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novembro de 2012, na comunidade de
Dourado, como retratado no seguinte
trecho do diário de campo:
Inicialmente, Margarida fez um
momento de relaxamento com o
grupo de crismandos. Em seguida,
invocou o Espírito Santo de Deus e
pediu sua ajuda. Margarida explicou
que segue os passos aprendidos com
as freiras. No primeiro momento,
cada um dos crismandos pegou sua
Bíblia e leu com calma o texto
bíblico; leu, releu, tornou a ler, até
conhecer bem o que estava escrito,
até assimilar o próprio texto. Depois,
fecharam a Bíblia e fizeram um
momento de silêncio interior,
lembrando-se do que leram. Os
jovens partilharam oralmente suas
impressões em relação ao texto
repetindo palavras, frases, versículos
... Margarida disse: “agora já não é
mais só o que o texto diz, mas o que
esta Palavra está dizendo a cada um
de nós dentro da realidade em que
estamos vivendo. O que Deus falou
no passado e o que está falando hoje,
através deste texto? O que o texto
diz? [pediu aos jovens para levar o
texto para a própria vida e para a
realidade pessoal e social] O que
Deus está me falando?”.
Falou aos
crismandos que a leitura e a
meditação da Palavra se transformam
em um encontro íntimo e pessoal
com Deus. Prosseguindo, perguntou
aos crismandos: “O que o texto
bíblico e a realidade de hoje nos
motivam a rezar”. Nesse momento,
propôs a oração pessoal, expressão
espontânea de nossas convicções e
sentimentos mais profundos. E
perguntou: “O que o texto me faz
dizer a Deus? [Rezar – suplicar,
louvar, dialogar com Deus, orar...]”.
Após esse momento, Margarida
sugeriu a contemplação, que, para
ela, não é algo que se passa na
cabeça, mas é um agir novo que
envolve todo nosso ser. Encerrou o
momento de leitura orante da Bíblia
com os questionamentos: “a partir
deste texto como devo olhar a vida,
as pessoas, a realidade... O que devo
fazer de concreto? O que ficou em
meu coração e me desperta para um
novo modo de ser e agir?”. Solicitou
aos crismandos que registrassem no
caderno e, por fim, sugeriu que
escolhessem uma frase para
memorizar. (Diário de campo, 11
nov. 2012).
Margarida relatou que, com os
padres, as freiras e as companheiras de
caminhada, aprendeu a fazer a leitura
orante da Bíblia, prática que realiza
individual e coletivamente, principalmente
em momentos de retiro e adoração. É
pertinente destacar a importância que o tio,
as freiras e os padres tiveram na história de
vida de Margarida, instigando-a,
sobretudo, por meio do exemplo a
aprofundar-se na prática da leitura. O
trecho a seguir ilustra bem nossas
afirmações: “Não esqueço do meu tio
Abílio, que aprendeu a ler sozinho e foi
quem alfabetizou os filhos e muitos
sobrinhos e outras pessoas da
comunidade. Era um homem sábio”. De
acordo com a fala de Margarida,
entendemos que a relação entre as práticas
de leitura e escrita ensinadas e as
adquiridas não se dá de forma linear, mas
sim ocorre em função do contexto religioso
em que elas aparecem.
Para Acácia, uma das originalidades
das CEBs é articular a leitura da Bíblia e as
celebrações com as lutas populares e os