerne às dificuldades
encontradas com a abordagem Freireana,
foram elencadas a falta de conhecimento
prévio com a proposta, a falta de materiais
didáticos para estudo da mesma, o não
contato durante a vida escolar, e a
exigência de uma postura em sala de aula
que não se constrói rapidamente.
Nas entrevistas também surgiram
depoimentos, trazendo à tona sua visão em
relação ao que motiva os educandos a
estudarem, e um pouco da transformação
das relações no assentamento.
Eu vejo a história deles muito
parecida com a minha. Eu parei de
estudar em 78, na 4ª serie e vim
voltar em 93. Nesse tempo eu percebi
que me fazia falta e é isso que eu
vejo neles, que eles estão estudando
não porque é uma obrigação, mas
porque faz falta, que eles têm
necessidade e dessa necessidade vem
à força de vontade deles pra tá ali
estudando. (Educadora Margarida).
Ter sala de aula no assentamento
trouxe uma aproximação do povo,
porque até eu mesma não tinha
contato com muita gente lá, era cada
um na sua parcela, hoje depois que
começaram as aulas conhecemos um
pouco mais de quem tá ali perto da
gente, de como podemos nos ajudar.
(Educadora Anita).
Segundo as educadoras, a proposta
de educação libertadora instaurada nesse
processo é a forma mais coerente e
adequada de se atingir os objetivos do
projeto e seus anseios pessoais, pois trata-
se de uma educação presente tanto nas
salas de aulas como em todos os outros
momentos da vida. Portanto, não se
restringe ao conhecimento, ao pensamento
crítico ou à sua manipulação, também não
se restringe aos espaços formais de ensino,
visto que, possibilita que o processo de
formação venha aflorar da sistematização