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encontre  suas  próprias  respostas  e 
desenvolva a consciência de classe. 
Celso de Rui Beisiegel, que conviveu 
e debateu os temas da educação com Paulo 
Freire,  afirmou,  em  entrevista  para  com 
a Revista Lusófona de Educação (2013):  
 
No que diz respeito à  profundidade, 
não  há  nenhum  exemplo  melhor  do 
que a proposta de  Paulo Freire  para 
entender a teoria formulada por Marx 
para a educação, muito mais do que o 
modo  como  os  famosos  educadores 
soviéticos a explicam. Cada um deles 
é  notável,  mas  a  proposta  de  Paulo 
Freire  é  muito  mais  ampla. 
(Beisiegel, 2013, p. 170). 
 
Assim, a pedagogia de Paulo Freire e 
o  MST  se  identificam  na  luta  pela 
transformação da sociedade capitalista em 
uma  sociedade  não  hegemonizada  pelo 
capital,  rumo  a  uma  sociedade  mais 
humana.    Segundo  Roseli  Caldart,  Freire 
foi  o  educador que  abriu  caminho  para  o 
diálogo entre a educação e os movimentos 
sociais, pois: 
 
construiu  sua  reflexão  em  torno  do 
processo de produção do ser humano 
como  sujeito,  e  da  potencialidade 
educativa da condição de oprimido e 
do esforço em tentar deixar de sê-lo, 
o  que  quer  dizer,  de  tentar 
transformar as circunstâncias sociais 
desta sua condição, engajando-se na 
luta  pela  sua  libertação.  (Caldart, 
2000, p. 203). 
 
 No dia 17 de abril de 1997, apenas 
alguns  dias  antes  do  seu  falecimento, 
Freire concedeu entrevista anunciando seu 
posicionamento  frente  às  mobilizações 
desencadeadas  pelos  movimentos  sociais, 
em especial, pelo MST: 
 
Eu estou feliz por estar vivo ainda e 
ter acompanhado essa marcha, como 
outras  marchas  históricas,  revela  o 
ímpeto  da  vontade  amorosa  para  o 
mundo  essa  marcha  chama  Sem 
Terra.  Eu morria feliz se eu visse o 
Brasil em seu tempo histórico cheios 
de  marchas  “...  Os  Sem  Terra 
constituem  pra  mim  hoje  uma  das 
expressões  mais  fortes  da  vida 
política  e  da  vida  cívica  deste  país. 
Por isso mesmo é que se fala contra 
eles  e  até  de  gente  que  se  pensou 
progressista” ... “Eu fiquei com Marx 
na mundalidade na procura de Cristo 
na  transcendentalidade”.  (Freire, 
1997, s./p.). 
 
Para  Ademar  Bogo,  a  grande 
descoberta de Paulo Freire, já no final da 
década de 1950, foi que aprendemos a ler o 
mundo  que  nos  cerca,  antes  mesmo  das 
palavras e frases. A partir daí ele tornou-se 
“o grande pedagogo, amigo e militante das 
lutas sociais”.  (Bogo, 2013, p.  1).  Afinal, 
para Freire: 
 
... aprender a ler e a escrever se faz 
assim  uma  oportunidade  para  que 
mulheres e homens percebam o  que 
realmente  significa  dizer  a  palavra: 
um  comportamento  humano  que 
envolve  ação  e  reflexão.  Dizer  a 
palavra,  em  sentido  verdadeiro,  é  o 
direito de expressar-se e expressar o 
mundo, de criar e recriar, de decidir, 
de optar. (Freire, 1983, p. 35). 
 
Mais  do  que  uma  metodologia  de 
alfabetização,  Paulo  Freire  construiu  uma 
concepção de educação como processo de