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Pelo menos 30% das mulheres
pesquisadas, denunciaram à ideologia de
naturalização de ‘papéis sociais’ sexuados
e desiguais. Essas, tem que lidar
diariamente com a exclusão da vida
pública e desvalorização do seu trabalho,
seja ele executado no meio rural, na esfera
domiciliar, no cuidado dos filhos ou na
“ajuda” prestada ao marido, de modo que
não significa uma simples tarefa realizada
esporadicamente; essa ajuda significa que
muitas trabalham lado a lado, diretamente
com o companheiro na lavoura
desempenhando as mesmas funções, porém
não são reconhecidas pelo trabalho
realizado, não participam das decisões
sobre os rendimentos do produto final e
não recebem retorno igualitário na
execução das tarefas de ordem doméstica.
Essa desigualdade de direitos e deveres,
não apenas as decepciona mas também
afeta sua qualidade de vida, já que muitas
se queixam regularmente de dores
musculares em razão do excesso de
trabalho.
Para a pequena parcela de mulheres
que consegue tomar consciência da
servidão desvalorização e exploração da
força de trabalho à que estão submetidas,
existe à denúncia de que a maternidade cria
condições que impedem a participação
feminina na vida pública. Segundo Saffioti
(1987), o desprestigio feminino na vida
pública, a desvalorização e a exploração do
trabalho feminino “decorre de sua
capacidade de ser mãe”, isto é, “a
sociedade tenta fazer crer que é natural que
a mulher se dedique aos afazeres
domésticos, aí compreendida a
socialização dos filhos, como é natural sua
capacidade de dar à luz” (p. 09). Essa
construção é delimitada com bastante
precisão segundo o modelo de organização
social vigente, e pode ser comprovado de
acordo com os relatos das participantes:
Lá em casa, sempre me ensinaram
que serviço doméstico era coisa da
mulher fazer (Assentada C, 2013).
Eu sempre como comida fria. Todo
mundo senta à mesa e ergue o prato
pra cima pra mim servir um por um,
cortar a carne a salada, servir o suco.
Quando me sento, a comida já esfriou
e todos já terminaram de comer. Fico
sozinha na mesa (Assentada C,
2015).
Meu marido diz que serviço
doméstico é coisa de mulherzinha,
por isso não posso nem pensar em
ensinar meus filhos a cozinhar,
quanto mais a lavar a louça, fazer
algum serviço na casa (Assentada C,
2016).
Para Silvia Federici (2017), essa
depreciação do trabalho realizado pelas
mulheres, se inicia com o processo de
privatização da terra na Europa e nas
Américas e a chegada das relações
monetárias em meados do século XVII.
Nesse novo período que se iniciou, as