REVISTA BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO DO CAMPO
RBEC
THE BRAZILIAN SCIENTIFIC JOURNAL OF RURAL
EDUCATION (Countryside)
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REVISTA BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO DO CAMPO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS
CAMPUS TOCANTINÓPOLIS
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO DO CAMPO
LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO DO CAMPO COM
HABILITAÇÃO EM ARTES E MÚSICA
V. 3, N. 2, MAI./AGO. 2018
ISSN: 2525-4863
EXPEDIENTE / MASTHEAD
Reitor / Rector of the University
Profa. Dr. Luis Eduardo Bovolato
Vice-Reitora / Vice- Rector
Prof. Dra. Ana Lúcia Medeiros
Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação / Research and
PostGraduate Pro-Rector
Prof. Dr. Raphael Sanzio Pimenta
Pró-Reitor de Administração e Finanças / Administration
and Finance Pro-Rector
Prof. Me. Jaasiel Nascimento Lima
Pró-reitor de Assuntos Estudantis e Comunitários /
Student and Community Issues Pro-Rector
Prof. Dr. Kherlley Caxias Batista Barbosa
Pró-reitor de Avaliação e Planejamento / Evaluation and
Planning Pro-Rector
Prof. Dr. Eduardo Andrea Lemus Erasmo
Pró-reitora de Graduação / Graduation Pro-Rector
Prof. Dra. Vânia Maria de Araújo Passos
Pró-reitora de Extensão e Cultura / Extension and Culture
Pro-Rector
Prof. Dra. Maria Santana Ferreira Milhomem
Pró-reitora de Gestão e Desenvolvimento de Pessoas /
People Management Pro-Rector
Prof. Me. Érica Lissandra Bertolossi Dantas
Diretor do Campus de Tocantinópolis / Chief Tocantinópolis
Campus
Prof. Dr. Nataniel da Vera Cruz Gonçalves Araújo
Coordenador do curso de Educação do Campo, campus de
Tocantinópolis / Coordinator of the Course Rural Education
Tocantinópolis campus
Prof. Ms. José Jarbas Pinheiro Ruas Junior
[PT] Revista Brasileira de Educação do Campo
Periodicidade semestral
Universidade Federal do Tocantins, campus Tocantinópolis
Avenida Nossa Senhora de Fátima, n. 1588, 77.900-000
Centro, Tocantinópolis - TO
Coordenação do Curso de Educação do Campo com
Habilitação em Artes e Música
Telefones de contato: (63) 3471-6020 / 3471-6037
E-mails: educacaocampotoc@uft.edu.br
rbec@uft.edu.br
Site da revista:
https://sistemas.uft.edu.br/periodicos/index.php/campo
Editoração da revista: Gustavo Cunha de Araújo
[EN] Brazilian Scientific Journal of Rural Education
(Countryside)
Publication frequency: quarterly
Federal University of Tocantins, Tocantinópolis, Brazil
Avenue Nossa Senhora de Fátima, n. 1588, 77.900-000
Tocantinópolis - TO
Course of Rural Education (countryside) with qualification in
Arts and Music
Contacts: +55(63) 3471-6020 / 3471-6037
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Graphic Design Journal: Gustavo Cunha de Araújo
Revista Brasileira de Educação do Campo, v. 3, n. 2, 412 p., mai./ago. 2018.
EQUIPE EDITORIAL / EDITORIAL BOARD
EDITOR CHEFE / EDITOR IN CHIEF
Gustavo Cunha de Araújo, Educação do Campo/UFT,
Tocantinópolis, Tocantins, Brasil
EDITOR ASSISTENTE / EDITORIAL ASSISTANT
Cícero da Silva, Educação do Campo/UFT,
Tocantinópolis, Tocantins, Brasil
EDITORES ASSOCIADOS INTERNACIONAIS /
INTERNATIONAL ASSOCIATE EDITORS
Beatrice Kabui Icheria, Faculty of Education/University of
Pretoria, Pretória, África do Sul
Pere Puig Calvó, Departament de Ciències de l'Educació,
Universitat Internacional de Catalunya, Catalunya,
Espanha
CONSELHO EDITORIAL INTERNACIONAL /
INTERNATIONAL EDITORIAL STAFF
Carlos Manique, Instituto de Educação, Universidade de
Lisboa, Lisboa, Portugal
Daniel Schugurensky, School of Public Affairs and School
of Social Transformation, Arizona State University,
Arizona, Estados Unidos
Dušan Stamenković, Faculty of Philosophy and CogSci
Center, University of Niš, Sérvia
Fernando Hernández, Faculdade de Belas Artes da
Universidade de Barcelona, Universidade de Barcelona
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Inés Dussel, Departamento de Investigaciones
Educativas Del CINVESTAV-IPN, Cidade do xico,
México
Jean-Louis Ichard, Institut INFOCAP, Formation des
acteurs du monde agricole et rural, Paris, França
Jordi González García, Facultad de la Educación,
Universitat Internacional de Catalunya, Catalunya,
Espanha
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Artemisa, Cuba
Luisa Isabel Rodriguez Bello, Departamento de
Castellano, Literatura y Latín, Universidad Pedagógica
Experimental Libertador, Caracas, Venezuela
Manuel José Jacinto Sarmento Pereira, Instituto de
Estudos da Criança, Universidade do Minho, Braga,
Portugal
Pedro dos Santos Ribeiro Mucharreira - Universidade de
Lisboa, Portugal
Martina Paatela-Nieminen, Faculty of Educational
Sciences, University of Helsinki, Helsinki, Finlândia
Roberto García-Marirrodriga, Facultad de Educación
Universidad Internacional de la Rioja, La Rioja, Espanha
SECRETÁRIO DA REVISTA / SECRETARY OF THE
JOURNAL
Saulo Eglain Sá Menezes, Prefeitura Universitária/UFT,
Tocantinópolis, Tocantins, Brasil
REVISÃO / PROOFREADING OF THE JOURNAL
Cícero da Silva, Educação do Campo/UFT,
Tocantinópolis, Tocantins, Brasil
Gustavo Cunha de Araújo, Educação do Campo/UFT,
Tocantinópolis, Tocantins, Brasil
EDITORAÇÃO ELETRÔNICA E PROJETO GRÁFICO
DA REVISTA / DESKTOP PUBLISHING AND GRAPHIC
DESIGN
Gustavo Cunha de Araújo, Educação do Campo/UFT,
Tocantinópolis, Tocantins, Brasil
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Gustavo Cunha de Araújo, Educação do Campo/UFT,
Tocantinópolis, Tocantins, Brasil
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Maranhão, Brasil
Agnaldo Rodrigues da Silva, Departamento de Ciências Humanas/UNEMAT, Cáceres,
Mato Grosso, Brasil
Analise de Jesus da Silva, Faculdade de Educação/UFMG, Belo Horizonte, Minas
Gerais, Brasil
Anderson Fabrício Andrade Brasil, Departamento de Educação do Campo/UFT,
Tocantinópolis, Tocantins, Brasil
Cássia Ferreira Miranda, Departamento de Educação do Campo/UFT, Tocantinópolis,
Tocantins, Brasil
Clarice Aparecida Santos, Instituto de Educação/UnB, Planaltina, Brasília, Brasil
Edson Caetano, Departamento de Teorias e Fundamentos da Educação/UFMT,
Cuiabá, Mato Grosso, Brasil
Fábio Pessoa Vieira, Faculdade de Educação/UFBA, Salvador, Bahia, Brasil
Fátima Costa de Lima, Departamento de Artes Cênicas/UDESC, Florianópolis, Santa
Catarina, Brasil
Fernando José Martins, Centro de Educação e Letras/UNIOESTE, Foz do Iguaçu,
Paraná, Brasil
Geraldo Márcio Alves dos Santos, Departamento de Administração Escolar/UFV,
Viçosa, Minas Gerais, Brasil
Gerda Margit Schutz Foerst, Centro de Educação/UFES, Vitória, Espírito Santo, Brasil
Helena Quirino Porto Aires, Departamento de Pedagogia/UFT, Tocantinópolis,
Tocantins, Brasil
Idemar Vizolli, Departamento de Matemática/UFT, Arraias, Tocantins, Brasil
Ilma Ferreira Machado, Faculdade de Educação/UNEMAT, Cáceres, Mato Grosso,
Brasil
Janete Maria Lins de Azevedo, Departamento de Fundamentos Socio-Filosóficos da
Educação/UFPE, Recife, Pernambuco, Brasil
João Batista Pereira de Queiroz, Instituto de Educação/UnB, Planaltina, Brasília, Brasil
José Carlos Miguel, Departamento de Administração e Supervisão Escolar/UNESP,
Marília, São Paulo, Brasil
José Jarbas Pinheiro Ruas Júnior, Educação do Campo/UFT, Tocantinópolis,
Tocantins, Brasil
Juliana Chioca Ipolito, Departamento de Pedagogia/UFT, Tocantinópolis, Tocantins,
Brasil
Kaé Stoll Colvero, Instituto de Ciências Exatas e da Natureza/UNILAB, Fortaleza,
Ceará, Brasil
Klivia Cassia Freitas de Sousa, Departamento de Ciências Sociais/UFT,
Tocantinópolis, Tocantins, Brasil
Leon de Paula, Departamento de Educação do Campo/UFT, Tocantinópolis,
Tocantins, Brasil
Lilia Neves Gonçalves, Instituto de Artes/UFU, Uberlândia, Minas Gerais, Brasil
Lourdes Helena da Silva, Departamento de Educação/UFV, Viçosa, Minas Gerais,
Brasil
Maria de Lourdes Bernartt, Departamento Acadêmico de Ciências Humanas/UTFPR,
Pato Branco, Paraná, Brasil
Maciel Cover, Departamento de Educação do Campo/UFT, Tocantinópolis, Tocantins,
Brasil
Mara Pereira da Silva, Departamento de Educação do Campo/UFT, Tocantinópolis,
Tocantins, Brasil
Marco Aurélio Gomes de Oliveira, Departamento de Pedagogia/UFT, Tocantinópolis,
Tocantins, Brasil
Mário Borges Netto, Departamento de Pedagogia/UFT, Tocantinópolis, Tocantins,
Brasil
Marcus Facchin Bonilla, Departamento de Educação do Campo/UFT, Tocantinópolis,
Tocantins, Brasil
Michèle Sato, Departamento de Ensino e Organização/UFMT, Cuiabá, Mato Grosso,
Brasil
Miguel González Arroyo, Faculdade de Educação/UFMG, Belo Horizonte, Minas
Gerais, Brasil
Mônica Castagna Molina, Instituto de Educação/UnB, Planaltina, Brasília, Brasil
Natascha Eugênia Janata, Departamento de Estudos Especializados em
Educação/UFSC, Florianópolis, Santa Catarina, Brasil
Neusa Maria Dal Ri, Departamento de Administração e Supervisão Escolar/UNESP,
Marília, São Paulo, Brasil
Rafael Litvin Villas-Boas, Instituto de Educação/UnB, Planaltina, Brasília, Brasil
Ribamar Ribeiro Júnior, Departamento de Ensino/IFPA, Marabá, Pará, Brasil
Rogério Omar Caliari, Departamento de Ensino/IFES, Colatina, Espírito Santo, Brasil
Salomão Antônio Mufarrej Hage, Instituto de Ciências da Educação/UFPA, Belém,
Pará, Brasil
Sidinei Esteves de Oliveira de Jesus, Departamento de Educação do Campo/UFT,
Tocantinópolis, Tocantins, Brasil
Sônia Maria dos Santos, Faculdade de Educação/UFU, Uberlândia, Minas Gerais,
Brasil
Sérgio Botton Barcellos, Instituto de Ciências Humanas e da Formação/FURG, Rio
Grande, Rio Grande do Sul, Brasil
Wilson José Soares, Departamento de Ensino/IFMT, Rondonópolis, Mato Grosso,
Brasil
Tereza Mara Franzoni, Departamento de Artes Cênicas/UDESC, Florianópolis, Santa
Catarina, Brasil
Ubiratan Francisco de Oliveira, Departamento de Educação do Campo/UFT,
Tocantinópolis, Tocantins, Brasil
[PT] FOCO, ESCOPO E MISSÃO
A Revista Brasileira de Educação
do Campo, de periodicidade
quadrimestral, publica Artigos
originais resultantes de pesquisas
teóricas e/ou empíricas, Dossiês
Temáticos, Ensaios e Resenhas de
temas vinculados à Educação do
Campo sob diferentes campos da
pesquisa, como: História da
Educação do Campo; Movimentos
Sociais; Políticas Públicas; Jovens
e Adultos do Campo; Formação
Docente; Povos Indígenas e
Educação; Didática e Práticas
Pedagógicas em Artes e Música;
Arte na Educação do Campo;
Interculturalidade na Educação do
Campo; Pedagogia da Alternância;
Questão Agrária e Campesinato.
A Revista tem como missão ser um
veículo de comunicação científica
que fomente importantes debates
no campo educacional,
principalmente na área da
Educação do Campo, de
pesquisadores brasileiros e
estrangeiros mestres e doutores,
além de estudantes acompanhados
de seus respectivos orientadores
(titulação mínima de doutor), para o
avanço científico da área e para a
produção de conhecimento.
A Revista Brasileira de Educação
do Campo é uma publicação
quadrimestral do Departamento de
Educação do Campo, curso de
Licenciatura em Educação do
Campo com Habilitação em Artes e
Música, da Universidade Federal
do Tocantins, campus de
Tocantinópolis. Publica textos em
português, espanhol e inglês. A
revista recebe os manuscritos em
fluxo contínuo. É um periódico
científico de acesso aberto e
gratuito, sem taxas de submissão e
de publicação dos textos
submetidos à Revista.
[EN] AIMS & SCOPE
The Brazilian Scientific Journal of
Rural Education (Countryside
Education), quarterly publication,
publishes original articles resulting
from theoretical and/or empirical
research thematic, essays and
reviews of topics related to the
Rural Education (Countryside
Education) in different fields of
research, such as the Rural
Education (Countryside
Education) History; Social
Movements; Public Policies;
Indigenous Peoples and Education;
Teacher Training; Youth and Adult
Rural Education (Countryside
Education); Didactic and
Pedagogical Practices in Arts and
Music; Art in Rural Education
(Countryside Education);
Interculturalism in Rural Education
(Countryside Education); Pedagogy
of Alternation; Land Reform and
Peasantry.
The Scientific Journal's mission is
to be a qualified scientific
communication instrument that
fosters important debates in the
educational field, especially in the
Rural Education (Countryside
Education) area of Brazilians and
foreign Masters and PhD
researchers and students
accompanied by their mentors
(minimum Doctor title required), for
scientific progress in the field and
for producing knowledge.
The Brazilian Scientific Journal of
Rural Education (Countryside
Education) is a quarterly publication
of the Department of Rural
Education (Countryside Education),
Bachelor course of Rural Education
(Countryside Education) and
specialization course in Arts and
Music of the Federal University of
Tocantins, Tocantinópolis city. It
publishes papers in Portuguese,
Spanish and English. The journal
receives manuscripts in continuous
flow. It is an open access Scientific
Journal. No charges - no fees - of
manuscript submission and
publication - no APCs.
[SP] TEMÁTICA Y ALCANCE
La Revista Brasileña de la
Educación Rural, tres veces al año,
publica artículos originales
resultantes de teóricos y / o
archivos temáticos de investigación
empírica, ensayos y reseñas de
temas relacionados con el campo
de la educación rural en diferentes
campos de la investigación, tales
como: Historia de la Educación
Rural (campo); Los Movimientos
Sociales; Políticas Públicas;
Pueblos Indígenas y la Educación;
Formación del Profesorado; la
Jóvenes y Adultos Campo;
Didácticos y Pedagógicos Prácticas
en Artes y Música; Arte en la
Educación Rural; Interculturalidad
en Educación Rural; Pedagogía de
la Alternancia; Cuestión Agraria y
Campesinado.
La misión de la revista es ser un
instrumento de calidad de la
comunicación científica que
promueve debates importantes en
el campo de la educación, sobre
todo en el ámbito de la Educación
Rural de los brasileños y
extranjeros maestros e
investigadores de doctorado y
estudiantes acompañados por sus
tutores (titulación mínima doctor),
para el progreso científico en el
campo y para la producción de
conocimiento.
La Revista Brasileña de la
Educación Rural es una
publicación tres veces al año del
Departamento de Educación Rural,
Licenciatura en Educación Rural
con especialización en Artes y
Música de la Universidad Federal
de Tocantins, campus
Tocantinópolis. Publica textos en
portugués, español e Inglés. La
revista recibe manuscritos en
continuamente. Es una revista
científica abierta y libre, sin pagos
de tasas de presentación y
publicación de los textos
presentados en la revista.
FONTES DE INDEXAÇÃO / INDEXING DATABASES
Indexadores Nacionais e Internacionais (Bases de Dados, Diretórios, Catálogos, Repositórios):
CROSSREF
DOAJ
PORTAL DE PERIÓDICOS DA CAPES
CLASE
IRESIE
ERIHPLUS
REDIB
ERIC
HINARI (RESEARCH FOR HEALTH)
AGORA JOURNALS
FAO - FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS
FLACSO (ARGENTINA)
OPEN SCIENCE DIRECTORY / EBSCO
ROAD
LATINREV
EDUBASE (SBU/UNICAMP)
DIRETÓRIO DE PERIÓDICOS NACION S
DU
ULRICH'S WEB
SUMÁRIOS.ORG
LATINDEX
DIADORIM
GOOGLE ACADÊMICO (GOOGLE SCHOLAR)
EZ3/ELETRONIC JOURNALS LIBRARY
MIAR (UNIVERSITAT DE BARCELONA)
ACTUALIDAD IBEROAMERICANA (INDICE INTERNACIONAL DE REVISTAS)
PKP (PUBLIC KNOWLEDGE PROJECT)
DATAVERSE HARVARD
E-JOURNALS.ORG
SHERPA/ROMEO
OASIS BR
LA REFERÊNCIA
RCAAP
LIBRARIES (UNIVERSITY OF MINNESOTA)
WORLDCAT (OCLC)
ZENODO
MENDELEY
ACADEMIA.EDU
ACADEMICKEYS
JOURNALTOCS
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RESEARCH - DIRECTORIO DE REVISTAS (JOURNALS & AUTHORS)
BASE
OPENAIRE
LIVRE (REVISTAS DE LIVRE ACESSO)
RESEARCH BIB (ACADEMIC RESOURCE INDEX)
SCILIT (THE SCIENTIFIC LITERATURE DATABASE)
SCIENCE LIBRARY INDEX
REDES SOCIAIS (FACEBOOK)
REDES SOCIAIS (TWITTER)
SUMÁRIO / CONTENTS
Expediente / Masthead
Educação do Campo, formação de professores e movimentos sociais .................................................................................. i
Gustavo Cunha de Araújo, Cícero da Silva
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-4863.2018v3n2pi
Artigos / Articles / Artículos
Ensino de Física para a população rural do Tocantins: desafios e problemas a serem superados
...............................................................................................................................................................................................359
Alexsandro Silvestre da Rocha, Regina Lelis de Souza, Denisia Brito Soares, Nilo Maurício Sotomayor Choque,
Liliana Yolanda Ancalla Dávila, Shirlei Nabarrete Desidério, Érica Cupertino Gomes
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-4863.2018v3n2p359
Educação do Campo e Autonomia: desenvolvimento comunitário e pedagogia de participação no Assentamento do
Movimento Sem Terra [MST], Luís Inácio Lula da Silva (Lulão)
................................................................................................................................................................................................381
Altemar Felberg, Geovani de Jesus Silva
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-4863.2018v3n2p381
Educación cooperativista y extensión rural
................................................................................................................................................................................................411
Palloma Rosa Ferreira, Diego Neves de Sousa, Michele Silva Costa
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-4863.2018v3n2p411
A Educação Física como componente curricular de uma escola do campo do município Jitaúna/Bahia
................................................................................................................................................................................................433
Silvano da Conceição, Poliana Freitas Brito
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-4863.2018v3n2p433
Educação do Campo adaptando métodos pedagógicos: proposta para EJA sem evasão nas comunidades quilombolas
................................................................................................................................................................................................451
Ieda Ribeiro Rodrigues, Haroldo de Vasconcelos Bentes
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-4863.2018v3n2p451
A formação do professor rural em Minas Gerais: casos e (des)casos
................................................................................................................................................................................................473
Roberta Aparecida da Silva, Rita de Cássia de Souza
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-4863.2018v3n2p473
Escola do campo e a prática social de ensino da matemática na concepção da comunidade escolar
................................................................................................................................................................................................496
Ana Paula Nahirne, Dulce Maria Strieder
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-4863.2018v3n2p496-2
Mathematical education of young and adults: pedagogical implications of historical-cultural theory
................................................................................................................................................................................................519
José Carlos Miguel
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-4863.2018v3n2p519-2
A Pedagogia da Alternância no CEFFA de Ji-Paraná/Rondônia: A ênfase na identidade que produz diferenças
................................................................................................................................................................................................549
Alberto Dias Valadão, José Licínio Backes
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-4863.2018v3n2p549
Educação do Campo, Ensino Médio e juventude camponesa: conceitos em construção
................................................................................................................................................................................................578
Maria de Lourdes Jorge de Sousa, Ilma Ferreira Machado
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-4863.2018v3n2p578
Oficina de tinta de terra: contextualizando pigmentos na disciplina de História da Química na LEdoC/UFMA
................................................................................................................................................................................................596
Meubles Borges Júnior, Matheus Casimiro Soares Ferreira, Carolina Pereira Aranha
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-4863.2018v3n2p596
Ecologia de Saberes na Educação do Campo como alternativa epistemológica e societal: experiência do SIECS
................................................................................................................................................................................................616
Maria Elizabeth Souza Gonçalves
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-4863.2018v3n2p616
Política de expansão das licenciaturas em Educação do Campo: desafios para a implantação do Programa Nacional de
Educação do Campo na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul ............................................................................. 633
Jorge Luis D'Ávila
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-4863.2018v3n2p633
Licenciatura em Educação do Campo Área Ciências Agrárias no IFSULDEMINAS/Campus Inconfidentes
................................................................................................................................................................................................649
João Batista Begnami, Aloísia Rodrigues Hirata, Luiz Carlos Dias da Rocha
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-4863.2018v3n2p649
Licenciatura em Educação do Campo: princípios formativos a didática por área do conhecimento
................................................................................................................................................................................................677
Juliana Domit Mallat, Ademir Nunes Gonçalves, Marcos Gehrke
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-4863.2018v3n2p677
A educação do MST diante do Estado e da política pública de Educação do Campo sob influência dos organismos
multilaterais
................................................................................................................................................................................................705
Vagner Luiz Kominkiéwicz, Adriana D’Agostini
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-4863.2018v3n2p705
Política Editorial / Editorial Policy
Diretrizes e Normas para Publicação / Guidelines and Instructions for Authors
Revista Brasileira de Educação do Campo
The Brazilian Scientific Journal of Rural Education
EDITORIAL
DO
I:
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10.20
873/
u
ft.2525
-4863.2018v3
n
2
p
i
Educação do Campo, formação de professores e
movimentos sociais
Gustavo Cunha de Araújo
1
, Cícero d a Silva
2
1
Universidade Federal do Tocantins - UFT. Departamento de Educação do Campo. Avenida Nossa Senhora de Fátima, 1588,
Centro. Tocantinópolis, Brasil. rbec@uft.edu.br.
2
Universidade Federal do Tocantins - UFT.
Autor para correspondência/Author for correspondence: rbec@uft.edu.br
A Revista Brasileira de Educação do Campo RBEC, ISSN 2525-4863, periódico
do Departamento de Educação do Campo, da Universidade Federal do Tocantins, campus de
Tocantinópolis, lança o seu segundo número do volume 3, referente ao segundo trimestre de
2018. Este número traz 16 artigos, aprovados dentre os manuscritos recebidos ao longo dos
anos de 2017 e 2018.
Considerando que, em sua maioria, os artigos desta edição foram elaborados com
base em pesquisas desenvolvidas nos cursos de Licenciatura em Educação do Campo
(LEDOC) localizados nas diferentes regiões brasileiras, envolvendo especialmente o processo
de implantação de cursos e experiências na formação de professores, isso justifica a escolha
do título deste editorial. E uma das razões para concepção da Revista Brasileira de Educação
do Campo no ano de 2016 foi exatamente e inexistência, até então, de um o periódico com
foco/escopo específico que contemplasse e acolhesse as pesquisas desenvolvidas no âmbito
da Educação do Campo em geral e, em especial, nas LEDOC e nos movimentos sociais do
campo. Desde que publicou o seu primeiro número, em agosto de 2016, a RBEC mantém a
sua missão e corrobora, mais uma vez, o seu compromisso social ao dar visibilidade à
produção de conhecimento no contexto nacional e internacional acerca da Educação do
Campo.
No primeiro artigo, Ensino de Física para a população rural do Tocantins:
desafios e problemas a serem superados”, de autoria de Alexsandro Silvestre da Rocha
(UFT), Regina Lelis de Souza (UFT), Denisia Brito Soares (UFT), Nilo Maurício Sotomayor
Choque (UFT), Liliana Yolanda Ancalla Dávila (UFT), Shirlei Nabarrete Desidério (UFT) e
Érica Cupertino Gomes (UFT), teve como principal objetivo apresentar uma análise detalhada
de como se encontra a estrutura escolar rural do Estado nas oito regiões tocantinenses, com
foco no quantitativo de estudantes com acesso ao ensino de Ciências, especificamente Física.
Constatou-se no estudo que 10 vezes mais alunos que estudam esta ciência nas zonas
urbanas. Majoritariamente, a população rural não tem acesso garantido ao ensino de Física
nas localidades em que reside, produzindo um cenário desfavorável.
Na sequência, o artigo intitulado Educação do Campo e Autonomia:
desenvolvimento comunitário e pedagogia de participação no Assentamento do
Movimento Sem Terra [MST], Luís Inácio Lula da Silva (Lulão)”, de autoria de Altemar
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 2
p. i-vi
mai./ago.
2018
ISSN: 2525-4863
i
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Felberg (ULHT / Lisboa) e Geovani de Jesus Silva (UNEB), teve como fito apresentar o
papel da Educação do Campo no processo de formação de sujeitos autônomos, a partir de
estudo realizado em um assentamento do Movimento Sem Terra no Sul da Bahia, que buscou
compreender de que modo os indicadores de desenvolvimento refletem o grau de autonomia
de seus moradores. Os pesquisadores concluíram que ter mais autonomia e agir com maior
liberdade de pensamento e ação melhora o potencial das pessoas para cuidar de si mesmas e
para influenciar o mundo - questões centrais para o processo de desenvolvimento. Para
potencializar a autonomia, a educação exerce um papel fundamental, no universo e na
população estudada, efetivando-se na práxis da vida cotidiana, no exercício da cidadania e na
participação social, consolidando-se como prática de liberdade.
O próximo artigo, Educación cooperativista y extensión rural”, de Palloma Rosa
Ferreira (UFV), Diego Neves de Sousa (EMBRAPA) e Michele Silva Costa (UFT), objetivou
analisar a relação entre educação cooperativista e extensão rural na gestão de cooperativas
agrárias. Entre os resultados alcançados na investigação, os(as) pesquisadores(as) mostram
que o desenvolvimento da educação cooperativista e o trabalho realizado pelas organizações,
especialmente a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais
(EMATER-MG), tem se demonstrado como autênticas organizações de natureza consultiva.
A investigação mostrou que a extensão rural proporciona o estabelecimento de atividades de
educação cooperativista junto às organizações cooperativas agrárias. Nesse sentido, os(as)
autores(as) concluem que a educação cooperativista e a extensão rural são práticas
indissociáveis para uma adequada gestão de cooperativas.
Em A Educação Física como componente curricular de uma escola do campo
do município Jitaúna/Bahia”, de Silvano da Conceição (UESB) e Poliana Freitas Brito
(UESB), analisaram-se as dificuldades para o desenvolvimento da disciplina de Educação
Física, oferecida para as turmas do sexto ao nono ano do ensino fundamental. Segundo os(a)
autores(a), o estudo evidenciou que embora a legislação sobre Educação do Campo tenha
avançado em vários aspectos, a escola analisada permaneceu à margem das ações do poder
público e essa situação tem prejudicado o desenvolvimento de todas as disciplinas do
currículo escolar, não apenas da Educação Física. Diante disso, os(a) autores(a) concluem que
a letargia do poder blico tem dificultado a construção de uma escola do campo de
qualidade, que trabalhe temáticas e conteúdos que respeitem, valorizem e fortaleçam a cultura
e a identidade da população do campo.
no artigo Educação do Campo adaptando métodos pedagógicos: proposta
para EJA sem evasão nas comunidades quilombolas”, de autoria de Ieda Ribeiro
Rodrigues (UFPA) e Haroldo de Vasconcelos Bentes (IFPA), analisa-se a inclusão de
procedimentos pedagógicos que valorizem a cultura local nas turmas da EJA de duas escolas
de comunidades quilombolas. Objetiva-se a partir deste método, a participação regular do
aluno na escola, propondo assim a redução no índice de evasão escolar através da modificação
do ensino em sala de aula. São apresentados relatos de alunos e professores que justificam o
problema da evasão. Sugerem-se dinâmicas diferenciadas exemplificadas na disciplina de
Filosofia de Educação com uma das turmas de Educação do Campo (UFPA). No campo
teórico, defende-se um ensino que prioriza as especificidades dos sujeitos da EJA e da cultura
local. Contextualizando com Haroldo Bentes (2010; 2016), Caldart (2000; 2012) e Diretrizes
Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental, Escolas do Campo e Educação
Quilombola. Dentro dos fundamentos metodológicos aborda-se a integração de métodos
pedagógicos adaptados de acordo com a cultura local. Dialoga-se sobre o entrosamento e
interesse do aluno da EJA com as disciplinas. Norteia-se no final que a troca de saberes
professor-aluno estimula o crescimento socioeducacional, incentivando a permanência do
aluno na escola e reduzindo o índice de evasão escolar.
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No artigo intitulado A formação do professor rural em Minas Gerais: casos e
(des)casos”, de Roberta Aparecida da Silva (UFV) e Rita de Cássia de Souza (UFV), as
autoras fizeram uma contextualização histórica em relação à formação dos professores
primários no Brasil e no Estado de Minas Gerais, com ênfase no professor rural e na escola
rural. Dentre outros resultados, as autoras constataram que, em nome do discurso de reverter o
“atraso” da agricultura, de fixar o homem rural no campo, de diminuir o analfabetismo
existente, bem como modernizar o país, foram criadas instituições específicas para a formação
de professores rurais em alguns Estados brasileiros, e, entre eles, Minas Gerais. Como
resultados, a pesquisa mostrou que a preocupação com a Educação Rural em Minas Gerais
tornou-se evidente após 1950, momento a partir do qual começou a ser observada a
necessidade de se formar os professores rurais, providos de conhecimento específicos e
contextualizados para poderem desenvolver um processo de civilização do ambiente rural. É
possível concluir, mediante observação, que as políticas públicas brasileiras apresentaram e
apresentam fragilidades em relação à Educação Rural, desenvolvendo-se de forma lenta,
desconexa e tardia em relação às iniciativas educacionais urbanas.
Em Escola do campo e a prática social de ensino da matemática na concepção
da comunidade escolar”, de autoria de Ana Paula Nahirne (UFFS) e Dulce Maria Strieder
(UNIOESTE), as autoras objetivaram encontrar respostas sobre quais são as concepções da
comunidade de uma Escola do Campo acerca da Educação Matemática e seus elos com o
contexto local. Na pesquisa desenvolvida, constataram as potencialidades do Ensino da
Matemática no atendimento das características particulares da Educação do Campo, tendo
como um dos elementos concluintes a apresentação da Modelagem Matemática na perspectiva
da Educação Matemática como alternativa metodológica significativa para a aprendizagem
dos conteúdos, uma vez que tal perspectiva considera a realidade e os interesses da
comunidade escolar.
No artigo intitulado Mathematical education of young and adults: pedagogical
implications of historical-cultural theory”, de José Carlos Miguel (UNESP), o autor aborda
algumas implicações pedagógicas da teoria Histórico-Cultural para a exploração de ideias
matemáticas no âmbito da Educação de Jovens e Adultos (EJA). Dentre alguns resultados
verificados, o autor aponta para o constructo teórico da perspectiva Histórico-Cultural como
perspectiva para a efetivação de um amplo processo de produção de sentidos e de negociação
de significados de ensino e de aprendizagem da Matemática na EJA.
Na pesquisa apresentada no artigo A Pedagogia da Alternância no CEFFA de Ji-
Paraná/Rondônia: a ênfase na identidade que produz diferenças”, de Alberto Dias
Valadão (UNIR) e José Licínio Backes (UCDB), os autores analisam como são produzidas e
negociadas as identidades/diferenças de jovens do campo no espaço educativo do Centro
Familiar de Formação por Alternância (CEFFA) de Ji-Paraná, em Rondônia. O estudo
vincula-se ao campo teórico dos Estudos Culturais pós-estruturalistas, além de articular ideias
com a Educação do Campo. Como procedimento metodológico, fez-se uso da entrevista com
alunos e monitores, da observação de alunos e monitores, bem como de sua inter-relação com
os outros sujeitos e o ambiente acadêmico onde estão inseridos, além da análise de
documentos curriculares da Pedagogia da Alternância. A pesquisa revelou que as identidades
produzidas no espaço educativo do CEFFA são desestabilizadas pelas diferenças, entrelaçadas
por inúmeras práticas culturais e, por isso mesmo, descontínuas, descentradas, fragmentadas,
relacionais.
Em Educação do Campo, Ensino Médio e juventude camponesa: conceitos em
construção”, artigo de Maria de Lourdes Jorge de Sousa (SEDUC-MT) e de Ilma Ferreira
Machado (UNEMAT), as autoras discutem as configurações do Ensino Médio em escolas do
campo no polo do CEFAPRO de São Félix do Araguaia MT, em interface com as
proposições da Educação do Campo. A pesquisa foi realizada com educadores de duas
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escolas/salas anexas, localizadas no Projeto de Assentamento Mata Azul e no Projeto de
Assentamento Dom Pedro Casaldáliga, vinculadas às Escolas Estaduais 29 de Setembro, no
município de Novo Santo Antônio, e Tancredo Neves, no município de São Félix do
Araguaia, na Microrregião Norte Araguaia nordeste de Mato Grosso. Adotou-se na pesquisa
a abordagem qualitativa, numa perspectiva crítico-dialética. Para a coleta dos dados foram
utilizadas entrevistas semiestruturadas. Os resultados da investigação mostraram que o Ensino
Médio no campo, nas escolas pesquisadas é uma experiência ainda incipiente, que envolve
questões relativas à estrutura física das unidades escolares, à organização curricular, ao papel
social da escola do campo, à formação dos docentes, ao acesso e permanência dos jovens
camponeses a escola até concluírem a formação de nível médio, evidenciando tensão, por
parte dos educadores, no sentido de contrapor ao paradigma da seletividade e dualidade do
Ensino Médio e do urbanocentrismo em escolas do campo.
Já o trabalho intitulado “Oficina de tinta de terra: contextualizando pigmentos na
disciplina de História da Química na LEdoC/UFMA”, elaborado por Meubles Borges
Júnior (UFMA), Matheus Casimiro Soares Ferreira (UFMA) e Carolina Pereira Aranha
(UFMA), apresenta um relato vivenciado na disciplina História da Química, em um curso de
Licenciatura em Educação do Campo da Universidade Federal do Maranhão (UFMA-
Bacabal), na qual a temática central trabalhada foi “a química dos pigmentos”. A
contextualização do conteúdo se deu perpassando as três categorias do processo de
contextualização (exemplificação pontual e caráter motivacional; estratégia de ensino-
aprendizado; formação de cidadão crítico na tomada de decisões), culminando com o
desenvolvimento de uma consciência crítico-reflexiva na perspectiva CTSA. Como
procedimentos metodológicos, utilizou-se: aula expositiva, leitura e interpretação de artigos
científicos, debates, oficina de Tinta de Terra, pintura e exposição dos artefatos cerâmicos e
avaliação. Com base nos resultados, conclui-se que a oficina de tinta de terra ganhou destaque
no processo formativo, pois trouxe contextos científicos, tecnológicos e sociais, o que
contribuiu para a valorização e o resgate de fatos e experiências do cotidiano, ao discutir e
vivenciar o significado de sustentabilidade, com tecnologia ambientalmente saudável e
técnica de baixo custo, portanto, ampliando o potencial do processo de ensino-aprendizagem.
Na sequência, em “Ecologia de Saberes na Educação do Campo como alternativa
epistemológica e societal: experiência do SIECS”, de Maria Elizabeth Souza Gonçalves
(UNEB), o fito do trabalho foi descrever analiticamente a experiência do Seminário
Interterritorial de Educação do Campo no Semiárido (SIECS), sediado no IFBA de Juazeiro-
Bahia, em novembro de 2016. Com o tema “Terra, Trabalho e Educação”, o SIECS apresenta
uma perspectiva pluralista de pensar engajadamente o conhecimento sobre Educação do
Campo, com a contribuição de um coletivo plural e portador de saberes diversos: Academia,
Movimentos Sociais do Campo, Movimento Estudantil e Artistas. Sob a égide de uma
ecologia de saberes (Santos, 2010), os resultados apontam o SIECS como espaço contra-
hegemônico no fortalecimento da luta pela terra, pela educação, por qualidade de vida para
todos, construído numa perspectiva descolonial que assume o lugar, o tempo e os sujeitos nas
suas diversas relações de poder.
Em Política de expansão das licenciaturas em Educação do Campo: desafios
para a implantação do Programa Nacional de Educação do Campo na Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul”, de autoria de Jorge Luis D'Ávila (UFMS), objetiva-se
analisar o processo de implantação do curso de Licenciatura em Educação do Campo da
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), na perspectiva de compreender a
morosidade do Estado brasileiro na execução da gestão das políticas educacionais. Levando-
se em consideração as articulações recíprocas entre Estado, educação e Educação do Campo,
na perspectiva marxiana, o pressuposto de análise parte da totalidade das relações entre os
homens, o que permite reintegrar nessa totalidade a base material e a base política do mundo
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dos homens. A política de formação de professores do campo é uma ação do Estado que
pretende amenizar as pressões e as demandas apresentadas pelos movimentos sociais ligados
à luta pela reforma agrária. O autor conclui que a expansão da licenciatura focalizada esbarra
nas políticas de caráter neoliberais que reduzem as verbas destinadas à expansão dos cursos, o
que afeta diretamente a autonomia das universidades e os fatores ideológicos decorrentes das
características pedagógicas do curso, que tem na luta de classes o seu principal ponto de
reflexão como outro entrave para a expansão da LEDUCAMPO.
O artigo intitulado Licenciatura em Educação do Campo Área Ciências
Agrárias no IFSULDEMINAS/Campus Inconfidentes”, elaborado por João Batista
Begnami (AMEFA), Aloísia Rodrigues Hirata (IFSULDEMINAS) e Luiz Carlos Dias da
Rocha (IFSULDEMINAS), tem como objetivo apresentar uma análise da experiência de
construção coletiva e interinstitucional e implantação do Curso de Licenciatura em Educação
do Campo - área de Ciências Agrárias (LECCA), organizado em alternância e no enfoque
agroecológico, no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas
Gerais (IFSULDEMINAS). As principais fontes de dados para a elaboração e análise deste
trabalho são: o Projeto Pedagógico de Curso, documentos gerados para a construção desse e
para a implantação do curso e as observações sobre as práticas pedagógicas iniciais. A
presente sistematização constitui uma importante estratégia de visibilidade e reflexão sobre a
realidade camponesa e as práticas político-pedagógicas do LECCA. Os autores concluem que
essa experiência, inspirada nos paradigmas da Educação do Campo e da Alternância
Pedagógica, evidencia um campo ambivalente de desafios e tensões na institucionalidade
acadêmica, mas também traz para reflexão os potenciais da instituição pública de ensino
superior como lugar de inovação e experimentação dos novos paradigmas de construção do
conhecimento científico, comprometidos com um novo projeto de escola, de campo e de
sociedade.
O penúltimo artigo, intitulado Licenciatura em Educação do Campo: princípios
formativos a didática por área do conhecimento”, produzido por Juliana Domit Mallat
(UNIOESTE), Ademir Nunes Gonçalves (UNIOESTE) e Marcos Gehrke (UNIOESTE),
analisa a formação inicial de professores por área do conhecimento nos Cursos de
Licenciatura em Educação do Campo no Estado do Paraná. Questiona e argumenta que, nessa
formação, a didática assume formar professores para atuar por área de conhecimento e não
por disciplinas específicas. Verifica elementos do campo da Didática geral e específica e
analisa o movimento formativo entre as mesmas. Emprega análise documental e estudos
bibliográficos na produção dos dados. Seleciona as matrizes curriculares como documento de
análise e define categorias teóricas a Educação do Campo: o campo da Didática e a formação
de professores. Considera que os cursos analisados aproximam a proposta da formação inicial
de professores por área do conhecimento e argumentam acerca da necessidade de constituição
da tríade, didática geral, didática específica e didática por área. Define princípios formativos:
relação intrínseca entre ser professor e educador, postura crítica frente ao conhecimento
escolar, planejamento coletivo, interdisciplinar e a partir da realidade, visão de totalidade nos
processos de ensino, transgressão do modelo classificatório e excludente na avaliação e
organização do trabalho pedagógico. Defende o campo da Didática, uma vez que estuda as
especificidades do ensinar e aprender, sua relação com o conhecimento escolar e organização
do trabalho pedagógico.
A educação do MST diante do Estado e da política pública de Educação do
Campo sob influência dos organismos multilaterais”, artigo de autoria de Vagner Luiz
Kominkiéwicz (UFSC) e Adriana D’Agostini (UFSC), fecha este número da RBEC relatando
uma pesquisa que trata da Educação do MST em sua relação com o Estado e os organismos
multilaterais, sintetizada na política de Educação do Campo. Essa investigação é
fundamentada na análise de documentos do MST, do Estado e de organismos multilaterais,
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entrevistas e questionários. A partir deste estudo, os autores concluem que o caráter de classe
da educação no MST fica subsumido ao consenso que se inicia a partir do I ENERA, focado
na luta pela educação centrada na política pública de Educação do Campo, representando um
consenso entre frações de classes antagônicas. Apontam também para a necessidade de uma
educação da classe trabalhadora, que neste momento se com limites e contradições, mas
que se reconhece como necessária para a construção de experiências para um acúmulo de
forças futuro.
A Revista Brasileira de Educação do Campo agradece aos(as) autores(as) pela
submissão de trabalhos ao periódico e aos(as) avaliadores(as) que contribuíram emitindo
pareceres e revisões dos manuscritos apresentados neste número e também ao longo de 2017 e
2018.
Desejamos a todos e a todas boas leituras!
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Informações do Editorial / Editorial Information
Conflitos de interesse: Os editores declararam não haver nenhum conflito de interesse referente a este Editorial.
Conflict of Interest: None reported.
Orcid
Gustavo Cunha de Araújo
https://orcid.org/0000-0002-1996-5959
Cícero da Silva
https://orcid.org/0000-0001-6071-6711
Como citar este Editorial / How to cite this Editorial
APA
Araújo, G. C., & Silva, C. (2018). Educação do Campo, formação de professores e movimentos sociais. Rev. Bras. Educ.
Camp., 3(2), i-vi. DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-4863.2018v3n2pi
ABNT
ARAÚJO, G. C.; SILVA, C. Educação do Campo, formação de professores e movimentos sociais. Rev. Bras. Educ. Camp.,
Tocantinópolis, v. 3, n. 2, mai./ago., p. i-vi, 2018. DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-4863.2018v3n2pi
Revista Brasileira de Educação do Campo
The Brazilian Scientific Journal of Rural Education
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Ensino de Física para a população rural do Tocantins:
desafios e problemas a serem superados
Alexsandro Silvestre da Rocha
1
, Regina Lélis de Sousa
2
, Denisia Brito Soares
3
, Nilo Maurício Sotomayor Choque
4
, Liliana
Yolanda Ancalla Dávila
5
, Shirlei Nabarrete Dezidério
6
, Érica Cupertino Gomes
7
1,2,3,4,5,6,7
Universidade Federal do Tocantins - UFT. Departamento de Física. Unidade CIMBA. Avenida Paraguai, s/n°. Setor
Cimba. Araguaína - TO. Brasil.
Autor para correspondência/Author for correspondence: alexsandro@uft.edu.br
RESUMO. O Estado do Tocantins é o mais novo Estado da
federação e foi criado com a promulgação da Constituição da
República Federativa em 1988. Após 29 anos de existência,
atende 408.322 alunos com 11% destes matriculados em
instituições de ensino no campo. O objetivo do presente artigo é
apresentar uma análise detalhada de como se encontra a
estrutura escolar rural do Estado nas oito regiões tocantinenses,
com foco no quantitativo de estudantes com acesso ao ensino de
Ciências, especificamente Física. O estudo desta ciência está
associado à construção diferenciada de visão de mundo e
também ao desenvolvimento do censo crítico, ou seja,
representação, comunicação, investigação, compreensão e
contextualização sociocultural. Metodologicamente as
informações dispersas em documentos oficiais foram
condensadas, reorganizadas, graficadas e descritas
quantitativamente. Comparando o número total de alunos do
Estado e a porcentagem de estudantes rurais que estão em séries
nas quais aulas de Física são ministradas, constatou-se que há 10
vezes mais alunos que estudam esta ciência nas zonas urbanas.
Majoritariamente, a população rural não tem acesso garantido ao
ensino de Física nas localidades em que reside, produzindo um
cenário desfavorável.
Palavras-chave: Educação do Campo, Física, Estrutura
Educacional.
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Rocha, A. S. et al. (2018). Ensino de sica para a população rural do Tocantins...
Physics teaching for the countryside population of
Tocantins: challenges and problems to be overcome
ABSTRACT. The State of Tocantins is the newest State of the
federation and was created with the promulgation of the
Constitution of the Federative Republic in 1988. After 29 years
of existence, it serves 408,322 students with 11% of these
enrolled in educational institutions in the field. The objective of
the present article is to present a detailed analysis of how the
State rural school structure is found in the eight regions of
Tocantins, focusing on the quantitative of students with access
to Science education, specifically Physics. The study of this
science is associated to the differentiated construction of world
view and also to the development of the critical census, that is,
representation, communication, investigation, understanding and
socio-cultural contextualization. Methodologically the
information dispersed in official documents was condensed,
reorganized, plotted and described quantitatively. Comparing
the total number of students in the state and the percentage of
country students who are in the year in which physics classes are
taught, it has been verified that there are 10 times more students
studying this science in urban areas. The majority of the rural
population does not have guaranteed access to the Physics
teaching in the localities in which it resides, producing an
unfavorable scenario.
Keywords: Rural Education, Physics, Educational Structure.
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Enseñanza de Física para La población rural del
Tocantins: desafíos y problemas que deben superarse
RESUMEN. El Estado de Tocantins es el más nuevo Estado de
la federación y fue creado con la promulgación de la
Constitución de la República Federativa en 1988. Después de 29
años de existencia, atiende a 408.322 alumnos con el 11% de
estos matriculados en instituciones de enseñanza en el campo. El
objetivo del presente artículo es presentar un análisis detallado
de cómo se encuentra la estructura escolar rural del Estado en
las ocho regiones tocantinenses, con foco en el cuantitativo de
estudiantes con acceso a la enseñanza de Ciencias,
específicamente Física. El estudio de esta ciencia está asociado a
la construcción diferenciada de visión del mundo y al desarrollo
del censo crítico, es decir, representación, comunicación,
investigación, comprensión y contextualización sociocultural.
Metodológicamente las informaciones dispersas en documentos
oficiales fueron condensadas, reorganizadas, graficadas y
descritas cuantitativamente. Comparando el mero total de
alumnos del Estado y el porcentaje de estudiantes rurales que
están en series en las cuales se imparte clases de Física, se
constató que hay 10 veces más alumnos que estudian esta
ciencia en las zonas urbanas. En gran parte, la población rural no
tiene acceso garantizado a la enseñanza de Física en las
localidades en que reside, produciendo un escenario
desfavorable.
Palabras clave: Educación Rural, Física, Estructura Educativa.
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Introdução
A Física é uma ciência que permite
elaborar modelos associados a fenômenos
da natureza e desenvolver novas
tecnologias. O entendimento de seus
fenômenos possibilitou, por exemplo, todo
o desenvolvimento eletrônico presente em
nossas vidas. Para os Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCN) (Brasil,
1998, p. 22), o conhecimento da Física
“incorporado à cultura e integrado como
instrumento tecnológico, tornou-se
indispensável à formação da cidadania
contemporânea”. É fundamental o Ensino
de Física, para a “formação de uma cultura
científica efetiva, que permite ao indivíduo
a interpretação dos fatos, fenômenos e
processos naturais, situando e
dimensionando a interação do ser humano
com a natureza como parte da própria
natureza em transformação” (Brasil, 1998,
p. 22).
De acordo com a Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional- LDB (Brasil,
1996, p.17), a Educação Básica Brasileira
compreende em sua estrutura o ensino
Infantil (pré-escola), Fundamental (1° ao
9° ano) e o Ensino Médio, sendo que o
estudo de Física no Brasil é obrigatório
desde o (nono) ano do Ensino
Fundamental até o final do Ensino Médio
(Brasil, 1996; Tocantins, 2015). Esta
obrigatoriedade se justifica porque a Física
é uma ciência que promove o
amadurecimento intelectual, o
desenvolvimento cognitivo e a articulação
do raciocínio gico, importantes no
processo de ensino-aprendizagem do
escopo educacional.
O estudo de Física está associado ao
desenvolvimento de determinadas
competências e habilidades que são
destacadas nos PCN em três grupos:
representação e comunicação, investigação
e compreensão e contextualização sócio-
cultural. Todas estão relacionadas,
basicamente, à construção diferenciada de
visão de mundo e ao desenvolvimento do
censo crítico.
A educação escolar destinada à
população rural é pouco importante para a
maioria da população urbana e,
geralmente, até desvalorizada pelos
próprios habitantes das zonas rurais, que
necessitam de mão de obra para manter sua
produção. No meio rural, quando as
crianças atingem maturidade para
manusearem ferramentas ou cuidarem de
animais, acabam trabalhando no campo, o
que costuma ocorrer a partir dos 5 anos de
idade (Rede Peteca, 2017).
Com tal cultura, muitas crianças e
adolescentes não finalizam o ciclo escolar
para trabalhar no cultivo familiar e, isto faz
com que o número de estudantes do Ensino
Médio seja baixo. Entre muitos,
destacamos dois fatores a serem
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considerados como co-responsáveis por
este cenário: a estrutura escolar e a
abordagem do conteúdo programático.
Quanto à estrutura escolar rural, destaca-se
o baixo número de escolas de Ensino
Médio e o transporte deficiente. Uma das
consequências da falta de unidades
escolares é forçar os alunos a buscarem
formação nas cidades e, ao fazerem isto,
encontram dificuldades financeiras,
culturais, de transporte e de aprendizado
(Nunes, 2014).
Em 2010, a Conferência Nacional de
Educação estipulou diretrizes
infraestruturais para atender a população
rural em idade escolar (Brasil, 2010b).
Criar e manter as escolas do campo
de acordo com os padrões básicos de
infraestrutura que contemplem:
transporte escolar intracampo,
equipamentos tecnológicos de
informação e comunicação agrícolas,
material didático, acervo
bibliográfico, quadra esportiva,
laboratórios científicos e de
informática com acesso à internet
com qualidade, a qualificação e
formação continuada para o uso das
tecnologias pelos/as educadores/as,
custeadas pelo poder público, salas
de aula adequadas e equipadas.
(Brasil, 2010).
Quanto ao conteúdo, Ribeiro (1985,
p. 3) analisa essa situação, ressaltando que:
...mesmo para as famílias que enviam
seus filhos para a escola rural, o
ensino feito através desta escola não
os prepara para permanecerem na
terra. Toda a política para a educação
rural tem se restringido a oferecer um
arremedo da escola urbana, que nem
habilita os filhos dos agricultores
para dar continuidade às lides dos
pais, nem os qualifica para os
empregos urbanos.
Assim sendo, a falta de amparo
efetivo e real faz com que a educação
escolar não seja significativa para esta
população.
A Educação no Campo sempre foi
um dilema e vem sendo estudada vários
anos. Em seu trabalho, Rangel e Carmo
(2011) recuperam alguns dos eventos
históricos da Educação do Campo, onde
... os primeiros indícios de
visibilidade da educação no meio
rural remontam ao século XIX. No
entanto, apenas nos anos 30 do
século XX começaram a surgir
modelos de educação rural, baseados
em projetos de modernização do
campo, patrocinados por organismos
de cooperação norte-americana ...
Um estudo realizado por Barreiro
(2006) mostra a influência Norte-
Americana no meio rural por meio da
Campanha Nacional de Educação Rural
(CNER), em 1952. Em 1955 surge o
Serviço Social Rural (SSR), que fomenta a
organização do cooperativismo,
associativismo, economia doméstica e
artesanato (Calazans, 1993).
Outro ponto levantado em estudos
relacionados à Educação no Campo aborda
conflitos agrários, tema explorado por
Oliveira (2013). As Políticas Públicas e
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Legislações voltadas para o ensino no
campo também são abordadas por Rosa e
Caetano (2008), Etchebéhère Junior e
Barros (2009) e Aksenen e Miguel (2015).
Trazemos aqui uma investigação da
situação da educação nas áreas rurais do
Estado do Tocantins por meio da análise de
dados oficiais relativos à população,
número de escolas e quantitativo de
discentes regularmente matriculados nas
diferentes regiões geográficas. A discussão
norteada por regiões é necessária porque o
Estado é heterogêneo quanto aos aspectos
econômicos, sociais e culturais. O principal
interesse foi obter um panorama do acesso
dos estudantes das zonas rurais ao ensino
em geral, mais especificamente, ao ensino
de Física.
Com a advinda do Mestrado
Nacional Profissional em Ensino e Física
para a Universidade Federal do Tocantins
(UFT) Pólo Araguaína, e motivados
principalmente pela escassez de trabalhos
relacionados ao estudo da Física no meio
rural, um grupo de professores e
pesquisadores do referido programa
entendeu que o passo inicial para gerar
uma discussão em torno deste tema seria
expor os dados educacionais da população
rural, e com isto mostrar a realidade
educacional imposta aos habitantes do
campo.
Metodologia
Este trabalho primou por compilar,
apresentar e discutir dados educacionais do
Tocantins focando no ensino de Física nas
escolas rurais do Estado. Os dados
utilizados tiveram como fonte documentos
disponibilizados pela Secretaria de
Educação do Estado do Tocantins -
SEDUC-TO (Tocantins, 2015) e a base de
dados do Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística - IBGE (Brasil, 2010a).
Estimativa populacional, quantitativo de
escolas, quantitativo de alunos, número de
alunos do ano e mero de alunos do
Ensino Médio da rede estadual foram
analisados segundo as regiões
tocantinenses a que pertenciam, ou seja,
Bico do Papagaio, Norte, Nordeste,
Noroeste, Centro Oeste, Central e Jalapão,
Sudeste e região Sul. O grupo de interesse
era formado pelos estudantes regularmente
matriculados no Ensino Médio e que têm
Física como disciplina independente na
grade regular, mas como descrito acima
também consideramos alunos do ano do
Ensino Fundamental, pois estes possuem
Física dentro da disciplina de Ciências.
Houve trabalho de condensação das
informações dispersas em diferentes
documentos oficiais publicados pelos
órgãos públicos e, todos os dados
pertinentes foram graficados utilizando um
programa computacional. Exploramos nos
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gráficos gerados, os dados levantados e
baseamos nossas análises exclusivamente
no cunho quantitativo, pois expor os
números educacionais do campo voltados
para o estudo de Física pode servir de
catalisador para iniciar discussões sobre o
tema entre pesquisadores da área.
Resultados e Discussão
As informações compiladas dos
documentos oficiais da SEDUC e do IBGE
(Tocantins, 2016a; Brasil, 2010a) que
subsidiaram as análises para a educação
escolar da população rural do Tocantins,
são apresentados aqui em duas frentes: a
primeira descreve a distribuição
populacional e escolar rurais pelas regiões
do Estado e, a segunda foca a quantidade
de alunos que têm a disciplina Física como
parte do currículo vigente nas escolas
rurais do Tocantins. Em todos os casos, as
especificidades regionais foram
investigadas.
O mapa do Tocantins é apresentado
na Figura 01 e mostra a distribuição das
139 cidades pelas 8 regiões (Bico do
Papagaio, Norte, Nordeste, Noroeste,
Centro Oeste, Central e Jalapão, Sudeste e
Sul) do Estado. Este mapeamento também
apresenta resumidamente, a taxa de
pessoas que vivem nas zonas rurais e a
porcentagem de escolas voltadas a estas
populações, em cada uma das regiões.
A região Nordeste do Estado tem
38,79% de sua população e 60% de suas
escolas localizadas no campo, sendo esta a
maior taxa do Tocantins. Por outro lado, a
região Central e Jalapão possui a menor
taxa populacional rural (11,35%) e, a mais
baixa porcentagem de escolas rurais
(19,37%) se encontra na região Sul. O que
estes números evidenciam, é a não
uniformidade dos níveis de
desenvolvimento social, cultural e
econômico que caracteriza as regiões que
compõem o Estado.
Figura 01. Mapeamento regional do Estado do Tocantins. Inclui-se o quantitativo de municípios em cada região,
bem como a taxa de moradores da zona rural e a porcentagem de escolas rurais que atendem cada área.
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Rocha, A. S. et al. (2018). Ensino de sica para a população rural do Tocantins...
Fonte: Tocantins (2016b) Adaptado.
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Rocha, A. S. et al. (2018). Ensino de sica para a população rural do Tocantins...
Outra forma de ratificar as diferenças
sociais, culturais e econômicas dentro do
Tocantins apontadas anteriormente, é
comparar os índices populacionais e
escolares entre as regiões Norte e Sul
presentes na Figura 01. Nota-se que estes
dois extremos regionais possuem
praticamente a mesma taxa populacional
vivendo no Campo (aproximadamente
17%), entretanto, o Norte tocantinense
possui 5,82% mais escolas rurais que o Sul
do estado, sendo 25,19% na região Norte
contra 19,37% no Sul. Está claro que não
se trata apenas de diferentes espaços
geográficos.
Assim sendo, é interessante analisar
os dados com maior refinamento e detalhar
as devidas peculiaridades. A Figura 02
apresenta a densidade populacional
(número de habitantes por km²) e escolar
(escolas por número de habitantes) das
zonas urbanas e rurais para cada região do
Tocantins. Introduziu-se quebra na escala
vertical da Figura 02(b) com o intuito de
possibilitar a visualização de todos os
dados.
Figura 02. Em (a) Densidade demográfica (urbana e rural) em cada região do Estado do Tocantins e em (b)
número de escolas rurais e urbanas distribuídas pelos habitantes destas áreas e separadas por regiões do Estado.
Fonte: Pesquisa dos autores (2017).
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A densidade demográfica brasileira é
de 22,43 hab/Km
2
e o Estado do Tocantins
possui apenas 4,98 hab/Km
2
, mas ainda
assim tem maior densidade que aquela
atribuída à região Norte brasileira (4,12
hab/Km
2
). Um dos desafios associados à
vasta quantidade de território e o baixo
valor de densidade demográfica é a
implementação de políticas públicas, onde
a oferta de serviços básicos à população é
dificultada e onera o orçamento. Se
somarmos as densidades populacionais
urbanas e rurais apresentadas na Figura
02(a), apenas quatro regiões estão acima da
média tocantinense (Bico do Papagaio,
Norte, Noroeste e Central/Jalapão).
Focando na população rural, o Norte
brasileiro possui 1,09 habitantes por Km
2
e
apenas três regiões do Tocantins
ultrapassam este número (Bico do
Papagaio, Norte e Noroeste). Está claro
que o Bico do Papagaio possui a maior
quantidade de moradores no campo (4,3
hab/Km
2
), ou seja, 1/3 dos habitantes desta
região mora na zona rural (Tocantins
possui 1,056 hab/Km
2
no campo). Observe
que naquela região a população relativa no
campo supera inclusive a densidade
populacional total do Norte brasileiro.
É interessante comparar a densidade
de escolas (Escolas/Habitantes) em cada
região do Estado, o que se pode fazer
analisando a Figura 02(b). No Tocantins a
proporção de escolas é de, em média,
0,0012 escolas por habitantes nas zonas
urbanas e na zona rural aumenta para
0,0019, em outras palavras, a quantidade
de escolas por habitantes é maior na zona
rural. A única exceção é identificada para a
região Noroeste do Estado. Graficamente
(ver Figura 02(b)), as áreas urbanas
tocantinenses contam com 0,001 escola
para cada habitante, com pequenas
variações nas regiões Noroeste, Centro
Oeste, Central/Jalapão e Sudoeste. No
campo, apenas três localidades (Noroeste,
Centro Oeste e Sul) estão no patamar
urbano. A região do Bico é a que mais se
destoa das demais, possuindo
surpreendentes 0,023 escolas por habitante.
Dado numérico que está em harmonia com
os números de densidade populacional
rural da Figura 02(a). E, por fim, -se que
as regiões Norte, Nordeste, Central/Jalapão
e Sudoeste apresentam a maior densidade
de escolas rurais do Estado e estes números
variam entre 0,0015 e 0,0025. Mais
detalhes podem ser trazidos à luz quando
comparamos o número de habitantes do
campo e escolas das zonas rurais (ver
Figura 03 a quebra na escala vertical
permite a melhor visualização).
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Figura 03. Comparativo entre moradores do campo e escolas rurais separado pelas regiões do Tocantins. Em (a)
densidade demográfica e escolar no campo e em (b) a distribuição percentual.
Fonte: Pesquisa dos autores (2017).
A população rural tocantinense é de
293.339 habitantes atendidos em 564
escolas. As regiões do Bico, Norte e
Noroeste detêm as maiores densidades
demográficas rurais (Figura 03(a)), mas
com exceção da região do Bico do
Papagaio, as instituições escolares voltadas
a este público não são distribuídas
proporcionalmente à demanda
populacional (Figura 03(a)). A distribuição
percentual de moradores e escolas rurais ao
longo das regiões do estado (Figura 03(b))
reforça a robustez do Bico do Papagaio na
atuação rural e, seguida com base nestes
parâmetros, pelas regiões Central/Jalapão,
Norte e Sudeste, respectivamente.
Ter acesso adequado e pleno ao
sistema de ensino é um direito que deve ser
garantido à população. Especificamente, o
atendimento escolar está restrito, em sua
maioria, ao que se denominam cidadãos
em idade escolar (crianças e adolescentes).
Na Figura 04, condensamos informações
sobre o número de alunos matriculados nas
escolas rurais de cada região, com o intuito
de analisar a distribuição do atendimento
educacional rural no Tocantins (Figura 04).
São considerados matriculados todos
aqueles registrados em creches, pré-
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escolas, ensino básico, médio e educação de Jovens e adultos (EJA).
Figura 04. Gráfico comparativo entre a quantidade de alunos matriculados e o número de escolas rurais (a) e o
quantitativo de estudantes por escola nas regiões do Tocantins (b).
Fonte: Pesquisa dos autores (2017).
O Tocantins possui 46.276 alunos
matriculados em escolas no campo, ou
seja, 11,33% dos estudantes do Estado.
Para atender a este público, a rede de
ensino rural detém 34,04% das escolas. Ao
distribuir este quantitativo nas diferentes
regiões do Estado, a Figura 04(a) expõe as
realidades locais. Está evidenciado que
coerência entre o número de instituições de
ensino e o quantitativo populacional que
deve ser atendido. Na Figura 04(b),
apresenta-se, em ordem decrescente, a
média de alunos atendidos pelas escolas
em cada uma das regiões do Estado.
mais de 100 estudantes atendidos no Sul e
este número é de, aproximadamente, 50
alunos no Sudoeste tocantinense. Se a
distribuição fosse uniforme, cada região
rural deveria comportar 82,05 alunos por
escola.
As 564 escolas rurais são mantidas
pelos municípios (Escolas Municipais),
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pelo governo estadual (Escolas Estaduais),
federal (Federais) ou são entidades
privadas (Particulares) e, a distribuição dos
diferentes estabelecimentos no Estado
pode ser vista na Figura 05.
Figura 05. Gráfico do quantitativo de escolas rurais municipais, estaduais, federais e particulares no Estado do
Tocantins.
Fonte: Pesquisa dos autores (2017).
As prefeituras são as grandes
subsidiárias do ensino rural (73,76% da
rede), seguidas pelo Estado (23,93%) e, a
rede particular e União, representam 2,48%
e 0,35% do total de estabelecimentos
educacionais, respectivamente. Nas regiões
Nordeste e Central/Jalapão o número de
escolas fornecidas pelos governos
municipais e estadual são similares ( > 10
escolas). No Centro (Central/Jalapão) e no
Sul do Estado a rede privada está presente
com 13 e 1 escolas, respectivamente. A
União contribui apenas com 1 unidade no
Bico do Papagaio e outra no Sudoeste
tocantinense.
Comentamos anteriormente que a
população de discentes rurais do Estado é
composta por 46.275 alunos regularmente
matriculados. O quantitativo de discentes
em creches, pré-escolas, nível básico,
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médio e educação de jovens e adultos são resumidos nos gráficos da Figura 06.
Figura 06. Alunos distribuídos em séries ofertadas no meio rural. (a) Valores nominais e (b) percentual.
Fonte: Pesquisa dos autores (2017).
Dentre os diferentes ciclos
estudantis, o fundamental é o que mais
concentra alunos: são mais de 17.000
estudantes em cada um dos ciclos (1° -
ano e - ano). Em sequência, temos o
Ensino Médio (pouco mais de 5.000
alunos) e a pré-escola, que atende 4.500
estudantes. Ou seja, 75,77% de alunos
matriculados no Ensino Fundamental,
10,92% no Ensino Médio, 9,35% na pré-
escola, e os outros 3,95% na creche e EJA.
Toda a análise anterior é fundamental
para dar suporte ao foco deste trabalho. A
Física é matéria basal no aprendizado de
ciência e faz parte do ensino no mundo
“civilizado”. Em sequência, será
apresentado um diagnóstico dos alunos que
possuem o direito de aprender tal ciência
no Tocantins.
Segundo o currículo oficial vigente
no Estado, a Física é ministrada para três
grupos de estudantes: compõem a ementa
da disciplina de ciências, a partir do ano
do Ensino Fundamental e é disciplina
obrigatória e independente no Ensino
Médio regular e, também na modalidade
EJA-médio. Atualmente no Tocantins,
91.201 alunos estudam Física (22,33% da
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população estudantil), enquanto no campo
temos 7.859 discentes nesta situação.
Considerando que a Física é ministrada a
partir do ano, no meio urbano, 23,02%
dos estudantes têm aulas de Física. Na
zona rural, o quantitativo é de 16,98% dos
alunos, ou seja, 6,04% a menos que a
porcentagem das regiões urbanas. Estes
dados são resumidos na Tabela 01.
Tabela 01. Quantitativo de alunos com acesso aos conteúdos de Física, explicitando os totais estaduais, da zona
rural e da zona urbana. Os números e a taxa destes discentes distribuídos em diferentes níveis de escolaridade
também foram incluídos.
Abrangência
Total
9° ano
Médio
9°ano + Médio
TOTAL
408.322
24.429
66.772
91.201 (22,33%)
URBANA
362.057
21.593
61.749
83.342 (23,02%)
RURAL
46.275
2.836
5.023
7.859 (16,98%)
Fonte: Pesquisa dos autores (2017).
É interessante comparar a taxa de
matriculados que têm acesso ao ensino de
Física entre a população rural e urbana.
Para a população do campo, que
corresponde a 21,2% dos tocantinenses, a
taxa de alunos que estudam Física em
escolas rurais é de apenas 8,62% daqueles
regularmente matriculados nas séries nas
quais esta disciplina é ministrada. Isto é
latente para os estudantes do Ensino
Médio, pois a falta de escolas rurais para
este público impõe a interrupção dos
estudos ou a matrícula em escolas urbanas.
Infere-se daí que deficiência no
atendimento da população rural durante a
vida estudantil no que se refere ao ensino
de Física.
A Figura 07 apresenta o número de
alunos que têm contato com conteúdos de
Física, ou seja, aqueles regularmente
matriculados no ano do Ensino
Fundamental e no Ensino Médio, para cada
uma das regiões geográficas que compõem
o Estado.
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Figura 07: Número de alunos matriculados no 9° ano do ensino básico, no ensino médio e EJA médio para as
diferentes regiões geográficas do Estado.
Fonte: Pesquisa dos autores (2017).
No ano, aproximadamente, 200
estudantes na região Centro Oeste e pouco
mais de 700 no Bico do Papagaio (Figura
07). Variação drástica se observa no
quantitativo daqueles que têm Física como
disciplina específica (ensino médio): temos
apenas 30 estudantes no Norte e, este
número ultrapassa 1.900 no Bico do
Papagaio. Note-se ainda que não
estudantes pertencentes à modalidade EJA
no Nordeste, Centro Oeste e Sudoeste.
Ao todo, 7.859 alunos estão
matriculados em séries nas quais se
ministram aulas de Física (Tabela 01) e,
estão distribuídos em 80 cidades (Tabela
02) disseminadas em oito localidades do
Estado (Figura 01). A porcentagem total de
estudantes que atendem a esta condição e,
separados pelas diferentes regiões
geográficas pode ser vista no gráfico da
Figura 08.
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Figura 08. Percentual de alunos da zona rural e que estudam Física separados por regiões geográficas do
Tocantins.
Fonte: Pesquisa dos autores (2017).
O Bico do Papagaio concentra
34,79% dos alunos matriculados no ano
e Médio, seguido das regiões
Central/Jalapão, Sudoeste e Nordeste
(entre 11 e 20%). O Sul agrega 8,71% e, as
regiões Norte, Noroeste e Centro Oeste
somam pouco mais de 12% (ver dados da
Tabela 02).
Tabela 02. Quantitativo de estudantes da zona rural regularmente matriculados nas diferentes etapas da educação
formal no Estado do TO e que têm aulas de Física. O número de cidades de cada região também foi incluído
entre os dados.
Região
Cidades
Cidades com 9°
ano
Cidades com ensino
Médio e Eja Médio
Cidades onde alunos
estudam Física
Bico do Papagaio
25
17 (68%)
10 (40%)
17 (68%)
Norte
13
7 (53,84%)
2 (15,38%)
7 (53,84%)
Nordeste
10
8 (80%)
4 (40%)
8 (80%)
Noroeste
18
7 (38,89%)
4 (22,22%)
7 (38,89%)
Centro Oeste
19
8 (44,44%)
1 (5,26%)
8 (44,44%)
Central e Jalapão
22
16 (72,72%)
7 (31,82%)
16 (72,72%)
Sudeste
19
8 (42,1%)
6 (31,58%)
8 (42,1%)
Sul
13
8 (61,54%)
4 (30,77%)
9 (69,23%)
TOTAL
139
79 (56,83%)
38 (25,9%)
80 (57,55%)
Fonte: Pesquisa dos autores (2017).
Pode-se analisar como variam os
números discutidos anteriormente, mas em
função das cidades que compõem as
diferentes regiões (ver Figura 09). Dentre
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as 139 cidades do estado, 21,58% não
possuem qualquer atendimento escolar no
campo. Constata-se que no meio rural,
43,17% dos municípios não têm alunos no
ano do ensino básico e apenas 25,9%
das cidades atendem a população com
escolas secundárias rurais. Para o
quantitativo de cidades que atendem a esta
série, apenas 80 delas estão na zona rural.
Para nossa discussão, o ordenamento
decrescente da porcentagem de estudantes
de Física mostrado na Figura 09 é
esclarecedor e nos deparamos com
números surpreendentes.
Figura 09: Porcentagem de cidades que possuem alunos atendidos pela Física
Fonte: Pesquisa dos autores (2017).
Temos regiões onde este público é
atendido em 80% das cidades, como na
Região Nordeste. Mas, este percentual é de
apenas 38,89% no Noroeste do Tocantins.
O Bico do Papagaio, região que mais
possui alunos nesta situação (Figura 08),
aparece com estes estudantes concentrados
em 17 cidades (68%).
O que os resultados aqui discutidos
evidenciam, é que a falta de escolas
voltadas aos alunos do Ensino Médio no
meio rural é um tema a ser levado em
consideração, pois limita o direito humano
à educação, uma vez que não atende a
todos. Além disso, impõe aos estudantes
das regiões desprovidas de atendimento, o
deslocamento até as áreas urbanas, o que
certamente tem contribuição relevante para
a evasão escolar. Estas afirmações são
corroboradas pelos dados apresentados. A
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população rural do Estado conta com
34,04% do total das unidades de ensino,
atendendo 11,33% dos discentes
regularmente matriculados. A maioria
pertence ao ciclo básico (ver Figura 06) e
apenas 1,92% dos estudantes têm acesso ao
ensino de Física nas localidades que
vivem. Soma-se a este fato, a constatação
de que somente 57,55% das cidades do
Estado têm oferta do ensino de Física e, a
falta de distribuição heterogênea pelo
Estado (ver Figura 09), diante dos dados
expostos, apresenta uma situação
preocupante.
Conclusão
Apresentou-se uma discussão sobre o
acesso que a população da zona rural das
diferentes regiões do Estado do Tocantins
tem ao ensino de Física. Para isto, foram
utilizados dados de densidade demográfica,
o número de alunos regularmente
matriculados e o quantitativo de unidades
escolares distribuídos pelas cidades que
compõem cada região geográfica do
Estado e, os níveis de ensino e séries
ofertadas em cada região do Tocantins.
Fez-se coleta dos dados publicados por
órgãos públicos oficiais e o respectivo
tratamento dos mesmos, com ênfase em
obter o número de alunos que estudam
Física em escolas rurais.
Identificou-se que a densidade
demográfica do Tocantins é de 5,52
habitantes por Km
2
, sendo este número
cinco vezes maior que nas áreas rurais
(1,056 hab/Km
2
), enquanto o quantitativo
de escolas por habitante mantem-se
praticamente o mesmo (Urbano = 0,0012
escolas/habitantes Rural = 0,0019
escolas/habitantes). A região do Bico do
Papagaio era a que detinha o maior número
de unidades escolares rurais e, também a
maior quantidade de alunos matriculados.
A região Noroeste foi a menos favorecida
nestes quesitos. Todavia, quando se
comparou o quantitativo de alunos
distribuídos por instituições de ensino,
houve uma mudança de cenário e, o maior
número de alunos por escolas está na
Região Sul e o menor no Sudoeste, ou seja,
cada escola do Sudoeste do Tocantins
atende em média 50 alunos e no Sul passa
de 100 estudantes.
Ao compararmos a composição da
rede de ensino tocantinense (Rural), ficou
evidente que os municípios são os grandes
subsidiários do ensino (73,76% da rede),
seguidos pelo Estado (23,93%), a rede
particular e a União, com 2,48% e 0,35%
cada. Nas regiões Nordeste e
Central/Jalapão o número de escolas
municipais e estaduais são muito similares
(> 10 escolas). A rede privada está
presente com 13 escolas (Central/Jalapão)
e uma no Sul. Sobre tutela do governo
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Federal temos apenas 1 unidade no Bico do
Papagaio e outra no Sudoeste tocantinense.
Quanto à população escolar,
observou-se que o ensino básico rural
concentra a maior quantidade de alunos
(17.000). Ensino Médio e pré-escola
contam apenas com pouco mais de 5.000 e
4.500 estudantes, respectivamente.
Considerando valores percentuais, 75,77%
dos matriculados estão no ensino básico,
10,92% no médio e, 9,35% e 3,95% em
creches e EJA, respectivamente.
Levando em consideração que a
Física é ministrada a partir do ano da
educação básica, 16,98% dos alunos rurais
têm acesso ao ensino desta ciência no
campo, e a região do Bico do Papagaio
concentra 34,79% deste público,
acompanhada pela região Central/Jalapão,
Sudoeste e Nordeste (entre 20 e 11%). O
Sul agrega 8,71% e o Norte, Noroeste e o
Centro Oeste somam pouco mais de 12%.
Uma análise deste quesito nas diferentes
cidades evidenciou que dentre as 139
cidades do Estado do Tocantins, 21,58%
dos municípios não possuem qualquer
atendimento escolar no campo e pouco
mais da metade (57,55%) das cidades
dispõe de ensino de Física no meio rural.
Para se ter uma visão geral da
situação estadual, deve-se ter em mente
que 21,2% dos habitantes do Tocantins
moram no campo, e 34,04% das escolas do
estado estão na zona rural e são
responsáveis pelo atendimento de 11,33%
do total de alunos. Aqueles que possuem o
“privilégio” de estudar Física sem ter que
se deslocar para as cidades, formam apenas
1,92% de estudantes, abrangendo 57,55%
das cidades do Tocantins, destaque para
região Nordeste com 80% dos municípios.
A região do Bico do Papagaio é a
localidade tocantinense que se destaca em
vários quesitos levantados aqui.
Os dados indicaram que a oferta de
escolas à população rural é deficitária e por
isto o acesso ao ensino de Física é limitado
em relação à população urbana. Estas
conclusões são importantes e alertam para
a necessidade de implementar políticas
públicas mais eficientes e que priorizem o
ensino de uma ciência tão fundamental
para o desenvolvimento do humano. Uma
alternativa para sanar este problema seria a
expansão do número de escolas no campo
destinadas ao Ensino Médio, onde a Física
é estudada como uma disciplina
independente.
Fato é que o Estado do Tocantins é o
mais novo estado da federação, com
apenas 29 anos de criação, e conhecer as
diferentes realidades regionais pode ser
uma importante ferramenta que certamente
contribui para sanar os problemas
educacionais do meio rural. Além disso, a
análise dos dados subsidia e possibilita a
implantação eficiente das diretrizes
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estipuladas pela Conferência Nacional de
Educação CONAE (Brasil, 2010b).
Referências
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Orcid
Alexsandro Silvestre da Rocha
http://orcid.org/0000-0002-9469-6082
Regina Lélis de Sousa
http://orcid.org/0000-0002-7145-5147
Denisia Brito Soares
http://orcid.org/0000-0002-9223-5303
Nilo Maurício Sotomayor Choque
http://orcid.org/0000-0002-8952-1907
Liliana Yolanda Ancalla Dávila
http://orcid.org/0000-0002-4008-2050
Shirlei Nabarrete Dezidério
http://orcid.org/0000-0001-6074-4093
Conflitos de interesse: Os autores declararam não haver
nenhum conflito de interesse referente a este artigo.
Conflict of Interest: None reported.
Contribuições no artigo: Os autores foram responsáveis
pela elaboração, análise e interpretação dos dados;
escrita e revisão do conteúdo do manuscrito. Os autores
também foram responsáveis pela aprovação dessa versão
final publicada.
Author Contributions: The authors were responsible for
the designing, delineating, analyzing and interpreting the
data, production of the manuscript, critical revision of the
content and approval of the final version to be published.
Recebido em : 15/09/2017
Aprovado em: 15/12/2017
Publicado em: 07/05/2018
Received on September 15th, 2017
Accepted on December 15th, 2017
Published on May 7th 2018
Informações do artigo / Article Information
Érica Cupertino Gomes
http://orcid.org/0000-0001-5534-0887
Como citar este artigo / How to cite this article
APA
Rocha, A. S. et al. (2018). Ensino de Física para a
população rural do Tocantins: desafios e problemas a
serem superados. Rev. Bras. Educ. Camp., 3(2), 359-380.
DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-
4863.2018v3n2p359
ABNT
ROCHA, A. S. et al. Ensino de Física para a população
rural do Tocantins: desafios e problemas a serem
superados. Rev. Bras. Educ. Camp., Tocantinópolis, v. 3,
n. 2, mai./ago., p. 359-380, 2018. DOI:
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-4863.2018v3n2p359
Revista Brasileira de Educação do Campo
The Brazilian Scientific Journal of Rural Education
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Educação do Campo e Autonomia: desenvolvimento
comunitário e pedagogia de participação no Assentamento
do Movimento Sem Terra [MST], Luís Inácio Lula da
Silva (Lulão)
Altemar Felberg
1
, Geovani de Jesus Silva
2
1
Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias - ULHT. Faculdade de Ciências Sociais, Educação e Administração.
Campo Grande, 276, 1749-024. Lisboa. Portugal.
2
Universidade do Estado da Bahia - UNEB
Autor para correspondência/Author for correspondence: felberg_imt@hotmail.com
RESUMO. Este artigo busca apresentar o papel da Educação do
Campo no processo de formação de sujeitos autônomos, a partir
de estudo realizado em um assentamento do Movimento Sem
Terra no Sul da Bahia, que buscou compreender de que modo os
indicadores de desenvolvimento refletem o grau de autonomia
de seus moradores. A investigação foi realizada por meio da
pesquisa quali-quantitativa, tendo como instrumentos de coleta
de informação o questionário, entrevistas semiestruturadas e
grupos focais. Define-se aqui a autonomia como a capacidade
do indivíduo governar-se, conforme uma lei própria, de maneira
livre e racional, conduzindo-o à dignidade humana;
configurando-se como um poderoso recurso capaz de livrar os
indivíduos não da submissão a processos heterônomos que
interferem sobre suas liberdades de escolha e ação, mas também
dos quadros de vulnerabilidade social e econômica. Ter mais
autonomia e agir com maior liberdade de pensamento e ação
melhora o potencial das pessoas para cuidar de si mesmas e para
influenciar o mundo - questões centrais para o processo de
desenvolvimento. Para potencializar a autonomia, a educação
exerce um papel fundamental, no universo e na população
estudada, efetivando-se na práxis da vida cotidiana, no exercício
da cidadania e na participação social, consolidando-se como
prática de liberdade.
Palavras-chave: Educação do Campo, Autonomia,
Desenvolvimento Comunitário Rural.
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Felberg, A., & Silva, G. J. (2018). Educação do Campo e Autonomia: desenvolvimento comunitário e pedagogia de participação no
Assentamento do Movimento Sem Terra...
Rural Education and Autonomy: community development
and pedagogy of participation in the Settlement of the
Landless Movement [MST], Luís Inácio Lula da Silva
(Lulão)
ABSTRACT. This article seeks to present the role of Rural
Education in the process of training autonomous subjects, based
on a study carried out in a settlement of the Landless Movement
in the South of Bahia, which sought to understand how
development indicators reflect the degree Autonomy of its
residents. The research was carried out through the qualitative
research, with the questionnaire, semi-structured interviews and
focus groups as instruments of information collection. Here
autonomy is defined as the capacity of the individual to govern
himself, according to a law of his own, in a free and rational
way, leading him to human dignity; Setting itself up as a
powerful resource capable of freeing individuals not only from
submission to heteronymous processes that interfere with their
freedoms of choice and action, but also from the frameworks of
social and economic vulnerability. Having more autonomy and
acting with greater freedom of thought and action improves
people's potential to take care of themselves and to influence the
world - issues central to the development process. To empower
autonomy, education plays a fundamental role in the universe
and in the population studied, taking place in the praxis of
everyday life, in the exercise of citizenship and in social
participation, consolidating itself as a practice of freedom.
Keywords: Rural Education, Autonomy, Rural Community
Development.
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Felberg, A., & Silva, G. J. (2018). Educação do Campo e Autonomia: desenvolvimento comunitário e pedagogia de participação no
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Educación del Campo y Autonomía: desarrollo
comunitario y pedagogía de participación en el
Asentamiento del Movimiento Sin Tierra [MST], Luís
Inácio Lula da Silva (Lulão)
RESUMEN. Este artículo busca presentar el papel de la
Educación del Campo en el proceso de formación de sujetos
autónomos, a partir de un estudio realizado en un asentamiento
del Movimiento Sin Tierra en el Sur de Bahía, que buscó
comprender de qué modo los indicadores de desarrollo reflejan
el grado De autonomía de sus habitantes. La investigación se
realizó a través de la investigación cualitativa, teniendo como
instrumentos de recolección de información el cuestionario,
entrevistas semiestructuradas y grupos focales. Se define aquí la
autonomía como la capacidad del individuo de gobernarse,
conforme a una ley propia, de manera libre y racional,
conduciéndolo a la dignidad humana; Configurándose como un
poderoso recurso capaz de liberar a los individuos no sólo de la
sumisión a procesos heterónomos que interfieren en sus
libertades de elección y acción, sino también de los cuadros de
vulnerabilidad social y económica. Tener s autonomía y
actuar con mayor libertad de pensamiento y acción mejora el
potencial de las personas para cuidar de mismas y para influir
en el mundo - cuestiones centrales para el proceso de desarrollo.
Para potenciar la autonomía, la educación desempeña un papel
fundamental en el universo y en la población estudiada, que se
efectúa en la praxis de la vida cotidiana, en el ejercicio de la
ciudadanía y en la participación social, consolidándose como
práctica de libertad.
Palabras clave: Educación del Campo, Autonomía, Desarrollo
Comunitario Rural.
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Assentamento do Movimento Sem Terra...
Introdução
Buscamos, neste artigo, apresentar de
que modo os indicadores de
desenvolvimento comunitário rural do
Assentamento do Movimento Sem Terra
[MST], Luís Inácio Lula da Silva (Lulão),
integrante da Brigada Elias Gonçalves de
Meura, localizado no Extremo Sul da
Bahia, refletem o grau de autonomia de
seus moradores, homens e mulheres do
campo, destacando, nessa relação, o papel
da Educação do Campo no processo de
formação de sujeitos com maior
capacidade de reflexão crítica e ação, sobre
si mesmos e o mundo.
Para obter os resultados expressos
neste trabalho, adotamos a pesquisa quali-
quantitativa, como enfoque metodológico,
com a convergência das pesquisas
descritiva e exploratória, tendo como
instrumentos de coleta de informação, o
questionário, entrevistas e grupos focais,
aplicados a uma amostra de 30 pessoas,
respeitando-se a divisão paritária e os
critérios de gênero e geração, dentre os 57
associados/as originais do Assentamento.
Nessa jornada epistemológica, três
importantes conceitos foram mobilizados
para compreender a questão. Primeiro, a
autonomia, entendida como a capacidade
do indivíduo governar-se conforme uma lei
própria, de maneira livre e racional,
conduzindo-se à dignidade humana. Pode
ser compreendida como um poderoso
recurso capaz de livrar os indivíduos não
da submissão a processos heterônomos
que interferem sobre suas liberdades de
escolha e ação, mas também dos quadros
de vulnerabilidade socioeconômica,
devendo ser considerada como importante
medida na avaliação do desenvolvimento,
conforme os estudos de Kant (1974),
Adorno (1984), Castoriadis (1991), Freire
e Shor (1986), Chauí (1990), dentre outros.
Segundo, a Educação do Campo, que
conforme os estudos de Cury (2002),
Arroyo, Caldart e Molina (2004) e Caldart
(2009), surge como crítica à realidade do
sistema educacional no Brasil,
particularmente à situação educacional da
população brasileira que trabalha e vive
no/do campo, ao modelo de sistema
econômico capitalista e sua injusta
distribuição de renda, ao incentivo ao
agronegócio e à expropriação de terras
tradicionais, à elitização do acesso à
ciência, à tecnologia, à cultura e às suas
produções, enfim, críticas a não
universalização de direitos que garantem
uma maior cidadania. Terceiro, e último, o
desenvolvimento comunitário rural, que se
configura como um processo através do
qual a comunidade amadurece em relação
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a si mesma, reconhece suas fragilidades e
potenciais de desenvolvimento, rompe seus
casulos e se transforma em novas
possibilidades de ser (Silva & Arns, 2002).
Na visão de autores como Favareto (2006),
Veiga (2005; 2006), Sen (2008), Sachs
(2000), este tipo de desenvolvimento é
identificado por meio de indicadores que
ultrapassam o mero crescimento
econômico, levando em consideração a
avaliação de aspectos mais subjetivos,
como acesso a oportunidades sociais,
liberdades políticas e facilidades
econômicas.
Assim, discutimos e analisamos os
diversos aspectos que envolvem essas três
categorias, estabelecendo as inúmeras
possibilidades de relação entre elas, no
universo e sujeitos estudados, buscando
compreender o desenvolvimento e
exercício da autonomia, a partir dos
contributos da Educação do Campo, rumo
ao ‘desenvolvimento com autonomia’.
Autonomia: uma condição do sujeito de
“ser para si”
Em revisão literária, podemos
perceber que o conceito de autonomia
que etimologicamente vem do grego autós
(ele mesmo, por si mesmo) e nomos (lei,
convenção, regra), que significa o poder de
dar a si a própria lei fora construído
historicamente pelas diferentes
características culturais, econômicas e
políticas que configuraram as sociedades
ao longo de sua trajetória, tendo sido
refletido inicialmente pelos historiadores e
filósofos gregos e ganhado destaque e
notoriedade na modernidade com os
estudos de Kant (1974).
Posteriormente aos estudos
kantianos, diversos outros autores se
debruçaram sobre a temática, abordando a
autonomia numa perspectiva mais política
e sociológica, a partir de um entendimento
de que os conceitos de autonomia e
participação social possuem tênue relação.
Adorno (1984), Freire e Shor (1986),
Chauí (1990), Castoriadis (1991), Bobbio
(2000) e Sen (2008) são apenas alguns
destes autores, dentre muitos outros.
Para Castoriadis (1991), a autonomia
conduz diretamente ao problema político e
social da humanidade, posto que não se
pode desejá-la sem desejá-la a todos, e cuja
realização pode conceber-se plenamente
como empreitada coletiva. Esse
entendimento é também defendido por
Freire e Shor (1986) quando nos alertam de
que mesmo quando nos sentimos mais
livres, mais autônomos, se esta conquista
não for utilizada a favor da coletividade,
estaremos apenas exercitando uma
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autonomia individualista, no sentido do
empoderamento pessoal.
Nesta mesma linha, Chauí (1990) nos
diz que a autonomia é a posição do sujeito
sócio-histórico-cultural que, por sua
própria ação e vontade ética, é criador das
leis e regras da sua existência social e
política; o que na perspectiva freiriana tem
a ver com o ‘ser para si’, onde num
contexto histórico subdesenvolvido dos
oprimidos, a autonomia está intimamente
relacionada com a libertação. É justamente
sob esta perspectiva que se pretende firmar
este texto, reconhecendo a autonomia
como defende Pereira (2007), como um
recurso capaz de livrar os indivíduos não
da heteronomia de processos opressores
sobre as suas liberdades de escolha e de
ação, mas também da miséria e do
desamparo, da privação do exercício de um
dos direitos sociais mais sagrados: a
participação ativa e qualificada nos
processos de discussão, formulação e
usufruto efetivos das políticas de
desenvolvimento.
O conceito de autonomia advém do
sentido de participação política e social, a
qual é considerada como um das mais
importantes medidas na avaliação do
desenvolvimento “...a liberdade de
participação ou dissensão política ou as
oportunidades de receber educação básica,
são ou não são conducentes ao
desenvolvimento” (Sen, 2008, p. 19), ideia
corroborada também por Frey (2000), o
qual defende que autonomia apresenta-se
como dimensão a ser considerada, seja nos
indicadores, seja no ciclo das políticas
públicas.
Para os autores, ter mais autonomia e
agir com maior liberdade de pensamento e
ação, melhora o potencial das pessoas para
cuidar de si mesmas e para influenciar o
mundo questões centrais para o processo
de desenvolvimento. E como conquistar ou
potencializar essa autonomia? Aí entra o
papel da educação, seja formal ou
informal.
Na sua obra sobre pedagogia, Kant
(1996) fala sobre a importância de a ação
educativa seguir a experiência. A educação
não deve ser puramente mecânica e nem se
fundar no raciocínio puro, mas deve
apoiar-se em princípios e guiar-se pela
experiência. A partir da pedagogia
kantiana, podemos dizer que uma educação
que vise formar sujeitos autônomos deve
unir lições da experiência e os projetos da
razão.
Neste sentido, a temática da
autonomia, que ganhou centralidade nos
pensadores e na educação moderna,
especialmente em Freire e Shor (1986) que
a atribui um sentido sócio-político-
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pedagógico: autonomia é a condição sócio-
histórica de um povo ou pessoa que tenha
se libertado, se emancipado das opressões
que restringem ou anulam sua liberdade de
determinação. E conquistar a própria
autonomia implica, para Freire e Shor
(1986), em libertação das estruturas
opressoras uma das bandeiras defendidas
pelos educadores e educadoras da
Educação do Campo.
Não é preciso estar no dia a dia das
populações que vivem no/do campo para
notar o quadro de marginalidade e
exclusão em que se encontram, seja na
esfera nacional ou local, delineado a nosso
ver, principalmente, dentre outros fatores,
pela ineficácia das políticas públicas,
principalmente no que tange ao
oferecimento de uma educação de
qualidade e libertária da dependência e
alienação base primordial para a
conquista do poder, em suas várias
dimensões, capaz de promover e
transformar a sociedade. Um poder, no
sentido usado por Freire e Shor (1986),
como um aumento da conscientização e
desenvolvimento de uma “faculdade
crítica”; um poder de “fazer” e de “ser
capaz”, bem como de sentir-se com mais
capacidade para agir e desempenhar um
papel ativo nas iniciativas de
desenvolvimento.
Nesse contexto, perspectivas que
apontam que a restrição da autonomia dos
atores sociais do meio rural elidem as
possibilidades desses grupos menos
favorecidos em participar ativamente dos
processos de discussão, formulação e
usufruto efetivos de políticas de
desenvolvimento local. Por outro lado, a
autonomia construída a partir da expansão
das capacidades individuais e coletivas, de
refletir e decidir autonomamente sobre
aquilo que é significativo e de valor para si
e para seu grupo, pode ampliar as
possibilidades de exercício da cidadania,
de luta contra as pressões externas e de
desenvolvimento.
Sentido da autonomia para moradores
do Assentamento Lulão
O Assentamento Luiz Inácio Lula da
Silva (Lulão), antiga Fazenda Coroa
Cabrália, com área total aproximada de
650 hectares, está localizado no Município
de Santa Cruz Cabrália, Costa do
Descobrimento, Extremo Sul da Bahia, na
altura do Km 22, às margens da rodovia
BR 367, a 167m de altura, com latitude de
1638328135 e longitude de 39.38086867,
encontrando-se a 46 km de Porto Seguro
(BR 367), 03 km de Vera Cruz (BR 367) e
23 km de Eunápolis.
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Atualmente, possui 57 famílias
assentadas
i
e uma população estimada em
228 habitantes, que vivem sob um sistema
de moradia organizado em Agrovila,
possuindo, cada assentado, uma área de
produção individual de 5,00 hectares (3,4
de terra livre e 1,6 de reserva legal) e a
possibilidade de participação em atividades
coletivas de produção.
Inicialmente, era conhecido como
Projeto de Assentamento Coroa de
Cabrália, fruto de um processo de luta do
MST, que teve início em meados de 2002,
a partir da chegada à região, do militante
Francisco de Assis Souza, conhecido como
“Estrela”. Naquela época, o espaço onde
hoje é o Assentamento era uma área
improdutiva e desabitada, com uma grande
descrença em relação à conquista da terra,
como descreve um dos assentados
entrevistados:
Eu lembro. No início aqui era uma
fazenda, uma fazenda, é... cheia de
mato; eu morava aqui ao lado, na
cidade de Vera Cruz, aqui perto, o
pessoal acampou botando barraco de
lona e tudo, a minha mãe mesmo foi
uma delas...Aí eu falei assim: “Meu
Deus do céu, minha mãe, a senhora tá
doida, ficar nesse lugar aqui?” (++)
um deserto, não tinha ninguém, o
pessoal estava fazendo casa ...
dormindo debaixo das lonas, com
medo de sumir os material (Indaiá,
excerto extraído do Grupo Focal
02, realizado em maio de 2016, p. 1).
Mesmo encontrando dificuldades no
processo de articulação e mobilização de
famílias para inserção na luta pela terra na
região, “Estrela” surpreendeu, ao reunir
mais de 1.500 pessoas para a ação de
ocupação de terra em área próxima ao
entroncamento de Trancoso, em Porto
Seguro, às margens da BR 367. Pela
conjuntura política e dimensão da ação, o
acampamento recebeu o nome de Luís
Inácio Lula da Silva, apelidado depois de
“Lulão”.
As famílias que hoje se encontram
assentadas no Assentamento “Lulão”
participaram e são oriundas de inúmeros
acampamentos do MST, espalhados pela
região do Extremo Sul da Bahia, de acordo
com os relatos abaixo:
... aí um dia passa uma pessoa em
minha casa e falou: “Você não quer
participar, pegar essas famílias e
participar do MST?” Ia ter a
ocupação do Chico Mendes (++). Aí
eu falei: “Vou pensar”. Depois eu
falei não. Vou nada, não vou, porque
é muita bagunça, muita briga, e eu
não vou pegar essas famílias, né, e
levar pra isso, que a gente estava
tentando, naquela ilusão de que
conseguiria as coisas, tudo numa boa,
né? ... eu conheci o acampamento do
MST, e surgiu o interesse, também
pelo fato de entrar no acampamento,
ver a organização né, ver ali aquelas
famílias já produzindo né, então eu
resolvi ir para esse acampamento do
MST, em Guaratinga, que era
Itatiaia, e a gente começou a nossa
história no movimento ... (Areca,
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Felberg, A., & Silva, G. J. (2018). Educação do Campo e Autonomia: desenvolvimento comunitário e pedagogia de participação no
Assentamento do Movimento Sem Terra...
excerto extraído do Grupo Focal
01, realizado em maio de 2016, p. 1).
... eu fui pra em 1998, e
permaneci lá até 2003, na Rosinha do
Prado. Rosinha do Prado é tudo, até
hoje, em qualquer canto. Foi a minha
escola. Ali, conversei com eles, foi o
momento que eles colocaram que o
município de Porto tava montando
um acampamento, que estaria
surgindo um acampamento em
Eunápolis, se eu poderia ajudar. Eu
coloquei pra eles que eu iria pensar,
mas que realmente, pra mim, era uma
alegria que eu estava dentro da
organização, mas não fui logo, foi
assim que surgiu o Salgado. E aí, dali
do Salgado, em 2005, nós acabamos
vindo pra aqui. (Aricuri, excerto
extraído do Grupo Focal 01,
realizado em maio de 2016, p. 2-3).
Quando nós chegou aqui, já tinha
uma quantidade de pessoas né, já...
né, de outro local, que era do Lulão,
que a gente veio do Salgado, né,
perto de Eunápolis, próximo à
Eunápolis. Quando a gente veio pra
aqui, começou a conhecer, né, esses
outros barracos, né, fomos conviver
com as pessoas que a gente não
conhecia ainda. (Babaçu, excerto
extraído do Grupo Focal 02,
realizado em maio de 2016, p. 1).
Os três depoimentos demonstram
características peculiares dos sujeitos sem-
terra: primeiro, de serem forjados e
formados no movimento, na luta pela terra,
por direitos e por melhores condições de
vida; segundo, pelo aparente sentimento de
pertencimento a um grupo social; e
terceiro, pela solidariedade e coesão social
demonstrada nos processos de construção e
desenvolvimento dos acampamentos sem-
terra.
Em abril de 2004, a ocupação foi
estendida às terras de uma multinacional
de celulose, que ficavam ao lado do
acampamento “Lulão”, ação que forçou o
Governo Federal a negociar três áreas para
assentar as famílias: Fazenda Serro Azul,
situada no Município de Porto Seguro, hoje
Assentamento Milton Santos; Fazenda
Bela Vista Movelar, situada no Município
de Cabrália, hoje Assentamento Ojeferson
Santos; e a Fazenda Coroa de Cabrália,
situada no Município de Santa Cruz
Cabrália, hoje Assentamento Luís Inácio
Lula da Silva.
Fato histórico e de muito orgulho
para os sem-terra do Acampamento Lulão
ocorreu no dia 20 de janeiro de 2005,
quando o então Presidente da República,
Luis Inácio Lula da Silva, visitou o
acampamento e reafirmou a luta do seu
governo para a consolidação da Reforma
Agrária no país, comprometendo-se com as
famílias presentes a assentar todas elas
ainda naquele ano, e participar da entrega
oficial da emissão de posse das áreas.
Conforme o prometido, em 22 de
setembro de 2005 chegou a notícia, pelas
mãos de dirigentes do Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária [INCRA],
do Governo do Estado da Bahia e de
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Felberg, A., & Silva, G. J. (2018). Educação do Campo e Autonomia: desenvolvimento comunitário e pedagogia de participação no
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líderes do MST, que as terras reivindicadas
pelas famílias estavam liberadas para o
processo de Assentamento, o que foi
motivo de grande comemoração e alegria,
segundo relata Santos (2015).
Assim, imediatamente à confirmação
da tão esperada notícia, as famílias
seguiram para as três áreas recentemente
conquistadas, dando origem aos
Assentamentos Milton Santos, Ojeferson
Santos e Luís Inácio Lula da Silva. Esse
acontecimento é narrado por Macaúba:
... depois foi quando saiu pra cada
um o pedaço de terra, cada um foi
mudando pros seus lugares, só que
ainda não era o local certo, minha
mãe ficou logo em uma terrinha aqui
próxima, e nós ia pra lá, e todo
mundo ficou mudando. Uns ficou
aqui, outros foram mudando pras
terrinhas, depois que teve o local
certo, que dividiu os lotes e cada um
foi pros seus lotes, cada um foi se
virar e fazer o seu. (Macaúba, excerto
extraído do Grupo Focal 02,
realizado em maio de 2016, p. 1).
Depois de devidamente assentadas,
com moradias em regime de Agrovilas,
lotes individuais e áreas coletivas de
produção, o então Presidente Luís Inácio
Lula da Silva reúne-se, no dia 27 de
setembro de 2005, com todas as famílias,
para entregar oficialmente a imissão de
posse das áreas. O presidente abre seu
discurso, dizendo:
Eu queria chamar aqui o seu
Tertuliano, se ele pode ficar aqui do
lado, porque eu acho que a nossa
querida Anita Maria de Jesus e o
nosso querido Tertuliano Dias
Nascimento, ela com 64 anos de
idade, e ele com 82 anos de idade,
são a mais viva demonstração... E eu
vou repetir uma coisa que eu dizia
em 89, em 94, em 98, e não posso
mudar o meu discurso porque eu
virei Presidente da República. Eu
sempre achei que a grande coisa, ou
uma das grandes coisas que o
Movimento Sem-Terra faz, pelo
Brasil, é que o Movimento Sem-
Terra é capaz de tirar pessoas que
estão quase virando párias da
sociedade, espalhadas por esse
mundo, sem esperança, e transformá-
las em guerreiros e guerreiras, como
ele fez com a Dona Anita ou com o
senhor Tertuliano: dar esperança,
perspectiva, mostrar um horizonte
para as pessoas, o que acontecerá
com muita perseverança e com muita
luta (Brasil, 2005, p. 1-2).
Em seu discurso, o presidente fala
da árdua luta dos trabalhadores e
trabalhadoras rurais sem-terra, e reconhece
a importante contribuição do MST para a
construção de um país mais justo, fraterno
e humano, com igualdade de oportunidades
a todo brasileiro.
Considerando o potencial de
desenvolvimento da terra conquistada, a
aprendizagem social oportunizada por
meio da participação no MST e a luta e
esforço dos sem-terra no Assentamento
“Lulão”, dez (10) anos depois da sua
criação, é que tratamos de compreender de
que modo os indicadores de
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Felberg, A., & Silva, G. J. (2018). Educação do Campo e Autonomia: desenvolvimento comunitário e pedagogia de participação no
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desenvolvimento comunitário rural desse
assentamento refletem o grau de autonomia
de seus moradores e qual o papel da
educação no processo de formação de
sujeitos autônomos.
A partir do entendimento de que a
autonomia pode ser definida como a
capacidade de conceber e fazer suas
próprias escolhas, tratando-se de uma
condição a ser conquistada
individualmente pela independência da
vontade e pela liberdade de ação,
apresentamos, a seguir, o sentido dessa
autonomia para os homens e as mulheres
trabalhadores/as rurais sem-terra, sujeitos
da pesquisa realizada no Assentamento
“Lulão”.
No universo pesquisado percebe-se
que a autonomia individual das mulheres
traduzida na capacidade destas, de
conceber e fazer suas próprias escolhas é
bastante significativa, registrando-se uma
alta porcentagem, entre 86,67% e 100%,
que demonstram decidir autonomamente
sobre questões do âmbito da vida privada,
considerando-se o representado nas
questões que tratam da liberdade e poder
de decisão de ir e vir, de levar a vida
conforme seus próprios preceitos, de
realizar trabalhos domésticos por vontade
própria, de como se vestir, de visitar
amigos quando sente vontade, de como
utilizar o tempo livre e de relaxar quando
sente vontade. Todavia, se analisarmos as
questões que se relacionam à vida coletiva,
notaremos que esta capacidade de pensar e
agir autonomamente sofre interferência,
especialmente no que se refere à
externalização de ideias, opiniões e
emoções.
Vale destacar que 53,33% descartam
a possibilidade de respeitarem ou seguirem
somente as regras que julgam necessárias,
o que confirma a tese defendida por Morin
(2002), quando este afirma que a
autonomia não se trata de uma liberdade
total e plena, livre de qualquer dependência
e influência externa, mas uma autonomia
que depende de seu meio ambiente; o que é
visivelmente representado no seguinte
relato de uma das assentadas:
... aqui tem uma regra, mas você
escolhe, você é livre, ninguém vai
impedir o que você vai fazer, que
você tem que respeitar as normas
do movimento, e eu creio assim: se
você quer fazer algo, não querer
respeitar as normas daquele
assentamento, se acontecer algo com
você ou alguma coisa, a direção não
tem nada a ver, porque você que
escolheu a sua escolha, então você
tem livre arbítrio pra fazer o que você
quiser, que tem que fazer o certo
pra você poder ter o reconhecimento
aqui dentro e poder desfrutar do que
tem aqui no assentamento, porque
tem muita coisa boa, agora basta
você querer (Macaúba, excerto
extraído do Grupo Focal 02,
realizado em maio de 2016).
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O fato de o sujeito decidir abdicar de
sua autonomia individual, a favor do bem-
estar coletivo, não significa que o mesmo
perdeu sua capacidade intelectual de
conceber e fazer suas próprias escolhas,
como bem explica Morin (2002), pois a
pessoa dotada de liberdade, sem
intervenção alheia, torna-se autônoma à
medida que utiliza a liberdade com maior
clareza e consciência em suas atitudes na
sociedade, de acordo Kant (1974), uma vez
que, no estado civil, o homem adquire uma
liberdade moral, que ele passa a
obedecer a uma lei que ele instituiu a si
próprio, em vez de seguir o impulso,
conforme Rousseau (1978).
Fazendo uma análise comparativa
entre a autonomia para as mulheres e a
autonomia para os homens, podemos
inferir que a autonomia individual dos
homens é bastante similar à das mulheres,
com registro de alta porcentagem de
autonomia (entre 86,67% e 100%) para as
questões relacionadas à vida privada,
explicitadas na análise anterior, com
exceção aqui para a questão relacionada à
liberdade de ir e vir, onde 33,33% dos
homens disseram nunca sair sem
autorização, e a questão relacionada à
decisão de como gastar/investir a renda
familiar, onde 26,67% afirmaram sentir a
necessidade de dividir a decisão com a
companheira, o que pode aqui ser
justificado pelo fato de serem casados e
culturalmente compartilharem as decisões
da vida cotidiana com as mulheres, que no
universo e população estudados, tem
grande poder de decisão, conforme relatos
abaixo:
A minha história veio através da
minha esposa, eu não gostava do
movimento, eu tinha uma imagem
que o movimento era (++) não era
boa a imagem do movimento. Minha
esposa, ela tem alguns parentes na
liderança do movimento há vinte e
cinco (25), trinta (30) anos... eu
comecei a namorar com ela e ela me
convidava pra eu visitar, e eu falava:
“eu não, você vai só, eu não vou não”
(Buriti, excerto extraído do Grupo
Focal nº 01, realizado em maio de
2016, p. 1).
No relato acima é retratada a
influência da mulher nas decisões da vida
privada, mas, sobretudo, seu papel nos
processos de mobilização social e
representação do MST, conquistando sua
autonomia a partir de uma atuação efetiva
no movimento.
no que diz respeito às demais
questões que se relacionam à vida coletiva,
à capacidade de pensar e agir conforme sua
própria razão e vontade, percebe-se uma
interferência, especialmente no que se
refere à externalização de ideias, opiniões e
emoções. 53,33% descartam a
possibilidade de respeitarem ou seguirem
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somente as regras que julgam necessárias,
comportamento já, outrora, explicado por
Rousseau (1978), Kant (1974) e Morin
(2002), que existe um consenso de que a
vontade individual cede lugar à vontade
coletiva.
Por fim, a pesquisa também revela
que uma das estratégias para o
desenvolvimento e sua avaliação é a
importância e valorização da participação e
da autonomia dos indivíduos,
transformando-os em sujeitos de ação, o
que pode ser entendido como a busca de
um maior grau de conscientização e
interferência no processo de dinamização
socioeconômica e cultural da localidade,
através da ação coletiva e organizada.
Educação do/no Campo: construção de
uma pedagogia do movimento
Essa história é muito bem contada
pelos estudiosos e militantes da área,
Miguel Arroyo, Roseli Caldart e Mônica
Molina (2004), dando voz e repercutindo o
desejo de um grupo que brada um pedido
de respeito a uma população
historicamente marginalizada; um
manifesto por uma educação não periférica
à das cidades, que considere a
singularidade do modo de vida do homem
e mulher do campo; que considere sua
história, valores, cultura e identidade e;
que desmistifique o campo como lugar
atrasado, obsoleto e fadado à extinção.
Essa retrospectiva começa com a luta
dos movimentos sociais e dos educadores e
educadoras do campo pelo direito à
educação, assim como à reforma agrária.
Direito esse que foi negado e usurpado à
população brasileira do campo décadas,
com raízes que remontam o processo de
colonização da nação brasileira, como
salienta Batista (2011, p. 54-55):
As lutas no campo brasileiro têm
início com o processo de invasão e
colonização portuguesa. Os
movimentos se originam dos
conflitos em torno da luta por terra,
mas também se rebelam contra as
relações sociais de produção
marcadas pela exploração, pela
dominação e degradação da pessoa
humana, como a escravidão, contra a
negação da cidadania, pelos direitos
sociais e trabalhistas, pelo
reconhecimento das diferentes
culturas. Essas múltiplas demandas
envolveram diferentes sujeitos,
índios, negros, caboclos, agricultores,
escravos, ferreiros, barqueiros. O que
denota que a resistência dos povos
oprimidos e despossuídos esteve
presente ao longo da história
brasileira, nos períodos colonial,
monárquico e republicano e é um dos
elementos da identidade política do
povo.
Nos séculos seguintes à colonização,
até meados do início do século XIX, ainda
segundo a autora, é fato que diversas
mudanças socioeconômicas e culturais
ocorreram sobretudo por força dos
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processos de resistências sem, contudo,
provocarem transformações sociais
efetivas e duradouras, especialmente no
campo da educação, prevalecendo o
método pedagógico jesuítico do período
colonial, que se estendeu de 1549 a 1759,
ressoando nas décadas seguintes até a
independência. Com essa ruptura, daí em
diante, algumas iniciativas relativas à
educação foram efetivadas, contudo,
apesar dos avanços na área, ainda não se
tinha um sistema educacional de âmbito
nacional, o que se concretizou no século
XX.
Em relação à Educação do Campo,
os militantes e profissionais “por uma
educação diferenciada do campo”
declaram que apesar dos movimentos
docente e pedagógico progressista do
Brasil buscarem o reconhecimento da
educação como um direito humano desde a
década de 80, as conquistas alcançadas
pelo movimento não geraram os frutos
esperados no campo. Argumentam que o
direito à educação então conquistado pelo
movimento progressista “ficou vinculado a
uma concepção abstrata de cidadania, não
traduzindo a concretude humana e social
em que os direitos se tornam realidade”
(Arroyo, Caldart & Molina, 2004, p. 10).
Tal concepção reafirmava o discurso
elitista da época, ao considerar cidadãos
somente os habitantes da cidade.
Diante desse contexto, fica clara,
então, na percepção aguçada dos autores
citados, em especial na releitura do assunto
por Roseli Caldart (2009), que a Educação
do Campo nasceu, essencialmente, como
crítica à realidade do sistema educacional
no Brasil, particularmente à situação
educacional da população brasileira que
trabalha e vive no/do campo. Uma crítica
não apenas à educação, mas ao modelo de
sistema econômico capitalista e sua injusta
distribuição de renda; ao incentivo ao
agronegócio e a expropriação de terras
tradicionais; à elitização do acesso à
ciência, à tecnologia, à cultura e às suas
produções; enfim, críticas a não
universalização de direitos que garantem a
plena cidadania.
Dessa forma, a crítica, ainda na visão
da autora, não foi voltada exclusivamente à
educação escolar em si, mas como essa
educação estava desalinhada à realidade
educacional do país, que não considerava a
especificidade dos processos sociais,
políticos e culturais pujantes do campo,
processos estes que extrapolavam
sobremaneira as discussões para além de
uma educação linear, cartesiana e
formadora de indivíduos na ótica do
capitalismo; e ainda, como essa educação
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desconsiderava a totalidade do sujeito, sua
natureza e condição de agente sócio-
histórico-cultural, ou seja, “precisamos
considerar na análise que uma
perspectiva de totalidade na constituição
originária da Educação do Campo”
(Caldart, 2009, p. 38). Vale destacar que a
crítica não se deu no campo da
epistemologia da educação (ainda que isso
ocorresse naturamente por consequência
do processo), pelo contrário, foi
fundamentada numa “crítica prática”,
forjada no calor das reivindicações dos
movimentos sociais, que lutavam pelo
direito à educação a partir da “realidade da
luta pela terra, pelo trabalho, pela
igualdade social, por condições de uma
vida digna de seres humanos no lugar em
que ela aconteça” (Caldart, 2009, p. 39).
Tratou-se, então, de
uma crítica prática que se fez teórica
ou se constituiu também como
confronto de ideias, de concepções,
quando pelo ‘batismo’ (nome)
assumiu o contraponto: Educação do
Campo não é Educação rural, com
todas as implicações e
desdobramentos disso em relação a
paradigmas que não dizem respeito e
nem se definem somente no âmbito
da educação. (Caldart, 2009, p. 40).
Retornando à sua origem, sabida e
reconhecidamente, os grandes
protagonistas do processo de criação da
Educação do Campo e seu
aperfeiçoamento foram os “movimentos
sociais camponeses em estado de luta”
(Caldart, 2009, p. 40), com destaque aos
movimentos sociais de luta pela reforma
agrária, particularmente ao MST.
No decorrer da luta, outros
movimentos sociais em defesa do povo
campesino foram surgindo e aderindo à
causa por uma Educação do Campo,
consolidando-a como hoje a conhecemos:
o Movimento dos Atingidos por Barragens
[MAB], o Movimento das Mulheres
Camponesas [MMC], o Movimento dos
Pequenos Agricultores [MPA], a Pastoral
da Juventude Rural [PJR], a Comissão
Pastoral da Terra [CPT] e a Federação dos
Estudantes de Agronomia [FEAB].
Somaram-se às iniciativas o movimento
sindical do campo, especialmente àqueles
vinculados à Confederação Nacional dos
Trabalhadores na Agricultura [CONTAG]
e à Federação dos Trabalhadores na
Agricultura Familiar [FETRAF]. Assim,
o vínculo de origem da Educação do
Campo é com os trabalhadores
‘pobres do campo’, trabalhadores
sem-terra, sem trabalho, mas
primeiro com aqueles dispostos a
reagir, a lutar, a se organizar contra
‘o estado da coisa’, para aos poucos
buscar ampliar o olhar para o
conjunto dos trabalhadores do
campo. (Caldart, 2009, p. 41).
Para a autora, talvez seja essa a
marca histórica mais incômoda e
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fascinante da Educação do Campo no
contexto sócio-histórico-político-
econômico e cultural do país: o
protagonismo e a autonomia dos sujeitos
que vivem do/no campo. Hoje, por todo
país,
milhares de educadoras e educadoras
se mobilizam, se reúnem, debatem,
estudam e refazem concepções e
práticas educativas em escolas de
comunidade camponesas, em escolas-
família agrícola, em escolas dos
reassentamentos do Movimento dos
Atingidos pelas Barragens, em
escolas de assentamentos e de
acampamentos do Movimento dos
Sem Terra, ou em escolas de
comunidades indígenas e
quilombolas. (Arroyo, Caldart &
Molina, 2004, p. 09).
Assim, diante o exposto, fica
evidente que a Educação do Campo surgiu
em um determinado momento e contexto
histórico brasileiro que não pode ser
compreendida e analisada em si mesma,
segundo afirma Caldart (2009), tomando
unicamente por base os “parâmetros
teóricos da pedagogia”. Ela extrapola o
campo da ciência da educação e provoca
reflexões em várias outras áreas, como a
política, a sociologia e a economia;
gerando discussões no intuito de romper
velhos paradigmas e propor novos
caminhos para um desenvolvimento mais
ético, justo e igualitário.
Educação como prática da liberdade:
contributos da Educação do Campo
para construção da autonomia de
homens e mulheres do campo
Exposto em que contexto a Educação
do Campo surgiu e se desenvolveu (a
Educação do Campo como crítica ao
sistema e como resultado da luta de
classes, protagonizada pelos atores sociais
que reivindicavam a educação como um
direito), partamos agora para outra frente
de compreensão do fenômeno, a Educação
do Campo como práxis pedagógica, como
princípio e fundamento da luta e das
conquistas dos trabalhadores e
trabalhadoras.
Preliminarmente à apresentação
dessa outra frente de entendimento da
Educação do Campo enquanto fenômeno
não apenas educativo, mas social, cabe
aqui destacar a realização e os resultados
das discussões e consensos da I
Conferência Nacional “Por uma Educação
Básica do Campo”, realizada em Luziânia,
Goiás, entre 27 a 31 de julho de 1998,
evento que é considerado o “batismo
coletivo” de toda uma luta pelo direito à
educação, na qual, foram discutidas e
analisadas várias demandas, dentre elas: a)
o tipo de educação que estava sendo
ofertada no campo era contrária à proposta
de educação proposta pelo movimento,
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uma educação mais ampla, voltada à
formação humana do sujeito; b) revisão do
que se entende por educação básica e
escolarização, resultando na formulação de
uma proposta de escola do campo, que
considere experiências exitosas e
significativas de educação não formal e de
caráter popular; c) a substituição do termo
“meio rural” por “campo”, a fim de trazer
ao termo a essência do conceito de
camponês, que representa a diversidade de
sujeitos que vivem do/no campo e; d) a
construção de pilares metodológicos para
uma educação básica do campo, que
representasse seu caráter diferenciado,
assumindo a identidade do meio rural e
voltada a um projeto nacional de
desenvolvimento do campo brasileiro.
Não podemos perder de vista a
riqueza das experiências e aprendizagens
adquiridas por Miguel Arroyo (2004)
quando da sua participação no Encontro
de Educadores dos Assentamentos de Belo
Horizonte, em 1994, e na Conferência
Nacional “Por uma Educação Básica do
Campo”, em 1998, o que ele chama de
pedagogia dos gestos, pedagogia do fazer,
expressando as muitas formas de expressão
e linguagens utilizadas pelos educadores e
membros dos movimentos sociais do
campo, que a todo o momento, formam e
educam para a cidadania, uma nova
concepção de escola. A grande reflexão e
contribuição trazida pelos documentos
resultantes desses encontros é o
‘movimento social como princípio
educativo’ e como ferramenta de luta por
direitos. Para o Miguel Arroyo (2004) “o
movimento social no campo representa
uma nova consciência do direito a terra, ao
trabalho, à justiça, à igualdade, ao
conhecimento, à cultura, à saúde e à
educação” (p. 73).
No início dos anos 2000, Roseli
Caldart escreveu o documento intitulado
“A Escola do Campo em Movimento”, o
qual retrata a experiência particular das
escolas do MST e sua proposta pedagógica
de formação para a autonomia, a partir da
dinâmica das lutas pela implementação de
um projeto de desenvolvimento do campo.
O texto carrega em si três importantes
argumentos e pontos de reflexão: o
primeiro, de que o campo no Brasil
encontra-se em constante movimento e
processo de mudança social; o segundo, de
que a Educação do Campo está sendo
construída na dinâmica social desse
processo desenvolvimentista, sendo
retroalimentada a todo instante pelos atores
sociais que dela participam e; terceiro, de
que é dinâmico o processo de humanização
no campo a partir da educação e da
assunção dos sujeitos enquanto sujeitos
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sócio-histórico-culturais, agentes de
transformação, protagonistas de suas
próprias histórias de desenvolvimento,
pessoal e social.
Em seguida, Bernardo Fernandes
redige as “Diretrizes de uma Caminhada”,
documento que se configura como uma
grande conquista do Movimento “Por uma
Educação do Campo” iniciado em 1998,
trazendo uma análise dos significados da
aprovação, pelo Conselho Nacional de
Educação, das Diretrizes Operacionais para
a Educação Básica nas Escolas do Campo.
O texto faz menção a uma caminhada que
se iniciou em 1997 quando da realização
do Encontro Nacional de Educadores e
Educadoras da Reforma Agrária [ENERA]
evento em que se começava a
materializar as ideias progressistas que
mais adiante resultou na criação do Setor
de Educação na estrutura organizacional do
MST, que, mesmo tendo todo o sistema
educacional contra, alimentava o
desiderato de uma “nova escola”. Em
síntese, a aprovação das referidas diretrizes
representa a conquista da cidadania no
meio rural por meio da luta e a luta
traduzida em lei, resgatando o campo como
lugar de desenvolvimento, como “... lugar
de vida, onde as pessoas podem morar,
trabalhar, estudar com dignidade de quem
tem o seu lugar, a sua identidade cultural”
(Arroyo, Caldart & Molina, 2004, p. 137).
E por último, o texto que finaliza a
retrospectiva histórica do Movimento “Por
uma Educação do Campo” é chamado de
Por Uma Educação do Campo: traços de
uma identidade em construção, escrito por
Roseli Caldart a partir de sua exposição no
Seminário Nacional Por uma Educação do
Campo, realizado em Brasília no período
de 26 a 29 de novembro de 2002. E como o
próprio título sugere, propõe reflexões
sobre a identidade dos protagonistas do
movimento e daqueles que pretendem
disseminar seu ideário.
Em resumo, o texto destaca que
na sua origem, o ‘do’ da Educação do
Campo tem a ver com esse
protagonismo: não é ‘para’ e nem
mesmo ‘com’: é dos trabalhadores,
Educação do Campo, dos
camponeses, pedagogia do
oprimido... Um ‘do’ que não é dado,
mas que precisa ser construído pelo
processo de formação dos sujeitos
coletivos, sujeitos que lutam para
tomar parte da dinâmica social, para
se constituir como sujeitos políticos,
capazes de influir na agenda política
da sociedade. (Caldart, 2009, p. 41).
Partindo do pressuposto, foi
justamente por melhores condições e
qualidade de vida nos acampamentos e
assentamentos do MST que a luta pelo
direito à educação se juntou à luta pela
terra, no começo sem muita relação.
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Todavia, desde o princípio da luta social,
os trabalhadores(as) do campo
carregavam em si a certeza de que uma
transformação mais profunda se daria por
meio da educação, conforme sublinha
Caldart (2000), mas a instauração e
consolidação de um modelo educativo
dinâmico, que esteja voltado à formação
para a autonomia, para a plenitude, para a
formação de sujeitos qualificados à
construção de novos paradigmas de
educação e desenvolvimento, com
mudanças educativas e sociais efetivas e
duradouras, que inclua e considere o
homem e a mulher do campo e suas
utopias.
Passados dez anos da inauguração do
Assentamento “Lulão”, localizado no Sul
da Bahia, procuramos desenvolver uma
pesquisa no intuito de investigar e
compreender de que modo os indicadores
de desenvolvimento refletem o grau de
autonomia de seus moradores, e qual o
papel da educação no processo de
formação de sujeitos autônomos.
A pesquisa revela que, em relação ao
acesso a educação formal no assentamento,
majoritariamente, mulheres (100%) e
homens (93,33%) pesquisados/as afirmam
terem este direito garantido, com igualdade
de oportunidade a todos que desejam
estudar, bem como respeitando as
especificidades dos homens e mulheres do
campo.
em questões relacionadas aos
processos de luta social como estratégias
de formação do sujeito, 100% das
mulheres e 80% dos homens pesquisados
atestam que a luta pela terra, pelo trabalho
e por condições de uma vida digna tem
relação com a sua educação e a dos seus
filhos. Também, 93,33% das mulheres e
80% dos sujeitos pesquisados reconhecem
que a participação do movimento tem
influência positiva no modo como eles e
seus filhos aprendem e vivem dentro e fora
do Assentamento, comprovando que
uma pedagogia dentro e fora da escola,
circunscrita na luta, no movimento.
Tanto nos dados quantitativos
trazidos na pesquisa, quanto nos
qualitativos representados nas falas dos
sujeitos, evidencia-se a importância
atribuída à educação para o
desenvolvimento sócio-econômico-cultural
e ambiental do assentamento, dando
grande destaque ao MST como promotor
da expansão das liberdades e capacidades
do indivíduo, formando-o para o exercício
da cidadania. Os resultados reforçam as
palavras de Cury (2002, p. 260), quando
declara que
o acesso à educação é também um
meio de abertura que dá ao indivíduo
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uma chave de autoconstrução e de se
reconhecer como capaz de opções. O
direito à educação, nesta medida, é
uma oportunidade de crescimento
cidadão, um caminho de opções
diferenciadas e uma chave de
crescente estima de si.
Nesta percepção de formação para
autonomia, Caldart (2009, p. 5) também
destaca que “Os Sem Terra se educam,
quer dizer, se humanizam e se formam
como sujeitos sociais no próprio
movimento da luta que diretamente
desencadeiam”. A afirmação da autora
corrobora a narrativa de Areca, quando
define a educação como instrumento que
potencializa a luta, e o conhecimento como
um bem inviolável de homens e mulheres.
A educação é a base de tudo né,
então assim se você não tem
educação ... não consegue até mesmo
lutar né, porque se você não tiver
educação, você não tem a capacidade
de ir pra luta né, então, o
conhecimento né, esse conhecimento
vem através da educação... não ter
dinheiro é uma coisa, agora você
enquanto pessoa, você tem os seus
direitos né, você tem o direito a
estudar, é através do estudo que você
vai ter uma vida mais digna né,
porque o conhecimento é algo que
ninguém tira de você, não é? então é
isso que você leva pra sua vida, e o
Movimento Sem Terra esclarece
muito bem isso, é dizer: oh, você tem
direitos né, você é dono do seu
próprio destino, não é os outros que
vai fazer o seu destino, e sim você
mesmo (Areca, excerto extraído do
Grupo Focal 01, realizado em
maio de 2016).
Areca também nos chama atenção ao
papel do MST frente à construção da
autonomia dos sujeitos, especialmente ao
declarar que, cada um é dono do seu
próprio destino, contudo, apreendendo o
que tem de direito e lutando por ele. Desse
modo, como destaca Freire (1983, p. 32), a
autonomia é uma conquista, e implica em
libertação das estruturas opressoras. “A
libertação a que não chegarão pelo acaso,
mas pela práxis de sua busca; pelo
conhecimento e reconhecimento da
necessidade de lutar por ela”.
Outro relato que merece destaque,
dentre outras, é o de Aricuri, relembrando
umas das místicas do movimento, “o
assentamento é a nossa escola e o MST é o
nosso principal educador”, vê-se nessa
frase que educar não é somente o papel da
instituição escolar, mas o território, o
movimento, a casa, a terra, que vão se
configurando numa grande escola, e vão
tecendo currículos que não estão
preocupados apenas com o seguimento
escolar, mas com a vida, o trabalho e a
luta, dentre outros elementos. Ainda em
relação à frase supracitada, Aricuri diz que
ela acaba ajudando a todos nessa
parte da educação, porque em
primeiro lugar, primeiramente em
tudo, pra gente buscar tudo, a gente
precisa ter a educação, não é a
educação que ocorre em quatro
paredes, que é uma escola ali que vai
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formar, e sim aquela educação que
está presente no buscar, no agir, é
aquela educação diferenciada que
você precisa compreender que não é
só em quatro paredes que você vai
obter essa educação, é nessa conversa
que a gente ta tendo aqui, que a gente
vai direcionar, que a gente vai buscar
esse passo a passo, não precisa a
gente está nessa visão da escola de
quatro paredes, mas debaixo de um
de árvore, em uma palestra que a
gente tem ali... na busca pela
educação, o movimento ele se
preocupa muito, em primeira
instância ele se preocupa em montar
num acampamento, o segundo
objetivo dele é a escola, ali junto com
a saúde ... ele procura buscar cada dia
mais cursos: às vezes a gente vai está
em uma reunião, em uma assembleia,
por exemplo, ali nós achamos que
é uma discussão que está no
assentamento, muitos não conseguem
compreender que aquela assembleia
sendo uma escola, porque aquela
assembleia ali, ela direcionando,
então isso que é interessante, que a
cada dia me passa a cativar mais pelo
movimento, porque você sem
perceber acaba, a cada instante,
aprendendo, como diz, somos eternos
aprendizes né, a cada momento a
gente ali buscando ... (Aricuri,
excerto extraído do Grupo Focal nº4,
realizado em maio de 2015).
Evidencia-se neste discurso a
relevância da educação não formal dentro
do MST, uma educação para além dos
muros da escola; uma educação que se
na práxis da vida cotidiana, no exercício da
cidadania e na participação social; uma
educação que se oportuniza na luta por
direitos, no enfrentamento às estruturas de
poder e opressão; o que Kant (1996, p. 30)
bem defende quando diz que a educação
não deve ser puramente mecânica e nem se
fundar no raciocínio puro, mas deve
apoiar-se em princípios e guiar-se pela
experiência, por aquilo que nos toca, como
bem traduz Aricuri: uma aprendizagem
infinita com os pares, nas reuniões, nas
assembleias, nas conversas, nas ocupações,
nos conflitos, na luta.
Formar para a autonomia, tornar
consciente e reflexivo este processo de
aprendizagem que se na trajetória de
luta, é, para Caldart (2009), um dos
grandes desafios pedagógicos do MST e
uma das principais razões de se valorizar
cada vez as estratégias e práticas
pedagógicas desencadeadas no interior dos
assentamentos e acampamentos do
movimento.
Neste sentido, somente nos
assumindo como seres sócio-histórico-
culturais, como recomenda Freire (2007),
nos reconhecendo como sujeitos de ação e
ressignificação na/da história, poderemos
avançar nesta expansão de capacidades e
liberdades fundamentais, neste estado de
consciência crítica e reflexão a que
chamamos de autonomia. Sem isto,
conforme Caldart (2009, p. 6), “os novos
sujeitos sociais não conseguirão se tornar
sujeitos políticos, capazes de efetivamente
fazer diferença no desenrolar da luta de
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classes, e na reconstrução de nosso projeto
de humanidade”.
Na visão da autora, os sem-terra se
educam, se formam, se libertam e, enfim,
se humanizam como sujeitos sociais na
medida em que participam do próprio
movimento da luta pela terra e por direitos,
ou seja, como já dizia Freire “a libertação a
que não chegarão pelo acaso, mas pela
práxis de sua busca; pelo conhecimento e
reconhecimento da necessidade de lutar
por ela”. (Freire, 1983, p.32).
Os relatos dos sujeitos dessa
pesquisa evidenciam, a todo o momento, o
quão educativo é a vivência dos processos
de luta pela terra e manutenção e
desenvolvimento das áreas de
assentamento. A escola se configura como
mais uma ferramenta de formação para
autonomia dos sujeitos que ali vivem,
dentre tantas outras que se desenvolvem na
dinâmica da vida em comunidade. A
educação, seja formal ou não, tem especial
relevância e influência no desenvolvimento
sócio-econômico-cultural e ambiental do
Assentamento, destacando-se o princípio
educativo do próprio MST, como agente
promotor da expansão das liberdades e
capacidades dos sem-terra, formando-os
para a autonomia e para o exercício da
cidadania.
Desenvolvimento Comunitário Rural:
um desenvolvimento medido a partir da
autonomia, participação e liberdades
dos sujeitos
Segundo Silva e Arns (2002), a ideia
de desenvolvimento comunitário como
uma ação governamental surgiu no pós-
guerra, período da história em que se deu a
divisão do mundo nos blocos de
capitalistas e socialistas. Conforme os
autores, surgiu também no início da
guerra-fria, como uma estratégia dos países
capitalistas para assegurar a ordem social.
A ação prática proposta para o
desenvolvimento comunitário, ainda
segundo os referidos autores,
fundamentou-se na ideia de que “a pobreza
tornava os povos receptivos à propaganda
comunista e de que a ajuda aos povos
subdesenvolvidos reverteria em benefícios
econômicos aos Estados Unidos” (Silva &
Arns, 2002, p. 6).
Foi somente a partir dos anos 50 que
a Organização das Nações Unidas [ONU]
se empenhou em divulgar mais
sistematicamente o desenvolvimento
comunitário como um
processo através do qual cada povo
participa do planejamento e da
realização de programas que se
destinam a elevar o padrão de suas
vidas. Isso implica na colaboração
indispensável entre os governos e o
povo para tornar eficazes os
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esquemas de desenvolvimento
viáveis e equilibrados (Ammann,
1981, p. 148).
Silva e Arns (2002, p. 6) ainda
revelam que o conceito de
desenvolvimento começou a ganhar
destaque no Brasil a partir da década de 40,
com os primeiros projetos voltados ao
“incremento da produção de alimentos e a
educação rural e industrial”, e com a
criação de algumas instituições
governamentais, com destaque para a
Associação de Crédito e Assistência Social
[ACAR], em 1948, e as Campanhas de
Educação Rural [CNER] e o Serviço
Social Rural, nas décadas de 40 e 50.
no início da década de 60, ainda
conforme os autores, a prática do
desenvolvimento comunitário avançou,
notadamente com o fortalecimento do
Movimento de Educação de Base [MEB],
originado da Igreja de Natal (RN), órgão
do Estado responsável por ministrar a
educação nas comunidades e organizá-las
socialmente.
A partir de 1964, com as mudanças
no rumo político do país, em virtude do
golpe militar, que reprimiu os movimentos
sociais, é que o desenvolvimento
comunitário seguiu outros caminhos,
“passando ao contexto de ‘integração
social’ que via a participação popular
como meio de ‘ajustar, cooptar, colaborar’
com as diretrizes traçadas pelo Estado em
programas que passaram a privilegiar os
aspectos quantitativos do
desenvolvimento”. (Silva & Arns, 2002, p.
6)
Foi a partir de então, de acordo com
o II Plano Nacional de Desenvolvimento,
que o desenvolvimento comunitário passou
a ser visto como um “processo pelo qual os
responsáveis locais são induzidos, por
equipe técnica, a escolherem alternativas
de desenvolvimento mutuamente coerentes
e que se integrem nas diretrizes emanadas
das instâncias superiores do governo”
(Silva & Arns, 2002, p. 6).
Como retratam os autores, o processo
de mudança nos objetivos do
desenvolvimento comunitário, dando aos
seus programas nova orientação política,
não se deu, entretanto, de forma pacífica.
Ocorreram muitos conflitos nesta
transição, principalmente devido ao fato do
Serviço Social Rural não ter aceitado
muito bem esta reestruturação do
desenvolvimento comunitário em bases
diferentes daquelas preconizadas pelo
órgão, o qual concebia o desenvolvimento
comunitário como uma pedagogia de
participação. Diferentemente, o que
predominou foi “uma concepção prática de
participação e articulação que tinha como
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objetivo resultados estabelecidos que
deixavam de fora questões estruturais do
desenvolvimento” (Silva & Arns, 2002, p.
7).
Mais adiante, na década de 1970,
segundo os mesmos autores, foi que os
programas de desenvolvimento
comunitário foram substituídos pelo
Programa Nacional de Centros Sociais
Urbanos, “consolidando sua estratégia de
transformar as ações de comunidades em
atividades comunitárias de integração
social como lazer, treinamento
profissional, previdência e assistência
jurídica” (Silva & Arns, 2002, p.7).
Seguindo esta trajetória, continuam
os autores, foi que a noção de
desenvolvimento comunitário ficou
carregada de preconceitos, uma vez que
este passou a ser entendido como
encobridor de diferenças de classe e das
desigualdades sociais” (Silva & Arns,
2002, p.7). Em resumo, o desenvolvimento
comunitário foi considerado pelo governo
da época como uma “estratégia
governamental de cooptação e
desarticulação nos movimentos sociais. Já
o serviço social passou a ser compreendido
como conjunto de práticas assistencialistas,
de caráter paliativo com o objetivo de
encobrir as questões estruturais da
dinâmica social”. (Silva & Arns, 2002, p.
7).
Por isso, pela trajetória equivocada
do desenvolvimento comunitário,
particularmente no meio rural, é que, para
resolver as desigualdades sociais existentes
neste meio, sobretudo erradicar o problema
da pobreza, o desenvolvimento rural deve
ser uma prioridade, segundo Weigand
Junior et al. (2003, p. 8-9). Na visão dos
autores,
A experiência nacional e
internacional dos organismos de
promoção do desenvolvimento em
áreas rurais tem mostrado apenas
insucessos e sucessos limitados.
Apesar de mais de 50 anos de ações
de organismos internacionais de
promoção do desenvolvimento em
áreas rurais, o número de pobres
rurais ainda cresce, e a proporção de
pobres nas áreas rurais é maior que
nas áreas urbanas. A diferença de
renda entre populações rurais e
urbanas é agravada ainda pela falta
de oportunidades e de acesso a
educação e saúde.
Todavia, ainda de acordo com os
autores, apesar de todas as dificuldades
enfrentadas na tentativa de promoção do
desenvolvimento comunitário rural, com
seus sucessos e insucessos, as estratégias
adotadas no sentido de promover o
desenvolvimento em territórios
fragilizados “têm mostrado que a
participação das populações locais no
diagnóstico dos problemas, e no
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planejamento e implementação de soluções
torna as políticas e programas de
desenvolvimento mais eficazes” (Weigand
Junior et al., 2003, p. 9). Segundo os
autores, “programas de desenvolvimento
em que as populações locais participam
encontram melhor aceitação, utilizam
melhor os recursos locais e lidam mais
frequentemente com os problemas mais
importantes para as populações locais” (p.
9). Nesta perspectiva, Silva e Arns (2002,
p. 8), utilizando-se da metáfora do
“casulo”, definem o desenvolvimento
comunitário como
... o processo através do qual a
comunidade amadurece em relação a
si mesma e a seus potenciais, rompe
seus casulos e se transforma em
novas possibilidades de ser. A
comunidade pré-existe ao técnico ou
ao programa. Para o bem e para o
mal, sua história, sua trajetória, seus
significados, nos precedem,
configurando cada uma delas como
ser único.
Neste contexto de transformação, os
autores destacam que, assim como a
borboleta rompe seu casulo e alça voo, da
mesma forma a comunidade tem a
capacidade de amadurecer, de definir e
controlar suas próprias prioridades para a
mudança rumo a um modelo de
desenvolvimento real, sustentável, justo e
igualitário.
O sentido de comunidade a que nos
referimos, trata-se de “uma relação social
quando e na medida em que a atitude na
ação social repousa no sentimento
subjetivo dos participantes de pertencer
(afetiva ou tradicionalmente) ao mesmo
grupo” (Weber, 1972, p. 25). Segundo
Bauman (2003, p. 15-16), “é um
sentimento recíproco e vinculante - a
vontade real e própria daqueles que se
unem; e é graças a esse entendimento e
somente a esse entendimento, que na
comunidade as pessoas permanecem
essencialmente unidas a despeito de todos
os fatores que as separam”. Essa ideia é
corroborada por Areca:
Não é que o líder vai interferir assim
no que a comunidade quer fazer, não
é uma interferência, sim uma
orientação, agora você pode, a sua
vida é a sua vida, se nós buscamos
pela independência, né, (++) ... agora
depende também do que você vai
atrapalhar ... (Areca, excerto extraído
do Grupo Focal 01, realizado em
maio de 2016, p. 9-10).
Ainda conforme Bauman (2003, p.
19), este tipo de comunidade, constituída a
partir de um pacto social, como o que
caracteriza as áreas de assentamento,
“nunca será imune à reflexão, contestação
e discussão” permanentes. Vimos, na
pesquisa, que esse pacto social é selado
entre assentados e lideranças, na forma de
regimento, após ampla discussão em
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assembleia, como destacado nos relatos
abaixo:
... porque aqui tem tipo um papel, o
que deve e o que não pode, tipo
assim, um documento de regimento
falando tudo o que pode e não pode,
você entra nas normas daquele
documento e faz só o certo, porque se
você sai fora da norma, você
desrespeitando a nossa coordenação
(Macaúba, excerto extraído do Grupo
Focal nº 02, realizado em maio de
2016, p. 8).
Em assembleia (++) tem algumas
coisas que tem atas registradas que
tudo que não pode aqui, por exemplo,
quem mora aqui, pegar sua casa e
alugar pra outra pessoa que vem de
fora, que a gente nem conhece, aí não
pode, porque vai trazer um monte de
problema pra gente, trazer filhos com
problemas com drogas, com roubo,
com uma série de coisas, a gente
não aceita (Guariroba, excerto
extraído do Grupo Focal 01,
realizado em maio de 2016, p. 10).
Bauman (2003) também afirma que a
comunidade de entendimento comum,
mesmo que alcançada, permanecerá
sempre frágil, suscetível e vulnerável,
exigindo a constância de forças atuantes no
sentido de vigiar, reforçar e defender sua
ordem e organicidade.
Ademais, com base nos dados e
informações coletados no Assentamento
“Lulão”, constatamos que no
Assentamento existe uma clara
diferenciação entre os objetivos das
produções individual e coletiva dentro da
área, sem, contudo, ser atribuído qualquer
grau de superioridade a um ou a outro,
apenas de função. Enquanto a primeira
produção está relacionada à composição da
renda pessoal e familiar, necessária ao
provento das necessidades da família e à
busca por uma melhor qualidade de vida, a
segunda tem uma função mais social,
formativa, voltada à manutenção da cultura
do associativismo.
Percebemos, ainda, que existe uma
grande defesa dos processos coletivos de
produção e de articulação, e mobilização
social na reivindicação por políticas
públicas, destacando-se a importância da
união para a comunidade, a qual é
atribuída à maioria dos indicadores de
desenvolvimento percebidos: escola, posto
de saúde, agroindústria etc. Assim, se
tomarmos a oferta de serviços públicos na
localidade, como indicador de
desenvolvimento local, podemos inferir
que o Assentamento “Lulão” é
desenvolvido, se comparado a outros
assentamentos rurais da região,
corroborando o desiderato da comunidade,
em torná-lo em referência.
Considerações finais
Neste artigo, partimos do
pressuposto de que não se pode alcançar o
desenvolvimento à custa da privação do
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outro, mas a partir do reconhecimento de
que o desenvolvimento é influenciado
positivamente pelo acesso às
oportunidades econômicas, liberdades
políticas, poderes sociais e por condições
habilitadoras, a exemplo da educação e da
participação social.
Defendemos que é através de uma
participação consciente, decisória e
integrada de amplos contingentes da
população local, que é possível aproveitar
o saber-fazer tradicional, o conhecimento
detalhado da realidade e a vontade de agir
dos atores sociais. No que diz respeito à
educação, nossa defesa aqui, para além
desta como um direito humano que deve
ser emergencialmente efetivado, é que não
é mais possível conceber e aceitar o
desenvolvimento sem pensá-lo atrelado à
ideia de promoção da autonomia dos
sujeitos e à ampliação de suas capacidades
e liberdades fundamentais; sem dar-lhes
condições para a conquista do poder como
o conhecimento que possibilita a percepção
crítica da realidade e a reação frente às
injustiças e desigualdades sociais; sem
destacar a diversidade cultural e o respeito
à diferença como importantes medidas de
avaliação no processo desenvolvimentista;
sem possibilitar que as populações
historicamente excluídas consigam se
descobrir e se assumir como capazes de
traçarem suas trajetórias de
desenvolvimento.
Em linhas gerais, seja no sentido da
autonomia para os sujeitos, seja na
dimensão social desta, constatamos que os
indicadores de desenvolvimento do
Assentamento Lulão têm relação direta
com o elevado grau de autonomia de seus
moradores. Uma autonomia forjada no
próprio espaço de vivência, construída na
práxis da luta por direitos e por uma vida
digna, utilizada a favor da coletividade, da
vida comum.
Por fim, fica clara neste artigo a
intenção de ressoar a voz dos
companheiros coautores deste trabalho,
repercutindo o desejo de um grupo que
brada um pedido de respeito a uma
população historicamente subjugada. Um
discurso a favor dessa educação que
denuncia, de forma contundente, as
heteronomias do sistema, e que nos
encoraja, homens e mulheres que
vivenciam a ética universal do ser humano,
a nos unirmos a este movimento social e
político, a promovermos e reivindicarmos
essa educação que liberta e transforma.
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Informações do artigo / Article Information
Recebido em : 24/07/2017
Aprovado em: 23/10/2017
Publicado em: 07/05/2018
Received on July 24th, 2017
Accepted on October 23th, 2017
Published on May 7th 2018
Contribuições no artigo: Os autores, conjuntamente,
foram os responsáveis por todas as etapas e resultados
da pesquisa, a saber: elaboração, análise e interpretação
dos dados; escrita e revisão do conteúdo do manuscrito
e; aprovação da versão final a ser publicada.
Author Contributions: The authors were responsible for
the designing, delineating, analyzing and interpreting the
data, production of the manuscript, critical revision of the
content and approval of the final version to be published.
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Conflitos de interesse: Os autores declararam não haver
nenhum conflito de interesse referente a este artigo.
Conflict of Interest: None reported.
Orcid
Altemar Felberg
http://orcid.org/0000-0001-8795-3768
Geovani de Jesus Silva
http://orcid.org/0000-0003-4180-4534
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Felberg, A., & Silva, G. J. (2018). Educação do Campo e
Autonomia: desenvolvimento comunitário e pedagogia de
participação no Assentamento do Movimento Sem Terra.
Rev. Bras. Educ. Camp., 3(2), 381-410. DOI:
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-4863.2018v3n2p381
ABNT
FELBERG, A.; SILVA, G. J. Educação do Campo e
Autonomia: desenvolvimento comunitário e pedagogia de
participação no Assentamento do Movimento Sem Terra.
Rev. Bras. Educ. Camp., Tocantinópolis, v. 3, n. 2,
mai./ago., p. 381-410, 2018. DOI:
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-4863.2018v3n2p381
Revista Brasileira de Educação do Campo
The Brazilian Scientific Journal of Rural Education
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Educación cooperativista y extensión rural
Palloma Rosa Ferreira
1
, Diego Neves de Sousa
2
, Michele Silva Costa
3
1
Universidade Federal de Viçosa - UFV. Departamento de Economia Doméstica. Avenida P. H. Rolfs, s/n, Campus
Universitário. Viçosa - MG. Brasil.
2
Embrapa Pesca e Aquicultura.
3
Universidade Federal do Tocantins
Autor para correspondência/Author for correspondence: pallomarf@yahoo.com.br
RESUMEN. Este estudio pretende analizar las relaciones entre
educación cooperativista y extensión rural en la gestión de
cooperativas agrarias. En la metodología se utilizó la técnica del
cuestionario que fue enviado a las cooperativas agrarias del
estado de Minas Gerais. En los resultados, se muestra que el
desarrollo de esta modalidad de educación y el trabajo llevado a
cabo por las organizaciones, especialmente la Empresa de
Asistencia cnica y Extensión Rural del Estado de Minas
Gerais (Emater-MG), se ha manifestado como auténticas
organizaciones de naturaleza consultiva. Con esta investigación
se concluye que la extensión rural proporciona el
establecimiento de actividades educativas junto a las
organizaciones cooperativas agrarias. En este sentido, se puede
decir que educación cooperativista y extensión rural son
prácticas indisociables para una adecuada gestión de
cooperativas.
Palabras clave: Emater, Cooperativas Agrarias, Educación
Cooperativista.
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Ferreira, P. R., Sousa, D. N., & Costa, M. S. (2018). Educación cooperativista y extensión rural
Cooperative education and rural extension
ABSTRACT. This study aims to analyze the relationship
between cooperative education and rural extension in the
management of agrarian cooperatives. Methodologically was
used the questionnaire technique that was sent to agrarian
cooperatives in the state of Minas Gerais. Among the results, it
shows that the development of cooperative education and the
work carried out by organizations, especially the Company of
Technical Assistance and Rural Extension of the State of Minas
Gerais (Emater-MG), have proven themselves as authentic
consultative organizations. It concludes that rural extension
provides the establishment of cooperative education activities
with agrarian cooperatives organizations. In this sense, it can be
said that cooperative education and rural extension are
inseparable practices for the proper management of
cooperatives.
Keywords: Emater, Agrarian Cooperatives, Cooperative
Education.
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Educação cooperativista e extensão rural
RESUMO. Este estudo tem por objetivo analisar a relação entre
educação cooperativista e extensão rural na gestão de
cooperativas agrárias. Na metodologia utilizou a técnica de
questionário que foi enviado às cooperativas agrárias do estado
de Minas Gerais. Entre os resultados, mostra que o
desenvolvimento da educação cooperativista e o trabalho
realizado pelas organizações, especialmente a Empresa de
Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas
Gerais (Emater-MG), tem se demonstrado como autênticas
organizações de natureza consultiva. Com esta investigação
conclui que a extensão rural proporciona o estabelecimento de
atividades de educação cooperativista junto as organizações
cooperativas agrárias. Nesse sentido, pode-se dizer que a
educação cooperativista e a extensão rural são práticas
indissociáveis para uma adequada gestão de cooperativas.
Palavras chave: Emater, Cooperativas Agrárias, Educação
Cooperativista.
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Introducción
La educación cooperativista siempre
ha sido una acción relevante para las
cooperativas y por lo tanto merece la
atención de los estudiosos. Incluso antes de
que oficialmente se creara la primera
cooperativa en 1844, los precursores de la
Sociedad Equitativa de los Pioneros de
Rochdale, llamados utópicos socialistas,
Robert Owen y Charles Fourier, ya habían
añadido el tema en la agenda de sus
debates en grupos de estudio y trabajo,
especialmente en materia de desarrollo
humano, con miras a mejorar las
condiciones de vida del tejido social.
Directamente influenciado por los
socialistas utópicos y comulgando con
algunos de sus supuestos, los propios
pioneros proponen que la educación
cooperativista sea una de las bases para el
desarrollo de las cooperativas,
proponiéndola como uno de los principios
o normas que garantizan su
funcionamiento. Para hacerla posible, fue
necesario la creación de un fondo
específico para financiarla, conocido en el
derecho brasileño como Fondo de
Asistencia Técnica, Educativa y Social
(Fates).
Desde la creación de las cooperativas
y hasta la actualidad, la educación
cooperativista es uno de los principios que
se aplican en las organizaciones con
algunas modificaciones introducidas
posteriormente en las diferentes reuniones
de la Alianza Cooperativa Internacional
(ACI): 1934 (Londres), 1937 (París), 1966
(Viena) y 1995 (Manchester), como señala
Pinho (2003).
La última modificación de los
principios ocurrió en 1995, cuando las
cooperativas del mundo asociadas a la ACI
democráticamente realizaron su reunión y
modificaron el texto del quinto principio
cuyo tulo es: educación, formación e
información. Este principio tiene la
siguiente explicación:
Las cooperativas proporcionan
educación y capacitación para sus
miembros, representantes elegidos y
empleados para que puedan
contribuir eficazmente al desarrollo
de sus cooperativas. Informar al
público en general, especialmente
jóvenes y líderes de opinión acerca
de la naturaleza y beneficios de la
cooperación (ACI, 2017, p. 1).
Esto concepto amplia también el
contenido de la educación cooperativista,
incluyendo además de los asociados,
administradores, ejecutivos y demás
empleados de las cooperativas, pues la
asamblea ACI recomienda que los
beneficios de las mismas se difundan entre
el público en general y en particular entre
los jóvenes y los líderes de las
comunidades donde están presentes.
Debido a la importancia de la
educación cooperativista para estas
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organizaciones y delante de los rasgos
específicos de las cooperativas y su
diferente naturaleza, la pregunta que
orienta este estudio es ¿Cómo implementar
la educación cooperativista y cuáles son
los contenidos privilegiados de la
formación y capacitación dirigidos a los
distintos públicos presentes en las
cooperativas agrarias? También es
importante saber cuáles son los organismos
responsables por la realización de la
educación cooperativista y cómo este
trabajo es realizado.
Las cooperativas agrarias son
organizaciones intermediarias entre los
agricultores y sus mercados, cuyo objetivo
es prestar servicios a sus miembros, y
contribuir a la viabilidad económica de
propiedades rurales y/o con el aumento de
la calidad de vida.
Obviamente, las propias cooperativas
agrarias son responsables por la educación
cooperativista, pero hay toda una gama de
otras organizaciones que asisten o
complementan las actividades de las
mismas. Son aquellas organizaciones que
de una u otra manera se centran en el
desarrollo socio-económico. Entre las
dedicadas a promover la educación dentro
de sus respectivas áreas de especialización
en el estado de Minas Gerais, se puede
citar la Emater y algunas organizaciones
pertenecientes al Sistema Si, como Sebrae,
Sescoop y Senar, además de otras
instituciones de educación superior, las
ONG regionales y las Incubadoras
Tecnológicas de Cooperativas Populares
(ITCP).
En todo el enunciado se puede
percibir, por lo tanto, que el trabajo de la
educación cooperativista llevado a cabo
por las cooperativas agrarias, muchas
veces, por su rol y por el público que
atienden, pueden ser actividades
consideradas de extensión rural. En este
sentido, este estudio pretende analizar las
relaciones entre educación cooperativista y
extensión rural en la gestión de
cooperativas agrarias.
Para eso, fueron enviados
cuestionarios que contienen 24 temas, con
preguntas para respuestas cerradas y
abiertas, a las cooperativas agrarias de
Minas Gerais identificadas, en lo cual hubo
el retorno de 51 cuestionarios.
Así, en primer lugar, fueran dirigidas
a identificar la situación actual de la
educación cooperativista en relación a las
cooperativas agrarias. En un segundo
momento, las preguntas pretenden
determinar qué organizaciones han
ayudado a la realización del trabajo de esto
tipo de educación. Y, por último, intenta
verificar en qué áreas se perciben los
efectos de la educación cooperativista y
cuales ramificaciones de esta formación
corresponde específicamente a las
organizaciones cooperativas agrarias.
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La educación cooperativista
Este tema es apropiado para resaltar
las observaciones formuladas por ACI, a
través de su Comité Especial constituido
en 1966, sobre ciertas consideraciones de
la educación cooperativista. La Comisión
enfatiza sobre la importancia de esto
concepto al explicar que se debe ir más allá
de la simples educación formal, señalando
la necesidad de la realización de un
proceso permanente de aprendizaje
cooperativo, que trasciende la educación
institucionalizada en universidades y
escuelas.
Para cumplir esta directiva,
Desroche (2006, p. 137) subraya que:
A nivel cooperativo, tal visión
pedagógica se caracteriza por la
dualidad de la formación, en la cual,
por un lado, centros, institutos y
universidades ofrecen oportunidades
de educación cooperativista, a
menudo sin contactos con el
movimiento cooperativo, y por otro
lado, la condición autodidacta de
gerentes y ejecutivos de las
cooperativas que: o no reciben, o
reciben incorrectamente cuando la
toman o, es formación incompleta en
lo cooperativo y no es la formación
necesaria para la gestión social y
económica de las cooperativas.
Pero ¿Quién debe ser responsable
por la educación cooperativista? En el
punto de vista del Comité Especial, es que
todos son directamente responsables por la
educación cooperativista. De esta manera,
pone relieve que, en primer lugar, debe
provenir de los socios de las cooperativas,
quienes mediante el uso de metodologías
apropiadas de educación de adultos deben
participar en discusiones en agrupaciones
regionales, grupos de trabajo, cursos,
seminarios, congresos, conferencias,
reuniones, asambleas y pre-asambleas,
entre otros medios de participación como
miembros, lo que les permite actuar de
manera más incisiva en la vida de sus
cooperativas.
Los directores, oficiales y empleados
se ponen en segundo lugar. Y en lo suyo,
los asociados han requerido cada vez más
técnica y formación adecuada, universitaria
complementada con una formación
específica sobre cooperativas en su
administración específica. Así, según
orientaciones de la Comisión, se torna más
difícil para que un profesional administre
una cooperativa porque se requiere ciertos
conocimientos profesionales adicionales,
como los aspectos sociales.
En tercer lugar y no menos
importante, la educación debe llegar a la
comunidad como un todo, porque es de
donde proviene el potencial candidato (a)
que futuramente puede convertirse en
asociado (Schneider, 1999).
En líneas generales, la educación
cooperativista promueve un rol de
liderazgo entre los miembros de las
organizaciones cooperativas y la
cooperación como una estrategia
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Ferreira, P. R., Sousa, D. N., & Costa, M. S. (2018). Educación cooperativista y extensión rural
económica para el desarrollo. Sin embargo,
para habilitar la participación de los
asociados en la gestión de la cooperativa,
se requiere capacitación específica en
determinados contenidos vinculados a las
organizaciones de gestión económica.
Por lo tanto, la formación
cooperativista es específica para ese tipo
de organización socio-económica y sus
públicos. Una formación simples de
administración de negocios no sería
suficiente, tampoco no sería adecuada una
que sólo tendría protagonismo en la
discusión de los aspectos sociales de la
organización. Así, la formación debe
realizarse teniendo en cuenta las múltiples
facetas del sistema cooperativo y
esencialmente enseñar a los ciudadanos a
cooperar, a administrar su propia empresa
para finalmente poder democratizar a la
economía (Amodeo, 2001).
De esta manera, los cursos que se
lleven a cabo deben tener en cuenta los
diferentes públicos presentes en las
cooperativas, quienes a su vez, requieren
necesariamente contenidos educativos que
pueden administrarse conforme a sus
exigencias y rasgos específicos.
Otra pregunta complementaria a la
primera que se formula a la ACI (2017) es:
¿Qué se entiende por educación
cooperativista? La respuesta de la
institución es toda actividad que despierte
el interés de los asociados, si ya están
comprometidos con un método de
educación. Este concepto aplica de manera
similar a varias actividades relacionadas
con la economía, la sociedad, la cultura y
de una manera especial, con los cursos,
seminarios y trabajos en grupo,
organizado, por ejemplo, por los comités
de educación (Schneider, 1999).
También se menciona que estas
actividades deben, sobre todo, planificarse
bien, con objetivos claros, para que el
contenido pueda contemplar tanto los
aspectos administrativos y económicos,
como los aspectos sociales. Y, en este
sentido, la recomendación es utilizar
métodos de enseñanza que estimulen la
participación constante de asociados en los
procesos de enseñanza-aprendizaje. Así,
es notable que la participación es el
objetivo - porque es precisamente con el
fin de participar en los beneficios y la
riqueza generada por su trabajo que las
personas se unen en esta forma de sociedad
- y el medio - porque sólo a través de la
efectiva participación, consciente y
responsable de todos los miembros, es que
se obtiene el éxito de los objetivos socio-
económicos de la cooperativa - para crear y
mantener una cooperativa.
Cuando se piensa en el contenido de
la educación cooperativista, Schneider
(2003) agrega que se debe tener en cuenta
tanto la educación cooperativista como la
práctica de la cooperación con sus
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Ferreira, P. R., Sousa, D. N., & Costa, M. S. (2018). Educación cooperativista y extensión rural
metodologías y estilos adecuados para
conducir el proceso de cooperación. La
enseñanza doctrinal es fundamental,
porque es ella quien, a través de sus
valores y principios, confiere sentido a
todo el proceso, que alienta y dirige todas
las actividades y prácticas colaborativas
hacia un mayor bienestar y dignidad de las
personas que conforman la cooperativa. El
trabajo sobre los principios y valores
cooperativos es el responsable por crear
entre los actores afinidad emocional de
cooperación que les motiva a cooperar y a
seguir cooperando. Sin embargo, la
dimensión doctrinal, para alcanzar sus
objetivos de manera eficiente, requiere el
uso de prácticas, tecnologías apropiadas y
metodologías (Schneider, 2003).
Es en este sentido que Valadares
(2005) establece la educación
cooperativista
como un proceso y un método para
formular y ejecutar políticas de
educación, cuyas características se
refieren a aspectos esenciales para la
práctica de la cooperación: gestión
democrática. Comprender el proceso
de preparación y adopción de planes
y estrategias de las cooperativas y las
bases de las decisiones de los líderes
y en su aplicación por parte del
organismo responsable, en la
administración, del servicio
educativo y el régimen de
organización adoptado por la
cooperativa (Valadares, 2005, p. 33).
Por lo tanto, y como se presenta aquí,
la educación cooperativista es un proceso
continuo de aprendizaje, que debe envolver
diferentes públicos (empleados, gerentes,
asociados, comunidad) y con diferentes
niveles educativo. Esto se justifica porque
hay ciertos requisitos que son específicos
para cada una de esas audiencias y por lo
tanto requieren una gestión cooperativa de
diferentes contenidos, formación y
capacitación, con propuestas para gestión
empresarial, participación social,
cooperación, producción, lo que hace el
proceso muy complejo y especializado.
Organización de Cuadros Sociales
La Organización de Cuadros Sociales
(OCS)
ii
es una práctica educativa
reconocida por los voceros de las
cooperativas y sus órganos representativos,
como primordial en el desarrollo de la
labor educativa, formación y capacitación
de asociados, contribuyendo directamente
a la promoción de la participación de los
miembros que se asocian a la organización.
Es una forma de organizar la gestión
social, ampliamente utilizada en las
cooperativas agrarias. Bien gestionada,
puede favorecer importantes espacios de
formación de OCS y participación de los
miembros, aumentando considerablemente
la participación directa de los distintos
grupos de agricultores asociados en la
toma de decisiones y control de la gestión
empresarial de las cooperativas. Así,
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además de ser un instrumento de educación
cooperativista, la OCS puede actuar como
un canal importante para el desarrollo de
los trabajos de extensión rural.
En la denominación de Organización
de Cuadros Sociales, se incluyen
diversas prácticas que tienen como
objetivo la formación de una nueva
instancia del ejercicio del poder en
las cooperativas, además de las
instancias que se encuentran
normalmente en sus estructuras
tradicionales. Estas prácticas
conducen a la conformación de
Comités Educativos o Consejos de
Representantes, que, a pesar de sus
diferentes formas de organización y
peculiaridades en su operación, son
conducidos por los mismos objetivos:
estructurar un espacio de poder en la
cooperativa, lo que permite la
participación democrática de la
mayor cantidad de miembros en la
gestión de la empresa cooperativa
(Valadares, 1996, p. 47).
Esto es porque la institucionalización
de la práctica de OCS en la cooperativa
significa una instancia de más
participación, pero de carácter menos
formal que las Asambleas, en el entorno de
la organización. La OCS permite la
extensión del ejercicio de poder en la
cooperativa, conduce a nuevas formas de
control democrático y la participación de
los miembros. En general, los comités
locales están organizados en diferentes
lugares de la zona de influencia de la
cooperativa, formada por socios, quienes
se reúnen periódicamente para obtener
información de su organización y
productos, discutir temas de interés
vinculados a la cooperativa, recibir
capacitación en diversos aspectos,
incluyendo técnicas sobre cuestiones
productivas. Es posible mencionar que por
medio de la instrumentalización de la OCS
en las cooperativas agrarias, se abordan
directamente tres contenidos: gestión
social, gestión empresarial y asistencia
técnica (Ferreira, Amodeo & Sousa, 2013).
La educación cooperativista referente
a la rama agraria dispensa atención de
modo especial la capacitación y formación
vinculada con la asistencia técnica
brindada a los agricultores, trata de influir
en los procesos productivos de la
propiedad rural de los miembros de la
cooperativa.
En este contexto, la educación y la
información permanentes a los asociados
toma un lugar prominente.
Las prácticas de Organización de
Cuadros Sociales son posibles a
través de los comités educativos y
otros direccionados a ampliar las
posibilidades de participación directa
de los distintos grupos de
agricultores rurales asociados; en la
toma de decisiones y control de la
gestión empresarial de las
cooperativas, trae implicaciones
políticas significativas para el manejo
y la conformación de conflictos entre
los grupos dominantes y los grupos
dominados de áreas regionales de
acción cooperativa (Valadares, 1996,
p. 11).
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Ferreira, P. R., Sousa, D. N., & Costa, M. S. (2018). Educación cooperativista y extensión rural
Si por un lado, la aplicación de la
práctica educativa puede significar para los
pequeños agricultores, mayores
posibilidades de acceso a bienes y
servicios prestados por las cooperativas;
por otro lado, para los grandes agricultores,
la participación puede tener connotación de
amenaza, debido a la introducción de
nuevos actores sociales que participan más
activamente en las decisiones de la
cooperativa (Valadares, 1996).
Según el mismo autor, para dar vida
a los trabajos relacionados con la OCS,
muchas cooperativas agrarias están
creando un departamento propio conocido
como Comité Educacional, que está
vinculado directamente al Consejo de
Administración, responsable por las
actividades relacionadas con el desarrollo
político y social de los miembros, con el
fin de prepararlos, mediante actividades de
capacitación, para que puedan actuar como
usuarios y propietarios reales.
El crecimiento del número de
miembros de las cooperativas agrarias ha
provocado también la reducción de su
participación. Así, muchas cooperativas
han procurado establecer de forma
institucional la formación de subgrupos en
diversas localidades con miembros
pertenecientes a su ámbito de operación, a
fin de mejorar las condiciones de
participación de los asociados, permitiendo
de este modo enfrentar en grupo los
aspectos burocráticos existentes en la
cooperativa. Por lo tanto, a criterio de
Valadares (1996, p. 17), la OCS es "un
canal a través de lo cual los miembros
pueden expresar sus necesidades, deseos y
preocupaciones, además de proporcionar
un medio de comunicación e información
importante entre los administradores y las
bases sociales".
Relaciones entre educación
cooperativista y la Emater-MG
La trayectoria de Emater-MG está
entrelazada con la historia de la extensión
rural en Brasil. En este sentido, como su
predecesor, se puede citar la Asociación de
Crédito y Asistencia Rural (Acar), fundada
en 1948, que más tarde se amplió por otros
Estados de Brasil. La dicha institución fue
pionera con respecto a la asistencia técnica
y extensión rural en el país, con su labor
dirigida a la introducción de nuevas
técnicas en agricultura y economía
doméstica, fomentó la organización y el
enfoque del conocimiento generado en los
centros de investigación a los agricultores
(EMATER, 2009).
Las Acars se reemplazó por la
Emater en 1975, dejando de funcionar
como asociaciones, para constituirse en
empresas estatales que prestan servicios a
los agricultores y sus familias (Emater,
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El estado de Minas Gerais fue el
escenario de esta primera experiencia, a
través de un acuerdo celebrado con la
Asociación Internacional de Economía y
Desarrollo Social (AIA), de los Estados
Unidos, quien colaboró decisivamente para
la aplicación de este proceso.
En todos los países que han adoptado
la extensión rural, es notable la
influencia estadounidense sobre la
filosofía, principios, métodos y el uso
de los medios de comunicación. A
partir de esta influencia, la Acar
logró establecer una innovadora
experiencia en Minas Gerais, al
definir la familia del productor como
foco de acción de los extensionistas y
no los productos generados por ellos,
así como una pionera manera de
combinar el crédito rural y la
asistencia técnica (Emater, 1999, p.
5).
Actualmente ese enfoque sigue
vigente, aunque algunas veces, el contexto
histórico haya cambiado en cada situación
vivida, como el perfil de estas
intervenciones con consecuencias positivas
y negativas de este proceso.
La Emater-MG fue una importante
incentivadora de la organización y del
desarrollo de grupos asociativos, como las
cooperativas y asociaciones. En primer
lugar, en consonancia con la mentalidad
generalizada en las décadas de 1970 y 80,
en la cual las organizaciones de
agricultores se consideraron como
importantes activadores e instrumentos del
aspirado "desarrollo rural". También,
basados en su propia experiencia se ha
demostrado que a través del trabajo
colectivo es posible lograr mayores
beneficios que trabajando aisladamente.
Por lo tanto, al promover
organizaciones de agricultores, habría
mayor poder de negociación en la
comercialización de productos y en la
compra de insumos necesarios para la
producción, permitiendo mejores ingresos,
generando oportunidades y encontrando en
su propio medio las condiciones sociales
de reproducción, con calidad de vida.
Añadido a esto, se generarían
oportunidades para mejorar las condiciones
de acceso a las políticas públicas para este
segmento, porque dependiendo de las
características específicas, estas políticas
serían generalmente direccionadas a
grupos de individuos que se encuentran
organizados de alguna manera.
En este contexto, existe el
entendimiento de que el servicio individual
a las familias rurales es más costoso. Así,
la orientación al productor se desarrolla, en
su gran mayoría, alrededor de las
declaraciones del alcance colectivo. Otra
premisa que responde a esto es que "las
personas en el grupo aprenden más
fácilmente, se acostumbran a resolver
problemas comunes y a fortalecer el
espíritu comunitario" (Renault y Santana,
1996, p. 5).
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En este punto, debe destacarse que la
Emater-MG está directamente relacionada
con la Política Nacional de Extensión
Rural para los agricultores familiares,
jornaleros y colonos de la reforma agraria.
En este marco, además de resaltar la
productividad de las propiedades rurales,
promueve la mejora en la calidad de vida
junto con estos agricultores y sus familias
de manera sostenible. La Emater se ha
comprometido a asesorar las formas
organizativas, con el objetivo de promover
la participación de los agricultores en la
realización de programas y proyectos de
desarrollo social y económico. Lo hace,
movilizando a los agricultores para
participar en cursos y entrenamientos
profesionales, conferencias, reuniones, días
de campo, reuniones técnicas, Diagnóstico
Rápido Participativo (DRP) y otros eventos
de capacitación. Los contenidos de estas
actividades se orientan a: satisfacer las
necesidades de los agricultores en la
realización de trabajos del día a día en sus
propiedades; incluir en sus programas la
certificación de la producción y, en
consecuencia, su mejor aceptación en el
mercado de consumo; promover el uso de
ciertas tecnologías para cada tipo de
procesos productivos, educación
ambiental, economía familiar, entre otros.
En cuanto la esfera de competencia
de la Emater-MG y su relación con las
asociaciones/cooperativas, las directrices
tienden a propagar la idea de la
importancia de trabajar juntos y en
cooperación para consolidar las
comunidades rurales. Para eso, utiliza
algunos materiales educativos visando
apoyar este trabajo, tales como: carpetas y
manuales, que pretenden ser auto-
explicativos y fáciles de entender. Los
temas incluyen parte relativa a la gestión
cooperativa y asociativa, con énfasis en el
aspecto comercial de estas organizaciones,
contenidos acerca de las leyes de
impuestos, sobre la constitución y
legalización, las diferencias entre la
asociación y la cooperativa y el paso a
paso para la creación de estos
emprendimientos colectivos, su
funcionamiento, la doctrina, los principios
y los valores del cooperativismo. Sin
embargo, el énfasis principal de la Emater
está en asistencia técnica a los agricultores
y, por lo tanto, es en este sentido que ella
articula sus acciones con las cooperativas y
sus miembros, siendo su público
privilegiado.
Para mejor definir las relaciones
entre educación cooperativista y extensión
rural, se debe considerar también la
definición del concepto de extensión rural.
En este sentido, Dias (2007, p. 2) afirma
que:
La extensión rural es un conjunto
bastante diverso de concepciones y
prácticas que se expresan en servicios
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especializados y técnicos, asistencia,
asesoría, consultoría y apoyo
ofertados por organizaciones públicas
o privadas a una gran diversidad de
agricultores. Que es o lo que puede
ser extensión rural, depende del
agente que proporciona este servicio
y el propósito que guía su práctica. A
pesar de esta diversidad, una
característica parece ser común a esta
variedad de concepciones y prácticas
de extensión rural: la misión de
promover el desarrollo.
De esta manera, la educación
cooperativista, como se trabaja en este
estudio podría considerarse un tipo
específico de extensión rural, cuando se
desarrolla orientada a las organizaciones
cooperativas y sus miembros, con la
cooperación y participación como
directrices.
Cabe mencionar que la Emater es
reconocida como una organización que
realiza esta modalidad de educación. Como
las organizaciones cooperativas agrarias
están formadas por agricultores y el
mercado procesa lo que producen para
aumentar la productividad y la calidad.
Así, afecta directamente a la empresa
económica y, por tanto, consideran que
parte de su papel de 'educadora' está para
promover una "mejora de su capacidad
productiva” y de los asociados,
proporcionado por medio de la asistencia
técnica. Sin embargo, la Emater no
reconoce directamente su trabajo que
desarrolla como de educación
cooperativista, porque no entiende la
dimensión de ese principio, aún las
actividades realizadas sean efectivamente
características de educación cooperativista
como entiende la literatura.
Por lo tanto, la Emater por su propia
naturaleza tiene una larga trayectoria en
asesoramiento y instrumentalización de la
educación cooperativista, tratando de
desarrollar acciones para promover la
cooperación entre grupos de agricultores,
fomentar el trabajo colectivo y la
cooperación entre individuos y,
especialmente, porque los asuntos
relacionados con la asistencia técnica de
las cooperativas agrarias se consideran
parte del contenido de la educación
cooperativista.
Resultados y discusión
También se puede perfilar
informaciones sobre la base de la
recopilación de las 51 respuestas a los
cuestionarios, lo que permite obtener una
visión general de cómo es estructurada la
educación cooperativista en las
cooperativas, tomando como referencia el
punto de vista de los encuestados, que son
los participantes de las instituciones
agrarias de esta investigación.
De acuerdo con las respuestas
obtenidas, 22,2% de los informantes
indicaron que la educación cooperativista
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permite una mayor participación de los
asociados en decisiones importantes y 21%
reconoce que permite más comunicación
entre el mencionado público y la
cooperativa. Otros 19% de los encuestados
afirmaron que a través de ese tipo de
educación es posible difundir principios y
valores, junto con otro porcentaje igual que
registra como positiva la educación
cooperativista para la mejora de la
formación técnica de producción de los
miembros.
Este último hallazgo se confirma,
cuando se ratifica que las cooperativas
pertenecientes a la rama agraria incluyen
dentro de sus responsabilidades la
realización de actividades de educación
cooperativista, además del servicio de
asistencia técnica dirigido a los
agricultores. Otros 13% creen que esta
educación también permite mejoras de la
gestión económica de la cooperativa. Con
5% aparecen aquellos que dan crédito a la
unión de todas las alternativas anteriores,
señalando también que permite una mayor
adhesión de los miembros asociados en el
día a día de la vida cooperativa, se
vuelven más comprometidos con un
proyecto de emprendimiento que destaca el
enfoque sobre las posibilidades de
implementar asociaciones de aparceros,
esenciales para un mejor rendimiento en el
mercado. La Figura 1 permite visualizar
los datos descritos, evidenciando el papel
de la educación cooperativista.
Figura 1 - El papel de la educación cooperativista.
Fuente: Datos de encuestados en trabajo de campo.
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Al preguntar a los interlocutores si es
pertinente realizar la educación
cooperativista, 49% del total de los
encuestados respondieron positivamente;
32,6% reportó que la forma más útil y
efectiva para su logro es el desarrollo de
actividades educativas, como respuesta a
las diversas demandas y a los campos de la
actividad de la cooperativa (Figura 2).
Estas acciones incluyen conferencias,
cursos, reuniones y eventos.
Un número significativo (17,4%)
mencionó sobre la importancia de los días
de campo. 13% de los encuestados
señalaran como desmembramientos de la
educación cooperativista
proyectos/programas gubernamentales de
asistencia técnica y proyectos/programas
comunitarios de integración cooperativa,
junto con los de inclusión digital que se
desarrollan en las escuelas y celebrar
convenios con instituciones como el
Sescoop, Sebrae, Emater y Senar.
También es significativa para los
encuestados, con un porcentaje de 10,9%
la práctica de OCS. Con el mismo
porcentaje (6,5%) son mencionados los
informativos, entrenamiento/capacitación y
la realización de reuniones periódicas, tales
como: las promovidas por la junta de
directores, aquellas de cnicos con grupos
de asociados; y las Comisiones de
Productos y Servicios que son utilizadas
para la integración entre los empleados y
grupos de socios de las cooperativas en
organismos internos similares.
Figura 2 - Actividades consideradas de educación cooperativista.
Fuente: Datos de encuestados en trabajo de campo.
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En este sentido, es significativo
identificar los órganos de control social,
por la importancia que tienen como
herramienta para la promoción de la
educación cooperativista y participación en
la gestión social y económica,
especialmente porque esta práctica es
desarrollada especialmente por la rama
agraria.
Se constató a través de la
investigación que el desarrollo de la OCS
se realiza principalmente por medio de los
Comités Educativos (33,3%), Grupos de
Agricultores Locales y los Centrales
(29,2%). Como recurso de menor medida
existen las Comisiones de Productos y
Servicios (12,5%). Los hallazgos sobre
cómo las cooperativas encuestadas
desarrollan sus organismos internos de
control social y con cuál frecuencia, se
presenta en la figura 3.
Figura 3 - Cómo las cooperativas desarrollan sus organismos internos de control social
Fuente: Datos de encuestados en trabajo de campo.
De acuerdo con los impactos
positivos generados por la práctica de la
educación cooperativista, 45,8% de los
encuestados, asimilaron las reflexiones
sobre la gestión social de la cooperativa.
Los 16,7% del total de búsquedas,
reconocen impactos positivos en la gestión
económica. Los 31,3% de los encuestados,
siente el impacto en el aumento de la
producción y la calidad de los productos
comercializados. Esto está relacionado con
las constantes solicitudes para mejoras de
los procesos productivos de los asociados,
para sobrevivir en los mercados donde se
introducen. Incluso 6,3% de los
encuestados señalan que el impacto de la
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educación cooperativista se siente sobre la
participación de miembros de la
cooperativa en puestos de asesoramiento,
en la ampliación y capacitación de
asociados (Figura 4).
Figura 4 - Los impactos de la educación cooperativista en el desarrollo de las cooperativas.
Fuente: Datos de encuestados en trabajo de campo.
Entre los recursos disponibles en las
cooperativas para financiar la educación
cooperativista se encuentran los destinos
financieros, establecidos por el artículo 28
de la Ley número 5.764 de 16/12/1971.
Los objetivos son "proporcionar asistencia
a los miembros, sus familias y, los
previstos en los estatutos para los
empleados de la cooperativa, con los
recursos de al menos el 5% de los
excedentes del ejercicio" (Brasil, 1971, p.
1). Se puede observar la distribución de los
mencionados recursos - Fates - según sus
destinos en las cooperativas estudiadas, en
la figura 5.
Figura 5 - La distribución del uso de los recursos de Fates según sus destinos en las cooperativas.
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Fuente: Datos de encuestados en trabajo de campo.
Los resultados de la encuesta
muestran que la función de los destinos
financieros debe utilizarse principalmente
para la calificación de miembros
asociados. O sea, un tercio de los recursos
han sido destinados a la capacitación de
personal y 58% para los servicios de
asistencia técnica (agronomía o
veterinaria). Esta utilización de los
recursos muestra que es una situación que
parece estar relacionada con el tamaño de
la cooperativa. Las clasificadas como
grandes cooperativas (número de
miembros), hasta con 401 miembros,
utilizan los recursos de la educación
cooperativista, más intensamente con
destino a capacitar a sus empleados.
Probablemente esto se debe al
tamaño de la cooperativa, cuanto mayor es
el número de empleados, más se necesita
formación sobre los diversos aspectos
relacionados con las cooperativas para
elevar la calidad de la participación de los
miembros.
Igualmente se observa que en las
decisiones de educación cooperativista
pesa siempre la mención específica a la
asistencia técnica (diseñada para
incrementar o mejorar la producción en las
propiedades de los asociados) aunque sea
un destino no incluido en la ley, se puede
considerar para ser añadido en algunos de
sus ajustes. Sin embargo, asignar a los
destinos financieros para la asistencia
técnica es tradicional entre las cooperativas
agrarias en Brasil.
Conclusión
Educación cooperativista es uno de
los pilares en lo cual se fundamenta el
desarrollo de las cooperativas. Esta es
reconocida desde los orígenes del
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movimiento cooperativo y permanece
manifestándose reiteradamente entre los
miembros de las cooperativas, no sólo
cuando se les pregunta específicamente
sobre ella, sino también cuando se propone
la enumeración de los puntos críticos.
Es posible identificar los diversos
contenidos de educación cooperativista.
Además puede verse en una amplia
variedad de audiencias y promovidos
temas, así como metodologías y el tipo de
actividades incluidas en los procesos de
educación destinadas a las cooperativas
agrarias del Estado de Minas Gerais.
El caso de la Emater presenta una
larga trayectoria en el trabajo de educación
cooperativista, ya que desarrolla acciones
para promover la cooperación con grupos
de agricultores, fomentar el trabajo
colectivo y la cooperación entre
individuos, así como, en cuestiones
relativas a la asistencia técnica que son
consideradas por las cooperativas de
producción agraria como parte de los
contenidos de educación cooperativista.
Es de esta manera que el desarrollo
del trabajo de educación cooperativista
llevado a cabo por las organizaciones,
especialmente la Emater, se muestra como
auténtica empresa de asesoramiento,
quienes con un trabajo de naturaleza
extensionista, proporciona una serie de
beneficios a las cooperativas que buscan
viabilizar y hacer en su vida cotidiana la
materialización de las directrices y de la
formación recibida.
Es interesante observar que el trabajo
de la Emater ha sido relacionado con el
desarrollo de acciones que incluyen
educación cooperativista junta las
cooperativas agrarias. A pesar de no
reconocer como promotor de este
principio, sus acciones fueron
fundamentales en la consolidación de estas
organizaciones, mediante la oferta de
capacitación y formación adecuada a la
realidad de las cooperativas, sea mejorando
los aspectos de su diferente naturaleza o
mismo para llevar a cabo la asistencia
técnica a los asociados. Este fue
considerado como componente de
educación cooperativista por las
cooperativas, porque no era considerado
por los estudiosos como contenido de la
educación cooperativista. Por lo tanto,
parece que la extensión rural proporciona
el establecimiento de actividades de
educación cooperativista junto a las
cooperativas. En este sentido, puede ser
dicho que educación cooperativista y
extensión rural son prácticas indisociables
para una adecuada gestión de cooperativas
de la rama agraria.
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MG: OCEMG/PNFC/INTERCOOP.
i
Son organizaciones del Sistema S: el Sebrae
(Servicio Brasileño de Apoyo a las Micro y
Pequeñas Empresas), el Senar (Servicio Nacional
de Aprendizaje Rural), el Senai (Servicio Nacional
de Aprendizaje Industrial), el Senac (Servicio
Nacional de Aprendizaje Comercial), el Senat
(Servicio Nacional de Aprendizaje del Transporte),
el Sescoop (Servicio Nacional de Aprendizaje del
Cooperativismo), todas las entidades de interés
público y el privado, cada uno dedicado a un grupo
social específico y generalmente vinculados e
impulsada por los sindicatos correspondientes.
ii
Organización de Cuadros Sociales (OCS) es el
equivalente en español de OQS por sus iniciales en
portugués. Sobre este tema ver Sousa et al. (2013,
2014, 2015) e Macedo et al. (2013, 2014).
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Informações do artigo / Article Information
Recebido em : 17/09/2017
Aprovado em: 10/12/2017
Publicado em: 07/05/2018
Received on September 17th, 2017
Accepted on December 10th, 2017
Published on May 7th 2018
Contribuições no artigo: Os autores, conjuntamente,
foram os responsáveis por todas as etapas e resultados
da pesquisa, a saber: elaboração, análise e interpretação
dos dados; escrita e revisão do conteúdo do manuscrito
e; aprovação da versão final a ser publicada.
Author Contributions: The authors were responsible for
the designing, delineating, analyzing and interpreting the
data, production of the manuscript, critical revision of the
content and approval of the final version to be published.
Conflitos de interesse: Os autores declararam não haver
nenhum conflito de interesse referente a este artigo.
Conflict of Interest: None reported.
Orcid
Palloma Rosa Ferreira
http://orcid.org/0000-0001-7523-4731
Diego Neves de Sousa
http://orcid.org/0000-0003-3124-5150
Michele Silva Costa
http://orcid.org/0000-0002-7250-3200
Ferreira, P. R., Sousa, D. N., & Costa, M. S. (2018). Educación cooperativista y extensión rural
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Ferreira, P. R., Sousa, D. N., & Costa, M. S. (2018).
Educación cooperativista y extensión rural. Rev. Bras.
Educ. Camp., 3(2), 411-432. DOI:
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-4863.2018v3n2p411
ABNT
FERREIRA, P. R.; SOUSA, D. N.; COSTA, M. S.
Educación cooperativista y extensión rural. Rev. Bras.
Educ. Camp., Tocantinópolis, v. 3, n. 2, mai./ago., p. 411-
432, 2018. DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-
4863.2018v3n2p411
Revista Brasileira de Educação do Campo
The Brazilian Scientific Journal of Rural Education
A
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O
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A
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A
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A Educação Física como componente curricular de uma
escola do campo do município Jitaúna/Bahia
Silvano da Conceição
1
, Poliana Freitas Brito
2
1
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB. Centro Interdisciplinar de Pesquisa Agroambiental - CIPAM. Avenida
José Moreira Sobrinho, s/n, Jequiezinho. Jequié - BA. Brasil.
2
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB
Autor para correspondência/Author for correspondence: silconceicao5@gmail.com
RESUMEN. O presente artigo foi elaborado a partir de um
estudo de caso realizado na Escola Municipal Pedro Virgínio,
localizada no distrito de Santa Terezinha, zona rural do
município de Jitaúna/BA (município localizado a 383 km de
Salvador), na qual se buscou analisar as dificuldades para o
desenvolvimento da disciplina de Educação Física, oferecida
para as turmas do sexto ao nono ano do ensino fundamental.
Para a coleta de dados foi utilizada a observação das aulas e a
aplicação de um questionário semiestruturado. O estudo
evidenciou que embora a legislação sobre educação do campo
tenha avançado em vários aspectos a escola em questão
permaneceu à margem das ações do poder público e essa
situação tem prejudicado o desenvolvimento de todas as
disciplinas do currículo escolar, não apenas da educação física.
Diante disso, a letargia do poder público tem dificultado a
construção de uma escola do campo de qualidade, que trabalhe
temáticas e conteúdos que respeite, valorize e fortaleça a cultura
e a identidade da população do campo.
Palavras chave: Escola, Educação Básica, Educação do
Campo, Educação Física.
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
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n. 2
p. 433-450
mai./ago.
2018
ISSN: 2525-4863
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Conceição, S., & Brito, P. F. (2018). A Educação Física como componente curricular de uma escola do campo...
The Physical Education as curricular component of a
school of the countryside of the Municipal District
Jitaúna/Bahia
ABSTRACT. This article was elaborated from a case study
carried out at the Pedro Virgínio Municipal School, located in
the district of Santa Terezinha, rural area of the municipality of
Jitaúna/BA (municipality located 383 km from Salvador).
Difficulties for the development of the discipline of Physical
Education, offered for the classes of the sixth to ninth year of
elementary school. For the data collection was used the
observation of the classes and the application of a semi-
structured questionnaire. The study showed that although the
field education legislation has advanced in several respects the
school in question remained on the fringes of public power and
this situation has hampered the development of all disciplines of
the school curriculum, not just physical education. Roughly
speaking, the lethargy of public power has made it difficult to
build a quality school that works on themes and content that
respect, value and strengthen the culture and identity of the rural
population.
Keywords: School, Basic Education, Rural Education, Physical
Education.
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La Educación Física como componente curricular de una
Escuela del Campo del Municipio Jitaúna/Bahia
RESUMEN. El presente artículo fue elaborado a partir de un
estudio de caso realizado en la Escuela Municipal Pedro
Virgínio, ubicada en el distrito de Santa Terezinha, zona rural
del municipio de Jitaúna/BA (municipio ubicado a 383 km de
Salvador), en la cual se buscó analizar las Dificultades para el
desarrollo de la disciplina de Educación Física, ofrecida para las
clases del sexto al noveno año de la enseñanza fundamental.
Para la recolección de datos se utilizó la observación de las
clases y la aplicación de un cuestionario semiestructurado. El
estudio evidenció que aunque la legislación sobre educación del
campo ha avanzado en varios aspectos la escuela en cuestión
permaneció al margen de las acciones del poder público y esa
situación ha perjudicado el desarrollo de todas las disciplinas del
currículo escolar, no sólo de la educación física. En gran
manera, el letargo del poder público ha dificultado la
construcción de una escuela del campo de calidad, que trabaje
temáticas y contenidos que respete, valorice y fortalezca la
cultura y la identidad de la población del campo.
Palabras clave: Escuela, Educación Básica, Educación del
Campo, Educación Física.
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Introdução
O termo Educação Rural foi muito
utilizado até 1988, porém, a partir de 2002,
com a aprovação da Resolução CNE/CEB
Nº. 01 de 03 de abril (as Diretrizes
Operacionais da Educação do Campo)
passou-se a utilizar o termo Educação do
Campo. Assim, a Educação do campo é
uma discussão recente que surgiu uma
década, sendo que essa também é a
contraposição à Educação Rural. Essa foi
marcada por uma cultura dita como
inferior em relação aos centros urbanos e
pelos estereótipos feitos as identidades dos
povos do meio rural.
Segunda Silva e Costa (2006), a
Educação Rural era apenas vista como
espaço físico sem proposta de mudança
dentro das demandas de uma sociedade
capitalista; a Educação do Campo
concebe o campo como lugar de lutas
sociais por uma educação que reafirme a
identidade do campo.
No Brasil atual temos um conjunto
de Leis, Decretos e Diretrizes que
reconhecem a importância de
desenvolvermos uma Educação do Campo
que respeite as especificidades das pessoas
que vivem no campo. Porém, é preciso
destacar que a legislação não garante, por
si só, a melhoria desejada para as escolas
localizadas no meio rural. Além dos
investimentos em infraestrutura, transporte
e alimentação, é necessário que as
universidades promovam, no espaço
acadêmico e em seus currículos, discussões
sobre a temática do campo.
De acordo com o Art. 15 das
Diretrizes Curriculares Nacionais da
Educação Básica a educação física passou
a ser um dos componentes curriculares
obrigatórios da educação básica, devendo a
mesma estar integrada na proposta político
pedagógica das escolas. Em vista disso,
este estudo refletiu sobre a ação
pedagógica da disciplina de educação
física ressaltando o quão é importante a sua
aproximação com a Educação do Campo,
no sentido de colaborar com a formação de
cidadãos críticos e conscientes do seu valor
na sociedade, além de fomentar práticas
corporais que valorizem a cultura corporal
dos campesinos e a sua identidade.
No desenrolar do texto buscamos
analisar as ações pedagógicas que são
priorizadas no currículo de Educação
sica da Escola Municipal Pedro Virgínio,
situada no distrito de Santa Terezinha no
município de Jitaúna/BA, para assegurar o
aprendizado dos alunos campesinos. A
referida escola está anexada ao Colégio
Estadual Valmir Oliveira Gomes, sendo a
única escola localizada no meio rural de
Jitaúna/BA que trabalha com a proposta de
Educação do Campo.
O objetivo geral da pesquisa foi o de
analisar as ações pedagógicas que foram
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priorizadas pela docente no
desenvolvimento da disciplina de educação
física. Nessa perspectiva optou-se pela
metodologia de cunho qualitativo, com a
aplicação de questionário semiestruturado
junto à professora da disciplina de
educação física da escola supracitada, além
do acompanhamento e observação de
algumas aulas durante o ano de 2015. O
questionário semiestruturado possuía um
total de 19 questões, sendo oito questões
fechadas e onze abertas.
O texto está organizado em duas
partes, sendo que na primeira é apresentada
uma discussão sobre o ensino da disciplina
de educação física nas escolas do campo,
com destaque para as contribuições da
dessa no que tange ao desenvolvimento
integral dos discentes. Já na segunda parte
são apresentadas ao leitor algumas
estratégias utilizadas pela professora da
disciplina de educação física frente às
inúmeras dificuldades que lhe são impostas
no cotidiano, para o desenvolvimento do
seu trabalho na Escola Municipal Pedro
Virgínio.
O ensino da disciplina de educação física
na escola do campo
A obrigatoriedade da disciplina de
Educação Física na Educação sica é
garantida pela Lei 9394/96 LDB, que no
artigo 26 afirma que as disciplinas do eixo
obrigatório do currículo devem se adequar
às características de cada região e,
especificamente no § do referido artigo,
dispõe que a Educação Física faz parte do
componente curricular da Educação
Básica.
Art. 26º. Os currículos do ensino
fundamental e médio devem ter uma
base nacional comum, a ser
complementada, em cada sistema de
ensino e estabelecimento escolar, por
uma parte diversificada, exigida pelas
características regionais e locais da
sociedade, da cultura, da economia e
da clientela.
§ 3º. A educação física, integrada à
proposta pedagógica da escola, é
componente curricular obrigatório da
educação básica. (Brasil, 1996).
Nesse contexto, a Educação Física
deve se adequar a Educação do Campo a
perceber que esse espaço também é
produtor de culturas por meio da
identidade dos sujeitos que vivem no
campo. Em vista disso, a educação deve
exercer um papel preponderante no sentido
de legitimar a necessidade de uma política
pública concernente com a Educação do
Campo.
Embora essa Lei represente um
marco para a Educação Física, isso não é
suficiente para garantir o acesso da
disciplina para todos, pois segundo
Taffarel (2008), a Educação Física
enquanto uma dimensão da educação,
constituída como bem cultural, na qual foi
socialmente construída, não se faz presente
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para aproximadamente 70% da população
nordestina. Portanto, será possível
garantir esse direito por meio de lutas, cuja
principal meta seja a reivindicação no
âmbito educacional, ao consolidar
transformações profundas no campo da
Educação Física.
A Educação Física atua na
perspectiva da reflexão sobre a cultura
corporal. É responsável pela ação
pedagógica e social, ao fomentar nos
alunos a construção de movimentos
embasados na interpretação e compreensão
das práticas corporais vivenciadas.
Destarte, a Educação Física fortalece o
compromisso político e pedagógico na
conjuntura educacional do campo,
portanto, se faz necessária como
componente curricular para a conquista de
uma educação de qualidade. A este
respeito, Souza (2008) explica que para
conquistar uma educação do campo de
qualidade, na qual atenda toda população
campesina sem distinção socioeconômica é
necessária que essa luta faça parte das
reivindicações dos movimentos sociais.
Diante dos movimentos existentes no
Brasil o MST é o de maior proeminência,
pois exige do Estado iniciativas para a
educação pública, visando melhorias na
formação de profissionais para atuar nas
escolas do campo e promover a construção
de políticas públicas para a educação do
campo. Molina (2012) robustece a
afirmação de Souza (2008), ratificando:
A pressão e o processo organizativo
desencadeado pela ação social de
reivindicação da garantia de seus
direitos pelos camponeses têm
obrigado diferentes níveis de governo
a criarem espaços institucionais para
o desenvolvimento de ações públicas
que deem conta das demandas
educacionais do campo. Essas
instâncias governamentais tendem a
excluir a materialidade dos conflitos
presentes no campo, revelando uma
compreensão do conflito carregada
de um imaginário negativo, temido e
que necessariamente deve ser
eliminado. (Molina, 2012, p. 592).
Essas reivindicações devem
continuar presentes como pauta dos
movimentos sociais, com o intuito de
aventar a construção de políticas públicas
de Educação do Campo. Visto que ainda
existem poucas escolas localizadas nos
meios rurais, nas quais geralmente é
imposto um modelo de educação com
características urbanas. Segundo Souza
(2008), os movimentos sociais devem
indagar o protótipo de educação rural e
propor uma Educação do Campo que
comungue com políticas e práticas
pedagógicas inerentes aos trabalhadores do
campo.
Diante da complexidade que envolve
o campo torna-se difícil a organização
teórico-metodológica da Educação Física
devido a gama de especificidades existente
no campo, porém, é fundamental que
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exista uma aproximação da Educação
Física com a Educação do Campo para que
ocorra um aprendizado significativo para
os alunos campesinos.
A Educação Física engloba vários
aspectos do movimento corporal humano,
os quais podem ser concebidos por meio
das abordagens: biomecânica, fisiológica,
técnica, sociológica, política, biológica,
psicomotora, filosófica, psicológica,
antropológica e histórica, a fim de
fomentar novos conhecimentos para o
processo de ensino e aprendizagem da
Educação Física.
Dessa maneira, tanto o professor
quanto o aluno exercem papeis
fundamentais nesse processo,
possibilitando uma visão crítica deixando
os alunos cônscios da importância do
ensino da disciplina de Educação Física na
Educação do Campo (Ventorim &
Locatelli, 2009). De acordo com
Albuquerque et al. (2007), a cultura
corporal pode ser compreendida como “a
cultura feita pelo corpo”, em que é
consumida ao ser praticada. Dessa forma,
entendemos por cultura corporal todo
movimento do corpo que transmite
reflexão, prazer e alegria. Nesse sentido,
Ventorim e Locatelli (2009) afirmam que:
Entende-se, então, que, para a
materialização da organização do
processo pedagógico da Educação
Física, pressupõe-se uma nova
concepção do espaço de aula. Este
espaço representa o “espaço de
ação”, de movimento, de diálogo e de
manifestação e expressão da
magnitude das conquistas do homem
em sua existência, que estão
configuradas na forma de saber
escolar/movimento corporal humano.
O momento de
transmissão/apropriação do
conhecimento se constitui na
problematização e compreensão das
relações estabelecidas entre o homem
e a natureza, na luta pela sua
emancipação histórica. Estudar as
manifestações do movimento
corporal humano possibilitaria, dessa
forma, a vivência e a prática das
relações humanas nas dimensões
cultural e social. Entendemos a aula
de Educação Física como espaço
organizado para o estudo com e sobre
o movimento corporal humano.
(Ventorim & Locatelli, 2009, p. 7).
Nessa perspectiva, a disciplina de
Educação Física transcende os aspectos da
técnica, mecânica e passa a abranger
conteúdos que priorizam a cultura corporal
dos movimentos, ao valorizar a cultura
local das distintas comunidades,
principalmente as campesinas. Seguindo
esse itinerário a disciplina estaria
atendendo exatamente o que está indicado
no Art. 28 da LDB de 1996:
Na oferta de educação básica para a
população rural, os sistemas de
ensino promoverão as adaptações
necessárias à sua adequação às
peculiaridades da vida rural e de cada
região, especialmente:
I conteúdos curriculares e
metodologias apropriadas às reais
necessidades e interesses dos alunos
da zona rural;
II organização escolar própria,
incluindo adequação do calendário
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escolar às fases do ciclo agrícola e às
condições climáticas;
III adequação à natureza do
trabalho na zona rural.
O referente artigo aponta que os
sistemas de ensino são responsáveis por
preparar as escolas para o desenvolvimento
de uma educação que atenda às
necessidades dos(as) discentes dessas
regiões, ou seja, conteúdos curriculares e
metodologias apropriadas deverão ser
adotados para atender às peculiaridades da
vida rural, de modo a atender as reais
necessidades e interesses desse público. Há
ainda a preocupação com relação ao
calendário escolar que deverá ser
elaborado levando-se em consideração as
fases do ciclo agrícola e as condições
climáticas. Por fim, mas não menos
importante, é destacada a atenção que
deverá ser dada à natureza do trabalho na
agricultura e por extensão na zona rural.
Cabe ainda ser destacado que o
domínio dos conhecimentos e
metodologias acerca da disciplina de
Educação Física são elementos
fundamentais para que o(a) professor(a)
tome consciência de que não é apenas o
livro didático que lhe ajudará a encarar e
solucionar as problemáticas encontradas na
sala de aula. Ou seja, a reelaboração dos
conhecimentos adquiridos, as experiências
cotidianas e a sua sensibilidade enquanto
docente é que darão suporte para a
resolução dos problemas encontrados na
efetiva aplicação do que está proposto no
Art. 28 da LDB de 1996 (Coletivo de
Autores, 1992
i
).
Dessa maneira, os conteúdos também
podem surgir da problematização da
experiência de vida dos alunos
campesinos, bem como do diálogo entre a
turma, no qual o professor não pode ser
superior aos alunos, deve manter uma
relação de igualdade entre ambos, para
fomentar a emancipação política,
econômica, cultural e social do homem do
campo.
A educação brasileira durante muitos
anos nos meios rurais manteve os alunos
“engessados” sem uma visão crítica sobre
a disciplina de Educação Física, a qual
quando ofertada para a população
campesina funcionava apenas como uma
maneira de diversão, cujo elemento mais
utilizado é o famoso “baba”, no qual o
professor entrega a bola aos alunos
deixando-os à vontade sem discutir ou
problematizar o jogo, priorizando a
diversão ao contrário do aprendizado. No
entanto, essa realidade se faz presente tanto
no campo quanto na cidade.
É sabido que a realidade do campo
possui peculiaridades e especificidades,
tais quais devem ser priorizadas. Nesse
sentido, o professor de Educação Física em
suas aulas deve partir do pressuposto da
realidade de quem vive no campo e lida
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com a terra, ao levar em consideração que
o cotidiano e as necessidades dos sujeitos
do campo são distintos da realidade dos
sujeitos que vivem nas cidades. Dessa
forma, para o campesino mais relevante
que dispor de uma escola próxima a eles é
ter no Projeto Político Pedagógico da
escola propostas que supram as demandas
do campesinato.
Ao romper com o antigo paradigma
de educação rural, a concepção de
Educação do Campo introduz um novo
modelo de educação na conjuntura
educacional brasileira. A partir do
momento no qual o homem do campo sai
do estado de sujeito passivo e torna-se um
sujeito ativo capaz de ressignificar o
próprio aprendizado, adentrando num
mundo concreto, econômico e social. Em
vista disso, a escola deve ser como uma
mola propulsora para a luta dos
campesinos, ao instigar a aquisição do
saber e reavaliar a realidade social dos
alunos. Portanto, o papel primordial da
escola é propiciar meios para que a
educação sirva de emancipação dos alunos
e que estes se tornem indivíduos críticos
frente à realidade que o cercam.
A disciplina de educação física numa
escola do campo de Jitaúna/Bahia
O presente artigo foi elaborado a
partir de uma pesquisa desenvolvida na
Escola Municipal Pedro Virgínio,
localizada no distrito de Santa Terezinha,
zona rural do município de Jitaúna BA,
cuja é anexo do Colégio Estadual Valmir
Oliveira Gomes, sendo a única escola do
município que trabalha com a proposta de
Educação do Campo.
De acordo com o Censo Escolar de
2016 a Escola Municipal Pedro Virgínio
oferece: Ensino Fundamental I (99
discentes), Ensino Fundamental II (76
discentes) e EJA (27 discentes). A
disciplina de Educação Física é oferecida
para todas as turmas, porém, a escola
possui apenas uma professora encarregada
para lecionar a referida disciplina. Em vista
disso, a pesquisa utilizou como
instrumento para análise de dados as
observações das aulas e um questionário
semiestruturado com 19 questões aplicado
com a professora de Educação Física.
A professora possui Licenciatura em
Educação Física e Especialização em
Mídias e Tecnologias na Educação.
Leciona entre 6 a 9 anos, sendo que na
Escola Municipal Pedro Virgínio trabalha
apenas um ano e considera o ambiente
de trabalho da escola agradável.
É sabido que a Educação do Campo
possui especificidades relacionadas ao
campo de atuação pedagógica, por isso,
fez-se necessário questionar se durante a
formação acadêmica da professora foi
disponibilizada alguma disciplina na grade
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curricular do curso que desse suporte para
atuar nas escolas do campo. A resposta da
professora foi “não”, o que não provocou
surpresa, pois ao analisar o currículo das
vinte a duas licenciaturas da Universidade
Estadual do Sudoeste da Bahia
ii
(UESB),
notamos que apenas nos cursos de
Pedagogia (um em cada campus) a
disciplina Educação do Campo tem sido
oferecida. Essa quantidade indica que
menos de 14% das licenciaturas da UESB
se preocupam em preparar seus egressos
pra atuarem nas escolas do campo ou nas
escolas rurais da região, o que reflete um
enorme descaso da instituição frente aos
desafios que os egressos dessas
licenciaturas terão que enfrentar caso
venham a atuar nessas escolas. Ao analisar
o currículo da licenciatura em Educação
Física, do campus de Jequié, notamos que
o prejuízo é ainda maior, pois a nova grade
curricular dessa licenciatura, em vigor a
partir de agosto de 2013, não possui sequer
uma disciplina que trabalhe a temática da
educação do campo. Ou seja, o momento
da reformulação curricular acabou não
sendo usado para que o curso pudesse
atender essa necessidade. Nesse sentido, o
contato dos estudantes dessa licenciatura,
assim como de tantas outras da instituição,
com a temática da educação do campo
tende a ficar refém da sensibilidade de um
ou outro docente.
Com relação à infraestrutura foi
perguntado à professora se a Escola Pedro
Virgínio dispõe de estrutura adequada para
ministrar as aulas de Educação Física, a
docente respondeu que “não”, ao dispor a
seguinte afirmação:
A Escola Pedro Virgínio não oferece
espaço adequado para a realização da
prática da disciplina Educação Física.
As aulas são realizadas na rua e
dentro da própria sala de aula.
(Professora de Educação Física).
No Guia de Orientações
Operacionais (Resolução CD/FNDE 32
de agosto de 2013) está exposto que:
As escolas localizadas no campo de
maneira geral funcionam em prédios
pequenos e muitas vezes em
condições inadequadas de ventilação,
iluminação, cobertura e piso. O
mobiliário escolar desses
estabelecimentos de ensino
carteiras, mesas, quadro de giz,
armários, estantes, etc. , muitas
vezes são inapropriados ou não
condições adequadas ao trabalho dos
professores e ao desenvolvimento das
atividades educativas com os
estudantes. (Brasil, 2013, p. 1).
Diante da situação emergencial
relacionada à estrutura das escolas do
campo o Ministério da Educação (MEC)
dispôs recursos financeiros por meio do
Programa Dinheiro Direto na Escola
(PDDE), do Fundo Nacional de
Desenvolvimento da Educação (FNDE). A
verba é repassada para escolas localizadas
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no campo com o intuito de suprir as
despesas com a manutenção, conservação e
pequenos reparos em suas instalações,
podendo também adquirir móveis
adequados para a escola. O capital também
deverá ser investido para fomentar a
realização de práticas pedagógicas que
visem melhorias para a Educação do
Campo (Brasil, 2013).
Embora exista o PDDE os alunos
campesinos ainda sofrem com a péssima
infraestrutura das escolas do campo. De
acordo com o Censo Escolar de 2009,
realizado pelo Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio
Teixeira (INEP), foi divulgado que 90%
das escolas do campo não possuem
biblioteca, um pouco mais de 8% das
escolas têm disponível laboratório de
informática e aproximadamente 1% das
escolas possuem energia elétrica. Essa é a
cruel realidade da maioria das escolas do
campo no Brasil que historicamente foi
relegada (Brasil, 2009).
Durante as observações das aulas
ficou explícito que a falta de estrutura da
escola impossibilita aulas práticas
adequadas, uma vez que geralmente elas
acontecem na rua ou na própria sala de
aula, cujo espaço é limitado.
As escolas do campo possuem
especificidades que precisam ser
respeitadas, e quando se trata da Educação
Física na Educação do Campo não é
diferente. Por isso, houve a necessidade de
questionar quais ações pedagógicas são
priorizadas no currículo de Educação
Física para assegurar o aprendizado do
aluno. A professora respondeu:
Trabalhar com a teoria e prática na
mesma sintonia no contexto rural é
um pouco dificultoso, mas isso não
impede que seja feita a realização de
projeto de esportes, pois utilizamos o
espaço da cidade, como o ginásio de
esportes.
A luz dos estudos de Rezer (2007)
relacionado com a prática pedagógica da
Educação Física e os elementos didático-
metodológicos, o autor afirma que existe
uma carência de produções que contribuam
com possibilidades de conteúdos
significativos para os professores com
relação ao trato pedagógico da Educação
Física. Seguindo o mesmo viés, foi
questionado de que maneira é possível
planejar a ação pedagógica da Educação
Física no contexto campesino, e a
professora destacou o improviso como
instrumento pedagógico, ao afirmar que,
São feitos projetos, aulas de campo e
para a realização dessas atividades
contamos com o improviso, pois a
falta de material e estrutura é
gritante. (Professora de Educação
Física).
É notório que um dos problemas que
interfere na ação pedagógica da Educação
Física é a falta de estrutura da Escola
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Municipal Pedro Virginio, pois foi
apontado pela docente como algo
“gritante”. A passagem a seguir traz uma
reflexão sobre como fomentar um ensino
de qualidade da disciplina de Educação
Física na Educação do Campo.
Garantir ensino de qualidade na
Educação Física do campo requer nos
comprometermos com a
diversificação e aprofundamento dos
conteúdos, levando os alunos a
conhecerem as várias produções
sistematizadas na Educação Física,
assim como, o desenvolvimento
destes conteúdos no cenário cultural
(suas transformações, história,
mitificações, etc.). Importante
também é considerar as experiências
produzidas pelos sujeitos do campo,
promovendo o diálogo entre saberes
locais e saberes sistematizados, na
perspectiva de ampliar aquilo que é
próprio e de autoria desses sujeitos.
(Ventorim & Locatelli, 2009, p. 8).
Nesse sentido, é fundamental que
ocorra um diálogo entre a Educação Física
e a Educação do Campo, pois o movimento
corporal é imanente ao ser humano, o qual
tornou-se uma das especificidades da
Educação Física. Com isso, é essencial
respeitar e valorizar a cultura corporal dos
campesinos com o intuito de produzir
ações transformadoras, nas quais reflitam
de forma crítica as demandas do contexto
rural.
Diante do entrave de ensinar no
campo em escolas com uma infraestrutura
inadequada tornou-se relevante questionar
quais são as maiores dificuldades
encontradas para ensinar Educação Física
na Escola Municipal Pedro Virgínio? A
professora respondeu:
Como já foi citado nas questões
anteriores à falta de estrutura e a falta
de material são as maiores
dificuldades para a realização das
aulas de Educação Física. (Professora
de Educação Física).
A resposta da professora apenas
ratifica tudo que já foi exposto sobre as
condições precárias referentes à
infraestrutura da escola pesquisada.
Corroborando com a afirmação da docente
os estudos elaborados por Marin et al,
(2010) indicam que a falta de espaço físico
adequado, a falta de material didático, o
difícil acesso ao local de trabalho e a baixa
remuneração são apontados pelos docentes
pesquisados como as principais
dificuldades para a atuação pedagógica da
Educação Física. Esses problemas devem-
se a escassez de políticas educacionais
destinadas a Educação do Campo, ao
corroborar o descaso do Estado com a
população campesina.
Mediante as dificuldades apontadas
relacionadas à escola referida nesse estudo,
foi questionada a docente como essas
dificuldades interferem no seu trabalho? A
professora afirmou que,
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Essas dificuldades enfrentadas pelos
alunos e por mim como professora da
disciplina desmotivam, entristece,
mas por outro lado, isso faz com que
nossa imaginação e vontade de
praticar nossas aulas se tornem cada
vez mais forte. (Professora de
Educação Física).
Conforme o relato da professora as
dificuldades encontradas se tornam
preponderantes para a desmotivação do ato
de ensinar, porém a mesma deixa explícita
que por meio da dificuldade a imaginação
é aflorada. É notório que o maior problema
destacado pela professora para ministrar as
aulas de Educação Física é realmente a
falta de infraestrutura da escola, na qual foi
apontada na referente pesquisa em mais de
uma resposta, o que deixa evidente o quão
se torna agravante o problema exposto. No
entanto, além de condições adequadas para
o ensino da Educação física também é
necessário à oferta de formação continuada
específica para os profissionais que atuam
nas escolas do campo. A passagem a seguir
esclarece bem essa questão.
... a objetivação de mudanças na ação
pedagógica da Educação Física no
contexto rural mais do que melhoria
das estruturas físicas e materiais
implica, necessariamente, formação
acadêmica que leve em conta a
especificidade rural, formação
continuada dos professores, produção
de conhecimento sobre a temática, a
fim de que também possa contribuir
para o desenvolvimento do meio
rural. (Marin, et al., 2010, p. 13).
A luz do estudo de Marin et al.,
(2010), é relatado que os professores
pesquisados apontam a formação
continuada ser uma das principais
necessidades para a superação das
dificuldades encontradas referente ao
desenvolvimento da disciplina de
Educação Física nas escolas pertencente ao
meio rural.
Conforme Molina (2012) apenas a
garantia de direitos formais no que tange a
população do campo não é suficiente para
assegurar um ensino de qualidade aos
campesinos. Diante disso, é necessário que
o Estado adote uma conduta
intervencionista, com o intuito de
promover políticas específicas, além de
oferecer formação continuada aos
professores, a fim de minorar as
incomensuráveis perdas, as quais os
sujeitos do campo sofreram ao longo da
história no que se refere à educação.
Portanto, uma alternativa capaz de
melhorar o ensino nas escolas do campo é
a oferta de formação continuada aos
professores que lecionam no campo e
acreditam que os campesinos não podem
de maneira alguma ser privados do direito
a educação.
Ao saber das dificuldades que
interferem no trabalho docente foi
necessário questionar como essas mesmas
dificuldades interferem no aprendizado dos
alunos. A professora esboçou mais uma
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vez sobre a falta de estrutura adequada da
escola, ao dizer que,
A falta de uma quadra poliesportiva é
um fator extremamente negativo,
pois os alunos aprendem as regras
dos esportes na teoria, mas não
possuem uma quadra para praticar o
que aprenderam. (Professora de
Educação Física).
Novamente a professora aponta o
problema da infraestrutura como um
agrave, porém, dessa vez é concernente ao
aprendizado dos alunos. Obviamente a
precária infraestrutura da escola torna-se o
principal obstáculo para o
desenvolvimento da qualidade da
disciplina de Educação Física na Educação
do Campo, tendo em vista que um
ambiente com condições favoráveis
possibilita um melhor aprendizado, assim
como a falta de estrutura adequada não
atende as necessidades dos campesinos.
Por conseguinte, a estrutura física da
escola influencia diretamente na ação
pedagógica da disciplina durante as aulas.
Quando questionada sobre os
procedimentos metodológicos utilizados
diante das dificuldades encontradas nas
aulas a professora respondeu:
Após as aulas teóricas de Educação
Física eu realizo sempre a
visualização do conteúdo com vídeos
e fotos que a prática para a fixação
de regras de futebol, vôlei, handebol
na rua é um tanto inadequado.
(Professora de Educação Física).
A desmotivação relacionada às aulas
práticas está explícita nas palavras da
professora. A precarização das escolas do
campo ocorre em detrimento à priorização
das escolas urbanas por parte dos
governantes das cidades, os quais se
esquecem das necessidades do
campesinato. Em relação à inadequação
das aulas práticas serem realizadas na rua
concordamos com a professora, pois a
segurança dos alunos é posta em risco
devido o contato direto com os veículos de
transporte. O fato de o distrito ser pequeno
e haver pouco movimento dos carros
ameniza a situação, porém, a prática de
atividades na rua continua a ser
inadequada. Em vista disso, os
procedimentos metodológicos adotados são
limitados devido ao espaço das aulas
práticas serem inapropriados.
Diante das especificidades existentes
no campo foi questionado que tipos de
atividades são priorizados sem causar
prejuízos aos alunos que vivem num
contexto tão plural, tão diverso como o
meio rural:
Utilizo o ambiente a meu favor,
promovo caminhadas, maratona,
passeio ciclístico pelas vias do
distrito já que o movimento de carros
é quase inexistente, portanto se torna
seguro e divertido realizar essas
atividades e junto à prática ensino
conteúdo como atletismo. (Professora
de Educação Física).
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Mesmo com todas as limitações já
apontadas pela professora nas questões
anteriores, notamos que a mesma consegue
utilizar as dificuldades encontradas a seu
favor, ao promover atividades adequadas
ao ambiente que dispõe, ou seja, de alguma
maneira a docente usa sua criatividade para
desenvolver os conteúdos da disciplina de
educação física.
A inerência das práticas corporais
com a Educação Física introduz um
compromisso político pedagógico da
disciplina na conjuntura educacional do
campo. Devido ao fato dos sujeitos do
campo estar constantemente em
movimento é necessária uma intervenção
pedagógica e social capaz de fomentar uma
cultura corporal por meio das práticas
corporais proporcionadas pela escola do
campo adequada aos campesinos.
Para Ventorim e Locatelli (2009) a
perspectiva de apresentar fundamentos que
possam orientar a organização teórica e
metodológica da disciplina de educação
física na educação do campo pode se tornar
uma tarefa complexa diante das diferentes
e singulares formas de expressão das
práticas educativas no campo,
especialmente quando se tomam como
referência os espaços e tempos em que
acontecem, os conhecimentos a serem
transmitidos/construídos, as abordagens
metodológicas de ensino, a formação
docente, as condições objetivas e
estruturais, enfim, um conjunto de
elementos que fundamentam os processos
educativos.
Ao findar o questionário foi
perguntado à docente quais as
contribuições da disciplina de Educação
Física para os alunos campesinos. A seguir
a professora esboçou suas considerações:
A disciplina de Educação Física é de
fundamental importância, pois ela
não trata apenas sobre os aspectos e a
prática dos mesmos. Ela leva aos
campesinos conhecimentos como os
benefícios que a prática de atividade
física pode trazer a vida do indivíduo,
na prevenção e no tratamento de
doenças. (Professora de Educação
Física).
Relacionado à importância da
disciplina de Educação Física para os
alunos campesinos a professora indicou um
elemento novo, o qual não foi mencionado
nas questões anteriores que foi os
benefícios que a prática de atividade física
proporciona a saúde bem como na
prevenção de doenças e no tratamento das
mesmas. Destarte, a professora na sua
afirmação evidencia que a Educação Física
também se configura como uma área do
conhecimento que incentiva a promoção da
saúde.
Nesse sentido, por meio das práticas
corporais é possível estabelecer um diálogo
entre a Educação Física e a Educação do
Campo. Por conseguinte, a disciplina
referida ressalta a importância que ocupa
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entre os sujeitos do campo, ao viabilizar
atividades possíveis e significativas para
esse espaço, a fim de atender as
necessidades da população campesina.
Considerações finais
O legado da educação no contexto
rural é representado pelo modelo
importado da educação urbana que apenas
contribui com o paradigma da reprodução
social. Durante muitas décadas o ensino
ofertado para a população do campo era
cunhado como educação rural, no qual não
estabelecia uma relação com a realidade e
as necessidades dos campesinos. Em meio
a tantas reivindicações por parte dos
movimentos sociais, principalmente do
MST, eclodiu uma nova proposta de
educação intitulada de Educação do
Campo, ao primar por um ensino de
qualidade, respeitando e valorizando a
cultura e identidade da população do
campo.
Em vista da singularidade presente
na educação do campo vale ressaltar que
entre as principais dificuldades apontadas
ao longo desse texto que interferem no
ensino e, consequentemente, na
aprendizagem dos alunos, destacamos a
falta de material didático para ser utilizado
nas aulas e a precária infraestrutura da
escola pesquisada, especialmente no que
concerne a disciplina de Educação Física
com relação às aulas práticas, pois a escola
em questão não possui sequer espaço
adequado para o desenvolvimento das
aulas, expondo os alunos a riscos
completamente desnecessários. Para além
do avanço da legislação que trata do tema
(leis, decretos e resoluções) o que ainda é
fica muito evidente é um forte descaso do
poder público com a Educação do Campo,
não apenas com o desenvolvimento da
disciplina de educação física. Outro
aspecto notado durante a fase da pesquisa
de campo na escola é que ainda existe uma
defasagem na construção do Projeto
Político Pedagógico no que diz respeito
aos conteúdos que devam ser trabalhados
na escola e essa responsabilidade recai
diretamente nos ombros daqueles que
efetivamente pensam a escola em questão
(diretores, coordenação pedagógica e
professores), que preferem continuar
aplicando o modelo importado das escolas
urbanas.
Embora seja difícil ensinar Educação
Física na escola aqui destacada notamos
que a tarefa não chega a ser impossível.
Porém, é necessário construir
procedimentos metodológicos e materiais
pedagógicos que levem em consideração as
características do campo e para as pessoas
que vivem, com o intuito de valorizar a
cultura e a identidade da população do
campo. Pois isso tende a favorecer a ação
pedagógica de todas as disciplinas
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presentes no currículo, não apenas da
Educação Física.
Por fim, gostaríamos de destacar que
é essencial que as universidades (públicas
e privadas) promovam nos currículos de
suas licenciaturas a inserção de disciplinas
ou temáticas específicas da realidade do
campo, para que os futuros educadores
disponham das ferramentas necessárias
para a promoção de uma educação de
qualidade nas escolas do campo.
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http://www.anpae.org.br/congressos_antig
os/simposio2009/327.pdf
i
Coletivo de Autores é a denominação dada aos
seis autores do livro Metodologia do Ensino de
Educação Física, publicado em 1992, pela editora
Cortez. Nesta obra não é possível identificar qual
autor(a) elaborou cada capítulo que compõe a obra
citada. Este livro se tornou uma referência
importante no campo da produção do conhecimento
em Educação Física, configurando-se como leitura
imprescindível aos que atuam com a Educação
Física escolar. Link pra acessar a referida obra:
https://fefd.ufg.br/up/73/o/Texto_49_-
_Coletivo_de_Autores_-
_Metodologia_de_Ensino_da_Ed._Fsica.pdf
ii
As licenciaturas da UESB estão assim
distribuídas em cada campus: 10 em Vitória da
Conquista, 8 em Jequié e 4 em Itapetinga. A
pesquisa aqui apresentada esteve sediada no Centro
Interdisciplinar de Pesquisa Agroambiental
(CIPAM), localizado no campus de Jequié.
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Informações do artigo / Article Information
Recebido em : 02/06/2017
Aprovado em: 13/06/2017
Publicado em: 07/05/2018
Received on June 02nd, 2017
Accepted on June 13th, 2017
Published on May 7th 2018
Contribuições no artigo: Os autores declaram que o
artigo é resultado da produção dos próprios autores em
questão, tendo os mesmos desenvolvidos as seguintes
atividades: elaboração, análise, interpretação dos dados,
escrita, leitura e revisão de conteúdo do mesmo. Os
autores declaram ainda que foram os responsáveis pela
aprovação da versão final a ser publicada.
Author Contributions: The authors were responsible for
the designing, delineating, analyzing and interpreting the
data, production of the manuscript, critical revision of the
content and approval of the final version to be published.
Conflitos de interesse: Os autores declararam não haver
nenhum conflito de interesse referente a este artigo.
Conflict of Interest: None reported.
Orcid
Silvano da Conceição
http://orcid.org/0000-0002-3577-2268
Poliana Freitas Brito
http://orcid.org/0000-0002-1137-7984
Como citar este artigo / How to cite this article
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Conceição, S., & Brito, P. F. (2018). A Educação Física
como componente curricular de uma escola do campo do
município Jitaúna/Bahia. Rev. Bras. Educ. Camp., 3(2),
434-450. DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-
4863.2018v3n2p433
ABNT
Conceição, S.; Brito, P. F. A Educação Física como
componente curricular de uma escola do campo do
município Jitaúna/Bahia. Rev. Bras. Educ. Camp.,
Tocantinópolis, v. 3, n. 2, mai./ago., p. 434-450, 2018.
DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-
4863.2018v3n2p433
Revista Brasileira de Educação do Campo
The Brazilian Scientific Journal of Rural Education
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Educação do Campo adaptando todos pedagógicos:
proposta para EJA sem evasão nas comunidades
quilombolas
Iêda Ribeiro Rodrigues
1
, Haroldo de Vasconcelos Bentes
2
1
Universidade Federal do Pará - UFPA. Faculdade de Formação e Desenvolvimento do Campo - FADECAM. Campus
Abaetetuba. Rua Manoel de Abreu, s/n°, Mutirão. Abaetetuba - PA. Brasil.
2
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
do Pará
Autor para correspondência/Author for correspondence: iedaribeirorodrigues@gmail.com
RESUMO. O presente artigo propõe a inclusão de
procedimentos pedagógicos que valorizem a cultura local nas
turmas da EJA de duas escolas de comunidades quilombolas.
Objetiva-se a partir deste método, a participação regular do
aluno na escola, propondo assim a redução no índice de evasão
escolar através da modificação do ensino em sala de aula.
Apresenta-se relatos de alunos e professores onde justifica-se o
problema da evasão. Sugere-se dinâmicas diferenciadas
exemplificadas na disciplina de Filosofia de Educação com uma
das turmas de Educação do Campo (UFPA). No campo teórico
defende-se um ensino que prioriza as especificidades dos
sujeitos da EJA e da cultura local. Contextualizando com
Haroldo Bentes (2010; 2016), Caldart (2000; 2012) e Diretrizes
Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental, Escolas do
Campo e Educação Quilombola. Dentro dos fundamentos
metodológicos aborda-se a integração de métodos pedagógicos
adaptados de acordo com a cultura local. Dialoga-se sobre o
entrosamento e interesse do aluno da EJA com as disciplinas.
Norteia-se no final que a troca de saberes professor-aluno
estimula o crescimento socioeducacional. Incentivando a
permanência do aluno na escola e reduzindo o índice de evasão
escolar.
Palavras chave: EJA, Evasão, Método Pedagógico, Educação
do Campo.
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Rodrigues, I. R., & Bentes, H. V. (2018). Educação do Campo adaptando métodos pedagógicos...
Rural Education adapting pedagogical methods: proposal
for Youngsters and Adults Education without evasion in
the quilombolas communities
ABSTRACT. This article proposes the inclusion of pedagogical
procedures that value the local culture in the EJA classes of two
schools of quilombola communities. The objective of this
method is the regular participation of the student in the school,
thus proposing the reduction in the school dropout rate through
the modification of classroom teaching. We present reports of
students and teachers where the problem of avoidance is
justified. It is suggested differentiated dynamics exemplified in
the discipline of Philosophy of Education with one of the classes
of the Rural Education (UFPA). In the theoretical field it is
defended a teaching that prioritizes the specificities of the
subjects of the Youngsters and Adult Education (YAE) and the
local culture. Contextualizing with Haroldo Bentes (2010,
2016), Caldart (2000; 2012) and National Curricular Guidelines
for Elementary Education, Countryside Schools and Quilombola
Education. Within the methodological foundations it is
approached the integration of pedagogical methods adapted
according to the local culture. It discusses the interaction and
interest of the student of the YAE with the disciplines. It was at
the end that the exchange of teacher-student knowledge
stimulates socio-educational growth. Encouraging the student to
stay in school and reducing the level of school dropout.
Keywords: Youngsters and Adult Education, Evasion,
Pedagogical Method, Rural Education.
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Educación del Campo adaptando métodos pedagógicos:
propuesta para EJA sin evasión en las comunidades
cimarrones
RESUMEN. En este artículo se propone la inclusión de
procedimientos pedagógicos que mejoran la cultura local de las
clases EJA de dos escuelas de las comunidades de quilombos. El
propósito es de este método, la participación de los estudiantes
regulares en la escuela, proponiendo así una reducción en la tasa
de deserción mediante la modificación de la enseñanza en el
aula. Presenta informes de los estudiantes y profesores que han
justificado el problema de la evasión. Se sugiere dinámica
diferenciada ejemplificada en la disciplina de la filosofía de la
educación con una de las clases de Educación campo (UFPA).
En teoría defiende una enseñanza que hace hincapié en los
aspectos específicos del tema de la educación de adultos y la
cultura local. Contextualizando con Haroldo Bentes (2010;
2016), Caldart (2000; 2012) y las Directrices Curriculares
Nacionales para la Educación Primaria, Educación y Escuelas de
Campo Quilombola. Dentro de los aspectos metodológicos
aborda la integración de los métodos de enseñanza adaptados
según la cultura local. si el diálogo sobre la relación y el interés
del estudiante con las disciplinas EJA. está guiado en el extremo
de que el intercambio de conocimiento social y educativo
profesor-alumno estimula el crecimiento. Fomentar el estudiante
permanecerá en la escuela y la reducción de la tasa de abandono.
Palabras clave: Educación para Adultos, La Evasión, El
Método Pedagógico, La Educación Rural.
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Rodrigues, I. R., & Bentes, H. V. (2018). Educação do Campo adaptando métodos pedagógicos...
Introdução
A Educação de Jovens e Adultos
(EJA) é resultado de um histórico marcado
pelas lutas dos movimentos sociais. De
acordo com Maria Nalva de Araújo (2012),
foi a partir da Constituição de 1934 que
emergiu a preocupação com o ensino de
adultos, dando continuidade com o Plano
Nacional de Educação (PNE). A primeira
Campanha Nacional de Alfabetização de
Jovens e Adultos se deu somente em 1947,
pela iniciativa do Ministério de Educação e
Saúde. Foi marcada por um regime
autoritário que impedia princípios de
conscientização, participação e
transformação social na Educação de
Adultos. Além disso, foi pela iniciativa de
movimentos sociais em busca da
alfabetização para trabalhadores do campo,
que surge a EJA, assim “pode-se perceber
que a EJA no meio rural começa quando as
pessoas se conscientizam da necessidade
de educação” (Araújo, 2012, p. 256).
A relevância dessa temática associa-
se à importância de introduzir métodos
pedagógicos adaptados à cultura local,
objetivando um ensino motivador aos
alunos do campo. Para chegar aos
resultados correspondentes, realizou-se três
pesquisas com a turma de educação do
campo/2015. Nas comunidades de
Murutinga (tempo comunidade I), Ramal
de Piratuba (atividade de pesquisa) e Rio
Baixo Itacuruçá (tempo comunidade II),
pertencentes ao município de
Abaetetuba/PA.
As Diretrizes Curriculares Nacionais
para o Ensino Fundamental afirmam que
“as escolas deverão explicitar em suas
propostas curriculares, processos de ensino
voltados para as relações com sua
comunidade local, regional e planetária”
(Brasil, 2002, p. 1) estabelecendo assim
uma relação entre ensino e vida cidadã.
Além do que diz no Art. 28 da LDB
(9.394/96), que “na oferta de educação
básica para a população rural, os sistemas
de ensino promoverão adaptações
necessárias a sua adequação às
peculiaridades da vida rural e de cada
região”.
No âmbito dessas diretrizes e com
vistas ao problema de evasão nas escolas
de comunidades quilombolas e do campo,
propõe-se a inclusão de procedimentos
pedagógicos adaptados às culturas locais
nas turmas da EJA, visando estabelecer
uma relação escola-origem-cultura.
Objetiva-se, contudo, que as
especificidades desses sujeitos se adentrem
no ambiente escolar, para que seja
resgatado o interesse da escola pelos
conhecimentos locais, ao incentivar o
aluno a participar das atividades
interdisciplinares com mais liberdade de
expressão.
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Rodrigues, I. R., & Bentes, H. V. (2018). Educação do Campo adaptando métodos pedagógicos...
Diante dessa relação escola-origem-
cultura, busca-se a compreensão voltada a
espaços e tempos específicos do aluno, de
maneira que essa instituição apresente uma
construção de saberes com a comunidade e
seus alunos, e assim “atender às
necessidades humanas, pedagógicas,
políticas e culturais desses sujeitos”
(Bentes & Lima, 2010, p. 7).
Na disciplina de Filosofia da
Educação, ministrada pelo professor Dr.
Haroldo Bentes, Campus da UFPA de
Abaetetuba na turma de Educação do
Campo/2015, observou-se que o método
utilizado nas aulas trouxe clareza no
entendimento da disciplina. Além disso, a
troca de saberes professor-aluno contribuiu
para novas ideias relacionadas aos temas
abordados na disciplina. Tomou-se como
exemplo as metodologias utilizadas pelo
professor como proposta para um ensino
inovador aos alunos do campo. Com base
nos dados sistematizados sobre conceitos e
avaliação da disciplina, nos campus de
Acará e Abaetetuba, pôde-se observar que
os alunos do campo conseguiram participar
e evoluir a partir de um conjunto de
saberes.
A comunicação e troca de saberes
entre professor e aluno são cruciais para o
crescimento do ensino-aprendizagem. A
pesquisa apresenta os seguintes objetivos
com a adaptação de métodos pedagógicos
nas turmas da EJA: resgatar os saberes que
originaram a cultura de um povo; orientar a
importância da preservação dos recursos
naturais; excluir paradigmas e falácias
sobre os alunos da EJA; dar liberdade de
expressão ao aluno dialogando com seus
saberes; motivar a participação frequente
do aluno na escola; e incentivar o papel de
liderança e valorização do aluno na
comunidade.
Métodos pedagógicos adaptados
auxiliando o ensino da EJA contra a
evasão escolar
Foram realizadas pesquisas de campo
(UFPA, 2016) nas comunidades de Ramal
de Murutinga (PA 151), Ramal de Piratuba
(PA 252) e Rio Baixo Itacuruçá. Na
pesquisa realizada com crianças e adultos
do Ramal de Murutinga, na escola
Benedita Lima de Araújo, o que chamou
atenção durante as atividades efetuadas foi
a maneira em que os adultos se
comportavam quando participavam das
atividades, ao tratar de seus saberes e
culturas. O objetivo da pesquisa era
descrever sobre o léxico e através de
desenhos representar sua história, origem e
realidade. Na parte da manhã foram feitas
atividades com as crianças e a tarde com
crianças e adultos da comunidade. No
primeiro momento os adultos
demonstraram estranhamento, mas com
muita dinâmica e diálogo eles passaram a
transmitir seu talento nos desenhos. Ao
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contar suas histórias conseguiram construir
o mapa da comunidade desde o seu início.
Destacou-se, portanto, o entusiasmo e
dedicação no que faziam.
A segunda pesquisa foi realizada
através de uma atividade de campo para a
construção de um pré-projeto. A docente
solicitou que os alunos fossem a campo em
busca de um problema em sua
comunidade. Pela experiência de vida na
comunidade de Piratuba e na escola Nossa
Senhora do Perpétuo Socorro, realizou-se a
pesquisa com base no número reduzido de
alunos da EJA na escola.
No intuito de contribuir com essas
afirmações destaca-se a terceira pesquisa
do tempo comunidade, realizada na
comunidade quilombola do Rio Baixo
Itacuruçá. Apresentou-se de acordo com o
relatório final, um grande número de
jovens e adultos que não frequentam escola
e não concluíram o ensino fundamental.
Enfoca-se, portanto, que as duas
comunidades Ramal de Piratuba e Rio
Baixo Itacuruçá são comunidades
remanescentes de quilombos e que ambas
apresentaram um problema em comum: a
evasão de alunos na EJA. Ao considerar
tais semelhanças associa-se com as
observações feitas na primeira pesquisa
(Ramal de Murutinga) sobre a entrega dos
adultos nas atividades enquanto relatavam
sua história de vida em seus próprios
desenhos. Nas entrevistas realizadas com
ex-alunos da EJA na comunidade de
Piratuba, relata-se que o método
tradicional tornou-se cansativo e
desmotivador, pois devido ao cansaço do
trabalho agrícola não conseguiam se
concentrar nas aulas, tendo dificuldades
em compreender os assuntos, o que causou
desinteresse para frequentar as aulas.
Contribui-se com os relatos da
professora M. G.- docente em turmas da
EJA de primeira e segunda etapa do ensino
fundamental:
Trabalho com EJA em escolas da
comunidade rural mais de dez
anos e vejo que se o professor não
adaptar a forma de ensino, os alunos
abandonam a turma. Pois é muito
complicada a situação deles,
trabalham muito. Por isso gosto de
incluir a cultura deles nas aulas e eles
gostam muito.
Com base no que foi identificado na
pesquisa da comunidade de Murutinga
(figuras 1 e 2) confeccionou-se jogos com
fotografias de frutas da localidade,
artesanato feito pelas alunas e mapas com
fotografias da própria localidade. A
atividade foi realizada em sala de aula,
observou-se que o comportamento desses
alunos no momento das atividades foi
parecido com o dos adultos da comunidade
de Murutinga, pois transmitiram todo seu
talento e criatividade de maneira prazerosa,
mas sem cansaço, sem reclamar, o que
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contribuiu com o objetivo do professor em
sala de aula.
Figuras 1: Tempo comunidade no Ramal de Murutinga.
Fonte: Relatório Prática Pedagógica I. UFPA/ 2016a.
Figura 2: Desenho do Mapa da comunidade de Murutinga feito por um adulto participante.
Fonte: Relatório Prática Pedagógica I. UFPA/ 2016a.
Todo o material utilizado nas
dinâmicas foi confeccionado com base nos
assuntos atribuídos à aula do dia. Os
resultados foram gratificantes, os alunos
perderam a vergonha de expressar-se,
indicaram-se para contribuir com materiais
para a próxima aula, além de assumirem
um compromisso em participarem das
aulas. Percebeu-se que estavam felizes
com o papel importante que lhes foi
atribuído na turma, pois o próximo plano
de aula dependia da sua participação para
ser elaborado.
Observou-se ainda que, embora seja
uma comunidade quilombola, não foram
identificadas características culturais
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presentes na escola e nem são
comemoradas datas referentes à cultura
quilombola. Contudo, despertar o interesse
dos alunos, principalmente os adultos
nesse contexto cultural é uma forma de
resgatar suas culturas, trazendo suas
origens para dentro da escola como arte.
Na pesquisa realizada na comunidade
quilombola Rio Baixo Itacuruçá, foram
entrevistados 174 alunos de ensino
fundamental da Escola Santo André.
Destaca-se que um dos maiores problemas
na comunidade foi a crescente quantidade
de jovens e adultos que estão fora da
escola e que não concluíram o ensino
fundamental pelo grande motivo da evasão
escolar. A escola não dispõe do
funcionamento da EJA e não contribui com
métodos de ensino diversificados com base
nas especificidades de cultura quilombola,
mas está incluída em cadastro quilombola
pelo Ministério da Educação.
Os alunos citaram a escolaridade de
seus pais e identificou-se, a partir de suas
respostas, que a grande dificuldade para o
prosseguimento dos estudos é o trabalho,
relacionado à olaria, pesca e manejo de
açaí, o que tirou desses cidadãos a
disponibilidade de frequentar a escola. O
resultado referente à escolaridade de seus
pais (figura 3) é agravante com relação à
população, sendo que se trata de uma
comunidade pequena. A proposta de
adaptação de métodos pedagógicos surge
com o intuito de trazer para a sala de aula
os alunos e seus saberes, pois diante a
essas pesquisas observou-se que esses
sujeitos dispõem de uma cultura rica em
arte, mas que ainda é desconhecida por
eles, pois diante de muito trabalho, existem
talentos que dependem de criatividade,
esforço físico, sabedoria, resistência,
paciência, estratégia, eficácia e dedicação.
Nesse contexto propõe-se juntar os saberes
professor-aluno e tornar um ambiente
escolar agradável que favoreça a
aprendizagem desses alunos. Na figura
abaixo está representada a escolaridade dos
pais de 147 alunos da comunidade Rio
Baixo Itacuruçá. Dados preocupantes para
uma comunidade com pequena população.
Figura 3: Escolaridade dos pais dos alunos entrevistados do Rio Baixo Itacuruçá.
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Fonte: Relatório Tempo Comunidade da disciplina Prática Pedagógica II-UFPA/2016b.
Segundo a entrevista do professor
Neidson Rodrigues (1998, p. 49)
“geralmente os educadores, os filósofos da
educação quando entram para o campo da
educação eles tem uma tendência a
desviarem a sua reflexão ou para o campo
da ética, ou para o campo da religião”
trazendo um ensino que dificulta o
entendimento do aluno, o que o desmotiva
e o torna insatisfeito por não conseguir
compreender os objetivos da disciplina e
sua importância no percurso acadêmico.
No contexto de adaptação de
métodos pedagógicos, apresentam-se os
dados sistematizados referentes a conceitos
e avaliação da disciplina de Filosofia da
Educação ministrada pelo professor
Haroldo Bentes (2016a), nos Campus da
UFPA de Abaetetuba e Acará nas turmas
de Educação do Campo, o qual o ensino se
voltou às especificidades dos alunos ao
dialogar o local-global, destacando o
sujeito do campo como pesquisador e
articulador de saberes que compõem uma
sociedade em geral. O docente conseguiu
através de seus métodos transformar uma
disciplina atribuída “polêmica” e “difícil”,
pela linguagem diferenciada da linguagem
do campo, ao contextualizar saberes
filosóficos com saberes locais. Além disso,
foi atribuído ao homem do campo o papel
de mediador de saberes.
Como exemplo a essas afirmações,
cita-se uma dinâmica sobre as correntes
filosóficas, a qual apresentou o conceito e
entendimento de racionalismo, por meio de
uma canção do “sertanejo de raiz”, de
Almir Sater: “Tocando em Frente”. No
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verso da segunda estrofe a qual diz:
“Conhecer as manhas e as manhãs, o sabor
das massas e das maçãs”, explicou-se que a
razão faz surgir mais de um elemento. Nas
palavras “manhas” e manhãs”, a única
razão para identificar dois elementos
diferenciados é a acentuação: o til. Nota-se
que um simples acento deu resultados a
dois objetos de investigação. A liberdade
de expressão para o aluno do campo é uma
espécie de “bicho papão”, pois o medo o
faz duvidar de sua capacidade.
Destaca-se ainda os conceitos
atribuídos aos alunos do Campus de Acará
(figura 4), na disciplina Filosofia da
Educação, corroborando que os alunos
apresentaram nível satisfatório e
participativo pelo método desenvolvido na
disciplina, a qual possibilitou uma troca de
saberes professor-aluno.
Figura 4: Conceito dos alunos (Acará).
Fonte: Conceito da Disciplina Filosofia da Educação na UFPA/ Campus Acará. Bentes, 2016a.
Analisa-se os conceitos dos alunos
da turma de Educação do Campo/2015 da
UFPA Campus Abaetetuba (figura 5), na
Disciplina de Filosofia da Educação, como
resultados de compreensão da disciplina e
da percepção sobre o local-global. Isso fez
com que os objetivos da disciplina fossem
atendidos e reconhecido o papel do homem
do campo como filósofo da Educação.
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Figura 5: Conceito dos alunos (Abaetetuba).
Fonte: Conceito da Disciplina Filosofia da Educação na UFPA/ Campus Abaetetuba. Bentes, 2016a.
Na avaliação dos alunos sobre a
disciplina de Filosofia da Educação das
turmas Acará e Abaetetuba (figura 6),
relata-se as afirmações dos alunos a
respeito do método utilizado na disciplina.
Conclui-se que o ensino pode ser de
qualidade nas turmas de Educação do
Campo, a partir do método adaptado aos
educandos dentro de seus conhecimentos.
Acredita-se que quando integração dos
conhecimentos do aluno ao conteúdo do
professor, o ensino se torna mais dinâmico
e interessante pela troca de saberes. Com
base nessas dinâmicas de ensino e nas
pesquisas do tempo comunidade, pode-se
constatar que o ensino para alunos do
campo (quilombolas, indígenas, ribeirinhos
e demais), deve ser repensado e adaptado
de acordo com seus saberes, o que
contribui com a participação desses alunos,
seu entrosamento e interesse em sala de
aula.
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0
Nº de
Alunos
2
4
INSUFICIENTE
REGULAR
BOM
EXCELENTE
10
8
6
12
14
16
CONCEITO DOS ALUNOS
(CAMPUS ABAETETUBA)
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Figura 6: Avaliação da Disciplina de Filosofia da Educação.
Fonte: Avaliação da Disciplina Filosofia da Educação na UFPA. Bentes, 2016a.
Diante desses resultados prossegue-
se com o que diz no Art. 28 da lei 9.394,
“adaptar conteúdos curriculares e
metodologias apropriadas as reais
necessidades e interesses dos alunos da
zona rural” (LDB, 1996), pois os jovens e
adultos possuem suas riquezas através de
saberes que podem ser dialogados, no
contexto do ensino-aprendizagem
i
.
Assim como as turmas de Educação
do Campo de Abaetetuba e Acará que se
destacaram na disciplina de Filosofia da
Educação pelo método de ensino aplicado,
de certa forma os alunos da EJA também
estarão fazendo uma participação ativa e
influente durante seu momento em sala de
aula, se o método de ensino for favorável.
Quando Caldart (2002) destaca sobre uma
educação ‘No’ e ‘Do campo, refere-se a
uma educação que deve acontecer em seu
lugar de origem, “No” seu espaço, e “Do”
seu modo de viver adequada à sua
participação, “vinculada à sua cultura e às
suas necessidades humanas e sociais”
(Caldart, 2002, p. 18).
À medida que se reformulam os
conteúdos de ensino, “direcionando o foco
no sujeito aprendiz, e sob a ótica que todos
aprendem e ensinam na relação professor-
aluno” (Bentes, 2013, p. 188), valoriza-se a
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Rodrigues, I. R., & Bentes, H. V. (2018). Educação do Campo adaptando métodos pedagógicos...
história, a origem, o trabalho, as
ferramentas dos sujeitos envolvidos no
processo dialético, sabendo-se que “a
escola é um lugar muito próprio para
recuperar e trabalhar com ‘tesouros’ do
passado” (Caldart, 2000, p. 41). Sob esta
diretriz os sujeitos adultos passarão a ser
protagonistas do que está sendo ensinado,
ao sentirem-se abertos para dialogar sem
medo de cometer erros, dando ênfase à
memorização das atividades de ensino.
Dialoga-se, entretanto, que “o interesse é o
principal pilar da memória, nós
memorizamos com bastante facilidade tudo
aquilo que nos interessa” (Dell’Isola, 2009,
p. 28).
Redescobrir-se a partir de um olhar
interno é o caminho à manutenção
identitária. A EJA no ensino fundamental,
dentro dessas modificações no método de
ensino, favorece a alfabetização
cientificamente, quando os conhecimentos
são descobertos e integrados
interdisciplinarmente, pois “talvez seja este
o sentido mais exato da alfabetização:
aprender a escrever a sua vida, como autor
e como testemunha de sua história, isto é,
biografar-se, existenciar-se, historicizar-
se” (Freire, 1987, p. 5).
A EJA como processo identitário de
valorização e aprendizagem da cultura
quilombola
A Educação de Jovens e Adultos
surgiu a partir das lutas de movimentos
sociais do campo com uma perspectiva
que vai além da escolarização” (Araújo,
2012, p. 252). Nesse processo foram
considerados também os aprendizados
desses sujeitos, suas experiências de lutas e
trabalho, origens e culturas, sem negar a
importância fundamental da educação
escolar como fortalecimento do
conhecimento social que é compartilhado
pela humanidade.
São diversos os fatores que negaram
a esses jovens sujeitos do campo e da
cidade o direito ao acesso e permanência
na educação escolar. Como a falta de
vagas, por exemplo, suas condições
socioeconômicas, um sistema de ensino
inadequado, falta de transporte escolar, até
mesmo nunca ter frequentado uma escola.
A EJA constitui um direito assegurado pela
Constituição em seu artigo 208, quando
afirma que “o dever do estado com a
educação será efetivado mediante a
educação básica obrigatória e gratuita”
(Constituição, 1988), e que será
“assegurada a educação, inclusive sua
oferta gratuita para todos os que a ela não
tiveram acesso na idade própria”
(Constituição, 1988).
Nas comunidades quilombolas e do
campo, a EJA tem sido afetada e mal
identificada, pela maneira de estabelecer
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Rodrigues, I. R., & Bentes, H. V. (2018). Educação do Campo adaptando métodos pedagógicos...
seu ensino. Com base no que afirma o
Ministério da Educação:
a normatização legal vigente opera
muitas vezes como um instrumento
burocrático formal cuja
inflexibilidade dificulta a expansão
das iniciativas comunitárias e do
setor publico, bem como a
implementação de propostas
pedagógicas inovadoras. Assim, faz-
se necessário admitir que parte dos
programas de EJA sejam eles
promovidos por organismos
governamentais ou não
governamentais apresenta pouca
consistência teórico-metodológica.
(Brasil, 2004, p. 21).
Nas experiências e pesquisas
realizadas em comunidades quilombolas e
do campo (UFPA, 2016b), identificou-se a
riqueza de culturas e saberes que não são
dialogadas em sala de aula, e por enfrentar
dificuldades no prosseguimento dos
estudos, esses senhores e senhoras
atribuem que o método de ensino ofertado
pela instituição tem-se tornado cansativo e
desmotivador, o que ocasiona o sério
problema de evasão escolar. De acordo
com o Art. das diretrizes para a
educação quilombola, cabe à União, aos
Estados, aos Municípios e aos sistemas de
ensino:
garantir apoio técnico-pedagógico
aos estudantes, professores e gestores
em atuação nas escolas quilombolas;
recursos didáticos, pedagógicos,
tecnológicos, culturais e literários
que atendam às especificidades das
comunidades quilombolas e a
construção de propostas de Educação
Escolar Quilombola contextualizadas
(Brasil, 2012, p. 3).
Justifica-se nessas considerações que
o ensino da EJA nas escolas quilombolas e
do campo pode ser adaptado, e que está
sob as leis à atuação com o apoio técnico-
pedagógico por parte dos estados e
municípios. Cabe às escolas tomar
iniciativas diante dessas necessidades, uma
vez que os alunos da EJA são sujeitos
capazes de adquirir conhecimentos e
evoluir em etapas, desde que seu ensino
tenha uma maneira prazerosa e específica
de ser transmitido.
Os atributos paradigmáticos referidos
a esses sujeitos com intuito de inferiorizá-
los impossibilitando-os de sua evolução
escolar, em-se à prova quando se trata
de saberes e conhecimentos de identidade.
Dessa forma surge a ideia de adaptação de
materiais e recursos pedagógicos,
estruturados e exemplificados dentro da
cultura quilombola. Ou seja, os sujeitos
quilombolas da EJA passam a ser
articuladores/integradores de
conhecimento e não somente alunos
repetidores de conteúdos, sem
problematizá-los, sem reflexão. Ao
participarem dentro do que conhecem
sentem-se motivados a dar seus exemplos e
a compreenderem o que ainda tem
dificuldade, ou seja, assumem a condição
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de partícipes, protagonistas no universo
das escolhas:
Assim, ao visualizarem a palavra
escrita, em sua ambígua autonomia,
estão conscientes da dignidade de
que ela é portadora a alfabetização
não é um jogo de palavras, é a
consciência reflexiva da cultura, a
reconstrução crítica do mundo
humano, a abertura de novos
caminhos, o projeto histórico de um
mundo comum, a bravura de dizer a
sua palavra (Bentes, 2016b, p. 4,
Síntese Pedagogia do Oprimido,
apud Freire, 1983).
Os quilombolas são considerados
hoje homens de direitos, que
protagonizaram muitas lutas e
reescreveram suas histórias, que
transformaram conquistas e situações reais
de inclusões sociais. Essas afirmações
passam a ser modelo de material didático
interdisciplinar a serem dialogadas dentro
de um método pedagógico adaptado aos
alunos da EJA, além de incluir as diretrizes
educacionais aos quilombolas e da
educação do campo no percurso escolar,
com o objetivo de orientá-los dentro de
seus direitos a lutar por melhores
condições de ensino e vida. Enfoca-se,
portanto, que “dentre os problemas
enfrentados pela EJA destaca-se a falta de
um corpo docente habilitado para um
desempenho adequado a essa modalidade
de ensino” (Brasil, 2007, p. 20).
E como instrumentos pedagógicos
nas dinâmicas
ii
com a EJA pode-se citar o
resgate de culturas locais, pois de acordo
com as diretrizes curriculares nacionais
para a educação escolar quilombola na
educação básica:
organiza precipuamente o ensino
ministrado nas instituições
educacionais fundamentando-se,
informando-se e alimentando-se: da
memória coletiva, das línguas
remanescentes, dos marcos
civilizatórios, das práticas culturais,
das tecnologias e formas de produção
do trabalho, dos acervos e repertórios
orais, dos festejos, usos, tradições e
demais elementos que conformam o
patrimônio cultural das comunidades
quilombolas de todo o país e da
territorialidade” (Brasil, 2012, p. 3).
Nesse sentido, é importante unir as
inúmeras ferramentas de ensino existentes
no campo e comunidades quilombolas ao
crescente número de jovens e adultos que
não dispõem da oportunidade de ingressar
no ensino escolar na idade certa, tornando-
os protagonistas e no diálogo com a
formação dos docentes. A EJA nas escolas
do campo pode evoluir e proporcionar a
redução no índice de evasão escolar,
“porque ninguém consegue ser um
verdadeiro educador sozinho” (Benjamin
& Caldart, 2000, p. 45).
Dados da Fundação Cultural
Palmares do Ministério da Cultura (2012)
apresentam 3.754 comunidades
remanescentes de quilombos presentes
com maior concentração nos estados do
Pará, Maranhão e Minas Gerais. E 2.235
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estabelecimentos escolares localizados em
áreas remanescentes de quilombos com
base no Censo Escolar de 2013 (IPEA,
2015), destacando que na região nordeste
predominam 63,7% de estabelecimentos
nessas localidades. O município de
Abaetetuba-PA, segundo a página de
Educação Quilombola/Diversidade
Cultural (2014) possui dezesseis escolas
em comunidades quilombolas até o ano de
2010, informações fornecidas pela
secretaria de Educação do Município.
As escolas quilombolas e escolas do
campo, ao adotarem métodos com base em
propostas pedagógicas que valorizem suas
diversidades
iii
, passam a serem escolas-
exemplo, dominadoras de currículos e
processos de transformação do campo, ao
incentivar seus descendentes a não
envergonharem-se de suas origens e levá-
los a encontrar a autonomia de estabelecer
relações entre escolas, comunidades e
movimentos sociais. Pois somente aprende
a lutar por seus direitos quem tem
conhecimento sobre eles e “não escolas
do campo num campo sem perspectivas,
com o povo sem horizontes e buscando sair
dele” (Benjamin & Caldart, 2000, p. 35).
A EJA passa, nas escolas
quilombolas e escolas do campo, a ser
exemplo de consciência social, a partir do
momento em que ocupa um papel de
divulgadores. “Celebrar, construir e
transmitir, especialmente às novas
gerações, a memória coletiva. Ao mesmo
tempo em que buscar conhecer mais
profundamente a história da humanidade”
(Benjamin & Caldart, 2000, p. 41) será
tarefa da EJA. São sujeitos detentores de
conhecimentos verdadeiros que podem ser
divulgados àqueles que ainda desconhecem
tais saberes, e que desconhecem a EJA no
convívio escolar.
Nesse contexto os alunos da EJA têm
pensamentos amadurecidos e tomarão
consciência de que “a escola não
transforma a realidade, mas pode ajudar a
formar os sujeitos capazes de fazer a
transformação da sociedade, do mundo, de
si mesmos” (Benjamin & Caldart, 2000, p.
35), a partir da troca de saberes que os
motivará a dar continuidade e permanecer
na escola, sentindo-se responsáveis a
retornar para cumprir com seus direitos, o
que pode despertar “a sensação de
pertencimento, de poder falar de um lugar
seguro e, desta maneira, criam-se
antecedentes ao diálogo ético,
motivacional, que fortalece as dimensões
da autoestima” (Bentes, 2016d , p. 106).
Valorização da história e cultura afro-
brasileira: exemplos de materiais
didáticos
O ensino sobre a História e Cultura
Afro-Brasileira
iv
é obrigatório nos
estabelecimentos de ensino fundamental e
médio (Lei nº 10.639/2003, art.26-A), com
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Rodrigues, I. R., & Bentes, H. V. (2018). Educação do Campo adaptando métodos pedagógicos...
o objetivo de resgatar a contribuição do
povo negro nas áreas social, econômica e
política pertinentes à história do Brasil.
Devem ser ministradas no âmbito de todo o
currículo escolar (Lei 10.639/2003,
art.26-A, §2º).
A história afro-brasileira constitui
um passado de humilhações e sofrimento.
Além disso, apresentou estereótipos que
foram construídos em torno da raça negra,
como de pobreza e criminalidade. Aborda-
se com isso a importância da valorização
da história afro-brasileira no currículo
escolar, através de uma dinâmica de
saberes que contribuirão para dar
proximidade à história local.
As culturas afro-brasileiras estão
presentes em cada região do Brasil, que
foram trazidas pelos africanos e fizeram
seus descendentes. Destacam-se religiões,
culinárias e ritmos criados nas senzalas.
Podem ser integrados como material
didático nas turmas da EJA, em contexto
com as culturas locais, transformando em
arte, literatura e direitos, além da inclusão
das leis e diretrizes dos quilombolas e da
educação do campo no currículo escolar da
EJA. Pois os adultos “tem a coragem
suficiente para afirmar que a educação
verdadeira conscientiza as contradições do
mundo” (Bentes, 2016b, p. 4).
Propõe-se a adaptação
v
no currículo
da EJA nas escolas quilombolas e do
campo, acompanhada de uma formação
para os educadores que irão ministrar essas
aulas. Diante disso, o papel do educador é
de extrema relevância ao conduzir o
método adequado às especificidades de
cada sujeito, “assumindo o papel de sujeito
do ambiente educativo, criando e recriando
as estratégias de formação humana”
(Benjamin & Caldart, 2000, p. 45). Pois o
objetivo não é cansá-los, nem obrigá-los a
aprender, e sim estimulá-los de uma forma
prazerosa e gratificante no processo de
ensino-aprendizagem.
Em prosseguimento às justificativas
sobre os avanços através do método de
ensino discutido, toma-se como exemplo a
pesquisa realizada na escola de Ramal do
Piratuba, comunidade remanescente de
quilombo, onde foi realizada a pesquisa
para a disciplina de Prática Pedagógica I.
Aborda-se a falta de conhecimento das leis
e diretrizes quilombolas no que os torna
submissos às péssimas condições de
funcionamento, alimentação, transporte,
falta de professores e falta de formação
diferenciada. E sem um método de ensino
que faça uma associação dos saberes
professor-aluno, o desinteresse acaba por
progredir, o que causa o aumento do índice
de evasão e a distorção de idade- série que
explica o grande número de jovens e
adultos que não concluíram o ensino
fundamental nessa comunidade.
Junto a esses dados, justificativas
da entrevista de alguns professores desta
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mesma escola são apresentadas, ao
afirmarem utilizar esses métodos de
adaptação com as culturas e de professores
da escola Santo André (Rio Baixo
Itacuruçá), que se julgam não serem
inovadores, e que a maioria dos alunos não
apresenta disposição em aprender sua
disciplina, pois afirmam que o assunto não
os interessa, principalmente quando diz
respeito à utilização de livros didáticos.
Além disso, destacam suas disciplinas com
maior índice de reprovação e desinteresse.
Nas entrevistas com professores que
incluem culturas locais como
exemplificação em suas aulas e se
consideram inovadores, destaca-se grande
interesse dos alunos em sua disciplina e um
bom índice de aprovação e participação.
Fato esse que foi destacado também na
disciplina de Filosofia da Educação
ministrada pelo Professor Haroldo Bentes
nas turmas de Abaetetuba e Acará.
Destaca-se como crucial que os
métodos pedagógicos adaptados às suas
especificidades transmitem segurança e
confiança aos alunos, motivando-os a não
desistir. Em vista disso, o entrosamento do
professor com a turma, no contexto de
troca de saberes fortalece a capacidade de
expressão e de autonomia dos alunos com
a disciplina. Nesse sentido, o diálogo
professor-aluno colaborou com avanços no
ensino-aprendizagem.
Considerações finais
Foi realizado um estudo a partir de
dados estatísticos, experiências de cultura
local, histórias e direitos do povo
quilombola e do campo. A partir dos
resultados deste estudo toma-se como
objetivo a redução no índice de evasão dos
alunos da EJA nas comunidades do campo
e remanescentes de quilombos, ao integrar
métodos adaptados à cultura e história
local no âmbito do ensino-aprendizagem.
Dessa maneira, é possível estabelecer uma
relação de saberes professor-aluno, visando
um ensino motivador e dinâmico. Como
justificativas aos resultados para a inclusão
de métodos pedagógicos adaptados,
apresenta-se exemplos de dinâmicas em
sala de aula e dados sistematizados dos
conceitos e avaliação dos alunos da
disciplina de Filosofia da Educação nas
turmas de Educação do Campo. Em
entrevistas com professores e alunos da
escola quilombola Santo André- Rio Baixo
Itacuruçá e Nossa Senhora do Perpétuo
Socorro- Ramal de Piratuba foi possível
observar que a evasão dos alunos tem
aumentado pelo desinteresse nas aulas e
indisposição pelo cansaço do trabalho que
requer muito esforço físico (agricultura,
pesca, olaria e apanhação de açaí). Além
disso, na pesquisa realizada na comunidade
de Murutinga, verificou-se que o interesse
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dos adultos é satisfatório quando são
incluídos seus saberes e sua cultura.
Como contribuição aos resultados
sobre o desinteresse nas aulas, afirma-se
que os alunos da EJA necessitam de
dinâmicas diferenciadas que agradem e
motive-os a participar ativamente. Diante
disso, sugere-se métodos que incluam as
práticas, saberes, origens, culturas desses
sujeitos que possam contribuir com sua
liberdade de expressão em sala de aula e
com sua auto-valorização, o que pode
transformar o pensar desses sujeitos,
emergindo a ideia de que o seu esforço e
cansaço geram arte e riquezas.
Destacou-se o surgimento da EJA
como resultados das lutas de movimentos
sociais do campo e os direitos assegurados
a esses cidadãos. Enfoca-se, portanto, que
os métodos utilizados na EJA têm
contribuído com o cansaço e desmotivação
desses alunos por não conseguir
acompanhar o processo de ensino e
apresentar pouca participação dos mesmos.
Portanto, como resultados das pesquisas
realizadas propõe-se métodos pedagógicos
adaptados, que tragam a sala de aula os
saberes, fazeres, histórias e origens da
comunidade, por meio do protagonismo
dos próprios alunos, ao incluírem
dinâmicas sobre sua identidade e culturas,
além de transformar o conteúdo utilizado
para um novo ensino. É importante
também respeitar as especificidades dos
alunos, sujeitos do campo e da EJA, ao
considerar que a troca de saberes e a
inclusão dos conhecimentos locais são
fortes elementos para uma participação
ativa dos alunos da EJA na escola.
Abordou-se também nesta pesquisa a
inclusão da história afro-brasileira como
exemplo de material didático e a inclusão
de leis e diretrizes dos quilombolas e da
educação do campo, o que permitiu
compreender que os sujeitos da EJA
podem contribuir com o trabalho de
liderança social dentro da comunidade.
Além disso, dados do tempo
comunidade na escola quilombola do Rio
Baixo Itacuruçá, pesquisas realizadas na
comunidade de Piratuba, dinâmicas
realizadas na disciplina de Filosofia da
Educação nos Campus Acará/Abaetetuba e
na comunidade de Murutinga, norteiam
que o método pedagógico apresentado
transmite segurança e confiança aos
alunos, motivando-os a não desistirem. No
entanto, é importante papel nesse processo
a troca de saberes professor-aluno, para o
fortalecimento do ensino-aprendizagem.
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de 2016.
i
Promove o diálogo entre o conteúdo curricular
(formal) e os conteúdos únicos (vivências, história,
individualidade) tanto do professor quanto do
estudante.
ii
Exercícios usados para melhorar o entrosamento
dos diversos elementos do mesmo grupo; mudança
ou atividade
iii
Do ponto de vista biológico, a diversidade faz
parte do fazer humano, pois não existe nenhum ser
humano biologicamente igual ao outro, "do ponto
de vista cultural, a diversidade pode ser entendida
como a construção histórica, cultural e social das
diferenças” (Gomes, 2007).
iv
Que é relativo à África e ao Brasil. 2 - Brasileiro
de ascendência africana. (Publicado em: 2016-09-
24, revisado em: 2017-02-27). Disponível em:
‹https://dicionariodoaurelio.com/afro-brasileiro›.
Acesso em: 21 Abr.. 2017.
v
Desenvolver certa harmonia com o ambiente;
integração de uma pessoa ao ambiente onde se
encontra.
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Informações do artigo / Article Information
Recebido em : 24/02/2017
Aprovado em: 21/03/2017
Publicado em: 07/05/2018
Received on February 24th, 2017
Accepted on March 21th, 2017
Published on May 7th 2018
Contribuições no artigo: Os autores, conjuntamente,
foram os responsáveis por todas as etapas e resultados
da pesquisa, a saber: elaboração, análise e interpretação
dos dados; escrita e revisão do conteúdo do manuscrito
e; aprovação da versão final a ser publicada.
Author Contributions: The authors were responsible for
the designing, delineating, analyzing and interpreting the
data, production of the manuscript, critical revision of the
content and approval of the final version to be published.
Conflitos de interesse: Os autores declararam não haver
nenhum conflito de interesse referente a este artigo.
Conflict of Interest: None reported.
Orcid
Iêda Ribeiro Rodrigues
http://orcid.org/0000-0001-6919-2360
Haroldo de Vasconcelos Bentes
http://orcid.org/0000-0002-8559-8253
Como citar este artigo / How to cite this article
APA
Rodrigues, I. R., & Bentes, H. V. (2018). Educação do
Campo adaptando métodos pedagógicos: proposta para
EJA sem evasão nas comunidades quilombolas. Rev.
Bras. Educ. Camp., 3(2), 451-472. DOI:
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-4863.2018v3n2p451
ABNT
RODRIGUES, I. R.; BENTES, H. V. Educação do Campo
adaptando métodos pedagógicos: proposta para EJA sem
evasão nas comunidades quilombolas. Rev. Bras. Educ.
Camp., Tocantinópolis, v. 3, n. 2, mai./ago., p. 451-472,
2018. DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-
4863.2018v3n2p451
Rodrigues, I. R., & Bentes, H. V. (2018). Educação do Campo adaptando métodos pedagógicos...
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 2
p. 451-472
mai./ago.
2018
ISSN: 2525-4863
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Revista Brasileira de Educação do Campo
The Brazilian Scientific Journal of Rural Education
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A formação do professor rural em Minas Gerais: casos e
(des)casos
Roberta Aparecida da Silva
1
, Rita de Cássia de Souza
2
1
Universidade Federal de Viçosa - UFV. Departamento de Educação. Avenida Peter Henry Rolfs, s/n., Campus Universitário.
Viçosa - MG. Brasil.
2
Universidade Federal de Viçosa - UFV
Autor para correspondência/Author for correspondence: silvaroberta310@gmail.com
RESUMO. O presente artigo tem como objetivo principal fazer
uma contextualização histórica em relação à formação dos
professores primários no Brasil e no Estado de Minas Gerais,
com ênfase no professor rural e na escola rural. Como
procedimento metodológico, utilizamos a pesquisa bibliográfica
referente ao tema. O artigo discute as fragilidades em relação às
políticas públicas voltadas para o homem do campo e o
“interesse” de se investir na Educação Rural. Em nome do
discurso de reverter o atraso” da agricultura, de fixar o homem
rural no campo, de diminuir o analfabetismo existente, bem
como modernizar o país, foram criadas instituições específicas
para a formação de professores rurais em alguns Estados
brasileiros, e, entre eles, Minas Gerais. Como resultados,
evidenciou-se que a preocupação com a Educação Rural em
Minas Gerais tornou-se evidente após 1950, momento a partir
do qual começou a se observada a necessidade de se formar os
professores rurais, providos de conhecimento específicos e
contextualizados para poderem desenvolver um processo de
civilização do ambiente rural. É possível concluir, mediante
observação, que as políticas públicas brasileiras apresentaram e
apresentam fragilidades em relação à Educação Rural,
desenvolvendo-se de forma lenta, desconexa e tardia em relação
às iniciativas educacionais urbanas.
Palavras chave: Educação Rural, Formação de Professores
Rurais, Políticas Públicas, Minas Gerais.
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Silva, R. A., & Souza, R. C. (2018). A formação do professor rural em Minas Gerais: casos e (des) casos...
The formation of the rural teacher in Minas Gerais: cases
and neglicence
ABSTRACT. The present article has as an objective to make a
historical contextualization in relation to the teacher’s formation
of the Primary school teachers in Brazil and in the state of
Minas Gerais, with emphasis on the rural and school teachers.
As a methodological procedure, we used the bibliographic
research on the topic. The article discusses the weaknesses in
relation to the public policies directed to the farmer and the
“interest” to invest in the rural education. On behalf of the
speech to reverse the “backwardness” of agriculture, to lay the
man in the countryside, to reduce the existing illiteracy, as well
as modernizing the country, was created specific institutions for
teacher’s training in some Brazilian states and among them
Minas Gerais. As result, has become very clear that the concern
with Rural Education in Minas Gerais became evident after
1950, time from which began to be observed the need to train
rural teachers, provided with specific knowledge and
contextualized to be able to develop a process of civilization of
the rural environment. It can be assumed, through observation
that Brazilian public policies have presented fragility regarding
to Rural Education, developing slowly, disconnected and
delayed in relation to urban educational initiatives.
Keywords: Rural Education, Rural Teacher’s Formation,
public policies, Minas Gerais.
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Silva, R. A., & Souza, R. C. (2018). A formação do professor rural em Minas Gerais: casos e (des) casos...
La formación del profesor rural en Minas Gerais: casos y
negligencias
RESUMEN. El presente artículo posee como objetivo principal
hacer una contextualización histórica en cuanto a la formación
de los profesores primarios en Brasil y en el Estado de Minas
Gerais, con énfasis en el profesor rural y en la escuela rural.
Como procedimiento metodológico, utilizamos la investigación
bibliográfica referente al tema. El artículo discurre sobre las
fragilidades en cuanto a las políticas públicas inherentes al
hombre del campo y el “interés” en invertir en la educación
rural. En nombre del discurso de reverter el “atraso” de la
agricultura, de fijar al hombre rural en el campo, de disminuir el
analfabetismo existente, bien como modernizar el país, fueron
creadas instituciones específicas para la formación de profesores
rurales en algunos Estados brasileños y, entre ellos, Minas
Gerais. Como los resultados, se evidenció que la preocupación
con la Educación Rural en Minas Gerais se hizo evidente
después de 1950, en el momento a partir del cual comenzó a
observarse la necesidad de formar a los profesores rurales,
provistos de conocimientos específicos y contextualizados para
poder desarrollar Un proceso de civilización del ambiente rural.
Es posible concluir, mediante observación, que las políticas
públicas brasileñas presentaron y presentan fragilidades en
relación a la Educación Rural, desarrollándose de forma lenta,
desconexa y tardía en relación a las iniciativas educativas
urbanas.
Palabras-clave: Educación Rural, Formación de Profesores
Rurales, Políticas Públicas, Minas Gerais.
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Silva, R. A., & Souza, R. C. (2018). A formação do professor rural em Minas Gerais: casos e (des) casos...
Introdução
A maior dificuldade, aliás, na criação das
Normais Rurais, vai encontrar-se na escolha
do seu professorado. Porque nelas o que
fundamentalmente importa é a mudança, a
transformação radical da mentalidade. Se
abarrotássemos as escolas com professores à
moda comum, citadinos por índole, por
temperamento, por educação, viciados, ou
melhor cultivados por estes quatro séculos de
formação nacional urbanista, tão arraigados
nessa feição que nem sequer percebem a
existência da outra que se lhes antepõe,
fadaríamos a tentativa a um fracasso
inevitável
(Sud Mennuci, 1934, p. 207).
O presente artigo
i
tem como objetivo
fazer uma breve contextualização histórica
em relação à formação de professores
primários no Brasil e no Estado de Minas
Gerais, enfatizando a formação dos
professores rurais. Para tanto, abordamos
algumas iniciativas governamentais, tais
como: leis, decretos, reformas
educacionais e o surgimento de instituições
que visavam preparar professores leigos
primários para a docência, principalmente
na zona rural do Estado de Minas Gerais.
Optamos por fazer um recorte entre o final
do século XIX e meados do século XX por
acreditarmos que é nesse período que
ocorre uma distinção entre espaço urbano e
rural no Brasil. Segundo Musial (2011), foi
a partir da Lei 41, de 1892, que surgiu,
pela primeira vez na legislação educacional
mineira, a denominação escola rural; e foi
a partir dela que se criou uma
hierarquização entre escola rural, distrital
ii
e urbana.
Essa hierarquização privilegiava o
meio urbano e os distritos, pois:
Além de privilegiar a educação das
populações urbanas, com supressão
das escolas de instrução primária
rurais e, possivelmente, com sua
atribuição aos poderes municipais, o
governo do Estado de Minas Gerais
parecia redirecionar sua política de
educação, alicerçada em uma oferta
diferenciada, voltando-se para as
populações das cidades e dos
distritos, em detrimento das
populações dos povoados e das
aldeias. No início do século XX, a
instrução pública no Estado
adquiriria uma feição higiênica da
sociedade, assim como concentraria
seus esforços na construção dos
grupos escolares. Estas instituições,
os grupos escolares, configuravam-se
como modelo urbano e racional da
organização escolar (Musial, 2011, p.
127).
Nesse sentido, procuramos também
neste artigo discorrer sobre as escolas
primárias do meio rural, principalmente no
Estado de Minas Gerais ressaltando as
especificidades e peculiaridades em
relação ao ensino rural, uma vez que essa
população era considerada atrasada e
pouco civilizada, e a criação de uma escola
deveria ser adequada ao seu grau de
civilização, diferente do grau de
civilização da população dos distritos e das
cidades (Musial, 2011). Através de estudos
realizados para a construção deste artigo,
percebemos que “para a escola destinada
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Silva, R. A., & Souza, R. C. (2018). A formação do professor rural em Minas Gerais: casos e (des) casos...
às populações rurais seria reservado um
lugar marginal nas políticas do governo do
Estado de Minas Gerais, até meados do
século XX” (Musial, 2011, p. 127).
Como procedimento metodológico,
utilizamos a pesquisa bibliográfica
referente ao tema. Para Lima e Mioto
(2007, p. 45), “ao tratar da pesquisa
bibliográfica, é importante destacar que ela
é sempre realizada para fundamentar
teoricamente o objeto de estudo,
contribuindo com elementos que subsidiam
a análise futura dos dados obtidos”. Sendo
assim, buscamos artigos, livros,
dissertações e teses que abordam a
formação dos professores primários com
ênfase no professor rural. Entre os
trabalhos, destacam-se o capítulo de um
livro e a dissertação de Mestrado defendida
por Almeida (2009): A Educação rural
como processo civilizador, e Vozes
esquecidas em horizontes rurais: história
de professores (2001), respectivamente.
Também se destaca um artigo de autoria de
Andrade e Casassanta (2005), intitulado
Formação de Professores para a Escola
Rural. Para compreender a Educação do
Estado no meio rural - Traços de uma
trajetória, e o capítulo do Livro Educação
e Escola no campo, escrito por Calazans
(1993), bem como uma coletânea
iii
de
obras escritas por Helena Antipoff
intitulada Educação rural, do ano de 1992.
Almeida e Grazziotin (2013)
afirmam que o século XX assistiu à
transformação de uma sociedade de base
agrária para uma sociedade industrial, e a
cidade passou a assumir paradigmas de
modelos sociais e culturais. Essas
mudanças econômicas e sociais
promoveram transformações identitárias,
afirmando as identidades urbanas e
inferiorizando a rural. A cidade passou a
ser vista como local de modernização e o
meio rural como local de atraso, ignorância
e ausência de desenvolvimento. A partir
desse contexto, a elite urbana consideraria
a Educação Rural como a “salvação”, a
possibilidade de interiorizar a cultura
urbana e os ensinamentos tidos como
essenciais para a formação da sociedade.
“A educação rural passou a ser vista como
o instrumento capaz de aproximar a
modernização, de formar cidadãos
adaptados ao seu meio, porém lapidados
pelos conhecimentos endossados pela
cultura urbana” (Almeida & Grazziotin,
2013, p. 136).
A formação de professores primários
nas Reformas Educacionais Mineiras e
suas relações com o contexto brasileiro
Desde o século XIX e durante o
século XX, o Brasil sofreu transformações
importantes em relação à educação, que
passou a ser compreendida como
instrumento para a transformação da
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sociedade. Segundo Nogueira e Schelbauer
(2004), apesar de ter diminuído, as
estatísticas
iv
revelavam um grande índice
de analfabetismo do povo. O Brasil se
constituía como nação independente e a
educação escolar era considerada
fundamental para preparar os cidadãos para
o trabalho livre.
Tratava-se de dar forma ao país
amorfo, de transformar os habitantes
em povo, de vitalizar o organismo
nacional, de construir a nação. Nele
se forjava projeto político autoritário:
educar era obra de modelagem de um
povo, matéria informe e plasmável,
conforme os anseios de Ordem e
Progresso de um grupo que se auto-
investiga como elite com autoridade
para promovê-los (Carvalho, 1989, p.
9).
Os investimentos para o crescimento
e o fortalecimento do ensino primário no
século XX exigiam a formação de
professores qualificados e especializados,
pois, até então, o lugar do lecionador era
ocupado por qualquer indivíduo que se
destacasse socialmente, não havendo
nenhum tipo de preparação para a
atividade docente. Foi a partir de então que
surgiu a necessidade de criação de Escolas
Normais.
Em 1906, no governo João Pinheiro
v
,
foi realizada uma Reforma do Ensino que
criou os primeiros grupos escolares e
Minas Gerais e reformou o ensino nas
Escolas Primárias e Normais. A
implantação dos princípios básicos dessa
Reforma visava, sobretudo, desenvolver a
educação popular em três aspectos: físico,
intelectual e moral. Para tanto, o governo
do Estado mineiro organizava
pedagogicamente a escola segundo regras e
modelos para os prédios escolares,
passando a fornecer mobiliário e material
didático, e criando a instrução manual, por
julgar ser fundamental a um povo
civilizado que na escola primária se
apreendesse não o ensino considerado
abstrato (ler e escrever), mas também a
educação física e moral do homem
(Carvalho, 2012).
As reformas ocorridas no Estado de
Minas Gerais, no início do século XX,
estavam em sintonia com outras reformas
educacionais no país naquele período,
sendo diretamente influenciadas pelo
movimento escolanovista
vi
:
Na constituição de um discurso
renovador da escola brasileira, a
“Escola Nova” produziu enunciados
que, desenhando alterações no
modelo escolar, desqualificava
aspectos da forma e a cultura em
voga nas escolas, aglutinadas em
torno do termo “tradicional”. Era
pela diferença quanto às práticas e
saberes escolares anteriores que se
construía a representação do “novo”
nessa formação discursiva.
Operavam-se, no entanto,
apropriações do modelo escolar
negado, ressignificando seus
materiais e métodos (Vidal, 2000, p.
497).
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Segundo Almeida (2006), apesar da
grande importância das Escolas Normais
para a época, os educadores progressistas,
durante muito tempo, criticaram o perfil
atrasado e tradicional dessas instituições,
considerando-as conservadoras. Em contra
partida, no Estado de São Paulo, houve até
protestos contra o excesso de Escolas
Normais e professores no ensino normal no
Estado, com indicações, como a de
Fernando de Azevedo, para que
reduzissem os números de escolas normais
e transformassem algumas em escolas
normais-rurais. Todavia, a autora
argumenta também que:
Havia poucos professores que se
dispunham a lecionar nas distantes
zonas rurais, com grandes
dificuldades de acomodação e
locomoção, principalmente as
mulheres, maioria no curso,
relutantes em deixar a cidade e a
família. Ao mesmo tempo em que
esses anos foram pródigos em
reformas e inovações na Escola
Normal do Estado de São Paulo,
também promoveram a ampliação do
curso aos interessados em se dedicar
ao magistério com a disseminação de
escolas normais livres e particulares,
principalmente pelo interior do
Estado (Almeida, 2006, p. 84).
Carvalho (2012) afirma que, em
1924, foi publicado o Regulamento do
ensino primário no Estado mineiro,
visando reformar a instrução pública. A
autora ressalta que:
Essa Reforma se constituiu de quatro
decretos, regulamentando três pontos
tradicionais nas reformas em Minas:
ensino primário para o qual se
previa até programa específico
ensino normal e o programa a ser
implantado nesse curso. A reforma
ainda criou a Revista do Ensino,
estabelecendo seus objetivos e sua
organização editorial (Carvalho,
2012, p. 225).
Para a autora, algumas ações na área
de educação no governo de Antônio Carlos
Ribeiro de Andrade, que assumiu a
presidência de Minas Gerais em 07 de
setembro de 1926, se destacam, como a
criação da Universidade de Minas Gerais, a
extensão do ensino primário, por meio da
construção de novos prédios escolares e a
aquisição de aparelhos modernos e
materiais didáticos. No ensino primário e
normal, Carvalho (2012, p. 226) afirma
que ele “fez uma reforma cujas medidas
marcaram uma ação mais intensa pelo
Estado em relação à sociedade civil”. Para
ajudar no planejamento e na implantação
de seu programa de governo, Antônio
Carlos convidou Francisco Campos para
assumir o cargo de secretário do Interior,
pois este, nas palavras da autora, faria a
Reforma do ensino público mais
importante da década.
Segundo Carvalho (2012), Francisco
Campos incorporou à Reforma do Ensino
Primário e Normal, realizada em Minas
Gerais, em 1927, os ideais propostos pelos
liberais e iluministas: restaurando o
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Silva, R. A., & Souza, R. C. (2018). A formação do professor rural em Minas Gerais: casos e (des) casos...
aparelhamento do ensino público, o espaço
físico e as relações humanas existentes na
escola. Para isso, “criou associações
escolares e favoreceu o espírito associativo
infantil, a cooperação e recreação, além de
mudar a relação entre aluno e professor”
(Carvalho, 2012, p. 230), visando dar voz
ativa aos alunos no processo educacional.
Peixoto (2003) afirma que a Reforma
Francisco Campos teve um importante
papel no país, introduzindo uma
abordagem de caráter técnico no
tratamento das questões relacionadas ao
ensino de uma forma geral e, mais
especificamente, ao ensino primário e aos
problemas relacionados à alfabetização,
reconhecendo na educação escolar um
campo de estudo possível de abordagem
científica. Essa Reforma alcançou grande
repercussão devido aos altos investimentos
feitos no ensino, chegando até mesmo a
criar uma escola superior de formação de
professores: a Escola de Aperfeiçoamento.
A Escola de Aperfeiçoamento, vista
como núcleo gerador do processo de
renovação, tinha como objetivo
realizar um trabalho metódico na
preparação dos recursos humanos, ao
mesmo tempo em que buscava
orientar, avaliar, testar e aplicar as
novas ideias que moviam a corrente
renovadora da Reforma. Anotar que a
missão europeia é a grande
inspiradora da escola (Almeida;
Guido, 2007, p. 13-14).
Segundo Tanuri (2000), a Reforma
de 1927 em Minas Gerais criou três níveis
de instituição diferentes para a formação
de professores:
1) Escolas Normais de Segundo
Grau (somente oficiais), oferecendo
a seguinte formação: Curso de
Adaptação, complementar ao
primário (dois anos); Curso
Preparatório, de cultura geral (três
anos) e Curso de Aplicação, de
caráter essencialmente profissional
(dois anos); 2) Escolas Normais de
Primeiro Grau (oficiais e
particulares), oferecendo o Curso de
Adaptação (dois anos) e Curso
Normal com três anos de duração,
sendo três de cultura geral e um de
formação profissional; 3) Cursos
Normais Rurais, com a duração de
apenas dois anos, funcionando junto
aos grupos escolares, e oferecendo
apenas um aprofundamento das
matérias do ensino primário,
acrescido de atividades de prática de
ensino. Destaque-se ainda que na
reforma mineira criava-se uma
Escola de Aperfeiçoamento
Pedagógico, com dois anos de
continuação de estudos profissionais,
para professores já em exercício
(Tanuri, 2000, p. 71).
Esta diferenciação existia também
em outros Estados brasileiros,
... possibilitando, por um lado, uma
certa expansão de escolas normais de
nível menos elevado mas compatível
com as possibilidades da época e as
peculiaridades regionais e, por outro,
a consolidação das escolas normais
como responsáveis pela preparação
do pessoal docente para o ensino
primário (Tanuri, 2000, p. 71).
Na década de 1930, o governo
brasileiro passou a incorporar um discurso
“ruralista”, que via a educação como o
principal instrumento de fixação do
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homem no campo. Tanuri (2000) ressalta
que esse movimento procurava utilizar a
escola para reforçar os valores rurais da
civilização brasileira com o intuito de criar
uma consciência agrícola e fazer com que
o homem rural permanecesse no campo.
Preocupados com a preparação de
professores especializados para o
magistério na zona rural, foi defendida a
criação de “Escolas Normais Rurais”
vii
,
tendo como objetivo não a localização
no meio rural, mas também a preocupação
em transmitir conhecimentos de agronomia
e higiene rural.
Para Prado (1995), o discurso sobre a
importância de uma escola adequada ao
tempo e ao espaço no Estado Novo
pretendia evidenciar homens e instituições
comprometidos com projetos
governamentais, embora a maioria dos
brasileiros se encontrasse alienada em
relação a tais projetos. Segundo a autora,
apesar do forte aparato ideológico com que
o tema da Educação Rural foi abordado, o
pragmatismo econômico estava sempre em
evidência.
Foi a partir desse contexto histórico
que se começou a pensar sobre a redução
do analfabetismo no Brasil, bem como a
repensar a preparação de professores para
as escolas primárias. Foi também no
contexto da discussão da identidade
brasileira como rural e urbana que se
construíram projetos de Educação Rural,
bem como surgiu à necessidade dos
professores para o meio rural, objeto de
estudo desse artigo.
A Educação Rural no Brasil e a
formação de professores rurais
Os estudos sobre a Educação Rural
no Brasil, segundo Almeida (2001) e
Piacentine (2012), ainda constituem uma
área de pouca investigação, apesar do país,
até a década de 1920, ter sido
expressivamente rural
viii
. A partir daí
houve gradativamente um acréscimo da
população urbana e decréscimo da
população rural. Isso ocorreu
principalmente devido ao início da
industrialização no país, que se expandiu
principalmente a partir da década de 1950.
A educação também sofreu
mudanças com esse novo cenário
brasileiro, tendo que se ajustar aos novos
padrões econômicos e
sociais
estabelecidos, pois, “à medida que o Brasil
se industrializa, as escolas da cidade
assumem outros contornos e passam a
atender a outras necessidades que não são
as mesmas das escolas do interior”
(Almeida, 2001, p. 33). O mundo
urbanizado passou a ser o condutor e a
referência, direcionando as
decisões
políticas e econômicas na construção de
novos processos culturais (Almeida, 2009).
Para Almeida (2009), o
deslocamento crescente do meio rural para
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o urbano gerou um choque entre os valores
e as referências por se tratarem de mundos
distintos. Além disso, a urbanização não
gerou condições melhores de vidas para
muitas pessoas, segregando nas periferias
urbanas os marginalizados e excluídos
socialmente.
Almeida (2001) afirma que havia
contradições entre o tipo de ensino que se
pretendia desenvolver e a realidade vivida
desde o início do século XX. Por um lado,
insistia-se na ideia de o Brasil ser um país
agrícola; mas, por outro, faltavam
investimentos e vontade política para
realmente se concretizar uma educação
voltada para o meio rural.
Andrade e Peixoto argumentam que:
As escolas rurais foram surgindo sem
planejamento adequado das reais
necessidades para a sua localização.
Um dos critérios usados para a
instalação de escolas era o político, e,
com isso, muitas escolas foram
criadas em regiões onde não havia
demanda de alunos, e em outras, a
demanda existia, mas não era
politicamente adequado se criar a
escola (Andrade & Peixoto, 2000, p.
4).
Além disso, a escola do meio rural,
na maior parte das vezes, limitava-se a
reproduzir os conhecimentos mínimos
necessários para a vida e para a produção
do meio rural (Andrade & Peixoto, 2000).
Na década de 1940, Lira e Melo
(2010) evidenciam que em algumas regiões
do país a crescente urbanização já gerava
tensões sociais, pois crescia a população
nas áreas urbanas sem planejamento e
emprego para todos. Começava a se pensar
na necessidade de criar estratégias para que
a população permanecesse no campo.
Buscou-se, então, desenvolver uma
educação que reforçasse os valores
camponeses, com a finalidade de fixar o
homem do campo em seu meio. Para tanto,
era necessário adaptar os programas
educacionais e os currículos a esse
ambiente.
Um grupo da elite intelectual e
política rural e urbana, com a defesa
da “vocação agrícola” para o
desenvolvimento do Brasil e
principalmente sob o debate do
intenso processo migratório,
acreditava que a escola deveria
valorizar a cultura do meio rural,
proporcionando à sua população o
aproveitamento de suas
possibilidades econômicas e sociais,
através de uma estrutura e de um
programa escolar diferenciado do
meio urbano (Pinho, 2009, p. 38).
Almeida (2001) afirma que, durante
muitos anos, a Educação Rural foi vista
como um instrumento capaz de formar um
cidadão adaptado ao seu meio de origem,
sendo modelado pelos conhecimentos
científicos advindos das cidades. No meio
urbano eram formuladas as diretrizes e
normas para a formação do homem do
campo, com conhecimentos de saúde,
saneamento, alimentação, administração do
tempo e técnicas agrícolas modernas - isso
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tudo a partir de conhecimentos científicos.
Desse modo, nas décadas de 1940 e 1950,
foram implementados diversos programas
educativos, realizados na maioria dos
estados brasileiros, tendo em vista a
permanência do homem na região rural e o
desenvolvimento de cada comunidade. O
discurso do governador de Minas Gerais,
Milton Campos, em 1948, na
implementação do Curso de
Aperfeiçoamento para professores rurais
em Ibirité-MG, corrobora tal apontamento:
Este curso de aperfeiçoamento
exercerá essa função de vigilância,
isto é, impedirá, pela melhoria da
escola primária em zona rural, que
esse foco se apague, e diligenciará
por que se alargue a área iluminada e,
assim, o homem do campo, socorrido
pela ação civilizadora da escola,
possa resistir à forças centrípetas que
o vem arrastando para as zonas
urbanas e se transforme num
elemento capaz de criar riquezas e,
portanto, de contribuir para
estabelecer as funções do nosso
sistema econômico (Escola Rural,
1948, p. 8).
De acordo com Lira e Melo (2010),
na prática, as ações se davam um pouco
diferente. Foram criados programas
repentinos e desconexos da realidade do
povo camponês. Somado a isso, havia
ainda a falta de preparo dos professores
contratados, péssimas condições de vida da
população, habitação e trabalho, que
faziam crescer ainda mais a imigração para
a cidade:
Logo, não é de se admirar que a
escola rural tradicional apresentasse
grandes déficits em relação à
aprendizagem de suas populações.
Em decorrência desse quadro, em
1942, os profissionais da educação
realizaram o Oitavo Congresso
Brasileiro de Educação com o
objetivo de levantar possíveis
diretrizes e soluções para os
problemas educacionais das grandes
massas campesinas. O evento
promovido pela Associação
Brasileira de Educação, que contava
com o financiamento do governo
federal e do governo de Goiás,
apresentou através das exposições,
estudos e debates a busca por uma
escola caracteristicamente rural, que
fosse capaz de atrair e fixar o homem
no campo, objetivo pretendido pelo
ruralismo pedagógico (Lira & Melo,
2010, p. 8).
Prado (1995) afirma que o “Oitavo
Congresso Brasileiro de Educação” foi
realizado visando comemorar a
inauguração da cidade de Goiânia
ix
. Para a
autora, a escolha da cidade sede, como
também do tema principal do Congresso,
“A Educação Primária Fundamental”,
representavam de maneira significativa o
cenário de discussões que aconteciam em
relação às questões educacionais. Prado
(1995) salienta que o governo e seus
intelectuais mobilizaram-se em torno da
bandeira da interiorização, apresentando
173 teses, procedentes de 22 unidades da
Federação. A elite do pensamento
educacional brasileiro participante do
evento sugeriu várias alternativas para
alguns dos graves problemas que a
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Silva, R. A., & Souza, R. C. (2018). A formação do professor rural em Minas Gerais: casos e (des) casos...
sociedade lhes apresentava. Um desses
problemas era o êxodo rural e a
preocupação em modernizar o país, e a
educação era considerada uma das
principais maneiras de alcançar esse
objetivo.
Para Leão (1953), a formação de
“mestres” era uma das situações mais
graves enfrentadas na educação do meio
rural. Isso porque muitos professores que
iam lecionar no interior possuíam uma
formação e uma vivência totalmente
urbana, ou seja, estavam alheios aos
contextos do meio rural e geralmente
menosprezavam tal cultura. Pois, “[a]
educação no interior do Brasil sempre se
fez, quando se fez, dentro de um
empirismo comodista, alheio a qualquer
orientação científica, qualquer plano de
ação, qualquer programa, qualquer
entendimento entre legislador,
administrador e mestre” (Leão, 1953, p.
202-203).
Leão (1953) defendia a criação de
cursos de formação que abordassem a
realidade da população do meio rural com
uma proposta diferenciada do meio urbano,
sendo necessárias algumas mudanças, tais
como:
A primeira é a renovação do mestre
em atividade, a segunda a preparação
do mestre por vir. Para a primeira
medida faz-se mister a organização
de cursos de aperfeiçoamento, dos
quais constituem um modelo as
missões mexicanas; para a segunda a
instalação de escolas normais, em
regime de internato e com currículos
e programas próprios, às quais se
atrairiam filhos do interior, a quem se
fornecia preparação adequada às
realidades do meio (Leão, 1953, p.
288).
A carência de professores formados
fazia com que fosse permitido que pessoas
leigas lecionassem em escolas rurais, desde
que essas passassem por exames de
suficiência. Estes exames
[e]ram realizados pelas Escolas
Normais, institutos de Educação e
Faculdade de Filosofia a que eram
submetidos os professores leigos ou
candidatos ao magistério para efeito
de comprovação de conhecimentos
exigidos para a função e de
autorização a título precário,
lecionarem nas escolas primárias e
secundárias (Rodrigues, 1985, p. 45).
Para Vighi (2008), a política de
contratação de professores sem habilitação
pelas Secretarias de Educação dos Estados
brasileiros ocorreu para suprir a falta de
professores com formação adequada para
exercer o magistério, principalmente na
zona rural. Além disso, era preciso atender
à demanda da população pelo direito à
educação, expresso na Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional (Lei
4.024/61).
Sob o ponto de vista social, o
professor leigo, que atuou no meio
rural era bem aceito nas comunidades
por ser um sujeito que se identificava
com o contexto escolar em que
atuava. Na maioria dos casos, o
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professor era membro da mesma
comunidade à qual pertenciam seus
alunos, o que proporcionava maior
aproximação do professor com os
alunos e com a comunidade. Motivos
como esses, por exemplo, davam
vantagem ao professor leigo se
comparado ao professor habilitado.
Este por sua vez detinha um
conhecimento técnico, porém
desconhecia a realidade onde se
inseria (Vighi, 2008, p. 51-52).
A autora destaca ainda que, até o
final dos anos de 1930, não havia escolas
normais que se destinassem à preparação
específica de professores para lecionarem
nas regiões do campo
x
. Estas instituições
se iniciam lentamente no início dos anos de
1940 e ganham mais intensidade nos anos
de 1950, procurando desenvolver uma
política educacional compatível com os
interesses e necessidades do meio rural.
Enquanto se pensava em como seria essa
formação, os professores que lecionavam
em tal meio
[v]ivenciavam uma experiência
pedagógica cujo saber produzido se
fundava nas relações entre as
orientações recebidas pelos órgãos
responsáveis pelo sistema de
educação (Delegacias de Ensino e
Secretarias Municipais de Educação)
e nas práticas desenvolvidas a partir
da sua experiência, baseadas nos
modelos vividos no período em que
eram os alunos (Vighi, 2008, p. 52).
Piacentine (2012) ressalta que as
primeiras providências concretas em
relação à formação de professores leigos
que atuavam na zona rural ocorreram com
a aprovação da Lei 4.024/61, que
estabeleceu, nos capítulos IV e VIII,
normas quanto à formação do magistério
para os ensinos primário e médio:
Art. 53: A formação de docentes para
o ensino primário far-se-á:
a) Na Escola Normal de grau ginasial
no mínimo de quatro séries anuais,
onde além das disciplinas
obrigatórias do curso secundário
ginasial será ministrada preparação
pedagógica.
Art. 54: As escolas normais de grau
ginasial expedirão o diploma de
regente de ensino primário.
Capítulo XIII, Art. 116: Enquanto
não houver número suficiente de
professores primários formados por
escolas Normais ou pelos Institutos
da Educação e sempre que se registre
esta falta, a habilitação ao exercício
do magistério a titulo precário até
que cesse a falta, será feita por meio
de exames de suficiência ... (Brasil,
1961).
Outro avanço ocorrido foi a criação
do Programa de Aperfeiçoamento do
Magistério Primário-PAMP, a partir da
década de 1963, também pelo governo
federal, que “daria subsídios para cursos
voltados para a habilitação de professores
leigos, a nível pedagógico, mediante
metodologia de ensino direto no período de
férias e indireto que era oferecido em
período letivo” (Piacentine, 2012, p. 41).
Piacentine (2012) ressalta que, a partir
deste Programa, multiplicaram-se os cursos
para professores leigos no país.
Como meio para abrandar essa
situação no Brasil, o Ministério da
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Silva, R. A., & Souza, R. C. (2018). A formação do professor rural em Minas Gerais: casos e (des) casos...
Educação promoveu a construção
imediata de escolas de Ensino
Normal em todo o país que tinham
como finalidade promover a
preparação de professores regentes
de ensino, atendendo às regiões que
até aquele momento eram
desprovidas de instituições dessa
natureza. Esses prédios, além de
aparelhamentos pedagógicos
adequados, deveriam ser servidos de
uma seção de internato que ofereceria
uma melhor oportunidade aos
candidatos ao magistério da zona
rural ... (Santana, 2010, p. 3).
Apesar de poucas inciativas em
relação à Educação Rural, é preciso levar
em consideração que a fragilidade das
políticas públicas brasileiras com a
população rural afetou inevitavelmente a
educação, que ocorreu de forma lenta,
desconexa e tardia para o povo camponês.
Como se isso não bastasse, as poucas
escolas que existiam se encontravam em
condições precárias e com um
distanciamento grande entre si, isto é, sem
nenhum tipo de comunicação. Além disso,
faltava formação de professores, orientação
metodológica, didática e verbas públicas
para a escolarização (Piacentine, 2012).
Abordaremos, a seguir, como
ocorreu a formação do professor rural e a
preocupação com a educação das pessoas
do campo no Estado de Minas Gerais.
Minas Gerais e a formação dos
professores rurais
Minas Gerais também demandava
cuidado em relação ao ensino rural e à
formação de professores. Peixoto (2000),
embasada em Lima (2003)
xi
, demonstra
que, no período de 1930, as escolas rurais
mineiras permaneciam em segundo plano,
e, devido às dificuldades financeiras, foram
fechadas mais de mil escolas primárias nos
meios rurais.
O Decreto 11.297, 10 de abril de
1934, de Minas Gerais, transferiu a
responsabilidade financeira de manter as
escolas rurais para os Municípios e o
Decreto nº 132, de 29 de julho de 1935
definia como responsabilidade do Estado
apenas a fiscalização dessas escolas. O
Estado, desse modo, se mostrava
descompromissado e pouco preocupado
com a educação no meio rural. Pinho
(2009) afirma que havia grande
precariedade técnica e de material das
escolas rurais municipais nesse período.
Entretanto, em 1947, foi promulgada
a Lei Federal (Brasil, Lei 59, 11 de
agosto de 1947) que autorizava a União a
cooperar financeiramente com os Estados e
Municípios para a melhoria do sistema
escolar nas zonas rurais. Esse benefício,
que vinha do Fundo Nacional de Ensino
Primário, era repassado para os Estados e,
posteriormente, para os Municípios através
de um Convênio Nacional e de Convênios
Estaduais do Ensino Primário, sendo
fiscalizados pelo Instituto Nacional de
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Estudos Pedagógicos (INEP).
Provavelmente, esta lei fomentou o
interesse do Estado de Minas Gerais de
cuidar das escolas rurais, pois Andrade e
Peixoto (2000) informaram que neste
mesmo ano, em 05 de dezembro de 1947,
foi promulgado o Decreto 2.545,
definindo que o Estado deveria orientar
tecnicamente o ensino primário em zonas
rurais no Estado de Minas Gerais:
Art.3º - Com a Secretaria da
Educação cooperarão a Secretaria do
Interior, a Secretaria da Agricultura,
Indústria e Comércio, o
Departamento Estadual de Saúde e
quaisquer outras formas de atividade
do Governo utilizáveis nos setores de
educação e ensino, para que cada
escola primária em zona rural seja
também um centro de condensação e
de irradiação social aparelhado para
influir no meio rural (Minas Gerais,
1947 apud Andrade & Peixoto, 2000,
p. 12).
O Secretário de Educação, que atuou
nos anos de 1947 a 1950, Abgar Renault,
apoiou o ensino nas zonas rurais, pois ele
acreditava que era preciso também conter o
êxito rural no estado mineiro (Andrade &
Peixoto, 2000). Diversos fatores
influenciavam a saída do homem do campo
para buscar melhores condições de vida na
cidade, entre eles: a precariedade das
condições de vida, o pouco rendimento do
solo, a mecanização da agricultura, assim
como a dimensão simbólica da cidade na
dinâmica social do período (Pinho, 2009).
Os efeitos do êxodo rural em Minas, no
entanto, eram vistos como problemáticos
por muitos fatores, como mostra Antipoff,
em uma Coletânea de Educação Rural:
Resultam desse movimento
centrípeto para a zona urbana dois
fenômenos extremamente
significativos para a economia e a
saúde tanto física quanto moral do
povo. Com a diminuição da produção
agropecuária, devido em grande parte
a carência de mão-de-obra, além de
outros fatores que afetam a zona
rural, a grande massa do povo
brasileiro vive em regime crônico de
subalimentação (Antipoff, 1992, p.
9).
Era preciso mais do que a
permanência do homem rural em seu meio:
o que se buscava era superar o atraso dessa
população, tanto social quanto econômico,
e a escola tornava-se, desse modo, “aliada”
nesse processo. Pinho evidencia que “os
debates acerca dos diagnósticos de crise e
atraso da agricultura brasileira definiram
uma reação ruralista, cujas propostas de
intervenção pautava-se por:
povoamento/colonização; educação;
modernização /racionalização produtiva e
crédito/cooperativismo” (Pinho, 2009, p.
38).
Abgar Renault, em uma fala dirigida
ao Governador do Estado, Milton Campos,
em 15 de novembro de 1948, ressaltava
que:
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O decreto nº. 2545, de 5 de dezembro
de 1947, devolveu ao Estado, senhor
Governador, a competência para
administrar e orientar tecnicamente o
ensino primário em zonas rurais, e
deu ao Secretário da Educação
poderes para firmar convênios com
os municípios, a fim de estabelecer as
condições de colaboração dêstes com
o governo estadual na realização dos
objetivos do ensino primário
naquelas zonas (Renault, 1952, p.
107 apud Neves & Pinto, 2013, p. 9).
Neves e Pinto (2013) salientam que a
fala de Abgar Renault evidencia a sua ação
em rearticular a relação Estado-
Municípios, no sentido de redistribuírem
entre si a tarefa de aumentar em quantidade
as escolas rurais e de requalificar o serviço
público educacional, permitindo um
movimento de centralização da
organização do campo escolar nas mãos do
Estado.
O governo de Milton Campos (1947-
1951), segundo Andrade e Peixoto,
também apresentava preocupação em
relação à formação dos professores:
O Governo Milton Campos prestou
muito apoio ao ensino em todo o
Estado. Verificando que a preparação
de professores para as escolas
públicas se fazia necessário,
promoveu cursos de férias para
atualização do professorado em todos
os níveis. Foram celebrados
convênios com o Ministério da
Educação, Faculdade de Filosofia da
Universidade do Estado, e, com os
municípios, para esse fim (Andrade;
Peixoto, 2000, p. 12).
Neves e Pinto (2013) afirmam que
Abgar Renault trabalhou na criação de
novos instrumentos legais que permitiram
à Secretaria de Educação dedicar-se
especialmente à Educação Rural, o que
auxiliaria no combate ao êxodo rural.
Sendo assim, a escola primária rural
constituiu-se como uma tentativa de fixar a
população rural (Pinho, 2009).
Assim sendo, entre 1947 e 1950,
foram criados no Estado não escolas
rurais, mas também cursos de atualização
em mais de 315 municípios e 5 cursos de
aperfeiçoamento de professores para a
zona rural. Além disso, também foi criado,
em 1949, na Fazenda do Rosário
xii
, em
Ibirité (cidade do interior de Minas
Gerais), o primeiro Curso Normal
Regional para preparação de professores
que atuariam na zona rural. Esse curso foi
idealizado por Abgar Renault e Helena
Antipoff (Andrade; Peixoto, 2000). Esta
foi diretora do Instituto de Organização
Rural- IOR. Antipoff era uma grande
defensora da necessidade de criação de
escolas rurais e da formação de professores
para tais escolas.
A preocupação com a Educação
Rural em Minas Gerais tornou-se evidente
após 1950, período em que a imigração
para as cidades começou a acelerar.
Para Neves e Pinto (2013), além da
busca pelo melhoramento dos
equipamentos técnicos, postulava-se a
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necessidade de se formar os professores
rurais, que deveriam possuir
conhecimentos gerais relativos à higiene,
enfermagem e socorros de urgência. Os
professores deveriam ser providos de
conhecimento teóricos, técnicos e
materiais, para assim poderem desenvolver
um processo de civilização do ambiente
rural.
Durante os dois mandatos como
gestor da Secretaria do Estado de
Educação de Minas Gerais-SEEMG (1947-
1950), Abgar Renault também defendeu
veemente a “educação técnica rural”
(Pinto, 2007). Em relação ao ensino
agrícola, Nascimento afirma que: “... a
primeira metade do século XX, o ensino
técnico-agrícola desenvolveu uma cultura
escolar assentada sobre um ideário
civilizador esperançoso da modernização
da vida rural brasileira” (Nascimento,
2010, p. 96). Na concepção de Renault, o
professor deveria possuir instrumentos e
conhecimentos teóricos, técnicos, além de
materiais capazes de desenvolver um
processo de maior civilização do ambiente
rural, com recursos proveniente do próprio
meio (Neves & Pinto, 2013).
Abgar Renault, no primeiro boletim
“Escola Rural: Boletim dos cursos de
aperfeiçoamento para professores rurais”
(1948), ressalta que no Brasil 15,8% do
total da produção era agrícola e 5,0% do
total era industrial. Além disso, a
população urbana era de apenas 1.573.800
habitantes dentro de um total de 7.524.100
habitantes no Estado. Para ele, estes dados
mostravam o quanto era imprescindível o
investimento por parte do governo com a
população rural de Minas Gerais
(Coletânea, 1992). Apesar disso, Pinto
(2007, p. 52) destaca: “é notório que as
medidas adotadas pelo governo mineiro
não atingiram de forma significativa a
população rural ficando restrita à elite
agrária”, que o uso de técnicas
modernas, máquinas e investimentos em
relação ao plantio não chegavam aos
pequenos agricultores, mas sim aos
grandes fazendeiros.
xiii
Mais do que ensinar a ler e a
escrever, as escolas do meio rural tinham
como missão promover um
desenvolvimento pessoal e social entre
seus alunos. De um modo mais abrangente,
essa instituição deveria influenciar toda a
comunidade, melhorando-a e
possibilitando o desenvolvimento de bons
hábitos: recreativos, sociais higiênicos,
econômicos e culturais do povo camponês
(Andrade; Peixoto, 2000).
Considerações finais
As políticas públicas brasileiras
apresentaram e apresentam fragilidades em
relação à Educação Rural, desenvolvendo-
se de forma lenta, desconexa e tardia em
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relação às iniciativas educacionais urbanas.
Em relação a isso, Almeida enfatiza que:
O abandono, o esquecimento, o
descaso do Estado, as promessas
políticas não cumpridas, o descaso
em relação ao ensino nas cidades são
situações praticamente comuns, que
acaba banalizando as dificuldades
educacionais encontradas pelas
populações rurais (Almeida, 2001, p.
55).
Podemos entender que os
investimentos em relação à educação no
meio rural em Minas Gerais não destoaram
muito de outros estados brasileiros. O
êxodo rural no Estado mineiro e no Brasil
gerava muitos temores entre a população
urbana, sendo considerado um problema
político, econômico e social.
A escola se torna então, um dos
meios de manter o homem rural em seu
ambiente. Além disso, pretendia-se, através
dessa instituição, disseminar ideias
“científicas”, incentivando o plantio e uso
de técnicas agrícolas modernas e,
supostamente, mais avançadas.
As instituições voltadas para o meio
rural deveriam influenciar toda a
comunidade, melhorando-a e
possibilitando o desenvolvimento de bons
hábitos sejam eles social, higiênicos,
econômicos e/ou culturais. No entanto,
para que tudo isso acontecesse, era preciso
investir na formação de professores rurais,
que seriam os principais propagadores de
novos hábitos e costumes para os
habitantes do campo, em prol de uma
modernização e civilização do país. A
criação de escola rurais asseguravam esse
nova necessidade, e aumentava o público
alvo dessas ações modernistas. Fazer com
que o país crescesse em prol de um
desenvolvimento voltado para a educação
era uma meta governamental.
Portanto, em nome do discurso de
reverter o atraso da agricultura, de fixar o
homem rural no campo, de diminuir o
analfabetismo existente, bem como
modernizar o país, foram criadas
instituições específicas para a formação do
professor rural em alguns estados
brasileiros. Entre eles está em destaque o
Estado de Minas Gerais, que criou escolas
normais rurais, cursos intensivos de férias,
cursos de treinamento e aperfeiçoamento
de professores rurais. É importante
enfatizar que os discursos de urbanização,
civilização e superação do atraso do meio
rural vinham acompanhados, direta ou
indiretamente, de concepções que
subestimavam e inferiorizam os
conhecimentos advindos do meio rural. Ou
seja, “historicamente, a educação para as
populações rurais esteve relacionada a
propostas de desenvolvimento que
negavam as condições do rural e dos seus
sujeitos” (Pinho et al., 2010, p. 18).
A escola rural servia, portanto,
prioritariamente ao meio urbano, que
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do produtor rural e temia a invasão da
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i
Trabalho resultante de uma pesquisa de mestrado
intitulada como: “Tempos esquecidos, memórias
recordáveis: Histórias de um curso de formação
para professores rurais”, financiado pela CAPES
(Comissão de Aperfeiçoamento de Pessoal do Nível
Superior).
ii
Escolas localizadas em distritos, povoados e
aldeias.
iii
A Coletânea de Obras Escritas por Helena
Antipoff em 1992, traz, no quarto volume,
Educação Rural, diversos textos da autora sobre o
tema, escritos entre as décadas de 1940 e 1970.
iv
Em 1920 havia um total de 65% da população
brasileira analfabeta. No ano de 1940, 56%. Em
1960, 40% e em 1980, 26% (IBGE, Censo
Demográfico e PNAD, 1999).
v
“João Pinheiro da Silva foi Presidente do Estado
de Minas Gerais. Após a proclamação da
República, foi vice-governador por um pequeno
período. Em seguida, foi eleito deputado ao
Congresso Constituinte de 1890, renunciando ao
mandato em fins de 1891 com a queda de Marechal
Deodoro. Posteriormente, dividiu suas ocupações
como empresário de uma cerâmica em Caeté, MG
município próximo de Belo Horizonte, MG - e
como professor na Faculdade Livre de Direito do
Estado de Minas Gerais. Em 01/01/1899 foi Agente
Executivo de Caeté, MG, o que implicava também
a Presidência da Câmara de Vereadores. Em 1903,
foi presidente do Primeiro Congresso Agrícola,
Industrial e Comercial de Minas Gerais. Foi eleito
para o Senado em 1904, mas permaneceu por
menos de um ano, tornando-se Presidente do Estado
de Minas a partir de 07/09/1906” (Dicionário
Biográfico de Minas Gerais, 1994).
vi
Trata-se de um novo modelo de estruturação das
instituições escolares, rejeitando determinados
fundamentos psicopedagógicos da “escola
tradicional” e abrindo novos caminhos em direção a
“escola nova”. Desenvolve-se, então, uma nova
didática e uma nova pedagogia em relação ao
método de ensino-aprendizagem (Nagle, 1974). O
aluno seria a centralidade no processo de ensino
aprendizagem, novos métodos pedagógicos seriam
implementados, e o uso das punições pelos
professores seria quase que inexistente (Souza,
2006).
vii
Alguns exemplos de Escolas Normais Rurais são:
A Escolas Reunidas Dom Silvério (para o ensino
primário); Clube Agrícola João Pinheiro (ensino e
experimentação de técnicas agrícolas); Ginásio
Normal Oficial Rural Sandoval Azevedo (com
internato para moças); Ginásio Normal Oficial
Rural Caio Martins (com internato para rapazes);
Instituto Superior de Educação rural (Iser), com
cursos de treinamento para professores rurais,
incluindo a prática no cultivo de lavouras, hortas,
pomares, na criação de animais, e cursos de
economia doméstica (Pinho, 2009, p. 16).
viii
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística-IBGE revelam que 68,8% da população
residiam no meio rural e apenas 31,2% estavam no
meio urbano no ano de 1940. No ano de 1950 esses
dados não mudaram muito 66,8% ainda viviam nas
áreas rurais e 36,6% nas áreas urbanas. O
crescimento das áreas urbanas começa a mudar
drasticamente somente a partir de 1960 e 1970. Em
1960 a população rural era 44,1% e a urbana
55,9%. No ano de 1970 esse número era 32,4%
na área rural e 67,6% na área urbana (IBGE, 2000).
ix
A capital do Estado de Goiás, criada no mês de
julho de 1942.
x
Segundo Tanuri (2000), foram algumas Reformas
realizadas em diversos Estados do Brasil no final da
década de 1920 que especificaram a formação dos
professores para escolas do meio rural.
Provavelmente, tais escolas começaram a ser de
fato implementadas na década de 30.
xi
Secretário de Educação e Saúde Pública nos de
1931 a 1933 (Lima, N. (1931). Discurso de posse
na Secretaria da Educação e Saúde Pública. Minas
Gerais, 40(102), 1. Citado por Peixoto, 2000).
xii
“Distante 28 quilômetros de Belo Horizonte,
localizava-se na área rural do distrito de Ibirité,
município de Betim (MG). Criada em 1939, como
parte da Sociedade Pestalozzi de Minas Gerais, a
Fazenda do Rosário foi projetada para ser uma
instituição de educação e assistência às crianças
excepcionais e desamparadas. Transformou-se no
espaço referência de implementação das políticas
de Educação rural do Estado. Progressivamente, a
Fazenda do Rosário expandiu sua atuação, reunindo
diversas instituições de assistência educacional,
social e cultural à comunidade” (Pinho, 2009, p.
16).
xiii
Juscelino Kubitschek, que governou Minas
Gerais de 1951 a 1954 e o Brasil de 1956 a 1961,
acreditava que, para ampliar as relações comerciais
com outros países, o Brasil precisava de avanços na
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agricultura, modernização das práticas de plantio e
investimentos em técnicas rurais (Pinto, 2007).
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Informações do artigo / Article Information
Recebido em : 20/06/2017
Aprovado em: 07/07/2017
Publicado em: 23/06/2018
Received on June 20th, 2017
Accepted on July 07th, 2017
Published on June 23th, 2018
Contribuições no artigo: Roberta Aparecida da Silva foi
responsável pela elaboração, análise e interpretação dos
dados, escrita e revisão do conteúdo, com a participação
direta de Rita de Cássia de Souza em todas as etapas do
trabalho. As autoras são, ambas, responsáveis pela
versão final a ser publicada.
Author Contributions: The authors were responsible for
the designing, delineating, analyzing and interpreting the
data, production of the manuscript, critical revision of the
content and approval of the final version to be published.
Conflitos de interesse: As autoras declararam não haver
nenhum conflito de interesse referente a este artigo.
Conflict of Interest: None reported.
Orcid
Roberta Aparecida da Silva
http://orcid.org/0000-0003-0581-5834
Rita de Cássia de Souza
http://orcid.org/0000-0001-9823-6174
Como citar este artigo / How to cite this article
APA
Silva, R. A., & Souza, R. C. (2018). A formação do
professor rural em Minas Gerais: casos e (des) casos.
Rev. Bras. Educ. Camp., 3(2), 473-495. DOI:
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-4863.2018v3n2p473-2
ABNT
SILVA, R. A.; SOUZA, R. C. A formação do professor rural
em Minas Gerais: casos e (des) casos. Rev. Bras. Educ.
Camp., Tocantinópolis, v. 3, n. 2, mai./ago., p. 473-495,
2018. DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-
4863.2018v3n2p473-2
Revista Brasileira de Educação do Campo
The Brazilian Scientific Journal of Rural Education
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Escola do campo e a prática social de ensino da
matemática na concepção da comunidade escolar
Ana Paula Nahirne
1
, Dulce Maria Strieder
2
1
Universidade Federal da Fronteira Sul - UFFS. Interdisciplinar em Educação do Campo. Rodovia BR 158, s/n. Laranjeiras do
Sul - PR. Brasil.
2
Universidade Estadual do Oeste do Paraná - UNIOESTE
Autor para correspondência/Author for correspondence: anapaulanahirne@yahoo.com.br
RESUMO. A Educação do Campo no Brasil tem desafios a
enfrentar para assegurar uma proposta de formação de
educadores aliada à organização de um trabalho pedagógico e
curricular que seja do campo e no campo. Na especificidade da
Educação Matemática no contexto rural, é necessário enfatizar
propostas metodológicas que visam à superação dos processos
mecânicos de ensino e aprendizagem que desconsideram as
visões de mundo da comunidade local. Com o objetivo de
encontrar respostas sobre quais são as concepções da
comunidade de uma Escola do Campo acerca da Educação
Matemática e seus elos com o contexto local, foi efetivada uma
investigação junto à equipe diretiva, professores e alunos de
uma Escola do Campo localizada no interior do município de
Nova Laranjeiras/PR. Como instrumentos de coleta dos dados
foram utilizados questionários e entrevistas audiogravadas. Na
análise dos dados, foram estabelecidas categorias amparadas na
Análise de Conteúdo proposta por Bardin (1977). Neste âmbito,
foi analisado o cotidiano desta Escola e de como ela se insere no
contexto local. Além disso, foram verificadas as potencialidades
do Ensino da Matemática no atendimento das características
particulares da Educação do Campo, tendo como um dos
elementos concluintes a apresentação da Modelagem
Matemática na perspectiva da Educação Matemática como
alternativa metodológica significativa para a aprendizagem dos
conteúdos, uma vez que tal perspectiva considera a realidade e
os interesses da comunidade escolar.
Palavras chave: Educação do Campo, Educação Matemática,
Modelagem Matemática.
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Nahirne, A. P., & Strieder, D. M (2018). Escola do campo e a prática social de ensino da matemática...
School of the countryside
and
the social
practice of
mathematics education in
community
the
design of
the school
ABSTRACT. Rural Education in Brazil has many challenges to
face in order to ensure a proposal for the training of educators
combined with the organization of a pedagogical and curricular
work that is both countryside and in the countryside. In the
specificity of Mathematics Education in the rural context, it is
necessary to emphasize methodological proposals aimed at
overcoming the mechanical processes of teaching and learning
that disregard the world views of the local community. With the
objective of finding answers about the conceptions of the school
community of a School of the Countryside about the school
routine, Mathematics Education and its links with the local
context, an investigation was carried out with the management
team, teachers and students of the rural school located within the
municipality of Nova Laranjeiras/PR. As data collection
instruments, questionnaires and audio-video interviews were
used. In the analysis of the data, categories supported by the
Content Analysis proposed by Bardin (1977) were established.
In this context, we analyzed the daily life of this School of the
Countryside and how it is inserted in the local context. In
addition, the potentialities of Mathematics Education in the
attendance of the particular characteristics of Rural Education
were verified, having as one of the conclusive elements the
presentation of Mathematical Modeling in the perspective of
Mathematical Education as a significant methodological
alternative for the learning of mathematical contents in the
school of the field, since such perspective considers the reality
and interests of the school community.
Keywords: Rural Education, Mathematical Education,
Mathematical Modeling.
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Nahirne, A. P., & Strieder, D. M (2018). Escola do campo e a prática social de ensino da matemática...
Escuela del campo y la práctica social de enseñanza de la
matemática en la concepción de la comunidad escolar
RESUMEN. La Educación del Campo en Brasil tiene muchos
desafíos a enfrentar para asegurar una propuesta de formación
de educadores aliada a la organización de un trabajo pedagógico
y curricular que sea del campo y en el campo. En la
especificidad de la Educación Matemática en el contexto rural,
es necesario enfatizar propuestas metodológicas que apuntan a
la superación de los procesos mecánicos de enseñanza y
aprendizaje que desconsideran las visiones de mundo de la
comunidad local. Con el objetivo de encontrar respuestas sobre
cuáles son las concepciones de la comunidad escolar de una
Escuela del Campo acerca del de la escuela, de la Educación
Matemática y sus vínculos con el contexto local, se realizó una
investigación junto al equipo directivo, profesores y alumnos de
una escuela Escuela de Campo ubicada en el interior del
municipio de Nova Laranjeiras/PR. Como instrumentos de
recolección de datos se utilizaron cuestionarios y entrevistas
audiograbadas. En el análisis de los datos, se establecieron
categorías amparadas en el Análisis de Contenido propuesto por
Bardin (1977). En este ámbito, se ha analizado el cotidiano de
esta Escuela del Campo y de cómo se inserta en el contexto
local. Además, se verificaron las potencialidades de la
Enseñanza de las Matemáticas en la atención de las
características particulares de la Educación del Campo, teniendo
como uno de los elementos concluyentes la presentación del
Modelado Matemático en la perspectiva de la Educación
Matemática como alternativa metodológica significativa para el
aprendizaje de los contenidos matemáticos en la escuela del
campo, ya que tal perspectiva considera la realidad y los
intereses de la comunidad escolar.
Palabras clave: Educación del Campo, Educación Matemática,
Modelado Matemático.
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Nahirne, A. P., & Strieder, D. M (2018). Escola do campo e a prática social de ensino da matemática...
Introdução
A educação formal no cenário
brasileiro, principalmente quando se fala
em Educação do Campo, tem um longo
caminho a trilhar na constituição e
implementação de uma identidade. Para
que aconteça uma educação específica para
os sujeitos do campo, é preciso garantir
uma proposta de formação de educadores,
organização do trabalho pedagógico e
curricular que seja do campo, para o
campo e no campo. Sendo assim, o papel
da escola não é somente trabalhar o código
escrito, ensinar a ler e a contar. É,
sobretudo, o de construir valores,
desenvolver habilidades e preparar as
pessoas para transpor, de forma tranquila,
diferentes questões vivenciadas.
É importante reconhecer que houve
avanços, contudo, há muitas dificuldades a
serem superadas, e elas ficam ainda mais
evidentes quando se trata de escolas
localizadas na área rural, onde parte da
população sofre com o descaso,
principalmente quando se trata, de políticas
públicas voltadas à educação.
A Educação do Campo tem um dos
pilares firmado na preocupação com a
formação de valores éticos, morais e
culturais bem como com a construção de
uma consciência crítica e política. Dessa
forma,
... a essa concepção de Educação do
Campo, confere-se o reconhecimento
desses novos sujeitos que vem
interagindo com formas de
resistência pela sobrevivência no
campo, com a luta pela terra, por
políticas públicas que deem
condições de tirar da terra o sustento
de suas famílias, constituindo uma
nova forma de produzir cultura,
valores, conhecimentos, sujeitos,
bem como de compreender o campo
para além do aspecto produtivo e
econômico (Paraná, 2009, p. 89).
Assim, para se entender a discussão
que ocorre em torno das perspectivas e
desafios que levaram a uma concepção de
educação direcionada para os sujeitos do
campo, é necessário compreender suas
origens e as contribuições para sua
construção.
Kolling, Cerioli e Caldart (2002)
abordam que a preocupação principal é
com a escolarização dos povos do campo,
pois compreendem que a educação engloba
“... os processos sociais de formação das
pessoas como sujeitos de seu próprio
destino” (Kolling, Cerioli & Caldart, 2002,
p. 19).
Logo, “... a escola necessita ajudar
seus educandos a serem sujeitos capazes de
refletir sobre o mundo e suas diferenças e
lutar para transformá-lo” (Paraná, 2009, p.
89). Dessa fala, depreende-se que a escola
precisa promover uma formação integral e
de transformação social, ou seja, carece
trabalhar com metodologias que tenham
como base o respeito e a valorização dos
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sujeitos do campo, sua cultura, seu
trabalho, sua relação com o meio em que
estão inseridos e o seu convívio social. É
fundamental que os instrumentos e
materiais, como os livros didáticos das
escolas do campo, sejam embasados neste
contexto.
A escola é o local onde os sujeitos do
campo ampliam seus conhecimentos. Logo,
a identidade e o cotidiano dos sujeitos do
campo devem ser tomados como ponto de
partida para o trabalho pedagógico,
necessitando ainda ser considerados na
abordagem dos conteúdos escolares e
seleção dos materiais didáticos. Assim, a
escola desempenha “... uma interpretação
da realidade que considere as relações
mediadas pelo trabalho no campo, como
produção material e cultural da existência
humana” (Brasil, 1996, p. 32). Nessa
perspectiva, a escola precisa propiciar o
acesso aos conhecimentos relacionados ao
trabalho e à vida, para os povos do campo.
Em uma interpretação mais ampla
com relação à palavra "campo", que se
considerar que ela extrapola o mero
conceito jurídico, ou seja, ao considerar as
particularidades dos sujeitos e não apenas
sua localização geográfica, ela pode ser
caracterizada como um conceito político.
Nesse enfoque, Caldart (2002) define que
... a Educação do Campo é um
projeto educacional compreendido a
partir dos sujeitos que têm o campo
como seu espaço de vida. Nesse
sentido, ela é uma educação que deve
ser no e do campo No, porque o
povo tem o direito de ser educado no
lugar onde vive’; Do, pois ‘o povo
tem direito a uma educação pensada
desde o seu lugar e com a sua
participação, vinculada à sua cultura
e às necessidades humanas e sociais’
(Caldart, 2002, p. 26).
A escola no campo é inserida no
meio rural, mas uma vez que ela é pensada
e estruturada pelo poder público,
materializa-se em um local que desvaloriza
o sujeito do campo e seus saberes, sua
cultura e seu modo de vida com a terra
(Caldart, 2002). Desse modo, a escola
possui calendário, Projeto Político
Pedagógico (PPP), Plano de Trabalho
Docente (PTD), currículo, entre outros
instrumentos copiados da escola urbana,
que não consideram o conhecimento
empírico adquirido pelos educandos no
convívio social. Ao se adotar esse modelo,
o espaço educacional rural torna-se uma
organização escolar descontextualizada,
que nega o campo como espaço de vida e
de constituição de sujeitos cidadãos.
a escola docampo, é pensada e
planejada pelos sujeitos do campo, visando
a uma educação de qualidade, que entende
o trabalho como produção de vida e
cultura. No seu exercício pedagógico, tem
como premissa a realidade em que o
educando está inserido. Para tanto, é
necessário que os educadores conheçam e
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compreendam a realidade do campo e
percebam os alunos como sujeitos
pensantes que produzem saberes. Além de
possibilitar aos mesmos a construção de
conhecimentos e, ao mesmo tempo, uma
compreensão crítica dos mecanismos que
organizam a sociedade atual.
Assim, passa a ser imprescindível a
formação de educadores e educadoras que
tenham identidade com o campo, para que
possam atuar e desenvolver um trabalho
nessa área que tenha o propósito de romper
com a distância existente entre conteúdo e
realidade social, na qual as escolas do
campo estão inseridas. Conforme Arroyo,
Caldart e Molina (2009), a Educação do
Campo “... deve formar e titular seus
próprios educadores, articulando-os em
torno de uma proposta de desenvolvimento
do campo e de um projeto político
pedagógico específico para as suas
escolas” (p. 162-163).
Defendendo essa mesma ideia, os
autores Kolling, Nery, Molina, (1999)
ressaltam a importância de “... reorganizar
as formas, os currículos e os métodos dos
cursos de formação de
educadores/educadoras para que atendam a
educação e a educação especial, tendo
como referência a realidade do campo” (p.
85).
Constitui-se assim a necessidade de
que o educador conheça seu educando e
leve para discussão em sala de aula seus
interesses, expectativas, dificuldades e
diferenças, contribuindo para o processo de
aprendizagem dos conceitos ensinados.
Aquilo que for inserido na sala de aula
precisa ser importante e significativo para
os aprendizes, dando a eles motivos para
permanecerem inseridos no contexto
escolar.
Um dos objetivos da Educação do
Campo é “... mobilizar o povo que vive no
campo, com suas diferentes identidades, e
suas organizações para
conquista/construção de políticas públicas
na área da educação e, prioritariamente, da
escolarização em todos os níveis” (Kolling,
Cerioli & Caldart, 2002, p. 17). A
Educação do Campo enquanto política
pública está voltada aos interesses dos
sujeitos do campo para construir a relação
dialética entre teoria e prática. Logo, de
acordo com os conteúdos formais, ela
necessita proporcionar uma reflexão sobre
a realidade em que o indivíduo está
inserido bem como sobre a realidade mais
ampla. Assim, contribui-se para
instrumentalizar os sujeitos a fim de que
possam intervir significativamente sobre
essas realidades.
A modelagem matemática como
possibilidade para a educação do campo
As Diretrizes Curriculares do Estado
do Paraná (2006) tecem algumas
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orientações sobre o caminho metodológico
para que o ensino de Matemática seja
relevante. Assim, são citadas a
etnomatemática, a modelagem matemática,
as mídias tecnológicas, a história da
matemática assim como algumas
possibilidades para o desenvolvimento do
trabalho com os conteúdos de Matemática
(Paraná, 2006).
A tendência metodológica da
Modelagem Matemática apresenta
diferentes concepções, mas para esse
trabalho, consideramos as propostas de
Burak (1992, 2004) na perspectiva da
Educação Matemática. Tal concepção
destaca-se por valorizar o interesse dos
alunos em relação aos estudos e às
investigações, a partir de um tema que
desencadeia o levantamento de problemas
matemáticos e suas soluções.
A articulação da Educação do
Campo com a Modelagem Matemática
pode contribuir para uma educação crítica
e de qualidade, pois ambas visam despertar
no educando um conhecimento matemático
promovido por uma ação reflexiva e
transformadora da sociedade. Em
decorrência disso, são valorizadas sua
identidade, sua cultura e seus
conhecimentos, os quais se caracterizam
como práticas sociais dos trabalhadores do
e no campo.
A Modelagem Matemática, como
uma alternativa de Ensino da Matemática e
associado à proposta de Educação do
Campo, anseia por apresentar ao aluno
maneiras de atuar com mais autonomia
para raciocinar e estimar seu pensamento
criativo, incentivado pela curiosidade e
motivação. Portanto, passa a construir o
seu conhecimento matemático a partir de
temas do seu interesse, como o trabalho
com Medidas Agrárias, Produção Leiteira,
Aquisição de alimentos, Agricultura
Sustentável, entre outros.
As Diretrizes Curriculares do Estado
do Paraná (2006) sugerem temas centrais
de trabalho que façam a ligação entre a
realidade do campo e os conteúdos
sistematizados, para que o trabalho
pedagógico na Escola do Campo não fique
descontextualizado e aquém da realidade.
Nesse sentido, propõem que a Modelagem
Matemática tem como pressuposto a “...
problematização de situações do cotidiano,
ao mesmo tempo em que propõe a
valorização do aluno no contexto social,
procura levantar problemas que sugerem
questionamentos sobre situações de vida”
(Paraná, 2006, p. 64-65).
A Modelagem Matemática assim
como a Educação do Campo pressupõe o
ensino e a aprendizagem da matemática a
partir de situações do cotidiano e assim
possibilitam relacionar o contexto dos
povos do campo com o conhecimento
escolar, articulando os conhecimentos
sistematizados. Dessa forma, elas rompem
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com a dicotomia existente entre a
matemática formal e sua utilidade no
cotidiano.
O ensino da Modelagem propicia o
emergir de situações-problema dentro de
um contexto vinculado ao aluno, pois
concebe a Matemática estudada com maior
significado e supera a visão linear do
conteúdo matemático dos currículos
escolares (Burak, 1987).
A Modelagem Matemática continua a
angariar adeptos pelas suas
possibilidades metodológicas, pela
visão ampla que proporciona em
relação a um assunto, pela visão de
totalidade, por envolver de forma
natural e indissociável o ensino e a
pesquisa e pela possibilidade de, por
meio dela, almejar-se um dos
principais objetivos da educação: o
desenvolvimento da autonomia do
educando. E, também, porque
satisfaz às necessidades de um ensino
de Matemática mais dinâmico,
revestido de significado nas ações
desenvolvidas, tornando o estudante
mais atento, crítico e independente
(Burak, 2010, p. 36).
O autor acredita que o trabalho da
Modelagem Matemática em sala de aula
proporciona que um mesmo conteúdo
possa ser visto e aplicado em distintas
situações, que rodeiam o cotidiano, além
de permitir a fixação das ideias
fundamentais. Assim, a Modelagem pode
"... contribuir de maneira significativa para
a percepção e compreensão da importância
da Matemática no cotidiano da vida de
cada indivíduo, seja ou não ele
matemático" (Burak, 1987, p. 37).
A Modelagem é uma possibilidade
de romper com essa linearidade curricular,
já que ao se trabalhar com esse instrumento
metodológico, não são os conteúdos os
determinantes dos problemas, mas sim os
problemas que determinarão os conteúdos
a serem trabalhados (Burak & Klüber,
2007). A Educação do Campo, nesse viés,
busca a relação em que os conteúdos
trabalhados surgem da necessidade e do
contexto dos alunos, professores, escola e
mesmo da sociedade.
A Educação do Campo, sob essa
perspectiva, visa cultivar nos processos
educativos
... um conjunto de princípios que
devem orientar as práticas educativas
que promovem com a perspectiva
de oportunizar a ligação da formação
escolar à formação para uma postura
na vida, na comunidade o
desenvolvimento do território rural,
compreendido este como espaço de
vida dos sujeitos camponeses
(Molina & Sá, 2012 p. 326).
É necessário que os educandos se
identifiquem nos conteúdos escolares, para
que consigam visualizar a necessidade do
aprendizado de determinado conteúdo bem
como a associação deste com atitudes em
sua realidade. Esse modelo de educação
visa a uma escola que conheça a realidade
de seus sujeitos, partindo-se do
conhecimento empírico e ofertando-se uma
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educação ampla e emancipadora. Ademais,
a educação tem correlação “... com cultura,
com valores, com jeito de produzir, com
formação para o trabalho e para a
participação social” (Kolling, Cerioli &
Caldart, 2002, p. 20).
Para Burak (2006), a metodologia de
ensino e aprendizagem da Modelagem
Matemática busca traduzir situações reais
para uma linguagem Matemática e precisa
ter como objetivo superar a maneira de se
ensinar essa disciplina, enfatizada na
memória, nas regras, na aplicação de
fórmulas, etc. Possibilita trabalhar com
temas diversos, de livre escolha dos
estudantes, ou seja, "... a partir do interesse
do grupo ou dos grupos, bem como
conhecer quais os efeitos de um trabalho
diferenciado para aprendizagem de
Matemática que norteariam essa etapa"
(Burak, 2006, p. 03). Dessa forma,
trabalhar com o que o aluno gosta e que
tem significado para ele é torná-lo
corresponsável pelo seu processo de
aprendizagem, além de
... formar um cidadão que desenvolva
a autonomia e seja crítico, capaz de
trabalhar em grupo, capaz de tomar
decisões diante das situações do
cotidiano, da sua vida familiar, da
sua vida profissional ou de sua
condição de cidadão, um sujeito
capaz de promover transformações
em sua comunidade (Burak &
Aragão, 2012, p. 85).
Dessa maneira, os elementos
característicos da Modelagem Matemática
se tornam factíveis dentro das perspectivas
da educação do campo, ao favorecer a
interação com o meio ambiente que o
ponto de partida é o cotidiano do aluno e
contribui para o seu melhor
desenvolvimento e crescimento.
Porém, não podemos esquecer as
limitações que encontramos no ambiente
escolar formal referente à estrutura
educacional, cujo currículo é engessado e
fracionado em várias disciplinas. Isso
implica profundas mudanças com relação
ao papel do professor, o qual passa a ser
um mediador do processo e não o
transmissor. Além da carga horária
disponível, também o nível de
aprendizagem do grupo de alunos e o
programa curricular a ser seguido de
acordo com a fase escolar conciliando o
currículo as perspectivas de ensino.
Um desafio em se trabalhar com a
Modelagem e sua associação às premissas
da Educação do Campo está em encontrar
alternativas para a compatibilização dos
conteúdos previstos para determinado ano
escolar. Por conseguinte, eles devem estar
de acordo com o nível de escolaridade dos
alunos envolvidos e, no momento do
desenvolvimento da Modelagem, alguns
conteúdos podem não aparecer naquele
determinado tema. A alternativa sugerida
por Burak (1994) é trabalhar uma parte da
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carga horária com o tema escolhido e a
outra parte tratar dos conteúdos não
contemplados no tema desenvolvido.
Outro desafio encontrado compete
aos estudantes, pois como em geral estão
acostumados com o processo tradicional,
no qual somente o professor é o
transmissor do saber os alunos, ao serem
convocados para se tornarem construtores
do conhecimento enfrentarão dificuldades,
por conseguinte, o processo de
aprendizagem torna-se mais lento.
Ao abordar em sala de aula da
Educação do Campo temas escolhidos
conjuntamente na perspectiva da
Modelagem Matemática, se coloca também
a problemática do estabelecimento de
relações destes com os conteúdos
matemáticos. Para isso ocorrer, diferentes
fatores necessitam ser levados em
consideração, como a série e o currículo.
Logo, o desafio do professor é estabelecer
o elo do tema escolhido com os conteúdos
conhecidos pelos alunos e aqueles que
possam ser trabalhados.
É, assim, de grande valia, uma
formação docente adequada, tanto em
aspectos da Educação do Campo quanto
nos conteúdos matemáticos e elementos da
Modelagem Matemática. O professor
necessita possuir um embasamento mais
amplo sobre o contexto em que atua para
que a Modelagem Matemática possa se
fazer presente nas aulas. Necessita também
se mostrar aberto a novas alternativas de
ensino para que assim possa auxiliar seus
alunos na compreensão da matemática
associada ao meio em que vivem.
Neste panorama, ampliar as
investigações do cotidiano da Educação do
Campo viabiliza inclusive a estruturação
de novas propostas de formação docente,
direcionadas para a reflexão das
possibilidades de construção do
conhecimento a partir da realidade escolar
local, ainda que esta não deva constituir
limitação para a compreensão da realidade
mais ampla.
Caminho metodológico da pesquisa
O presente trabalho foi elaborado a
partir de um estudo exploratório, o qual
buscou compreender elementos do cenário
escolar, caracterizando-se como pesquisa
qualitativa. A proposta deste trabalho
considerou identificar concepções da
comunidade escolar de uma Escola do
Campo, tendo como objetivo analisar o
cotidiano de uma Escola do Campo e de
como ela se insere no contexto local, além
de investigar as potencialidades que o
Ensino da Matemática tem para atender às
características da Educação do Campo.
Os objetivos foram os de analisar o
cotidiano de uma Escola do Campo e de
como ela se insere no contexto local, além
de investigar as potencialidades que o
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Ensino da Matemática tem para atender às
características da Educação do Campo. O
local de coleta de dados foi o Colégio
Estadual do Campo de Rio da Prata
Ensinos Fundamental e Médio, localizado
no interior do município de Nova
Laranjeiras, estado do Paraná.
A investigação demandou um
contato efetivo com a equipe diretiva,
coordenação pedagógica, sete (07)
docentes pertencentes ao quadro de
educadores de Ciências da Natureza e
Matemática, via realização de entrevista
audiogravada individual, e 65 alunos das
três series do Ensino Médio pela aplicação
de questionários.
Pelas etapas de pré-análise,
exploração do material ou codificação e
tratamento dos resultados
obtidos/interpretação (Minayo, 1992) os
dados foram sistematizados, codificados,
agrupados e analisados. Para a codificação
os participantes da pesquisa foram
identificados pela letra D (diretora), P
(coordenadora pedagógica), por uma letra
E (educadores) seguida de numeração (1,
2, 3,...) e A (alunos), seguidas de
numeração (1, 2, 3, 4,...), preservando
assim suas identidades. É importante frisar
que o projeto de pesquisa, previamente ao
seu início, foi aprovado no Comitê de Ética
em Pesquisa com Seres Humanos da
Universidade Estadual do Oeste do
Paraná/UNIOESTE. O agrupamento dos
dados ocorreu mediante fundamentos da
Análise de Conteúdo, na qual Minayo
(1992) e Bardin (1977) ressaltam a análise
da semelhança das respostas e expressam a
abordagem de pontos relevantes das falas
originais dos participantes.
Bardin (1997) apresenta que na
pesquisa qualitativa, a Análise de
Conteúdo enquanto método de organização
e análise dos dados expõe as vivências do
sujeito, assim como suas percepções sobre
determinado objeto e seus fenômenos.
No que tange às categorias obtidas a
partir da análise de dados, será abordado
na sequência deste texto a categoria
“Educação Matemática”, com suas
respectivas subcategorias: “Aproximação
do aluno com a disciplina de Matemática”
e “Relação do conteúdo com o cotidiano
do campo”.
O colégio estadual do campo e a
educação matemática: elementos locais
de análise
O Colégio Estadual do Campo de
Rio da Prata - Ensinos Fundamental e
Médio - está localizado no distrito de Rio
da Prata, a 24 km da sede do município de
Nova Laranjeiras. Destes, 8 km são de
estradas não pavimentadas. O município de
Nova Laranjeiras foi emancipado de
Laranjeiras do Sul em 1993, na região
Centro-Sul do Estado do Paraná.
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O distrito em que está localizado o
colégio possui aproximadamente 190
famílias. Esta comunidade é composta por
famílias que na sua maioria são
agricultores e sobrevivem da agricultura
familiar pelo plantio de feijão, fumo,
milho, hortaliças, dentre outros. Também
complementam a renda com a criação de
animais e venda de leite.
A maioria das famílias da
comunidade tem poucas opções de lazer e
de novas tecnologias. As pessoas se
concentram nos cultos religiosos, eventos
realizados pelas escolas, comunidade e
associações, jogos esportivos na quadra
comunitária ou no campo de futebol. O
acesso às tecnologias é, devido ao baixo
poder aquisitivo de alguns e por ser uma
comunidade com distância de 24 km da
sede do município, o que dificulta a
conexão com internet e telefone celular.
A escola também atende aos alunos
vindos de seis (06) comunidades vizinhas,
que não possuem escola nos níveis
Fundamental e Médio. No ano de 2016,
período de coleta dos dados, o colégio
possuía 23 turmas em funcionamento. Do
total de 35 profissionais atuantes na escola,
17 residem na zona rural, sendo 11
residentes na mesma comunidade na qual a
escola está inserida. Os outros seis (06)
funcionários residem nas comunidades
próximas a da escola. Para esse quadro de
funcionários da escola, cinco (05) vêm de
outro município.
Aproximação do aluno com a disciplina
de Matemática
Esta subcategoria trata das
percepções sobre o processo de ensino e
aprendizagem da Matemática. Foi
questionado aos alunos sobre a disciplina
com a qual eles menos se identificavam e
as mais assinaladas pelos 65 estudantes
participantes da pesquisa foram: Física,
assinalada por 30 alunos (46%),
Matemática por 17 estudantes (26%),
Biologia por 12 alunos (19%) e Química
por 6 educandos (11%), conforme tabela
abaixo.
Quadro 1: Disciplinas que os estudantes menos se identificam.
DISCIPLINAS
QUANTIDADE DE ALUNOS (%)
Física
30 (46%)
Matemática
17 (26%)
Biologia
12 (19%)
Química
6 (9%)
Fonte: Dados da pesquisa.
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Os dados indicam que as áreas do
conhecimento de Ciências da Natureza e
Matemática não integram as preferências
dos estudantes, comparativamente a outras
áreas, como de Linguagens, em que a
incidência maior foi em português, com 11
alunos (17%). Dentre as respostas sobre os
motivos pela falta de apreço pelas
disciplinas das ciências exatas e da
natureza, estão: “Porque elas são difíceis
de estudar e eu não consigo ir bem” (A35),
respostas similares foram repetidas por
diversos alunos, que em geral, imputam
culpa a si mesmos: “... não consigo
entender muito bem, os professores são
ótimos, mas sou eu o problema” (A24).
Os estudantes abordam que [...] são
matérias que têm maior complexibilidade
de entender um tipo de conteúdo” (A47);
“... não me identifico” (A54); têm muitas
fórmulas e contas chatas” (A46); “... tenho
dificuldade com números” (A33); tirei a
minha primeira nota vermelha da vida”
(A2); “... não tenho notas boas” (A21); “...
é muito cálculo, que acabo me
confundindo” (A7); “... não entendo as
explicações” (A15). Frases estas que
indicam a concepção de que os conteúdos
são por si incognoscíveis, justificando as
dificuldades de aprendizagem.
Na contramão das afirmações dos
alunos, a Matemática, enquanto campo de
conhecimentos, tem sido uma ferramenta
de grande potencial utilizada para
solucionar problemas do cotidiano,
compreender e interpretar a natureza.
Biembengut e Hein (2005) compreendem a
Matemática como o
... alicerce de quase todas as áreas do
conhecimento e dotada de uma
arquitetura que permite desenvolver
os níveis cognitivo e criativo, tem sua
utilização defendida, nos mais
diversos graus de escolaridade, como
meio para fazer emergir essa
habilidade em criar, resolver
problemas e modelar (Biembengut &
Hein, 2005, p. 9).
A partir desta função da matemática,
compreende-se a necessidade de se
trabalhar o Ensino da Matemática voltado
para a promoção do conhecimento humano
e a habilidade para utilizá-lo. Isso significa
ir além da simples resolução de problemas
matemáticos, muitas vezes, sem
significado para o aluno (Biembengut &
Hein, 2005). O desafio está em “... propor à
sociedade um ‘novo’ cidadão que
comandará a economia, a produção, o lazer
e outras atividades que ainda surgirão em
um ‘mundo’ competitivo” (Biembengut,
2005, p. 14).
Caldeira (2009) descreve que, “...
partindo-se da premissa de que a
Matemática já está posta no currículo e que
já se transformou como verdade absoluta, o
melhor caminho pedagógico para se chegar
ao conhecimento matemático é copiar os
exemplos dessas verdades” (p. 44). Nesse
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sentido, o autor descreve sobre a
importância de “... um currículo que não
apenas leve em consideração a
‘universalidade’ da Matemática, mas que
possa também considerar aspectos de uma
Matemática construída nas interações
sociais” (Caldeira, 2009, p. 35).
Nas entrevistas, os professores
concebem a Matemática como ferramenta
importante para o desenvolvimento da
aprendizagem dos alunos, pois essa
disciplina ... é como o português, está
utilizando a todo momento” (E6). Além
disso, a coordenadora pedagógica da
escola aborda que “... a matemática e o
português pelo aumento do número de
aulas são essenciais para sua formação.
Quando todas as disciplinas são reunidas,
uma formação torna-se básica e completa”
(P). Os participantes compreendem então
que a Matemática ... é tão importante
quanto indispensável, tudo que você for
fazer utiliza da matemática, e eu vejo que
os alunos têm muita deficiência nessa
parte básica da matemática, não sendo
culpa do professor... É um efeito
cumulativo, pois não utiliza o raciocínio
lógico para resolver, tanto as quatro
operações, as transformações de medidas
de unidades” (E1).
É importante que se almeje por uma
Educação Matemática na qual “... o
professor e o estudante compreendam que
eles são capazes de produzir conhecimento
novo a partir do seu próprio
conhecimento” (Caldeira, 2009, p. 39). A
Educação Matemática possui caráter
aplicado em situações oriundas de outras
áreas do conhecimento não Matemáticas,
ou seja, mais do que informar
matematicamente às pessoas, é preciso
educar criticamente, a partir da Matemática
(Barbosa, 2007). A preocupação maior em
se utilizar a Matemática está em conseguir
relatar as problemáticas de certo contexto
social, ampliando-se a capacidade de
refletir criticamente as próprias formas de
ver, estar e viver.
A Matemática, assim como as
demais disciplinas que fazem parte da área
do conhecimento, tem sido ensinada,
muitas vezes, de maneira mecânica,
descontextualizada e fragmentada. Para se
trabalhar com situações-problema do
cotidiano dos alunos, é necessário que o
professor tenha flexibilidade e domine
conhecimentos variados, inclusive
referentes ao contexto local. Dessa forma,
a Matemática ultrapassa os limites da
resolução de listas intermináveis de
exercícios com aplicação de regras e
fórmulas sem significado para o aluno.
Relação do conteúdo com o cotidiano do
campo
Os estudantes foram questionados
sobre como eles consideram sua
aprendizagem em Matemática, na análise
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das respostas obteve-se que 31 estudantes
(48%) responderam ser regular, 22 (34%)
consideraram como bom. Apenas três
alunos (4%) consideraram sua
aprendizagem como ótima e nove alunos
(14%) acreditam que ela seja ruim.
Constata-se que a maioria dos alunos
considera sua aprendizagem entre regular e
bom, conforme gráfico a seguir.
Gráfico 1: Aprendizagem em Matemática.
Fonte: Dados da pesquisa.
Quando indagados se eles visualizam
relação dos conteúdos estudados na
disciplina de Matemática com o seu
cotidiano, 43 alunos (66%) indicaram ver
esta relação. Os exemplos que esclarecem
esse contato com a Matemática referem-se
a “fazer troco” (A45), “contar dinheiro”
(A50), “calcular despesas de luz,
supermercado” (A1), “contas de roça”
(A43), “... área de terra” (A5), ”...
medições de hectare e alqueire” (A27), “...
divisão de terras” (A22), “... metros de
cerca” (A64), notas de verdura que meu
pai entrega na cooperativa e nas escolas”
(A33), “nos negócios que meu pai faz e me
conta” (A47), “calcular a média de leite
que as vacas vão dar no fim do mês”
(A29), “... arroba e venda de gado” (A56),
”... peso de produtos” (A29), “... preço do
leite” (A17), “na agricultura” (A48), “...
preço do milho e feijão” (A16), “... contas
de sacos de sal e ração que precisa
comprar” (A46) “... somar as despesas de
casa” (A25), “a quantidade de comida que
vou cozinhar” (A58), “quilômetros de casa
até a escola, horário das aulas” (A36),
“na medida de um tanque de água” (A60).
Tal concepção dos alunos é confirmada nas
falas dos professores, quando relatam suas
ações em sala de aula no sentido de
relacionar os conteúdos da matemática às
situações do cotidiano: “Comento sobre
coisas que eles podem se deparar quando
forem fazer um financiamento, comprar
um carro, vender ou comprar uma terra,
comprar algum produto em loja, pois são
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cálculos que o aluno precisa saber pra não
ser passado pra trás” (E5).
As concepções de alunos e
professores na associação dos conteúdos
curriculares com elementos do cotidiano
vão ao encontro das perspectivas da
Modelagem Matemática. Para Burak e
Aragão (2012) a concepção de Modelagem
Matemática parte de duas premissas: “1) o
interesse do grupo de pessoas envolvidas;
2) os dados são coletados onde se dá o
interesse do grupo de pessoas envolvidas”
(Burak & Aragão, 2012, p. 88). Entende-se
assim, que as atividades com Modelagem
Matemática tem potencial de fortalecer os
elos dos conteúdos com o cotidiano na
medida em que visam trabalhar a partir da
realidade do aluno, bem como partem de
um grupo de indivíduos participantes da
proposta, com um tema de interesse da
turma.
No ensino da Matemática, segundo
os dados coletados, os educandos da escola
pesquisada se utilizam de técnicas para
calcular e comparar dados. Este é o saber
matemático adquirido conforme a
necessidade de cada indivíduo e o seu
convívio social. Segundo Bassanezzi
(2004), a relação entre a Matemática e a
realidade sempre ocorrerá por
aproximação: “... estamos sempre
trabalhando com aproximações da
realidade, ou seja,... estamos laborando
sobre representações de um sistema ou
parte dele” (Bassanezzi, 2004, p. 24).
Nesse sentido,
... as atividades de Modelagem são
consideradas como oportunidades
para explorar os papéis que a
Matemática desenvolve na sociedade
contemporânea. Nem Matemática
nem Modelagem são “fins”, mas sim
“meios” para questionar a realidade
vivida. Isso não significa que os
alunos possam desenvolver
complexas análises sobre a
Matemática no mundo social, mas
que Modelagem possui o potencial de
gerar algum nível de crítica (Barbosa,
2001, p. 4).
Na sequência da coleta de dados,
quando foi solicitado para que os alunos
marcassem as opções que expressam qual a
importância da Matemática no cotidiano
deles, as respostas obtidas foram agrupadas
por semelhança de conteúdo e estão
apresentadas no quadro a seguir:
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Quadro 2: Importância da Matemática.
IMPORTÂNCIA DA MATEMÁTICA
QUANTIDADE DE ALUNOS (%)
É importante no comércio, para lidar com o dinheiro.
53 (82%)
É importante para compreender assuntos envolvendo
economia e finanças em geral observadas na
42 (65%)
propriedade de minha família.
É importante para a vida no campo, pois está
vinculada às situações-problema vinculadas na
42 (65%)
propriedade rural.
É importante para compreender os custos sobre
produção agrícola e leiteira presentes em sua
42 (65%)
realidade.
É importante para estabelecer conteúdos referentes às
medidas agrárias.
34 (52%)
É importante para a minha profissão ou será
importante para a minha futura profissão.
24 (37%)
Não tem nenhuma importância no meu dia-a-dia.
4 (6%)
Fonte: Dados da pesquisa.
O quadro mostra que os estudantes
compreendem que a Matemática ensinada
na escola, muitas vezes, serve para utilizar
em seu cotidiano, pois, os estudantes
destacaram situações na propriedade onde
moram, onde já utilizaram um conteúdo da
Matemática para resolver algum problema.
Relataram ainda que eles veem a relação
da Matemática com outras
disciplinas escolares, grande parte deles,
45 alunos (69%), a relacionou com a Física
e a Química, entendendo-as apenas como
disciplinas que possuem similaridades com
a Matemática, devido aos cálculos.
Na fala dos professores, essa relação
aparece de forma tênue e em poucos
momentos. “Eu utilizo matemática,
principalmente lá no 9° ano quando você
tem que trabalhar com genética, com
probabilidade, regra de três. Na parte de
física também envolve a matemática
básica” (E4). “... quando vamos realizar
as transformações de unidades. Em
Biologia, na parte de genética, se utiliza a
probabilidade, regra de três” (E1). “É
necessário saber os conteúdos básicos pra
utilizar nas outras disciplinas,
principalmente da área de exatas, mesmo
porque, às vezes, é necessário o cálculo
pra compreender alguma reação que está
ocorrendo em determinado sistema” (E5).
“O ano seria uma turma mais fácil que
as outras para envolver outras disciplinas
das exatas, pois envolve a parte de
química, física e genética” (E2). “Até
esses dias apareceu um conteúdo que
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tinham coisas de sica, daí até falei que
eles usariam no ensino médio e que usa
cálculos de matemática junto. Em
geografia com estatística” (E7). “...
principalmente no ano, trabalham-se
bastante os cálculos simples de
porcentagem, regra de três, transformação
de medidas, divisão de decimais, fórmulas
para verificar pH, potencial, mais também
lá na questão de radioatividade tem até
logaritmo” (E3).
Quando os alunos foram interrogados
sobre a metodologia adotada pelos
professores para ensinar os conteúdos nas
aulas de matemática, 42 alunos (65%)
consideraram que o educador explica com
afinco, porém relatam que a dificuldade
está na interpretação das atividades
propostas. Admitem que, às vezes, estão
motivados em conversar sobre assuntos
distantes do conteúdo da aula e não se
mantém atentos à explicação do professor
o que dificulta o aprendizado em
Matemática. Nestes dados transparece a
concepção de que é no silêncio que ocorre
a aprendizagem e a partir da compreensão
da fala única do professor. Neste contexto,
a inserção com sucesso da Modelagem
Matemática, demandaria uma mudança de
concepção e postura.
É relevante destacar a importância da
introdução de conceitos matemáticos,
utilizando-se de situações reais, para que se
torne significativo ao educando. Nesse
sentido, estimular os alunos a participar e
dialogar, explicitando novos conceitos a
partir de exemplos concretos,
provavelmente fará com que o conteúdo
seja mais apreciável e a aula mais
interessante e atrativa. Assim, o resultado é
o maior envolvimento dos discentes
alterando paulatinamente suas concepções
e possibilitando uma aproximação
gradativa ao perfil de trabalho da
Modelagem Matemática.
A prática diferenciada tem como
principal objetivo despertar nos educandos
o interesse em conhecer de forma
aprofundada o lugar onde vivem, o apreço
pela agricultura, pelo plantio de alimentos
bem como pelo respeito ao meio ambiente
e por uma forma de vida sustentável. Neste
sentido, é preciso que os professores não se
utilizem somente de conceitos e fórmulas
de maneira descontextualizada para
abordar o saber matemático.
Quando se pensa sobre a superação
de algumas das problemáticas encontradas,
sugerimos, em acordo com Barbosa
(2001), a Modelagem Matemática como
um caminho a ser seguido bem como o
diálogo e as atividades direcionadas aos
alunos. Tal posicionamento indica que o
educador é o principal responsável pela
condução da tarefa em sala. A partir do
momento em que os professores de
Matemática entram em contato com a
Modelagem Matemática, ocorre uma
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tensão entre as possibilidades e os limites
de atuação, e considera-se o
comportamento de pesquisador. “O
pesquisador deve estar pronto para mudar
suas posições a respeito do problema, ou
mesmo rejeitá-los, tendo em vista as
evidências de campo” (Barbosa, 2001, p.
86).
Para o professor trabalhar nessa
perspectiva, ele precisa ‘sair da zona de
conforto’. No entanto, o profissional não
precisa se sentir desmotivado ao vivenciar
os obstáculos, pois são corriqueiros da
prática docente e necessitam ser vistos com
naturalidade. Para Bassanezi (2002),
trabalhar com Modelagem Matemática
desafia os professores a ensinar a
disciplina, em qualquer nível educacional,
utilizando aplicações mais ou menos
significantes.
Burak (1994, p. 48) cita que para
aprender a trabalhar a Modelagem
Matemática, tem-se que fazer
Modelagem”. Para isso, é necessário que o
professor assuma características diferentes
da abordagem tradicional. Isso implica dar
liberdade aos alunos, atuar como mediador
em relação ao ensino-aprendizagem bem
como fazer a interação entre os problemas
estudados com os conteúdos matemáticos
que surgem no desenvolvimento do
processo, levando o aluno a pensar e
refletir sobre as questões envolvidas no
tema escolhido.
Isto posto, o ensino por meio da
Modelagem procura propiciar o emergir de
situações-problema dentro de um contexto
vinculado ao aluno, concebendo a
Matemática estudada com maior
significado, superando a visão linear do
conteúdo matemático dos currículos
escolares (BURAK, 1987). Assim,
O contexto, então, não é apenas
aquele que o indivíduo ou grupo está
inserido, mas também o mundo que
ele vive e convive, influencia e é
influenciado. Dito de outra maneira,
o conteúdo matemático foi
contextualizado, o que permitiu
avaliar o contexto do mercado, as
diferenças, as discrepâncias e outras
variáveis do gênero. Permitiu
extrapolar o simples contexto da
Matemática com característica mais
internalista e encontrar relações em
outras esferas de significado, como a
econômica (Klüber & Burak, 2007,
p. 7-8).
As atividades de Modelagem que
antes eram definidas pelo professor agora
passam a ser determinadas conforme a
necessidade que surgir do grupo. Isso
representa que "... a forma de se trabalhar a
Modelagem Matemática não é e nem pode
ser rígida. A situação do momento é que
orientará a forma mais indicada para o
trabalho" (Burak, 1992, p. 316). Assim, o
professor estimula a ação investigativa
como forma de conhecer, compreender e
atuar naquela realidade.
A Modelagem, enquanto
metodologia de ensino e aprendizagem,
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pode ser trabalhada não apenas na
disciplina de Matemática, mas pode ir além
disso. Ela pode envolver outras disciplinas,
na medida em que é capaz de articular e
sistematizar o cotidiano dos educandos a
novos conhecimentos. A propósito dessas
afirmações, considera-se que é possível
contribuir, pela Modelagem Matemática,
para a realização de um projeto educativo
realmente adequado às necessidades do
aluno do campo.
Considerações finais
As conquistas alcançadas no decorrer
dos últimos anos referentes à Educação do
Campo, como leis específicas para os
sujeitos que vivem e trabalham no campo,
expressam um passo importante na
garantia e acesso de condições
educacionais mais específicas para esses
sujeitos. Porém, ainda muito que se
caminhar, no que diz respeito à escola e às
disciplinas, vinculadas às especificidades
no campo.
Assim como a Educação do Campo,
a Educação Matemática vem definindo
metodologias que estabelecem métodos de
investigação para além do âmbito
acadêmico. Portanto, as práticas educativas
atuais demandam metodologias
diferenciadas, que tentam ampliar o
sentido da matemática, que contribuem
para fortalecer um elo entre a realidade dos
educados e os conteúdos científicos.
As análises efetuadas dos
questionários nos mostraram que o aluno
tem um sentimento de pertença ao campo,
muitos deles pretendem continuar seus
estudos, mas sem perder o vínculo com o
campo. No que se refere ao ensino
contextualizado, relatam que tiveram
experiências de atividades sugeridas pelo
professor e que essas estavam vinculadas à
sua realidade, por isso, conseguiram
relacioná-las com alguma característica do
lugar onde moram. Muitas vezes, são
conexões simples, mas que auxiliam na
contextualização do conteúdo científico
trabalhado na escola quanto às
semelhanças de sua cultura camponesa.
A pesquisa realizada apontou
também aspectos da articulação entre o
conhecimento científico e o conhecimento
cotidiano dos alunos na interação
pedagógica. Apesar dessa constatação, os
educadores pouco trabalham com o que o
educando traz de específico da sua
vivência, mas com questões gerais,
relacionadas à vida no campo.
No tocante a implementação da
Educação do Campo, os educadores ainda
têm muitas dúvidas e dificuldades, ou seja,
simplesmente a existência da legislação
não se constitui em garantia à sua
implantação. Existem muitas dúvidas de
como os conteúdos devem ser abordados.
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Nahirne, A. P., & Strieder, D. M (2018). Escola do campo e a prática social de ensino da matemática...
Apesar disso, os docentes tem em suas
concepções a importância de avançar no
tema e alguns professores tentam propor
atividades que se relacionem com a vida no
campo.
Uma formação docente direcionada
se constituiria em um importante
instrumento de mudança, contudo, existe a
carência da própria formação de
formadores no tema. Há, portanto, a
necessidade de associar as intenções a um
perfil de comprometimento de gestores,
educadores e pesquisadores com a busca
por um ensino mais adequado às
necessidades do aluno do campo a fim
trazer alterações efetivas na realidade.
O fortalecimento das pesquisas sobre
o tema é essencial, trazendo resultados em
outros elementos que precisam compor o
quadro, a exemplo de materiais didáticos
específicos para amparar ações docentes ou
a reflexão sobre práticas pedagógicas
inovadoras.
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Informações do artigo / Article Information
Recebido em : 20/02/2018
Aprovado em: 22/03/2018
Publicado em: 23/06/2018
Received on February 20th, 2018
Accepted on March 22th, 2018
Published on June 23th, 2018
Nahirne, A. P., & Strieder, D. M (2018). Escola do campo e a prática social de ensino da matemática...
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Contribuições no artigo: As autoras foram os
responsáveis por todas as etapas e resultados da
pesquisa, a saber: elaboração, análise e interpretação dos
dados; escrita e revisão do conteúdo do manuscrito
e; aprovação da versão final a ser publicada.
Author Contributions: The authors were responsible for
the designing, delineating, analyzing and interpreting the
data, production of the manuscript, critical revision of the
content and approval of the final version to be published.
Conflitos de interesse: As autoras declararam não haver
nenhum conflito de interesse referente a este artigo.
Conflict of Interest: None reported.
Orcid
Ana Paula Nahirne
http://orcid.org/0000-0003-0632-6688
Dulce Maria Strieder
http://orcid.org/0000-0003-4495-6664
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Nahirne, A. P., & Strieder, D. M. (2018). Escola do campo
e a prática social de ensino da matemática na concepção
da comunidade escolar. Rev. Bras. Educ. Camp., 3(2),
496-518. DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-
4863.2018v3n2p496-2
ABNT
NAHIRNE, A. P.; STRIEDER, D. M. Escola do campo e a
prática social de ensino da matemática na concepção da
comunidade escolar. Rev. Bras. Educ. Camp.,
Tocantinópolis, v. 3, n. 2, mai./ago., p. 496-518, 2018.
DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-
4863.2018v3n2p496-2
Revista Brasileira de Educação do Campo
The Brazilian Scientific Journal of Rural Education
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Educação matemática de jovens e adultos: implicações
pedagógicas da teoria histórico-cultural
José Carlos Miguel
1
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Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho - UNESP. Departamento de Didática/Programa de Pós-Graduação em
Educação. Faculdade de Filosofia e Ciências. Avenida Hygino Muzzi Filho 737, Mirante. Marília - SP. Brasil.
Autor para correspondência/Author for correspondence: jocarmi@terra.com.br
RESUMO. O presente estudo aborda algumas implicações
pedagógicas da teoria histórico-cultural para a exploração de
ideias matemáticas no âmbito da educação de jovens e adultos
(EJA). Partindo de uma análise sobre o estado da arte no que se
refere às dificuldades de professores e alunos para o ensino e a
aprendizagem da Matemática ao longo do processo de
escolarização indica elementos ao debate que se voltam à
explicação dos problemas elencados e para encaminhamento de
um processo de constituição de sujeitos de aprendizagem
matemática no âmbito da EJA. Trata-se de pesquisa
bibliográfica e documental, além da análise de situações
matemáticas usuais em aulas de EJA, cujos resultados mostram
as dificuldades da cultura escolar básica para a superação de
ações didáticas ainda fortemente marcadas pela associação de
modelos. Aponta para o constructo teórico da perspectiva
histórico-cultural como perspectiva para a efetivação de um
amplo processo de produção de sentidos e de negociação de
significados de ensino e de aprendizagem da Matemática na
EJA.
Palavras-chave: Educação de Jovens e Adultos, EJA, Educação
Matemática, Formação de Conceitos, Produção de Sentidos,
Negociação de Significados Matemáticos.
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Miguel, J. C. (2018). Educação matemática de jovens e adultos: implicações pedagógicas da teoria histórico-cultural...
Mathematical education of young and adults: pedagogical
implications of historical-cultural theory
ABSTRACT. The present study addresses some pedagogical
implications of historical-cultural theory for the exploration of
mathematical ideas in the field of youth and adult education
(EJA). Starting from an analysis of the state of the art regarding
the difficulties of teachers and students for teaching and learning
of Mathematics throughout the schooling process indicates
elements to the debate that return to the explanation of the
problems listed and to refer a process of constitution of
mathematical learning subjects within the scope of the EJA. It is
a bibliographical and documentary research, besides the analysis
of usual mathematical situations in EJA classes, whose results
show the difficulties of the basic school culture to overcome
didactic actions still strongly marked by the association of
models. It points to the theoretical construct of the historical-
cultural perspective as a perspective for the realization of a
broad process of production of meanings and negotiation of
meanings of teaching and learning of Mathematics in the EJA.
Keywords: Youth and Adult Education, EJA, Mathematical
Education, Formation of Concepts, Production of Meanings,
Negotiation of Mathematical Meanings.
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Educación matemática de jóvenes y adultos: implicaciones
pedagógicas de La teoría histórico-cultural
RESUMEN. El presente estudio aborda algunas implicaciones
pedagógicas de la teoría histórico-cultural para la exploración de
ideas matemáticas en el ámbito de la educación de jóvenes y
adultos (EJA). A partir de un análisis sobre el estado del arte en
lo que se refiere a las dificultades de profesores y alumnos para
la enseñanza y el aprendizaje de las Matemáticas a lo largo del
proceso de escolarización indica elementos al debate que se
vuelven a la explicación de los problemas enumerados y para
encaminamiento de un proceso el proceso de constitución de
sujetos de aprendizaje matemático en el marco de la EJA. Se
trata de una investigación bibliográfica y documental, además
del análisis de situaciones matemáticas usuales en clases de
EJA, cuyos resultados muestran las dificultades de la cultura
escolar básica para la superación de acciones didácticas aún
fuertemente marcadas por la asociación de modelos. Se apunta
al constructo teórico de la perspectiva histórico-cultural como
perspectiva para la efectividad de un amplio proceso de
producción de sentidos y de negociación de significados de
enseñanza y de aprendizaje de las Matemáticas en la EJA.
Palabras clave: Educación de Jóvenes y Adultos, EJA,
Educación Matemática, Formación de Conceptos, Producción de
Sentidos, Negociación de Significados Matemáticos.
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Introdução
O desenvolvimento histórico da
educação matemática como campo teórico
nos mostra, entre outras formulações
relevantes, que as tentativas de explicação
das dificuldades com a aprendizagem da
Matemática transitam pelas ideias de
condições inadequadas de trabalho na
escola, formação inadequada do professor
(Ponte, 2003; Angelucci, Kalmus, Paparelli
& Patto, 2004), problemas de assimilação
dos alunos, desvalorização da escola,
programas de ensino inadequados,
concepções sobre o ensino de Matemática
(Danyluk, 1993; Oliveira & Moreira,
2010), etc., sendo que cada aspecto dessa
problemática merece consideração e
cumpre um papel para o desempenho dos
estudantes na aprendizagem matemática.
As dificuldades de aprendizagem
matemática dos jovens e adultos se devem,
em geral, à cultura escolar cujo
procedimento metodológico ainda é
marcado pela associação de modelos, ou
seja, uma conduta didática na qual, se o
aluno bem observa o professor fazer, ele
deve aprender, prevalecendo a visão
utilitarista e a visão platônica da
Matemática como podemos concluir com
base em Chacón (2003).
Por essa forma de compreender o
ensino e a aprendizagem da Matemática,
relações lógico-matemáticas interessantes
para o desenvolvimento do pensamento
teórico no âmbito desta ciência, presentes
nas relações sociais de trabalhar, brincar,
jogar e interagir no contexto da EJA são
pouco exploradas matematicamente ou
mesmo negligenciadas.
A observação e o acompanhamento
de aulas de Matemática em todos os níveis,
mas na educação de jovens e adultos, em
particular, revelam certo distanciamento
entre a forma de evolução do pensamento
matemático, claramente marcada pela
contextualização e pela tentativa de
resolução de problemas que se colocavam
para a humanidade ao longo de sua
trajetória histórica. Perde-se de vista o fato
de que a educação matemática é uma
prática social de natureza interdisciplinar,
e, portanto, obrigada ao diálogo com as
demais práticas sociais, de certo modo
desconsiderando-se na forma metodológica
de sua difusão a necessidade de se ater
mais a bases psicológicas e socioculturais
do que sistemáticas.
Em que pesem os reconhecidos
esforços para superação do problema nos
contextos formativo, de organização dos
programas de ensino e de políticas públicas
para a educação, essa maneira de
compreender a constituição do pensamento
matemático, claramente marcada pelo
apego à sistematização formal, e a forma
de sua difusão na escola ainda marca,
impregna e determina a relação entre
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conteúdo e forma nesta área do
conhecimento. A rigor, é preciso
compreender como os alunos pensam a
partir da análise de seus supostos erros
(Cury, 2007).
As condutas didáticas mais notadas
nas escolas indicam que sendo a
Matemática uma ciência hipotético-
dedutiva deva predominar na sua difusão,
desde os primeiros passos no processo de
escolarização, a explicitação de seu
encadeamento gico-formal e, desse
modo, exige-se dos alunos um nível de
abstração e formalização que está além de
sua capacidade de compreensão. No caso
dos educandos da EJA outra
contradição: eles fazem mentalmente
interessantes cálculos mentais, os quais
geralmente não sabem registrar por escrito
e, via de regra, na escola se colocam em
busca da apropriação de modelos formais
por vezes distantes dos seus modos de
pensar.
Essa tendência ao formalismo
exagerado no ensino da Matemática,
tradição que se deve à compreensão
inadequada do modelo formal euclidiano
(Imenes, 1987) por parte dos docentes,
perpassa praticamente todos os temas dessa
área do conhecimento e tem reduzido a
abordagem das noções matemáticas a um
tratamento axiomático que consiste muito
mais em buscar a formulação algébrica
dessa ideia pelo apego ao raciocínio
lógico-formal do que a uma tentativa de
conhecer e interpretar as propriedades
envolvidas enquanto conceitos
fundamentais para a compreensão de
fenômenos significativos da vida dos
alunos.
A nosso ver, a competência para
lidar com ideias matemáticas se coloca
para os sujeitos antes de sua inserção
escolar e deve ser enfatizada ao longo da
escolarização, iniciando-se no processo de
alfabetização pela compreensão de que a
Matemática é um importante componente
de respaldo aos processos de leitura e de
escrita. Desde o nascimento a pessoa
estabelece relações com o meio,
desenvolvendo, estruturando e
aperfeiçoando a inteligência mediante o
desenvolvimento das estruturas básicas de
pensamento, quais sejam, topológicas,
algébricas e de ordem.
Parece-nos que a escola de EJA tem
explorado pouco tais relações que são
fundamentais para o desenvolvimento do
pensamento teórico e nas primeiras
experiências escolares, portanto, os
professores precisam atentar para a
necessidade do favorecimento dessa
construção haja vista que o aluno da EJA
traz para a escola amplo cabedal de
experiências de apropriação de ideias
matemáticas, ainda que não sistematizadas
do ponto de vista formal.
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A relativa desconsideração com o
desenvolvimento das estruturas de
pensamento mencionadas e o modo escolar
de tratar a difusão do pensamento
matemático negligencia o fato de que o
bom desempenho dos alunos nos primeiros
anos da escolarização formal e a sua
permanência com êxito na escola
subentende cuidadoso trabalho de
estimulação dos sentidos, de coordenação,
de atenção e de encaminhamento da
construção de uma linguagem simbólica
pautada por atividades que favoreçam o
desenvolvimento do pensamento teórico,
aspecto fundamental para a efetividade da
formação de conceitos matemáticos.
Dados do INAF, Indicador Nacional
de Alfabetismo Funcional, revelam ao
longo das duas últimas décadas a
necessidade de incorporação das
habilidades matemáticas na constituição
dos indicadores de alfabetismo funcional
de modo a refletir a diversidade e a
progressiva sofisticação das demandas de
leitura e escrita a que os sujeitos devem
atender para serem considerados
funcionalmente alfabetizados na sociedade
contemporânea.
Apesar disso, o que se constata ao
longo das duas últimas décadas é um
descompasso entre tais necessidades postas
pelo modo de produção definido no
contexto da proliferação das tecnologias e,
em especial, da microeletrônica. Assim é
que,
... os resultados do INAF 2004
indicam que apenas 23% da
população jovem e adulta brasileira é
capaz de adotar e controlar uma
estratégia na resolução de um
problema que envolva a execução de
uma rie de operações. essa
parcela é também capaz de resolver
problemas que envolvam cálculo
proporcional. É ainda mais
preocupante a revelação de que
apenas nesse grupo encontram-se os
sujeitos que demonstram certa
familiaridade com representações
gráficas como mapas, tabelas e
gráficos. (Ação Educativa, 2004, p.
8-9).
Em que pese os esforços das equipes
técnicas das secretarias de educação e das
agências de formação e financiamento da
educação, esses indicadores permanecem
praticamente inalterados. Por que isso
acontece?
É nossa hipótese que na tradição
multissecular de abordagem escolarizada
do conhecimento matemático, a forma
tradicional de difusão dos fatos
matemáticos não a devida importância
às experiências desenvolvidas pelos
alunos, desde muito cedo, de exploração
sensorial do meio físico, interpretando o
ambiente em que vivem, conhecendo e
transformando as relações nele presentes.
Em consequência, os programas de ensino
de Matemática se preocupam muito mais
com atividades ligadas à linguagem, à
simbolização e à quantificação, deixando
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de explorar o desenvolvimento da
capacidade de raciocínio lógico possível
num trabalho pedagógico com a temática
em questão e que perpassa as atividades
práticas do cotidiano, as atividades lúdicas
e as experiências matemáticas, via cálculo
mental e estimativa, tão reconhecidas no
contexto da EJA.
Dito isso, evidenciam-se duas marcas
distintivas da atividade didática
relativamente ao ensino de Matemática na
EJA no contexto brasileiro. De um lado, no
conjunto de docentes que supervalorizam o
papel do cálculo mental e da estimativa no
ensino da Matemática, esta etapa da
formação básica deve enfatizar o processo
de apropriação da leitura e da escrita. Mas
até que ponto, a articulação e a forma de
difusão das ideias matemáticas não podem
se constituir a partir dos processos de
leitura e de produção de textos? De qual
Matemática devemos falar no que se refere
ao ensino dos jovens e adultos da EJA?
Uma rápida incursão na realidade escolar
evidenciará que essas questões não se
mostram muito claras. De outro lado, se
coloca uma corrente claramente afetada
pela perspectiva mercantilista da educação,
reforçando a pressa dos alunos da EJA em
aprender, e que põe em prática uma ação
pedagógica que se coloca no âmbito da
sistematização formal dos modelos
matemáticos, negligenciando as
especificidades do desenvolvimento
intelectual desse alunado.
Ambas as posições se revelam
inadequadas, a se julgar pelos principais
indicadores de avaliação dos resultados
auferidos pelos alunos na continuidade do
processo de escolarização. É um problema
que, a despeito dos diversos invariantes
que o compõem, tem posição marcada pela
formação do educador em sua constituição.
Ao discutir o papel da investigação como
um elemento da cultura profissional do
professor, Ponte (2003) estabelece que
A valorização de uma cultura de
investigação entre os professores não
depende apenas de uma actuação
mais ou menos voluntarista no plano
individual. Pressupõe, pelo contrário,
um papel fundamental das instâncias
coletivas onde os professores
exercem a sua atividade profissional,
com destaque para as escolas, os
movimentos pedagógicos e as
estruturas associativas. Um dos
maiores obstáculos à afirmação de
uma cultura de investigação nos
professores é a velha oposição entre
teoria e prática. Nesta oposição, a
teoria é algo fantasioso, inadequado
para a interpretação da realidade,
inútil ou até pernicioso. A prática é o
reino da normalidade e do inevitável,
onde todos os problemas encontram
sempre justificação externa (sejam os
alunos, os encarregados de educação,
os explicadores, a falta de condições
de trabalho ou a política do
Ministério). Trata-se de uma
concepção bizarra de teoria e prática.
Na verdade, teoria e prática são duas
faces de uma mesma moeda.
Coexistem sempre. Onde uma
teoria uma prática e onde uma
prática uma teoria. O que é
preciso é questionar se a teoria serve
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ou não serve e se a prática é
recomendável ou problemática.
(Ponte, 2003, p. 18-19).
A citação é longa, mas é
esclarecedora para a nossa discussão
porquanto as práticas de ensino no âmbito
do ensino de Matemática e da EJA
precisam ser colocadas em um patamar que
contemple os avanços recentes da pesquisa
em Educação, em especial, no que se refere
aos aportes socioculturais da aprendizagem
matemática.
Superar na EJA a concepção
utilitarista e meramente instrumental do
conhecimento matemático impõe pensar a
formação de um professor
epistemologicamente curioso, disposto a
refletir sobre o significado do
conhecimento matemático, como ele se
constitui e inserir os alunos num processo
de produção de sentidos e de negociação
de significados de aprendizagem mediante
estabelecimento de uma relação dialógica:
A relação entre o pensamento e a
palavra é um processo vivo: o
pensamento nasce através das
palavras. Uma palavra desprovida de
pensamento é uma coisa morta, e um
pensamento não expresso por
palavras permanece uma sombra. A
relação entre eles não é, no entanto,
algo formado e constante: surge ao
longo do desenvolvimento e também
se modifica. .... A palavra não foi o
princípio a ação já existia antes
dela: a palavra é o final do
desenvolvimento, o coroamento da
ação. (Vygotsky, 1991, p. 131).
Com base no pensamento do autor, é
necessário considerar que o
desenvolvimento das habilidades
linguísticas se realiza em conjunto com as
atividades matemáticas o que traz
consequências para o planejamento das
ações nas escolas. Para além das
dimensões científica e tecnológica, a
Matemática se consolida como
componente da cultura geral do cidadão
que pode ser observada na linguagem
corrente, na imprensa, nas leis, na
propaganda, nos jogos, nas brincadeiras e
em muitas outras situações do cotidiano.
Assim, o presente estudo tem por
objetivo analisar os pressupostos teórico-
metodológicos da ação pedagógica a ser
desenvolvida na educação de jovens e
adultos com vistas à sustentação do
processo de formação de conceitos em
Matemática. Para tanto, discute
os
fundamentos teóricos envolvidos na
construção do vocabulário fundamental da
Matemática e suas implicações para a
prática docente na EJA de modo a
contribuir para a alfabetização matemática
nos primeiros anos do ensino fundamental.
Trata-se de pesquisa bibliográfica e
documental que parte do pressuposto de
que o educando da EJA é um ser ativo que
pensa, percebe coisas, fatos e objetos;
elabora imagens mentais; estabelece e
formula relações; operando mentalmente e
formulando conceitos. É uma construção
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teórico-conceitual que resulta diretamente
de nossa atuação como coordenador no
contexto do Programa UNESP de
Educação de Jovens e Adultos, PEJA,
desenvolvido desde o ano de 2.000 e do
Programa Institucional de Bolsa de
Iniciação à Docência, PIBID-EJA, posto
em prática a partir do ano de 2009, sendo
ambos os projetos voltados à formação
inicial e contínua de educadores da EJA e à
articulação entre ensino, pesquisa e
extensão universitária nesta área do
conhecimento.
A sistemática de desenvolvimento de
ambos os programas envolve processos de
intervenção na realidade escolar e reflexão
permanente sobre o contexto escolar da
EJA. É no debate sobre as dificuldades que
os docentes em formação inicial ou
contínua enfrentam que se logram as
possibilidades de mudança na forma de
tratamento metodológico da difusão do
conhecimento matemático. Desse modo, o
presente artigo discute questões que
aprecem cotidianamente nesse processo de
ação-reflexão-ação.
Acreditamos também que o
conhecimento matemático pode ser
ensinado, mas que a sua apropriação deve
apoiar-se nas relações que o sujeito
estabelece entre objetos, fatos e
acontecimentos. Por isso, o conhecer
impõe ao sujeito que aprende a interação e
a troca com os outros e, em particular, com
o objeto do conhecimento. A apropriação
do fato matemático é, simultaneamente,
ação coletiva, ativa e individual.
Consideramos, enfim, que a
compreensão dessas relações é elemento
central para a formulação de propostas de
encaminhamento para as dificuldades
enfrentadas por professores e alunos no
processo ensino e de aprendizagem da
Matemática e para a consolidação de
princípios pedagógicos voltados para uma
formulação epistemológica adequada com
vistas à organização do currículo de
Matemática como um todo orgânico,
articulado e flexível, destacando-se as suas
relações com a formação de conceitos na
área.
Nesse sentido, para além do registro
simbólico, o trabalho pedagógico em
Matemática deve contribuir para o
desenvolvimento de habilidades de
raciocínio que se inicia com o apoio da
linguagem oral e vai, com o tempo,
incorporando textos e representações mais
elaborados.
Partimos da crença de que é apenas a
partir da própria experiência que se facilita
a apropriação do conhecimento
matemático. Somente uma metodologia
apoiada na sutileza do raciocínio próprio
pode conduzir a proposições mais abstratas
e à utilização do raciocínio formal, lógico e
dedutivo típico da matemática.
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Miguel, J. C. (2018). Educação matemática de jovens e adultos: implicações pedagógicas da teoria histórico-cultural...
Com base nos pressupostos da Teoria
Histórico-Cultural é nossa convicção que
ao se organizar o ensino de Matemática de
acordo com as necessidades dos alunos da
EJA é imperioso considerar que as
atividades de ensino organizadas pelos
professores precisam ter como foco o
desenvolvimento da personalidade
humana.
Para tanto, as atividades dos
educandos da EJA estão diretamente
ligadas ao processo de apropriação das
bases dos conceitos matemáticos, tais
como o controle de diferentes quantidades,
grandezas, espaço e forma em sua relação
direta com o mundo e com as coisas, de
natureza física ou simbólica.
Essas atividades são cruciais para a
apropriação dos conceitos matemáticos que
envolvem as relações topológicas,
algébricas e de ordem, tão evidentes na
ação cotidiana das pessoas tais como a
orientação, a localização e a noção de
fronteira, a numeração, a resolução de
problemas e a ocupação e exploração do
espaço, efetivas nas relações das pessoas
com o meio físico, com os objetos, com as
demais pessoas e, enfim, com o mundo que
as rodeia.
A produção de sentidos e os significados
no ensino e na aprendizagem da
Matemática
Uma discussão sobre sentidos e
significados no ensino e na aprendizagem
da Matemática na EJA é fundamental
porque os professores e os estudantes se
deparam nas suas atividades cotidianas
com problemas de grande complexidade,
tanto de ensino quanto de aprendizagem,
afetos ao dimensionamento do que fazem
cotidianamente. De fato, o elemento
central da questão é a carência de
atribuição de sentido ao que se faz no
processo educativo.
Bishop (1999) aponta para três níveis
de cultura que na sua perspectiva
determinam a produção de sentidos e
significados matemáticos: técnico, formal e
informal. Segundo o autor, a cultura
técnica da Matemática envolve o conjunto
de símbolos e de argumentos utilizados
pelos matemáticos em suas formulações. A
cultura formal relaciona-se com os
conceitos matemáticos sistematicamente
organizados. a cultura informal
considera os saberes matemáticos
particulares de um indivíduo ou grupo
social.
Para ilustrar, tomemos como
exemplos situações matemáticas de adição
ou subtração de números naturais efetuadas
mentalmente por educandos da EJA. Quase
sempre, nas heurísticas que desenvolvem
fazem analogia com o uso do dinheiro.
Além disso, notamos que ao expressar as
heurísticas que põem em prática no cálculo
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mental eles revelam fazer os cálculos por
decomposição, começando geralmente pela
ordem superior do numeral, com base na
forma como falam ou interpretam as
quantidades de dinheiro:
Observe-se que a ideia da
decomposição pode se manter também na
multiplicação e na divisão, sendo que na
última recorre-se também à estimativa:
Por óbvio, constitui papel da escola
conduzir os alunos ao desenvolvimento dos
algoritmos usuais da Aritmética quer pelo
seu uso social, quer pela possibilidade de
generalização que detém, mas não se pode
prescindir dos saberes que eles trazem para
a escola como ponto de partida para a ação
didático-pedagógica.
Para Leontiev, a psicologia do
homem está vinculada à atividade dos
indivíduos concretos incluídos no sistema
de relações da sociedade. Não se pode
considerar a atividade desvinculada das
relações sociais, pois desta maneira ela não
existe. O autor explicita isso ao afirmar:
“O homem encontra na sociedade não
somente as condições externas as que deve
acomodar sua atividade, como essas
mesmas condições sociais contêm os
motivos e os fins de sua atividade, seus
procedimentos e meios”. (Leontiev, 1978,
p. 68).
Recorro a Leontiev para estabelecer
que a atividade de conhecer envolve
aspectos figurativos, operativos e
conotativos. O conhecimento figurativo
relaciona-se ao real externo e não exige o
estabelecimento de relações. O sujeito
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forma uma imagem mental isolada na qual
se destacam cores, tamanhos e formas. É
desta forma que inicialmente os educandos
da EJA podem reconhecer as notas do
dinheiro ou determinada linha de ônibus
urbano. É um tipo de conhecimento que se
centra na memorização, na repetição e nos
macetes. Assim, um educando pode ver ou
pronunciar o numeral 209, mas não saber o
que o 209 tem a ver com o 208 ou com o
numeral 210.
Por sua vez, o conhecimento
conotativo relaciona-se à formação de
conceitos, de significados. Encaminha-se
para além do conhecimento figurativo,
envolvendo o estabelecimento de relações,
levantando hipóteses e tirando conclusões.
Assim, como exemplo, o carro deixa de ser
apenas um veículo de quatro rodas,
carroceria e assentos, como meio de
transporte, passando a ser visto também
como um meio para produção e serviços
em maior escala, qualitativamente de
forma diferente de um patinete ou de um
carrinho de rolimã. O sujeito apreende o
real, dando sentido a ele, utilizando-se dos
conceitos elaborados e usando os objetos
de acordo com o seu significado.
No contexto operativo, o
conhecimento se constitui na interação do
sujeito aprendente com as outras pessoas e
com a realidade, caracterizando-se pelo
pensamento ativo, de forma a superar
conflitos e contradições decorrentes da
interação.
Toda atividade psíquica, então, é
um reflexo da atividade prática,
transportando para a atividade subjetiva
toda a atividade com objetos realizada no
mundo cultural, objetivo. Por óbvio, este
transporte não ocorre de modo mecânico,
mas implica na participação ativa do
sujeito, processo denominado pela teoria
histórico-cultural como objetivação,
sempre determinado pelas relações sociais
em que o sujeito encontra-se envolvido.
Nesse sentido, Vygotsky (1995)
explica que a formação dos conceitos não
se por meio mecânico, como uma
simples sobreposição de fotos retiradas da
realidade. toda uma elaboração por
parte do sujeito na constituição do
pensamento natural, que ocorre no exato
instante em que ele atribui sentido para
aquele momento todo de vivência.
Para o autor, as funções psíquicas
são relações sociais interiorizadas, ou
seja, se constituem originalmente nos
processos sociais. Portanto, a função
mediadora do significado das palavras
constitui um sistema de signos reversíveis
permitindo as duas funções principais da
linguagem, ambas inter-relacionadas, a
comunicativa e a representativa,
articulando o pensamento. Tais funções se
relacionam com os processos de
contextualização e descontextualização
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Miguel, J. C. (2018). Educação matemática de jovens e adultos: implicações pedagógicas da teoria histórico-cultural...
conferindo sentido e valor aos
significados das palavras. Note-se, então,
que o autor coloca em evidência tanto a
natureza quanto a sua constituição, a
partir de e pela realidade sociocultural, o
que atribui ao conceito de mediação
semiótica uma densidade social e
histórica.
De fato, é oportuno considerar que
... o acesso aos objetos passa
necessariamente por representação
semiótica. Além do que, isso explica
por que a evolução dos
conhecimentos matemáticos conduz
ao desenvolvimento e à
diversificação de registros de
representação. (Duval, 2003, p. 21).
Imprescindível, porém, estabelecer
que, efetivamente, a questão não se
restringe ao problema dos registros de
representação, haja vista o fato de
educandos reconhecerem determinado
numeral, mas não saberem a relação entre
ele e o seu antecessor ou sucessor. Porém,
a contribuição de Duval é relevante no que
se refere ao contexto estrito dos registros
simbólicos, ou seja, no que se refere às
formas de representação dos conceitos
matemáticos, posto que as representações
semióticas sejam externas e conscientes do
indivíduo, isto é, constituem a
compreensão explícita sobre dado objeto,
sendo que tais percepções se constituem de
formas diversas e é um problema de
desenvolvimento.
Assim, se a variedade das formas de
registros e representações indica, marca e
caracteriza, de certo modo, a
funcionalidade do pensamento humano,
não nos parece suficiente para demonstrar,
expressamente, a compreensão que se tem
acerca do objeto em estudo. E é
exatamente neste ponto que a escola peca
porque coloca peso exatamente na
sistematização formal, leia-se, em sentido
estrito, na representação simbólica,
negligenciando aspectos relacionados à
evolução histórica das ideias matemáticas,
à produção de sentidos de aprendizagem e
à negociação de significados matemáticos.
Desse modo, que se considerar a
complementaridade de funções entre
pensamento e linguagem e o fato de que, a
rigor, é a função semiótica que possibilita
o pensamento, o que encontra respaldo em
Vygotsky (1995), sendo que para esse
autor o desenvolvimento das
representações mentais está associado à
interiorização de representações semióticas
iniciada pela língua materna.
A diferença na compreensão do
problema é sutil, mas, fundamental.
Enquanto para Vygotsky (1995) a função
representativa é função da linguagem,
juntamente com a função comunicativa, no
outro modo de pensar, embora se concorde
que a representação é resultado da
atividade semiótica, tal função aparece
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Miguel, J. C. (2018). Educação matemática de jovens e adultos: implicações pedagógicas da teoria histórico-cultural...
como autônoma, da qual emerge a
inteligência representativa.
Daí que a linguagem, um sistema
articulado de signos, histórica e
socialmente construído, envolve
significados instituídos relativamente
estáveis, mas mutáveis, configurando-se na
polissemia das palavras. É no contexto da
interlocução que tais significados assumem
sua significação concreta.
Por isso, para entender a fala do
outro não basta compreender as suas
palavras, impõe-se compreender o modo
como o outro pensa e a motivação que o
mobiliza.
Para Vygotsky (1995), a função de
representação é o que define o signo, ou
seja, ela é a função específica dos sistemas
sígnicos, tal como a linguagem. Por isso, a
percepção sensorial, a manifestação
primordial de conhecimento do real, está
delineada semioticamente, ainda que o
sujeito dela não tenha plena consciência. É
célebre a seguinte passagem de texto do
autor sobre a questão:
Um aspecto especial da espécie
humana - que surge em idade muito
precoce é a percepção de objetos
reais. Isto é algo que não encontra
correlato na espécie animal. Por este
termo eu entendo que o mundo não é
visto simplesmente em cor e forma,
mas também como um mural com
sentido e significação. (Vygotsky,
1995, p. 37).
Desta forma, quando o sujeito entra
em contato com o mundo dos objetos e os
manipula, o que ele percebe não é meros
objetos, mas objetos semióticos, isto é,
coisas que possuem nome, sejam entes
físicos ou imaginários. Junto com a
imagem visual do objeto, o sujeito capta a
palavra que lhe significado, ainda que
palavra e objeto pareçam se confundir. Em
outras palavras, ao sujeito em processo de
alfabetização na EJA não basta desenhar o
numeral 20, por vezes, relacionado com o
uso social do dinheiro; mais importante é
que o educando saiba o que o 20 tem a ver
com o 19 ou com o 21, ou o que ele pode
comprar com essa nota, o que nem sempre
é considerado na escola e que é
significativo para ele.
Seja no caso da imitação, seja no
caso do jogo simbólico, o que torna
semióticas tais atividades, para Vygotsky
(2009a), é a significação que elas têm para
o outro, do grupo social, e não a
semelhança com o objeto representado.
Essa é uma conclusão fundamental, com a
qual se pode definir o quão obsoletos são
os procedimentos didáticos que priorizam
apenas a representação simbólica de
números ou entes geométricos.
Tomemos como exemplo, o conceito
de quadrado, por vezes erroneamente
difundido na escola como figura ou
polígono que tem quatro lados iguais.
Como ou o que seria, nesta definição, um
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losango? Um losango não tem, também,
quatro lados de medidas iguais?
Pedagogicamente, mais efetivo seria
conduzir os sujeitos a observar, manipular,
sobrepor e comparar figuras geométricas
diversas de modo a reconhecer
regularidades nelas presentes, de modo a
estabelecer que todo quadrado é, a rigor,
um losango, mas nem todo losango é um
quadrado. O mesmo problema da
associação de modelos que não trata,
efetivamente, da elaboração conceitual,
pode ser notado relativamente à
incompreensão dos alunos da distinção
entre circunferência e círculo, ou entre
quadrado e cubo, ou de importantes
relações conceituais, de uso social, entre
cm³ e mililitro ou entre dm³ e litro, dentre
outras dificuldades.
De fato,
A aprendizagem da Matemática
refere-se a um conjunto de conceitos
e procedimentos que comportam
métodos de investigação e raciocínio,
formas de representação e
comunicação. Como ciência, a
Matemática engloba um amplo
campo de relações, regularidades e
coerências, despertando a curiosidade
e instigando a capacidade de
generalizar, projetar, prever e
abstrair. O desenvolvimento desses
procedimentos amplia os meios para
compreender o mundo que nos cerca,
tanto em situações mais próximas,
presentes na vida cotidiana, como
naquelas de caráter mais geral. Por
outro lado, a Matemática também é a
base para a construção de
conhecimentos relacionados às outras
áreas do currículo. Ela está presente
nas Ciências Exatas, nas Ciências
Naturais e Sociais, nas variadas
formas de comunicação e expressão.
(Brasil, 2001, p. 99).
Sem a necessária atitude pedagógica
de contextualização e descontextualização
não há que falar em produção de sentidos e
negociação de significados de
aprendizagem. Trata-se de conduzir os
educandos da EJA a compreender que as
ideias matemáticas evoluem. Então, a
História da Matemática se revela como
importante estratégia de abordagem e
motivação para o ensino de conceitos
matemáticos. Por isso, D’Ambrosio (1996)
assegura que a História da Matemática é
elemento central para o estabelecimento de
um processo de ensino que apresente a
Matemática como um produto cultural,
contrariamente à difusão usual no sistema
escolar que a trata como verdade pronta,
definitiva e acabada, ciência exata que
parece alheia às vicissitudes humanas.
Igualmente, Miguel e Miorim (2004)
destacam que a História da Matemática
ajudará o aluno a perceber que a
Matemática não é uma ciência isolada das
demais áreas do conhecimento,
consolidando-se como uma criação
humana e, principalmente, indicando para
os educandos as razões pelas quais as
pessoas fazem e praticam Matemática, ou
seja, as necessidades práticas, econômicas
e culturais constituem o estímulo ao
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desenvolvimento das ideias matemáticas.
É, portanto, um problema de
desenvolvimento, sendo que no âmbito da
teoria histórico-cultural é a aprendizagem
que o faz avançar.
Davidov (1988) apoia-se em
Vygotsky (2009b), para citar edição mais
recente, e em Leontiev (1978) para
estabelecer que o ensino constitua a fonte
interna indispensável e geral do
desenvolvimento. Ou seja, pode ser
eficiente o ensino que, por meio do
conteúdo do conhecimento a ser
apropriado, se antecipa e orienta o
desenvolvimento.
Por conseguinte, segundo Davidov
(1988), torna-se possível desenvolver no
sujeito capacidades e habilidades
historicamente formadas e imprescindíveis
à realidade contemporânea. Não basta
ensinar ao educando da EJA a função ou
uso social de determinado conceito, é
necessário que ele desenvolva (ou
reproduza) as habilidades humanas que são
inerentes a esse objeto de conhecimento, a
fim de usá-lo adequadamente.
O desenvolvimento do pensamento
teórico, em particular, no que se refere ao
contexto matemático, impõe a necessidade
dos alunos estabelecerem relações entre
fatos e coisas de modo a coordenar as
ações. É notável o prazer dos alunos
sentarem em rodas para conversar, relatar
histórias de vida, montar figuras, participar
de algum jogo, fazer dobraduras, brincar e
ouvir histórias. Todas essas situações
podem ser didaticamente exploradas para a
formação de conceitos matemáticos,
considerando-se os aspectos quantitativos,
lógicos, topológicos e de ordem
envolvidos. Segundo Melo & Cruz (2014),
a roda de conversa tem como característica
permitir que os participantes expressem
suas impressões, conceitos, opiniões e
concepções sobre o tema proposto, bem
como possibilita refletir sobre as
manifestações apresentadas pelo grupo.
Notamos todas essas atividades no
cotidiano da EJA. Mas essas atividades que
povoam o universo do jovem e do adulto
precisam ser mais exploradas no sentido de
conhecer os interesses, os gostos, as
dificuldades, os desejos e as inseguranças
deles. Da mesma forma, todas essas
situações podem ser quantificadas e
exploradas matematicamente de forma
verbal ou pela mediação de um escriba que
pode ser o próprio professor, quando eles
ainda não dominam a leitura e a escrita.
Como exemplo, as rodas de conversa e as
histórias de vida sempre apresentam na
EJA situações envolvendo as funções do
número que, em geral, são raramente
exploradas no trabalho didático em
Matemática: códigos como o CEP das ruas,
o número de telefone, a identidade pessoal;
a ordinalidade ao se referir a um
apartamento em um prédio ou a um dado
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histórico ou, ainda, a medida como uma
ampliação da ideia de número. Mas, em
geral, a escola trata o mero apenas com
quantificação.
Por outro lado, o registro pictórico
mediante desenho ou coloração em papel
quadriculado permite a exploração de
forma absolutamente producente e
acessível aos alunos de gráficos, tabelas,
trajetos, mapas e outras formas de
representação, além de possibilitar a
exploração contextualizada das noções de
número e de fatos fundamentais das
operações matemáticas elementares.
Pretendo dizer com isso que a roda de
conversa não pode se limitar apenas à
conversa, embora isso, de per si, já seja
importante, como nos ensina Bakhtin
(2012).
De fato, compreender como os
alunos da EJA pensam e como organizam
seu pensamento em diferentes situações
possibilita ao professor planejar
encaminhamentos didáticos que favoreçam
aos mesmos a ampliação de suas
estratégias de pensamento.
A questão complexa da formação de
conceitos e a teoria da atividade
Sem dúvida, a aprendizagem
matemática é condicionada pela
estruturação interna dessa ciência. A
natureza do processo de sua construção
obriga a se voltar periodicamente sobre os
mesmos conteúdos com níveis de
complexidade, abstração e formalização
crescentes ao longo de todo o processo de
escolarização. Entretanto, quando o aluno
inicia a construção de noções matemáticas,
o faz tornando-as coesas com a situação
concreta em que se apresentam. Isso
afiança a necessidade de uma apresentação
formal a partir do próprio ambiente e a
impossibilidade de argumentar sobre
situações abstratas sem o devido critério.
Um conceito não é algo que se
forma a priori, como uma verdade pronta,
acabada e incontestável. Formar um
conceito matemático exige levantar
hipóteses, tirar conclusões sobre elas e
observar regularidades, registrando
processos e resultados e sistematizando
situações, sem perder de vista a ludicidade
e o prazer da descoberta, inerentes ao
pensamento matemático.
Sem dúvida, ao se apropriar das
formas instituídas historicamente para o
uso adequado dos objetos e dos
conhecimentos, o sujeito se apropria de
tudo aquilo que se encontra na esfera da
cultura. É por meio da atividade prática,
com objetos da cultura, que se torna
possível a formação do que a teoria
histórico-cultural chama de “ideal”, uma
forma interiorizada de sua existência real,
material, cuja apropriação é viabilizada
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graças à comunicação verbal entre as
pessoas, isto é, graças à linguagem.
Neste modo de conceber as relações
entre pensamento empírico e pensamento
teórico, Davidov (1988) assim se refere à
tese da lógica materialista dialética:
... a forma originária, de partida e
universal de existência da figura
lógica é a atividade real, sensorial -
prática do homem. O pensamento
verbal pode ser compreendido
cientificamente como forma derivada
da atividade prática. Esta tese é, a
nosso juízo, inaceitável para a lógica
formal tradicional e para a psicologia
tradicional do pensamento. Pelo
contrário, esta tese é completamente
legítima para a lógica materialista
dialética e para a psicologia que se
apoia consciente e consequentemente
em seus princípios. Está claro que
lógica e psicologia devem partir de
uma compreensão comum da
atividade que tende a realizar os
objetivos do homem e de seus
principais tipos. (Davidov, 1988, p.
20, tradução minha).
Note-se, então, que a lógica
materialista dialética propõe uma
compreensão diferenciada da atividade
humana, como responsável pela
apropriação da cultura acumulada
historicamente, pelas condições de
objetivação do sujeito e pelo
desenvolvimento do psiquismo humano.
De acordo com Vygotsky (1991),
inferimos que os conceitos cotidianos e
científicos envolvem experiências e
atitudes diferentes por parte dos sujeitos de
conhecimento e se desenvolvem por
trajetórias diferentes, também. Por vezes, o
sujeito toma consciência dos seus
conceitos espontâneos de forma
relativamente tardia, isto é, a capacidade
de operar com eles à vontade aparece
muito tempo depois de ter adquirido os
conceitos, ou seja, ela possui o conceito,
mas não está consciente do seu próprio ato
de pensamento. No caso do
desenvolvimento dos conceitos científicos,
geralmente o processo começa pela
definição verbal e com aplicação em
operações não espontâneas. Trata-se de
processo que se dá no plano das interações,
professor-aluno e aluno-aluno, poder-se-ia
afirmar.
No âmbito da teoria histórico-
cultural observa-se que o
desenvolvimento do sujeito ocorre de
forma sistêmica, ou seja, com o
desenvolvimento de todas as funções
psíquicas se dando de forma integrada,
conjunta. Dessa forma, não na teoria
histórico-cultural uma abordagem
específica para o desenvolvimento do
raciocínio lógico nos alunos, sendo que
este tipo de raciocínio é considerado,
junto com as demais funções psíquicas
superiores, produto do tipo de atividade
que é proporcionado ao sujeito desde o
início de seu desenvolvimento. O
raciocínio lógico seria, portanto, uma
forma específica de organização do
pensamento amplo, o pensamento teórico.
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Leontiev (1988) chama de atividade
não a qualquer fazer do aluno, mas que ele
seja significativo e principalmente, que
tenha um objetivo. Segundo ele,
Por atividade, designamos os
processos psicologicamente
caracterizados por aquilo a que o
processo, como um todo, se dirige
(seu objeto), coincidindo sempre com
o objetivo que estimula o sujeito a
executar esta atividade, isto é, o
motivo. (Leontiev, 1988, p. 68).
Somente haverá atividade, portanto,
quando coincidirem o motivo e o objetivo.
É importante, então, que os professores-
mediadores considerem o conceito de
atividade e suas implicações para o
processo de ensino, o que nos remete ao
problema da formação.
A atividade de estudo reporta-se,
então, a uma forma específica de atividade
direcionada para a assimilação de
conhecimentos teóricos, com vistas à
formação do pensamento teórico.
Para Davidov (1988), a atividade
psíquica desenvolve-se à medida que o
sujeito planeja e seleciona os objetos
(instrumentos) e a maneira (estratégia) de
usá-los, de acordo com a finalidade do
momento. A habilidade de planejamento,
por sua vez, depende do desenvolvimento
das necessidades, que são sempre sociais.
Toda atividade é deflagrada por
uma necessidade. A atividade sempre
busca, como finalidade, aquilo que ainda
não é real, mas que possibilidade de
ser real esta é a principal característica
da atividade vital. Assim Davidov (1988,
p. 33, tradução minha) se refere ao
assunto:
Buscar o que ainda não existe, mas
que é possível e que está dado ao
sujeito somente como finalidade, mas
ainda não feito realidade: esta é a
principal característica da atividade
vital de qualquer ser sensível e
pensante, ou seja, do sujeito. O
caráter paradoxal da busca consiste
na combinação em si do possível
com o real. ... O sujeito organiza suas
ações em dependência do que pode
ocorrer no futuro e um futuro que
ainda não existe! Aqui a finalidade,
como imagem do futuro, como
imagem do que deve ser determina o
presente, define a ação real e o estado
do sujeito.
É fato corriqueiro nos depararmos na
educação básica com afirmações
equivocadas dos estudantes quanto às
formas geométricas. Uma circunferência
por vezes é denominada de bola, uma
esfera também pode ser bola ou círculo e
um cubo por vezes é tomado como
quadrado, entre outras vicissitudes de tal
natureza. Dentre outras razões, isto se
pela forma fragmentada com que se
apresentam aos alunos os entes
geométricos, partindo das formas planas
para se chegar às formas espaciais. É uma
consequência da apresentação
multifacetada do fato matemático na escola
e uma contradição, dado que o
conhecimento se constitui do que é geral
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Miguel, J. C. (2018). Educação matemática de jovens e adultos: implicações pedagógicas da teoria histórico-cultural...
para o que é específico, do que é amplo
para o que é particular.
Nessa óptica de pensamento, a
formação de conceitos geométricos se
concretiza inversamente ao modo como a
escola usualmente explora os conceitos
geométricos, além de desconsiderar que o
processo de conhecimento se estabelece
pela força das relações sociais e
interpessoais.
Assim, Davidov (1982) considera
que o objetivo do ensino escolarizado
deveria ser a busca parcimoniosa do
desenvolvimento do pensamento teórico,
para além do pensamento empírico. Em
sua formulação, a atividade de estudo,
mediante tarefas específicas, tem como
meta conduzir o aluno para a apropriação
de leis mais gerais que envolvem um
conceito matemático, de modo que se
encaminham para as relações concretas
sendo que, pela apropriação, a relação se
transforma em abstração com conteúdo.
Por esta forma de conceber a
apropriação do saberes científicos, o
conhecimento matemático e a geometria,
em particular, é tomado como produção
humana, histórica e social. Estar em
atividade de estudo impõe que o material
de ensino deve priorizar a solução de
tarefas cognitivas em um contexto de ação
investigativa e exploratória de modo a
assegurar a experiência criadora.
O educando da EJA busca satisfazer
seus interesses cognoscitivos mediante a
comunicação com os outros e as
observações sobre o seu entorno. É com o
processo de escolarização formal, segundo
Davidov (1988) que se verifica um novo
estágio de desenvolvimento cuja atividade
principal passa a ser a atividade de estudo.
Sob a orientação do professor, o
educando passa a assimilar de forma
sistemática o conteúdo teórico sob a forma
de conceitos científicos, valores morais e
imagens artísticas, as formas desenvolvidas
da consciência social que se observa na
ciência, na arte e na moral e as capacidades
de atuar em correspondência com as
exigências dessas formas de pensamento
organizado.
Por isso, Davidov (1988) considera
que a organização da atividade de estudo
exige a introdução de novas formas para a
plena realização, sendo que os hábitos
culturais gerais de leitura, escrita e cálculo
não bastam. É preciso que elas constituam
um desenvolvimento psíquico geral sob a
forma de capacidade para estudar.
Trata-se de buscar uma organização
do ensino na EJA que contemple
apropriações de conceitos científicos e não
apenas cotidianos. Essa é uma condição
essencial para o desenvolvimento do
pensamento teórico.
É a convivência com as
representações que propicia que os
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Miguel, J. C. (2018). Educação matemática de jovens e adultos: implicações pedagógicas da teoria histórico-cultural...
educandos elaborem pensamento capaz de
articular as rias significações
conceituais, sejam elas aritméticas,
algébricas ou geométricas. Isso requer a
inserção do aluno em atividade
investigativa, pressupondo-se o
desenvolvimento de sua capacidade para
elaborar perguntas, partindo da mediação
do professor que é o responsável por
elaborar e organizar tarefas particulares
voltadas ao alcance desta meta.
Feitas tais considerações é necessário
estabelecer, ainda, que conforme Duval
(2003) a compreensão da informação ou da
atividade matemática se situa na
mobilização simultânea de pelo menos dois
registros de representação, ou na
possibilidade de trocar a qualquer
momento de registro de representação. A
coordenação de pelo menos dois registros
de representação se manifesta pela rapidez
e a espontaneidade da atividade cognitiva
de conversão. Isso, em tese, explica grande
parte das dificuldades dos alunos com a
atividade matemática porquanto ainda é
manifesto na escola um processo de ensino
por associação de modelos, praticamente
desprovida dos fundamentos da relação
dialógica necessária para a produção de
sentidos e para a negociação de
significados em educação matemática
conforme defendemos ao longo deste
artigo.
Como a aprendizagem pode ser
entendida como a possibilidade de fazer
conexões e associações entre diversos
significados de cada nova ideia, ela
depende, então, da multiplicidade de
relações que o aluno estabelece entre esses
diferentes significados. Daí que a
comunicação é um recurso que auxilia o
educando a estabelecer as conexões entre
suas concepções espontâneas e o que está
aprendendo de novo com vistas ao
estabelecimento de uma aprendizagem
significativa em Matemática.
De forma incoerente, por vezes, a
escola ainda explora no processo de
escolarização o trabalho com a reprodução,
sem compreensão, de ideias e conceitos, de
textos, de cópias, enfim. De um lado, perde
a possibilidade de explorar no processo de
letramento matemático o rico cabedal de
símbolos que o educando vivencia até
mesmo ao sair para as ruas ou para
organizar o espaço físico destinado à
construção de sua própria moradia; de
outro lado, quando a escola insere o
educando da EJA no mundo matemático
parece que o faz partindo do nada e peca
geralmente pela repetição de símbolos
destituídos de significado, perdendo a
possibilidade de se pensar a negociação de
significados matemáticos.
Investigações como as desenvolvidas
por Bruner (1997) ou Lins e Gimenez
(1994), por exemplo, enfatizam os
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Miguel, J. C. (2018). Educação matemática de jovens e adultos: implicações pedagógicas da teoria histórico-cultural...
processos de significação na perspectiva
histórico-cultural, destacando que a
produção de sentidos e de negociação de
significados são conceitos que englobam
tanto os significados consolidados
quanto os sentidos que as coisas, palavras,
eventos, gestos, ações, etc., podem assumir
para as pessoas.
Desse modo, toda significação é uma
produção social. Desse ponto de vista,
produzir significado para conceitos
matemáticos implica em relacioná-los a
outros fatores internos ou externos à
disciplina Matemática. Trata-se de ação
didático-pedagógica que envolve
atividades de investigação, ação
contextualizada, comparação, e observação
de fatos matemáticos da realidade, relações
entre os elementos constituintes de objetos
criados pela humanidade e, em especial, a
relação entre o conhecimento informal e o
conhecimento matemático sistematizado.
Por isso, o ensino de Matemática
para os sujeitos da EJA pode ser iniciado
pela coordenação de relações quantitativas
do universo cultural dos alunos tais como
as que envolvem dados quantitativos da
realidade, atividades lúdicas e de
exploração sensorial do meio físico, a
percepção espacial, a partir do momento
em que o sujeito identifique e perceba a
sua localização no espaço, mesmo que este
espaço seja o mais próximo dela como a
sala de aula, sua casa, a rua onde mora, etc.
A partir da exploração do espaço
sensorial é possível conduzir os alunos a
observar os objetos que também ocupam
este espaço, fazer relação entre um e outro
objeto, o tamanho que eles têm; identificar
e relacionar as semelhanças e diferenças;
reconhecer as formas geométricas, datas ou
horários; e outras ideias matemáticas
presentes na rotina cotidiana, em
particular, aquelas que se voltam à
numeração.
Sem embargo, a atividade de estudo
tem como objetivo a apropriação da
experiência socialmente elaborada, os
conhecimentos e as capacidades, o que
supõe a formação pelos educandos das
abstrações e generalizações que constituem
a base do pensamento teórico. Ainda nos
termos de Davidov (1988), o conteúdo é a
base do ensino que promove o
desenvolvimento.
Desse modo, os sujeitos da EJA
precisam estabelecer a conexão do
universal ou do geral com o particular ou
singular, isto é, operar com o conceito na
transição do geral ao específico. Segundo
as palavras do autor,
Por seu conteúdo, o conceito teórico
aparece como reflexo dos processos
de desenvolvimento, da relação entre
o universal e o singular, da essência e
os fenômenos; por sua forma,
aparece como procedimento de
ascensão do abstrato ao concreto.
(Davidov, 1988, p. 152).
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Miguel, J. C. (2018). Educação matemática de jovens e adultos: implicações pedagógicas da teoria histórico-cultural...
Assim, para ensinar conceitos
geométricos na EJA podemos nos
organizar a partir de relações entre Espaço
e Forma e Grandezas e Medidas, sem a
preocupação com a formalização
excessivamente precoce como sói
acontecer, mas com o desenvolvimento de
ideias geométricas que possam ao longo do
desenvolvimento sustentar a estruturação
do pensamento matemático. Atividades de
reconhecimento do espaço físico,
indicações a partir de objetos, de
localidade, perto, longe, direita, esquerda,
em cima, embaixo, aqui, ali, etc., revelam-
se como necessárias para o
desenvolvimento do que se pode
denominar de vocabulário fundamental da
Matemática.
Para encaminhar a conclusão do
texto, destacamos que na atividade
cotidiana o aluno desenvolve a capacidade
de imaginação, sendo que ao se envolver
na atividade de estudo, apropria-se da
capacidade de pensar teoricamente.
Destaque-se também, no entanto, que tais
capacidades não são inatas, elas são
desenvolvidas em um processo no qual o
indivíduo reproduz, pela sua própria
atividade, as capacidades humanas
formadas historicamente.
Parece-nos fundamental considerar
na devida proporção elementos teóricos
que apontam para o jogo como fase de
transição para etapas mais desenvolvidas
do pensamento, ou seja,
... nas etapas posteriores do
desenvolvimento do jogo, o objeto
se manifesta como signo da coisa
mediante a palavra que o domina, e a
ação com gestos abreviados e
sintetizados concomitantemente com
a fala. Assim, as ações lúdicas
apresentam um caráter intermediário
e vão adquirindo paulatinamente o de
atos mentais com significações de
objetos que se realizam no plano da
fala em voz alta e ainda se apoiam
em ões externas que, não obstante,
adquiriram o caráter de gesto-
indicação sintético. (Elkonin, 2009,
p. 415).
Novamente a título de
exemplificação, a partir de atividades
voltadas à exploração do ambiente, o que
para os alunos é um jogo, eles não
aprendem somente sobre espaço, mas
exercitam e aprendem também o
vocabulário necessário para tal
comunicação. Construções com diferentes
materiais, montando maquetes, percursos e
labirintos e a exploração de espaços
maiores, que pode ser feito a partir da
explicação do trajeto que fazem de casa
para a escola, da sala de aula para o
banheiro, de onde moram para o trabalho,
o caminho que percorreram em um passeio
que tenham feito, e vários outros
percursos, podem possibilitar aos sujeitos
da EJA relações entre a realidade e as
ideias matemáticas. Do mesmo modo,
medir as formas e trajetos com as mais
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diferentes grandezas não padronizadas tais
como o palmo, o pé, um pedaço de
barbante ou de madeira pode se revelar
salutar para que progressivamente
compreendam a necessidade de se utilizar
uma trena ou fita métrica, instrumentos de
medidas padronizadas. Da mesma forma, a
exploração e quantificação de dados da
realidade do trabalho pode relacionar os
conceitos matemáticos que exploram
cotidianamente e a Matemática
escolarizada.
Quando os alunos começam a
reconhecer as formas geométricas é
comum que utilizem nomes criados por
eles, nomes estes não específicos, cabendo
então ao professor saber respeitar a
nomenclatura criada pelos sujeitos, porém
assim que surgir a oportunidade de falar o
nome da forma que o sujeito nomeou é
preciso que ele explore as regularidades
das figuras de modo a conduzir os alunos a
reconhecer o nome específico de uma
forma geométrica em função do
reconhecimento de suas particularidades.
Elkonin (1987) alerta, porém, que a
criança não vive o seu trabalho tal como o
adulto; do mesmo modo, eu diria que o
adulto não pode ser infantilizado, isto é, ele
tem sua forma própria de vivências no
contexto da sua atividade cultural, do seu
trabalho e até no ato de jogar ou brincar.
Por isso, com base no pensamento do autor
é importante abordar o jogo como
fundamental para o desenvolvimento
psíquico, sem limitá-lo à questão
meramente didática. Enfatizo que uma
análise fundada apenas nas aptidões,
habilidades e noções que o jogo poderá
contribuir para formar nos alunos restringe
suas possibilidades, colocando em segundo
plano sua especificidade pela observação e
representação das relações sociais dos
adultos no jogo.
Face ao exposto, impõe-se-nos o
desenvolvimento de ações no sentido de
mobilizar os grupos constituídos na escola
de EJA, encaminhando-os para a reflexão,
de forma que as contradições entre o
pensamento e a ação, entre o vivido e o
concebido, se tornem explícitas,
impulsionando-os para a mudança. Isso
nos conduz a pensar que:
a)
o desinteresse e o baixo
rendimento dos alunos em Matemática,
historicamente decorrente da forma
tradicional de veiculação do conhecimento
matemático, contrasta com o conteúdo
lúdico e a beleza formal da Matemática;
b)
a ênfase exagerada no simbolismo
lógico-formal da Matemática reforça a
tendência pedagógica de “passar conteúdo”
em detrimento de um processo de
formação de conceitos matemáticos;
c)
a preocupação com operações
rotineiras e de memorização prejudica o
desenvolvimento cognitivo do aluno
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determinando, em associação com outros
fatores, o fracasso do ensino;
d) a inexistência de integração entre
os temas em função da organização linear
do currículo (“currículo em escada”)
contrasta seja com a ideia de “organização
em espiral”, seja com a concepção
contemporânea de currículo como “rede de
significados” e reforça a fragmentação dos
programas de ensino de Matemática.
Sintetizando, a discussão sobre o
problema da formação de conceitos
matemáticos deve considerar como teses
centrais da ação na situação de ensino um
amplo processo de produção de sentidos de
aprendizagem e de negociação de
significados com base nas implicações
pedagógicas da teoria histórico-cultural
para a educação matemática de jovens e
adultos:
a)
Problematização
contextualizada: consideração no trabalho
pedagógico com Matemática dos aportes
socioculturais do alunado para se
considerar na escola situações vivenciadas
pelos alunos fora dela, o que se poderia
denominar de matemática cultural, isto é,
as diversas formas de matematização
desenvolvidas pelos diversos grupos
sociais, de modo a permitir a interação
entre essas duas formas de pensamento
matemático.
b)
Historicização: mostrar aos
alunos a forma como as ideias matemáticas
evoluem e se complementam formando um
todo orgânico e flexível, é pressuposto
básico para se compreender a Matemática
como um processo de construção.
c)
Enredamento transdisciplinar:
organização das ideias matemáticas em
articulação com as diversas áreas do
conhecimento posto que elas não surgem
do nada; pelo contrário, muitas ideias
matemáticas nem surgiram em contextos
exclusivamente matemáticos.
A aprendizagem matemática é
condicionada pela estruturação interna
dessa ciência. A natureza do processo de
sua construção nos obriga a conduzir o
alunado a voltar periodicamente sobre os
mesmos conteúdos com níveis de
complexidade, abstração e formalização
crescentes. Quando o aluno inicia a
construção de noções matemáticas, o faz
tornando-as coesas com a situação
concreta em que se apresentam. Isso
afiança a necessidade de uma apresentação
formal a partir do próprio ambiente e a
impossibilidade de argumentar sobre
situações abstratas sem o devido critério.
De tal modo, formar um conceito
matemático exige levantar hipóteses, tirar
conclusões sobre elas e observar
regularidades, registrando processos e
resultados e sistematizando situações, sem
perder de vista a ludicidade e o prazer da
descoberta, inerentes ao pensamento
matemático.
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Miguel, J. C. (2018). Educação matemática de jovens e adultos: implicações pedagógicas da teoria histórico-cultural...
Possivelmente, ao observar a fala, as
vivências e o conhecimento matemático
usual dos educandos da EJA, o professor
verá que mesmo registrando de forma
errada, o adulto pode estar compreendendo
o conteúdo apresentado a ele, e
manifestando este aprendizado à sua
maneira. Até que ponto isso tem sido
considerado na prática pedagógica
cotidiana dos anos iniciais de
escolarização, em particular, no que tange
ao ensino de conceitos matemáticos na
EJA?
Considerações a guisa de conclusão
Parecem-nos evidentes em
formulações teóricas recentes, as tentativas
de renovação dos programas de ensino de
Matemática no contexto brasileiro,
especialmente nos últimos trinta anos. Em
geral, os programas de ensino planejados
nesse período abordam questões que se
podem considerar como atuais nesse
contexto curricular tais como a noção de
alfabetização matemática, a busca de
superação da linearidade do currículo, a
perspectiva da aprendizagem significativa,
as relações de impregnação mútua entre a
língua materna e a linguagem matemática,
e, em especial, a compreensão da resolução
de problemas como matriz geradora de um
processo de formação de conceitos em
Matemática.
Nesse sentido, destacamos ao longo
do artigo algumas contradições que se
destacam no cotidiano da educação
matemática e as implicações para a
escolarização inicial dos jovens e adultos
da EJA. De um lado, perde-se a
possibilidade de explorar no processo
educativo a riqueza simbólica que o sujeito
vivencia até mesmo ao sair para as ruas; de
outro lado, quando a escola insere o adulto
no mundo dos números, pensa que o faz
partindo do nada e peca novamente pela
repetição de símbolos destituídos de
significado e não considera a possibilidade
de se pensar a produção de sentidos e de
negociação de significados em
Matemática. Não raro, observamos em
algumas aulas da EJA a ânsia pela
introdução da linguagem simbólica de
forma excessivamente precoce.
Partimos da ideia de que, destarte
essas constatações sobre o movimento
curricular recente na educação matemática,
na EJA e no debate acadêmico em contexto
nacional, a análise das representações dos
professores sobre essas tentativas de
renovação do processo de ensino ainda se
revelam um tanto contraditórias, a se julgar
pelas condutas pedagógicas eleitas e pelos
indicadores de avaliação da aprendizagem
matemática.
Analisando alguns invariantes dessa
situação estabelecemos que o
desenvolvimento do pensamento teórico,
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na perspectiva histórico-cultural, se
consolida paralelamente ao
desenvolvimento sensorial e é tarefa do
professor da EJA contribuir para o
desenvolvimento de ambos através de uma
ação pedagógica que coloque como
perspectiva o problema do sentido e do
significado do ensino e da aprendizagem
da Matemática.
Consideramos que ainda predomina,
praticamente em todos os níveis de ensino
de Matemática, a preocupação acentuada
com o desenvolvimento de uma linguagem
simbólica que se mostra excessivamente
abstrata e pautada pela repetição e
memorização. Assim, temas que deveriam
ser tratados de forma integrada com outras
áreas do conhecimento, envolvendo
atividades práticas, têm sido abordados de
forma isolada uns dos outros, dificultando
sua aprendizagem e síntese por parte dos
alunos.
Isso posto, a tendência
contemporânea de organização curricular
a formação de conceitos como um vasto
campo de formulações decisivas para o
desenvolvimento do raciocínio lógico, na
resolução de problemas que exigem
visualização e manipulação de fatos
matemáticos bem como pelo
estabelecimento de relações entre fatos de
outras áreas do conhecimento.
O trabalho com as noções
matemáticas de forma significativa desde
os primeiros passos no processo de
escolarização contribui ainda para a
ampliação das ideias de número e medida,
pois estimula o aluno a observar, perceber
semelhanças e diferenças, identificando
certas regularidades inerentes ao
pensamento matemático.
Desse modo, sem a pretensão de
esgotar a discussão sobre o tema,
estabelecemos ao longo deste artigo que é
a partir da exploração e manipulação de
ideias e dados do mundo físico que se
permitirá ao aluno estabelecer conexões
entre a Matemática e outras áreas do
conhecimento. Basicamente, um processo
de ensino e de aprendizagem de
Matemática de forma significativa na EJA,
como discutido, não pode prescindir de
amplo processo de negociação de
significados e produção de sentidos de
aprendizagem; de historicização que
permita considerar o processo de evolução
das ideias matemáticas e, ainda, de
tratamento transdisciplinar dos temas
desenvolvidos na educação matemática
que possa viabilizar aos educandos a
percepção de que a Matemática é,
primordialmente, uma ciência que se ocupa
da busca de solução de problemas
enfrentados pela humanidade no curso do
desenvolvimento histórico.
A pesquisa em Educação Matemática
se reporta fartamente a essas
particularidades do ensino dessa ciência e
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Miguel, J. C. (2018). Educação matemática de jovens e adultos: implicações pedagógicas da teoria histórico-cultural...
denuncia o descaso com que tem sido
tratada a aprendizagem dessa linguagem na
escola. Dentre outras ações, se mostra
salutar a discussão com professores e
interessados no tema acerca da importância
da presença da veiculação dessas ideias
matemáticas nos diferentes níveis de
ensino de forma a atender as necessidades
dos sujeitos da EJA de construir
conhecimentos articulados com os variados
domínios do pensamento e a imposição
social de instrumentalizá-los melhor para
viver em um mundo que exige,
progressivamente, os mais diferentes
conhecimentos e habilidades.
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Informações do artigo / Article Information
Recebido em : 16/04/2018
Aprovado em: 17/05/2018
Publicado em: 23/06/2018
Received on April 16th, 2018
Accepted on May 17th, 2018
Published on June 23th, 2018
Contribuições no artigo: O autor foi responsável pela
elaboração, análise e interpretação dos dados; escrita e
revisão do conteúdo do manuscrito e aprovação da versão
final a ser publicada.
Author Contributions: The author was responsible for the
designing, delineating, analyzing and interpreting the data,
production of the manuscript, critical revision of the content
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Conflitos de interesse: O autor declarou não haver
nenhum conflito de interesse referente a este artigo.
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José Carlos Miguel
http://orcid.org/0000-0001-9660-3612
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Miguel, J. C. (2018). Educação matemática de jovens e
adultos: implicações pedagógicas da teoria histórico-
cultural. Rev. Bras. Educ. Camp., 3(2), 519-548. DOI:
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-4863.2018v3n2p519-2
ABNT
MIGUEL, J. C. Educação matemática de jovens e adultos:
implicações pedagógicas da teoria histórico-cultural. Rev.
Bras. Educ. Camp., Tocantinópolis, v. 3, n. 2, mai./ago.,
p. 519-548, 2018. DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-
4863.2018v3n2p519-2
Revista Brasileira de Educação do Campo
The Brazilian Scientific Journal of Rural Education
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A Pedagogia da Alternância no CEFFA de Ji-
Paraná/Rondônia: A ênfase na identidade que produz
diferenças
Alberto Dias Valadão
1
, José Licínio Backes
2
1
Universidade Federal de Rondônia - UNIR. Departamento de Ciências Humanas e Sociais DCHS. Campus de Ji-Paraná.
Rua Rio Amazonas, 351, Jardim dos Migrantes. Ji-Paraná - RO. Brasil.
2
Universidade Católica Dom Bosco - UCDB.
Autor para correspondência/Author for correspondence: albertoelaine10@gmail.com
RESUMO. O artigo é fruto de uma pesquisa que teve como
objetivo identificar e analisar como são produzidas e negociadas
as identidades/diferenças de jovens do campo no espaço
educativo do Centro Familiar de Formação por Alternância
(CEFFA) de Ji-Paraná, em Rondônia, fundado na Formação em
Alternância. O trabalho recorre ao campo teórico dos Estudos
Culturais pós-estruturalistas, principalmente às ideias de autores
que concebem as identidades como contingentes, marcadas pela
diferença. Recorre-se, ainda, a alguns teóricos da Educação do
Campo, articulando-os com os Estudos Culturais. Como
procedimento metodológico, fez-se uso da entrevista com alunos
e monitores, da observação de alunos e monitores, bem como de
sua inter-relação com os outros sujeitos e o ambiente acadêmico
onde estão inseridos, além da análise de documentos
curriculares da Pedagogia da Alternância. O estudo mostrou que
as identidades produzidas no espaço educativo do CEFFA são
desestabilizadas pelas diferenças, entrelaçadas por inúmeras
práticas culturais e, por isso mesmo, descontínuas, descentradas,
fragmentadas, relacionais.
Palavras-chave: Pedagogia da Alternância, Identidades,
Diferenças.
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Pedagogy of Alternation in CEFFA in Ji-
Paraná/Rondônia: The emphasis on the identity that
produces differences
ABSTRACT. This paper has stemmed from a research aiming
to identify and analyze the way that identities/differences of
young rural people have been produced and negotiated in the
educational setting of the Family Center for Education in
Alternation (CEFFA) in Ji-Paraná, Rondônia, grounded on
Education in Alternation. The study was supported by the
theoretical field of post-structuralist Cultural Studies,
particularly on authors that regard identities as contingent and
marked by difference. Furthermore, the ideas of some theorists
of Rural Education were articulated with Cultural Studies.
Interview with students and monitors, observation of them and
their interrelation with the other subjects and their academic
environment, as well as analysis of curricular documents of
Pedagogy of Alternation, were used as methodological
procedures. The study showed that the identities produced in the
educational setting of CEFFA have been destabilized by
differences, intertwined with a number of cultural practices and,
hence, they are discontinuous, decentered, fragmented, and
relational.
Keywords: Pedagogy of Alternation, Identities, Differences.
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Pedagogía de la Alternancia en el CEFFA de Ji-
Paraná/Rondônia: El énfasis en la identidad que produce
diferencias
RESUMEN. El artículo es fruto de una investigación que tuvo
como objetivo identificar y analizar cómo son producidas y
negociadas las identidades/diferencias de jóvenes del campo en
el espacio educativo del Centro Familiar de Formación en la
Alternancia (CEFFA) de Ji-Paraná, en Rondônia, fundado en la
Formación en Alternancia. El trabajo recurre al campo teórico
de los Estudios Culturales pos-estructuralistas, principalmente
las ideas de autores que conciben las identidades como
contingentes, marcadas por la diferencia. Se recurre, también, a
algunas teorías de la Educación del Campo, articulándolas con
los Estudios Culturales. Como procedimiento metodológico, se
hizo uso de la entrevista con alumnos y tutores, de la
observación de los mismos, así como de su interrelación con los
otros sujetos y con el ambiente académico donde están insertos,
además del análisis de documentos curriculares de la Pedagogía
de la Alternancia. El estudio mostró que las identidades
producidas en el espacio educativo del CEFFA son
desestabilizadas por las diferencias, entrelazadas por incontables
prácticas culturales y, por eso mismo, discontinuas,
descentradas, fragmentadas, relacionales.
Palabras clave: Pedagogía de la Alternancia, Identidades,
Diferencias.
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Introdução
A educação no interior de Rondônia
segue um modelo pensado para o público
urbano, não levando em consideração as
características socioeconômicas e culturais
fundadas na agricultura familiar,
constituidora da grande maioria dos
camponeses. A partir de dados do Censo
Agropecuário de 2006 último realizado
em Rondônia o Ministério do
Desenvolvimento Agrário (MDA) (Brasil,
2012) aponta que Rondônia é o estado líder
da agricultura familiar no norte do país,
com mais de 75 mil estabelecimentos,
respondendo por 74% do valor bruto da
produção agropecuária do estado e
empregando 233.355 pessoas, o
equivalente a 84% da mão de obra que
trabalha no campo. A partir destes
números, observa-se que a agricultura
familiar tem sido fundamental na produção
das identidades dos sujeitos do campo do
estado, forjados ao produzirem sua
subsistência. Hall (1997, p. 6) colabora
para pensarmos este movimento quando
aponta que a cultura “... tem de ser vista
como algo fundamental, constitutivo,
determinando tanto a forma como o caráter
deste movimento, bem como a sua vida
interior”.
A Educação do Campo em
Rondônia, portanto, não está dissociada do
processo de colonização sob o qual o
estado foi se constituindo. Apesar da
importância do agricultor familiar, este tem
sido inferiorizado pela ausência de
políticas públicas, principalmente
educacionais, que lhe permitam viver com
dignidade a sua diferença. Ignora-se que
vivemos em “... um momento em que
ocorrem vários deslocamentos,
constituindo-se uma pluralidade de
distintos centros, dos quais podem emergir
inúmeras identidades” (Moreira, 2011, p.
126). Reincidem, a cada ano, políticas
supletivas, compensatórias, que não raras
vezes têm estigmatizado o agricultor e o
seu trabalho, fazendo com que os jovens
tencionem logo cedo migrar sem
qualificação para as cidades, assim
contribuindo para o enchimento das
periferias, aumentando a pobreza coletiva e
sendo, ainda, vistos como sujeitos dos seus
próprios fracassos, porque incultos,
preguiçosos e atrasados, diferentemente do
que são.
O modelo de escola proposto em
que o jovem camponês procura escolarizar-
se não consegue perceber que vivemos um
tempo em que as mudanças ocorrem de
formas diferenciadas e mais rápidas,
conforme o contexto social em que os
sujeitos vivem e se constituem. Campo e
cidade não apresentam os mesmos ritmos,
dada a forma como as atividades exercidas
interpelam os sujeitos. Ainda hoje, no
campo do interior do estado, os
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agricultores alternam os dias e horários de
trabalho, considerando as condições
climáticas, a urgência ou não da
preparação da terra, do plantio ou da
colheita. Essa alternância, típica do
trabalho exercido, faz parte da cultura
camponesa, entendendo-se cultura sob a
perspectiva dos Estudos Culturais como
um campo de luta que governa, regula as
condutas dos sujeitos, suas ações e práticas
sociais (Hall, 1997). Portanto, a prática
produtiva dos agricultores opera na sua
constituição, diferindo das práticas de
significação constituintes dos sujeitos
urbanos.
Para que os jovens do campo
tivessem acesso à escola, o poder público
proporcionou-lhes o transporte escolar,
principalmente para as escolas urbanas. Ao
deslocar os alunos crianças e jovens de
suas famílias/comunidades para a
escolarização distante de suas práticas
sociais, a cultura dos agricultores é
secundarizada, pois os alunos nem sequer
terão tempo de contribuir com a família no
trabalho na roça. Desconsidera-se, nessa
proposição política, a forma como esses
agricultores vão constituindo suas
identidades mediante suas práticas, sendo
interpelados por determinadas posições de
sujeito, negando a produção de sentidos
constituídos pelo trabalho campesino.
Nesse cenário, aparece a Pedagogia
da Alternância, cujos princípios
pedagógicos oriundos do modelo das
Maisons Familiales encontraram um
terreno favorável para o florescimento das
primeiras experiências de alternância na
formação de jovens rurais no Brasil”
(Silva, 2003, p. 67). Caracteriza-se como
um movimento social que congrega
agricultores, distribuídos geograficamente
em comunidades diferentes, lutando por
um espaço educativo que não se
caracterize somente por confinar os jovens
para que se apropriem de conhecimentos
considerados legítimos e universais
necessários a todos, independentemente de
sua localização e experiências culturais.
No caso, tal espaço educativo seria um
lócus onde, como esclarece Gimonet
(2007, p. 137), “o alternante caminha
sucessivamente e de maneira ritmada em
campos culturais (familiar, profissional e
escolar) que possuem suas especificidades
e sua lógica própria em termos de
finalidades, objetivos, referentes,
conhecimentos, saberes ...”.
A Formação em Alternância não é
uma invenção brasileira. Sua gênese não
está nos coletivos populares deste país.
Nasceu na França em 1935, chegando ao
Brasil em 1969, no Espírito Santo, sendo
levada para Rondônia em 1989. Para Silva,
L. H. (2003), as experiências que
permitiram a criação das primeiras escolas
em alternância no Brasil foram
desenvolvidas sob a influência direta das
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experiências das Maisons Familiales
Rurales italianas, principalmente pelo
interesse e empenho do Pe. Pietrogrande.
A formação em Alternância consolida-se
no país a partir da inoperância do poder
público brasileiro, que tem conseguido
propor uma educação para os agricultores
tomando o homem urbano de classe média
como referência. Este modelo, feito para a
cidade e levado para o campo, não vem ao
encontro das necessidades dos agricultores
e ignora suas práticas culturais. A
Pedagogia da Alternância tenta romper
com esse modelo, com esse currículo sob o
qual até hoje os agricultores e seus filhos
foram educados. Um currículo que os
universaliza, negando suas diferenças, suas
lutas por um espaço de vida e de trabalho,
e que os constitui sob o prisma da
educação urbana.
Em Rondônia, o compromisso
educativo político dos agricultores
resultou, entre 1989 e 1992, na
implantação de quatro Escolas Famílias
Agrícolas (EFAs), hoje denominados
Centros Familiares de Formação por
Alternância (CEFFAs)
i
no interior do
estado, nos municípios de Cacoal (1989),
Vale do Paraíso (1990), Ji-Paraná (1991) e
Novo Horizonte do Oeste (1992).
Recentemente, foram implantados mais
dois CEFFAs, sendo um em São Francisco
do Guaporé (2005) e outro em Jaru (2013).
Hoje são mais de 260 CEFFAs no Brasil.
Essa Pedagogia parecia diferente para os
agricultores por ter como finalidades a
formação integral dos envolvidos e o
desenvolvimento local, e o sistema
pedagógico da Formação em Alternância e
a Associação Local como meios para que
isso acontecesse (Gimonet, 2007).
Esse modelo de educação fundado na
Formação em Alternância, que tem como
finalidade escolarizar os filhos de
agricultores sem desvinculá-los da
propriedade familiar, caracteriza-se como
“... uma forma de organizar o processo de
ensino-aprendizagem alternando dois
espaços diferenciados, a propriedade
familiar e a escola” (Nosella, 2014, p. 29).
Surge, portanto, como uma alternativa ao
modelo de organização curricular
hegemônico, cuja referência é ver o outro,
o sujeito do campo, como alguém a incluir,
como identidades “incomuns” a serem
sujeitadas.
Depois de 29 anos atuando no
processo de escolarização de jovens
(rapazes e moças) Ensino Fundamental
no CEFFA do Vale do Paraíso e Ensino
Médio articulado com Educação
Profissional Técnico em Agropecuária nos
outros CEFFAs , a formação em
Alternância pode estar sendo normalizada
na prática cotidiana, produzindo
identidades e diferenças naturalizadas,
cristalizadas, essencializadas. Este trabalho
objetiva compreender como o processo de
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construção da identidade dos jovens do
campo produz também diferenças. A
Pedagogia da Alternância do CEFFA, em
seus documentos, como o PPP (EFA-
Itapirema, 2014a) e o Plano de Curso
(EFA-Itapirema, 2014b), e nas falas dos
sujeitos, afirma que sua finalidade é a
formação de cidadãos conscientes e
críticos. Entretanto, práticas envoltas em
relações de poder e processos de
normalização, naturalização e
disciplinamento podem estar operando
para produzir identidades naturalizadas e
essencializadas dos sujeitos do campo;
mesmo assim, essas identidades
sistematicamente são desestabilizadas
pelas diferenças.
Para problematizar a Pedagogia da
Alternância, que se estrutura sob um
modelo de relações ternárias entre
monitores-alunos-pais (Silva, L. H., 2003),
intentando compreender como têm sido
produzidas as identidades e diferenças,
escolheu-se o CEFFA de Ji-Paraná, situado
no centro do estado, que atende hoje em
torno de 200 alunos do município de Ji-
Paraná e de quase duas dezenas de
municípios menores. Dentre os envolvidos
com esse projeto educativo, neste estudo,
optou-se pelos alunos e, por terem uma
atuação mais visível no processo formativo
em Alternância, seus monitores (como são
chamados os professores). Em relação aos
alunos, mesmo diante das multiplicidades
de práticas culturais que os interpelam,
selecionou-se 20 alunos da série
(denominação utilizada pela escola) do
Ensino Médio dentre os 39 matriculados
em 2016. Quanto aos monitores, fez-se a
opção por oito dentre os 19 que
participavam das ações pedagógicas na
Pedagogia da Alternância, sendo quatro ex-
alunos da Pedagogia da Alternância e
quatro oriundos de outras experiências
educativas.
Para acessar, como afirma Hall
(1997), a forma como a Pedagogia da
Alternância tem constituído os sujeitos,
colocando-os, quem sabe, em uma espécie
de enquadramento em um modelo
previamente determinado e ignorando
outras formas de construção identitária,
recorreu-se aos Estudos Culturais. Isso
porque é um campo teórico que focaliza
práticas sociais, na medida em que estas
são relevantes para o significado ou
requeiram significado para funcionar (Hall,
1997). Dada a grande amplitude teórica
dos Estudos Culturais, elegeram-se como
recorte para este trabalho as relações entre
identidades e diferenças e o processo de
produção destas dentro do CEFFA de Ji-
Paraná.
Para desenvolver a argumentação
sobre como a Pedagogia da Alternância vai
constituindo as identidades e diferenças, o
artigo está estruturado em três momentos
distintos, que se entrelaçam. Inicia-se
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mostrando os Estudos Culturais como
campo teórico que tem na cultura um
elemento central para a produção do
conhecimento, e argumenta-se que as
identidades e diferenças não são naturais e
essenciais, mas produzidas. Aponta-se
como, a partir desse campo teórico que
transgride as fronteiras disciplinares, o
procedimento de investigação foi
construído e refeito no transcurso da
pesquisa de campo. No segundo momento,
discute-se como a Pedagogia da
Alternância, enquanto campo cultural
multifacetado, opera para produzir
identidades marcadas pela diferença. Por
último, trazem-se a síntese dos resultados e
outros apontamentos.
Os Estudos Culturais como um campo
de investigação interdisciplinar
Concebidos desde o início como um
empreendimento interdisciplinar
(Schulman, 2010), os Estudos Culturais
surgem desestabilizando a teoria cultural
nos meados do século XX na Inglaterra.
Tem como preocupação questionar o
conceito de cultura ligado à erudição, à
“alta” tradição literária e artística,
assumindo como referência a ideia de
cultura como um campo de luta que
governa, regula as condutas dos sujeitos,
suas ações e práticas sociais (Hall, 1997).
Os Estudos Culturais afirmam-se ao
colocarem em xeque as metanarrativas da
Modernidade, como o iluminismo, o
idealismo e o marxismo, como propõe
Lyotard (1988). Essas teorias, tidas como
detentoras das explicações científicas,
deixavam à margem outras possibilidades
de explicação e entendimento dos novos
problemas contemporâneos, oriundos, por
exemplo, do capitalismo liberal, dos novos
movimentos migratórios, das tecnologias
que encurtaram o planeta globalizado,
sobretudo em relação às questões culturais.
Esses descentramentos (Hall, 2011)
abriram espaço para o surgimento dos
Estudos Culturais como um campo de
estudo que tem na cultura um elemento
central para a produção do conhecimento,
pois, segundo Hall (1997, p. 5, grifo do
autor), “... a cultura penetra em cada
recanto da vida social contemporânea,
fazendo proliferar ambientes secundários,
mediando tudo”. Os Estudos Culturais,
dessa forma, “... constituem um dos pontos
de tensão e mudança nas fronteiras da vida
intelectual e acadêmica, levando a novas
questões, novos modelos e novas formas
de estudo, testando as linhas tênues entre o
rigor intelectual e a relevância social”
(Hall, 2005, p. 2), o que permite “...
investigar de forma intensiva os
significados da experiência humana, na
medida em que eles se efetivam na
linguagem e em outras práticas de
significação” (Escosteguy, 2010, p. 197).
Junto com esse questionamento, veio
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também a mudança de compreensão das
identidades/diferenças, que deixam de ser
vistas como biológica e naturalmente
definidas e passam a ser entendidas como
construções históricas, sociais e culturais.
Dessa forma, para pensar como a
Pedagogia da Alternância tem produzido
identidades e diferenças, precisava
problematizá-la; precisava ver essa cultura
escolar como o terreno sobre o qual a
análise ia se dando; necessitava torná-la o
objeto de estudo, o local da crítica e, quem
sabe, da intervenção política (Nelson,
Treichler & Grossberg, 2013). Isso se
torna importante, visto que interrogar essa
arena cultural é proporcionar meios para o
entendimento de que é também na cultura
que a identidade é mais completamente
moldada, como afirmam Nelson, Treichler
e Grossberg (2013). Assim, pensar a
Pedagogia da Alternância com os Estudos
Culturais é entender que os sujeitos que ali
estudam e trabalham não são os agentes do
discurso, mas efeitos de práticas
discursivas que os constituem e os
organizam dentro do contexto escolar, de
acordo com as posições ocupadas nas
relações de poder.
Entender o discurso referindo-se “...
tanto à produção de conhecimento através
da linguagem e da representação, quanto
ao modo como o conhecimento é
institucionalizado, modelando práticas
sociais e pondo novas práticas em
funcionamento” (Hall, 1997, p. 10), é
pensar que as identidades e diferenças dos
agricultores do interior de Rondônia
também são produzidas em oposição às
identidades e diferenças urbanas que têm
na cultura urbana um padrão que se deve
almejar. Trata-se, então, de compreender
que
A identidade e a diferença são
estreitamente dependentes da
representação. É por meio da
representação, assim compreendida,
que a identidade e a diferença
adquirem sentido. É por meio da
representação que, por assim dizer, a
identidade e a diferença passam a
existir. Representar significa, neste
caso, dizer: "essa é a identidade", "a
identidade é isso”. (Silva, 2012, p.
91).
A representação relaciona-se com a
linguagem. Meyer e Soares (2005)
afirmam que é na linguagem que se
constroem os “lugares” nos quais
indivíduos e grupos se posicionam ou são
posicionados por outros. Opera-se, neste
trabalho, portanto, com a ideia de que o
significado se constrói na linguagem e por
meio dela, como afirma Hall (2016). Ou
seja, para compreender como a Pedagogia
da Alternância vem produzindo
identidades e diferenças, foi preciso
entender que “... a linguagem nada mais é
do que o meio privilegiado pelo qual
‘damos sentido’ às coisas, onde o
significado é produzido e intercambiado.
Significados só podem ser compartilhados
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pelo acesso comum à linguagem” (Hall,
2016, p. 17).
Nessa perspectiva, ao anunciarem-se
os Estudos Culturais como campo teórico
que contestam os limites socialmente
construídos nas mais diversas realidades
humanas (Baptista, 2009), não se teve a
pretensão de estudar os sujeitos da
Pedagogia da Alternância em Ji-Paraná,
mas, a partir das práticas que os produzem,
entender os seus processos identitários, ou
seja, como têm sido produzidas suas
identidades e diferenças.
Um estudo sob esse olhar permite a
compreensão de que os sentidos com o
quais se conviveu até hoje na Escola não
são naturais, inerentes a esse campo social,
mas constantemente elaborados e
compartilhados em cada interação pessoal
(Hall, 2016). Isso significa ter presente que
os sentidos foram sendo construídos por
meio de sistemas de representações. Como
diz Hall (2016, p. 41, grifos do autor), “o
sentido não está no objeto, na pessoa ou na
coisa, e muito menos na palavra. Somos
nós quem fixamos o sentido tão
firmemente que, depois de um tempo, ele
parece natural e inevitável ...”.
Essa postura teórica não prevê um
método construído antecipadamente para a
investigação e todos os seus contornos,
pois os desdobramentos que se operam
durante o trabalho requerem um método
construído no transcurso. Isso não significa
que não haja um rigor na produção e
análise de dados. O rigor está aqui
relacionado às descrições, às visibilidades
que se dão às escolhas e à possibilidade de
movimentar-se mais livremente durante o
processo de investigação. Segundo Meyer
e Soares (2005, p. 41),
Um processo de pesquisar que assume
esses pressupostos é, então, construído
por referências e ferramentas que
deslocam certezas, invocam
multiplicidades e operam com
provisoriedades e, exatamente por isso,
nos colocam o desafio de estarem
profundamente ancoradas num campo
teórico e, ao mesmo tempo, admitirem
a sua contingência e a sua
transitoriedade.
Dada a dinamicidade do processo
formativo proporcionado pela Pedagogia
da Alternância, a prática cultural do
CEFFA poderia ser problematizada em
suas nuances principais na produção das
identidades/diferenças de seus sujeitos se
adentrássemos nesse universo perpassado
por relações sociais em que o estudo e o
trabalho tendem a aparecer como
categorias constituidoras de um processo
pedagógico que tem no tempo-escola e no
tempo-comunidade, característicos da
Pedagogia da Alternância, elementos tidos
como importantes para a formação do
jovem do interior de Rondônia. Isso porque
permitem a articulação entre os
conhecimentos adquiridos por meio do
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trabalho na propriedade rural e aqueles
adquiridos na escola (Nosella, 2014).
Inspirados em Hall (2012), quando
afirma que “é precisamente porque as
identidades são construídas dentro e não
fora do discurso que nós precisamos
compreendê-las como produzidas em
locais históricos e institucionais
específicos, no interior de formações e
práticas discursivas específicas, por
estratégias e iniciativas específicas” (Hall,
2012, p. 109), optou-se pelos alunos e
monitores como sujeitos da pesquisa.
Quanto aos alunos, adotou-se como
critério de escolha, em primeiro lugar, o
maior tempo de estudo no CEFFA de Ji-
Paraná, por entender que teriam um
maior conhecimento sobre a Pedagogia da
Alternância, fruto dos embates diários no
universo cultural no qual estudam. Os
alunos participantes da pesquisa foram 20,
dentre os 39 que estavam em 2016
cursando a série do Ensino Médio
articulado com Educação Profissional
Técnico em Agropecuária. Pode-se afirmar
que a opção feita por 20 alunos foi
pertinente para a discussão do problema
enunciado acima, isso sem esquecer que os
alunos não escolhidos incidiram sobre o
trabalho, visto que uma identidade é
sempre produzida em relação a outra
(Woodward, 2012).
Em relação aos monitores, foram os
do CEFFA de Ji-Paraná, havendo durante o
processo de escolha muita dificuldade em
optar por alguns dentre os 19
monitores/professores que compunham o
quadro docente em 2016. Tal quadro
apresentava diferenças visíveis, pois se
constituía de monitores ex-alunos da
Pedagogia da Alternância, monitores que
vieram de outras experiências e estavam
fazendo ou não haviam começado o curso
de Formação de Monitores e professores
externos que iam à escola em regime de
horas-aula e não eram reconhecidos pelos
sujeitos dos CEFFAs como monitores.
Entende-se que essa diferença entre
os integrantes do corpo docente foi
fundamental na problematização deste
trabalho. Para o estudo, escolheram-se
oito monitores, elegendo-os a partir da
observação de suas práticas naquele
ambiente multifacetado, em que são mais
que educadores: “... a figura do monitor é
percebida pelas suas aptidões de animação
e de disponibilidade de relações com os
alunos” (Silva, 2003, p. 246). Ao fazermos
a opção por oito monitores, mas estando
abertos, durante o processo de pesquisa,
para trabalhar com os outros do CEFFA de
Ji-Paraná, foi possível acessar novas
práticas desses sujeitos. Esclarece-se que,
neste artigo, tanto os alunos quanto os
monitores serão referenciados com
pseudônimos.
Os instrumentos que abriram as
possibilidades de desenvolver o estudo
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foram construídos no decorrer das
descrições e interpretações, à medida que
iam sendo feitas. Tem-se, portanto, um
processo dinâmico, uma vez que, na
perspectiva teórica dos Estudos Culturais,
as perguntas que fazemos desencadeiam
buscas que engendram várias
possibilidades de respostas, criando
chances de fazermos outras tantas
perguntas, em um processo que nunca está
finalizado ou completo (Meyer & Soares,
2005).
Este trabalho, embora não pretenda
fazer uma etnografia como uma descrição
densa (Geertz, 2008), apresenta um viés
etnográfico, pois, conforme Green, Dixon
e Zaharlick (2005, p. 48), no processo de
pesquisa etnográfica, “... questões são
propostas, redefinidas e revisadas e
decisões sobre a entrada em novos espaços
e acesso a determinados grupos, assim
como coletas de dados e análises, são feitas
à medida que novas questões e temas
emergem in situ e demandam atenção”.
Para este estudo, elegeram-se: a
entrevista com alunos e monitores; a
observação de alunos que passam
durante o ano 10 sessões de 12 dias na
escola em regime de internato e 10 sessões
de 16 dias com a família e monitores , de
monitores, da inter-relação destes com os
outros sujeitos e do ambiente acadêmico
onde estão inseridos; e a análise dos
instrumentos pedagógicos e curriculares da
Pedagogia da Alternância com os quais
alunos e monitores se inter-relacionam,
principalmente o Projeto Político-
Pedagógico, o Plano de Curso e o Plano de
Formação, que objetivam a adaptação do
currículo da EFA à realidade de vida dos
seus alunos, como afirma Silva, L. H.
(2003).
Com essas estratégias, procurou-se
tecer uma articulação entre o campo
epistemológico e o campo social,
entendendo articulação como um conceito
que pode ser transferido para novos
contextos sempre que seja útil (Hall,
2013). A opção pela entrevista com alunos
e monitores, considerando como eles têm
sido produzidos a partir do processo
formativo da Pedagogia da Alternância, foi
importante porque, “no contexto
investigativo, a busca pela realização das
entrevistas pode servir ao/à pesquisador/a
como um meio de confirmar ou ampliar
fatos e interpretações que no transcorrer
das observações não foram possíveis
captar.” (Klein & Damico, 2012, p. 76).
Formularam-se perguntas que dessem
sentido, que dinamizassem o trabalho
investigativo, pois poderiam desestabilizar
o campo social, remexer todo o campo dos
saberes e deixar tudo em aberto,
misturando incerteza e promessa, como
afirma Costa (2005).
A observação e o registro sistemático
do observado em um diário de campo, de
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fevereiro a setembro de 2016, recaíram,
principalmente, sobre os alunos e a inter-
relação destes com os monitores no
ambiente acadêmico onde estão inseridos,
também considerando como se organizam
mediante as práticas sociais da Escola.
A análise dos documentos
curriculares e a forma como se relacionam
com as práticas sociais que envolvem os
sujeitos dos CEFFAs, constituindo-os, foi
feita durante todo o processo de construção
deste trabalho. Os documentos fazem parte
do “... conjunto de práticas
organizacionais, curriculares e pedagógicas
que contribuem para definir as formas
pelas quais o significado é produzido, pelas
quais as identidades são moldadas e os
valores contestados ou preservados”
(Simon, 2013, p. 67).
A Produção das identidades e diferenças
pela Pedagogia da Alternância em
Rondônia
Embora considerando o tempo-
escola (sessão escolar) e o tempo-
comunidade (sessão familiar) como
distintos, mas indissociáveis, neste
trabalho, o foco foi a sessão escolar, em
que os alunos da série dividem espaço
com mais duas turmas, A e A. No
início do ano letivo, fevereiro de 2016, as
três turmas somavam 97 alunos, sendo 39
da 4ª série. Enquanto esses alunos estavam
na Escola, a chamada Turma B (1ª B, 2ª e
3ª B) estava na sessão familiar.
Como as práticas sociais dentro da
Escola estão organizadas de maneira a
produzir tipos específicos de sujeitos,
durante a sessão escolar, os alunos, além
das oito aulas diárias de 50 minutos, fazem
a limpeza de toda a estrutura física da
Escola em forma de rodízio, além de
cuidarem das plantações e dos animais.
Chama atenção que dificilmente algum
aluno fica sozinho. Nos corredores, nas
mesas do dormitório, nas salas de aula, nos
bancos de madeira debaixo dos pés de
cacau ou jambo, estão sempre em duplas
ou em pequenos grupos. Essas práticas,
como estão mergulhadas num embate por
significação, contribuem para regular as
identidades dos estudantes.
Decerto, se não tivéssemos nos
deparado no CEFFA com identidades
ambivalentes, contingentes, cambiantes,
fugidias, híbridas, nômades, como são
todas as identidades, não fosse tão
complexo analisar como são produzidas e
negociadas as identidades e diferenças de
jovens do campo no espaço educativo
fundado na Formação em Alternância em
Ji-Paraná/ Rondônia. Como as identidades
e diferenças são acionadas de acordo com
os interesses que estão em jogo em
determinado momento, a forma como essa
arena cultural incide sobre os sujeitos que
ali estudam e trabalham pode ser
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considerada uma dentre outras possíveis,
especialmente se considerarmos que “o
sujeito assume identidades diferentes em
diferentes momentos, identidades que não
são unificadas ao redor de um ‘eu’
coerente” (Hall, 2011, p. 13).
Como existem múltiplas formas de
propor uma investigação em determinado
campo social, bem como inúmeros campos
epistemológicos que permitem
problematizar o que ocorre nesse
espaço/tempo cultural, a escolha dos
Estudos Culturais para esta investigação
descortinou um contexto cultural produtor
de múltiplas e cambiantes identidades. Ao
dar-se ênfase aos processos culturais para
compreensão dos significados e das
representações, mostrou-se que a
Pedagogia da Alternância tem como
objetivo produzir o sujeito do campo
consciente e crítico, conforme se vê nos
documentos curriculares, como o Projeto
Político-Pedagógico (PPP) e o Plano de
Curso, e nas falas dos sujeitos, como da
monitora Vera, para quem ser monitor é
um ato político, pois nós formamos
consciências”, e do monitor Carlos,
quando diz que o papel principal da
Escola e o nosso, como monitores, é
formar consciências”. Ainda assim,
práticas envoltas em relações de poder têm
operado no sentido de produzir identidades
naturalizadas e essencializadas dos sujeitos
do campo, sendo essas identidades
sistematicamente abaladas pela diferença.
Isso porque, na perspectiva à qual se filia
este trabalho, o sujeito é composto de
várias identidades, definidas
historicamente, e não biologicamente,
como afirma Hall (2011). Logo, a
pedagogia deve ser vista como uma
tecnologia político-cultural (Simon, 2013).
O que se observa no dia a dia da
Escola e na fala dos sujeitos que ali
estudam e trabalham é que o CEFFA é um
projeto “progressista”, que se quer
emancipador, formador de sujeitos
conscientes dos problemas que a realidade
sociocultural apresenta, como se percebe
na fala do monitor Marcos: A Escola tem
que tornar o aluno consciente dos
problemas vividos na comunidade”. Como
diz o monitor Nivaldo, a Escola tem que
formar uma consciência crítica nesses
alunos”. Portanto, o sujeito é pensado
como fundamentalmente centrado, guiado
unicamente pela razão, estando no centro
da ação social. Sua consciência é o centro
de suas próprias ações (Silva, 2003).
Corazza e Silva (2003) evidenciam que
esse sujeito não existe, sendo um efeito do
discurso, um efeito da interpelação, de um
posicionamento. Para os autores, não se
sustenta a ideia de um sujeito cuja relação
que estabelece com as práticas sociais
coincide com sua forma de pensar, por
isso, sugerem dissolver o mito da
interioridade. Afirmam que:
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Nenhuma das pedagogias modernas -
das humanistas e tradicionais às
construtivistas e liberais, passando
pelas críticas e emancipatórias -
subsistiria sem a noção de
interioridade. O mito da interioridade
é essencial aos diversos avatares do
sujeito que povoam os territórios das
pedagogias contemporâneas: o
cidadão participante, a pessoa
integral, o indivíduo crítico. (Corazza
& Silva, 2003, p. 3).
Na perspectiva que seguimos neste
trabalho, “... o sujeito não é o centro da
ação social. Ele não pensa, fala e produz:
ele é pensado, falado e produzido” (Silva,
2003, p. 113). Há, assim, uma centralidade
no contexto cultural em que o sujeito vai
sendo fabricado. As representações vão
forjando as identidades e diferenças dos
sujeitos da Pedagogia da Alternância.
Como diz Silva (2012), essas proposições
não se limitam a descrever um estado de
coisas, mas fazem com que elas
aconteçam, se realizem, se efetivem.
As observações dessa arena cultural
multifacetada, feitas de fevereiro a
novembro de 2016, revelaram o modo
como a cultura do CEFFA tem interpelado
os sujeitos, recrutando-os para ocuparem
determinadas posições, constituindo alunos
cujas identidades se querem homogêneas,
apesar de confrontarem, no contexto em
que estudam, uma multiplicidade de
identidades fluídas e em permanente
construção/reconstrução. As falas das
monitoras Vera e Regina, quando dizem
que “todos os alunos são iguais”, e dos
monitores Sérgio e Marcos, para quem o
papel da escola é torná-los iguais”,
mostram uma tentativa de marcar os
sujeitos como diferentes para administrá-
los e homogeneizá-los.
Tanto pelas observações quanto pelas
entrevistas e documentos analisados, pode-
se afirmar que o currículo do CEFFA de Ji-
Paraná, amalgamado com as normas
disciplinares
ii
, parece ser feito para
identidades previsíveis, essencializadas, e
que suas práticas pretendem (re)produzi-
las. Os artefatos culturais da Escola são
marcadores identitários que produzem
mesmidades quando os alunos procuram
preencher o perfil da Escola, cumprindo
suas regras: As Normas disciplinares
ajudam o aluno a ser um cidadão de bem”
(aluno John). Quem chega à Escola
convive com a ideia de que estuda numa
escola melhor, cujo conhecimento
transmitido é mais elevado: “O aluno de
EFA é mais maduro, ele entende as coisas
com mais facilidade, ele consegue dialogar
com mais facilidade do que um aluno que
não estuda no regime da alternância”
(aluno Antônio). Os alunos aceitam que as
normas são normais e que devem obedecê-
las por ser isso inevitável: Gosto das
Normas, que nos ensinam a lidar com o
mundo” (aluna Laísmara). A entrada dos
diferentes é inibida, principalmente
deficientes e homossexuais, e os que
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estão dentro “suavizam” a forma como são
tratados, tomando o preconceito e a
discriminação como brincadeiras
“inocentes”: brincadeiras que não
machucam o colega (monitora Sara).
Desconsidera-se que identidades
essencializadas, completas, seguras e
coerentes são uma fantasia, pois as
identidades são formadas e transformadas
continuamente (Hall, 2011; 2012; Silva,
2012; Woodward, 2012).
Desse modo, a partir dos enunciados
dos monitores de que o papel da Escola é
tornar os alunos os mais idênticos
possíveis, um processo de irresignação
que faz com que os sujeitos tentem escapar
das tentativas de encarceramento,
principalmente quando, em meio a relações
de poder, os agricultores responsáveis pela
gestão da Escola
iii
autorizam os monitores
a conduzirem as ações dos alunos em suas
construções identitárias. Entretanto, esses
alunos não ficam passivos frente às
determinações familiares. Vão
constituindo-se a partir das práticas e
artefatos culturais com os quais se
relacionam, ressignificando-os, como se vê
na fala dos alunos Dhondhon e José,
respectivamente: Grande parte das
Normas disciplinares são sufocantes,
impossibilitando o crescimento social do
aluno”; A Escola gosta de punir, ela não
é flexível. Na minha visão, ela ainda vive
no regime militar, de que, se fizer uma
coisa errada, você já tem que ser punido”.
A pesquisa mostrou, portanto, que a
Pedagogia da Alternância, em meio a
relações de poder, tem sido concebida
como palco de produção de identidades
hegemônicas, unificadas, capaz de alinhar
sob ela todos os membros do CEFFA. Em
função dessa visão essencialista de
identidade, fixada no nascimento e
carregada durante a vida por ser parte da
natureza de cada sujeito, há por parte de
muitos dos envolvidos a convicção de que
os contornos administrativo-pedagógicos
do CEFFA são definitivos, imutáveis.
Contudo, como na contemporaneidade a
forma de organizar a própria vida, as
relações com as outras pessoas, todas as
formas como aprendemos a lidar com os
desafios da realidade, ficaram obsoletas,
pensamos, que os 263 CEFFAs do Brasil
iv
,
construídos a partir do final da década de
1960, objetivando conseguir a formação
integral das pessoas e o desenvolvimento
do meio onde vivem, podem, mesmo
guardando suas especificidades, estar
operando com a ideia de produção de
sujeitos conscientes, autônomos, que não
desenvolveram saberes para lidar com a
diferença, pois há um consenso fabricado
que fecha o campo da significação (Silva,
2010) em torno da ideia de que a EFA
prepara o aluno para ser um cidadão com
uma consciência crítica” (aluno Jorge) e
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de que “formar consciência é o segundo
diploma que a Escola emite, sem ser de
papel” (aluno Jonas).
Considera-se, a partir da
problematização das práticas e artefatos
culturais do CEFFA de Ji-Paraná, que
uma premência na Pedagogia da
Alternância em perceber as identidades e
as diferenças entre os sujeitos como
produção cultural, enredadas em relações
de poder. O estudo mostra que não se dá a
devida centralidade aos processos de
produção-reprodução dos sujeitos e das
práticas que os constituem. Pode-se
afirmar que na escola se priorizam os
conhecimentos tidos como legítimos,
insubstituíveis, considerados verdades
absolutas, oriundos dos livros didáticos,
visando a preparar os alunos para
desempenharem papéis sociais, de acordo
com a aptidão com a qual cada um nasceu.
Silva (2003, p. 256) aponta que, “se numa
formação tradicional a condução do
processo pertence prioritariamente à
escola, essa concepção não é mais
adequada quando se busca uma verdadeira
alternância, em que a sucessão família-
escola deve constituir a base de todo o
processo educativo”. A fala de um aluno
mostra como os estudantes vão sendo
produzidos por meio de um currículo
expresso na linguagem dominante,
transmitido através do código cultural
dominante (Silva, 2003): “Com os
ensinamentos da Escola, eu posso mudar a
forma atrasada que a minha família
trabalha a terra e cuida das criações
(José). Por isso, a Escola opera para
garantir, mediante repetidas situações
arbitrárias, a produção da identidade
dominante, recorrendo às normas
disciplinares para controlar, regular, punir
esse sujeito que é um efeito do contexto
onde estuda, numa tentativa de
homogeneizá-lo. Dessa maneira, diante
desses sentidos que procuram regular suas
práticas e condutas, os alunos
compartilham ideias, que lhes permitem
sentir, refletir e, portanto, interpretar o que
ocorre no CEFFA de forma muito
semelhante. Esses códigos culturais”
(Hall, 2016) compartilhados giram muito
em torno da ideia de que a EFA gosta de
punir” (aluna Débora); “Aqui na EFA, os
alunos não têm muita chance de defesa
(aluno Ney).
Mesmo com esses fechamentos em
que se tenta encerrar os alunos em
identidades acabadas, congeladas, fixando
condutas, forjam-se identidades vacilantes,
hesitantes, os sujeitos creditam diferentes
sentidos ao contexto onde se educam. Ao
longo de todo o trabalho, houve oscilação
entre afirmar que a Escola, em relação aos
alunos, procura homogeneizá-los, igualá-
los, conscientizá-los, torná-los cidadãos,
utilizando para alcançar o seu intento a
punição, emanada das Normas
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Disciplinares, aprovadas pelos pais e
postas em prática pelos monitores, e que a
Escola, pela sua qualidade, forma
profissionais competentes, questionadores,
qualificados. Esses significados que
circulam pelo CEFFA são constituídos e
constituem os que ali estudam e trabalham,
visto estarem sob a influência de um
campo de lutas e de negociações de
sentidos, marcados por relações de poder.
Assim, é recorrente encontrar alunos
(como José, Débora, Larry, Abençoado,
Toquinho, Leandro, Violeta e Ney) que
afirmam que a Escola gosta de punir e
alunos (como John, Jonas, Lorelaynne,
João Pedro, Antônio, Demétria e Bruno)
que afirmam que a Escola forma
profissionais competentes e preparados
para a sociedade”. Isso ocorre, pois “são
os participantes de uma cultura que dão
sentido a indivíduos, objetos e
acontecimentos ...” (Hall, 2016, p. 20).
As incursões que foram feitas
incessantemente às formulações teóricas
sobre como fazer um estudo sob as lentes
dos Estudos Culturais apontaram uma
Escola cujas práticas e artefatos culturais
são submetidos a novas práticas de
significação, visto não serem os alunos
afetados da mesma forma. As falas dos
alunos mostram identidades vigiadas,
subjugadas, conformadas, mas também
identidades em conflito, ambivalentes. A
Escola, ao envidar esforços no sentido de
normatizar o seu cotidiano, desvela uma
prática pedagógica hesitante, resistindo à
cultura da transgressão ou tentando
impedi-la. Assim, encontramos alunos
como Violeta, que, em dado momento, diz:
Aqui na Escola o negócio é punir. Punir
pode criar pessoas revoltadas”. Em outro
momento, afirma: A Escola nos prepara
para a vida. Forma pessoas éticas,
profissionais éticos...”. O mesmo ocorre
com a aluna Faith, que mostra o conflito
identitário em que se encontra: A Escola
sabe lidar com as diferenças dentro dela
e aqui na Escola tem muito preconceito,
que é bem camuflado”. Silva (2010)
ajuda-nos a pensar o que vem ocorrendo no
CEFFA quando afirma:
Não é preciso dizer que a educação
institucionalizada e o currículo
oficial ou não estão, por sua vez, no
centro do processo de formação de
identidade. O currículo, como um
espaço de significação, está
estreitamente vinculado ao processo
de formação de identidades sociais.
(Silva, 2010, p. 27).
Como o contexto cultural fabrica os
sujeitos, não seguindo uma lógica alinhada
a um parâmetro de como se essa
produção, no CEFFA deparamo-nos com
uma realidade diferente em relação ao uso
do celular e da internet, ou pelo menos
diferente em relação à forma como esses
artefatos incidem sobre os sujeitos,
principalmente os alunos. Quando os
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CEFFAs iniciaram em Rondônia e na
primeira década de funcionamento, não era
tão imperativo o uso das redes sociais, pois
a grande maioria dos alunos nem sequer
tinha celular. Considerando que os
monitores têm acesso a essas novas
tecnologias, inferiu-se no início da
pesquisa que isso acarretasse embates entre
os alunos e os monitores responsáveis por
resguardar as Normas. Lógico que
conflitos, mas o que não se esperava era
encontrar muitos alunos que concordam
com a proibição. Ou seja, numa época em
que “uma diferença-chave decorre do
modo pelo qual as novas gerações
conectam-se ou ficam desconectadas”
(Canclini, 2009, p. 214), a Pedagogia da
Alternância produz um aluno que na
proibição um aspecto positivo para sua
formação, pois não se sente preparado para
fazer uso das redes sociais ao mesmo
tempo que estuda. Eu sou a favor da
proibição do celular e do acesso às redes
sociais...” (aluno Bruno); Eu acho boa a
proibição do celular porque eu, enquanto
jovem, se tivesse um celular dentro da sala
de aula, eu ia acabar ficando mais no
celular do que prestando atenção na aula”
(aluna Micaelly); Não quero nem pensar
no que aconteceria se tivessem livre acesso
ao celular e à internet. Seria um caos
(monitor Carlos). Criam-se no CEFFA
mecanismos de controle, produzindo-se,
assim, identidades resignadas, sujeitadas,
fixas, construídas por relações de poder
assimétricas que as posicionam.
Ressalta-se que o uso das novas
tecnologias tem sido objeto de discussões,
não tendo sido ainda encontrada uma saída
para o impasse. Mesmo alguns monitores
entendendo que a Escola precisa avançar
em relação à permissão do uso por parte
dos alunos, os discursos e os sistemas de
representação que forjam os sujeitos do
CEFFA criam significados que operam por
meio da linguagem visando a privilegiar
representações que excluem os alunos das
tomadas de decisões. Como existe uma
multiplicidade de identidades em constante
transformação, os alunos, num processo
plural, processual, inacabado, de produção
identitária, colocam em xeque os
significados que devem ser por eles
internalizados. Por isso, vários alunos
posicionam-se contrários a essa proibição.
Sentem falta do celular. Estão habituados a
ficar conectados e questionam por que a
Escola os proíbe de usar o próprio celular e
de manter contatos durante duas semanas,
inclusive para realizar trabalhos escolares,
diferentemente do que fazem quando estão
em casa. “O acesso à internet hoje aqui
dentro é essencial, tem projetos,
relatórios...” (aluno Dhondhon); Os
alunos no ano precisam muito para
realizar os projetos e não têm como fazer
uma pesquisa...” (aluna Débora).
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Como nessa arena cultural as
representações têm efeitos diferentes sobre
as identidades que vão ali sendo
produzidas, grande parte dos alunos
entende que, para o bom andamento do
projeto educativo da escola, é necessária a
proibição do celular e do acesso à internet,
mas propõe a sua utilização nos momentos
livres: hora do almoço, hora de lazer,
sábado e domingo, depois das atividades
designadas para o grupo. Eu tenho
discutido com os meus colegas, assim. A
internet não poderia ser liberada, assim,
direto, mas nos dias livres e finais de
semana deveria, porque a gente fica aqui
na Escola sem acesso a nada...” (aluno
Larry). Ao tentarem fixar suas identidades
jovens como imaturas, incapazes de fazer
uso das novas tecnologias, tornando o
CEFFA um campo de normalização e
regulação onde prevalece a autoridade
paterna no controle das normas, os alunos
criam mecanismos para escapar das
representações que os pensam como
identidades unificadas, que os concebem
como capazes de chegar homogeneizados
ao final do curso, bastando para isso
seguirem as normas encarregadas de
produzi-los.
Os Estudos Culturais mostram que as
identidades constituídas sob o padrão
hegemônico, em que os sujeitos, ao
chegarem à Escola, deveriam ser
agrupados sob o mesmo arco da
identidade, vista como fato da natureza,
oriunda de uma essência, e não produto da
cultura em que se inter-relacionam, não
fazem sentido. Assim, este trabalho pensou
as identidades do CEFFA sempre como um
vir a ser, sempre modificáveis. As
inconformidades, as incongruências que
sobressaem ao longo do trabalho devem
ser vistas como aspectos importantes de
um contexto em que os sujeitos são
incompletos, incoerentes, desiguais, visto
suas identificações estarem em constante
interação com os sistemas de significação
que dão sentido às suas ações.
Nessa perspectiva, pode-se afirmar
que a Pedagogia da Alternância está
estruturada pedagogicamente a partir das
formas de vida dos sujeitos que vão
chegando e moldam seu projeto a cada
período. As famílias trazem as formas
como foram constituídas, transferindo à
Escola a responsabilidade de dar
continuidade na produção de identidades
que consideram legítimas. Os monitores,
dada a heterogeneidade da formação para o
trabalho docente e com a grande maioria
de proveniência urbana, oscilam entre
fazer uso das experiências anteriores e
apropriar-se dos alicerces teóricos que
embasam a Formação em Alternância,
principalmente porque a Escola não tem
oferecido uma formação que os monitores
considerem conveniente para quem vai
iniciar nessa proposta educativa, como
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afirma Carlos: “Uma falha da Escola é
que, quando eu entrei, não me foi ensinado
sobre a Pedagogia da Alternância, sobre a
sua metodologia”. Considerando-se,
portanto, a inconclusividade das
identidades, o monitor não chega ao
CEFFA pronto, mesmo porque isso é uma
ilusão. Os alunos, desde a primeira sessão
escolar, vão sendo por esse espaço-tempo
cultural afetados de formas distintas. Suas
identidades desestabilizadas pelas
diferenças são produzidas, entrelaçadas por
inúmeras práticas culturais, por isso
mesmo, descontínuas, descentradas,
relacionais. Essas identidades, em
constante processo de mudanças, estão, na
modernidade tardia, cada vez mais
fragmentadas e fraturadas: “... elas não são,
nunca, singulares, mas multiplamente
construídas ao longo de discursos, práticas
e posições que podem se cruzar ou ser
antagônicos” (Hall, 2012, p. 108).
Os significados que circulam pelo
CEFFA produzem sujeitos que agem e se
reconhecem a partir de determinados
posicionamentos, desvelam identidades
docentes forjadas a partir de um projeto
educativo que, embora pretendendo
preparar pessoas para atuarem de forma a
melhorar a vida dos sujeitos do campo, tem
operado para acentuar rigidamente alguns
marcadores identitários. Mesmo efêmeros,
esses marcadores vão constituindo
identidades controladas, reguladas
identidades jovens que não questionam,
porque educadas, humildes, responsáveis,
submissas às regras da Escola, como
quando alguns estudantes afirmam que
ser bom aluno é seguir as regras da
Escola (Débora, John, Laísmara e
Lorelaynne) ou, como diz a aluna
Laísmara: Concordo com todas as
Normas. Não vim aqui para discordar, eu
vim para estudar”.
Porém, como não é possível uma
Escola homogênea, ela sempre será plural,
multifacetada. A Pedagogia da
Alternância, tendo em vista sua
ambivalência, produz identidades e
diferenças sempre em movimento, de
acordo com o momento e conforme o
modo como é acionada. Assim, é possível
compreender que, pelo processo de
negociação, identidades híbridas,
transitórias e fugidias (Canclini, 2009;
Hall, 2011; Silva, 2012) vão sendo
produzidas de acordo com os interesses
que estão em jogo. Os jovens, ao
afirmarem que o CEFFA é melhor do que
as outras escolas, que, por ter um ensino de
melhor qualidade, amplia suas perspectivas
futuras, vão abrindo possibilidades para
que novas identidades ganhem visibilidade,
se façam perceptíveis, pois o contexto
cultural em que se educam permite uma
multiplicidade de posições fluídas,
inconstantes. O ensino na EFA é superior
ao de todas as outras escolas que eu
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conheço, pois ajuda o alternante no meio
social e profissional” (aluno Bruno); O
ensino na EFA nem se compara com o de
outras escolas que tem por aí, pois é muito
melhor” (aluno José).
Desse modo, no CEFFA de Ji-
Paraná, são produzidos representações e
significados que organizam, regulam,
moldam práticas sociais, mostrando que a
Formação em Alternância produz
identidades que não estão centradas nos
sujeitos, nem deles emanam, mas são
efeitos das inter-relações que eles
estabelecem no espaço educativo em que
estão inseridos, cultivando a noção de que
assumir essas identidades significará estar
preparado para o mundo, porque
competentes e qualificados.
Para que esse processo, mesmo
indeterminado, instável, impreciso,
flutuante, seja possível, a Pedagogia da
Alternância empenha-se em afastar as
identidades diferentes, pois, para que o
“nós” (heterossexuais, “normais”) possa
ser produzido como sujeito confiante,
questionador, competente, preparado para
a sociedade, capaz de ajudar sua
comunidade, “eles” (homossexuais,
deficientes) devem permanecer de fora.
Mesmo assim, essas diferenças vão
desestabilizando as identidades
hegemônicas, já que envidar esforços no
sentido de mantê-las longe, de não permitir
que se avizinhem, também é uma forma de
ser afetado por elas. Isso ocorre, por
exemplo, quando o aluno José questiona:
Por que não tem alunos homossexuais ou
pelo menos assumidos, não é? Será
porque, porque... [para um instante] Deve
ser porque não combina com os valores de
nossas famílias. Meu pai ia ficar muito
desconfiado da Escola se tivesse alunos
gays aqui. Mas ia mesmo!”.
Esses sentidos atribuídos à Escola
pelo aluno José mostram que existe na
Escola uma “nossa identidade”. Pensando
que a identidade e a diferença dependem
da representação e que, como processos de
produção social (Silva, 2012), estão
envolvidas em relações de poder, o aluno
forjado por uma Escola da Família
Agrícola (Nosella, 2014) questiona a
ausência dos que considera diferentes,
quais sejam, deficientes e homossexuais.
Porém, logo em seguida, assume a posição
na qual se reconhece, apelando para
antecedentes históricos, afirmando uma
identidade que necessita, para o seu
processo de construção, estar fundada em
valores a partir dos quais a família
camponesa foi historicamente construída.
Vistas como desvio da normalidade,
essas diferenças marcadas se fazem, ou
sempre se fizeram presentes. Percebe-se
que, quando não dá para ignorar as
identidades pensadas como o outro em sua
negatividade (Skliar, 2014), principalmente
em relação ao preconceito de cor, os
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significados deslizam, se tornam brandos,
no sentido de validar, ratificar e manter os
privilégios construídos culturalmente,
estabelecendo padrões de normalidade
dentro do CEFFA. Os sujeitos, então, vão
sendo convencidos” de que na escola não
tem preconceito, não tem discriminação,
porque as brincadeiras são inocentes, vistas
como coisa que não machuca o colega
(monitora Sara), pois é inerente à
“natureza” juvenil. Assim, a Escola,
mediante suas práticas sociais, por não ver
a diferença como legítima, opera para sua
superação, trabalhando no intento de tornar
todos iguais. Skliar (2014) auxilia-nos a
entender o que vem ocorrendo no CEFFA
quando afirma: “... o mais frequente é que
o outro deva entrar em nossa ordem,
despojado de alteridade; essa parece ser a
condição para admiti-lo, recebê-lo, acolhê-
lo; dar-lhe educação, aceitá-lo (Skliar,
2014, p. 193, grifos do autor).
Produzem-se, portanto,
representações numa tentativa de fechar
espaços para novas configurações
identitárias plurais e fluídas, negando e/ou
silenciando as diferenças, impedindo que
estas se afirmem desafiando a posição de
vantagem das identidades hegemônicas.
Assim, excluem-se as identidades que não
se adaptam à Pedagogia da Escola, que não
se submetem às Normas Internas as
identidades diferentes, ou seja, aquelas que
estão fora do padrão de normalidade com o
qual o CEFFA está acostumado a trabalhar,
como os homossexuais e os deficientes.
Como essas identidades são
produzidas culturalmente e acionadas de
acordo com os interesses em jogo, num
campo em que os processos de significação
estão em disputa incessante, por meio das
relações de poder, produzindo significados
que se querem hegemônicos, pode-se
afirmar que a Formação em Alternância
opera para fixar e estabilizar as identidades
quando, mediante suas práticas: não
permite que os alunos participem da
elaboração das Normas Internas que
regulam suas condutas dentro da Escola;
produz um aluno despreparado para o uso
das novas tecnologias; posiciona alunos e
monitores em lados opostos nas relações
que estabelecem, forjados pelas normas
internas, constituindo modos de ser
sujeitos em que, para ser bom aluno, é
necessário seguir as regras e, para ser bom
monitor, fazer com que isso aconteça; tenta
homogeneizar os alunos, tornando-os
iguais; os pais criam novas perspectivas
identitárias para os filhos ao escolherem o
CEFFA para a formação destes; coloca
como finalidade primeira a formação de
uma consciência crítica nos jovens, a fim
de torná-los aptos para atuação numa
sociedade que se quer igual para todos;
produz um monitor que tem que aprender a
ter gosto, a adequar-se à realidade
administrativa e pedagógica da Escola;
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toma como conhecimentos a serem
trabalhados com os alunos aqueles
chamados científicos, abrindo mão dos
conhecimentos advindos das práticas
sociais das famílias, tidos como atrasados;
trata o preconceito e a discriminação como
brincadeiras juvenis.
Considerações Finais
Ao reconhecer neste trabalho que a
cultura do CEFFA fabrica os sujeitos, que
por sua vez produzem novos significados,
que passam a concorrer na produção das
identidades, isso significa dizer que vão se
criando espaços para rupturas e
contestações, colocando em xeque os
marcadores identitários dominantes. Isso
ocorre quando: mesmo se sujeitando às
normas, os sujeitos as questionam como
passíveis de serem modificadas por serem
rígidas, não se coadunando com o
momento histórico vivido; pela
convivência com os que estão posicionados
num mesmo nível nas hierarquias
estabelecidas pela Escola, se instituem
modos de viver e de explicar o que lhes
ocorre, tornando-se o que se é; em sua
grande maioria, os sujeitos se posicionam
contra a proibição do uso do celular e da
internet na Escola; os sujeitos veem a
escola como marcada pela “cultura” da
punição, organizada a partir de relações
assimétricas, interpelando-os, a fim de
constituí-los como sujeitos obedientes,
conformados; pela prática pedagógica da
Escola, se produzem outros sujeitos, muito
mais qualificados e competentes do que os
de outras experiências educativas; os
alunos vão percebendo que algumas
identidades são marcadas como
indesejáveis e que, mesmo havendo uma
tentativa de interdição, entram na Escola
perturbando, desestabilizando as
identidades dominantes.
Sob essa perspectiva, pode-se
afirmar que algumas identidades
construídas no contexto das relações
sociais de poder do CEFFA de Ji-Paraná
têm sido mobilizadas como expressão
daquilo que a Pedagogia da Alternância
produz. Por serem as identidades
cambiantes, inconstantes, podendo ser
acionadas de diferentes formas, o CEFFA,
como um campo de produção
indeterminado de significados, tem
produzido identidades qualificadas,
competentes, confiantes, responsáveis, que
sabem pensar, argumentar, preparadas para
o futuro, visto serem produzidas por uma
escola superior, de melhor qualidade, que
prepara o aluno para o pós-CEFFA. Dado,
porém, o caráter ambivalente e transitório
das identidades, estas m sido produzidas
ainda como identidades medrosas que não
negam as diferenças devido à posição que
ocupam nas relações de poder; identidades
que não querem voltar para o campo, mas
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continuar estudando ou arrumar um
emprego na cidade; identidades que devem
aprender a adaptar-se às práticas sociais da
Escola, submissas às regras, por medo de
punição; identidades que não foram
preparadas para trabalhar a Formação em
Alternância.
Com o desenvolvimento deste
trabalho, com um feitio metodológico
sempre inacabado e rumos imprevisíveis,
apesar de ninguém ter falado nada sobre
como se produzem as identidades e
diferenças na Pedagogia da Alternância
nos Estudos Culturais, a partir desse campo
teórico, conseguiu-se colocar em xeque
ideias ou explicações que postulam que a
apropriação do conhecimento,
principalmente no tempo-escola, se a
partir de um sujeito guiado somente pela
sua racionalidade ou como centro de suas
ações na formação de sua consciência.
Nessa perspectiva, o conhecimento não
pode continuar sendo visto como algo que
possui uma existência em si mesmo. Sua
construção, que se mediante a
linguagem, num campo de disputa pela
significação, em meio a relações de poder,
deve operar para que os efeitos produzidos
não fixem as identidades, nem embacem
ou apaguem as difereas. Que a
Pedagogia da Alternância seja um espaço
de identidades múltiplas, plurais, instáveis,
híbridas, que ao ser construída/reconstruída
pelos sujeitos, pais, alunos e monitores,
interpelando-os hodiernamente por meio
de pluralidades discursivas, se afirme
como um processo ininterrupto de
desestabilização dos marcadores
identitários dominantes, num processo de
articulação com a diferença, urdindo novas
posições de sujeito, rompendo com a ideia
de uma identidade essencializada do
sujeito do CEFFA e com a ideia de
diferença como marcada pela negatividade,
que tem como efeito a exclusão, a
marginalização dos que “não deveriam”
estar inseridos nesse contexto.
O estudo, portanto, possibilitou um
olhar sobre a prática pedagógica do
CEFFA de uma forma inabitual,
principalmente em relação às identidades e
diferenças, pois nem alunos, nem
monitores são interpelados pelas práticas
da Pedagogia da Alternância da mesma
forma, assumindo posições de sujeito
coincidentes. A descrição do estudo mostra
que, ao assumir como referência a cultura,
que, como prática de significação, é
constitutiva das identidades e diferenças
dos sujeitos a partir de seus diferentes
significados e práticas sociais, a Pedagogia
da Alternância produz sujeitos vacilantes,
hesitantes, cujos sentidos, constituídos por
meio das práticas sociais, se movem em
diferentes direções, produzindo
perspectivas identitárias que se cruzam e se
deslocam, tornando o processo de
produção das identidades e diferenças
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provisório, variável, fragmentado,
indeciso, o que resulta em identidades
vigiadas, subjugadas, conformadas, mas
também identidades em conflito,
ambivalentes. As identidades produzidas
no espaço educativo do CEFFA são
desestabilizadas pelas diferenças,
entrelaçadas por inúmeras práticas
culturais e, por isso mesmo, descontínuas,
descentradas, fragmentadas, relacionais.
Dessa forma, a Pedagogia da Alternância,
tendo em vista sua ambivalência, produz
identidades e diferenças sempre em
movimento, de acordo com o momento e
conforme o modo como é acionada.
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aprendizagem ao seu modo de vida. Adota a
Pedagogia da Alternância com metodologia própria,
voltada ao meio rural e integrada aos princípios e
fins da Educação Nacional.
http://efaitapirema.org/site/a-escola/.
iv
Dados do IX Congresso Mundial da Associação
Internationale des Maisons Familiales Rurales
(AIMFR) (2010) mostram que em 2010 havia no
Brasil 263 CEFFAs, um total de 74.000 famílias
envolvidas, 23.254 pessoas em formação e 51.550
egressos.
i
Begnami e Burghgrave (2014, p. 264), no posfácio
de atualização da obra de Paolo Nosella, Origens
da Pedagogia da Alternância no Brasil (Vitória:
EDUFES, 2014), afirmam que “CEFFA é um nome
genérico, até então de caráter político, formulado
no Brasil, em 2001, que busca articular e unir
Escolas Famílias Agrícolas, Casas Familiares
Rurais e Escolas Comunitárias Rurais, para lutarem
juntamente, no âmbito nacional, pelo
reconhecimento da Pedagogia da Alternância e pelo
financiamento público, em marcos legais que
assegurem, todavia, os seus princípios
constitutivos”.
ii
Para regular/controlar a convivência na Pedagogia
da Alternância, a Associação Promocional da
Escola criou as Normas Internas, em que está
aprovado em assembleia (de pais) o que o aluno
pode e o que não pode fazer, estabelecendo-se,
ainda, a punição para cada “infração”.
iii
O CEFFA de Ji-Paraná é gerido pela Associação
Promocional da Escola Família Agrícola Itapirema
de Ji-Paraná (APEFAJIJIP), formada
principalmente por pais de alunos monitores.
Criada em 1997, é uma associação de caráter
comunitário que tem como finalidade a formação
integral do jovem adequando o processo ensino-
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Informações do artigo / Article Information
Recebido em : 23/02/2018
Aprovado em: 26/04/2018
Publicado em: 27/07/2018
Received on February 23th, 2018
Accepted on April 26th, 2018
Published on July 27th, 2018
Contribuições no artigo: Os autores foram os
responsáveis por todas as etapas e resultados da
pesquisa, a saber: elaboração, análise e interpretação dos
dados; escrita e revisão do conteúdo do manuscrito
e; aprovação da versão final a ser publicada.
Author Contributions: The authors were responsible for
the designing, delineating, analyzing and interpreting the
data, production of the manuscript, critical revision of the
content and approval of the final version to be published.
Conflitos de interesse: Os autores declararam não haver
nenhum conflito de interesse referente a este artigo.
Conflict of Interest: None reported.
Orcid
Alberto Dias Valadão
http://orcid.org/0000-0002-5969-935X
José Licínio Backes
http://orcid.org/0000-0001-9013-8537
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Como citar este artigo / How to cite this article
APA
Valadão, A. D., & Backes, J. L. (2018). A Pedagogia da
Alternância no CEFFA de Ji-Paraná/Rondônia: A ênfase
na identidade que produz diferenças. Rev. Bras. Educ.
Camp., 3(2), 549-577. DOI:
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-4863.2018v3n2p549
ABNT
VALADÃO, A. D.; BACKES, J. L. A Pedagogia da
Alternância no CEFFA de Ji-Paraná/Rondônia: A ênfase
na identidade que produz diferenças. Rev. Bras. Educ.
Camp., Tocantinópolis, v. 3, n. 2, mai./ago., p. 549-577,
2018. DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-
4863.2018v3n2p549
Revista Brasileira de Educação do Campo
The Brazilian Scientific Journal of Rural Education
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Educação do Campo, Ensino Médio e juventude
camponesa: conceitos em construção
Maria de Lourdes Jorge de Sousa
1
, Ilma Ferreira Machado
2
1
Secretaria de Estado da Educação de Mato Grosso - SEDUC. Centro de Formação e Atualização dos Profissionais da
Educação Básica - CEFAPRO. São Félix do Araguaia - MT. Brasil.
2
Universidade do Estado de Mato Grosso - UNEMAT.
Autor para correspondência/Author for correspondence: loujorgelb@gmail.com
RESUMO. Este artigo discute as configurações do Ensino
Médio em escolas do campo no polo do CEFAPRO de São Félix
do Araguaia MT, em interface com as proposições da
educação do campo. A pesquisa foi realizada com educadores de
duas escolas/salas anexas, localizadas no Projeto de
Assentamento Mata Azul e no Projeto de Assentamento Dom
Pedro Casaldáliga, vinculadas às Escolas Estaduais 29 de
Setembro, no município de Novo Santo Antônio, e Tancredo
Neves, no município de São Félix do Araguaia, na Microrregião
Norte Araguaia nordeste de Mato Grosso. Utilizou-se da
abordagem qualitativa de pesquisa, numa perspectiva crítico-
dialética por esta enfatizar a dimensão histórica e
transformadora das situações ou dos fenômenos estudados. Para
a coleta dos dados foram utilizadas entrevistas semiestruturadas.
Constatou-se que o Ensino Médio no campo, nas escolas
pesquisadas é uma experiência ainda incipiente, que envolve
questões relativas à estrutura física das unidades escolares, à
organização curricular, ao papel social da escola do campo, à
formação dos docentes, ao acesso e permanência dos jovens
camponeses a escola até concluírem a formação de nível médio,
evidenciando tensão, por parte dos educadores, no sentido de
contrapor ao paradigma da seletividade e dualidade do Ensino
Médio e do urbanocentrismo em escolas do campo.
Palavras-chave: Educação do Campo, Ensino Médio no
Campo, Juventude Camponesa.
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Sousa, M. L. J., & Machado, I. F. (2018). Educão do Campo, Ensino dio e juventude camponesa...
Countryside Education, High School Education and
Peasant youth: Construction concepts
ABSTRACT. This article discusses the configurations on high
school education on countryside schools of the branch
CEFAPRO of São Félix do Araguaia-MT, in coherence with the
proposal of this method. The investigation was made with
teachers of two schools/classrooms, located in the project of
settlement Mata Azul and the project of settle med Dom Pedro
Casaldáliga, that connected to the state schools September 29th,
in the municipality of Novo Santo Antônio, and Tancredo
Neves, in the municipality of São Félix de Araguaia, in the
micro region of the North Araguaia - on the north east of Mato
Grosso. It was used an approach qualitative investigation, in a
critical-dialectic perspective for emphasis on the historical
dimensions and transforming of the situations or student
phenomena. For the gather of information was used interviews
half structured. It was contacted that high school education on
the countryside that were part of this studies are still incipient,
that includes questions about the structures about the school
modeling, to the curricular organization, to the important work
of this schools, to the formation of teachers, to the access and
the permanence of this students until they completed their high
school, showing us the tension by part of the teachers, as far as
they set off the paradigm of selection and duality of high school
education and the urban centrism in the countryside.
Keywords: Countryside Education, High Countryside
Education, Peasant Youth.
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Educación del Campo, Educación Media y juventud
campesina: conceptos en construcción
RESUMEN. Este artículo discute las configuraciones de la
educación en el nivel medio en escuelas del campo de la sede de
CEFAPRO de São Félix do Araguaia - MT, en coherencia con
las propuestas de la educación del campo. La investigación fue
realizada con educadores en dos escuelas/aulas anexas,
localizadas en el Proyecto de Asentamiento Mata Azul y en el
Proyecto de Asentamiento Dom Pedro Casaldáliga, las cuales
están vinculadas a las Escuelas Estaduales 29 de Setiembre, en
el municipio de Novo Santo Antônio, y Tancredo Neves, en el
municipio de São Félix de Araguaia, en la micro región Norte
Araguaia - del noreste de Mato Grosso. Se utilizó un abordaje
cualitativo de investigación, en una perspectiva crítico-dialéctica
por el énfasis en la dimensión histórica y transformadora de las
situaciones y fenómenos estudiados. Para la recolección de la
información fueron usadas entrevistas semi estructuradas. Se
constató que la educación media del campo en las escuelas
investigadas es una experiencia aún incipiente, que incluye
cuestiones relativas a la estructura física de las unidades
escolares, a la organización curricular, al papel social de la
escuela del campo, a la formación de los profesores, al acceso y
la permanencia de los venes campesinos a la escuela hasta que
finalizan la formación de nivel medio, entre otras, evidenciando
tensión por parte de los educadores, en la mediad en que
contraponen el paradigma de la selección y la dualidad de la
Educación media y a la del urbanocentrismo en escuelas del
campo.
Palabras clave: Educación del Campo, Educación Media del
Campo, Juventud Campesina.
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Sousa, M. L. J., & Machado, I. F. (2018). Educão do Campo, Ensino dio e juventude camponesa...
Introdução
Historicamente, no Brasil, a
educação no meio rural foi caracterizada
pelo descaso por parte dos órgãos
governamentais e pelas dificuldades de
acesso, permanência e conclusão da
educação básica e do ensino superior por
parte dos sujeitos do campo. “Constata-se,
portanto, que não houve historicamente
empenho do poder público para implantar
um sistema educacional adequado às
necessidades dos povos do campo. O
Estado brasileiro omitiu-se” (Brasil, 2005,
p. 7).
que se reconhecer que os setores
populares têm reivindicado das instâncias
governamentais ações com o intuito de
romper com a gica excludente da
sociedade capitalista presente no sistema
educacional. Embora se reconheça os
esforços de educadores e de alguns
programas educacionais no sentido de
tornar o ensino inclusivo, unitário e de
formação omnilateral, tais medidas ainda
não foram suficientes para solucionar os
problemas que dificultam a universalização
da educação básica. Observa-se que as
políticas públicas de educação sofrem
fortes influências do sistema capitalista que
rege as relações sociais de cada momento
histórico. Mészáros alerta que,
... limitar uma mudança educacional
a margens corretivas interesseiras do
capital significa abandonar de uma
vez, conscientemente ou não, o
objetivo de uma transformação social
qualitativa. Do mesmo modo,
contudo, procurar margens de
reforma do sistema na própria
estrutura do capital é uma
contradição (Mészáros, 2005, p. 27).
Segundo o autor, faz-se necessário
romper com a lógica do capital como
condição para a criação de projetos
educacionais significativamente diferentes.
Ou seja, haverá mudanças significativas
na educação se mudar, também, o quadro
social e econômico.
Atualmente, um dos grandes desafios
da Educação Básica no Brasil é dar ao
Ensino Médio um caráter unitário e
politécnico, bem como assegurar aos
milhares de jovens que ainda estão fora da
escola condições de acesso, permanência e
terminalidade com qualidade social.
Conforme Frigotto (2016, p. 1), “em plena
segunda década do século XXI, nega-se a
etapa final da educação básica, o Ensino
Médio, para a metade da juventude
brasileira e os que o alcançam o fazem em
condições precárias”. Ainda segundo o
autor, “mutila-se, assim, a perspectiva de
futuro tanto da cidadania ativa quanto das
possibilidades de integrarem-se ao mundo
do trabalho de forma qualificada”
(Frigotto, 2016, p. 1).
Essa realidade é ainda mais grave no
meio rural onde a educação e
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especialmente a educação de nível médio
chegou tardiamente e em condições que
não atendem as expectativas dos povos do
campo. Situação que se agrava com o
acelerado processo de fechamento das
escolas no campo que vem operando sem
controle nos últimos anos. Para os jovens,
trabalhadores do campo, cursar a educação
de nível médio é um desafio, às vezes
adiado por muitos anos, e às vezes,
inalcançável. Desconstruir essa realidade é
função da atual escola do campo.
Conforme Freitas (2012),
Isso não é pouco, pois, na sociedade
capitalista, a escola tem caráter dual,
ou seja, dependendo da origem social
do estudante, ela provê um caminho
ascendente para os patamares mais
elevados de instrução ou provê o
caminho da terminalidade, sendo o
estudante excluído em algum ponto
do sistema escolar sem possibilidade
de acessar níveis mais elevados de
formação (Freitas, 2012, p. 339).
Considerando a afirmação do autor, o
que se observa com base nas estatísticas da
educação brasileira, é que os jovens
camponeses são os mais excluídos do
sistema educacional. Portanto, essa
pesquisa buscou analisar as configurações
do Ensino Médio em escolas no campo do
polo do Centro de Formação de
Professores - CEFAPRO, de São Félix do
Araguaia-MT e quais as contradições que
permeiam esse processo.
Na perspectiva da pesquisa
qualitativa, analisou-se o Ensino Médio em
duas Escolas do campo localizadas em dois
distintos assentamentos da reforma agrária,
no polo do CEFAPRO de São Félix, na
microrregião norte Araguaia, nordeste de
Mato Grosso, sob as lentes da abordagem
crítico-dialética, que tem como uma de
suas características privilegiar os estudos
sobre experiências, práticas pedagógicas,
processos históricos, discussões filosóficas
ou análises contextualizadas, a partir de um
prévio referencial teórico e tem a ação
como categoria epistemológica
fundamental. Ou seja, a pesquisa com base
nas teorias críticas considera a realidade
como um processo em movimento, em
transformação.
Assumimos essa abordagem por
compreender, a partir dos estudos de
Gamboa (1998, p. 117), que “a abordagem
crítico-dialética manifesta um interesse
transformador das situações ou dos
fenômenos estudados, resgatando sua
dimensão sempre histórica e desvendando
suas possibilidades de mudança”.
A seguir, apresentamos a análise de
dados coletados a partir das entrevistas
semiestruturadas, realizadas com
educadores do ensino médio de escolas do
campo. O primeiro eixo de análise dos
dados coletados na empiria trata da
concepção de educação do campo dos
entrevistados.
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Concepções de Educação do Campo
Em função dos objetivos desta
pesquisa, procuramos saber em qual
concepção de educação do campo os
educadores das duas escolas pesquisadas
embasam suas práticas pedagógicas no
Ensino Médio/campo.
Para Caldart (2015, p. 118), as
concepções se constituem de um conjunto
de conceitos organizados, de categorias
teóricas, que servem como ferramentas de
análise da realidade que temos, exatamente
para que, ao identificar as contradições
presentes na realidade atual, possamos
saber o fio a puxar para colocar o cenário
em movimento, no caminho que essas
mesmas referências nos indicam como o
mais adequado neste momento histórico.
Os educadores (as) entrevistados(as)
- identificados neste texto pelas iniciais dos
nomes, ao serem solicitados a expressar
suas concepções de educação do campo,
trouxeram os seguintes elementos:
Eu defino a educação do campo...
que ela seja do campo para o aluno
no campo e que o aluno seja
valorizado no campo (AI, 2016).
A gente sabe que a educação do
campo é diferenciada, a grade dela,
ela tem uma visão da realidade
local do campo...tem que se ter
uma metodologia diferenciada
para se trabalhar com eles (jovens
camponeses). Tem que saber
trabalhar com esses alunos, ter uma
metodologia que venha ao encontro
das necessidades deles (BL, 2016).
Ela tem que ser voltada totalmente
para o campo. Eu tenho que
valorizar, eu tenho que respeitar, eu
tenho que não deixar perder as
raízes daqueles educandos, das
famílias... A valorização da cultura
deles, da terra, da prática... (CS,
2016).
... Para mim a educação do campo é
aquela que a gente faz com os alunos
da zona rural, é a educação que o
jovem faz sem ter que sair de sua
terra, deixando a sua família (FI,
2016).
... como professora da educação (do
campo) eu defendo essa ideia
(proposta pedagógica da educação do
campo) porque é aonde o aluno
aprende a teoria e a prática ao mesmo
tempo. Eu tenho observado que na
escola tradicional, às vezes, ele
aprende a teoria... aquele lado
sentimental e humano, aquele
contato, às vezes, ele não tem, fica
mais aquele estudo mecânico e na
educação do campo é a pessoa... ele
(o estudante) aprende, é o aprender
fazer fazendo. Então ele com
outras visões, tem outras linhas de
pensamento é aonde... ele se sente
mais seguro. Na educação do campo,
a gente... o professor é sempre um
indicador, ele está ali, ele ensina e
aprende ao mesmo tempo... Talvez o
diferencial da educação do campo
seja isso, como os alunos têm a
prática, quando você leva a teoria
eles já têm conhecimento, eles têm
segurança do que estão fazendo (HI,
2016).
Observa-se que as concepções de
educação do campo dos interlocutores
apresentam aproximações com as
concepções de educação do campo que
vêm sendo construídas pelo movimento de
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articulação da educação do campo, a partir
de 1990. As falas em destaque trazem
elementos da concepção de educação do
campo que consideram as particularidades
e valorizam os sujeitos do campo, seus
territórios e sua cultura.
A interlocutora (HI) demonstra
reconhecer as singularidades dos sujeitos
do campo. Critica a dicotomia teoria e
prática comum às práticas tradicionais e
busca desenvolver sua ação pedagógica
numa perspectiva mais integral, centrada
na dimensão humana dos estudantes. Ela
concebe o professor como “indicador”,
alguém que indica caminhos, aquele que
“ensina e aprende ao mesmo tempo”.
Observa-se aproximação entre a concepção
desta interlocutora e o que propõem
Kolling, Nery e Molina (1999):
O propósito é conceber uma
educação básica do campo, voltada
aos interesses e ao desenvolvimento
sociocultural e econômico dos povos
que habitam e trabalham no campo,
atendendo às suas diferenças
históricas e culturais para que vivam
com dignidade e para que,
organizados, resistam contra a
expulsão e a expropriação, ou seja,
este do campo tem o sentido do
pluralismo das ideias e das
concepções pedagógicas: diz respeito
à identidade dos grupos formadores
da sociedade brasileira (conforme os
artigos 206 e 216 da nossa
Constituição) (Kolling, Nery &
Molina, 1999, p. 18).
Foi possível constar que a maioria
dos interlocutores começa a compreender a
educação do campo na forma como ela
vem se construindo no interior dos
movimentos sociais do campo. Contudo, os
entrevistados limitaram-se a questões da
educação escolar, sem pontuar a dimensão
política da educação do campo, que
extrapola as práticas escolares. Ou seja,
suas concepções de educação do campo
aqui expostas, não questionam as
condições de dominação que são impostas
aos sujeitos do campo.
As falas de BL, “a educação do
campo ela é diferenciada, a grade (matriz)
dela tem toda uma visão da realidade local
do campo”, e de CS, “Ela tem que ser
voltada totalmente para o campo”,
merecem cuidado para evitar
interpretações equivocadas que vêm
gerando críticas à educação do campo.
A proposição de se valorizar a
realidade e a cultura local tem sido
interpretada equivocadamente, levando ao
entendimento de que valorizar a cultura
local significa limitar-se a ela e o
avançar para o global, para a apreensão dos
conhecimentos universais e de caráter
científico, função da escola. É importante
reafirmar que, referenciar o currículo na
realidade do campo, não significa estudar
apenas a realidade local, ela é tomada
como o ponto de partida, como elemento a
ser problematizado, por afetar efetivamente
a vida dos estudantes e de suas
comunidades. A realidade local pode ser
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tomada como o elo entre o local e as
questões mais amplas, mais gerais. “A
educação do campo é concebida como
processo de formação dos sujeitos desde o
lugar em que vivem sem, contudo, limitar-
se a ele, postula o desenvolvimento das
pessoas, articulado a uma perspectiva de
desenvolvimento socioeconômico local”
(Machado, 2012, p. 268).
Entendimento como o da autora nos
ajuda a compreender que o lugar onde
vivem os sujeitos do campo é o ponto de
partida de onde se desencadeia um amplo e
complexo processo de desenvolvimento de
sua formação, mas que não se limita a ele.
Deste modo, o processo pedagógico nasce
da realidade particular dos camponeses e
avança para a formação humana integral de
caráter científico e universal.
O segundo eixo buscou analisar a
concepção que os entrevistados têm de
jovem camponês.
Concepção de Jovem Camponês
O interesse dos pesquisadores sobre o
universo social e cultural dos jovens
rurais é recente, sendo bastante
limitada a bibliografia disponível, o
que não acontece no que se refere à
população jovem dos grandes centros
urbanos, que tem atraído a atenção de
um mero muito mais amplo de
estudiosos sobre temas variados.
(Carneiro, 2011, p. 243).
Carneiro (2011) observa o nível de
atenção que tem recebido a população
jovem do campo e nos ajuda no diálogo
que faremos nesse eixo e que, de certo
modo, justifica a importância do nosso
trabalho. A discussão sobre o Ensino
Médio nas escolas do campo exige buscar
saber quem são os sujeitos desta etapa da
educação básica nas escolas do campo,
mais especificamente, nas salas anexas de
escolas do polo do CEFAPRO de São Félix
do Araguaia-MT. Como ponto referencial,
buscamos em estudiosos da temática,
concepções de juventudes.
Juventude/jovem tem representado,
neste cenário atual, acima de tudo,
relações de hierarquia social.
Juventude definida, seja como
“revolucionária/transformadora”, seja
como “problema”, é, muitas vezes,
tratada a partir de um olhar que
define hierarquicamente o papel
social de determinados indivíduos e
mesmo organizações coletivas
Juventude/jovem associado à
transitoriedade do ciclo-de-vida ou
mesmo biológico, transfere para
aqueles que assim são identificados,
a imagem de pessoas em formação,
incompletos, sem vivência, sem
experiência, indivíduos, ou grupo de
indivíduos que precisam ser
regulados, encaminhados. Juventude
rural é uma categoria
particularmente reveladora dessa
construção de relações de hierarquia
(Castro, 2009, p. 194).
A autora apresenta a multiplicidade
de concepções de jovem que circulam na
sociedade. Tais concepções têm suas
implicações na forma de tratamento
dispensado a eles pela sociedade e pela
escola.
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O olhar atento sobre os sujeitos do
Ensino Médio campo (jovem
camponês/juventude camponesa) se
apresenta como um imperativo,
contrariando a lógica da escola ao longo do
seu percurso histórico, que tem sido a de
homogeneizar os jovens. Eles geralmente
são vistos pela escola apenas como alunos,
não se tem considerado as condições
históricas, sociais, econômicas, culturais e
espaciais que os fazem jovens/camponeses.
As diferentes experiências, as formas de se
relacionar e trabalhar em seus territórios de
produção da vida vão, aos poucos,
constituindo a identidade do ser jovem
camponês.
Observa-se que o conceito de jovem
não é unívoco e vem se modificando ao
longo da história; atualmente, a partir da
Projeto de Emenda Constitucional - PEC
da Juventude, de 65, de julho de 2010,
o entendimento de que ser jovem
compreende a idade de 15 a 29 anos e para
além do corte etário,
A juventude é uma categoria
socialmente produzida. Temos que
levar em consideração que as
representações sobre a juventude, os
sentidos que se atribuem a esta fase
da vida, a posição social dos jovens e
o tratamento que lhes é dado pela
sociedade ganham contornos
particulares em contextos históricos,
sociais e culturais distintos (Brasil,
2013, p. 13).
A concepção de jovem enquanto uma
categoria sociológica ainda não está
devidamente assumida pelo conjunto da
sociedade. Ainda se faz presente o conceito
de jovem/juventude limitado ao corte
etário e às questões comportamentais.
Somente nas últimas décadas é que vem se
ampliando, no meio educacional, a
compreensão da categoria jovem numa
perspectiva de construção social e do
jovem como sujeito social.
A condição de se compreender tal
categoria passa por considerar primeiro as
condições materiais, as relações sociais, o
lugar e o tempo histórico, ou seja, o
contexto desses sujeitos.
As distintas condições sociais
(origem de classe e cor da pele, por
exemplo), a diversidade cultural (as
identidades culturais e religiosas, os
diferentes valores familiares, etc.) a
diversidade de gênero (a
heterossexualidade, a
homossexualidade, a
transexualialidade, por exemplo) e
até mesmo as diferenças territoriais
se articulam para a constituição dos
diferentes modos de vivenciar a
juventude (Dayrell & Carrano, 2014,
p. 112).
Considerando a multiplicidade de
elementos que implicam diretamente na
constituição desse sujeito que chega à
escola na condição de estudante,
perguntamos aos interlocutores desta
pesquisa, qual a concepção que eles têm
dos jovens camponeses estudantes da
escola/sala anexa onde atuam:
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A maioria tem perspectiva de sair,
fazer curso superior, dar uma
qualidade de vida melhor para a sua
família (CS, 2016).
Eles almejam a formão acadêmica
como uma oportunidade de dar
continuidade aos estudos. Querem
formar para ser administrador de
empresas, fazer Direito, fazer
Medicina, poucos falaram em
Zootecnia, ser Agrônomo, ser
Engenheiro Florestal que está de
alguma forma voltada para o
campo...; alguns pensam de sair do
campo em busca de oportunidades de
emprego, melhor qualidade de vida,
eles dizem querer ter acesso a
melhores condições, a mais
informações... eles falam “ah, eu
tenho essa terra, mas eu não tenho
condições de manter essa terra, como
é que eu vou viver?” (FI, 2016).
A palavra que define o jovem:
esforço. São meninos educados. Eles
são muito bons, muito
compreensíveis, eles estão ali pra
estudar mesmo (EM, 2016).
As falas dos interlocutores CS, FI e
EM revelam que os jovens camponeses,
aos quais eles se referem veem a ida para a
cidade e o curso superior como horizonte a
ser alcançado. Esse tipo de sentimento tem
sua razão de ser na ideologia dominante de
que a cidade é o lugar das oportunidades,
bem como na falta de políticas públicas de
atendimento às necessidades básicas do
jovem (condições de trabalho, moradia
digna, saúde, educação de qualidade social,
inclusive o Ensino Superior, acesso aos
novos recursos tecnológicos, aos meios de
comunicação, ao lazer, ao esporte e aos
espaços de convivência com seus pares).
Um de nossos interlocutores equipara
os jovens do campo aos da cidade: “O
jovem que estuda (campo) eu acho que
ele não é diferente do jovem daqui da sede,
da zona urbana, porque é um jovem que
tem vontades, que tem desejos de crescer”
(BL, 2016).
Com base nos estudos de Dayrell e
Carrano (2014), observamos que os jovens
apresentam algumas características que são
universais, porém, não para olhar o
jovem camponês com as mesmas lentes
que olhamos os jovens urbanos, seus
elementos de constituição do ser são
outros. Portanto, ao se referir aos jovens
camponeses deve-se considerar a
complexidade do seu contexto e daí
brotará, de sua condição social, uma rie
de elementos que, embora resguardando
suas características universais de jovem,
diferem dos outros jovens, de modo
especial da juventude urbana. Portanto, não
se pode trabalhar com essa categoria,
referenciando-se apenas numa perspectiva
unívoca de jovem,
... na realidade, não tanto uma
juventude, e sim jovens enquanto
sujeitos que a experimentam e a
sentem segundo determinado
contexto sociocultural onde se
inserem e, assim, elaboram
determinados modos de ser jovem. É
nesse sentido que enfatizamos a
noção de juventudes, no plural, para
enfatizar a diversidade de modos de
ser jovem existente (Dayrell &
Carrano, 2014, p. 112).
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O autor nos fornece elementos para
analisar a forma como as escolas do
campo, lócus desta pesquisa, estão
concebendo os jovens do campo, seus
estudantes. Vê-los como o jovem urbano,
significa não considerar as marcas de seu
contexto social e, deste modo, se
justificaria um programa, um currículo, um
calendário unificado cidade/campo.
A escola é desafiada a conhecer
melhor os seus sujeitos jovem camponês,
estudante do ensino dio. Isso significa
saber quem são eles, como eles vivem com
suas famílias, qual a sua relação com o
mundo do trabalho, que significado tem a
escola para eles, que demandas e
perspectivas eles têm, quais suas instâncias
de participação e de socialização com os
outros jovens e a sua comunidade.
As circunstâncias que impedem os
jovens camponeses de terem acesso às
políticas públicas que podem colaborar
para a sua emancipação conjugam
inúmeras implicações que afetam a vida
desses sujeitos e desafiam a escola a tomar
posição, no sentido de ajudá-los a romper
as “cercas” que dificultam a conquista dos
seus direitos enquanto cidadãos. Como
observa Dayrell,
tais implicações desafiam os
educadores a desenvolverem posturas
e instrumentos metodológicos que
possibilitem o aprimoramento do seu
olhar sobre o aluno, como “outro”, de
tal forma que, conhecendo as
dimensões culturais em que ele é
diferente, possa resgatar a diferença
como tal e não como deficiência.
Implica buscar uma compreensão
totalizadora desse outro. (Dayrell,
1996, p. 145).
Conforme evidenciado nas falas, as
concepções que os entrevistados têm sobre
os jovens camponeses não consideram as
circunstâncias, às quais os jovens, seus
alunos, estão submetidos, e que os
constituem enquanto jovens. Não
considerar tais circunstâncias (classe
social, contexto cultural, condições de
trabalho/produção da vida no campo,
temporalidade, relação com a escola e com
as tecnologias modernas) pode dificultar a
constituição de um projeto de Ensino
Médio mais coerente com a realidade
concreta dos jovens camponeses e suas
características.
No eixo seguinte, analisamos o
Ensino Médio no campo, buscando
conhecê-lo e analisá-lo, levando em
consideração as produções acadêmicas
sobre o assunto, a ótica dos educadores
entrevistados e as nossas observações.
Ensino Médio no Campo
O Ensino Médio tem sido
reivindicado, pelas populações do campo,
como direito e como um dos mecanismos
que pode contribuir para que os jovens
camponeses permaneçam no seu território,
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na produção da vida e do conhecimento,
junto aos seus familiares, no campo.
Partindo dessas considerações, buscamos
saber junto aos nossos interlocutores, como
se dá o ensino médio nas salas anexas onde
eles atuam e que mecanismos são
utilizados para fortalecê-los.
... o calendário letivo chega pronto
pra gente, a gente não sabe nem de
que maneira que é feito ... durante o
ciclo da colheita ou plantio, nós
professores, por estarmos no dia a
dia, a gente aconselha, a gente ajuda
o aluno dando trabalho, porque tem
vez que ele fala... que não vai vir a
aula porque está trabalhando (DR,
2016).
O calendário já vem pronto para
nós. Já vem pronto de lá de cima para
baixo. As aulas começam mais tarde
por conta que no assentamento as
estradas são de chão, tem lugares que
alaga. A questão do trabalho dos
nossos alunos, as suas profissões são
diversificadas. Às vezes eles (a
gestão escolar) não alteram o
calendário no geral, mas para
aquele aluno que vai trabalhar, às
vezes, ele comunica aos professores
que vai se ausentar por uma
semana, ou até 15 dias. Quando ele
sai nos avisa para repor as aulas, tem
certas temáticas que ele repõe a
matéria. Em momentos diferenciados
a gente explica a matéria e, às vezes,
conforme o que ele vai fazer, a gente
pede para fazer um relatório do
percurso do trabalho. (HI, 2016).
Percebe-se na fala dos entrevistados,
aqui identificados como DR e HI, como
também na fala dos demais, que eles não
participam da elaboração do calendário,
que eles e seus alunos apenas cumprem,
demonstram haver incompatibilidade entre
a dinâmica do trabalho no campo e o
calendário escolar adotado. O afastamento
dos estudantes das atividades escolares,
relatado por HI, pode trazer consequências
para o aprendizado, uma vez que as
condições para a reposição das aulas são
dificultadas por uma série de fatores: a
distância de sua residência até a escola, o
uso do transporte escolar em horário único
e determinado, o professor que aula nas
duas redes de ensino (municipal e estadual)
ou em diferentes setores do assentamento,
dentre outros.
Contraditoriamente à prática do
calendário unificado cidade/campo, a Lei
9.394/96, Lei de Diretrizes e Bases da
Educação - LDB (Brasil, 1996), no seu
Art. 28, orienta a adequação do calendário
escolar das escolas do campo aos ciclos
agrícolas e às condições climáticas da
região. A não observância destes preceitos
causa prejuízos à formação do jovem
trabalhador do campo, além de contribuir
para a sua possível desistência da escola.
Ao falar sobre como se dão as
práticas pedagógicas, os entrevistados
revelam um currículo centrado nos livros
didáticos. Eles justificam que o fato de
trabalhar com três turmas/ano
(multisseriadas) ao mesmo tempo, por não
terem formação em várias disciplinas que
ministram aulas, e não haver na escola
outros recursos limitam-se quase que
exclusivamente aos livros didáticos.
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... a metodologia tem que ser
diferenciada, mas por falta de
material, eles acabam utilizando a
mesma metodologia da escola
urbana, que são os livros didáticos
(BL, 2016).
... questão metodológica, a maioria
das vezes, é quadro e giz, algumas
vezes, um data show, livros
didáticos que sempre são adotados
pelos docentes (CS, 2016).
... os conteúdos são trabalhados
através dos livros didáticos e da
pesquisa (AI, 2016).
As afirmações dos docentes de que o
calendário da escola do campo é o mesmo
da escola urbana e que o programa de
ensino é centrado no livro didático podem
indicar uma contradição em relação ao que
enuncia o Projeto Político-Pedagógico -
PPP de uma das escolas pesquisadas: “É
fundamental que se considere sempre a
situação real de cada escola, de cada
espaço, de cada história de vida” (PPP,
Escola Estadual 29 de Setembro, 2014, p.
6).
Pensar sobre isso é importante por
considerar que o tempo das comunidades
do campo é diferente do tempo urbano e o
movimento de produção de conhecimentos
dos sujeitos do campo, não pode se limitar
aos livros didáticos.
Os interlocutores DR, GJ e HI,
embora de escolas diferentes, denunciam a
precariedade das escolas/Salas anexas de
Ensino Médio, onde trabalham:
O espaço de aprendizagem é
mesmo a sala de aula. Não tem
computador, não tem internet, eles
não têm uma biblioteca, eles não têm
um campo (de futebol), seja para
fazer educação física, não tem
material para a educação física (DR,
2016).
Tem hora que você faz uma aula
de campo, sai da sala de aula, em
algumas disciplinas, para fazer o
laboratório de química, um
laboratório improvisado. Se for fazer
alguma pesquisa você tem que usar
as garrafas pet, como o béquer, como
proveta, bureta e outros materiais que
se usa no laboratório, você tem que
improvisar (GJ, 2016).
A estrutura é muito carente. Os
alunos, às vezes, cobram, como na
cidade oferece muita coisa... internet,
muito material didático, mas a gente
não tem, a gente tenta suprir de
outras maneiras, trabalhar com o
concreto (HI, 2016).
Ao mesmo tempo em que denunciam
as precárias condições de trabalho nas
escolas do campo, nas quais atuam, os
professores entrevistados relatam como
desenvolvem o trabalho pedagógico,
criando os seus próprios materiais e
estratégias de ensino. Com exceção de
“DR”, todos os professores disseram que
buscam desenvolver estratégias para “além
da sala de aula”, conforme relata (HI):
Então, o trabalho é dentro da
realidade. Mas, com a preocupação
de mostrar também algumas coisas
de fora, alguns materiais que são
utilizados, a gente aproveita mais a
realidade de vida deles. A natureza
em si é o nosso próprio laboratório ...
Alguns momentos a gente sai (da
sala). Primeiro trabalha a teoria,
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depois que eles têm conhecimento do
objetivo é que vão sair para a
pesquisa. Porque para eles a natureza
em si é comum. Então, tem que ter
um objetivo específico, porque você
vai fazer aquilo (pesquisa), para você
trabalhar e ter resultado concreto.
Depois que você trabalha você volta
(à sala de aula) e torna a trabalhar
aquilo que eles pesquisaram fora,
você estuda de novo, reforçando,
tendo ali uma leitura compartilhada
das experiências, do experimento
com os alunos. Quando a gente tem
o trabalho de campo, a gente não
foge dos conteúdos, são conteúdos
local, regional e global. Então, a
gente faz uma intertextualização
conteúdos que vêm acontecendo
fora e a realidade deles. É
interessante que como eu trabalho em
3 escolas, os conteúdos são da
realidade de cada setor, não é o
mesmo. A necessidade de cada setor
(do assentamento) não é a mesma.
Trabalhamos com a questão de
plantas medicinais. Então, a gente
estuda no livro, no próprio livro de
Biologia, ele traz a questão científica
das plantas e, muitas das vezes,
procuramos aquela família, o pai ou o
vizinho que tem conhecimento sobre
aquelas plantas que trabalhamos e a
gente convida essa família para vir à
escola.
Os professores relatam a questão da
pesquisa, da natureza como laboratório de
aprendizagem, do experimento, inclusive,
criam material alternativo para trabalhar
conteúdos, vinculando-os ao cotidiano dos
estudantes. Na matemática, trabalham-se
conceitos de medidas a partir das
propriedades de terra das famílias dos
estudantes.
Na matemática o ensino é o ensino
propedêutico, direcionado ao
vestibular, para levá-los a fazer uma
faculdade, mas a gente consegue
embutir alguma coisa específica do
campo na questão de medidas de
terras, de áreas como alqueires,
hectares, alqueirinho, alqueirão,
alqueirinho paulista, alqueires de
Goiás, as medidas específicas,
trabalha a questão do acero, como
fazer. Então, o pesquisas que a
gente faz e na área de química
trabalhamos muito sobre impactos
ambientais. A gente procura levá-los
a pensar com relação a tudo isso,
para não fazer queimadas, porque as
queimadas causam isso, causam
aquilo, mostrando em pesquisas
tiradas da internet e em contato com
alguns profissionais das áreas
específicas como os agrônomos (GJ,
2016).
Esse entendimento expresso pelos
entrevistados está em consonância com as
Diretrizes Curriculares do Ensino Médio
Resolução CEB/CNE 2/2012, artigo 6º,
que conceituam o currículo como:
... a proposta de ação educativa
constituída pela seleção de
conhecimentos construídos pela
sociedade, expressando-se por
práticas escolares que se desdobram
em torno de conhecimentos
relevantes e pertinentes, permeadas
pelas relações sociais, articulando
vivencias e saberes dos estudantes e
contribuindo para o desenvolvimento
de suas identidades e condições
cognitivas e socioafetivas (Brasil,
2012, p. 2).
Em que pese à precariedade das
condições de trabalho pontuada pelos
educadores entrevistados, fica evidente o
esforço que fazem no sentido de suprir as
carências e realizar aulas significativas
para seus alunos.
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As reformulações do Ensino Médio,
pontuadas nas DCNEM/2012, apontam
para a invenção de uma proposta de
educação de nível médio de perspectiva
mais ampla e emancipatória, o que exige
transformações para além do recorte
curricular,
Nós entendemos que as respostas
exigem muito mais do Estado
brasileiro; exigem logo de “cara”, a
constituição das condições de
materialidade que implica desde a
construção, reforma e ampliação dos
espaços escolares até as condições de
salário e carreira que garantam,
também nesta etapa, profissionais da
educação com a formação e a
dedicação necessárias (Garcia &
Mol, 2014, p. 8).
Sem as condições apontadas pelas
autoras e sem o atendimento às
peculiaridades do campo, o diálogo
democrático entre professores, gestores,
órgão central e as comunidades locais, o
sentido do ensino médio nas salas anexas
será sempre questionável.
O Ensino Médio nas escolas do
campo nos municípios de Novo Santo
Antônio e São Félix do Araguaia constitui
uma experiência muito recente. Imprimir
qualidade social nesta etapa da educação
básica não depende somente de bons
projetos de formação continuada e do
trabalho dos professores em sala de aula.
As condições de trabalho, a infraestrutura,
os espaços de aprendizagem, os tempos e
materiais didáticos e pedagógicos, as
condições de acesso e permanência dos
jovens estudantes na escola, constituem
elementos que exercem fortes implicações
no processo de ensino e de aprendizagem.
Evidenciar e compreender o
significado deste conjunto de elementos,
que de certo modo configuram o Ensino
Médio nas escolas pesquisadas, pode
contribuir efetivamente para a construção
de um projeto político-pedagógico de
Ensino Médio no Campo, com potencial
para enfrentar os desafios apontados pelo
coletivo das escolas, durante as entrevistas
realizadas para esta pesquisa.
Considerações finais
Nas escolas pesquisadas, as
condições de implementação do Ensino
Médio refletem muitas contradições e
ainda se assemelham, em alguns aspectos,
às configurações da escola rural de outrora,
no tocante à negligência por parte dos
órgãos governamentais e investimentos na
estrutura física, nos espaços formativos,
nos equipamentos, bem como nas
condições de acesso e permanência dos
jovens camponeses naquelas escolas.
Frente a isso, constata-se por parte dos
docentes, indignação com tal realidade,
criticam a situação por eles vivenciada e
expressam o desejo e a necessidade de
mudança. A indignação e a ação podem se
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tornar mecanismos de transformação da
realidade.
Os estudos sobre o Ensino Médio,
tomando como referência os anos de 1990,
revelam que esta etapa da educação básica
originou-se e se desenvolveu numa
perspectiva dualista, seletiva e excludente.
Em contraposição, constata-se a existência
de um campo de tensão e debates onde
educadores vinculados aos setores
populares se posicionam em favor da
superação deste modelo e da proposição de
outro projeto de Ensino Médio de base
unitária, de formação omnilateral e
politécnica, cuja construção está em
processo, embora interceptada,
continuamente, por propostas que buscam
manter o caráter dual e a sujeição dessa
etapa de ensino à lógica do mercado de
trabalho, conforme observa Rodrigues:
Percebe-se a trajetória do ensino
médio no Brasil permeado por essa
correlação de forças e que os setores
conservadores, aliados ao sistema do
capital têm garantido a inflexão dessa
etapa de ensino às suas exigências.
Partindo de uma quase invisibilidade
para a maioria da população, no
início do século passado, o ensino
médio chega, hoje, a uma quase
onipresença nos debates sobre
educação e na exigência de amplos
setores da sociedade, em especial das
classes populares, para garantia do
acesso (Rodrigues, 2010, p. 206).
A pesquisa sinalizou a importância
de se pautar o Ensino Médio nas escolas do
campo/salas anexas, tencionando a
organização do trabalho coletivo, a
reformulação do Currículo, a
democratização da gestão, da avaliação das
aprendizagens e da instituição,
possibilitando enxergar os sujeitos do
Ensino Médio no campo, reconceitualizar a
juventude camponesa, implementar a
formação continuada dos educadores,
continuar forjando outro projeto de campo,
articular a participação dos estudantes e da
comunidade na vida da escola e da escola
na vida da comunidade. Ou seja, o
problema do Ensino Médio no campo
exige ser tratado na perspectiva da
categoria da totalidade.
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Informações do artigo / Article Information
Recebido em : 07/12/2017
Aprovado em: 15/01/2018
Publicado em: 27/07/2018
Received on December 7th, 2017
Accepted on January 15th, 2018
Published on July 27th, 2018
Contribuições no artigo: As autoras foram os
responsáveis por todas as etapas e resultados da
pesquisa, a saber: elaboração, análise e interpretação dos
dados; escrita e revisão do conteúdo do manuscrito
e; aprovação da versão final a ser publicada.
Author Contributions: The authors were responsible for
the designing, delineating, analyzing and interpreting the
data, production of the manuscript, critical revision of the
content and approval of the final version to be published.
Conflitos de interesse: As autoras declararam não haver
nenhum conflito de interesse referente a este artigo.
Conflict of Interest: None reported.
Orcid
Maria de Lourdes Jorge de Sousa
http://orcid.org/0000-0003-3674-4282
Ilma Ferreira Machado
http://orcid.org/0000-0001-5253-7684
Como citar este artigo / How to cite this article
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Sousa, M. L. J., & Machado, I. F. (2018). Educação do
Campo, Ensino Médio e juventude camponesa: conceitos
em construção. Rev. Bras. Educ. Camp., 3(2), 578-595.
DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-
4863.2018v3n2p578
ABNT
SOUSA, M. L. J.; MACHADO, I. F. Educação do Campo,
Ensino Médio e juventude camponesa: conceitos em
construção. Rev. Bras. Educ. Camp., Tocantinópolis, v. 3,
n. 2, mai./ago., p. 578-595, 2018. DOI:
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-4863.2018v3n2p578
Revista Brasileira de Educação do Campo
The Brazilian Scientific Journal of Rural Education
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Oficina de tinta de terra: contextualizando pigmentos na
disciplina de História da Química na LEdoC/UFMA
i
Meubles Borges Junior
1
, Matheus Casimiro Soares Ferreira
2
, Carolina Pereira Aranha
3
1
Universidade Federal do Maranhão - UFMA. Coordenação da Licenciatura em Educação do Campo. Avenida João Alberto s/n,
Bambu, Campus III. Bacabal - MA. Brasil.
2
Universidade Federal do Maranhão - UFMA.
3
Universidade Federal do Maranhão
UFMA.
Autor para correspondência/Author for correspondence: meublesbjr@gmail.com
RESUMO. Além de ser uma técnica ambientalmente saudável e
de baixo custo, a produção de tinta de terra pode ser facilitadora
no processo de ensino-aprendizagem em ciências. Este trabalho
apresenta um relato vivenciado na disciplina História da
Química, em um curso de Licenciatura em Educação do Campo
da Universidade Federal do Maranhão (UFMA-Bacabal), na
qual a temática central “a química dos pigmentos” foi trabalhada
de forma contextualizada. A contextualização do conteúdo se
deu perpassando as três categorias do processo de
contextualização (exemplificação pontual e caráter
motivacional; estratégia de ensino-aprendizado; formação de
cidadão crítico na tomada de decisões), culminando com o
desenvolvimento de uma consciência crítico-reflexiva na
perspectiva CTSA. Como procedimentos metodológicos
utilizou-se: aula expositiva; leitura e interpretação de artigos
científicos; debates; oficina de Tinta de Terra; pintura e
exposição dos artefatos cerâmicos; e avaliação. Neste contexto a
oficina de tinta de terra ganha destaque, pois trouxe contextos
científicos, tecnológicos e sociais, o que contribuiu para a
valorização e o resgate de fatos e experiências do cotidiano, ao
discutir e vivenciar o significado de sustentabilidade, com
tecnologia ambientalmente saudável e cnica de baixo custo,
portanto, ampliando o potencial do processo de ensino-
aprendizagem.
Palavras chave: Ensino de Ciências, História da Química,
Sustentabilidade, Ensino Contextualizado, Educação do Campo.
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disciplina de História da Química na LEDOC/UFMA...
Workshop of Land Ink: contextualizing pigments in the
discipline of History of Chemistry in LEdoC/UFMA
ABSTRACT. In addition to being an environmentally healthy
and inexpensive technique, the production of land ink can be a
facilitator in the teaching-learning process in science. This work
presents an experience in the History of Chemistry, in a course
in Licentiate in Rural Education, Federal University of
Maranhão (UFMA-Bacabal), in which the central theme "the
chemistry of pigments" was worked in a contextualized way.
The contextualization of the content was carried out through the
three categories of the contextualization process (punctual
exemplification and motivational character, teaching-learning
strategy, formation of critical citizen in decision-making),
culminating in the development of a critical-reflective
consciousness in the CTSA perspective. As methodological
procedures were used: expository class; reading and
interpretation of scientific articles; debates; land ink office;
painting and exposition of ceramic artifacts; and evaluation. In
this context, the land ink workshop gains featured because it
brought scientific, technological and social contexts,
contributing to the valorization and recovery of facts and
experiences of everyday life, discussing and experiencing the
meaning of sustainability, with technology and technique
environmentally healthy and low thus increasing the potential of
the teaching-learning process.
Keywords: Science Teaching, History of Chemistry,
Sustainability, Contextualized Teaching, Education of
Countryside.
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disciplina de História da Química na LEDOC/UFMA...
Taller de tinta de tierra: contextualizando pigmentos en la
disciplina de Historia de la Química en la LEdoC/UFMA
RESUMEN. Además de ser una técnica ambientalmente sana y
de bajo costo, la producción de tinta de tierra puede ser
facilitadora en el proceso de enseñanza-aprendizaje en ciencias.
Este trabajo presenta un relato vivenciado en la disciplina
Historia de la Química, en un curso de Licenciatura en
Educación del Campo de la Universidad Federal de Maranhão
(UFMA-Bacabal), en la cual la temática central "la química de
los pigmentos" fue trabajada de forma contextualizada. La
contextualización del contenido se dio traspasando las tres
categorías del proceso de contextualización (ejemplificación
puntual y carácter motivacional, estrategia de enseñanza-
aprendizaje, formación de ciudadano crítico en la toma de
decisiones), culminando con el desarrollo de una conciencia
crítico-reflexiva en la perspectiva CTSA. Como procedimientos
metodológicos se utilizó: clase expositiva; lectura e
interpretación de artículos científicos; debates; taller de pintura
de tierra; pintura y exposición de los artefactos cerámicos; y
evaluación. En este contexto el taller de pintura de tierra gana
destaque pues trajo contextos científicos, tecnológicos y
sociales, contribuyendo a la valorización y el rescate de hechos
y experiencias de lo cotidiano, discutiendo y vivenciando el
significado de sustentabilidad, con tecnología ambientalmente
saludable y técnica de bajo costo, ampliando el potencial del
proceso de enseñanza-aprendizaje.
Palabras clave: Enseñanza de Ciencias, Historia de La
Química, Sostenibilidad, Sostenibilidad, Enseñanza
Contextualizada, Educación del Campo.
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Introdução
As Licenciaturas em Educação do
Campo devem possibilitar novas
estratégias de seleção de conteúdos,
aproximando-os tanto quanto possível da
realidade. Segundo Molina (2014, p. 17) o
conhecimento científico deve ser colocado
“a serviço da vida, da transformação das
condições de profunda desigualdade e
injustiça vigente no campo brasileiro”. Por
se tratar de um Curso de Licenciatura em
Educação do Campo, é necessário ter em
mente que:
... a Educação do Campo faz o
diálogo com a teoria pedagógica
desde a realidade particular dos
camponeses, mas preocupada com
a educação do conjunto da
população trabalhadora do campo,
e, mais amplamente, com a
formação humana. E, sobretudo,
trata de construir uma educação
do povo do campo e não apenas
com ele, nem muito menos para
ele. (Caldart, 2004, p. 18).
Deve-se interrogar, portanto, como a
disciplina História da Química, na
LEdoC/UFMA pode contribuir nesse
processo. Partindo-se da temática dos
pigmentos na história da química, surgiu a
ideia da realização de uma oficina de tinta
de terra, vinculando a história da química
dos pigmentos às questões de ciência,
tecnologia, sociedade, ambiente e saúde,
como forma de se trabalhar a prática
pedagógica no processo de ensino-
aprendizagem, ao viabilizar a
contextualização do ensino na Licenciatura
em Educação do Campo.
Um dos grandes desafios do ensino
de química é estabelecer uma relação entre
o que se ensina e o cotidiano dos alunos,
uma vez que os conceitos que eles trazem
para a sala de aula advêm principalmente
da leitura e da vivência de mundo. A
ausência deste vínculo pode gerar apatia e
distanciamento entre alunos e professores.
Segundo Santos e Schnetzler (1997),
a inter-relação do conhecimento químico
com o contexto social deve permear o
ensino de química. Liso, Guadix e Torres
(2002) destacam que poucos trabalhos
estudam as relações entre os
conhecimentos científicos e os aspectos da
vida de um cidadão. Tal necessidade surgiu
em um contexto pedagógico baseado na
transmissão de resultados, conceitos e
conteúdos pouco contextualizados e
voltado para a formação de cientistas
(Fourez, 1997). E uma das formas de
romper com essa prática pedagógica é
trabalhar conteúdos de forma
contextualizada e funcional.
Pereira e Kiil (2015) demonstram
que, de maneira geral, os documentos
oficiais e a literatura da área (Lopes, 2002;
Santos, 2007; Wartha; Silva & Berjano,
2013) apontam que o ensino deve ser
planejado e executado de forma
contextualizado. No entanto, na maioria
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das vezes, o ensino de ciências é
trabalhado de forma dogmática e
descontextualizado, fazendo com que o
processo de ensino-aprendizagem não
contribua para a formação de cidadãos com
capacidade de tomada de decisões (Santos,
2007). Nessa perspectiva, Wartha, Silva e
Berjano (2013) consideram que é visível a
intencionalidade da construção e da
interação de um contexto de estudo que
ultrapasse o universo conceitual, ou seja,
que trate também de possíveis implicações
políticas, econômicas, sociais e ambientais.
Este artigo se destaca por apresentar
uma proposta para facilitar o processo de
ensino-aprendizagem em ciências, ao
abordar a contextualização, de acordo com
Kato e Kawasaki (2011); Favila e Adaime
(2013); Silva e Marcondes (2010); Wartha,
Silva e Berjano (2013); Santos (2007);
Silva (2007), em seus três aspectos:
exemplificação pontual de fatos do
cotidiano e de caráter motivacional;
estratégia de ensino-aprendizado do estudo
científico de situações, fatos ou
fenômenos; e estudo de questões sociais
para formação de cidadão crítico na
tomada de decisões.
Neste sentido, este trabalho objetivou
compreender e vivenciar o processo de
ensino-aprendizagem na disciplina de
História da Química com a temática dos
pigmentos por meio de uma oficina de
produção de tinta de terra e pintura de
artefatos de cerâmica, no curso de
Licenciatura em Educação do Campo com
habilitação em Ciências da
Natureza/Matemática da Universidade
Federal do Maranhão (UFMA-Bacabal).
As técnicas de produção de
pigmentos remontam desde os homens
primitivos, destinando-se para fins
estéticos e ritualísticos. No início
envolviam o uso de minerais de diferentes
cores como o carvão e a argila. Esses
minerais depois de moídos eram dispersos
em cola (gema ou clara de ovo, goma-
arábica, cal virgem, entre outros). Apesar
da técnica simples ser utilizada na
obtenção dos pigmentos, desenhos em
cavernas resistem à ação do tempo mais
de 15.000 anos. Carvalho et al. (2009, p. 3)
destacam que na evolução da humanidade:
Os nossos ancestrais perceberam que
certos produtos, por exemplo, o
sangue, uma vez espalhados nas
rochas deixavam marcas que não
desapareciam. Estes materiais
começaram a ser utilizados para
transmitir informações. Com a
necessidade de aumentar a
durabilidade das pinturas e
diversificar as cores, as chamadas
pinturas rupestres passaram a utilizar
óxidos naturais, abundantes como os
ocres e os vermelhos.
Atualmente, as tintas são compostas
basicamente por quatro elementos:
pigmentos, resinas, solventes e aditivos. As
tintas à base de solvente podem conter
chumbo em sua composição, advindas dos
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pigmentos e aditivos, o que representa um
risco de contaminação a seres humanos e
ao meio ambiente. A deterioração da tinta
com o tempo ocasiona a sua dispersão no
meio ambiente, o que pode causar a
contaminação do solo e a poeira doméstica.
Assim, o chumbo pode ser assimilado por
inalação ou ingestão, especialmente por
crianças.
Durante a oficina procurou-se
discutir e vivenciar o significado de
sustentabilidade com técnica
ambientalmente sustentável e de baixo
custo e tecnologia ambientalmente
saudável; o processo de ensino-
aprendizagem na perspectiva CTSA
(Ciência, Tecnologia, Sociedade e
Ambiente) como forma de
contextualização capaz de gerar a
construção de uma capacidade de tomada
de decisões na sociedade; o processo
alquímico da produção de tinta de terra e a
capacidade de criação humana por meio da
arte na pintura de artefatos de cerâmica
como fator motivador e de interiorização
do conhecimento.
Metodologia
Durante a disciplina de História da
Química oferecida a 48 alunos do quarto
período do curso de Licenciatura em
Educação do Campo com habilitação em
Ciências da Natureza/Matemática (UFMA-
Bacabal), no ano de 2016, essa temática foi
trabalhada de forma contextualizada ao
englobar: contaminação por chumbo;
educação em saúde; educação ambiental;
tecnologias ambientalmente saudáveis e de
baixo custo, sustentabilidade, e produção
de tinta na pré-história. Para tanto, utilizou-
se como procedimentos metodológicos
aulas expositivas com a utilização de
quadro, pincel, data show e computador;
leitura e interpretação de artigos
científicos; debates; realização de uma
oficina de produção da tinta de terra; e
pintura e exposição dos artefatos
cerâmicos, finalizando o processo com a
avaliação da oficina.
A contextualização da temática
química dos pigmentos se deu por meio da
produção da tinta de terra e dos debates
sobre contaminação por chumbo, educação
em saúde, educação ambiental e
sustentabilidade perpassando pelas três
categorias do processo de contextualização
(Kato & Kawasaki, 2011; Favila &
Adaime, 2013; Silva & Marcondes, 2010;
Wartha; Silva & Berjano, 2013; Santos,
2007; Silva, 2007): Categoria 1-
exemplificação pontual de fatos do
cotidiano e de caráter motivacional;
Categoria 2- estratégia de ensino-
aprendizado do estudo científico de
situações, fatos ou fenômenos; e Categoria
3- estudo de questões sociais para
formação de cidadão crítico na tomada de
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decisões (Silva, 2007; Favila & Adaime,
2013). Essas três formas de
contextualização assumem funções e
direcionamentos diferenciados em relação
ao tipo de pessoa que se deseja formar.
Durante a realização da oficina os
materiais necessários à produção da tinta
de terra foram exibidos e realizou-se a
demonstração da forma de preparo dela. O
procedimento adotado para a produção da
tinta de terra foi baseado em Carvalho et
al. (2009), segundo o qual o material
necessário para a produção de 18 litros de
tinta de terra consiste em: colher de pau;
latas ou baldes de aproximadamente 8
litros; peneiras; balança de 10 kg; canecas;
pinceis (fino, médio e grosso); rolos de
ou de espuma; liquidificador industrial;
terra, água e cola branca; enxadas ou
enxadão; cavadeira; pá; sacos ou latas para
coletar a terra; latas ou baldes de 18 litros;
vasilhas com medidas em litros; saco
branco alvejado; 8 (oito) kg ou 2 (dois)
galões de terra; 4 (quatro) kg de cola
branca; 8 litros de água.
De posse do material necessário e da
realizada discussão teórica, passou-se
para a parte prática que se consistiu na
produção da tinta de terra (Figuras 1 e 2) e
pintura e exposição dos artefatos
cerâmicos. Após a produção da tinta de
terra e a distribuição da mesma para todos
os participantes, foi disponibilizada uma
telha e pincéis para que eles pudessem
expressar sua criatividade por meio da
pintura, ao relembrar nossos ancestrais
quando iniciaram as pinturas nas cavernas.
Figura 1 Montagem do liquidificador para o início do preparo da Tinta de Terra.
Fonte: Pesquisa de Campo, 2016.
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Figura 2 Adicionando água para a o preparo e homogeneização da Tinta de Terra.
Fonte: Pesquisa de Campo, 2016.
O processo de avaliação da oficina
deu-se em duas etapas. Na primeira etapa
foram distribuídos questionários com cinco
questões abertas e fechadas para avaliar o
interesse e a opinião dos alunos quanto à
atividade desenvolvida, assim como a
oficina em si (a técnica), considerando os
aspectos tecnológicos, ou seja, se além de
ser uma tecnologia ambientalmente
saudável e de baixo custo a mesma pode
ser facilmente utilizada num processo de
ensino-aprendizagem não formal em
educação ambiental, independente de
escolaridade. No segundo momento
estabeleceu-se uma roda de diálogo para se
obter informações da contribuição da
oficina no processo de ensino-
aprendizagem, sistematizadas na discussão
como complemento dos dados qualitativos
do questionário.
O questionário foi organizado com
questões abertas e fechadas, pois segundo
Gil (2008), nas questões abertas são
solicitados aos indivíduos respondentes as
suas próprias opiniões e respostas, ao
mesmo tempo em que possibilita maior
liberdade de resposta. Também conhecidas
como não limitadas ou livres, as perguntas
do tipo abertas garantem mais liberdade de
respostas, ao utilizar as linguagens próprias
dos respondentes, além de possibilitarem
investigações mais precisas e abertas
(Marconi & Lakatos, 2003). Além disso, as
perguntas fechadas deste questionário
permitiram explorar os dados de forma
quantitativa.
Com a obtenção dos dados, foi
desenvolvida uma abordagem que envolve
os métodos de procedimento: descritivos
por meio de registros fotográficos e
observação participante ocorridos durante
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a execução da oficina; quantitativos por
meio da tabulação e obtenção da razão
centesimal da aprovação ou não da prática
pedagógica utilizada por meio da oficina
de Tinta de Terra, em Excel; e qualitativos
por meio da digitalização em Word da
interpretação das justificativas das
perguntas do questionário e da roda de
diálogo.
Resultados e Discussão
Inicialmente destaca-se que apenas
aproximadamente 8% (4 alunos) dos
alunos conheciam a técnica de produção de
tinta de terra utilizada em suas
comunidades. Esses alunos contribuíram
com seus depoimentos sobre as vantagens
e benefícios dessa técnica, com relação à
sustentabilidade social, econômica e
ambiental, o que favoreceu e auxiliou no
aprofundamento das discussões sobre
tecnologias de baixo custo e
ambientalmente saudáveis. A esse respeito,
isto é, a aproximação entre o mundo vivido
pelos sujeitos sociais e o mundo da escola,
Freire (2002) sinaliza que é necessário ao
educador conhecer as visões de mundo dos
alunos e enfrentá-las em sua totalidade,
para assim construir uma mudança de
atitude neles. Freire (2007) destaca a
relevância de se transcender a consciência
ingênua, ou seja, um profissional crítico
reconhece que a realidade é mutável, pois é
indagador, investigador e, acima de tudo,
acredita no diálogo e alimenta-se dele.
Portanto, reconhecer e conhecer os sujeitos
para o qual o ensino é pensado torna-se de
extrema importância quando defendemos
uma perspectiva educacional na qual o
professor é comprometido com as
transformações sociais.
Salienta-se o desconhecimento de
todos os participantes sobre o perigo da
contaminação por chumbo com as tintas
industrializadas. Essa informação obtida
nas discussões teóricas deixa claro a
importância de se conhecer os sujeitos para
o qual o ensino é pensado. Dessa forma, a
implementação do ensino crítico e
reflexivo, considerando a contextualização
como forma de abordagem metodológica
no processo de ensino-aprendizagem,
contribui para a valorização dos fatos e
experiências do cotidiano dos alunos.
No que se refere à primeira pergunta
“Você pintaria sua casa com tinta de terra?
Justifique”, 100% aprovaram a tecnologia,
ou seja, a tinta de terra (o produto) com
todas as implicações (culturais,
econômicas e ambientais), considerando na
justificativa que essa tecnologia, além de
viabilizar a pintura de suas residências,
diminui consideravelmente os gastos
financeiros se comparado à utilização da
tinta industrializada. Ao considerar a
utilização da cola feita a partir do polvilho
de mandioca nas comunidades rurais, estas
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comunidades garantem a sustentabilidade
econômica, uma vez que teriam 100% do
material necessário para a produção da
tinta, disponível em suas propriedades.
Além da redução dos gastos
financeiros, os alunos destacaram que esta
tecnologia elimina os impactos à saúde
humana e minimiza os impactos ao meio
ambiente, ao considerar que nenhum dos
ingredientes necessários apresenta
toxicidade e, que por menor que sejam,
toda atividade humana causa impacto ao
meio ambiente. Portanto, considera-se que
os alunos conseguiram compreender a
visão de Pisani (2005), um dos autores
utilizados para trabalhar o tema das
tecnologias de baixo impacto ambiental, no
qual afirma que esse tipo de tecnologia
desempenha função importante para o
desenvolvimento sustentável, sendo
indiscutível a busca por tecnologias
sustentáveis, para que haja diminuição dos
impactos negativos gerados pelas
atividades humanas ao meio ambiente.
Destaca-se, com relação à saúde
humana e ambiental, que os alunos em sua
totalidade (100%), justificaram que o
material utilizado para a tinta de terra (terra
e água) é encontrado facilmente em suas
comunidades, pois são retirados da própria
natureza, isentos de materiais tóxicos e que
podem ser descartados de volta no
ambiente, ao se reintegrarem nele. Tendo
em vista que a água e os solos nas
comunidades rurais do Maranhão,
destinados à agricultura familiar, assim
como a cola branca utilizada não possuem
o potencial de contaminação por chumbo
como as tintas imobiliárias e de uso infantil
e escolar, vernizes e materiais similares
(Brasil, 2015; Bentlin, Pozebon & Depoi,
2009; Pimenta & Vital, 1994), a Tinta de
Terra produzida garantiria um ambiente
saudável, livre do principal contaminante
das tintas: o chumbo.
Mesmo após o Brasil ter fixado o
limite máximo de 0,06% de chumbo na
fabricação de tintas imobiliárias e de uso
infantil e escolar, vernizes e materiais
similares, através da lei 11.762, de de
agosto de 2008 (Brasil, 2008) a diminuição
da utilização de tintas que contenham
chumbo é necessária, pois segundo Brasil
(2015, p. 5) “não existe um nível
conhecido de exposição ao chumbo que
seja considerado seguro”. Destaca-se ainda
que:
Envenenamento por chumbo na
infância pode ter impactos na saúde
ao longo da vida, incluindo:
dificuldades de aprendizagem,
anemia e distúrbios em habilidades
de coordenação, visual, espacial e de
idioma. Assim, foi estabelecida a
Aliança Global para a Eliminação da
Tinta com Chumbo (GAELP), uma
iniciativa da Organização Mundial da
Saúde (OMS) e do Programa das
Nações Unidas para o Meio
Ambiente (PNUMA), cujo objetivo é
evitar a exposição de crianças a tintas
contendo chumbo e minimizar a
exposição de pintores e outros
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Borges Junior, M., Ferreira, M. C. S., & Aranha. C. P. (2018). Oficina de tinta de terra: contextualizando pigmentos na
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usuários a este produto (Brasil, 2015,
p. 5).
Dessa forma, a produção e utilização
da tinta de terra torna-se uma alternativa
econômica e ambientalmente viável, pois a
mesma utiliza em sua produção materiais
ecologicamente corretos, de fácil acesso e
de baixo custo, ao assumir um importante
papel no desenvolvimento sustentável, na
divulgação de tecnologias de baixo custo e
ambientalmente saudáveis. Além disso,
contribui com a melhoria da qualidade de
vida, no que se refere ao aspecto da saúde,
por não utilizar em sua composição metais
pesados ou quaisquer outros elementos
tóxicos. Nesse sentido, Jabbour (2010, p.
592) destaca que a disseminação de
tecnologias como essa desempenha papel
fundamental, ao afirmar que “atribuem
grande relevância às necessidades de
transformações tecnológicas, que
condicionariam, por conseguinte, as
melhorias nas atuais condições
ambientais”. Ao considerar a Tinta de
Terra como uma das “inovações
tecnológicas ambientalmente saudáveis”,
termo adotado por Barbieri (1997),
observamos que essa tecnologia atende aos
critérios da Agenda 21, quando diz que:
As tecnologias ambientalmente
saudáveis protegem o meio ambiente,
são menos poluentes, usam todos os
recursos de forma mais sustentável,
reciclam mais seus resíduos e
produtos e tratam os dejetos residuais
de uma maneira mais aceitável que as
tecnologias que vieram substituir
(ONU, 1995, p. 409).
Ao utilizar de materiais simples que
não degradam o meio ambiente e os
ecossistemas naturais, a Tinta de Terra
assume e pode ser considerada como uma
excelente alternativa tecnológica para a
construção dos vieses elaborados pelos
documentos institucionais pensados pela
ONU. Contribui ainda para a preservação e
reafirmação de uma cultura socialmente
construída das comunidades rurais, que é a
produção artesanal do barreado, resgatando
nossa ancestralidade. Nesse contexto,
resgatou-se a História da Química num
retorno aos nossos ancestrais primitivos,
contextualizando a questão tecnológica,
social, ambiental e política, levantando o
questionamento sobre que tecnologia
queremos e quem decide as tecnologias
que atualmente utilizamos. Esse resgate foi
realizado inicialmente em sala de aula,
quando foi trabalhada a produção de tinta
na pré-história e a temática da química dos
pigmentos. Diante disso, foi possível
destacar que a técnica empregada na
oficina de produção de tinta de terra foi um
avanço tecnológico das tintas utilizadas nas
chamadas pinturas rupestres, quando o
homem primitivo passou a utilizar os
óxidos naturais, que são os pigmentos
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Borges Junior, M., Ferreira, M. C. S., & Aranha. C. P. (2018). Oficina de tinta de terra: contextualizando pigmentos na
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presentes na terra utilizada para preparar a
tinta.
Chamamos a atenção para o fato de
que o ensino de forma contextualizada
originou-se oficialmente no Movimento
Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS),
em decorrência do crescente
desenvolvimento da ciência e da
tecnologia, na década de setenta (Favila &
Adaime, 2013). Portanto, a oficina de Tinta
de Terra trouxe para a Licenciatura em
Educação do Campo contextos científicos,
tecnológicos e sociais, ao resgatar e
contribuir para a valorização dos fatos e
experiências do cotidiano, ampliando o
potencial de aprendizagem dos alunos.
Pode-se dizer que a centralidade objetivada
nos currículos CTS é a construção de uma
capacidade de tomada de decisões na
sociedade pelos alunos (Santos, 2007).
Ao considerar que a oficina de Tinta
de Terra incorporou uma perspectiva de
reflexão sobre as consequências ambientais
da produção de tintas, ela passou também a
incorporar as implicações ambientais na
cadeia das inter-relações CTS, ao ser
referida como CTSA. Segundo Santos
(2007), a denominação CTSA deve ser
utilizada quando a perspectiva de reflexão
na abordagem CTS enfatizar a perspectiva
ambiental.
Na segunda pergunta “Você teve
dificuldade em entender como se faz a
Tinta de Terra? Justifique.”, observou-se
que o processo de ensino-aprendizagem
empregado na realização da oficina teve
bons resultados. A maioria dos
participantes (83%) disseram não terem
tido dificuldades em realizar todo o
processo de fabricação da Tinta de Terra,
em parte pela facilidade da técnica e em
parte pelo fator motivador dos materiais
utilizados fazerem parte de seu dia-a-dia,
de sua realidade.
As dificuldades encontradas pelos
participantes, de modo geral,
predominaram no início da oficina, porém,
solucionada no decorrer dela, como pode
ser observado na fala do aluno 3: “Sim. É
um pouco, mas à medida que a oficina foi
se desenvolvendo, ligeiro eu aprendi,
principalmente porque os aspectos do
nosso cotidiano foram valorizados”.
Além de ser uma tecnologia
ambientalmente saudável e de baixo custo,
a Tinta de Terra pode ser facilitadora no
processo de ensino-aprendizagem em
ciências, uma vez que a partir dela, pode
ser realizada uma abordagem de ensino
contextualizado. Segundo Pereira e Kiil
(2015), de maneira geral, os documentos
oficiais e a literatura sobre o processo de
contextualização apontam que o ensino
deve ser planejado e executado de forma
contextualizado. Nesse sentido, sendo esta
tecnologia composta por elementos que
fazem parte do cotidiano e da realidade dos
alunos, desde sua composição ao modo de
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Borges Junior, M., Ferreira, M. C. S., & Aranha. C. P. (2018). Oficina de tinta de terra: contextualizando pigmentos na
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produção, pode ser utilizada para se
trabalhar o conhecimento científico
vinculado ao conhecimento concreto
advindo da realidade dos educandos.
Observou-se que a prática
pedagógica aplicada no processo de
ensino-aprendizagem da disciplina de
História da Química apresentada aqui,
conseguiu contextualizar o seu conteúdo ao
perpassar as três categorias do processo de
contextualização: Categoria 1- Já que os
materiais utilizados fazem parte da
realidade do dia-a-dia dos educandos, esse
reconhecimento atua como um elemento
motivacional para despertar o interesse na
aprendizagem do conteúdo trabalhado;
Categoria 2- Por relacionar as cores dos
solos com os pigmentos naturais contidos
neles, como, por exemplo, os óxidos de
ferro, além da produção de cola a partir do
polvilho da mandioca; Categoria 3- Ao
discutirmos que tecnologias questionamos,
porque utilizamos determinadas
tecnologias e quem decide que tecnologias
serão implantadas pelas políticas públicas,
ao apontar para a formação de um cidadão
crítico capaz de tomar decisões nas
situações em que se encontre em sua
realidade.
Essa prática culminou ainda com o
desenvolvimento crítico dos alunos na
perspectiva CTSA (Ciência, Tecnologia,
Sociedade e Ambiente). Quando
perguntamos “Você indicaria a Tinta de
Terra para outras pessoas da sua
comunidade? Justifique.”, observou-se que
houve novamente 100% de aprovação
pelos participantes. Dessa forma, ficou
evidente que a contextualização do tema
em estudo atuou no processo de
conscientização das questões ambientais e
tecnológicas, pois além de concordarem
com a utilização, afirmaram em ser
multiplicadores de uma técnica que não
acarreta impactos negativos ao meio
ambiente e à saúde humana e ambiental,
validando assim esta prática pedagógica no
processo de ensino-aprendizagem. Além
disso, ficou comprovada a importância da
contextualização do ensino não para
formarmos cidadãos críticos e reflexivos,
mas também para tornarmos o processo de
ensino-aprendizagem capaz de dar
respostas concretas na difusão, produção e
adoção de tecnologias e técnicas que
incorporam o conceito de sustentabilidade
ambiental, social e econômica, a partir do
conteúdo trabalhado em sala de aula.
Na quarta pergunta “Após esta
oficina você se sente capacitado a preparar
a Tinta de Terra? Justifique” e na quinta
pergunta Após esta oficina você se sente
capacitado a ensinar a outras pessoas a
preparar a Tinta de Terra? Justifique”, 92%
(44 discentes) dos participantes da oficina
disseram que poderiam preparar a Tinta de
Terra e ensinar a outras pessoas sem
dificuldades. Essa afirmativa de mais de
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90% dos alunos leva-nos a crer que o
processo empregado na oficina enquanto
metodologia e desenvolvimento de todos
os momentos do processo de ensino-
aprendizagem foi adequado. Essa
facilidade dos alunos de se sentirem
capacitados e capazes de capacitarem
outras pessoas com esta oficina, ao
considerar todos os aspectos envolvidos da
contextualização, deve-se principalmente
ao fato dela resgatar e aperfeiçoa cnicas
artesanais, ao revelar que o mundo da
ciência e da tecnologia pode conduzir à
sustentabilidade das comunidades rurais e
ser acessível independentemente do nível
sociocultural e de escolarização.
Quanto ao processo de criação
artística utilizado como instrumento lúdico,
percebeu-se a presença de aspectos
histórico-culturais em suas manifestações
artísticas. Em todas as pinturas o reino
vegetal estava sempre muito presente, além
de outros aspectos da natureza como o sol,
a lua e a arquitetura das casas do meio
rural do Maranhão (Figuras 3, 4, 5 e 6).
Figura 3 Momento lúdico da oficina de Tinta de Terra em que uma aluna está pintando uma
telha de cerâmica.
Fonte: Pesquisa de Campo, 2016.
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Figura 4 Momento lúdico da oficina de Tinta de Terra, trabalho artístico finalizado
apresentado por uma aluna com o tema flores.
Fonte: Pesquisa de Campo, 2016.
Figura 5 Momento lúdico da oficina de Tinta de Terra, trabalho artístico finalizado
apresentado por um aluno destacando as flores do campo.
Fonte: Pesquisa de Campo, 2016.
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Figura 6 Momento lúdico da oficina de Tinta de Terra, trabalho artístico finalizado
apresentado por uma aluna destacando a comunidade rural.
Fonte: Pesquisa de Campo, 2016.
Nas rodas de diálogo, esse momento
lúdico foi expresso como um processo de
contato consigo mesmo, que podemos
expressar como “nosso eu interior”, ao ser
constatado na fala a seguir “Senti como se
minha alma estivesse se manifestando
nessa pintura. Foi muito lindo” (Aluna 22).
As expressões artísticas, assim como
os jogos e brincadeiras em geral, são
essenciais para construção da subjetividade
do ser humano, de forma que o processo
ensino-aprendizagem lhe seja significativo,
prazeroso e transformador. Huizinga
(2014) destaca o lúdico como campo da
“ilusão” e da “simulação”, que apresenta
uma conotação de prazer, de algo que se
realiza sem conflitos e com finalidade.
Nesse sentido, a ludicidade se relaciona
com o sentimento, uma atitude do sujeito
envolvido na ação, é um fazer humano
mais amplo, é um estado de prazer, pelo
total envolvimento na ação. Assim, surge a
sensação de plenitude que acompanha as
coisas significativas e verdadeiras. Froebel
(2001) foi o primeiro educador a justificar
o lúdico no processo educativo voltado à
sensibilidade, ao compreender o lúdico
com uma visão pedagógica, baseado na
utilização de materiais didáticos que
atendessem a natureza humana. Dessa
forma, a arte como fazer lúdico cumpre
esse papel, ao envolver o aluno na ação
com sensação de plenitude, ao auxiliar no
processo de ensino-aprendizagem.
Esta experiência pedagógica
expandiu-se para além da sala de aula indo
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ao encontro das comunidades rurais nas
quais os participantes da oficina moram,
como forma de gerar sustentabilidade
ambiental, social e econômica. Como fruto
desta experiência, foi escrito e
desenvolvido um projeto de extensão
abordando a temática da química dos
pigmentos, desenvolvido de agosto/2016 a
fevereiro/2017.
Considerações Finais
A oficina de produção de Tinta de
Terra trouxe para a Licenciatura em
Educação do Campo contextos científicos,
tecnológicos, sociais e ambientais, ao
resgatar e contribuir para a valorização dos
fatos e experiências do cotidiano,
ampliando o potencial de aprendizagem
dos alunos. Os alunos conseguiram
compreender, ao discutir e vivenciar, que
tecnologias ambientalmente saudáveis e de
baixo custo desempenham função
importante para o desenvolvimento
sustentável, ao observarem que essas
tecnologias minimizam os impactos
negativos gerados pelas atividades
humanas ao meio ambiente em função dos
materiais utilizados.
As práticas pedagógicas utilizadas
atuaram como facilitadoras do processo de
ensino-aprendizagem na disciplina de
História da Química, uma vez que a partir
dessas práticas, pôde ser realizada uma
abordagem de ensino contextualizado que
se deu perpassando as três categorias do
processo de contextualização, culminando
com o desenvolvimento de uma
consciência crítico-reflexiva na perspectiva
CTSA.
A partir do processo de ensino-
aprendizagem capaz de contemplar
discussões sobre os aspectos sociais,
políticos, econômicos, tecnológicos,
sociais e ambientais é que a
contextualização do ensino na disciplina da
História da Química pôde abranger
princípios norteadores de uma formação
vinculada à cidadania, ao mesmo tempo
em que utilizou o conhecimento científico
e criou condições de intervenções mais
conscientes no meio rural do Estado do
Maranhão. Destarte, é possível conceber
que com essa forma de educar,
principalmente nas Ciências Naturais, há
uma apropriação da ciência como algo que
é resultado de uma produção histórica da
humanidade e que não é algo distante,
como pensávamos ser.
a produção artística pedagógica
desempenhou um papel fundamental no
processo de ensino-aprendizagem, pois
nesse contato com a arte novas ideias e
sentimentos puderam ser despertados,
dando a cada participante subsídios para
enriquecer seu aprendizado, ao integrar
ciência, tecnologia, ambiente, arte, cultura
e sociedade.
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Desde as primeiras pinturas nas
cavernas realizadas com pigmentos
naturais até a tradicional técnica do
barreado utilizada em meados do século
passado nas comunidades rurais, esse
conhecimento tem passado por uma fase de
esquecimento e desvalorização devido ao
forte apelo do marketing do setor
industrial. Entretanto, apesar do avanço
tecnológico ter facilitado à aquisição de
tintas sintéticas com a produção em larga
escala, sua composição e produção deixa
um passivo ambiental. Nesse sentido, a
oficina de tinta de terra resgata a ciência e
a tecnologia como resultado de uma
produção histórica da humanidade e
acessível a todos.
Procedeu-se assim ao processo de
desmistificação do conhecimento científico
como algo complexo e da tecnologia como
algo restrito aos cientistas e aos setores
industriais, ao adotar a reflexão crítica com
a ciência, a tecnologia, a sociedade, o
ambiente e a saúde, de forma
interdisciplinar e contextualizada, no
ensino da História da Química com a
Oficina de Tinta de Terra ao abordar os
pigmentos.
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Apresentado no Congresso Nacional de Ensino de
Ciências e Formação de Professores CECIFOP
(2016), em Catalão-GO.
Rev. Bras. Educ. Camp.
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n. 2
p. 596-615
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ISSN: 2525-4863
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Informações do artigo / Article Information
Recebido em : 04/07/2017
Aprovado em: 07/08/2017
Publicado em: 27/07/2018
Received on July 4th, 2017
Accepted on August 07th, 2017
Published on July 27
th
2018
Contribuições no artigo: Os autores foram os
responsáveis por todas as etapas e resultados da
pesquisa, a saber: elaboração, análise e interpretação dos
dados; escrita e revisão do conteúdo do manuscrito
e; aprovação da versão final a ser publicada.
Author Contributions: The authors were responsible for
the designing, delineating, analyzing and interpreting the
data, production of the manuscript, critical revision of the
content and approval of the final version to be published.
Conflitos de interesse: Os autores declararam não haver
nenhum conflito de interesse referente a este artigo.
Conflict of Interest: None reported.
Orcid
Meubles Borges Junior
http://orcid.org/0000-0002-5356-4526
Matheus Casimiro Soares Ferreira
http://orcid.org/0000-0002-2648-3448
Carolina Pereira Aranha
http://orcid.org/0000-0002-2619-7660
Como citar este artigo / How to cite this article
APA
Borges Junior, M., Ferreira, M. C. S., & Aranha. C. P.
(2018). Oficina de tinta de terra: contextualizando
pigmentos na disciplina de História da Química na
LEDOC/UFMA. Rev. Bras. Educ. Camp., 3(2), 596-615.
DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-
4863.2018v3n2p596
ABNT
BORGES JUNIOR, M.; FERREIRA, M. C. S.; ARANHA. C.
P. Oficina de tinta de terra: contextualizando pigmentos na
disciplina de História da Química na LEDOC/UFMA. Rev.
Bras. Educ. Camp., Tocantinópolis, v. 3, n. 2, mai./ago.,
p. 596-615, 2018. DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-
4863.2018v3n2p596
Revista Brasileira de Educação do Campo
The Brazilian Scientific Journal of Rural Education
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Ecologia de Saberes na Educação do Campo como
alternativa epistemológica e societal: experiência do
SIECS
Maria Elizabeth Souza Gonçalves
1
1
Universidade do Estado da Bahia - UNEB. Departamento de Educação. Campus VII. Rodovia Lomonto Junior BR - 407,
Campo Clube. Senhor do Bonfim - BA. Brasil.
Autor para correspondência/Author for correspondence: lizbethgoncalves@hotmail.com
RESUMO. Com o tema “Terra, Trabalho e Educação” o
Seminário Interterritorial de Educação do Campo no Semiárido
(SIECS), sediado no IFBA de Juazeiro-Bahia, nos dias 17 a 19
de novembro de 2016 apontava no seu processo organizativo
uma perspectiva pluralista de pensar engajadamente o
conhecimento sobre Educação do Campo, com a contribuição de
um coletivo plural e portador de saberes diversos: Academia,
Movimentos Sociais do Campo, Movimento Estudantil e
Artistas. Esse trabalho objetivou descrever analiticamente a
experiência do SIECS, utilizando-se como procedimentos
metodológicos a pesquisa documental na página eletrônica do
evento, os registros pessoais, os momentos de avaliação coletiva
e a Carta Política do SIECS apresentada no final do evento. Sob
a égide de uma ecologia de saberes (Santos, 2010), o evento
partia tanto da convicção de que o fortalecimento da Educação
do Campo não prescinde do diálogo com os saberes tradicionais
e com as artes, quanto buscava reforçar o caráter científico desse
campo como área de conhecimento sólida. Os resultados
apontam o SIECS como espaço contra-hegemônico no
fortalecimento da luta pela terra, pela educação, por qualidade
de vida para todos, construído numa perspectiva descolonial que
assume o lugar, o tempo e os sujeitos nas suas diversas relações
de poder.
Palavras-chave: Ecologia de Saberes, Educação do Campo,
Política Pública.
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Ecology of Knowledge in Rural Education as
epistemological and societal alternative: the SIECS
ABSTRACT. With the theme “Land, Labor and Education”, the
Interterritorial Seminary of Rural Education in Semiarid was
hold in the city of Juazeiro, Bahia, from 17 to 19 November,
2016, pointing out in its organizing process a pluralist
perspective by thinking engagemently the knowledge about
Rural Education, with the contribution of a plural group that had
different knowledge: Academy, Rural Social Movements,
Student Movement and Artists. This paper aimed to describe
analytically the SIECS experience, using as methodological
instruments the documental research in the electronic event
page, the personal notes, the collective moments of evaluation
moments and Political Letter of SIECS, showed at the end of the
event. Related to ecology of knowledge (Santos, 2010), the
event aimed both to home the comprehension that scientific
progress in this knowledge field depends on its dialogue with
the traditional knowledge and the Arts and to qualify Rural
Education as scientific field with hard knowledge area. The
results pointed out the SIECS as contra-hegemonic space to
strengthen the struggle by land, education, quality of life for all,
constructed in a descolonial perspective where place, time and
being are seen in different power relationships.
Keywords: Ecology of Knowledge, Rural Education, Public
Policy.
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Ecología de Saberes en la Educación del Campo como
alternativa epistemológica y societal: experiencia del
SIECS
RESUMEN. Con el tema "Tierra, Trabajo y Educación" el
Seminario Inter-territorial de Educación del Campo en el
Semiárido, acogido en el IFBA-BA, los días 17 al 19 de
noviembre de 2016 ya apuntaba en su proceso organizativo una
perspectiva plural sobre Educación del Campo con la
contribución de un colectivo portador de saberes diversos:
Academia, Movimientos Sociales del Campo, Movimiento
Estudiantil y Artistas. Ese trabajo objetivó describir la
experiencia del SIECS, utilizando como procedimientos
metodológicos la investigación documental en la página
electrónica del evento, los registros personales, los momentos de
evaluación colectiva y la Carta Política del SIECS presentada a
finales del evento. Bajo la egida de una ecología de saberes
(Santos, 2010), el evento partía tanto de la convicción que el
fortalecimiento de la Educación del Campo no prescinde del de
diálogo con los saberes tradicionales y con los artes, cuanto
pretendía reforzar el carácter científico de ese campo como área
de conocimiento sólida. Los resultados apuntan el SIECS como
espacio contra-hegemónico en el fortalecimiento de la lucha por
la tierra, por la educación, por calidad de vida, construido en una
perspectiva descolonial que asume el lugar, el tiempo y los
sujetos en sus diversas relaciones de poder.
Palabras clave: Ecología de Saberes, Educación del Campo,
Política Pública.
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Introdução
Com apenas duas décadas de seu
nascimento a fórceps
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realizado pelos
Movimentos Sociais do Campo de quem
também foi embrionada, a Educação do
Campo traz em sua essência o
compromisso de engajamento com as
questões concretas de homens e mulheres
do campo nas diferentes faixas etárias,
distribuídos por esse Brasil plural em
etnias, territórios, formas de vida, de
trabalho, de existência.
Embora curto espaço de tempo em
confronto aos séculos de silêncio quanto
aos direitos dos sujeitos do campo, essas
duas décadas têm sido exitosas no que
concerne à presença e afirmação da
Educação do Campo no ordenamento
jurídico brasileiro, na consequente oferta
de políticas públicas, e especialmente na
consolidação da Educação do Campo como
área de conhecimento.
Jesus (2006), no âmbito do I
Encontro Nacional de Pesquisa em
Educação do Campo realizado pelo
Programa Nacional de Educação Na
Reforma Agrária - PRONERA - e a
Secretaria de Educação Continuada,
Alfabetização, Diversidade e Inclusão -
SECADI em setembro de 2005 em
Brasília, problematizava sobre as
múltiplas inteligibilidades - os modelos de
racionalidades, de perspectivas
epistemológicas que orientam as práticas
sociais, a produção acadêmica e a
resistência na qual se assentam - na
produção dos conhecimentos com ênfase
na contribuição dos movimentos sociais e
sindicais do campo, chamando a atenção
para o alargamento de possibilidades de
compreensão do mundo a partir de
diferentes teorias, contextos, subjetividades
e utopias, acrescentando que essa
compreensão exige um modo de pensar
muito mais relacional do que dual.
e Molina (2010) destacam que a
militância tão presente nas pesquisas sobre
Educação do Campo tem sido
acompanhada de um esvaziamento teórico
dos trabalhos, o que compromete a
maturidade acadêmica tão indispensável à
luta albergada pelos Movimentos Sociais
do Campo. A demarcação do território
teórico não prescinde de referenciais
consistentes e em sintonia com os
propósitos de construção de conhecimento
engajado, e da consolidação de uma nova
epistemologia plural.
Santos (2014) analisa o diálogo entre
conhecimento científico e o conhecimento
de uma comunidade quilombola localizada
em Livramento de Nossa Senhora (BA)
sobre o uso de plantas medicinais com
finalidade curativa, no âmbito do Projeto
Ecopedagogia e Identidade Cultural,
elaborado para concorrer ao Edital
001/2012, da Secretaria Estadual de Meio
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Ambiente (SEMA), com a finalidade de
selecionar projetos de Educação Ambiental
a serem financiados pelo Fundo Estadual
de Recursos para o Meio Ambiente
(FERFA), e realizado pela Associação do
Semiárido da Microrregião de Livramento.
Os resultados apontam a supremacia do
modelo hegemônico de cuidado com a
saúde onde os padrões técnico-científicos
sufocam e inibem saberes tradicionais que
se mantiveram vivos, ainda que na
subalternidade, especialmente, quando os
serviços de saúde ancorados nos saberes
científicos não chegam em quantidade e
qualidade suficientes para garantir o direito
à saúde dos povos tradicionais do campo e
da cidade.
Pessoa e Rigotto (2015), numa tese
doutoral em Saúde Coletiva pela
Universidade Federal do Ceará, sob a égide
de uma epistemologia descolonial que
valoriza tanto a pluralidade interna quanto
externa da Ciência e o contexto do
semiárido, sistematizam a compreensão da
saúde humana e das necessidades de saúde
dos nordestinos a partir do diálogo das
experiências das pesquisadoras tanto nos
serviços de saúde como nas práticas de
ensino e pesquisa, adotando para tanto o
enfoque narrativo autobiográfico, com
firme propósito, numa pesquisa engajada,
de fortalecer/criar práticas/saberes
emancipatórios na Estratégia da Saúde da
Família para o povo nordestino.
Observa-se que de um lado tem-se a
inquietação de pesquisadores da Educação
do Campo sobre a monocultura científica
nessa área de conhecimento e ainda em
alguns momentos a ausência de uma
solidez teórica. E por outro lado, -se a
demanda de uma produção acadêmica, não
apenas no campo da educação, sob uma
perspectiva epistemológica que valoriza o
diálogo de saberes; uma ecologia de
saberes que visibilidade a
conhecimentos não científicos e valoriza a
pluralidade interna da ciência e sua
utilização contra-hegemônica, a favor de
inúmeros povos e sujeitos históricos e
geograficamente silenciados.
Mas, que perspectivas
epistemológicas dariam conta da produção
de uma área de conhecimento engajada e
comprometida com a diversidade dos
sujeitos do campo que se assumem
protagonistas de suas vidas e entendem que
a consolidação de qualidade de vida para
mulheres e homens do campo se afirma
num projeto societal emancipador para
além do campo? A maturidade teórica que
se busca nessa área de conhecimento
sustentação à certeza que os Movimentos
Sociais do Campo têm de que o latifúndio
da terra desmorona com o desmonte do
latifúndio do saber. Que bases teóricas são
assumidas e qual sua coerência
metodológica nas pesquisas realizadas, nos
grupos de trabalho constituídos e nos
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espaços de difusão do conhecimento
acumulado em Educação do Campo?
Nesse sentido, utilizamos a
experiência do Seminário Interterritorial de
Educação do Campo no Semiárido -
SIECS como lócus para problematizar
essas questões e outras assumidas no
âmbito da definição do evento: quais os
principais desafios e entraves que se
colocam à Educação do Campo no
processo de desenvolvimento territorial
dos Territórios de Identidade Piemonte
ii
Norte do Itapicuru e Sertão do São
Francisco-Bahia, no semiárido baiano?
Como o currículo dos cursos de formação
de professores e professoras para a
educação básica ofertado pelas instituições
de ensino superior públicas nestes
territórios tem apresentado a Educação do
Campo? Como articular práticas de ensino,
pesquisas, experiências diversas para além
dos muros da Universidade no
fortalecimento da Educação do Campo e
no desenvolvimento territorial? Como
fortalecer a Articulação Interterritorial para
Educação do Campo como espaço
permanente de reflexão, crítica e
proposição de políticas públicas e práticas
territoriais emancipatórias? Qual o chão
epistemológico sobre o qual se assentam as
produções acadêmicas na Educação do
Campo e qual o impacto disso na
desestabilização de eixos de poder
concernentes ao trabalho, ao gênero, ao
sexo e à idade? Como o atual contexto
político-econômico brasileiro de desmonte
de direitos sociais pode influenciar no
processo de afirmação da Educação do
Campo? Essas questões nortearam tanto o
ideário de constituição do SIECS como as
temáticas, metodologias, ambientação,
apresentações e proposições (Siecs, 2016).
Este trabalho é um relato de
experiência de quem integrou o coletivo de
organização do Seminário Interterritorial
de Educação do Campo no Semiárido e
participou de várias formas na execução do
evento: integrando mesa de prosa,
coordenando roda de diálogos e ainda
como observadora-participante de vários
momentos do processo. A escrita é fruto
tanto das percepções, observações e
vivências da pesquisadora, da Carta
Política construída no final do evento,
como da escuta engajada dos pares que
integram a Articulação Interterritorial para
fortalecimento da Educação do Campo no
Semiárido no encontro de avaliação após a
execução do evento.
O relato, além de divulgar o
resultado do Seminário, destacando sua
importância como espaço contra-
hegemônico (Gramsci, 1999) no
fortalecimento da luta pela terra, pela
educação, por qualidade de vida para todos
e todas, objetiva descrever e refletir uma
prática acadêmica de
disseminação/propagação de saberes para a
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comunidade científica, assumindo-se que a
base epistemológica que norteia tanto a
prática quanto a de conhecimento de ser
pluralista, descolonial que assume o lugar,
o tempo e os sujeitos nas suas diversas
relações de poder (Moldonado-Torres,
2010).
Os sentidos e materialidades do
Seminário Interterritorial de Educação
do Campo no semiárido
Utiliza-se como procedimentos
metodológicos para dar conta da descrição
e análise do evento de difusão e diálogo de
saberes, a pesquisa documental na página
eletrônica do evento onde se elucida o
projeto do Seminário que também
ajudamos a construir, os registros pessoais
feitos ao longo dos três dias do evento, os
momentos de avaliação coletiva, realizados
durante e após o encerramento do evento e
a Carta Política do SIECS apresentada ao
final do evento.
O lugar de onde se olha, reflete e
problematiza o Seminário Interterritorial
de Educação do Campo no Semiárido foi
aquele ocupado por uma professora da
disciplina de Educação do Campo de um
curso de licenciatura em Pedagogia, de
uma Universidade Pública baiana, que nos
últimos trinta anos tem preparado para o
mundo do trabalho centenas de professoras
e professores que são responsáveis por
formar os sujeitos do campo, e que
atualmente integra, junto com professores
e professoras de sua instituição e outras de
Ensino Superior, artistas, sindicatos,
organizações não governamentais, uma
Articulação Interterritorial para
Fortalecimento da Educação do Campo no
Semiárido, no âmbito dos Territórios de
identidade Piemonte Norte do Itapiciru e
Sertão do São Francisco. É, portanto, um
olhar engajado e comprometido com
causas concretas do seu fazer pedagógico e
da sua opção política por uma Educação do
Campo emancipatória. É ainda o olhar de
quem assume que o envolvimento com
questões concretas dos sujeitos do campo,
entendendo o capitalismo como eixo
central de poder que afeta pessoas e
vulnerabiliza coletivos sociais, não amarra
nem restringe o percurso teórico a uma
única perspectiva epistemológica e nem
prescinde do diálogo permanente com
outros saberes construídos para além do
chão da ciência.
Entende-se que a consolidação da
Educação do Campo como área de
Conhecimento exige uma base teórica
sólida em comunhão com uma
metodologia coerente, e especialmente
compreende-se que a Educação do Campo
se assenta no diálogo permanente com os
Movimentos Sociais do Campo e se firma
no compromisso explícito com a qualidade
de vida dos povos do campo. Nesse
sentido, o desafio que se apresenta é tenso:
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qualificar o discurso científico numa ampla
interação com os saberes dos povos
tradicionais, com as artes e outras tantas
formas de compreender e intervir no
mundo.
Os fundamentos teóricos e
epistemológicos da produção acadêmica
permitem a compreensão do objeto com
vistas à intervenção; Não basta a mera
descrição do mundo, pois distancia o
caráter político interventivo que a ciência
deve ter. Assume-se uma pesquisa
engajada, a serviço da qualidade de vida
para todos e todas, onde se compreende o
mundo para melhor intervir (Mama, 2010).
Conhecimentos situados num tempo e
espaço, localizados, a serviço da
desestabilização de eixos de poder nas
relações de gênero, de idade, de sexo e de
trabalho que vulnerabilizam inúmeros
sujeitos nesse Brasil plural e multicultural.
Ciência engajada e militância são,
portanto, dimensões diferentes e
complementares na constituição de uma
ecologia de saberes que sustentação à
luta dos povos do campo que têm na
Educação do Campo o canal de acesso para
outros direitos.
Opta-se, para tanto, compreender o
mundo numa clara assunção de que as
injustiças sociais estão diretamente
estabelecidas em formas injustas de
produzir conhecimentos e validá-los, de
que há uma geopolítica de poder que
reverencia alguns lugares e sujeitos e os
saberes deles advindos, negando tantos
outros (Santos, 2010; Moldonado-Torres,
2010).
Opta-se ainda por aceitar que embora
o capitalismo seja a grande estrutura
mundial de poder, o seu controle não se
apenas no trabalho, como pensavam os
marxistas ortodoxos, mas nas relações de
gênero, de raça e de sexo. Assumir o
materialismo histórico dialético como
único chão epistemológico de análise e
compreensão da realidade é desconsiderar
que as relações de produção acontecem
dentro de subjetividades. Uma pessoa pode
ocupar uma posição na disputa do controle
de trabalho e outra bem distinta em relação
ao gênero (Quijano, 2010).
Assim, assume-se no materialismo
histórico o pensamento comprometido com
a intervenção no mundo, a análise do
fenômeno a partir de seus elementos
constitutivos e seu contraditório (Triviños,
1987) e a sua importante contribuição no
entendimento do capitalismo como eixo
central de poder - para além, no entanto, da
tese de Marx e Engels (1999) da relação
meramente de capital e trabalho.
Assume-se a Educação do Campo
como campo de conhecimento em amplo
processo de afirmação que tem se
estabelecido no materialismo histórico, por
ser, dentro da lógica de racionalidade
eurocêntrica da pesquisa social a
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perspectiva epistemológica que mais se
aproxima do sentido da luta por vida digna,
por emancipação, por garantia de direitos
que os povos do campo clamam. No
entanto, entende-se que a colonialidade de
poder - aqui assumida como a hegemonia
do pensamento eurocêntrico na cultura do
mundo capitalista o que ocasionou uma
mistificação de perspectiva da realidade e
permitiu a naturalização de relações de
dominação/exploração (Quijano, 2010) - é
indispensável ao capitalismo como
estrutura mundial de poder, cujas
necessidades atuais se configuram nas
relações intersubjetivas de dominação sob
a égide do eurocentrismo e nesse sentido
faz-se necessário um novo enfoque
epistemológico que faça referência à raça,
ao sexo, a idade, e, consequentemente, às
questões espaciais, territoriais e à
experiência. Quijano (2010) nos diz que
a luta contra a exploração/dominação
implica, sem dúvida, em primeiro
lugar o engajamento na luta pela
destruição da colonialidade do poder,
não para terminar com o racismo,
mas pela sua condição de eixo
articulador do padrão universal do
capitalismo eurocentrado. (Quijano,
2010, p. 126).
Assume-se também a Educação do
Campo como direito fundamental cujo
acesso permite a garantia de outros tantos
direitos, à luz do que nos afirma Ranieri
(2013, p. 53) de que “o direito à educação
representa a indivisibilidade e a
interdependência de todos os direitos
humanos”. E no que tange à Educação do
Campo as repercussões do acesso à escola
de qualidade não pode prescindir da
melhoria da infraestrutura das escolas, das
estradas, de saneamento básico, de
transporte de qualidade, de acesso à água,
energia elétrica, à internet e a tantos outros
insumos e processos. “Ao compreender e
questionar os padrões de organização
social, política e jurídica da sociedade em
que vive, o indivíduo se torna habilitado a
prever, desenvolver raciocínios e atuar
dentro de padrões condizentes com a
dignidade humana” (Ranieri, 2013, p.59).
Assim, apoia-se em Arroyo (2015)
ao afirmar que uma nova concepção de
Educação do Campo está inteiramente
comprometida com um novo projeto social
que supera a dicotomia campo e cidade,
entendendo que se faz necessário superar a
lógica do capital que coisifica os sujeitos e,
nesse sentido, engajar-se com a luta maior
que coloca os sujeitos na centralidade do
debate.
Com isso solucionam-se as questões
emergentes dos territórios materiais e
imateriais e aprofundam-se os significados,
a organização pedagógica e a perspectiva
epistemológica concernentes à Educação
do Campo, constituindo-se alternativas
válidas às coletividades e subjetividades e
aos enfrentamentos ao sistema escolar
tradicional ainda vigente.
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O debate sobre Educação do Campo
numa perspectiva emancipatória que
assume o campo como lugar onde uma
diversidade de sujeitos (em idade, sexo,
raça) vivem, trabalham e produzem
existência remonta pouco mais de duas
décadas. Os Movimentos Sociais do
Campo protagonizaram esse processo
dando visibilidade à inexpressiva presença
no ordenamento jurídico e nas políticas
públicas brasileiras dos direitos das
crianças, jovens, adultos e idosos
campesinos, exigindo uma escola do
campo que atendesse aos interesses dos
sujeitos do campo. Além disso, esses
Movimentos assumiam que a luta pela
terra não prescindia do acesso de homens e
mulheres do campo, nas diferentes faixas
etárias, ao conhecimento historicamente
produzido. Essa firmeza de propósito e a
luta dela decorrente tiveram implicações
significativas no postulado da Educação do
Campo como direito e não esmola, refrão
de uma canção que todo militante da
Educação do Campo conhece: “não vou
sair do campo para poder ir para a escola;
educação do campo é direito não esmola”.
A presença da Educação do Campo
no ordenamento jurídico brasileiro se dá
timidamente na promulgação da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional,
Lei 9394/96 e desde então ascende-se à
materialização do direito em normas do
Conselho Nacional de Educação, como foi
a Resolução 01/2002 da Câmara da
Educação Básica que institui as Diretrizes
Operacionais da Educação Básica nas
Escola do Campo. Em 2008, este mesmo
Colegiado apresenta a Resolução CEB
02/2008, na qual se estabelecem Diretrizes
Complementares, normas e princípios para
o desenvolvimento de políticas públicas de
atendimento da Educação Básica do
Campo.
A maturidade do direito à Educação
do Campo no sistema jurídico foi
fortalecendo a política da Educação do
Campo. A produção de material didático
com investimentos do Governo Federal em
pesquisa, produção, difusão e distribuição,
aliado a sua disponibilização em domínio
público; a criação da Secretaria de
Educação Continuada, Diversidade,
Alfabetização e Inclusão - SECADI, no
âmbito do Ministério da Educação cuja
atuação abarca a formação de gestores e
educadores, a produção e distribuição de
materiais didáticos e pedagógicos, a
disponibilização de recursos tecnológicos
com vistas a diminuição das desigualdades
educacionais e ampliação dos processos de
inclusão e de respeito às diferenças. A
SECADI tem sido um importante espaço
de interlocução dos povos do campo
indígenas, quilombolas, assentados,
ribeirinhos, caiçaras, povos da floresta com
o Estado brasileiro. As políticas da
Educação do Campo têm sido provocadas
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a pensar nas especificidades do campo
tendo como referência seus sujeitos, nas
múltiplas diferenças que eles comportam.
Sobre essa questão, Arroyo (2008)
esclarece que
A Educação do Campo deve ser
diferente porque o campo é diferente,
mas a pergunta que se coloca com
muita urgência é: o que é específico
do campo? O que torna o campo
específico, sujeito de políticas
específicas de educação, neste caso?
O que torna o campo diferente,
específico, são os sujeitos do campo.
Não é o currículo, não é o calendário,
não é o não-seriado; o que torna o
campo diferente são os sujeitos do
campo que são diferentes. É
necessário fazer uma análise
respondendo a essas questões. Sobre
a Educação Infantil, por exemplo, a
primeira pergunta a ser feita não é se
tem supervisor, se tem isto ou aquilo,
mas quem é essa infância do campo?
Se falta a pergunta sobre os sujeitos
não acertamos nada depois. O que
deve se perguntar é que criança é
essa, que pré-adolescente é esse?
Qual é a especificidade de ser criança
no campo, na vila, na favela, no
bairro chique, no apartamento de
cobertura? A grande diferença são os
sujeitos humanos e pouco sabemos
sobre eles, gastamos pouco tempo
para responder quem são eles e quais
são suas especificidades humanas.
Que é ser mulher no campo? O que é
ser homem no campo? O que é ser
indígena no campo? O que é ser
quilombola no campo? O que é ser
camponês no campo? O que é ser
homem da floresta no campo?
(Arroyo, 2008, p. 47-48).
É a Educação do Campo que se
embriona dos movimentos sociais
campesinos na luta pela terra e pelo direito
de viver no campo com dignidade que
adentra nas instituições de ensino e de
pesquisa como área de conhecimento ao
tempo em que também se firma no
ordenamento jurídico e na esfera estatal
como política pública, é o seu percurso,
seus sentidos e materialidades na atual
conjuntura política, econômica e social do
país que centraliza a realização do SIECS.
É esse fenômeno societal que tem ganhado
visibilidade e assumido uma dimensão
ampla de educação, exigindo processos
engajados e comprometidos com a
plenificação do homem na recondução da
sua humanização (Caldart, 2002) que é
objeto de reflexão.
Foi, portanto, no contexto político
brasileiro de afastamento inconstitucional
da Presidenta Dilma Roussef, de desmonte
de direitos sociais pela Proposta de
Emenda Constitucional (PEC) 241 e (PEC
55 no Senado), da Reforma da Previdência
que vulnerabiliza trabalhadoras e
trabalhadores brasileiros, do Projeto de Lei
de criação da Escola sem Partido e ainda
da Reforma do Ensino Médio que retira do
currículo as disciplinas de Filosofia,
Sociologia, Artes e Educação Física que o
Seminário Interdisciplinar de Educação do
Campo no Semiárido foi pensado,
construído e vivenciado.
O Seminário Interterritorial de
Educação do Campo no Semiárido
(SIECS) foi construído e executado por um
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coletivo de organizações não
governamentais, grupos de artistas e
instituições de ensino superior denominado
Articulação Interterritorial para
fortalecimento da Educação do Campo no
Semiárido, com o propósito de consolidar a
Educação do Campo como política pública
e como área de conhecimento. Com o tema
“Terra, Trabalho e Educação”, o evento
tinha como objetivos a) Mobilizar gestoras
e gestores públicos, organizações sociais,
instituições de ensino e pesquisa;
professoras, professores, pesquisadoras,
pesquisadores, estudantes e movimentos
sociais para o debate em torno da política
de Educação do Campo na rede pública de
ensino, a partir de uma análise crítica de
seu percurso, os desafios e as
possibilidades dentro dos territórios e
municípios; b) Socializar e dar visibilidade
às produções acadêmicas sobre Educação
do Campo; c) Analisar a conjuntura
política, econômica, cultural e midiática e
seus desdobramentos nos direitos de
trabalhadores e trabalhadoras campesinos;
d)
Implementação da Política de Educação
do Campo nos programas de
desenvolvimento do Semiárido (Siecs,
2016).
O Seminário oportunizou como
previu: Mesas de Prosa com análises de
conjuntura e debates; Rodas de Conversa
com sessões de comunicação agregando
temas diversos relacionados à Educação do
Campo no Semiárido com ênfase nos
sujeitos; exposição de pôster; Tendas
artísticas com música, poesia, teatro,
dança, cordel; Feira Cultural onde os
pequenos produtores dos municípios
abarcados expuseram e comercializaram
seus produtos; Um painel de mensagens
onde os participantes deixaram suas
impressões e aprendizagens e uma ciranda
com crianças que presentearam os
participantes com mudas de plantas do
bioma caatinga e a proposição de uma
carta política onde se apresenta à sociedade
o evento realizado, seus objetivos, os
sujeitos envolvidos, atividades propostas e
realizadas, reafirmando tanto o
rompimento da dicotomia cidade/campo,
quanto a necessária ampliação dos direitos
sociais, dentre eles a educação.
O diálogo permanente dos processos
educativos com a arte foi o ponto forte do
evento, tanto nos colóquios, nas tendas, nas
exposições teatrais e musicais em vários
momentos do Seminário. Somou-se ainda a
participação de líderes do Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra MST,
problematizando não apenas as temáticas,
mas os jeitos de se produzir e divulgar
saberes, os tipos, os destinatários e
beneficiários dos saberes. A denúncia à
influência do capitalismo internacional na
vida social, econômica, cultural e política
de países como o Brasil, expressa nas
políticas agrícolas que favorecem o
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agronegócio em detrimento da agricultura
familiar, foi uma das temáticas debatidas
nas mesas.
Nas proposições da Carta, a partir
das discussões da terceira mesa de prosa da
qual tivemos a oportunidade de participar
como uma das interlocutoras, foi sugerida
uma mobilização nacional contra a
Proposta de Emenda Constitucional (PEC)
55, provocada pelo debate sobre as
implicações dessa Emenda Constitucional
no desmonte da Política Educacional
Brasileira, inviabilizando o alcance das
metas do Plano Nacional de Educação (Lei
13.005/2014) e pulverizando os avanços da
Educação do Campo, e a favor da
aproximação das instituições de Ensino
Superior das pautas da classe trabalhadora,
e dos tantos sujeitos invisibilizados.
Dentre os grandes desafios, está a
superação da narrativa colonial que
marginalizou e excluiu os povos do
campo de um processo educativo
escolar emancipador. O
distanciamento das instituições de
ensino superior das pautas da classe
trabalhadora, especialmente, dos
cursos de licenciaturas, do debate
sobre o campo brasileiro e a
Educação do Campo, têm reforçado
esta narrativa, que se sustenta na
ideia de um conhecimento universal
inquestionável, na ciência como
única forma de produção de
conhecimentos e única lógica
possível. As Universidades e
Institutos Federais necessitam
dialogar com a Pedagogia
Alternância; a pedagogia dos
movimentos sociais não apenas como
metodologia, mas, como princípio de
organização do trabalho formativo
também no ensino superior. A
Educação Contextualizada deve ser
fortalecida nas redes de ensino,
orientando o debate da Educação do
Campo, recuperando assim, a
Convivência com o Semiárido como
lastro político-educativo
indispensável. (Carta Política do
SIECS, 2016).
O SIECS significou um importante
momento de reflexão do vínculo da
Educação do Campo com as lutas sociais
de mulheres e homens do campo nas mais
diferentes idades e ainda de retomada
histórica dos avanços da Política da
Educação do Campo no Brasil nas últimas
décadas.
Destacou-se nesse evento como os
Movimentos Sociais têm forçado e ajudado
a construir respostas a problemas societais
postos como o reconhecimento do campo
como lugar de vida de sujeitos de direito e
neste curso têm entrado em espaços vitais
de produção de poder, a exemplo das
Universidades e têm encontrado
pesquisadores e pesquisadoras engajadas e
comprometidas em construir novos
discursos, práticas e uma ordem contra-
hegemônica.
As Mesas de prosa fizeram análise de
conjuntura e das estratégias e táticas para o
campo brasileiro; problematizaram a
Educação do Campo no Semiárido
Brasileiro e ainda refletiram sobre a
presença da Educação do Campo no Plano
Nacional de Educação, os desafios e
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possibilidades de alcance das metas do
PNE face às mudanças ocorridas no
cenário político brasileiro.
As Rodas de Conversa abarcaram as
comunicações de artigos e pôsteres, com
temas diversos como a gestão educacional,
a formação de professores/as, a educação
básica, a educação profissional, a educação
de jovens e adultos no campo; a articulação
entre o conhecimento científico e as lutas
sociais; a agroecologia; a articulação entre
terra, trabalho e educação e a educação
contextualizada no Semiárido.
os Grupos de Diálogos abordaram
a política de educação profissional no
campo; a Pedagogia da Alternância; a arte
como elemento formativo; as escolas do
campo multisseriadas; a juventude do
campo; as tecnologias assistidas e a
acessibilidade comunicacional e os
desafios das Instituições de Ensino
Superior para o fortalecimento da pós-
graduação voltada aos povos do campo.
As Tendas foram espaços abertos
que albergaram a contação de estórias, a
musicalidade, a poesia, as prosas; a
produção de material didático; as
tecnologias na educação; a medicina
popular; o debate sobre a democracia e as
formas de resistência; o empoderamento
das mulheres, e, ainda, o lançamento de
livros.
A Carta ainda problematiza sobre a
necessidade de se recuperar os princípios
da pedagogia do oprimido e da esperança
de Paulo Freire (1967), ampliando as
estratégias de luta, o trabalho de base sob a
égide da dialogicidade e da politicidade.
Ressaltamos, por fim, a necessidade
urgente de construção da unidade da
classe trabalhadora (estudantes,
profissionais de educação,
profissionais de saúde,
agricultores/as familiares,
movimentos sociais, organizações
sindicais, empreendedores solidários,
servidores públicos, dentre outros)
para o enfrentamento do projeto de
exclusão que ameaça os mais pobres,
retrocede em décadas os avanços
sociais no Brasil e ameaça o estado
democrático de direitos. A Educação
do Campo, consolida-se, portanto,
como condição para o fortalecimento
desta luta e o I SIECS como espaço
de resistência dos povos do campo
organizados e toda a classe
trabalhadora. (Carta Política do
SIECS 2016).
O SIECS 2016 se apresentou como
um importante espaço de interlocução, de
ecologia de saberes, com a clareza de que o
fortalecimento tanto dos saberes
tradicionais, da arte, da religiosidade plural
como a ampliação dos espaços científicos
de uma Ciência engajada e forte a serviço
da emancipação humana será a alternativa
para a superação do atual cenário brasileiro
de retrocesso das políticas sociais e da
ascensão do conservadorismo que tanto
compromete a convivência plural e
solidária, como ameaça e fragiliza as
condições de luta dos sujeitos.
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Considerações finais
A experiência do Seminário
Interterritorial de Educação do Campo no
Semiárido permitiu, a partir da
metodologia, das temáticas adotadas e da
articulação de um coletivo plural, um
diálogo intercultural do conhecimento
científico em Educação do Campo com os
saberes tradicionais dos povos do campo e
com as pautas de luta dos Movimentos
Sociais do Campo, do Movimento
Estudantil, dos Artistas e Contadores de
História.
Embora houvesse clareza de que se
fazia necessário o fortalecimento teórico
desse campo de conhecimento, a grande
bandeira explícita se orientava para o
fortalecimento político e a decorrente
articulação das mais variadas frentes no
sentido de diminuir o efeito do atual
quadro de desmonte de direitos que o povo
brasileiro vive.
No entanto, ainda se tímida a
compreensão de que o chão epistemológico
que norteia a produção acadêmica em
Educação do Campo no Brasil e na
América Latina deve entender a opressão
como núcleos multifacetados de poder,
onde trabalho, raça, gênero e idade se
apresentam como eixos de poder em torno
dos quais o capitalismo se infiltra e se
fortalece e que esses núcleos se
estabelecem nas experiências datadas e
localizadas. Faz-se necessário o
entendimento de que a destruição das
formas de dominação não prescinde de
uma articulação de diferentes e
conflituosas frentes de luta, e de que a
totalidade não é um sistema fixo, mas, uma
articulação de elementos conflituosos,
descontínuos e heterogêneos - como
orienta o novo enfoque trazido pelas
perspectivas descoloniais.
A multicrise por que passa a nação
brasileira demanda para a centralidade do
debate algumas questões, entre elas o
amadurecimento teórico aliado a nossa
capacidade de diálogo com a compreensão
de que todo ponto de vista será sempre
parcial e inconcluso. A ecologia de saberes
se coloca como chão epistemológico de um
pensamento pluralista e propositivo que
nos provoca a desestabilizar as velhas e
geopolíticas inteligibilidades, mesmo as
que definem para nós um caminho
emancipatório, mas com o no chão de
outro mundo que não é o nosso, ou melhor,
os nossos, porque somos muitos e
espalhados por um “Sul” metafórico.
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i
Fórceps é um instrumento com que se extrai o feto
do útero. Termo utilizado para fazer alusão à
pressão que os Movimentos Sociais do campo
fizeram para que a Educação do Campo se inserisse
na Agenda Governamental como Política Pública e
se tornasse campo de conhecimento onde os
sujeitos do campo tivessem centralidade.
ii
Em 29 de dezembro de 2014, o Estado da Bahia
passa a tratar a política territorial como uma política
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Informações do artigo / Article Information
Recebido em : 04/07/2017
Aprovado em: 07/08/2017
Publicado em: 30/07/2018
Received on July 4th, 2017
Accepted on August 07th, 2017
Published on July 30th, 2018
Contribuições no artigo: A autora foi a responsável por
todas as etapas e resultados da pesquisa, a
saber: elaboração, análise e interpretação dos dados;
escrita e revisão do conteúdo do manuscrito; e aprovação
da versão final a ser publicada.
Author Contributions: The author was responsible for the
designing, delineating, analyzing and interpreting the data,
production of the manuscript, critical revision of the content
and approval of the final version to be published.
Conflitos de interesse: A autora declarou não haver
nenhum conflito de interesse referente a este artigo.
Conflict of Interest: None reported.
Orcid
Maria Elizabeth Souza Gonçalves
http://orcid.org/0000-0003-3487-5334
Como citar este artigo / How to cite this article
APA
Gonçalves, M. E. S. (2018). Ecologia de Saberes na
Educação do Campo como alternativa epistemológica e
societal: experiência do SIECS. Rev. Bras. Educ. Camp.,
3(2), 616-632. DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-
4863.2018v3n2p616
ABNT
GONÇALVES, M. E. S. Ecologia de Saberes na Educação
do Campo como alternativa epistemológica e societal:
experiência do SIECS. Rev. Bras. Educ. Camp.,
Tocantinópolis, v. 3, n. 2, mai./ago., p. 616-632, 2018.
DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-
4863.2018v3n2p616
Revista Brasileira de Educação do Campo
The Brazilian Scientific Journal of Rural Education
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Política de expansão das licenciaturas em Educação do
Campo: desafios para a implantação do Programa
Nacional de Educação do Campo na Universidade Federal
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Jorge Luis D'Ávila
1
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Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS. Faculdade de Educação. Avenida Costa e Silva s/n. Campo Grande -
MS. Brasil.
Autor para correspondência/Author for correspondence: davilajorgeluis35@gmail.com
RESUMO. O texto busca analisar o processo de implantação do
curso de Licenciatura em Educação do Campo da Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul, na perspectiva de compreender
a morosidade do Estado brasileiro na execução da gestão das
políticas educacionais. Para tanto, se leva em consideração as
articulações recíprocas entre Estado, educação e educação do
campo, na perspectiva marxiana. Nosso pressuposto de análise
parte da totalidade das relações entre os homens, o que nos
permite reintegrar nessa totalidade a base material e a base
política do mundo dos homens. A política de formação de
professores do campo é uma ação do Estado que pretende
amenizar as pressões e as demandas apresentadas pelos
movimentos sociais ligados à luta pela reforma agrária. A
expansão da licenciatura em foco esbarra nas políticas de caráter
neoliberais que reduzem as verbas destinadas à expansão dos
cursos, o que afeta diretamente a autonomia das universidades e
os fatores ideológicos decorrentes das características
pedagógicas do curso, que tem na luta de classes o seu principal
ponto de reflexão como outro entrave para a expansão da
LEDUCAMPO.
Palavras-chave: Políticas Educacionais, Educação do Campo,
Estado.
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D'Ávila, J. L. (2018). Política de expansão das licenciaturas em Educação do Campo...
Policy of expansion of Undergraduate Course in Rural
Education: Challenges for the implementation of the
National Program of Education of the countryside in the
Federal University of Mato Grosso do Sul
ABSTRACT. This text seeks to analyze the process of
implementation of the Undergraduate Course in Rural Education
of the Federal University of Mato Grosso do Sul, in order to
understand the slowness of the Brazilian State in the execution
of the management of educational policies. In order to do so,
one takes into account the reciprocal articulations between state,
education and rural education, in the Marxian perspective. Our
analysis presupposes the totality of relationships between men,
which allows us to reintegrate into this totality the material basis
and political basis of the world of men. The policy of training
teachers in the countryside is an action of the State that seeks to
soften the pressures and demands presented by social
movements linked to the struggle for agrarian reform. The
expansion of the bachelor's degree focuses on the neoliberal
policies that reduce the funds destined to the expansion of the
courses, which directly affects the autonomy of the universities
and the ideological factors arising from the pedagogical
characteristics of the course, which has in the class struggle its
main point is another obstacle to the expansion of
LEDUCAMPO.
Keywords: Educational Policies, Rural Education, State.
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D'Ávila, J. L. (2018). Política de expansão das licenciaturas em Educação do Campo...
Política de expansión de las licenciaturas en Educación del
Campo: desafíos para la implantación del Programa
Nacional de Educación del Campo en la Universidad
Federal de Mato Grosso do Sul
RESUMEN. El texto busca analizar el proceso de implantación del
curso de Licenciatura en Educación del Campo de la Universidad
Federal de Mato Grosso do Sul, en la perspectiva de comprender la
morosidad del Estado brasileño en la ejecución de la gestión de las
políticas educativas. Para ello, se tiene en cuenta las articulaciones
recíprocas entre Estado, educación y educación del campo, en la
perspectiva marxiana. Nuestro supuesto de análisis parte de la
totalidad de las relaciones entre los hombres, lo que nos permite
reintegrar en su totalidad la base material y la base política del
mundo de los hombres. La política de formación de profesores del
campo es una acción del Estado que pretende amenizar las
presiones y las demandas presentadas por los movimientos sociales
ligados a la lucha por la reforma agraria. La expansión de la
licenciatura en foco tropieza en las políticas de carácter
neoliberales que reducen los fondos destinados a la expansión de
los cursos, lo que afecta directamente la autonomía de las
universidades y los factores ideológicos derivados de las
características pedagógicas del curso, que tiene en la lucha de
clases su principal punto de reflexión como otro obstáculo para la
expansión de la LEDUCAMPO.
Palabras clave: Políticas Educativas, Educación del Campo,
Estado.
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D'Ávila, J. L. (2018). Política de expansão das licenciaturas em Educação do Campo...
Introdução
O objetivo deste artigo é analisar o
processo de implantação do curso de
Licenciatura em Educação do Campo
(LEDUCAMPO) da Universidade Federal
de Mato Grosso do Sul (UFMS) na
expectativa de compreender a morosidade
do Estado brasileiro na execução da gestão
das políticas educacionais, em especial a
de formação de professores do campo.
O texto tem como fonte de estudo os
editais e portarias elaborados pelo
Ministério da Educação (MEC) que
permitiram a criação por parte da UFMS
da Leducampo, o Projeto Político-
Pedagógico do curso em questão, as ATAS
produzidas pelo colegiado do curso e o
Plano de Trabalho Anual (PTA). Para que
tais documentos nos revelem os fatos e
intenções concretas do Estado brasileiro no
que se refere à formação de professores do
campo se faz necessário estabelecer
conexões entre os diversos interesses de
classe, levando em consideração as
articulações recíprocas entre Estado,
educação e Educação do Campo, na
perspectiva marxiana o que nos permite
compreender a realidade social histórica,
as condições materiais da produção
humana, suas contradições e determinações
da totalidade da sociabilidade vigente.
Nesse viés o objeto é visto “como parte de
uma totalidade histórica que o constitui,
onde se estabelecem as mediações entre o
campo da particularidade e sua relação
com uma determinada universalidade”
(Frigotto, 2010, p. 2).
Entendemos assim como Palumbo
(1994, p. 38) que o termo políticas públicas
é o “... princípio norteador por trás de
regulamentos, leis e programas; sua
manifestação visível é a estratégia adotada
pelo governo para solucionar os problemas
públicos”. Contudo, uma política não é um
processo linear, mas algo que se encontra
em constante movimento, isto é, tem que
ser “... inferida a partir de uma série de
ações e comportamento intencionais de
muitas agências e funcionários
governamentais envolvidos na execução da
política ao longo do tempo” (Palumbo,
1994, p. 35). Portanto, uma política pública
não pode ser discernida tendo-se em conta
apenas um evento ou uma ação. Deve ser
vista como uma categoria analítica
utilizada por pesquisadores para estudar as
estratégias governamentais por certo
período.
Desafios para a manutenção e ampliação
da LEDUCAMPO
O referido curso começou a ser
planejado no ano de 2013, em resposta à
chamada do Ministério de Educação
(MEC), por meio de ação integrada entre:
Secretaria de Educação Superior;
Secretaria de Educação Continuada,
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Alfabetização, Diversidade e Inclusão;
Secretaria de Educação Profissional e
Tecnologia, mediante Edital n. 2
SESU/SETEC/SECADI/MEC, de 31 de
agosto de 2012, publicado no Diário
Oficial da União de 05 de setembro de
2012. Este Edital tinha como previsão a
implantação de 40 cursos regulares de
Licenciatura em Educação do Campo que
atendesse no mínimo 120 alunos por ano,
com um aporte de recursos financeiros
específicos em um período de três anos e
também visava à ampliação do número de
vagas para os cursos já existentes.
O Movimento da Educação do
Campo está ancorado na primeira
Conferência Nacional por Uma Educação
Básica do Campo (CNEC), realizada em
1998 e na segunda Conferência em 2004
cujo lema era “Por Um Sistema Público de
Educação do Campo”. Com isso, o MEC
elaborou um plano piloto que teve como
executoras: A Universidade Federal de
Minas Gerais (UFMG), Universidade de
Brasília (UNB), Universidade Federal da
Bahia (UFBA) e Universidade Federal de
Sergipe (UFS).
De acordo com Molina (2015), as
Instituições Federais de Ensino Superior
(IFES) citada foram convidadas a fazerem
parte desse plano devido as suas
experiências na gestão pedagógica da
educação do campo e, também, por terem
relação com os movimentos sociais e
sindicais envolvidos nos conflitos agrários.
Cabe ponderar que os outros cursos de
licenciatura do campo que foram ofertados
pelas Universidades Federais até o ano de
2016 não tinham esse vínculo, como é o
caso da UFMS.
A graduação em educação do campo
deve ter duração de quatro anos na
modalidade presencial, tendo a Pedagogia
da Alternância
ii
como metodologia. Esta
consiste na articulação entre o Tempo
Universidade (TU) onde os alunos
permanecem o período de aula na
Universidade e Tempo Comunidade (TC)
ocorre no momento em que os acadêmicos
retornam às suas propriedades familiares
ou às comunidades ou aos assentamentos
para colocarem em prática aquilo que foi
proposto no TU. Essa forma de
organização atende ao Programa de Apoio
à Formação Superior em Licenciatura em
Educação do Campo (PROCAMPO).
Cabe considerar que a política de
formação de professores do campo é uma
ação do Estado que pretende amenizar as
pressões e as demandas apresentadas pelos
movimentos sociais ligados à luta pela
reforma agrária com o intuito de superar o
pensamento de que o docente deve ser
formado para “... desenvolver os mesmos
saberes e competências do ensino
fundamental, independentemente da
diversidade de coletivos humanos”
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(Arroyo, 2012, p. 361).
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Superar esse modelo de formação
implica em mudanças de práticas
burguesas que privilegiam a formação
urbana e acreditam que os povos e escolas
do campo encontram em um processo de
extinção, que incentiva o transporte de
alunos do campo para estudarem nas
escolas urbanas e direcionam docentes
urbanos para trabalhar no campo sem que
os mesmos tenham vínculo com a cultura e
os saberes dos moradores do campo
(Arroyo, 2012).
Arroyo (2012) pondera que o
processo de formulação da política de
formação de professores do campo não
segue os mesmos padrões de planejamento
das outras políticas que veem os setores
populares apenas como destinatários, mas
sim, como autores-sujeitos que têm uma
participação efetiva no planejamento das
políticas de formação docente. Essa
participação implica em “... tensões não
apenas nas concepções de formação, mas
tensões políticas de reconhecimento dos
movimentos sociais como autores nas
universidades, no MEC e nos órgãos de
formulação e análise de políticas do
Estado” (Arroyo, 2012, p. 362).
Segundo o Fórum Nacional de
Educação do Campo (FONEC), a política
formação de professores do campo foi
materializada em um período de transição
conhecido como “da crise do latifúndio a
consolidação do Agronegócio”, momento
em que a burguesia latifundiária passava
por ajustes econômicos. Desta forma, é
possível afirmar que a licenciatura em
educação do campo ocupou,
... um “vácuo” de transição de
modelos (ajustes no modelo macro-
econômico brasileiro, capitalista,
neoliberal): entre a crise do latifúndio
e a emergência do agronegócio os
movimentos sociais de luta pela terra
e pela Reforma Agrária ganharam
ímpeto, conquistaram o Pronera e
constituíram a Educação do Campo.
A nova fase na política do capital
para a agricultura, que iniciou com
mais força a partir de 1999, abrindo
um novo ciclo, gerou uma nova
aliança das classes dominantes e um
novo lugar para o campo no projeto
de capitalismo brasileiro, fase que
está nesse momento em plena
vigência e força (Fonec, 2012, p. 5).
Foi nessa conjuntura que o MEC
aprovou o Curso de Educação do Campo
na UFMS no ano 2013 com previsão de
receber os acadêmicos para iniciar o ano
letivo no segundo semestre do mesmo ano,
porém, o Estado brasileiro, por meio de
suas instâncias educacionais, não
conseguiu organizar a contratação de
docentes através de concurso público nem
mesmo oferecer a estrutura física adequada
aos novos alunos. Esse seria o primeiro
fato que comprova a inoperância estatal em
organizar a formação de professores do
campo em Mato Grosso do Sul (MS).
Características do curso de Licenciatura
em Educação do Campo da UFMS
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Cabe mencionar que a
LEDUCAMPO tem como objetivo “...
proporcionar reflexão e debate sobre o
fazer político-pedagógico nas escolas do
campo considerando a diversidade do
universo camponês, equacionando
dificuldades de acesso e de permanência na
escola” (UFMS, 2014, p. 2). Essa
licenciatura tem como Marco Referencial o
Materialismo Histórico Dialético, método
capaz de compreender, criticar e
problematizar a educação escolar rural
concebida política e historicamente pelos
fazendeiros, como processo educativo
limitador no estado de MS.
A justificativa da criação do curso se
deve ao fato de que MS enfrenta problemas
com a falta de formação ou de formação
inadequada de professores especialistas em
educação do campo. Grande parte dos
professores que atuam nas escolas do
campo reside na cidade e não reconhece a
necessidade de uma educação diferenciada
para a população do campo “... que
respeite as especificidades culturais e
históricas como direito social de formação
integral que considere o seu modo de viver
e produzir (UFRB, 2013, p. 04).
Assim, o curso pretende ampliar o
debate sobre a Educação Básica do Campo
e, também, enfrentar as resistências
encontradas para a sua
implantação/implementação, provocadas
pelas marcas da concentração da
propriedade da terra e de violentos
conflitos nos campos sul-mato-grossenses.
A premência de professores que
compreendam esse contexto a ser
transformado, que ultrapassa as questões
pedagógicas e que exige a adesão das
escolas do campo como parceiras nas lutas
enfrentadas pelos trabalhadores da terra.
Essa formação pode ser consolidada com
esse curso, assumido pela UFMS, como
responsabilidade política e social. (UFMS
2014, p. 03).
A LEDUCAMPO faz um
contraponto ideológico com o estado de
MS onde se consolida um modelo de
desenvolvimento econômico estruturado na
pecuária extensiva e na monocultura,
principalmente soja e milho, com vistas à
exportação, em detrimento a produção de
alimentos básicos para consumo interno.
Essa característica é uma herança da
política de créditos agrícolas e dos
incentivos fiscais aos grandes
latifundiários herdada dos governos
militares.
A política militarista acreditava que
as grandes propriedades rurais aliadas à
mecanização eram o caminho para o
desenvolvimento econômico no campo.
Assim, formulou-se uma política fundiária
direcionada apenas para os interesses da
burguesia, desenvolvendo-se sob a égide
da concentração de terras, de riqueza e de
poder.
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A terra é um dos elementos
estruturais da dominação de classe, um
núcleo econômico, estruturante da
sociedade, de modo dinâmico e que não
somente constrói o político, o ideológico e
cultural, mas também determinantes na
organização social vigente. É justo na
propriedade de vastas terras, que boa parte
da elite sul-mato-grossense se forma,
exerce seu domínio, seja originária da
agricultura seja da pecuária ou mesmo de
outras ramificações produtivas, de
serviços, financeiras e construção civil.
A anexação de milhares de hectares
de terras, que teve como principal
desbravador colonos e arrendatários, a
lógica do capital, gerou um processo de
expulsão e expropriação de trabalhadores
rurais do estado de MS, isso porque as
oligarquias fundiárias deixaram de
produzir gêneros alimentícios para se
dedicarem a produzir soja, cana-de-açúcar,
trigo, milho e também à criação de gado de
corte com extensivas pastagens, atividades
que exigiam um menor número de
trabalhadores.
Deste modo, o campesinato sul-
mato-grossense é composto basicamente
por: sem-terra, arrendatário, posseiro,
assalariado, brasiguaios, entre outros. Com
o apoio da Comissão Pastoral da Terra e de
alguns sindicatos de trabalhadores rurais
começaram a questionar o monopólio da
terra e do poder político no estado de MS
que, historicamente, representam os
latifundiários e inicia a luta de resistência
pelo acesso e permanência na terra com o
intuito de romper com a lógica imposta
pelo modelo de desenvolvimento burguês
caracterizado pela exploração,
expropriação e violência.
Dessa resistência e da mobilização
dos trabalhadores rurais surgem às
principais instituições responsáveis por
planejar as ações contra o capital agrário
em MS, como: O Movimento dos
Trabalhadores Sem Terra (MST), a Central
Única dos Trabalhadores no Mato Grosso
do Sul (CUT/MS) e a Federação dos
Trabalhadores na Agricultura do Estado de
Mato Grosso do Sul (FETAGRI/MS).
Essas, com o propósito de enfrentar o
modelo excludente e “... concentracionista
de renda, de terra e de capital, adotado na
economia brasileira e na agropecuária, que
se ancora na cultura latifundista
quinhentista e que conta, historicamente,
com o beneplácito do Estado” (Thomaz Jr.,
2001, p. 01).
O enfrentamento dos movimentos
sociais camponeses, por meio das
ocupações de terras, contra o agronegócio,
foi fundamental para inserir na agenda do
Estado a implantação de projetos de
assentamentos, pois, de outra forma, sem a
pressão dos trabalhadores do campo muitas
famílias não teriam seus lotes para
produzir sua base material. Desse
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enfrentamento surge a necessidade de
políticas que deem condições materiais
para a fixação do camponês em seu
território.
Desta forma, as políticas
educacionais específicas para o campo
foram conquistadas mediante a um
processo de luta e resistência com o
propósito de manter os filhos dos
trabalhadores rurais em seus territórios e
ampliar o acesso ao nível superior onde a
taxa de escolarização é de 3,2%, cinco
vezes menor que a do urbano, 19,8%
(INEP, 2012).
É nessa perspectiva que o Projeto
Político-Pedagógico da LEDUCAMPO foi
estruturado buscando conjugar a luta pelo
acesso à educação superior pública com a
luta contra a tutela política pedagógica
elaborada pelo Estado aliada às
necessidades do mercado.
Nessa Licenciatura o Estado é
compreendido como uma das dimensões
sociais resultante do trabalho (intercâmbio
entre o homem e a natureza), que em
determinado momento histórico gerou a
propriedade privada. O Estado surge como
o elemento organizador das relações
antagônicas nas sociedades de classe.
Como essa forma social de se organizar
vem se perpetuando ao longo da existência
humana, o Estado, que tem seu
fundamento na propriedade privada,
assume historicamente o controle da
ordenação daquelas relações antagônicas,
atendendo, portanto, aos interesses da
classe dominante, conforme o modo de
reprodução de cada forma social até aqui
existente.
Impossível falar da formação
histórica do Estado sem nos remetermos às
explicações de Engels, fundador do
socialismo científico, que juntamente com
Marx abriu caminhos para a crítica da
economia política. Engels (1982) escreveu,
apoiado nos excertos de Marx, a obra “A
origem da família, da propriedade privada
e do Estado”, onde afirma que o Estado
sempre representa a força economicamente
dominante ao auxiliar na subordinação dos
dominados. Na sociedade escravista e
asiática, primeiras formas sociais de
exploração do homem pelo homem, o
Estado se apresenta como organismo que
protege os possuidores dos meios de
produção em detrimento dos não
possuidores.
Nessa linha de raciocínio, de se
concordar que o Estado é o elemento
central na elaboração e execução de
políticas públicas para a educação, em que
o processo de reprodução socioeconômico
é marcado pelas desigualdades na
distribuição e no consumo, sob os
auspícios do Estado. Isso porque, em nossa
sociedade dividida em classes antagônicas,
o Estado se caracteriza por ser um produto
determinado pelas relações de produção
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marcadas pela propriedade privada.
Segundo Marx (2010, p. 59-60), “... o
Estado e a organização da sociedade não
são, do ponto de vista político, duas coisas
diferentes”, ao contrário, “... o Estado é o
ordenamento da sociedade”. De acordo
com o autor, na mesma obra, o Estado “...
repousa sobre a contradição entre vida
privada e pública, sobre a contradição entre
os interesses gerais e os interesses
particulares.”
O Estado é conceituado por
Mészáros (2004) como o cooperador mais
valoroso do Capital. Esse instrumento a
favor da burguesia utiliza-se de várias
instâncias, dentre elas a educação, para
cumprir o papel que lhe cabe como aparato
institucional da ordem burguesa e garantir
o poder de classe. A educação, como uma
das atividades necessárias à construção da
vida social, situa-se na trama de mediações
que a entrelaçam ao complexo da
sociedade de classes.
Nesse viés, que a LEDUCAMPO
vem travando, desde sua criação,
dialogando com os gestores da UFMS na
expectativa de que os mesmos cumpram
com o acordo firmado com o MEC por
meio da Portaria 72, de 21 de dezembro
de 2012, que prevê a liberação de recursos
da matriz orçamentária da UFMS, para a
execução de despesas com contratação de
serviços de pessoa jurídica, locação de
veículos, material de consumo, material
permanente, alimentação, hospedagem,
passagens e diárias para atender às
necessidades de continuidade, ampliação e
realização de etapas do Curso de
Licenciatura Educação do Campo.
Tal compromisso está fora da agenda
da reitoria da UFMS desde o ano de 2015,
quando a referida instituição não abriu o
processo de entrada para novos acadêmicos
por meio de vestibular específico para o
curso de Licenciatura em Educação do
Campo, descumprindo assim com a
Portaria nº 72 que exigia da Universidade o
ingresso de no mínimo três turmas (2014,
2015, 2016) com 150 alunos.
Uma hipótese para essa postergação
é o fato de que a licenciatura em educação
do campo exige mudança de paradigmas
de forma que, os professores deixam de ser
meros capacitores de força de trabalho e
passem a sistematizar e aprofundar os
saberes, os valores e as práticas educativas
que estabelecem uma dinâmica social,
política e cultural com os movimentos
sociais ligados a terra.
Outra questão refere-se à origem
social e política dos alunos, pois, boa parte
deles é militante dos movimentos sociais,
como por exemplo, o Movimento dos
Trabalhadores Sem Terra (MST). Esses
movimentos compreendem que a
radicalidade política, cultural e educativa,
onde “... ser radical é agarrar as coisas pela
raiz, e a raiz para o homem é o próprio
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homem” (Marx, 2005, p. 151) é o ponto de
partida para a luta por uma formação de
educadores do campo que garanta o acesso
à riqueza de práticas que leve em
consideração a sua organização social.
Esse compromisso pedagógico afeta
diretamente o pensamento ideológico dos
gestores da UFMS que historicamente
sempre estiveram ao lado do
agronegócio
iii
.
Recursos financeiros
Para fomentar essa Licenciatura o
Edital SESU/SETEC/SECADI 2
assegurou a UFMS em 2013 o montante de
R$ 600.000,00 (seiscentos mil reais), por
meio de Termo de Cooperação 18832,
entre a UFMS e o FNDE/2013, o que
corresponde a cerca de R$ 4.000,00
(quatro mil reais) por aluno ano. No
entanto, esse recurso foi devolvido ao
FNDE por meio do NC 700286, pois a
UFMS não conseguiu implantar o curso no
ano de 2013 (UFMS, 2014).
No ano de 2014, uma nova remessa
de dinheiro foi enviada a UFMS no valor
de R$ 1.200.000,00 (Um milhão e
duzentos mil reais), montante que assegura
a entrada de duas turmas 2014 e 2015. A
liberação de recurso da Matriz
Orçamentária da UFMS, nos referidos anos
atendeu ao custeio de sete etapas
presenciais ou Tempo Universidade (TU)
com duração de trinta dias distribuídos
durante o ano que foi usado para
hospedagem, alimentação e transporte dos
alunos no campus da Universidade
(UFMS, 2014).
Em cumprimento com o Edital
SESU/SETEC/SECADI nº 2, o MEC
enviou no ano de 2015 a última parcela de
R$ 600.000,00 (seiscentos mil reais),
completando um total de R$ 1.800,00 (Um
milhão e oitocentos mil reais), recurso que
deveria ser destinado à abertura de edital
de vestibular para uma nova turma de
acadêmicos na LEDUCAMPO. Porém, até
o fim do primeiro semestre do ano de 2017
a Universidade não publicou nenhum edital
nesse sentido. Cabe considerar que o
colegiado juntamente com os demais
professores do curso está em constante
negociação com a Reitoria, a fim de que a
mesma assuma definitivamente o referido
curso e lance edital para a aplicação de
vestibular específico, permitindo assim a
continuidade dessa licenciatura.
Com a entrada de apenas 2 turmas, a
LEDUCAMPO começa a ter dificuldades
de completar as horas aulas para os 15
professores. Fato que propicia a
precarização do trabalho docente, pois os
mesmos são obrigados a buscar outros
cursos para ministrar aulas com a
finalidade de completar a carga horária
exigida.
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Aliás, uma das hipóteses que temos a
respeito da implantação do curso de
licenciatura do campo na UFMS foi
assegurar a contratação de 15 professores,
por meio do PROCAMPO, para serem
distribuídos em outros cursos, caso a
LEDUCAMPO não tenha continuidade,
amenizando assim, os problemas que a
Universidade enfrenta com a escassez de
professores.
No momento em que a UFMS deixa
de abrir edital para realização de vestibular
específico para a licenciatura em questão,
ela deixa de cumprir seu objetivo que é
“Desenvolver, difundir e socializar o
conhecimento por meio do ensino, da
pesquisa, da extensão e da prestação de
serviços e promover a formação integral e
permanente dos cidadãos” (UFMS, 2017,
s/p).
Essa omissão, não contribui para
reduzir a taxa de analfabetismo no campo,
que segundo o IBGE (2012), é três vezes
maior do que na cidade, ou seja, enquanto
o meio urbano possui uma população não
alfabetizada de 8,6% no campo essa
população é de 23,7%.
No que se refere à formação de
professores, convém ponderar, que o
acesso dos docentes do meio rural à
educação superior é precário. Segundo
números da Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios (PNAD) de 2007,
61% dos docentes que atuam no ensino
fundamental e médio do campo não
apresentam formação de nível superior.
Esse montante equivale a 178 mil
professores sem formação adequada
(Molina & Sá, 2011).
Nesse sentido, o que se materializa
na manutenção ou extinção do curso da
LEDUCAMPO é a relação entre o Estado,
organismo responsável pela oferta de
educação pública, com os movimentos
sociais ligados à terra, que mediante a sua
mobilização e resistência, conquistaram a
educação que pretende suprir as
necessidades educacionais dos
trabalhadores do campo.
Enquanto esses movimentos sociais
conquistam leis e programas para atender
seus interesses, essas mesmas leis e
programas não dão conta de suprir as
necessidades dos camponeses, pois,
encontram barreiras financeiras,
concessões políticas e ideológicas para que
as ações sejam implementadas ou no caso
da LEDUCAMPO tenha continuidade.
Apesar da UFMS não sinalizar a
abertura de edital para a entrada de mais
uma turma e também não propor a
incorporação efetiva da LEDUCAMPO no
quadro de cursos, acreditamos que os
envolvidos nesse processo, sejam
movimentos sociais, sejam docentes e
alunos, devem continuar elaborando
estratégias de resistência até o momento
em que a reitoria da UFMS cumpra com
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sua parte do acordo firmado com o MEC,
pois, essa formação pode contribuir para
amenizar a desigualdade histórica que se
traduz na extrema fragilidade pedagógica
das escolas no meio rural (Molina, 2015).
Frigotto (2011) acredita que a
omissão da Universidade Pública em
ampliar a educação do campo é decorrente
da estratégia dos organismos internacionais
e do Estado brasileiro que por um lado
incentiva a criação de políticas afirmativas
com o propósito de desviar o foco das lutas
que pretende a reestruturação do ensino
superior público e de outro retira a
autonomia universitária, reduz as verbas
destinadas ao custeio dos cursos. Esse
desmonte tem sido implantado
explicitamente por meio de critérios
estabelecidos pelo mercado “... e de
diversas estratégias de privatização por
dentro das instituições, através de
perversos mecanismos de captação dos
recursos via mercado, retirando cada vez
mais do Estado a obrigação completa de
seu financiamento” (Molina, 2015, p. 154).
O FONEC (2013) acredita que existe
no Brasil uma política de
“empresariamento” da educação através da
entrega da gestão dos recursos públicos e
das instâncias públicas de educação às
Organizações Sociais (OS). Que na
realidade representam os interesses do
capital em seus variados setores, financeiro
industrial e midiático. As fundações
criadas por esses grupos retiram toda a
responsabilidade de oferta da educação
pública do Estado brasileiro e transferem
aos docentes e alunos todos os encargos do
processo de escolarização.
De acordo com Cavalcante (2010):
“O paradoxo talvez, é que a
“educação do campo” ao alcançar o
universo retórico e legalista das
políticas educacionais brasileiras
no século XXI pode não estar de fato
sendo apropriada pelos
(significativos) pedaços do rural que
não se encontram em “movimento”
(este rural ainda sob a lógica da
produção capitalista, muitas vezes
inerte ao mundo de lutas e labutas
dos movimentos sociais em
diferentes cantos do Brasil nos
últimos vinte anos)” (Cavalcante,
2010, p. 01).
Outro ponto que pode inviabilizar os
projetos político-pedagógicos das
licenciaturas em educação do campo é a
possibilidade de retorno às pautas da
educação rural voltada para a formação
técnica esvaziada de conceitos filosóficos,
históricos e sociais visando apenas atender
aos interesses do agronegócio.
Considerações finais
Analisamos nesse texto como se deu
o processo de implantação do curso de
Licenciatura em Educação do Campo da
Universidade Federal de Mato Grosso do
Sul e apresentamos as dificuldades para
sua manutenção e expansão. Até o fim das
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argumentações presentes, o curso não
conseguiu junto à Universidade elaborar e
publicar edital para chamada de novos
acadêmicos, o que, certamente
possibilitaria a manutenção da
LEDUCAMPO na grade de cursos
regulares da UFMS.
Acreditamos que a morosidade do
Estado e de suas Instituições educacionais
em desenvolver ações em prol da
licenciatura em foco, se deve as políticas
de caráter neoliberais que reduzem as
verbas destinadas à expansão dos cursos, o
que afeta diretamente a autonomia das
universidades.
Porém, os fatores ideológicos
decorrentes das características pedagógicas
do curso, que tem na luta de classes o seu
principal ponto de reflexão como o
principal entrave para a expansão da
LEDUCAMPO. Esse tipo de projeto, em
um estado como do MS ligado ao
agronegócio, não pode permanecer na
pauta do Estado.
Assim, podemos concluir que
estamos longe de uma política de formação
de professores do campo, que reflita sobre
as necessidades dos trabalhadores do
campo. Esse distanciamento reflete nas
escolas localizadas no campo, pois, sem
um grupo de gestores e professores, que
compreendam o contexto da luta dos
trabalhadores rurais, não possibilidade
de sensibilizar os gestores municipais e
estaduais para que se inclua na pauta do
Estado um debate sobre a necessidade de
se pensar ações concretas para a educação
dos povos camponeses.
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matematica.html.
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i
O texto em questão foi publicado em forma de
comunicação oral na XIV Jornada do HistedBR
realizada na cidade de Foz do Iguaçu, no ano de
2017. O trabalho passou por revisão teórica, o que
permitiu um aprofundamento de algumas
categorias.
ii
A Pedagogia da Alternância surgiu em meio a um
grupo de camponeses no interior da França em
1935 que procuravam fomentar uma estratégia de
escolarização capaz de manter os filhos vinculados
à família e à propriedade. Assim, surge como uma
proposta pedagógica a alternância de estudos na
tentativa de ser uma proposta de educação
mobilizadora, capaz de incentivar os jovens a irem
à escola, sem terem que deixar o campo e a família.
As primeiras experiências no Brasil aconteceram no
estado do Espirito Santo em 1969 (Nawroski,
2012).
iii
Ao modelo do agronegócio passa a ser
contraposto o modelo agroecológico, pautado na
valorização da agricultura camponesa e nos
princípios da policultura, dos cuidados ambientais e
do controle dos agricultores sobre a produção de
suas sementes (Leite & Medeiros, 2012, p. 87).
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Informações do artigo / Article Information
Recebido em : 29/09/2017
Aprovado em: 26/10/2017
Publicado em: 30/08/2018
Received on September 29th, 2017
Accepted on October 26th, 2017
Published on August 30th, 2018
Contribuições no artigo: O autor foi o responsável por
todas as etapas e resultados da pesquisa, a
saber: elaboração, análise e interpretação dos dados;
escrita e revisão do conteúdo do manuscrito; e aprovação
da versão final a ser publicada.
Author Contributions: The author was responsible for the
designing, delineating, analyzing and interpreting the data,
production of the manuscript, critical revision of the content
and approval of the final version to be published.
Conflitos de interesse: O autor declarou não haver
nenhum conflito de interesse referente a este artigo.
Conflict of Interest: None reported.
Orcid
Jorge Luis D'Ávila
http://orcid.org/0000-0003-1798-4870
Como citar este artigo / How to cite this article
APA
D'Ávila, J. L. (2018). Política de expansão das
licenciaturas em Educação do Campo: desafios para a
implantação do Programa Nacional de Educação do
Campo na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.
Rev. Bras. Educ. Camp., 3(2), 633-648. DOI:
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-4863.2018v3n2p633
ABNT
D'ÁVILA, J. L. Política de expansão das licenciaturas em
Educação do Campo: desafios para a implantação do
Programa Nacional de Educação do Campo na
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Rev. Bras.
Educ. Camp., Tocantinópolis, v. 3, n. 2, mai./ago., p. 633-
648, 2018. DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-
4863.2018v3n2p633
Revista Brasileira de Educação do Campo
The Brazilian Scientific Journal of Rural Education
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Licenciatura em Educação do Campo Área Ciências
Agrárias no IFSULDEMINAS/Campus Inconfidentes
João Batista Begnami
1
, Aloísia Rodrigues Hirata
2
, Luiz Carlos Dias da Rocha
3
1
Associação Mineira das Escolas Família Agrícola - AMEFA. Assessoria Pedagógica. Avenida Olivia Maria de Jesus, n. 1710.
Floramar. Belo Horizonte - MG. Brasil.
2
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Gerais -
IFSULDEMINAS.
3
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Gerais - IFSULDEMINAS.
Autor para correspondência/Author for correspondence: jobabe63@gmail.com
RESUMO. O presente artigo tem como objetivo apresentar um
primeiro esforço de sistematização e análise da experiência de
construção coletiva e interinstitucional e o início da implantação
do Curso de Licenciatura em Educação do Campo - área de
Ciências Agrárias (LECCA), organizado em alternância e no
enfoque agroecológico, no Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Gerais
(IFSULDEMINAS). O Projeto Pedagógico de Curso, assim
como os documentos gerados para a construção desse e para a
implantação do curso e as observações sobre as práticas
pedagógicas iniciais foram as principais fontes de coleta de
dados para a elaboração e análise deste trabalho. A presente
sistematização constitui uma importante estratégia de
visibilidade e reflexão sobre a realidade camponesa e as práticas
político-pedagógicas do LECCA. Essa experiência inspirada nos
paradigmas da Educação do Campo e da Alternância
Pedagógica evidencia um campo ambivalente de desafios e
tensões na institucionalidade acadêmica, mas também traz para
reflexão os potenciais da instituição pública de ensino superior
como lugar de inovação e experimentação dos novos
paradigmas de construção do conhecimento científico,
comprometidos com um novo projeto de escola, campo e
sociedade.
Palavras-chave: Formação de Educadores do Campo,
Pedagogia da Alternância, Agroecologia.
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Course Degree in Rural Education Area Agricultural
Sciences in the IFSULDEMINAS/Campus Inconfidentes
ABSTRACT. The present article aims to present a first effort to
systematize and analyze the experience of collective and
interinstitutional construction and the beginning of the
implementation of the Licentiate Course in Rural Education -
Agricultural Sciences area (LECCA), organized in alternation
and agroecological approach, at the Federal Institute of
Education, Science and Technology of the South of Minas
Gerais (IFSULDEMINAS). The Pedagogical Course Project, as
well as the documents generated for the construction of this and
for the implementation of the course and the observations about
the initial pedagogical practices were the main sources of data
collection for the elaboration and analysis of this work. The
present systematization constitutes an important strategy of
visibility and reflection on the peasant reality and the politico-
pedagogical practices of LECCA. This experience inspired by
the paradigms of Rural Education and Pedagogy of Alternation
evidences an ambivalent field of challenges and tensions in
academic institutions, but it also brings to reflection the
potential of the public institution of higher education as a place
of innovation and experimentation of the new paradigms of
construction of the scientific knowledge, committed to a new
project of school, rural and society.
Keywords: Formation of Rural Educators, Pedagogy of
Alternation, Agroecology.
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Licenciatura en Educación del Campo Área Ciencias
Agrarias en el IFSULDEMINAS/Campus Inconfidentes
RESUMEN. El presente artículo tiene como objetivo presentar
el primer esfuerzo de sistematización y análisis de experiencia
en la construcción colectiva e institucional del inicio de la
implementación del curso de Licenciatura en Educación del
Campo - área de Ciencias Agrarias (LECCA), organizado en
alternancia y con enfoque agroecológico en el Instituto Federal
de Educación, Ciencia y Tecnología del Sur de Minas Gerais
(IFSULDEMINAS). El proyecto Pedagógico del Curso, así
como los documentos generados para la construcción de éste y
para su implementación, fueron los principales instrumentos de
recolección de datos para la elaboración y el análisis del trabajo.
La presente sistematización constituye una importante estrategia
de visibilidad y reflexión sobre la realidad campesina y las
prácticas político-pedagógicas de LECCA. Esta experiencia
inspirada en los paradigmas de la Educación del Campo y de la
Alternancia Pedagógica, es un campo ambivalente de desafíos y
tensiones, pero también de reflexión sobre los potenciales de la
educación pública, de la enseñanza superior como lugar de
innovación y experimentación, de los paradigmas de
construcción, de conocimiento científico, comprometidos con un
nuevo proyecto de escuela, de campo y sociedad.
Palabras clave: Formación de Educadores del Campo,
Pedagogía de Alternancia, Agroecología.
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Ponto de partida
“Amar o campo, ao fazer a
plantação, não envenenar o campo é
purificar o pão. Amar a terra, e nela
plantar semente, a gente cultiva ela,
e ela cultiva a gente.”
(Zé Pinto)
Este artigo apresenta um primeiro
esforço de sistematização e análise da
experiência de construção coletiva,
interinstitucional e o início da implantação
do Curso de Licenciatura em Educação do
Campo - área de Ciências Agrárias
(LECCA), organizado em alternância e no
enfoque agroecológico, no Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
do Sul de Minas Gerais
(IFSULDEMINAS), cujo início das aulas
com a primeira turma se deu em março de
2017. Trata-se da turma caçula das
licenciaturas do gênero no Brasil e, por ser
uma experiência em processo de
desenvolvimento, cuja construção ainda se
encontra bem no início, colocam-se os
limites para sua análise, embora sua
socialização se faça necessária para lhe
conferir visibilidade, articulação e força
política em conjunto com as demais
Licenciaturas em Educação do Campo e
sua consolidação na institucionalidade
acadêmica.
A pesquisa para este trabalho tem
como fontes para a análise o Projeto
Pedagógico de Curso (PPC), os
documentos gerados no processo da sua
elaboração, como cartas, relatórios de
reuniões, seminários, assembleias, atas,
pareceres, resoluções relativas ao processo
de tramitação, as comunicações internas do
grupo de trabalho criado para elaborar o
Projeto e os próprios sujeitos envolvidos
no acompanhamento e no processo de sua
implementação, bem como os estudantes
que cursam o LECCA.
A análise dessa experiência é
referenciada em uma reflexão teórica e
metodológica inspirada em Hollidey
(2006), Sánchez Vásquez (2007) e Paulo
Freire (1983). Hollidey (2006) afirma que
a “sistematização de experiências” é uma
das metodologias que mais se aproxima da
valorização dos conhecimentos gerados e
vivenciados por coletivos e comunidades
em geral. Trata-se de um exercício de
observação, registro e análise a partir de
práticas e experiências do real que
apresentam “processos sociais dinâmicos
em permanente movimento; processos
complexos em que se inter-relacionam, de
forma contraditória, um conjunto de
fatores objetivos e subjetivos”, conforme
Hollidey (2006, p. 21). Para esse autor,
uma diferenciação desta para outras
práticas de sistematização, pois o que se
deve pôr no jogo é um processo de
reflexão com a intenção de uma produção
teórica vinculada à prática e comprometida
em transformá-la. Essa ideia nos remete ao
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conceito de práxis na perspectiva
transformadora da realidade social: “...
Isolado da prática, não conhecimento
(ou pensamento verdadeiro). Mas se não há
conhecimento sem prática, tampouco
prática sem pensamento, que é uma
atividade humana orientada para um fim,
consciente” (Sánchez Vásquez, 2007, p.
211). Arrematando essas ideias, Paulo
Freire traduz a práxis humana no
“quefazer”
Mas, se os homens são seres do
quefazer é exatamente porque seu
fazer é ação e reflexão. É práxis. É
transformação do mundo. E, na razão
mesma em que o quefazer é práxis,
todo fazer do quefazer tem de ter
uma teoria que necessariamente o
ilumine. O quefazer é teoria e
prática. É reflexão e ação. Não pode
reduzir-se ao verbalismo, nem ao
ativismo (Freire, 1983, p. 145).
Freire (1983) quer afirmar que não se
faz transformação no mundo somente com
“verbalismo”, nem tampouco com o
“ativismo”, mas com práxis, ação e
reflexão incidindo sobre o que se
transformar na realidade.
A iniciativa do curso LECCA nasceu
de uma demanda social apresentada ao
IFSULDEMINAS pela Associação
Mineira das Escolas Família Agrícola
(AMEFA), entidade civil, sem finalidade
econômica, que representa 21 Escolas
Famílias Agrícolas (EFAs) em Minas
Gerais. Para efetivação da demanda, foi
constituído um grupo de trabalho
interinstitucional, o qual construiu o PPC e
trabalhou na sua tramitação burocrática
para autorização do novo curso.
A AMEFA foi uma das organizações
sociais a integrar o cenário dos
movimentos sociais no âmbito nacional e
estadual pela Educação do Campo. Atuou
como uma das promotoras na realização do
primeiro Seminário da Educação no Estado
de Minas Gerais, ocorrido em junho de
1998, em vista da preparação da I
Conferência Nacional “Por uma educação
básica do campo”, realizada em julho do
mesmo ano, em Luziânia/GO (Cedefes,
1999). Participou também da II
Conferência Nacional “Por uma Política
Pública de Educação do Campo”, realizada
em agosto de 2004, no mesmo local. É
uma das fundadoras da Rede Mineira da
Educação do Campo e parceira na
construção do Projeto Político-Pedagógico
da segunda turma do curso de Licenciatura
em Educação do Campo (LECAMPO),
organizado pela Faculdade de Educação
(FAE), da Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG).
A demanda apresentada ao
IFSULDEMINAS estava qualificada com
esse acúmulo de vivências da luta pela
Educação do Campo e da prática da
Pedagogia da Alternância nas EFAs no
Estado de Minas Gerais e no Brasil.
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No IFSULDEMINAS, ações
envolvendo juventude rural e projetos de
extensão agroecológica promoveram a
aproximação inicial da instituição com
demandas das comunidades rurais. Em
decorrência dessa aproximação, surgiram
iniciativas no Campus Inconfidentes (curso
Técnico em Agricultura pelo Pronatec
Campo para jovens agricultores do
município de Brazópolis-MG) e no
Campus Machado (Técnico em
Agropecuária para agricultores ligados ao
movimento dos trabalhadores rurais sem
terra do município de Campo do Meio-
MG). Esses espaços abriram caminhos
para as discussões iniciais entre o Instituto
Federal e a AMEFA e resultaram na
criação do LECCA no Campus
Inconfidentes, após intensas discussões
para construção e aprovação de um projeto
político-pedagógico do curso que
atendesse à demanda apresentada.
O Curso LECCA se coloca frente ao
desafio da urgente necessidade de
formação de educadores para as escolas do
campo, em uma perspectiva crítica e
emancipatória dos sujeitos. Seu PPC, como
descreveremos a seguir, baseado na
metodologia da Alternância, nos
pressupostos da Educação do Campo, da
Pedagogia Freiriana e da Agroecologia,
concebe uma proposta político-pedagógica
comprometida em habilitar educadores e
agentes de transformação social para atuar
nas comunidades camponesas.
O projeto pedagógico do curso LECCA
Os caminhos percorridos para a
construção do Projeto
O PPC-LECCA foi uma construção
coletiva, compartilhada por representantes
da AMEFA e do IFSULDEMINAS, por
meio de um grupo de trabalho (GT)
interinstitucional, formalizado para essa
tarefa. Entre o processo de elaboração e
tramitação para autorização final do curso
foram dois anos (2015-2016), com muitas
idas e vindas, muitos debates, muitas
colaborações e persistências de ambas as
instituições envolvidas.
Sendo um curso novo, diferenciado
pelas especificidades de sua organização
curricular e pedagógica, baseada na
modalidade de alternância, foi
determinante a participação efetiva da
equipe técnica da AMEFA, demandante
também nele interessada. A AMEFA traz
sua experiência prático-teórica da
Pedagogia da Alternância vivenciada na
educação básica e profissional das EFAs e
a incorpora, de forma apropriada, no PPC-
LECCA. No âmbito das EFAs, ocorreram
reuniões entre a Equipe Pedagógica
Regional, a Diretoria Executiva e o
Conselho de Administração para debater,
aprofundar e deliberar vários aspectos de
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interesse, inerentes à construção da
proposta desejada para o curso.
Enquetes foram realizadas com as
EFAs para levantar disciplinas de maior
interesse; identificar a melhor forma de
funcionamento das alternâncias, como
tempos de funcionamento das sessões-
escolares no IFSULDEMINAS e tempos
de funcionamento das estadias
socioprofissionais nas EFAs e nas
comunidades de origem dos estudantes;
perfil dos candidatos; critérios para o
processo da seleção, entre outras questões,
por exemplo, a participação efetiva das
EFAs, da AMEFA e dos próprios
estudantes na contribuição social para o
funcionamento do curso.
A construção do PPC-LECCA bebeu
na fonte das experiências das Licenciaturas
em Educação do Campo em curso no país.
O GT pesquisou cuidadosamente artigos,
teses, dissertações e diretamente os PPCs
de diversas licenciaturas, em especial do
LECAMPO, da Universidade Federal de
Minas Gerais; da Licenciatura em
Educação do Campo (LEC), da
Universidade Federal dos Vales do
Jequitinhonha e Mucuri; da Licenciatura
em Educação do Campo (LEDOC), da
Universidade de Brasília; do Curso
Especial de Ciências Agrárias ofertado
pela Universidade Estadual do Amapá, que
atendeu à demanda de jovens egressos das
Escolas Famílias daquele estado e da
Licenciatura em Educação do Campo, na
área de Ciências Agrárias, ofertada pela
Universidade Federal do Recôncavo da
Bahia. Essas licenciaturas consultadas
serviram de inspiração, sendo que as duas
últimas experiências nos ajudaram pela
aproximação maior com as especificidades
da área de Ciências Agrárias e,
especialmente, com a modalidade da
Alternância.
Por que o Curso LECCA
A exposição de motivos que justifica
a inovação na criação deste novo curso
encontra sua base de apoio na necessidade
de universalização e de ampliação do
acesso e do atendimento em todos os níveis
educacionais mencionados entre as metas
do Plano Nacional da Educação para o
decênio 2011-2020, bem como no
incentivo à formação inicial e continuada
de professores e profissionais da educação
em geral. Nesse sentido, pode-se afirmar
que a escassez de formação de educadores
do campo, na perspectiva da Educação do
Campo, tem contribuído para a falta de
escolas no e do campo.
Historicamente, as Licenciaturas em
Educação do Campo vêm se consolidando
no país por forças políticas dos
movimentos sociais do campo, em uma
perspectiva estratégica de fortalecer a luta
por essa educação e as demais lutas
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necessárias para a ampliação da reforma
agrária e o fortalecimento de outro projeto
de campo e sociedade. Percebe-se neste
contexto das licenciaturas a oferta
hegemônica de habilitação nas áreas
correspondentes à educação geral; a área
de Ciências Agrárias, por exemplo, está
quase ausente nas ofertas dessa modalidade
emergente de formação. A forte presença
da agricultura familiar e camponesa, a
carência de escolas de ensino médio e
técnico-profissional na área de agrárias no
campo bem como a necessidade de
educadores/as habilitados/as nessa área e
com perfil para atuarem com a agricultura
camponesa no âmbito das Escolas Famílias
Agrícolas constituem desafios que
justificam a criação e a abertura do Curso
LECCA.
Intencionalidades e perfil desejado para
o profissional habilitado em Ciências
Agrárias
O Curso LECCA tem por finalidade
oferecer uma habilitação plena em
Educação do Campo, na área de Ciências
Agrárias, na modalidade de alternância,
visando habilitar profissionais das Ciências
Agrárias para atuar na docência nos anos
finais do ensino fundamental, ensino
médio e profissional técnico em
agropecuária, bem como em espaços
formativos não escolares. A demanda da
primeira turma tem por objetivo graduar
educadores das EFAs de Minas Gerais,
para a docência nas EFAs e atuarem como
agentes de desenvolvimento sustentável e
solidário da Agricultura Familiar nas
regiões onde essas escolas estão inseridas.
Assim, a oferta da primeira turma
com 40 vagas visa atender a um público
específico, ou seja, monitores/educadores
das EFAs, que atuam sem habilitação
exigida para a docência na área da
agropecuária. Esse público inicial,
portanto, é formado, em sua maioria, por
sujeitos envolvidos em processos
educativos em uma unidade escolar
específica. Quando não, eles são egressos
de EFAs e possuem perspectivas de serem
educadores nessas escolas.
O Curso LECCA, assim como as
Licenciaturas em Educação do Campo em
geral, coloca-se na esteira das políticas
afirmativas, pois cumpre um papel social
relevante ao atender a uma dívida histórica
com o campesinato brasileiro e,
consequentemente, com a educação
apropriada a esse público.
As intencionalidades expressas no
PPC evocam ainda outras finalidades
consideradas fundamentais para a
formação de educadores críticos,
qualificados técnica e politicamente para
atuarem com agricultores familiares
camponeses na perspectiva da
agroecologia. Por isso, deseja-se qualificar
pessoas com perfis profissionais que se
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identificam, em especial, com as lutas e as
causas do campo e que se comprometam
ética e politicamente com os sujeitos que
habitam e que lutam por um campo, em
sua diversidade, justo, solidário e digno de
se viver. Para tanto, a proposta curricular
traz a preocupação de promover
conhecimentos, habilidades e posturas
comprometidas com o desenvolvimento
sustentável, tendo em vista um novo
projeto de escola, de campo e sociedade,
defendido pelos povos campesinos
organizados. Por conseguinte, o curso se
insere na lógica do campo como lugar de
vida, de produção de cultura, de saberes e
de sentidos, o qual se contrapõe ao campo
do agronegócio, que considera a terra e o
que nela se produz como mera mercadoria
e objeto de exploração de riquezas, com
valor de troca e não de uso.
Processo seletivo, dados e expectativas
dos estudantes da 1ª turma
Os/as estudantes da primeira turma
foram selecionados/as por meio de edital
público especial. Os/as inscritos/as para o
processo seletivo deveriam atender aos
seguintes critérios: a. ter o Ensino Médio
completo; b. estar atuando como educador
em escolas do campo; c. ser jovem egresso
de EFAs; d. ter algum vínculo com
agricultura familiar. O edital previa ainda
que os/as candidatos/as apresentassem os
seguintes perfis desejáveis: a. ser
Técnico/a em Agropecuária,
prioritariamente, egresso de uma EFA e b.
ter a perspectiva de atuar como educador/a
na EFA ou em escolas do campo. Em
suma, para a primeira turma, o projeto teve
um foco na formação de educadores para
atuarem com a educação profissional na
área de Agrárias nas EFAs.
Em uma pesquisa realizada na
primeira semana de aula com 36 dos 40
estudantes selecionados para identificar
dados socioeconômicos desses, assim
como conhecer suas expectativas,
constatou-se tratar de uma turma formada
por jovens, majoritariamente do sexo
masculino, com idade entre 18 e 31 anos,
sendo 69% na faixa etária de 18 a 25 anos.
São oriundos do meio rural de diversas
regiões do Estado de Minas Gerais, tendo
vínculos formais ou informais com as
diferentes EFAs espalhadas no estado.
Suas expectativas ao ingressar no LECCA
estavam relacionadas ao desejo de acessar
um curso superior na área de Ciências
Agrárias a fim de melhorar sua formação
teórica e prática para atuar como educador
em escolas do campo, como as EFAs, ou
em outros espaços formativos não
escolares, contribuindo para o
desenvolvimento pessoal, familiar e da
comunidade onde vivem.
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Quadro 1 - Regiões de origem e o número dos estudantes.
Regiões
Nº de Jovens
Zona da Mata
13
Vale do Jequitinhonha
10
Norte de Minas
5
Noroeste de Minas
2
Vale do Mucuri
2
Sul de Minas
2
Centro Oeste de Minas
2
Região Central de Minas
2
Fonte: Pesquisa dos autores, 2017.
Percebe-se que o perfil dos
estudantes do curso LECCA retrata
também o perfil dos estudantes das EFAs
do Estado de Minas Gerais, que atendem,
em sua maioria, jovens do sexo masculino
oriundos do campo. As regiões de origem,
por sua vez, apresentam uma relação direta
com a presença das EFAs no Estado e, de
acordo com dados da AMEFA, têm maior
concentração na Zona da Mata e Vale do
Jequitinhonha, com sete EFAs em cada
uma dessas regiões. As expectativas
expressas pelos jovens estudantes da turma
pesquisada corroboram as
intencionalidades expressas no PPC do
Curso.
Referenciais teóricos e metodológicos do
Curso LECCA
O PPC, a organização do trabalho
pedagógico e as práticas pedagógicas
implementadas no fazer cotidiano
problematizam o modelo de
desenvolvimento rural na lógica do capital,
hegemônico e em expansão, e as bases
epistemológicas em curso nas Ciências
Agrárias no país que dão suporte a esse
modelo. Na contra-hegemonia,
apresentam-se os novos paradigmas que
sustentam a lógica da produção e
reprodução camponesa, colocada em
evidência pelos movimentos sociais do
campo, pelas lutas em torno da Reforma
Agrária, da Educação do Campo e da
Agroecologia. Agroecologia e Educação
do Campo são ações de movimentos com
princípios e sujeitos comuns que se
vinculam em suas bases.
Segundo afirmativa de e Molina
(2014, p. 91), “O modo de construção do
conhecimento que tem prevalecido nas
Ciências Agrárias do Brasil pode ser
considerado como um dos fatores que
contribuíram para a consolidação do atual
modelo de desenvolvimento dominante no
campo.” Essas autoras sustentam ainda
que:
no campo das Ciências Agrárias - o
que orienta a formação de uma
grande diversidade de profissionais -
o principal problema decorrente do
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atrelamento a um modelo único de
desenvolvimento como referência
para a definição de orientações
teóricas e práticas é a
incompatibilidade do processo de
formação desses profissionais face às
necessidades sociais e educacionais
dos agricultores familiares e dos
trabalhadores do campo. Essas
questões são comumente ignoradas
nos currículos de tais cursos, em
favor de uma concepção de
desenvolvimento tecnológico
estritamente voltada para a expansão
dos grandes capitais no campo (Sá &
Molina, 2014, p. 91).
O problema da formação
ideologicamente comprometida com o
modo capitalista de produção no campo
condiciona uma prestação de serviço
inadequado aos contextos da produção
camponesa. Por isso, tem-se o déficit de
profissionais que atendem às
especificidades da demanda de assistência
técnica aos Assentamentos de Reforma
Agrária e aos agricultores familiares.
O curso em análise busca criar
espaços institucionais para a germinação
de mudanças nas práticas docentes das
Ciências Agrárias e em alternativas de
construção do conhecimento na
perspectiva dos problemas emergentes da
lógica da produção camponesa. Nesse
sentido, o curso quer reforçar a agricultura
camponesa e apoiar-se em referenciais que
fortaleçam a compreensão do movimento
do real na sociedade, movida pela força do
capital, na perspectiva de uma práxis
emancipatória dos sujeitos do campo. Para
tanto, os fundamentos da Educação do
Campo, da Pedagogia do Oprimido, da
Pedagogia da Alternância e da
Agroecologia são necessários como
suportes teóricos, metodológicos e
epistemológicos.
Originalmente a categoria Educação
do Campo emerge das lutas dos
movimentos sociais do campo,
principalmente, aqueles envolvidos com a
Reforma Agrária popular. Essas lutas se
expressam no final do século XX e início
do XXI em um conjunto de políticas
públicas voltadas para a agricultura
familiar camponesa em contraponto ao
agronegócio. O Programa Nacional de
Educação na Reforma Agrária
(PRONERA) representa, pois, um dos
principais exercícios de política pública e
um laboratório de práticas educativas
inovadoras que deram origem ao debate da
Educação do Campo no Brasil,
alavancando-a. O PRONERA foi uma
dessas conquistas que veio fortalecer a
concepção inovadora de Educação do
Campo, vinculada à gica camponesa de
produção e reprodução da vida,
possibilitando o acesso à educação como
direito dos povos do campo. Conforme
Caldart,
as raízes constitutivas da Educação
do Campo são basicamente as
seguintes (apenas para relembrar):
- seu vínculo orgânico com
movimentos sociais camponeses /
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organizações de trabalhadores do
campo: nosso vínculo é com o
projeto histórico da classe
trabalhadora;
- sua raiz no trabalho do campo e na
diversidade de seus sujeitos, suas
formas, sua cultura; sua inserção
política e teórica no âmbito da
questão agrária e suas relações: nosso
lado é o da agricultura camponesa e
não o do “agronegócio”;
- seu compromisso com uma
determinada concepção de educação
que a vincula com um projeto de
formação humana; nos associamos à
tradição pedagógica que construiu
uma visão alargada e emancipatória
de educação e de escola; e uma visão
relacional de conhecimento, que o
entende como parte de uma
totalidade formativa, ingrediente da
práxis: compreensão e transformação
do mundo (Caldart, 2017, p. 5).
As lutas, as formas de organização,
os processos educativos e as necessidades
em geral dos sujeitos do campo
constituem, pois, a materialidade
fecundante do desenvolvimento da
formação dos docentes do campo e
demarcam o que se entende como eixo
material desse projeto, uma vez que a “...
Educação do Campo é indissociável da luta
pela terra, da luta pela Reforma Agrária.
Democratização da terra, com a
democratização do acesso ao
conhecimento” (Molina, 2009, p. 189
citado por Antunes-Rocha, Diniz &
Oliveira, 2011, p. 22). Nessa perspectiva, o
PPC-LECCA se compreende vinculado à
classe trabalhadora do campo, espaço vital
onde estão situadas as EFAs, demandantes
desse curso.
O compromisso do curso concretiza-
se numa perspectiva de escola que se
articula com os projetos sociais e
econômicos do campo, que cria uma
conexão direta entre formação e
produção, entre educação e
compromisso político. Uma escola
que, em seus processos de ensino e
de aprendizagens, considera o
universo cultural e as formas próprias
de aprendizagens dos povos do
campo, que reconhece e legitima
esses saberes construídos a partir de
suas experiências de vida. Uma
escola que se transforma em
ferramenta de luta para a conquista
de seus direitos como cidadão
(Antunes-Rocha, Diniz & Oliveira,
2011, p. 23).
Paulo Freire aponta caminhos para
repensar a formação do novo
“extensionista”, o educador do campo.
Entre outros de seus tantos escritos,
destacam-se as obras: “Extensão ou
Comunicação?” e “Pedagogia do
Oprimido”, na qual critica a transmissão do
conhecimento unilateral, segundo uma
lógica “bancária”, do técnico para o
camponês, e propõe a gica da
“dialogicidade dos saberes” entre técnicos
e agricultores (Freire, 1982; 1983). Neste
sentido, a reflexão de Paulo Freire é de
fundamental importância para fazermos o
contraponto ao caráter antieducacional da
extensão traduzida em invasão cultural por
uma capacitação tecnicista, dissociada e
desrespeitosa em relação à cultura dos
sujeitos do campo. Historicamente, tal
procedimento teve como consequência a
total colonização do modelo camponês, ou
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seja, a quebra da autonomia da produção
familiar, a submissão a um conjunto de
saberes alheios e o processo de perda de
suas terras e do seu território, conforme
Fernandes (2008).
Construir um curso embasado na
Pedagogia da Alternância permite que os
estudantes trabalhem e estudem e, além
disso, que o mundo do trabalho, a
produção e a reprodução da vida se tornem
princípios educativos do processo
formativo (Pina, 2017). Do ponto de vista
da construção do conhecimento, a
Pedagogia da Alternância aproxima-se dos
princípios da Educação do Campo quando
afirma que a produção do conhecimento
deve partir da realidade concreta,
utilizando metodologias coerentes que
conduzam a uma análise teórica crítica sem
cair em isolamentos e fragmentações,
buscando o processo de síntese e
analisando os fenômenos singulares
integrados a uma totalidade, conforme e
Molina (2014).
A Alternância em seu caráter
metodológico e pedagógico potencializa o
movimento dialético entre os tempos e
espaços formativos que ocorrem entre a
sessão escolar e a estadia socioprofissional,
isto é, o tempo/espaço no
IFSULDEMINAS e o tempo/espaço de
trabalho na escola do campo e de vivências
na comunidade. Ela enseja,
metodologicamente, um modo apropriado
de construção de conhecimentos
integrando teoria e prática, está fundada na
epistemologia dialógica, envolvendo um
conjunto complexo de sujeitos:
educadores, educandos, familiares,
educadores do campo, lideranças,
movimentos e organizações sociais e
comunidades organizadas do campo. o
pressuposto de uma práxis crítica que
busca conhecer a complexa realidade com
a ajuda dos conhecimentos científicos
formais, valorizando os saberes locais,
experienciais e populares, ressignificando-
os e buscando a compreensão da realidade
e suas múltiplas determinações para agir
sobre ela com o compromisso de
transformá-la.
Pedagogicamente, a alternância
potencializa outros espaços e tempos
formativos para além da escola. A
comunidade, a família, a escola do campo,
o trabalho em geral e a vida constituem
“cadinhos” de formação, conforme
Gimonet (2007). Com isso, a escola do
campo e as comunidades camponesas
integram-se ao currículo como mediação
pedagógica, possibilitando a imersão dos
alternantes nas mais diversas questões
concretas que envolvem o campo. Muda-se
a lógica da comunidade como campo
apenas de extensão e difusão, passando
para um território de ensino e troca de
saberes.
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A Agroecologia é parte integrante do
curso, sendo compreendida em seu caráter
de conhecimento de natureza
multidisciplinar, que pode contribuir para
práticas e concepções da agricultura
ecológica e sustentável (Caporal,
Costabeber & Paulus, 2011). Sob uma
compreensão mais ampliada, a
Agroecologia é apresentada em seu caráter
tridimensional como ciência, prática e
movimento social e político, de modo que
esses componentes participam fortemente e
de maneira recíproca na construção do
conhecimento agroecológico (Toledo,
2012 citado por Hirata, 2016).
O Plano de Formação
O Plano de Formação do Curso
LECCA organiza o currículo em uma
lógica de habilitação, de nível superior,
destinado a pessoas que não possuem
graduação nem possibilidades de
frequentar uma universidade regularmente.
A apropriação de conteúdos e
metodologias em um processo de
valorização da práxis engendrada na
história de vida dos/as educadores/as do
campo, em diálogo com os saberes
científicos formais da academia, apresenta-
se como um dos grandes desafios nessa
proposta de formação. Dessa forma, na
elaboração do currículo, seus princípios e
práticas foram balizados conforme o ítem
das intencionalidades e perfis desejados
para o profissional habilitado nas Ciências
Agrárias. Quais conteúdos e metodologias
trabalhar para formar o novo profissional
das Ciências Agrárias com o perfil
necessário demandado hoje pela
agricultura camponesa? A definição desses
princípios e práticas se deu a partir de
algumas questões-chave a serem
observadas: quais as reais necessidades
vivenciadas pelas escolas camponesas nas
quais os educandos atuam; quais
habilidades conceituais, tecnológicas,
políticas, metodológicas e relacionais são
necessárias para a construção de uma
identidade de educador do campo; como
ressignificar e potencializar o projeto
político-pedagógico das EFAs e das
escolas do campo em geral; quais
processos de aprender e ensinar são
necessários para romper com a lógica
bancária de construção do conhecimento,
conforme Freire (1983). Essas questões
desafiaram a construção dos eixos
formadores contidos na matriz curricular
do curso.
A matriz tem uma estrutura
organizada em três eixos formadores: o
eixo da Formação Específica na Área de
Ciências Agrárias, da Formação
Pedagógica e da Formação Integradora.
O eixo de Formação Pedagógica (em
Ciências da Educação) se refere aos
estudos básicos, ou seja, os fundamentos
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da educação na área das ciências humanas
e sociais, sendo elas as teorias
pedagógicas, a gestão escolar, a filosofia, a
psicologia, a história da educação e das
políticas educacionais, a Educação do
Campo, a Pedagogia da Alternância, a
antropologia das sociedades indígenas e
afrodescendentes, a sociologia e a língua
brasileira de sinais. Este eixo é
fundamental para o desenvolvimento da
base de formação social e política e das
metodologias participativas de abordagem
com os camponeses em suas comunidades,
organizações e serviços de assistência
técnica e extensão rural, buscando
desenvolver uma nova visão de mundo e a
construção do conhecimento na
perspectiva dialógica, seja em situações
escolares e não escolares.
O eixo de Formação na Área
corresponde aos estudos específicos das
Ciências Agrárias, incorpora as áreas de
conhecimento da produção vegetal e
produção animal, da infraestrutura
agrícola, da produção agroindustrial, da
economia, da administração, da
organização social e produtiva na
agricultura familiar. Engloba ainda a
comercialização, a agroecologia, a
sociologia e a extensão rural. Neste eixo, o
propósito do PPC-LECCA é relacionar os
conhecimentos técnicos com os das
ciências humanas, tomando a Agroecologia
como uma das matrizes articuladoras. Esse
processo da relação interdisciplinar conta
com as mediações pedagógicas
dinamizadas pelo eixo da formação
integradora.
O eixo Formação Integradora tem a
função de dinamizar os mediadores
pedagógicos, potencializar a
interdisciplinaridade, tendo a realidade
como ponto de partida e de chegada do
processo de ensino e aprendizagem. A
proposta é romper com a lógica acadêmica
do ensino-pesquisa-extensão para
extensão-pesquisa-ensino.
O currículo ainda contempla as
temáticas da diversidade, incluídos os
temas relações étnico-raciais, cultura afro-
brasileira e indígena, língua brasileira de
sinais, educação ambiental, educação em
direitos humanos, políticas afirmativas,
entre outros.
A Agroecologia é apresentada não
somente como uma matriz tecnológica de
produção agropecuária, na perspectiva da
sustentabilidade dos agroecossistemas, mas
como uma ciência e um movimento
político que incorpora equidade de gênero,
questões geracionais, especialmente da
juventude, e étnico-raciais, economia
solidária, soberania e segurança alimentar
e nutricional, o que constitui um
movimento complexo que deverá transitar
de forma transversal e ecologizar todo o
PPCLECCA.
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O trabalho pedagógico neste início
do curso tem revelado como desafiadora a
intenção de ecologização do currículo. Isso
tem como consequência a necessidade de
uma equipe docente bem articulada e
comprometida com o Projeto. Esse aspecto
aponta para a necessidade de estudos,
planejamentos, avaliações e o replanejar
contínuos.
A Alternância como princípio
metodológico e pedagógico coloca o
desafio do trabalho coletivo entre os
docentes. Se a vida possui dimensão
formadora, como integrá-la ao currículo
escolar? Para isso, a alternância se baseia
na epistemologia da práxis transformadora,
ou seja, no método dialético da ação-
reflexão-ação, colocando a experiência
como prioritária no processo educativo, de
modo que a produção do conhecimento
tenha como seu ponto de partida e também
de chegada a realidade concreta dos
sujeitos. Esse movimento depende de
“mediadores didático-pedagógicos” (Jesus,
2011), para desenvolver uma formação
contínua na descontinuidade das
atividades, dos espaços e dos tempos entre
escola e meio.
Mediadores nas temporalidades e nas
espacialidades formativas princípio da
alternância
A operacionalização de uma matriz
curricular na perspectiva de Alternância
requer cuidados com o desenvolvimento de
mediadores pedagógicos ou recursos
didáticos específicos que possibilitam a
“pedagogização” da alternância, segundo
Nosella (2012, p. 51). Eles mediam as
relações teoria e prática, estudo e trabalho,
orquestrando as atividades educativas para
que a formação se constitua em uma
unidade formativa integral. O PPC-
LECCA apropria-se de alguns dos
mediadores didáticos utilizados nas EFAs e
cria outros e os compreende como
ferramentas que ajudam a gerir a
“dimensão multidimensional e complexa
da alternância”, que, segundo Gimonet,
(2007, p. 122),
... quer contemplar finalidades
ambiciosas; ela nega os isolamentos,
as simplificações e os reducionismos;
ela é uma pedagogia da relação; ...
ela tece elos de relações humanas, ela
implica uma cooperação, uma
parceria; ela permite viver
aprendizagens em continuidade
(experiências e científico-prático e
teórico-profissionais e gerais...).
Neste sentido, a Alternância precisa
mobilizar mediadores que possam ser
classificados como aqueles de orquestração
do conjunto da formação; de pesquisa,
relações de saberes e da articulação escola-
comunidade; de acompanhamento, registro
e avaliação; de vida coletiva; de
comunicação e de instrumentalização e
inserção social e profissional.
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A mediação dos arranjos formadores
compreende a estruturação curricular com
os conteúdos disciplinares ou por áreas, os
temas geradores etc., planificados com
uma ritmização das sequências de
alternância no tempo e no espaço,
apropriada aos sujeitos. Entende-se a
ritmização das alternâncias como
sequências alternadas apropriadas, que
constituem uma mediação pedagógica
importante, cadenciada nas medidas das
condições de acesso e frequência dos
sujeitos jovens e adultos que trabalham
como educadores de EFAs ou diretamente
no campo.
Os alternantes participaram na
definição das sucessões de idas e vindas
ajustando o tempo de formação ao tempo
de trabalho. O LECCA compreende a
alternância como sucessão de espaços e
tempos, mas também, sobretudo, como
interação dialética e epistemológica desses
âmbitos; assim dão-se o tempo/espaço no
IFSULDEMINAS Campus
Inconfidentes, chamado de Sessão Escolar,
e o tempo/espaço na EFA e/ou na
comunidade, denominado Estadia
Socioprofissional, seguindo a
nomenclatura culturalmente adotada pelos
Centros Familiares de Formação por
Alternância (CEFFAs). São três Sessões
Escolares alternadas por três Estadias
Socioprofissionais a cada ano do curso.
As Sessões Escolares ocorrem nos
meses de março, junho e setembro e as
Estadias Socioprofissionais vêm na
sequência, em abril e maio, julho e agosto
e, finalmente, outubro, novembro,
dezembro e fevereiro. Janeiro é
considerado mês de férias; nos meses de
julho e dezembro, reserva-se uma semana
para recesso escolar. O curso tem duração
de 4 anos, com 12 sequências de
alternâncias, perfazendo um total de 3.960
horas, distribuídas em 1.960 horas para a
Sessão Escolar e 2.000 horas para a
Estadia.
A sequência de Alternância significa
a junção de uma Sessão Escolar e uma
Estadia socioprofissional, em que uma
complementa a outra em termos de
desenvolvimento do ensino e
aprendizagem. Os dois tempos-espaços são
considerados letivos para a aplicação da
Pedagogia da Alternância, conforme o
Parecer 01/2006 da CEB/CNE/MEC
(Brasil, 2006).
O curso define essa intercalação
como modalidade diferenciada de
formação presencial contínua, embora com
escolarização parcial. Reforça-se essa ideia
de formação presencial, porém, como uma
modalidade diferenciada pela alternância
a organização das atividades pedagógicas
nos tempos/espaços, na qual a Estadia
Socioprofissional configura-se como
complementar à Sessão Escolar. Há uma
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carga horária das disciplinas distribuídas
nesses períodos, verificada de forma
qualitativa pela realização e avaliação das
atividades planejadas no Guia da
Alternância.
Na Estadia Socioprofissional, a
lógica é a do trabalho e da vida cotidiana,
como pouco tempo para estudo e pesquisa.
Para quem trabalha como agricultor/a,
sobretudo, como professor/a, o tempo é
vivido em ritmo acelerado e intenso. As
autoras Leal e Teixeira (2010, p. 2),
refletindo sobre o ritmo de trabalho de
professores, afirmam que o “tempo de
professor ... é apenas parte de sua
experiência rítmico-temporal de sujeito
social, que extrapola a docência”.
outros espaços sociais de que fazemos
parte, “os quais têm ritmos e
temporalidades outras, que se incorporam à
nossa vivência temporal de professores/as,
tais como os tempos da cidade ou do
campo, da falia, do lazer, tal como se
passa com outras categorias de
trabalhadores/as.” A esse tempo, com a
rítmica própria das temporalidades
docentes ou de outra natureza de trabalho,
soma-se o tempo de estudo e ainda os
tempos virtuais. Portanto, a formação por
alternância nos coloca diante desta
problemática: Como fazer das Sessões
Escolares e das Estadias Socioprofissionais
unidades integradas de formação contínua
na densidade de atividades cotidianas no
campo pessoal, familiar, social e
profissional? Na celeridade, intensidade e
densidade do tempo hoje, cada um/a, a seu
ritmo próprio, está desafiado/a a conciliar
estudo, pesquisa e reflexão em um tempo e
espaço que predominem a lógica do
trabalho.
Observa-se que a Estadia
Socioprofissional é um tempo/espaço não
somente de execução de trabalhos
escolares para suprir a distância da sala de
aula, esse tempo/espaço é significativo
pela oportunidade da imersão na realidade
concreta da vida cotidiana na comunidade
ou na escola. Representa tempo de
pesquisas, observações, experimentações,
confrontações com as teorias estudadas e
elaboração de sínteses dessa realidade
concreta e refletida.
Os mediadores de pesquisa, as
relações de saberes e a articulação escola-
comunidade compreendem os planos de
estudo, a colocação em comum e o
acompanhamento dos estudantes. O Plano
de Estudo, decodificado a partir de
diagnósticos sobre a realidade dos
estudantes, inclui a terra, família,
organização produtiva, trabalho no campo,
tecnologias, agroecologia etc. como temas
geradores. Eles constituem elemento
integrador dos espaços e tempos
formativos e da interdisciplinaridade. O
Plano de Estudo coloca a pesquisa da
realidade como um dos elementos centrais
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no diálogo de saberes, propondo romper
com a fragmentação e a hierarquização dos
saberes. As pesquisas dos Planos de Estudo
diagnosticam e problematizam a realidade,
organizam o processo de ensino e
aprendizagem, promovem o diálogo de
saberes e prosseguem com os pequenos
ensaios de intervenção, visando colocar os
novos conhecimentos a serviço da
comunidade.
A Colocação em Comum representa
o momento estratégico da passagem de
tempo na comunidade para o tempo
escolar. É o passo inicial de cada Sessão
Escolar, quando os estudantes socializam
suas pesquisas do Plano de Estudo,
debatem e problematizam o tema em
questão e elaboram um texto síntese
coletivo. Esse texto se torna matéria-prima,
pois as problematizações pontuadas no
debate devem ser aprofundadas pelas
disciplinas, se possível, de forma
interdisciplinar. Ao longo da Sessão
Escolar, outros instrumentos, como Visita
de Estudo e Intervenção Externa,
interagem na complementação da temática
geradora. Observa-se que o Plano de
Estudo possibilita a formação pela
pesquisa, o diálogo entre a vida, os saberes
experienciais e os saberes científicos
formais e também contribui para o
compartilhamento interdisciplinar,
orientando atividades conjuntas nas aulas e
nas avaliações, tanto na Sessão escolar
quanto na Estadia Socioprofissional.
O acompanhamento dos estudantes,
sobretudo na Estadia Socioprofissional, é
feito pela Tutoria, realizada por assessores
da AMEFA, em uma parceria firmada com
o IFSULDEMINAS, enquanto não se têm
ainda as condições efetivas para o
acompanhamento feito pelos próprios
educadores envolvidos no curso.
Os mediadores de registro e
avaliação são aqueles relativos aos
relatórios sínteses de vivências e
aprendizados e ao Caderno da Realidade.
O relatório de síntese das vivências e
aprendizados na Estadia Socioprofissional
representa a culminância de cada sequência
de alternância e nele os estudantes
expressam o processo de construção do
conhecimento em uma perspectiva
epistemológica da práxis transformadora.
As pesquisas dos Planos de Estudo, os
relatórios e os documentos em geral
produzidos pelos estudantes são
organizados no Caderno da Realidade, um
memorial do percurso formativo e uma das
fontes de pesquisa para a elaboração do
Projeto de Intervenção Pedagógica,
trabalho de conclusão do curso.
Os mediadores da vida de grupo
ajudam na organicidade dos estudantes. A
organicidade dos estudantes compreende
um estatuto pedagógico de formação. Sua
dimensão educativa se fundamenta na
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práxis dos movimentos sociais, sendo a
luta social e a organização coletiva
encaradas como constituidoras do
movimento social e ao mesmo tempo como
matrizes dele formadoras (Caldart, 2009).
Nesse sentido, todos os educandos fazem
parte de um Grupo de Trabalho que
coopera para o funcionamento do curso em
geral.
Segundo Gimonet (2007, p. 126), “os
elementos constitutivos da alternância,
suas interações e a complexidade que
engendram...” colocam os educandos como
sujeitos de sua formação. Para esse
estudioso da Pedagogia da Alternância, os
educandos são “atores socioprofissionais”
e não alunos, por isso, auto organizam-se e
assumem responsabilidades no cotidiano
da sessão escolar. Essa atuação dos
estudantes tem por finalidade a vivência e
aprendizagem do trabalho coletivo, do
exercício da autonomia e da participação
em todos os processos da vida escolar. Um
dos “objetivos da organização é quebrar a
autoridade absoluta do chefe, baseada na
força, substituindo-a pela autoridade do
coletivo, encarregado de criar sua vida e
sua própria organização” (Pistrak, 2000, p
195). Assim, propõe-se devolver a escola à
vida, devendo, para isso, fazer desse lugar
uma comunidade de vida social (Pistrak,
2000, p. 177), inserida naquilo que ele
chama de realidade atual, com todas as
contradições que ela engendra. A
organicidade, segundo o autor, seria uma
das estratégias de formar-se para o
engajamento social, na perspectiva
revolucionária de construção de um novo
sujeito e uma nova sociedade.
O Guia da Alternância, mediador de
comunicação, orienta as atividades dos
Planos de Ensino planejadas para a Sessão
Escolar e para a Estadia. Cada disciplina
constrói seu Plano de Ensino e o inclui
neste Guia. Ele é uma ferramenta de
comunicação, estruturado em duas partes,
nas quais os conteúdos curriculares e as
avaliações são planejados para a Sessão
Escolar e para a Estadia, com suas
respectivas metodologias, recursos
didáticos, referenciais e objetivos. A
temática do Plano de Estudo tem sido
referência para o compartilhamento de
atividades e avaliações entre as disciplinas.
Na segunda parte do Guia, detalham-se as
orientações para as atividades na Estadia
Socioprofissional: trabalhos
complementares das disciplinas; atividade
de retorno; desenvolvimento do projeto de
intervenção de pesquisa, orientado desde a
primeira alternância; atividades científico-
artístico-culturais (AACC); leituras;
pesquisa do novo Plano de Estudo, como
preparação para a próxima alternância;
realização de experiências; relatório de
vivências e aprendizados na Estadia;
orientações para o planejamento de
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tempo/espaço de estudo e pesquisas na
Estadia etc.
Os mediadores de instrumentalização
e inserção social e profissional relacionam
as Atividades de Retorno e o Projeto de
Intervenção Pedagógica. A Atividade de
Retorno é uma forma de
instrumentalização de processos de
intervenções nas comunidades e suas
organizações, na escola, entre outros
lugares, onde a pesquisa do Plano de
Estudo foi realizada. Ela configura-se na
realização de uma ação concreta de
formação, mobilização comunitária,
execução de um projeto, desenvolvimento
de uma experiência etc. São pequenos
ensaios de intervenção que poderão ajudar
na escolha do tema do Projeto de
Intervenção Pedagógica. Esse Projeto é
elaborado com ampla assistência nos dois
primeiros anos, e a proposta de intervenção
nos dois anos finais. A escolha da temática
e a elaboração do Projeto deverão ocorrer a
partir da necessidade demandada pela
escola do campo ou da comunidade de
origem dos estudantes. O Trabalho de
Conclusão do Curso deve contemplar os
resultados construídos no processo da
intervenção.
Esses mediadores, na formação
superior, estão em plena construção, seus
limites e possibilidades são condicionados
aos processos coletivos participativos e às
institucionalidades acadêmicas. Suas
evidências dependem do esforço contínuo
da práxis e do registro das sistematizações
das reflexões feitas a partir das avaliações
realizadas ao longo do curso. A
sistematização da experiência do Curso
LECCA é um esforço que se coloca como
desafio para o seu aprimoramento.
Avaliação
O tema da avaliação é desafiador
nesta modalidade de formação. A
avaliação ocorre nas Sessões Escolares e
nas Estadias. No caso do curso LECCA,
ela está organizada da seguinte forma: 10
pontos distribuídos para a avaliação geral
de cada disciplina ministrada na Sessão
Escolar. Deste valor total, 70% são para as
disciplinas em geral e 30% para o eixo
integrador. As disciplinas dividem 40% do
total para a Sessão Escolar e 30% para a
Estadia. As atividades planejadas para a
Estadia Socioprofissional são orientadas no
Guia da Alternância e aferidas
qualitativamente no Caderno da Realidade.
O grande desafio é fazer com que todos
façam as atividades com a qualidade
devida e no tempo planejado, dadas as
condicionantes do trabalho, família e
outras responsabilidades pessoais e sociais.
Nesse aspecto, observa-se que há pouco
aprofundamento a respeito da avaliação na
modalidade da formação por Alternância.
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Gestão compartilhada
O pressuposto da gestão democrática
se faz presente no Projeto da LECCA, pois
sua elaboração se materializou por meio de
um Grupo de Trabalho paritário entre o
IFSULDEMINAS e a AMEFA. Essa
construção, porém, não se concebe
acabada, ela está aberta ao diálogo à
criação de novos espaços instituintes,
sobretudo, entre os educandos. Nessa
perspectiva, observa-se um desejo expresso
no PPC-LECCA de que o caminhar do
curso garanta espaços de construção
permanentes, em que os educandos possam
se sentir e se constituir como sujeitos do
processo formativo, bem como possam,
com essa participação, ressignificar suas
práticas educativas e propor a reconstrução
dos Projetos Político-Pedagógicos das
EFAs e das escolas do campo onde atuam,
visando ao fortalecimento da gestão
democrática e à constituição de propostas
de projetos ecopolíticos e pedagógicos e de
currículos emancipatórios dos sujeitos do
campo.
O PPC-LECCA prevê a participação
de organizações e movimentos sociais no
funcionamento do curso. Essa participação
pode ser verificada na coordenação
pedagógica, na qual um técnico da
AMEFA participa como auxiliar
pedagógico na coordenação geral do curso
e na composição do seu colegiado,
integrando-se como representante desta
instituição. Essa representação da
sociedade civil no Colegiado do Curso
aparece como um fato inovador na
institucionalidade acadêmica no
IFSULDEMINAS, o que aponta para a
possibilidade da garantia de vínculos deste
curso com os sujeitos da Educação do
Campo e dos movimentos sociais.
Também, os estudantes participam do
Colegiado do Curso com dois
representantes eleitos pela turma.
Caminho se faz caminhando
Um sonho tornando-se realidade em
meio às adversidades políticas do tempo
presente. Como o curso trata-se de uma
experiência incipiente, não ainda
resultados relativos aos egressos
licenciados, pois a primeira turma iniciou
suas atividades letivas em março de 2017.
Sendo assim, o que se pode apresentar em
termos de resultados neste trabalho? Ao
analisar a caminhada percorrida desde a
anunciação da demanda social vinda das
EFAs em 2014 até sua aceitação por parte
do IFSULDEMINAS, que encaminha o
GT em 2015 para a construção da
proposta, eis o PPC-LECCA como um
primeiro produto concreto deste trabalho
interinstitucional. Com a materialidade
desse documento, o diálogo é iniciado com
o coletivo docente e técnico administrativo
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do Campus Inconfidentes e Reitoria;
mediante muita discussão, consegue-se a
aprovação da proposta. A autorização do
curso é um resultado que simboliza
conquista, luta vitoriosa. Mas esse passo é
ambivalente, uma vez que, ao mesmo
tempo em que ele gera alegria aos sujeitos,
também provoca novas preocupações e
angústias, pois novas indagações emergem.
Como colocar, então, o curso para
funcionar, conseguir recursos financeiros,
selecionar os futuros estudantes, conseguir
os docentes que abracem esta causa e fazer
uma gestão horizontal? Como propor
inovações em tempos de incertezas, de
reveses, retrocessos nos direitos
conquistados neste país?
Apesar desse cenário, prevaleceu a
ousadia em enfrentar as circunstâncias
adversas determinadas pela propalada crise
econômica e política no Brasil e decidiu-se
partir para a concretização do
funcionamento do curso. Houve muitas
discussões e muito comprometimento de
ambas as partes envolvidas, sobretudo, sob
condições de escassez ou inexistência do
financeiro específico para conseguir fazer
funcionar o curso com as especificidades
que ele requer: transporte dos estudantes,
moradia, alimentação, acompanhamento
dos estudantes na Estadia
Socioprofissional por parte dos docentes e
monitores/tutores.
A realização do seminário de
integração e construção do LECCA, em
dezembro de 2016, reforçou a tese de que
era preciso avançar. Os candidatos ao
curso se fizeram presentes e representantes
das Licenciaturas em Educação do Campo
das Universidades Federais de Minas
Gerais e de Viçosa intercambiaram suas
experiências, lutas, dificuldades e
conquistas. Assim, o seminário
sensibilizou professores e fortaleceu a
necessidade de implantar rapidamente a
formação. Foi a partir dessa atividade que
se encaminhou o processo seletivo
especial, conforme prescrito no PPC-
LECCA; nele foram selecionados 40
estudantes para as 40 vagas ofertadas. A
partir de então, as aulas foram planejadas
para iniciar no período de 06 a 30 de março
de 2017. Para tanto, conforme previsto no
PPC, o primeiro encontro de formação
sobre a Pedagogia da Alternância para a
equipe docente foi marcado para dois dias
em fevereiro de 2017. Dessa maneira,
iniciou-se uma prática que deverá ser a
marca do curso LECCA: a reunião de
estudos e de planejamento entre os
docentes e a coordenação pedagógica do
curso, intercalado entre Estadia
Socioprofissional e Sessão Escolar.
Há muito chão pela frente
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Essa primeira tentativa de
sistematizar a experiência sobre o processo
de construção do PPC-LECCA e a sua
implantação para formar profissionais das
Ciências Agrárias em uma instituição
pública demonstra-nos como os princípios
político-pedagógicos da Educação do
Campo, traduzidos pela experiência da
Pedagogia da Alternância, conseguem se
consolidar na esfera da educação superior.
Vimos que, contraditoriamente, os
princípios metodológicos e pedagógicos da
Alternância ganham espaço e se expandem
para além das EFAs e a Educação do
Campo se fortalece em uma instituição
historicamente envolvida no modelo de
desenvolvimento hegemônico de uma
agricultura atrelada ao grande capital. Isso
coloca a possibilidade de o
IFSULDEMINAS cumprir com um de seus
preceitos institucionais da sua criação, que
é o de contribuir técnico-cientificamente
para o desenvolvimento regional, mas que
seja um desenvolvimento regional que
inclua a agricultura familiar e camponesa.
Sabemos que o LECCA é um projeto
forjado no bojo da sociedade civil e que
ganha corpo na parceria com o
IFSULDEMINAS. Sua proposta político-
pedagógica incorporada aos princípios da
Educação do Campo e da Alternância são
elementos potenciais da luta dos
trabalhadores na disputa por um novo
projeto de campo e sociedade. Por isso, faz
sentido a disputa da instituição de ensino
superior como espaço de produção do
conhecimento na perspectiva da produção
e reprodução da vida camponesa.
A Alternância e a Educação do
Campo colocam a necessidade de rupturas
epistemológicas para um novo processo de
construção do conhecimento e a formação
dos profissionais das Ciências Agrárias
com o perfil apropriado para atuação em
contextos da Educação do Campo e da
produção e reprodução do campesinato.
Por se tratar de uma experiência em
estágio inicial, depara-se com os limites da
sua análise e maiores conclusões. E sendo
uma experiência inovadora, apresenta-se a
necessidade do compromisso maior com
sua sistematização contínua. Ela será
um acontecimento se os sujeitos que a
assumem forem capazes de observá-la,
registrá-la, escutá-la, senti-la e, a partir daí,
refleti-la, para, então, tirar as devidas
lições. Esse compromisso com o exercício
da reflexividade sobre a prática permitirá,
quem sabe, transformar este curso em
oferta regular, mesmo diante de um cenário
caótico de um país que vive as
consequências dramáticas de uma crise
econômica, política e moral, que coloca em
risco a democracia e os direitos
conquistados e em estado de angústia,
incertezas e infelicidade das pessoas. Os
cenários político e econômico do país
refletem no funcionamento do curso,
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provocando grandes desafios para a sua
realização e para sua sistematização como
um curso regular, aberto ao público da
agricultura camponesa, de assentamentos
de Reforma Agrária, de povos e
comunidades tradicionais de Minas Gerais.
O cenário, rodeado por nuvens de
incertezas, vai desde a garantia de um
quadro mínimo de professores atuantes até
a permanência dos educandos por meio da
concessão de alojamento, transporte,
acompanhamento e moradia. A alta
vulnerabilidade social dos sujeitos do
campo e as especificidades de um curso
organizado pela modalidade da alternância
exigem cuidados e um financiamento
diferenciado.
Vistos os cenários que apontam os
riscos que ameaçam o recém-criado
LECCA, destacam-se fortalezas e seu
potencial de oportunidades. Por um lado, o
curso começou por forças de uma
coordenação e de um grupo de docentes
comprometidos politicamente com as
causas da agricultura familiar e camponesa
e com a Educação do Campo; a pré-
existência de infraestrutura de prédios onde
foi possível improvisar os alojamentos para
os estudantes; a oferta de alimentação e
parte do transporte pelo Campus. Do outro
lado, as oportunidades oferecidas pela
instituição demandante, a AMEFA, com
seu acúmulo de experiências sobre a
Pedagogia da Alternância trazida para o
PPC e o compartilhamento da coordenação
pedagógica do curso; a disponibilização de
quatro técnicos para fazer a tutoria aos
estudantes e quadros docentes do
movimento e de outras instituições
colaborando para a docência no LECCA.
Portanto, apesar dos limites, o êxito
do LECCA representa múltiplos benefícios
para a sociedade e para a instituição
acadêmica. Para a sociedade, resolve-se o
problema da necessidade de qualificação
dos quadros docentes das EFAs mineiras,
beneficia as comunidades camponesas com
profissionais que atendam às suas
demandas. Para o IFSULDEMINAS, as
oportunidades de aportes e trocas de
saberes e práticas baseadas nos paradigmas
da Educação do Campo e da Pedagogia da
Alternância possibilitam uma ruptura com
a cultura acadêmica do individualismo, da
meritocracia, da competição e a
consequente fragmentação do
conhecimento.
A intenção é de que o LECCA,
mesmo diante das contradições do tempo
presente, possa resistir e nunca perder de
vista seus vínculos com as raízes fundantes
de onde nasceram e foram concebidas a
Educação do Campo, a Pedagogia da
Alternância e as lutas agroecológicas.
Também, que o LECCA possa manter-se
principalmente pelas finalidades com que
ele se construiu: fortalecer a luta da
agricultura familiar e camponesa, de forma
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que seu futuro e sua autenticidade se darão
pela cumplicidade e pela aliança mantida
com as bases de onde emergiu.
O desafio será, entre tantos, fazer
com que os sujeitos que formam as turmas
do LECCA compreendam as
intencionalidades formativas desse curso e
assumam-no como coletivo, constituídos
em comunidade viva e cooperativa de
aprendizado mútuo para novas relações
consigo, com os outros e com a natureza,
na perspectiva de um outro mundo ser
possível. Assim, todo o conhecimento, seja
adquirido ou construído, deve ser
partilhado no sentido dialético versado na
canção de Zé Pinto, epigrafada no início
deste artigo, que diz: “Amar o campo, ao
fazer a plantação, não envenenar o campo
é purificar o pão. Amar a terra, e nela
plantar semente, a gente cultiva ela, e ela
cultiva a gente”.
A experiência de implantação do
curso LECCA, inspirada nos paradigmas
da Educação do Campo e da Alternância
Pedagógica, é um campo ambivalente de
desafios e tensões, mas também de
reflexão sobre os potenciais da instituição
pública de ensino superior como lugar de
inovação e experimentação de novos
paradigmas de construção do
conhecimento científico, comprometidos
com um novo projeto de escola, de campo
e de sociedade. Parafraseando o poeta,
construir o Curso LECCA é como cultivar
a terra, a gente constrói o LECCA e o
LECCA reconstrói a gente!
Referências
Antunes-Rocha, M. I., Diniz, L. S., &
Oliveira, A. M. (2011). Percurso formativo
da Turma Dom José Mauro: segunda turma
do curso de Licenciatura em Educação do
Campo da FAE-UFMG. In Molina, M. C.,
& Sá, L. M. (Orgs.). Licenciaturas em
Educação do Campo: Registros e
Reflexões a partir das Experiências Piloto
(UFMG, UnB, UFBA e UFS) (pp.19-34).
Belo Horizonte, MG: Autêntica Editora,
(Coleção Caminhos da Educação do
Campo 5).
Brasil (2006). Ministério da Educação/
Secretaria de Educação Continuada,
Alfabetização e Diversidade
SECAD/MEC. Parecer 01/2006 da
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Informações do artigo / Article Information
Recebido em : 27/11/2017
Aprovado em: 02/03/2018
Publicado em: 30/08/2018
Received on November 27th, 2017
Accepted on March 2nd, 2018
Published on August 30th, 2018
Contribuições no artigo: O autor João Batista Begnami
escreveu o primeiro esboço descritivo do artigo, iniciou as
primeiras análises buscando dialogar com a Educação do
Campo e Pedagogia da Alternância e, a partir de então,
Aloísia Rodrigues e Hirata e Luiz Carlos Dias Rocha,
passaram a interagir na parte de análise geral do texto.
Aloísia contribuiu com a elaboração do resumo, análises
em geral e a revisão da parte da linguagem. Luiz Carlos
também contribuiu na análise geral, mas também com
dados do IFSULDEMINAS e da Agroecologia, fez revisão
da linguagem, das citações, das referências e a
Begnami, J. B., Hirata, A. R., & Rocha, L. C. D. (2018). Licenciatura em Educação do Campo
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formatação final do texto, conforme as exigências da
Revista. Por fim, cabe destacar que os três autores se
reuniram e planejaram a participação de cada um para a
readequação do texto, na busca pela sua conformação
aos pareceres. Neste sentido, o manuscrito final, produto
do trabalho coletivo dos três autores, também passou pelo
crivo da aprovação dos mesmos. Os autores também
foram responsáveis pela aprovação dessa versão final
publicada.
Author Contributions: The author João Batista Begnami
wrote the first descriptive outline of the article, began the
first analyzes seeking to dialogue with the Field Education
and Pedagogy of Alternation and, from then on, Aloísia
Rodrigues and Hirata and Luiz Carlos Dias Rocha, began
to interact in the part analysis of the text. Aloísia
contributed with the elaboration of the abstract, analyzes in
general and the revision of the part of the language. Luiz
Carlos also contributed to the general analysis, but also
with data from IFSULDEMINAS and Agroecology,
reviewed the language, citations, references and the final
formatting of the text, as required by the Journal. Finally, it
is worth mentioning that all three authors met and planned
the participation of each one for the readjustment of the
text, in the search for its conformation to the opinions. In
this sense, the final manuscript, product of the collective
work of the three authors, also went through the sieve of
their approval. The authors were also responsible for
approving this final published version.
Conflitos de interesse: Os autores declararam não haver
nenhum conflito de interesse referente a este artigo.
Conflict of Interest: None reported.
Orcid
João Batista Begnami
http://orcid.org/0000-0002-3273-3028
Aloísia Rodrigues Hirata
http://orcid.org/0000-0002-6658-2977
Luiz Carlos Dias da Rocha
http://orcid.org/0000-0002-4351-2562
Como citar este artigo / How to cite this article
APA
Begnami, J. B., Hirata, A. R., & Rocha, L. C. D. (2018).
Licenciatura em Educação do Campo Área Ciências
Agrárias no IFSULDEMINAS/Campus Inconfidentes. Rev.
Bras. Educ. Camp., 3(2), 649-676. DOI:
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-4863.2018v3n2p649
ABNT
BEGNAMI, J. B.; HIRATA, A. R.; ROCHA, L. C. D.
Licenciatura em Educação do Campo Área Ciências
Agrárias no IFSULDEMINAS/Campus Inconfidentes. Rev.
Bras. Educ. Camp., Tocantinópolis, v. 3, n. 2, mai./ago.,
p. 649-676, 2018. DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-
4863.2018v3n2p649
Revista Brasileira de Educação do Campo
The Brazilian Scientific Journal of Rural Education
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Licenciatura em Educação do Campo: princípios
formativos a didática por área do conhecimento
Juliana Domit Mallat
1
, Ademir Nunes Gonçalves
2
, Marcos Gehrke
3
1
Universidade Estadual do Centro Oeste - UNICENTRO. Departamento de Pedagogia. Rua Padre Salvador, 875. Guarapuava -
PR. Brasil.
2
Universidade Estadual do Centro Oeste - UNICENTRO.
3
Universidade Estadual do Centro Oeste - UNICENTRO.
Autor para correspondência/Author for correspondence: jumallat@hotmail.com
RESUMO. Analisa a formação inicial de professores por área
do conhecimento nos Cursos de Licenciatura em Educação do
Campo no Estado do Paraná. Questiona e argumenta que, nessa
formação, a didática assume formar professores para atuar por
área de conhecimento e não por disciplinas específicas. Verifica
elementos do campo da Didática Geral e Específica e analisa o
movimento formativo entre as mesmas. Emprega análise
documental e estudos bibliográficos na produção dos dados.
Seleciona as matrizes curriculares como documento de análise e
define categorias teóricas a Educação do Campo: o campo da
Didática e a formação de professores. Considera que os cursos
analisados aproximam a proposta da formação inicial de
professores por área do conhecimento e argumentam acerca da
necessidade de constituição da tríade: didática geral, didática
específica e didática por área. Define princípios formativos:
relação intrínseca entre ser professor e educador, postura crítica
frente ao conhecimento escolar, planejamento coletivo,
interdisciplinar e a partir da realidade, visão de totalidade nos
processos de ensino, transgressão do modelo classificatório e
excludente na avaliação e organização do trabalho pedagógico.
Defende o campo da Didática, uma vez que estuda as
especificidades do ensinar e aprender, sua relação com o
conhecimento escolar e organização do trabalho pedagógico.
Palavras-chave: Formação Inicial de Professores, Tríade
Didática Geral, Didática Específica e Didática por Área do
Conhecimento, Licenciatura em Educação do Campo.
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Mallat, J. D., Goalves, A. N., & Gehrke, M. (2018). Licenciatura em Educão do Campo: princípios formativos a didática
por área do conhecimento...
Course Degree in Rural Education: Principles formative
the didactics by area of knowledge
ABSTRACT. It analyzes the initial formation of teachers by
area of knowledge in the Courses of Degree in Rural Education
in the State of Paraná. It questions and argues that in this
formation didactics assumes to train teachers to act by area of
knowledge and not by specific subjects. It verifies elements of
the field of Didactics, General and Specific and analyzes, the
formative movement between them. Uses documentary analysis
and bibliographic studies, in the production of the data. It selects
the curricular matrices as analysis document and, defines
theoretical categories the Rural Education, the field of Didactics,
the formation of teachers. Considers that the courses analyzed
near the proposed initial teacher training by area of knowledge
and argues about the need for setting up of the triad, general
didactics, specific didactics and teaching by area. Defines
formative principles: the intrinsic relationship between being a
teacher and educator, critical posture to school knowledge,
collective, interdisciplinary planning and from the reality, full of
vision in the teaching, transgression of qualifying and exclusive
model in the evaluation and organization of pedagogical work.
Defends the Didactics Field, since this one, studies the
specificities of teaching and learning, its relation with the school
knowledge and organization of the pedagogical work.
Keywords: Initial Teacher Training. Triad General Didactics,
Specific Didactics and Didactics by Area of Knowledge. Course
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Licenciatura en Educación del Campo: Principios
formativos a didáctica por campos del conocimiento
RESUMEN. Analiza la formación inicial de profesores por área
de conocimiento en los Cursos de Licenciatura en Educación del
Campo en el Estado de Paraná. Cuestiona y argumenta que en
esa formación la didáctica asume formar profesores para actuar
por área de conocimiento y no por asignaturas específicas.
Averigua elementos del campo de la Didáctica, General y
Específica y analiza, el movimiento formativo entre ellas.
Emplea análisis documental y estudios bibliográficos, en la
producción de los datos. Selecciona las curriculares como
documento de análisis y, define categorías teóricas a la
Educación del Campo, el campo de la Didáctica, la formación
de profesores. Considera que los cursos analizados aproximan la
propuesta de la formación inicial de profesores por área del
conocimiento y argumenta sobre la necesidad de constitución de
la tríade, didáctica general, didáctica específica, y didáctica por
área. Define principios formativos: relación intrínseca entre ser
profesor y educador, postura crítica ante el conocimiento
escolar, planeamiento colectivo, interdisciplinar y a partir de la
realidad, visión de totalidad en los procesos de enseñanza,
transgresión del modelo clasificatorio y excluyente en la
evaluación y organización del trabajo pedagógico. Defiende el
campo de la Didáctica, una vez que él, estudia las
especificidades del enseñar y aprender, su relación con el
conocimiento escolar y organización del trabajo pedagógico.
Palabras clave: Formación Inicial de Profesores, Tríade
Didáctica General, Didáctica Específica y Didáctica por Área
del Conocimiento, Licenciatura en Educación del Campo.
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Introdução
Os cursos de Licenciatura em
Educação do Campo (LEDOC) no Brasil, a
partir dos anos 2000, fazem a opção pela
formação de professores por área do
conhecimento
i
e, para isso, elaboram suas
diretrizes, que nos levam a analisar o lugar
da didática na formação por área do
conhecimento. Destacamos que a opção
pela formação por área do conhecimento
decorre e se consolida a partir da
formulação política e pedagógica dos
movimentos sociais do campo
ii
e das
demandas concretas de ampliação de
escolas no campo no Brasil, as quais, com
poucos estudantes, demandavam menos
professores por escola, entretanto, com
permanência de maior tempo nas mesmas.
Os primeiros cursos de formação por
área, ofertados pelas instituições de ensino
superior, passaram por uma experiência
piloto
iii
e, atualmente, constituem-se como
política pública em todo país. Ao se propor
a formação de professores para atuar na
área de conhecimento e não apenas na
disciplina específica, acreditamos ser
necessário repensar o campo da Didática,
uma vez que esse campo do conhecimento
estuda as especificidades do ensinar, do
aprender e sua relação com o
conhecimento que se materializa na escola
(Libâneo, 2013). Essa experiência exige a
reorganização de currículos, programas, a
organização do trabalho pedagógico, a
atuação do professor e da didática.
Postas essas questões, considerações
e conjecturas, questionamos: que
elementos teóricos e práticos indicam uma
didática por área do conhecimento na
formação inicial de professores nos cursos
de Licenciatura em Educação do Campo?
Quais seriam os princípios dessa didática
por área?
Como objetivos de investigação,
definimos verificar, nas matrizes
curriculares dos cursos de Licenciatura em
Educação do Campo, desenvolvidos no
Estado do Paraná
iv
, se há elementos que
decorrem do campo da Didática, seja ela
geral ou específica; analisar, a partir desse
campo do conhecimento, o movimento
formativo entre a didática geral, a didática
específica, e a didática por área do
conhecimento, uma tríade formativa.
A investigação desenvolvida é de
natureza qualitativa que, segundo Lüdke e
André (1986, p. 13) “... envolve a obtenção
de dados descritivos, obtidos no contato
direto do pesquisador com a situação
estudada, enfatiza mais o processo do que
o produto”. Nesse sentido, empregamos
análise documental e estudos
bibliográficos na produção dos dados.
Como estudo documental, selecionamos as
matrizes curriculares
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dos cursos de
Licenciatura em Educação do Campo
citados, para verificar como a didática e
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seu conteúdo se constituem em cada curso
e se relacionam na formação por área do
conhecimento. No estudo bibliográfico,
optamos pela definição das categorias
teóricas e de análise, a priori, sendo elas, a
Educação do Campo (Caldart, 2009;
Molina, 2012) como fundamento e base de
toda a análise em que se inserem os cursos;
o campo da Didática e a formação inicial
de professores (Libâneo, 2013), (Marin e
Pimenta, 2015), (Romanowski, 2016);
(Veiga, 1994), que é o objeto específico da
análise.
O resultado da análise está
organizado e disposto em seções para
qualificar a leitura. Na primeira seção,
discutimos acerca da Educação do Campo,
um panorama da constituição dos cursos de
Licenciatura em Educação do Campo no
Brasil. Na segunda, trazemos o campo da
Didática e sua análise nos cursos ofertados
no estado do Paraná. Na última seção,
problematizamos e produzimos os
princípios formativos: relação intrínseca
entre ser professor e educador; postura
crítica frente ao conhecimento;
planejamento e a relação entre a totalidade,
a interdisciplinaridade e o vínculo com a
vida; transgressão do modelo
classificatório e excludente da avaliação; e
a organização do trabalho pedagógico e a
escola do campo, os quais sustentam a
tríade e forjam a didática por área do
conhecimento. Por fim, retomamos os
propósitos e tecemos as considerações
possíveis.
Curso de Licenciatura em Educação do
Campo: as propostas de formação de
educadores do campo se materializando
O Programa de Apoio à Formação
Superior em Licenciatura em Educação do
Campo (PROCAMPO) decorre das
experiências dos cursos de Pedagogia da
Terra, fundados pelo Programa Nacional
de Apoio na Reforma Agrária
(PRONERA). Esses programas apresentam
a intenção de superar a precariedade na
formação do professor para anos finais do
Ensino Fundamental, em um quadro que
aponta extrema desigualdade. Em meio ao
debate, muitas questões foram levantadas
acerca de um projeto social e educativo
que superasse o paradigma hegemônico
imposto pelo capitalismo, que
reconhecesse e legitimasse os saberes e a
cultura do povo, transformando a escola
em uma ferramenta de luta legítima. Logo,
chegou-se à conclusão de que a formação
deveria superar a lógica do currículo
disciplinar
vi
, exigindo uma formação mais
ampliada, ou seja, que fosse
multidisciplinar, capaz de se articular por
áreas do conhecimento (Molina, 2012).
Essa formação demanda de diálogo
científico entre todas as disciplinas, em
uma concepção de amplitude acadêmica,
política e social, capaz de desconstruir as
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práticas forjadas nas escolas e no meio
rural, por meio de uma formação ampliada,
que conta de uma série de dimensões
educativas (Molina & Sá, 2011). Nesse
sentido, anunciam que a formação por área
do conhecimento não se preocupa apenas
em alterar as relações entre os conteúdos,
mas em construir uma proposta integral
que concebe todas as dimensões da
formação humana.
A partir dessas discussões houve a
primeira experiência formativa, a turma
“Vanessa dos Santos”, desenvolvida pela
Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG), em 2004, coordenada pela
professora Maria Isabel Antunes-Rocha,
em que se ofertou o curso de Licenciatura
em Educação do Campo por área do
conhecimento. Essa experiência foi
amplamente discutida, problematizada e se
concretizou como ponto de partida para
novas experiências, sobretudo, para o
PROCAMPO (Antunes-Rocha, et al.,
2011).
A experiência da UFMG com a
oferta do curso de LEDOC fez avançar
para uma nova proposta que, segundo
Caldart (2009), se delineava no interior
do Grupo de Trabalho do MEC e buscava
uma formação para uma atuação mais
ampla nas escolas do campo. Assim, após
seminários, estudos, reflexões e parcerias
entre os movimentos sociais e o Ministério
da Educação (MEC), iniciou-se um
projeto-piloto, embasado a partir da
experiência da UFMG, que se estendeu à
Universidade Federal da Bahia (UFBA),
Universidade Federal de Sergipe (UFS) e à
Universidade de Brasília (UNB) (Molina e
Sá, 2011).
Assim, constituiu-se a experiência
em Licenciatura em Educação do Campo,
movimento sustentado a partir da matriz da
Pedagogia da Terra que se imbuiu da
necessidade de formação superior para os
educadores do campo, especialmente, para
os anos finais do ensino fundamental e
ensino médio, constituindo-se, assim, um
curso que atendesse às necessidades e,
principalmente, à realidade dos educadores
e estudantes do campo.
Outro fator extremamente relevante
para a conquista relacionada à formação de
professores e a Educação do Campo,
resultado desses projetos, consiste no
PROCAMPO. De acordo com Santos
(2012), o PROCAMPO é o resultado
positivo e construtivo desse processo, pois,
além de questionar os tradicionais
programas de formação, nasce das lutas
sociais nas quais os sujeitos do campo
estão envolvidos. No tocante ao
PROCAMPO, o projeto objetiva fomentar
cursos e projetos que contemplem a
expansão da oferta da educação básica,
superando as desvantagens históricas
sofridas, contemplando a integração de
ensino, pesquisa e extensão (Brasil, 2009).
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A partir dessas experiências, a
Secretaria de Educação Continuada,
Alfabetização, Diversidade e
Inclusão/MEC-SECADI ampliou a
possibilidade de execução da graduação,
estendendo editais públicos, nos anos de
2008 e 2009, para todas as instituições que
tivessem o interesse em oferecer o curso.
Como resultado desse processo, “... em
2011, 30 instituições universitárias
ofertaram a Licenciatura em Educação do
Campo, abrangendo todas as regiões do
país” (Molina & Sá, 2011, p. 469).
As convicções de que os propósitos
deveriam engajar um novo modelo
formativo, destinado à população do
campo, trazem o objetivo de formação e
habilitação de “... professores para a
docência multidisciplinar em escolas do
campo, nas seguintes áreas do
conhecimento
vii
: Linguagens, Artes e
Literatura; Ciências Humanas e Sociais,
Ciências da Natureza e Matemática e
Ciências Agrárias” (Molina & Sá, 2011, p.
49) e, também, intentam preparar
educadores para atuar na gestão de
processos educativos escolares e na gestão
de processos educativos comunitários
(Molina, 2012).
A LEDOC prevê a formação inicial
de professores por meio do Tempo Escola,
que compreende as horas-aula, valoriza a
organização do tempo pessoal e coletivo
dos estudantes na produção dos
conhecimentos, na contextualização e na
reflexão teórica, junto à auto-organização
coletiva, que parte do princípio da
autonomia da turma e da gestão
compartilhada, estabelecendo tempos
educativos diários (Molina & Sá, 2011). E,
também, materializa-se no Tempo
Comunidade, que abrange o local de
moradia ou trabalho dos educandos e inclui
práticas pedagógicas orientadas, projetos
escolares e atividades de gestão, tendo
como objetivo principal instigar o
movimento formativo da práxis no foco do
estudo/profissionalização da LEDOC,
aproximando o diálogo entre a escola e a
comunidade, vivenciando seus processos
educativos por meio de outras atividades,
de um projeto de elaboração e execução de
um estudo-ação (Molina & Sá, 2011).
O Tempo Escola e o Tempo
Comunidade materializam-se sob a
proposta de regime de alternância,
viii
tendo
como objetivo propiciar aos estudantes
espaços formativos, uma vez que escola e
comunidade são espaços para pensar, agir e
sentir, superando, dessa forma, a dicotomia
entre local de teoria e local de prática.
Nesse cenário, a Educação do Campo
objetiva formar sujeitos na perspectiva da
emancipação humana e fortalecer o
movimento da Educação do Campo em
todo território brasileiro, que sustenta a
expansão da escolarização aos povos do
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Mallat, J. D., Goalves, A. N., & Gehrke, M. (2018). Licenciatura em Educão do Campo: princípios formativos a didática
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campo e a constituição dos cursos de
LEDOC no estado do Paraná.
Os cursos de Licenciatura em Educação
do Campo no Paraná
O Estado do Paraná trouxe
importantes contribuições na criação da
Educação do Campo, especialmente, por
meio da Articulação Paranaense,
evidenciado no encontro entre sujeitos que
possuem interesses no campo, na sua
dimensão educativa e no desenvolvimento
rural. Constitui-se como um espaço de
debates nas comunidades camponesas, por
meio de parcerias entre municípios e
movimentos sociais, bem como entre
governo estadual e movimentos sociais,
assim como parcerias entre os sujeitos da
sociedade civil, como exemplo, os
movimentos sociais e ONGs (Souza,
2006).
A composição e a consolidação da
Articulação Paranaense Por Uma Educação
do Campo, desde 1998 até os dias atuais,
empreende ações comuns definidas entre
as organizações articuladas e as práticas
específicas, sempre inspiradas no diálogo e
desafio de produzir a chamada Educação
do Campo (Ghedini, 2002).
É no cenário de lutas e parcerias que,
a partir do projeto-piloto, com a realização
de quatro cursos, mencionados na seção
anterior, é que se conquistou a oferta dos
cursos de Licenciatura em Educação do
Campo no estado do Paraná. Em 2010,
inicia-se, nesse estado, na Universidade
Estadual Centro-Oeste (UNICENTRO), na
Universidade do Oeste do Paraná
(UNIOESTE), na Universidade
Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) e
na Universidade Federal Fronteira Sul
(UFFS), a formação de licenciados em
Educação do Campo. Aproximadamente,
200 jovens do campo foram envolvidos
nessa formação (Gehrke, 2014).
Atualmente, no Paraná, existe a
institucionalização dos cursos permanentes
de Licenciatura em Educação do Campo,
implantados na Universidade Federal do
Paraná/ Setor Litoral (UFPR), na UFFS e
na UTFPR, o que significa que a
garantia de oferta de turmas anuais nessas
universidades. Nesse cenário, segundo o
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(IPEA, (2016, p. 46), “... além da
importância de serem cursos permanentes,
com ingresso anual de turmas, é
significativa a conquista do processo de
formação de educadores do campo para os
anos finais do Ensino Fundamental e do
Ensino Médio, dando um passo além das
pedagogias”. Nessa institucionalização, as
universidades federais foram
interiorizadas, o que garantiu o acesso de
mais sujeitos à universidade pública.
Os cursos de Licenciatura em
Educação do Campo (LEDOC)
organizaram-se em quatro áreas do
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Mallat, J. D., Goalves, A. N., & Gehrke, M. (2018). Licenciatura em Educão do Campo: princípios formativos a didática
por área do conhecimento...
conhecimento: Linguagens (expressão oral
e escrita em Língua Portuguesa, Artes,
Literatura, Educação Física e Língua
Estrangeira Moderna); Ciências Humanas
e Sociais; Ciências da Natureza e
Matemática; Ciências Agrárias.
Essa formação também objetivou e
cooperou com um universo de 558 escolas
públicas estaduais do campo, que hoje têm,
em seus quadros, uma rotatividade de mais
da metade dos docentes, uma vez que esses
profissionais são professores temporários e
atuam provisoriamente nas escolas do
campo. Nesse formato atual, é necessário
um professor para cada disciplina, o que
faz com que haja a necessidade de um
número maior de professores e contribui
para a rotatividade, fragmentação dos
conteúdos e falta de envolvimento nas
comunidades em que atuam. Nesse sentido,
a formação por área torna-se ainda mais
relevante, promovendo nos futuros
educadores uma formação que lhes
condições de maior acesso e permanência
nas comunidades do campo.
As cinco universidades do estado do
Paraná ofertam as turmas em regime de
alternância. A UNICENTRO e a
UNIOESTE concluíram sua primeira
turma e não tiveram mais a oferta do curso.
Isso decorre da condição de abertura de
editais para a autorização de novas turmas.
A formação inicial de professores,
nessa perspectiva, provoca transformações
no conjunto do sistema educativo,
portanto, precisa ser assumida como luta,
tanto na instituição formadora, no
movimento docente brasileiro e dos
movimentos do campo, como também por
cada licenciado formado, pois o curso
pretende formar professores para uma
escola que ainda “não existe”.
O campo da Didática: Didática Geral,
Didática Específica e Didática por área
de conhecimento nos cursos de
Licenciatura em Educação do Campo no
Estado do Paraná
Considerando a docência a base da
formação inicial de professores, o campo
da didática torna-se o centro dessa
formação, materializando-se sob aspectos
teóricos e práticos que investigam,
refletem e recriam o processo de ensino e
aprendizagem em todas as etapas da
Educação Básica, expressando a
organização da escola, do ensino e da
sociedade. Logo, os conhecimentos desse
campo expressam as inúmeras relações
entre o ensinar e o aprender no contexto
escolar.
O campo da Didática decorre do
ensino da didática geral e das didáticas
específicas e compreende as
especificidades do processo de ensino e
aprendizagem, seja sob a luz das questões
sociopolíticas e instrumentais da educação
(Veiga, 1994), seja sob a epistemologia das
diferentes práticas e do domínio de
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Mallat, J. D., Goalves, A. N., & Gehrke, M. (2018). Licenciatura em Educão do Campo: princípios formativos a didática
por área do conhecimento...
introduzir o estudante nesses conteúdos
(Libâneo, 2013).
A formação inicial nos cursos de
LEDOC aproxima-se de uma nova
perspectiva para o campo da didática, uma
vez que contempla a formação para uma
área do conhecimento, o que insere a
necessidade de discussões acerca da
relevância da constituição de uma didática
por área do conhecimento, que se articula
junto à didática geral e a didática
específica.
Para identificação do campo da
didática nos cursos de LEDOC no Paraná,
analisamos o currículo e a matriz curricular
das cinco universidades do estado, a fim de
verificar quais são as dimensões para o
ensino do campo da didática e quais
relações formativas se estabelecem entre as
didáticas apresentadas ao longo dos cursos.
Na compreensão assumida na
pesquisa decorrente das leituras e autores
da área, a didática geral se baseia em um
caráter reflexivo sobre o papel
sociopolítico da educação, da escola e do
ensino (Oliveira, 2013), sobretudo, a partir
de suas relações no processo de ensino-
aprendizagem. Nessa perspectiva, como
conhecimentos essenciais à materialização
da didática geral, buscamos analisar
elementos como o planejamento escolar, o
método e a metodologia, a avaliação e a
organização do trabalho pedagógico,
elementos esses que instrumentalizam
prática e teoricamente o trabalho do
professor, de modo amplo e geral (Marin
& Pimenta, 2015).
Nessa análise, identificamos que,
embora com nomenclaturas diferenciadas,
todas as universidades abordam a
disciplina de didática geral nos cursos de
LEDOC. As universidades UFFS e UFTPR
expressam o trabalho a partir da didática
geral enquanto uma disciplina que trata das
concepções educacionais e do processo de
ensino-aprendizagem, tendo como objetivo
a formação teórica e prática do futuro
professor. Dessa forma, a UTFPR propõe
ao ensino pressupostos “... teóricos,
históricos e filosóficos e sociais da
didática. Dimensões político sociais,
técnicas e humanas da didática e suas
implicações no processo de ensino-
aprendizagem. Planejamento e avaliação
educacional. A relação
professor/estudante” (UTFPR, 2010, p.
51). Esses elementos evidenciam, segundo
Veiga (1994), a Didática à luz dos aportes
sociológicos, históricos e pedagógicos,
numa relação de trabalho com conteúdos
concretos, relacionados no processo de
ensino-aprendizagem e entre a teoria e a
prática.
Há, em todas as universidades, uma
preocupação com o trabalho a partir da
didática geral, embora algumas
universidades o priorizem no aspecto
pedagógico como expresso acima e outras,
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Mallat, J. D., Goalves, A. N., & Gehrke, M. (2018). Licenciatura em Educão do Campo: princípios formativos a didática
por área do conhecimento...
no aspecto político e sociológico. A
UNIOESTE anuncia a disciplina de
Teorias Pedagógicas I, o estudo a partir de
“Concepções de educação e matrizes
pedagógicas construídas ao longo da
história do pensamento educacional.
Elementos de algumas matrizes
pedagógicas produzidas desde a concepção
humanista-histórica. Estudo a partir de
alguns clássicos do pensamento social e
pedagógico” (UNIOESTE, 2010, p. 38).
Nessa universidade, a didática geral
constitui-se como uma disciplina que
orienta os fundamentos da didática, mas
que não os sistematiza com os saberes
pedagógicos que serão levados às salas de
aula. Dessa forma, reconhecemos, no
conjunto da disciplina com elementos da
didática geral, a predominância das
questões sociopolíticas da Didática sobre
as questões instrumentais. Nessa
perspectiva, os poucos conteúdos acerca de
métodos de ensino, recursos didáticos e
especificidades do processo de ensino-
aprendizagem denotam um distanciamento
entre a teoria e prática (Marin, 2015), a
unidade aprender e ensinar e a
sociologização do pensamento pedagógico
(Libâneo, 2013).
Acerca das especificidades do ensino
da Didática Geral, observamos que a
UNICENTRO compreende a Didática
como uma disciplina que concebe saberes
que transcendem a sala de aula e, nesse
sentido, aponta em seu plano de ensino
trabalhos voltados ao tempo escola e ao
tempo comunidade. O tempo comunidade
propicia a articulação intrínseca entre
educação e a realidade específica das
populações do campo, em um movimento
que valoriza a prática a partir de seu
contexto social e o trabalho como
formação humana. Uma das propostas
apresentadas no plano de ensino é a de
acompanhar o desenvolvimento de um
projeto de educação num movimento
social, relacionando os princípios com as
formas de organização do trabalho
pedagógico (UNICENTRO, 2009). Tanto o
planejamento quanto a atividade indicam
os princípios de formação anunciados pela
educação do campo, concebida como
fortalecedora da identidade do campo, sob
uma condição emancipatória e
transformadora (Souza, 2006).
A análise permite afirmar o campo
da didática como um campo complexo, que
deveria estar no centro da formação
profissional dos professores, ajudando-os
na formulação de marcos teóricos,
conceituais e metodológicos, assegurando
a unidade do processo de ensino e
aprendizagem sob práticas sociais para o
enfrentamento dos desafios entre o
conhecimento, a escola e a sociedade
(Faria, 2015).
Feita a análise da didática geral,
passamos à identificação das didáticas
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Mallat, J. D., Goalves, A. N., & Gehrke, M. (2018). Licenciatura em Educão do Campo: princípios formativos a didática
por área do conhecimento...
específicas. Pesquisamos as disciplinas que
se articulam ao estudo dos saberes
específicos, à compreensão do conteúdo
ensinado e, ao mesmo tempo, ao
conhecimento pedagógico do conteúdo, a
conhecida formação conteúdo-forma
(Libâneo, 2013), que busca uma
aproximação com o ensino, a partir da
unidade entre o conhecimento da disciplina
e o conhecimento do ensino dessa
disciplina, na compreensão do conteúdo e
articulação desse com a vida cotidiana
(Romanowski, 2016).
Os dados pesquisados acerca da
didática específica apontam o que muitos
autores já vêm discutindo, a predominância
de conhecimentos específicos sobre as
práticas pedagógicas desses
conhecimentos, ou seja, as licenciaturas
valorizam os conteúdos das disciplinas,
desvalorizando o conhecimento
pedagógico de como ensinar esses
conteúdos, habilidade essencial aos futuros
professores e o que constitui as didáticas
específicas. Na aproximação dos planos de
ensino das cinco universidades,
destacamos a disciplina de Didática da
Matemática, ofertada na UTFPR, que
propõe em sua ementa o estudo do
conhecimento matemático e o ensino
da Matemática; Objetivos e valores
do ensino da Matemática; Noções de
transposição didática, contrato
didático, situações didáticas,
obstáculo epistemológico, registro de
representação, campos conceituais,
engenharia didática; Matemática e as
práticas de ensino, pesquisas
contextualizadas; Planejamento
didático para a Matemática;
Modalidades de Avaliação (UTFPR,
2010, p. 54).
A análise reconheceu a presença
constante, em diferentes ementas, dos
conhecimentos específicos das disciplinas,
ou seja, dos conhecimentos
epistemológicos que são fundamentais à
formação inicial de professores e
materializam a teoria a ser trabalhada no
ensino. Nesse sentido, destacamos a
presença de um dos elementos dessa
didática, isto é, o conteúdo específico e a
ausência de conteúdos do ensino, o que,
aqui pensado, constitui a didática
específica. Essa relação expressa-se na
disciplina de Biologia na Educação Básica,
ao anunciar o estudo da
Organização estrutural e funcional da
célula procarionte e eucarionte e de
seus componentes sub-celulares.
Métodos básicos de estudos da
célula. Ciclo celular. Química e
importância biológica de
aminoácidos, proteínas, carboidratos
e lipídeos. Enzimas: química,
cinética e inibição. Coenzimas e
Vitaminas. Energética bioquímica e
visão geral do metabolismo,
respiração e fotossíntese.
Características e função dos
carboidratos, lipídeos, aminoácidos e
proteínas. Célula: Herança e
ambiente. Bases citológicas da
herança (mitose e meiose). Herança
cromossômica. Mendelismo. Alelos
múltiplos. Herança citoplasmática.
Bases químicas da herança. Genética
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Mallat, J. D., Goalves, A. N., & Gehrke, M. (2018). Licenciatura em Educão do Campo: princípios formativos a didática
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de Populações. Mecanismos
Evolutivos. Raciação e Especiação.
Origem e Evolução do Material
Genético. Genética Molecular e
Biotecnologia (UFFS, 2010, p. 71).
Cada disciplina escolar tem a sua
didática própria, metodologias específicas
que são essenciais a cada área e que, junto
a didática geral, propiciam a formação
didático-pedagógico dos futuros
professores. Libâneo (2002) afirma que
não basta ao professor de Biologia
conhecer a Biologia, é necessário a esse
professor pensar biologicamente sobre a
Biologia. Nessa perspectiva, ensinar é,
portanto, “... adquirir meios de pensar,
através dos conteúdos” (Libâneo, 2002).
Acerca das didáticas específicas, o
que chama a atenção e representa avanços
na formação de professores é a concepção
de uma educação pautada na ruptura da
sociedade de classes, que define em seu
currículo um ensino a partir da realidade e
da produção coletiva do conhecimento. Ao
longo da análise, identificamos disciplinas
que expressam uma articulação entre a
formação inicial e o campo de atuação
profissional, como por exemplo, “Cálculo
Diferencial e a Vida no Campo” e
“Estatística e a Vida no Campo”
(UNIOESTE, 2009) ou “Mecânica
Aplicada à Vida no Campo I e II”
(UNICENTRO, 2009), valorizando
diferentes dimensões formativas,
especialmente, nas disciplinas que
concebem o campo como local de prática
dos conhecimentos abordados nas
disciplinas específicas.
Tecida a análise da Didática Geral e
da didática específica, verificamos nos
planos de ensino disciplinas que viessem a
materializar a indissociabilidade entre
ambas, ou seja, que expressassem relações
entre o processo de ensino-aprendizagem,
os conteúdos específicos e a área de
atuação proposta nos cursos de formação
inicial. Nessa investigação, é proposta uma
nova perspectiva ao ensino da didática, a
didática por área do conhecimento, isto é,
as disciplinas que se alimentam das duas
didáticas aqui anunciadas e não apenas a
uma disciplina a ser ensinada.
Esta análise é extremamente
relevante, uma vez que caracteriza a área
do conhecimento e concretiza essa
formação, que nasce sob a realidade e a
necessidade dos sujeitos do campo, na
política educacional pautada pelos
Movimentos Sociais. Trata-se de relações
que superam a fragmentação e evidenciam
a articulação entre o que se compreende
como disciplinas do campo da didática.
Nesse sentido, o trabalho a partir da
didática por área do conhecimento
transcende as didáticas específicas e a
didática geral e necessita das duas para
materializar-se no contexto profissional.
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por área do conhecimento...
Nessa perspectiva, observamos que
três das cinco universidades apontam para
a superação dos saberes fragmentados e
rompem a lógica disciplinar, como a UFPR
ao propor a disciplina de Ciências e Prática
de Ensino II (UFPR, 2012, p. 61), o estudo
da
Física, Química e Biologia
reconhecidas, a partir da saúde na
agricultura familiar e suas relações
com o meio ambiente. A Física,
Química e Biologia a partir de
análise de práticas pedagógicas de
Ciências da Natureza nas escolas
públicas regionais, contextualizados
com as mais recentes contribuições
das Ciências, com as etnociências e
com filosofia da Ciência.
Há, nessa disciplina, a proposta de se
pensar as práticas de ensino a partir da área
e não mais a partir dos conhecimentos
específicos de cada disciplina. Essa
proposta expressa o rompimento com a
fragmentação curricular e, segundo
Libâneo (2013), promove uma discussão
epistemológica e a interface com diferentes
campos investigativos, valorizando a área
do conhecimento.
Na UNIOESTE e na UTFPR uma
aproximação com elementos de uma
didática por área, que decorre de
conhecimentos epistemológicos entre as
disciplinas, porém não expressa
conhecimentos pedagógicos acerca deles:
Agricultura e as origens do
conhecimento científico; A
Matemática Pré-helênica e o
surgimento dos algoritmos;
Motivações e origens do método
axiomático; A evolução do conceito
de conhecimento; Os principais
paradigmas da Física e da
Matemática; Algumas rupturas e
revoluções na Física e na
Matemática; Métodos e práticas
científicas: como de fato a Ciência é
produzida hoje; A produção
científica no Brasil e na América
Latina; O valor social da Ciência; O
papel das mulheres no
desenvolvimento da Ciência no
Brasil (UNIOESTE, 2010, p. 57).
Acerca da didática por área, as
universidades que a anunciam, o fazem
valorizando a interdisciplinariedade, o
contexto de atuação e a relação da área
com a organização do trabalho pedagógico,
como na disciplina de Instrumentação para
o Ensino de Química e Física que aborda:
Atributos de um bom professor e
aspectos necessários em sua
formação. Objetivos do Ensino de
Química e física. Tendências do
ensino de Química e física nos
últimos anos. O que ensinar no
ensino médio. Cotidiano e Ensino de
Física e Química. Métodos
alternativos de ensino de física e
química. Práticas laboratoriais de
física e química. Experiências de
química e física com materiais do
cotidiano. Observação e resolução de
problemas relacionados ao cotidiano
(UFFS, 2010, p. 96).
A análise desenvolvida permite
indicar que há outra didática em curso,
forjada nos cursos em análise e que é um
dos objetivos centrais das LEDOC: a
formação de um professor por área do
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conhecimento. Para essa formação, Molina
(2012) reconhece alguns desafios, dentre
eles, a promoção de um trabalho docente
multidisciplinar, que deverá desencadear
novas formas para a organização escolar e
o método do trabalho pedagógico nas
escolas do Campo.
Na UNICENTRO, segundo a análise
realizada, a didática por área do
conhecimento materializou-se na disciplina
de Práticas de Ensino I, II, III e IV, que
articuladas ao estágio supervisionado
trabalharam elementos fundantes da
proposta, desde a orientação sobre o
reconhecimento do ambiente escolar, a
partir de sua área, da reflexão e
sistematização dos resultados para
estabelecer o conteúdo da formação inicial
com a prática do contexto escolar. Outro
aspecto abordado nessas disciplinas foi a
análise da documentação escolar, seja o
planejamento de ensino de cada disciplina
da área, ao Projeto Político Pedagógico
(PPP).
Ao analisar os elementos da didática
por área do conhecimento, reconhecemos
suas potencialidades e desafios,
especialmente, na organização curricular e
reorganização do trabalho pedagógico.
Esses limites também são anunciados por
Caldart (2011, p. 146), quando apregoa a
“... integração dessa mesma totalidade de
trabalho pedagógico, não somente em
disciplinas ou conteúdos entre si, mas
estudo e práticas sociais, inseridas na
formação unilateral dos trabalhadores ...”
numa nova forma de organizar o currículo.
Nessa perspectiva, ao se analisar os
planos de ensino, não dúvidas quanto à
formação sólida no que concerne às
disciplinas, nas relações dessas com as
comunidades e na função social da escola.
Tecida essa análise, compreendemos com
clareza a relevância do campo da didática
que cada universidade materializa em seu
currículo e na formação inicial dos
professores, desde as fragilidades, como o
trabalho com as didáticas específicas e
também a urgência em se priorizar no
currículo a formação por meio da
totalidade do campo da didática. Assim, a
partir da apresentação dos dados
analisados, definimos, retomando o
objetivo e concepção do campo da
Didática, princípios que compõem e
expressam a materialização da tríade a
partir do trabalho com a didática por área
do conhecimento.
Esses princípios fundamentam o
trabalho a partir da didática por área do
conhecimento e permitem um novo olhar
para os currículos e para as práticas
formativas desenvolvidas ao longo dos
cursos. A articulação de todos os
conhecimentos, de modo organizado,
consegue quebrar paradigmas e
transcender o ensino fragmentado,
valorizando e instrumentalizando o
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professor para a articulação de diferentes
disciplinas, que valorizam e materializam a
proposta interdisciplinar, crítica e
transformadora.
Princípios formativos da Didática por
área do conhecimento
Passamos agora a problematizar
princípios formativos que sustentam a
didática por área do conhecimento, a qual
se configura na relação entre a didática
geral, didática específica e didática por
área, compondo assim, a tríade que traz um
elemento novo para o campo da didática.
Esses princípios são produzidos desde a
triangulação de dados favorecidos a partir
da análise documental, do referencial
teórico sustentado na Educação Popular, na
pedagogia histórico-crítica, na Educação
do Campo e no acúmulo teórico-prático do
campo da didática na formação de
professores no Brasil.
Ao trazermos a expressão “por uma”
didática por área, entendemos que ela está
em construção, ou seja, não está pronta e é
um desafio no contexto do campo,
assumindo como princípios ou
fundamentos gerais de uma determinada
racionalidade (Gehrke, 2014) que
implicam, necessariamente, o
conhecimento e a tomada de decisão
individual do sujeito sobre a realidade e o
mundo (Freire, 1995), no sentido de
produzir transformações na formação
inicial de professores, desde os cursos
analisados a teoria pedagógica do campo
da Didática.
Os princípios formativos aqui
delineados fundamentam e materializam a
proposta de uma didática por área do
conhecimento, aprofundando as relações
identificadas a partir da análise de dados
realizada nos cursos no Paraná e da tríade,
estabelecendo, nesse sentido, relações
indissociáveis entre o campo da didática e
a formação inicial de professores para o
campo, como expresso na Figura 1:
Figura 1: Princípios formativos da Didática por área do conhecimento.
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Fonte: Elaborada pelos autores.
A figura apresentada quer situar à
leitura e o leitor desde a compreensão aqui
produzida. Os princípios formativos da
didática por área colocam em movimento a
didática geral e a didática específica, junto
à didática por área e, assim, transcendem a
própria didática por área. Dessa forma, a
tríade sustenta-se em seu próprio
movimento que depende de ambas as
didáticas.
Relação intrínseca entre ser professor e
educador
A relação intrínseca entre ser
professor e educador é um princípio
fundante da formação aqui pretendida, uma
vez que se reconhece como essencial a
relação entre o profissional professor, que
ensina, trata do conhecimento, cria,
planeja, avalia, detém competência
científica (Freire, 1995); e o educador, que
incorpora todas as dimensões anteriores e
amplia a sua formação, pois compreende o
processo educativo como um processo de
formação humana na perspectiva da
transformação social. O professor-
educador da LEDOC é um profissional que
reconhece a formação por meio da
dimensão da militância, que articula a
socialização do conhecimento do campo
com as potencialidades de mudança
presentes nos contextos sociopolíticos e
impulsionam mudanças sociais, para
transformar a situação vivida pela classe
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camponesa, especialmente, no processo de
luta pela terra (Caldart, 2011).
Incide, nele, uma visão de ser
humano e de sociedade que impulsiona a
luta política contra a desigualdade por
meio do saber científico, do nível teórico
ao prático, o que corrobora a necessidade
de uma didática por área que reafirme o
compromisso de uma educação politizada e
politizadora, num contexto histórico que
valoriza as diferentes leituras de mundo e o
transforma por meio de conteúdos e
práticas sociais coletivas.
a necessidade, nessa perspectiva,
de valorização da educação enquanto ato
político e de uma relação entre professor-
educador e estudante que priorize o
trabalho em grupo; as diferentes
interações; que estimule a discussão e a
tomada coletiva de decisões, pautada em
conhecimentos epistemológicos de vida e
de mundo, enfim, um relacionamento que
ultrapasse a concepção de que o educando
é receptor, que deposita conteúdos ao
longo de sua formação.
Molina e Antunes-Rocha (2014), ao
anunciarem que o perfil de educador do
campo se consolida à medida que se
materializa sua ação e intervenção político-
pedagógica nas próprias lutas dos sujeitos,
consolidam o princípio aqui anunciado - da
relação intrínseca entre ser professor -
educador, reafirmando a identidade do
profissional, do estudante e da escola do
campo, que prevê uma escola política e,
pedagogicamente, vinculada à cultura e as
causas sociais e humanas desses sujeitos.
Essa concretização da formação a
partir de uma relação entre ser professor e
educador tem como base uma formação
humanizadora, que exige repensar a prática
pedagógica, fortalecida no processo e não
no produto. É compreender que a
necessidade de fortalecimento dos sujeitos
que vivem no campo e que isso se
consolida na superação da exclusão do
conhecimento, assentada ao longo das
políticas públicas brasileiras.
Postura crítica frente ao conhecimento
Esse princípio indica a necessidade
de um novo currículo que valorize,
especialmente, a tríade aqui apresentada
para o campo da Didática. O desafio que se
impõe é a visão da totalidade e o trabalho a
partir dessa visão, retomando as partes de
um todo significativo, numa postura
coletiva, que reconheça os conhecimentos
como ciência viva, concreta, indissociável
da realidade social, incidindo, assim, em
um novo currículo que sustente novas
práticas e relações no campo da formação
de professores, que valorize o saber, a
prática, o processo, o compromisso social e
político dessa formação, assumida pelo
coletivo de professores.
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por área do conhecimento...
A postura crítica frente ao
conhecimento rompe com o modelo
positivista
ix
de educação e de ensino
(Caldart, 2011), e insere uma questão na
formação de professores: superar o
paradigma de formação disciplinar e olhar
o conhecimento de forma ampliada, ou
seja, por área do conhecimento. Para que
essa formação se materialize a partir de um
compromisso social e político é necessário
à superação do senso comum, uma vez que
a educação torna-se significativa ao propor
uma leitura crítica da realidade, tornando o
ato educativo baseado na emancipação e
não na alienação.
Nesse sentido, a tomada de
consciência deve adquirir meios para
emancipar o mundo (Ghedin, 2012). A
emancipação tem como objetivo a
libertação política e cultural de toda a
forma de opressão, a passagem do senso
comum à consciência filosófica (Saviani,
1984) a uma educação original, intencional
e ativa. A emancipação é necessária à
educação para torná-la concreta, como
instrumento de luta (Ghedin, 2012), para
uma visão ampliada da sociedade.
A proposta se assenta na educação
popular que, mesmo sendo pensada para
fora da escola, exerceu e exerce forte
influência sobre ela, especialmente, ao
romper com o ensino livresco e propor
uma escola com o povo e para o povo
(Freire, 1995), legitimando os
protagonistas originários da Educação do
Campo, como produtores do conhecimento
(Caldart, 2009), situando o ato educativo,
entre eles, o escolar e toda a teoria
pedagógica em sintonia com a
dramaticidade de cada tempo em um
processo de humanização (Freire, 1995).
Assim, também, faz a Pedagogia
Histórico-Crítica, que valoriza a prática
social como ponto de partida, afirmando
que a emancipação do homem passa
também pelo domínio do saber,
historicamente acumulado (Saviani, 1991),
privilegia a contradição, a dúvida, baseado
em uma realidade social mais ampla. Nesse
sentido, defende e reconhece os saberes e a
cultura do povo, transformando-os numa
ferramenta de luta legítima, considerando
os problemas postos pela prática social a
partir de determinados conteúdos, uma vez
que as questões sociais precedem a seleção
de conteúdos.
O percurso aqui anunciado assenta-
se, ainda, na proposta do campo da
Didática, ao compreender que o processo
de ensino e aprendizagem sustenta-se na
formação política e pedagógica, que
valoriza conhecimentos científicos,
políticos e culturais produzidos pelo
homem ao longo de sua história. Nessa
perspectiva, o campo da didática
problematiza, articula, promove, insere e
materializa uma formação inicial por área
do conhecimento, a partir da totalidade:
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por área do conhecimento...
conhecimento, vida, militância, trabalho,
cultura e movimento.
Planejamento: relações entre totalidade,
interdisciplinaridade e vínculo com a
vida
Compreendemos o planejamento
como um exercício coletivo que permite
agir conscientemente e definir
antecipadamente os objetivos, as ações e
meios de efetivá-los, ou seja, é um
processo de tomada de decisão, um
instrumento a serviço de uma nova
concepção de formação. Portanto, ele
permite “... antecipar mentalmente uma
ação a ser realizada e agir de acordo com o
previsto; buscar fazer algo incrível,
essencialmente humano: o real ser
comandado pelo ideal” (Vasconcelos,
2008, p. 35).
Nessa perspectiva, o planejamento
deve implicar discussões e atividades
coletivas que questionem, conscientizem
problemas coletivos e a luta pela melhoria
da qualidade de vida, em uma aproximação
entre o ensino e a realidade social,
mediados pela teoria e pela prática, tendo
como referencial a realidade histórica
(Lopes, 1999), construída sobre a
marginalização do povo do campo, de sua
cultura e identidade própria. Essas
questões que devem imbuir o planejamento
por meio da investigação, de forma que o
pensar sobre o povo não possa ser feito
sem ele, uma vez que o povo é o sujeito de
seu pensar (Paraná, 2006).
Para tanto, sua materialização deve
iniciar pelo estudo real da escola e suas
relações com o contexto social em que se
insere. que se fazer um diagnóstico da
realidade concreta do estudante,
instrumentalizando os professores para um
ensino comprometido e consciente de suas
necessidades e interesses. Dessa maneira,
os conteúdos não se apresentariam como
produtos fragmentados e sim, como
expressão complexa a vida material
(Gasparin, 2012) que precisam ser
pensados e definidos a partir da
coletividade, expressando a garantia de
integração de diferentes momentos da vida.
Essa integração se torna uma exigência
metodológica e epistemológica (Molina &
Sá, 2011), além de profissional, uma vez
que a maioria dos professores não teve essa
prática em sua formação.
Nesse sentido, a formação a partir da
área ou para a área leva em conta as
especificidades da disciplina, numa análise
entre as partes e o todo. Nas palavras de
Santos (2012, p. 122), “... os fragmentos da
especificidade assim tornados objetivos
continuam a integrar a totalidade. Eles
ocupam os objetos em sua essência e
atividade, mas sempre com a função de
totalidade, que continua íntegra”.
O desafio exposto está em superar o
formato único de ensino centrado na sala
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de aula, determinado ao longo dos séculos,
que acarreta sérias limitações no processo
educativo (Souza, 2006); (Freitas, 1995).
Propomos, aqui, uma ação pedagógica que
una o universal ao particular, em um
movimento de integração entre o sujeito
professor-educador, o sujeito estudante, a
transformação científica e a transgressão
do modelo classificatório e excludente de
avaliação.
Princípio da transgressão do modelo
classificatório e excludente na avaliação
As práticas avaliativas materializadas
ao longo da história da educação apontam
para um modelo autoritário, classificatório
e excludente, centrado na nota que se
configura em mercadoria de troca, entre
professor e aluno, em que o segundo fica
subordinado ao primeiro (Freitas, 1995). A
avaliação, nessa perspectiva, silencia os
alunos, suas culturas e seu processo de
construção do conhecimento, ou seja, a
avaliação é realizada na lógica do aluno
mostrar o que aprendeu ao professor e não
para intervir na realidade (Freitas, 2011).
Para dar conta da transgressão, a
avaliação implica uma ... reflexão crítica
sobre a prática, no sentido de captar seus
avanços, suas resistências, suas
dificuldades e possibilitar uma tomada de
decisão sobre o que fazer para superar os
obstáculos” (Vasconcelos, 2008, p. 43),
passando a uma concepção de avaliação
formativa, que permeia diferentes áreas do
conhecimento e sua articulação. Leva em
consideração o estudante em todo o seu
processo de aprendizagem em um cenário
em que professor e estudante são
responsáveis.
Nessa perspectiva, não
neutralidade na avaliação, uma vez que ela
é, antes de tudo, política e está relacionada
ao poder, a objetivos e finalidades
(Vasconcelos, 2008). Todavia, essas
relações de poder precisam ser
horizontalizadas e o conceito de
participação ampliado, concebendo as
relações entre
professor
estudante,
estudante
estudante e escola
comunidade.
Isso significa, portanto, conceber o
estudante como sujeito social e, ainda, de
acordo com Wachowicz (2012),
compreender a avaliação da aprendizagem
como uma questão socioafetiva e política,
além de ser uma questão técnica e didática.
Dessa forma, avaliar é um ato
extremamente complexo em que a
responsabilidade não está apenas no
professor, mas em todos os integrantes do
processo (Vasconcelos, 2008) e deve se
estender, também, a todas as áreas do
conhecimento, para que o estudante
compreenda as relações existentes entre o
que se aprende e o que se materializa
dentro do todo social, a partir desses
conhecimentos.
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Assim, a avaliação assume uma
tomada de consciência sobre a
aprendizagem, pela seleção de
significados, mediatizada sobre questões
internas e externas, tornando-se complexa.
Nesse sentido, a aprendizagem realiza-se
em tempo contínuo e a avaliação em tempo
discreto (Wachowicz, 2012). Ao estudante,
ela favorece para que visualize seus limites
de aprendizagem, sua postura em relação
aos estudos e aos demais colegas. Dessa
maneira, a avaliação contribui para a
melhoria do ensino e da aprendizagem e
manifesta-se como dinâmica, qualificando
e subsidiando o encaminhamento da ação e
a construção dos resultados que se deseja.
Organização do trabalho pedagógico e a
escola do campo
Postas as categorias desse campo do
saber, é necessário, também, que sejam
articuladas diante de uma nova
organização do trabalho pedagógico,
organização esta que compreende a
formação a partir da tríade didática geral,
específica e por área.
A escola que conhecemos,
atualmente, é a escola que concebe o
ensino especialmente dentro da sala de
aula e o conhecimento para a sala de aula,
estabelecendo um modelo que facilita as
“... condições gerais do processo de
acumulação de riqueza de uma classe e
detrimento de outra” (Freitas, 2011, p.
156), numa contínua exclusão da classe
trabalhadora e processo de subordinação
dos estudantes (Tratemberg, 1982). A
concepção de Educação do Campo aponta
que são vários os espaços formativos no
campo educacional, sobretudo, a partir da
pedagogia da alternância, que estende a
formação a partir do meio natural e social
(Freitas, 2011).
Um dos desafios da LEDOC é
materializar práticas formativas durante o
percurso de sua formação, contribuindo
com a consolidação do ideal de escola
edificado por esse movimento educacional,
protagonizado pelos camponeses nos
últimos 15 anos: uma Escola do Campo.
(Molina, 2012).
A mudança no currículo, a partir da
área, decorre, de acordo com Caldart
(2011), de uma mudança “... no
fazer/pensar dos educadores, que devem
passar de uma subjetividade para uma
intersubjetividade, do trabalho isolado e
individual, para o trabalho coletivo”
(Caldart, 2011, p. 53). Nessa perspectiva,
um planejamento coletivo e por área
determina mudanças na organização da
escola, desde o ato de distribuição de aulas,
ao ato de planejar coletivamente o trabalho
pedagógico. Makarenko (1983) aponta
uma importante reflexão para pensar essa
formação e afirma que o coletivo precisa
ser compreendido como um organismo
social e vivo que possui órgãos,
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atribuições, responsabilidades, estabelece
relações e interdependência entre as partes
e o todo. Segue argumentando que se isso
não existir, não coletivo, uma
simples multidão reunida.
A coletividade se expressa tanto no
planejamento e atuação no processo de
ensino e aprendizagem quanto na
organização do trabalho pedagógico e na
gestão escolar. Acerca do trabalho dos
professores, necessita romper as paredes da
sala de aula e conceber diferentes espaços
formativos, que expressem as relações
sociais de produção e criação, tomando o
espaço como parte da realidade,
multidimensional, ou seja, pode ser
compreendido em um todo, mesmo sendo
parte.
Nesse sentido, é preciso garantir que
o currículo e a organização do trabalho
pedagógico tenham a realidade como
objeto de estudo na indissociabilidade
entre teoria e prática, em um novo padrão
de relações sociais que problematiza a
cultura do individualismo e da
fragmentação (Caldart, 2011). Makarenko
(1983) corrobora com a discussão
empreendida por Caldart (2011) ao afirmar
que a formação humana não pode estar
descolada do real, “... a escola deve ser
compreendida como a base da educação de
uma sociedade e consequentemente para a
formação tanto do trabalhador quanto para
os governantes” (Makarenko, 1983, p. 63).
A totalidade se constitui, aqui, em
uma realidade em permanente
transformação e na superação das barreiras
entre as pessoas e as disciplinas
(Rodrigues, 2012). Um dos desafios da
organização do trabalho escolar, a partir da
área do conhecimento, é a materialização
do espaço de diálogo, uma vez que, além
da integralização de conhecimentos de uma
mesma área, é necessário que eles
dialoguem, também, com as demais áreas
do conhecimento (Rodrigues, 2012).
Fazenda contribui para essa discussão ao
afirmar que a consolidação de uma atitude
interdisciplinar “... não está na junção de
disciplinas, nem na criação de novos
conteúdos, nem de métodos, a atitude
interdisciplinar está contida nas pessoas
que pensam o projeto educativo” (Fazenda,
2002, p. 64).
Essa transformação da escola como
um todo exige a construção de parâmetros
coletivos, atitudes de indignação frente às
injustiças e enfrentamento das situações
que desumanizam (Freitas, 2013). É
necessário garantir práticas de trabalho
socialmente necessárias, inserção dos
estudantes nas decisões e organização da
escola, em um processo que “... implica em
responsabilização real pelo cumprimento
de objetivos que afetam a vida de todos
(Freitas, 2013). Para Makarenko (1983, p.
138), o coletivo dos professores e o
coletivo dos estudantes não podem ser
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considerados dois coletivos diferentes, mas
devem ser entendidos como “... um único e
mesmo coletivo pedagógico”, nesse
contexto, ele ressalta que ele não considera
necessário educar uma pessoa isolada, mas
educar todo um coletivo. E, ainda, enfatiza
que “esse é o caminho para a educação
correta” (Makarenko, 1983, p. 138).
O conjunto de princípios formativos
formulados e que não pretendem ser
únicos, sugere rupturas com o sistema
escolar imposto pelo capitalismo e indica
possibilidades de pensar a formação inicial
de professores para o contexto do campo a
partir da formação por área. A proposição
da didática por área do conhecimento
decorre de todos os princípios que
anunciam a urgência de se repensar o
processo de formação inicial e,
consequentemente, a lógica de ensinar e
aprender nas escolas do Campo. Indica
uma nova forma escolar, porque defende
um modelo de formação que propõe um
professor-educador, uma nova postura
frente ao conhecimento por meio de um
planejamento que une, articula, relaciona
os conteúdos, a vida e a luta pelo acesso ao
conhecimento, a terra e à permanência no
campo.
Considerações Finais
O estudo e a análise desenvolvida
permitiu compreender a didática como uma
área de formação humana que vem
sofrendo alterações desde o início dos
cursos de formação inicial de professores e
se constitui em um campo de disputa, que
ainda necessita de muita discussão e
estudos, presentes na área de formação de
professores.
A partir dos documentos analisados,
compreendemos que avanços no que se
refere ao trabalho relacionado à didática
geral, de forma que ela se expressa
praticamente em todos os cursos de
LEDOC, seja sob o aspecto pedagógico ou
sociológico da educação. No que diz
respeito às didáticas específicas,
limitações no estudo dos conhecimentos
pedagógicos de cada disciplina específica
que compõe a área de formação, havendo a
predominância de conteúdos sob as
diversas formas de ensinar este conteúdo.
O que chama a atenção, acerca do
campo da didática, são pequenos avanços
em alguns cursos na materialização da
didática por área do conhecimento, ao
abordar as diferentes relações entre as
disciplinas, o processo de ensino e
aprendizagem e o contexto social do
campo apontando, assim, para elementos
que indicam uma nova organização no
trabalho pedagógico da escola e da relação
desse com o conhecimento.
Assim, como contribuição e
definição do que se compreende enquanto
didática por área do conhecimento, a partir
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da análise documental e da proposta de
formação que se anuncia aos cursos de
LEDOC, foram definidos alguns princípios
formativos que compõem o entendimento
acerca da totalidade do que seria o campo
da didática.
Esses princípios fundamentam o
trabalho a partir da didática por área do
conhecimento e permitem um novo olhar
aos currículos e práticas formativas
desenvolvidas ao longo dos cursos,
especialmente, sob a formação do que
anunciamos enquanto tríade do campo da
didática. É necessário preparar o professor
por meio dos conhecimentos da didática
geral, em uma aproximação teórica e
prática do processo de ensino e
aprendizagem, com o estudo das
especificidades de cada disciplina e suas
metodologias específicas. A articulação de
todos os conhecimentos, de modo
organizado, consegue quebrar paradigmas
e transcender o ensino fragmentado,
valorizando e instrumentalizando o
professor para a articulação de diferentes
disciplinas, que valorizam e materializam a
proposta interdisciplinar, crítica e
transformadora.
Não se pretende esgotar a
possibilidade de novos princípios,
discussões e reflexões no que corresponde
à tríade apresentada. Como um curso
relativamente novo, demanda estudos e
análises, pois a sua proposta constitui
grandes mudanças no processo de ensino e
aprendizagem e, consequentemente, na
lógica da organização escolar.
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i
As áreas do conhecimento estão expressas na Lei
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artigo 36, e compõem o currículo composto pela
Base Nacional Comum (Brasil, 1996).
ii
Os movimentos sociais do Campo fazem parte da
Articulação Nacional por uma Educação do Campo
(Souza, 2006).
iii
Experiências piloto se materializaram a partir do
curso desenvolvido pela UFMG, a qual se estendeu
à Universidade Federal da Bahia (UFBA),
Universidade Federal de Sergipe (UFS) e à
Universidade de Brasília (UNB) (Molina e Sá,
2011).
iv
Os cursos de licenciatura em Educação do Campo
analisados nessa pesquisa foram das seguintes
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
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Mallat, J. D., Goalves, A. N., & Gehrke, M. (2018). Licenciatura em Educão do Campo: princípios formativos a didática
por área do conhecimento...
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Oeste (UNICENTRO), Universidade Estadual do
Oeste do Paraná (UNIOESTE), Universidade
Federal Fronteira Sul (UFFS), Universidade
Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) e
Universidade Federal do Paraná (UFPR/Setor
Litoral).
v
Currículo é uma escola funcionando, quer dizer,
uma escola desempenhando a função que lhe é
própria (Saviani, 2003), apresenta a partir da matriz
curricular, as disciplinas que compõem toda a
formação inicial e dos planos de ensino, que
expressam os objetivos, programas/conteúdos e
referências bibliográficas de cada disciplina
(Libâneo, 2013).
vi
A lógica do currículo disciplinar refere-se à
organização do currículo por disciplinas isoladas,
que não estabelecem relações entre si, os
conhecimentos são apresentados como
independentes (Rodrigues, 2012).
vii
As áreas do conhecimento estão expressas na Lei
de Diretrizes e Bases da Educação (9.9394/96) sob
o artigo 36 e compõem o currículo composto pela
Base Nacional Comum (Brasil, 1996).
viii
O regime de alternância se constitui entre tempo-
escola e tempo-comunidade, permitindo que os
estudantes não deixem de viver no campo para
estudar (Caldart, 2009).
ix
Caracterizado pelo isolamento e fragmentação:
isolam-se recortes e constituem-se campos
epistemológicos para produzir a ciência. Modelo
que impede que se estabeleça o diálogo entre
diferentes campos do saber (Rodrigues, 2012). Essa
formação muitas vezes se materializa dentro de
“gavetas do conhecimento” (Santos, 2012, p. 60).
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ISSN: 2525-4863
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Informações do artigo / Article Information
Recebido em : 07/01/2018
Aprovado em: 14/02/2018
Publicado em: 30/08/2018
Received on January 7th, 2018
Accepted on February 14th, 2018
Published on August 30th, 2018
Contribuições no artigo: A autora Juliana Domit Mallat
foi responsável pela produção do manuscrito, coleta e
análise de dados. O autor Ademir Nunes Gonçalves foi
responsável pela correção e revisão do conteúdo
manuscrito. O autor Marcos Gehrke foi responsável pela
análise de dados e correções do manuscrito. Todos os
autores foram responsáveis pela aprovação da versão
final a ser publicada.
Author Contributions: The author Juliana Domit Mallat
was responsible for the production of the manuscript, data
collection and analysis. The author Ademir Nunes
Gonçalves was responsible for the correction and revision
of manuscript content. The author Marcos Gehrke was
responsible for the analysis of data and corrections of the
manuscript. All authors were responsible for approving the
final version to be published.
Conflitos de interesse: Os autores declararam não haver
nenhum conflito de interesse referente a este artigo.
Conflict of Interest: None reported.
Orcid
Juliana Domit Mallat
http://orcid.org/0000-0003-4917-1639
Ademir Nunes Gonçalves
http://orcid.org/0000-0002-4513-8711
Marcos Gehrke
http://orcid.org/0000-0002-7592-3139
Como citar este artigo / How to cite this article
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Mallat, J. D., Gonçalves, A. N., & Gehrke, M. (2018).
Licenciatura em Educação do Campo: princípios
formativos a didática por área do conhecimento. Rev.
Bras. Educ. Camp., 3(2), 677-704. DOI:
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-4863.2018v3n2p677
ABNT
MALLAT, J. D.; GONÇALVES, A. N.; GEHRKE, M.
Licenciatura em Educação do Campo: princípios
formativos a didática por área do conhecimento. Rev.
Bras. Educ. Camp., Tocantinópolis, v. 3, n. 2, mai./ago.,
p. 677-704, 2018. DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-
4863.2018v3n2p677
Revista Brasileira de Educação do Campo
The Brazilian Scientific Journal of Rural Education
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A educação do MST diante do Estado e da política pública
de Educação do Campo sob influência dos organismos
multilaterais
Vagner Luiz Kominkiéwicz
1i
, Adriana D’Agostini
2
1
Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC. Programa de Pós-Graduação em Educação. Rua Padre Salvador, 875.
Florianópolis - SC. Brasil.
2
Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC.
Autor para correspondência/Author for correspondence: vagnerluka@gmail.com
RESUMO. Este artigo trata da Educação do MST em sua
relação com o Estado e os organismos multilaterais, sintetizada
na política de Educação do Campo. Nossa investigação
fundamentou-se na análise dos documentos do MST, do Estado
e dos organismos multilaterais, entrevistas e questionários. A
partir deste estudo, chegamos à conclusão que o caráter de
classe da educação no MST fica subsumido ao consenso que se
inicia a partir do I ENERA, focado na luta pela educação
centrada na política pública de Educação do Campo,
representando um consenso entre frações de classes antagônicas.
Apontamos para a necessidade de uma educação da classe
trabalhadora, que neste momento se com limites e
contradições, mas a reconhecemos como necessária para a
construção de experiências para um acúmulo de forças futuro.
Palavras-chave: Educação do MST, Educação do Campo, Luta
de Classes, Estado, Política Pública.
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Kominkiéwicz, V. L., & D’Agostini, A. (2018). A educão do MST diante do Estado e da política blica de Educão do
Campo sob influência dos organismos multilaterais...
Education in the MST before the State and public policy of
Rural Education under the influence of multilateral
organizations
ABSTRACT. This article deals with the Education of the MST
in its relationship with the State and multilateral organizations,
synthesized in the Rural Education Policy. Our research was
based on the analysis of the documents of the MST, the State
and multilateral organizations, interviews and questionnaires.
From this study we come to the conclusion that the class
character of education in the MST is subsumed to the consensus
that starts from the I ENERA, focused on the struggle for
education focused on the public policy of Rural Education,
representing a consensus between antagonistic class fractions.
We support the need for an education of the working class,
which in this moment is given with limits and contradictions,
but we recognize it as necessary for the construction of
experiences for an accumulation of future forces.
Keywords: MST Education, Rural Education, Class Struggle,
State, Public Policy.
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La educación en el MST del Estado y la política pública de
Educación Rural bajo influencia de los organismos
multilaterales
RESUMEN. Este artículo trata de la Educación del MST en su
relación con el Estado y los organismos multilaterales,
sintetizado en la política de Educación Rural. Nuestra
investigación se basó en el análisis de los documentos del MST,
del Estado y de los organismos multilaterales, entrevistas y
cuestionarios. A partir de este estudio llegamos a la conclusión
que el carácter de clase de la educación en el MST queda
subsumido al consenso que se inicia a partir del I ENERA,
enfocado en la lucha por la educación centrada en la política
pública de Educación Rural, representando un consenso entre
fracciones de clases antagónica. Aponemos para la necesidad de
una educación de la clase trabajadora, que en este momento se
da con límites y contradicciones, pero la reconocemos como
necesaria para la construcción de experiencias para una
acumulación de fuerzas futuras.
Palabras clave: Educación del MST, Educación Rural, Lucha
de Clases, Estado, Política Pública.
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Introdução
Este artigo é resultado e
desmembramento de uma dissertação de
mestrado que trata da trajetória da
educação no MST na relação com o
Estado, Organismos Multilaterais e a
política pública de Educação do Campo. O
objetivo foi analisar em que medida a
educação no MST manteve seu caráter de
classe na relação com o Estado,
Organismos Multilaterais e as políticas
públicas para a Educação do Campo,
apontando para as possibilidades em curso.
O estudo contou com pesquisa
bibliográfica, documental, entrevistas e
questionário fundamentados teoricamente
em Minayo (2004).
Para a apresentação da pesquisa por
meio deste artigo, dividimos o texto em
três partes. Na primeira parte,
demonstramos que a educação no MST
nasce de uma necessidade da luta pela terra
e se consolida como uma formulação tática
na luta pela Reforma Agrária. Embora
carregue contradições em sua formulação,
a educação no MST apresenta um caráter
de classe em suas elaborações e vinculação
com os objetivos desse movimento. Na
segunda parte, demonstramos que o caráter
de classe da educação no MST fica
subsumido ao consenso que se inicia a
partir do I ENERA, focado na luta pela
educação centrada na política pública de
Educação do Campo, representando um
consenso entre frações de classes
antagônicas. A partir das conferências
nacionais Por Uma Educação do Campo, o
consenso se operacionaliza. E concluímos,
apontando algumas tendências para a
educação no MST frente à classe
trabalhadora.
A construção da proposta de educação
do MST
As primeiras discussões relacionadas
à luta pela escola tiveram início a partir da
ocupação de terra na fazenda Encruzilhada
Natalino no ano de 1981, como
consequência da preocupação dos pais em
relação às crianças do acampamento. Os
primeiros passos de luta por escola estão
ancorados na necessidade básica de ter
escola para as crianças acampadas com
suas famílias nos primeiros acampamentos
(MST, 2005, p. 13).
Para Paludo (2006, p. 16) havia a
preocupação da educação voltada às
crianças, jovens e adultos desde os
primeiros anos da luta do MST. Em 1980,
a preocupação inicial era com a educação
das crianças anos iniciais. Já, “em 1981,
iniciam-se, também, as primeiras
experiências isoladas em alfabetização de
jovens e adultos” (Paludo, 2007, p. 16).
Para a autora, a preocupação em relação à
educação não era apenas de pais e
professores, mas também “das lideranças e
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de agentes de mediação, principalmente
vinculados à Teologia da Libertação e ao
sindicalismo combativo” (Paludo, 2007, p.
16).
Aos poucos a educação e a escola
vão se articulando à luta pela terra. Ela
nasce e é compreendida, segundo
Dalmagro (2010, p. 168), pela necessidade
da escola e a escola necessária à luta. Este
seria o caráter inicial da escola no MST.
Os vínculos entre a escola, à luta do MST e
a realização da Reforma Agrária se
estabelecem no final dos anos de 1980
quando a escola está articulada à luta dos
sem-terra. É quando se avança para a
compreensão de que a escola tem o papel
de vincular o conhecimento e o processo
educacional à organização dos assentados e
às formas de trabalho e organização.
De acordo com Paludo (2007, p. 16),
é no período inicial da construção da
educação no MST que se lançam as bases
para o fortalecimento da luta pela educação
como um direito na sociedade brasileira.
Bem como é neste período que se constrói
uma base para as discussões entorno de
que tipo de escola se quer para os
assentamentos.
A partir da análise de documentos do
MST referentes à educação, observamos
uma convergência de ideias focadas na
escola relacionada ao trabalho e ao
desenvolvimento dos assentamentos.
Embora observemos inicialmente que a
escola estava relacionada principalmente
com a luta focada na transformação social
e de formação de militantes do MST, nos
parece haver uma focalização nas
demandas do trabalho interno dos
assentamentos. Isto nos parece mais
evidente ao analisarmos o documento
Boletim de Educação 4, Escola, trabalho
e cooperação, publicado em 1994. Nele se
expressa à intenção de fundamentar
teoricamente a proposta de educação do
MST, apresentando como “pilar”
fundamental a relação trabalho e educação.
uma defesa da construção de uma
escola baseada nas dimensões do trabalho
e da cooperação, uma escola do
trabalhador, da classe trabalhadora” (MST,
2005, p. 89). O documento faz uma clara
defesa de fundamentos em que a escola
deve ajudar a construir o assentamento, por
intermédio de uma educação vinculada ao
trabalho e à cooperação. Ligados aos
objetivos e desafios postos para o MST, no
período relacionado à cooperação e ao
desenvolvimento dos assentamentos,
defende que a escola “precisa ajudar para
que o assentamento dê certo” (MST, 2005,
p. 94), bem como que esta eduque para a
cooperação agrícola; prepare para o
trabalho capacitando tecnicamente e
desenvolva nas crianças o “amor pelo
trabalho e pelo trabalho no meio rural”
(MST, 2005, p. 95). uma defesa nesse
documento de que a escola deve contribuir
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para a construção do socialismo,
preparando as novas gerações para que
lutem por uma “sociedade sem explorados
nem exploradores” (MST, 2005, p. 95).
A trajetória da escola no MST vai da
luta pelo direito à escola nos
assentamentos e acampamentos à negação
do Estado como educador do povo. A
negação do Estado se fundamenta na
necessidade de construção de uma
educação diferenciada, a partir da
perspectiva do MST. O MST considera a
educação ofertada pelo Estado insuficiente,
por compreender que ela não corresponde
às demandas de sair do estado de pobreza
em que se encontravam as famílias
assentadas, bem como não elevaria o nível
de consciência necessário para as lutas
sociais do MST.
Ao analisar os períodos da educação
e da escola no MST, Dalmagro (2010)
mostra que a partir da década de 1990
estão presentes elementos importantes que
sinalizam para uma proposta de educação
no MST que busca romper com os pilares
fundamentais da escola burguesa.
O resgate da questão escolar no MST
até aqui já nos permite identificar que
estão postas as bases para uma
inversão na perspectiva de escola nos
aspectos políticos e pedagógicos. No
primeiro, porque a escola deixa de
formar para a cidadania burguesa,
pelo contrário, visa à formação da
consciência para mudar o mundo. Se
ela continua formando para o
trabalho, este já não se pretende mais
submetido ao mercado capitalista,
mas buscando outras relações sociais.
Pedagogicamente, a socialização do
conhecimento não é mais tomada
como neutra e estanque. Também
aparece como desafio a construção de
novos conhecimentos adequados a
um novo modelo de
desenvolvimento. Na forma de
organização da escola também se
propõem alterações. Enfim, com
maior ou menor ênfase, os pilares
fundamentais da escola burguesa
estão sendo repensados (Dalmagro,
2010, p. 175).
A partir da elaboração dos Princípios
da Educação no MST pelo Setor Nacional
de Educação em 1996
ii
, percebe-se,
conforme D’Agostini (2009, p. 115) o
posicionamento político de classe presente
nos princípios humanistas e socialistas,
elementos da teoria marxista, das
pedagogias contra-hegemônicas
(principalmente da obra Pedagogia do
Oprimido de Paulo Freire; a influência dos
pedagogos russos e do cubano José Martí)
e o socialismo como horizonte histórico.
No próprio documento, encontramos a
indicação de “obras de alguns autores
clássicos” que influenciam em sua
construção.
Para Dalmagro (2010, p. 179), é a
partir da elaboração dos Princípios de
Educação, pelo setor de educação do MST,
que a noção de escola se alarga, indo além
da escola primária de acampamento e
assentamento, bem como do próprio setor
de educação. Não há um rompimento com
as diretrizes fundamentais das produções
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anteriores feitas pelo setor de educação.
Dalmagro analisa que a mudança dos
Princípios em relação aos documentos
anteriores sobre a fundamentação da
proposta de educação do MST está na
ampliação do modo de ver as perspectivas.
Amplia-se também porque a escola
passa a ser vista com base num
conjunto de práticas educativas que
ocorrem fora dela, inclusive as ações
educativas produzidas pela luta do
MST (Dalmagro, 2010, p. 179).
Os Princípios de educação do MST
são orientadores da ação que o Movimento
propõe. Eles resultam das práticas
realizadas anteriormente pelo MST e que,
acumulados, apontam para dois
pressupostos que se entrelaçam: os
princípios filosóficos e os princípios
pedagógicos. Os princípios filosóficos
referem-se à visão de mundo, às
concepções mais gerais relacionadas à
pessoa humana, à sociedade e à
compreensão do MST sobre educação. Os
princípios filosóficos remetem aos
objetivos mais estratégicos do trabalho
educativo no MST. Já os princípios
pedagógicos referem-se à forma, o método
que se busca ao realizar os princípios
filosóficos.
Conforme Dalmagro (2010, p. 179),
é a partir da elaboração dos Princípios que
o MST reconhece que a sua proposta de
educação precisa contribuir com a luta de
classes. Destaca ainda outras ideias novas
que surgem com a elaboração dos
princípios ou novas ênfases que são
atribuídas, tais como: a educação massiva
ou educação como direito de todos; a
educação omnilateral, ou voltada às várias
dimensões do ser humano; a educação para
novos valores afirmando a perspectiva
socialista.
A partir dos Princípios é possível
afirmar, conforme D’Agostini (2009, p.
117), que:
O MST e sua educação têm como
eixo orientador de suas ações a luta
de classes no campo e a convicção de
construção de uma nova sociedade e,
consequentemente, de uma nova
educação pautada nos
fundamentos/valores socialistas e
humanistas como: o coletivismo, o
trabalho coletivo, o trabalho
socialmente útil, o trabalho como
princípio educativo, a solidariedade,
a organização e a auto-organização
dos estudantes, a relação teoria e
prática, entre outros.
Para Santos (2011, p. 173), a luta de
classes no campo é o eixo orientador do
projeto educacional do MST, somado à
defesa da necessidade de construir novas
relações sociais de produção. Para tanto, a
educação deve se pautar em valores
socialistas e humanistas. Conforme
descrito nos princípios filosóficos de
educação do MST, “Educação para a
transformação social. Este é o horizonte
que define o caráter da educação no MST”
(MST, 2005, p. 161), sem dúvida uma
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intencionalidade, um caráter político
centrado na luta pela transformação social.
A preocupação em construir uma
educação que se contrapõe ao Estado como
educador do povo e que seja um elemento
da formulação tática do MST na luta pela
Reforma Agrária e para a transformação
social que tem como horizonte o
socialismo, aponta para uma educação de
classe. “Trata, isto sim, de afirmar uma
educação vinculada a uma classe que
objetiva um horizonte de transformação
social; uma educação que abra um leque
universal para o conhecimento”
(Kominkiéwicz & Dantas, 2013, p. 201).
D’Agostini (2009, p. 166), ao tratar
das reformas educacionais e políticas
pautadas no neoliberalismo, considera que
o MST na década de 1990 assume uma
posição de resistência às políticas
neoliberais com uma proposta de educação
que se pretende de classe.
A educação no MST deu um salto de
qualidade em 1996 com a elaboração e
publicação dos princípios de educação do
MST. A proposta de educação do MST
assume um caráter de classe quando se
mostra predisposta à luta pela
transformação social. No entanto, outros
elementos/contradições compõem a
proposta de educação do MST para além
de seu caráter de classe. Destacamos,
conforme D’Agostini (2009) que “a
secundarização da teoria e a fragilidade
teórica da proposta de educação do MST
permitem desvios da prática política e
educativa”, principalmente quanto ao
ecletismo teórico e a fragmentação da
prática pedagógica. Araújo (2007, p. 316)
também considera a “falta de
aprofundamentos teóricos da própria
proposta pedagógica do MST” um
problema. Esses elementos de contradição
dão abertura para outras concepções
educativas, bem como para as políticas
educacionais de organismos multilaterais
da década de 1990 adentrarem nas
formulações das políticas educacionais
também dos movimentos sociais e
populares.
Além dos limites inerentes à
educação, a década de 1990 apresenta uma
conjuntura de expansão do MST para a
sociedade. O fato de relevância é a
fundação da Via Campesina, datada de
1993 (Ribeiro & Sobreiro Filho, 2012), da
qual o MST toma parte e projeção
internacional. Ampliam-se as articulações,
os parceiros em âmbito internacional,
possibilitando maior visibilidade do MST
para a sociedade. Essa expansão do MST
para a sociedade possibilitou parcerias não
apenas com frações da mesma classe, em
1995, por exemplo, uma aproximação
do MST com frações de classes
antagônicas, como veremos adiante. No
item seguinte, buscamos demonstrar como
o caráter de classe da proposta de educação
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do MST é subsumido a partir da relação
com organismos multilaterais e como as
concepções da política geral destes
organismos adentram para a educação do
MST, resultando na Educação do Campo.
O consenso em torno da Educação do
Campo
A partir do I Encontro Nacional das
Educadoras e Educadores da Reforma
Agrária (I ENERA)
iii
, em 1997, o MST
encampa uma luta pela educação calcada
no campo das políticas públicas,
assumindo para si a bandeira da Educação
do Campo como tática na luta pelo acesso
à educação, a fim de fortalecer a correlação
de forças na luta pela hegemonia dentro da
sociedade.
Embora muitas pesquisas tenham
sido defendidas e se tenha trabalhado com
a ideia de que a formulação sobre educação
do MST é idêntica às formulações e
práticas da Educação do Campo,
corroboramos com D’Agostini (2009, p.
122) de que elas são diferentes e, mesmo
que a Educação do Campo tenha se
fundamentado na Educação do MST,
aquela está pautada na educação do
camponês no sentido de desenvolvimento
social e humano no campo e de seus
sujeitos. Já a educação do MST, como
vimos, é uma educação de classe, pautada
na luta de classes pela especificidade da
luta pela terra.
Sob o contexto das políticas
neoliberais da década de 1990, iniciam-se
as discussões entorno do que viria a ser a
Educação do Campo. Segundo Dalmagro
(2010, p. 180), foi a partir de 1998 que o
debate sobre a Educação do Campo tem
entrada no MST, “este debate se estende
até hoje e deixará marcas na perspectiva de
educação do Movimento”. Para a autora, o
MST, vinculado à Via Campesina, retoma
gradativamente os conceitos de campo e
campesinato, “apontando que uma
cultura, um modo de vida camponês que
deve ser respeitado e em certa medida
retomado como forma de assegurar a
sobrevivência da população campesina”
(Dalmagro, 2010, p. 180).
Para Kolling (2005, p. 23), o fato que
fez reconhecer e projetar publicamente o
trabalho realizado pelo MST na área da
educação, abrindo portas para futuras
parcerias, ampliando a responsabilidade do
MST para com a educação e a luta por
políticas públicas foi o prêmio Itaú-
UNICEF, concedido ao MST no ano de
1995. Inclusive, segundo Kolling, o
desdobramento deste prêmio resultou na
realização do I ENERA.
Caldart, em entrevista concedida a
Anhaia (2010, p. 74), afirma que os
organismos multilaterais representaram
simbolicamente a legitimação do MST
perante a sociedade. Afirma ainda que
havia dois fatores importantes que
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possibilitaram a realização do I ENERA: o
prêmio que o MST recebeu do UNICEF,
reconhecendo o trabalho do MST com a
educação nos acampamentos e
assentamentos; e os encaminhamentos do
III Congresso Nacional do MST, realizado
em 1995, com o lema “Reforma Agrária:
uma Luta de Todos”, ou seja, do MST para
a sociedade.
No primeiro volume da coleção Por
uma Educação Básica do Campo,
encontramos uma menção ao I ENERA,
referente às parcerias e aos desafios
levantados aos promotores do encontro.
Dentre os desafios levantados, está um
realizado pela representante do UNICEF,
Ana Catarina Braga, que convoca as
entidades promotoras, principalmente o
MST, a ampliar o trabalho que vinha sendo
desenvolvido na educação.
O entusiasmo com o êxito do I Enera
levou a representante do UNICEF,
Ana Catarina Braga, a desafiar as
entidades promotoras e as que
apoiaram o evento para um trabalho
mais amplo sobre a educação a partir
do mundo rural, levando-se em conta
o contexto do campo em termos de
sua cultura específica quanto à
maneira de ver e de se relacionar com
o tempo, o espaço, o meio ambiente e
quanto ao modo de viver, de
organizar família e trabalho (Kolling,
Nery & Molina, 1999, p. 13-14).
Na sequência do documento é
demonstrado que o desafio levantado pela
representante do UNICEF foi assumido
pelas entidades promotoras do encontro,
resultando na Conferência por uma
Educação Básica do Campo. Roseli
Caldart apresenta mais detalhes sobre a
provocação da representante do UNICEF
em realizar um evento para além dos
assentamentos da Reforma Agrária e a
expansão de sua proposta de educação para
“outros sujeitos que trabalham no meio
rural”.
Foi exatamente a fala de
encerramento da representante do
UNICEF, Ana Catarina, que
publicamente provocou o MST a
convocar um evento semelhante que
não fosse apenas dos assentamentos
de Reforma Agrária, mas que
envolvesse o campo como um todo.
Ela tinha até conversado conosco
informalmente, a gente pensou: quem
somos nós pra puxar algo mais
amplo? Foi uma conversa informal, e
de repente, na mesa de encerramento
ela falou: - O MST não tem o direito
de ficar discutindo apenas com ele
mesmo’, no sentido de que o MST,
pelo acúmulo que tem, pela luta que
está fazendo pelo direito, ele tem
obrigação de articular outros sujeitos
do campo a fazerem um debate mais
amplo sobre a educação no meio
rural. Tem que juntar com outros
sujeitos que trabalham no meio rural
(Anhaia, 2010, p. 79-80, extrato de
entrevista com Caldart).
O I ENERA impulsionou a ideia de
uma conferência nacional, que veio a ser a
“I Conferência por uma Educação Básica
do Campo”, realizada em 1998. Desafiados
pela representante do UNICEF no I
ENERA em “levantar uma discussão mais
ampla sobre a educação no meio rural
brasileiro”, as discussões vão no sentido da
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Kominkiéwicz, V. L., & D’Agostini, A. (2018). A educão do MST diante do Estado e da política blica de Educão do
Campo sob influência dos organismos multilaterais...
“preparação do documento base da I
Conferência, concluído em maio de 1998”,
onde estão presentes os “argumentos do
batismo” do que seria a Educação do
Campo (Caldart, 2012, p. 260).
Durante a realização do I ENERA, os
participantes elaboraram um manifesto
intitulado ‘Manifesto dos Educadores e
Educadoras da Reforma Agrária’.
Destacamos a defesa expressa no
Manifesto, em sentido mais amplo, da
“escola pública, gratuita e de qualidade
para todos, desde a educação infantil até a
Universidade”, afirmando a necessidade de
construir uma “identidade própria das
escolas do meio rural” em vistas a novas
formas de desenvolvimento do campo,
“baseadas na justiça social, na cooperação
agrícola, no respeito ao meio ambiente e na
valorização da cultura camponesa” (MST,
1997).
A unidade que se estabelece a partir
do I ENERA, entre frações de classes
distintas (trabalhadores representados por
Sem Terras, Sindicatos Rurais,
Universidades e Burguesia representada
pelos Organismos Multilaterais, por
exemplo, a UNESCO), tem como ponto
comum a luta por políticas públicas para a
educação do campo. Caldart, expressa essa
relação contraditória de interesses que
coadunam na luta pelo direito à educação
ao afirmar que: “tínhamos ideias diferentes
entre pessoas que estavam lá,
posicionamentos inclusive políticos
diferentes, mas, por exemplo, conseguiu-se
em momentos da mística uma
identificação” (Anhaia, 2010, p. 81, extrato
de entrevista com Caldart).
A partir da entrevista concedida à
Anhaia em 2010, Caldart demonstra a
clareza de que a unidade que se
estabeleceu a partir do I ENERA, entre
frações de classes distintas, diz respeito
unicamente a luta pelo direito à educação.
Demonstra claramente a compreensão em
relação aos objetivos de organismos
internacionais UNESCO e UNICEF, em
“amenizar os conflitos”, estabelecer
harmonia entre as classes a fim de manter a
luta de classes sob controle.
Não se trata de uma aliança no
sentido de projeto. Nós sabemos qual
é o papel desses organismos ... Se a
gente analisar as posições do
UNICEF e da UNESCO, tanto mais
da UNESCO, ela pode nos mostrar
em que estão as crises do próprio
capitalismo, porque justamente
demonstra a intenção de amenizar os
próprios conflitos, o que você faz
para que certas ações não eclodam
em conflitos mais fortes. Quando se
que existe uma tensão no campo,
pode-se apoiar determinadas
iniciativas, indo na linha de como a
gente age para a situação não ficar
insustentável. Eu posso até ser
favorável a Reforma Agrária para
que isso não se transforme em algo
efetivamente desestabilizador da
sociedade. O papel desses
organismos não é conjuntural, ele é
estrutural. Que ajuste você faz na
sociedade capitalista para que ela
possa se manter capitalista? Para isso
você tem que harmonizar, você tem
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Kominkiéwicz, V. L., & D’Agostini, A. (2018). A educão do MST diante do Estado e da política blica de Educão do
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que manter a luta de classe, sem
considerá-la evidentemente como
luta de classe, sob controle (Anhaia,
2010, p. 79, extrato de entrevista com
Caldart).
Em relação a esta unidade
constituída entre classes distintas, Santos
(2011) argumenta que uma consonância
no plano das formulações pedagógicas e
políticas entre os fundamentos da
Educação do Campo. Para o autor,
Poder-se-ia argumentar se tratar de
alianças pontuais para a construção
de um movimento mais amplo, que
abrangesse vários “atores” haja vista
que as condições políticas da época
para a formulação de uma educação
do campo com a exclusiva presença
dos movimentos de lutas sociais seria
impossível. Contudo, este argumento
não se justifica, pois, no plano das
formulações pedagógicas e políticas,
as bases que fundamentam a
Educação do Campo e as
interpretações da realidade da
maioria das entidades organizativas
da luta dos trabalhadores no campo
estão em consonância com as
formulações escolanovistas
atualizadas no lema “aprender a
aprender” defendido e divulgado por
instituições como a UNESCO
(Santos, 2011, p. 188).
A integrante do setor de educação do
MST (Entrevista D2)
iv
, ao relatar por meio
da entrevista sobre a trajetória da Educação
do Campo, ressalta que a relação que se
estabeleceu com os parceiros do I ENERA,
UNESCO, UNICEF, Conferência Nacional
dos Bispos do Brasil (CNBB), UNB, é
fruto de um contexto conjuntural de luta
contra o Estado, representado na política
do governo do então presidente Fernando
Henrique Cardoso. Desde a criação do
setor nacional de educação do MST, em
1987, durante a realização do I Encontro
Nacional de Educadores do MST, no
estado do Espírito Santo, o MST vem
construindo sua proposta de educação,
quando, em 1997, “vai se deparar no
ENERA com um contexto em que o
governo de FHC estava fechando escolas”
(Entrevista D2). A partir deste contexto, do
alto índice de fechamento de escolas, a
integrante do setor de educação do MST
analisa que a ampliação da educação do
MST para além do próprio movimento foi
uma questão de sobrevivência frente à
ofensiva política de FHC.
A outra integrante do setor de
educação do MST, por nós entrevistada,
também considera relevante o contexto
político relacionado à ofensiva do governo
de FHC com o fechamento de escolas do
campo. O sentido de se unir com
UNESCO, UNICEF, CNBB e UNB, diante
da conjuntura da época, foi o de colocar as
problemáticas do campo em debate na
sociedade brasileira, bem como as
perspectivas educacionais e a Educação do
Campo.
Nesse momento conjuntural, para
“fortalecer” a luta, utilizou-se como uma
das táticas a construção de parcerias entre
o MST, outros movimentos sociais do
campo, Estado e Organismos Multilaterais.
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Entendemos que nesse processo o MST
secundarizou sua proposta educacional no
que lhe é mais importante, a formulação
teórica e revolucionária. A integrante do
setor de educação do MST diz se tratar de
um recuo a fim de avançar:
Era muito mais juntar parceiros neste
momento do que você produzir uma
proposta teórica e revolucionária. Na
verdade o MST naquele momento
histórico recua um pouco mais a sua
proposta teórica para poder se juntar
a seus parceiros. Os seus parceiros
eram até mais atrasados
politicamente, se é que podemos
colocar assim, do que o próprio
MST. O problema foi atrasar, recuar
alguns passos atrás, e depois você
não puxar os parceiros para frente,
para o campo mais combativo. O
problema me parece ficar nesse
campo da constituição hegemônica
mais reformista do que você avançar
em um campo mais ofensivo, mais
revolucionário (Entrevista D3).
Considerando as divergências
estruturais ou o posicionamento de classe
entre os movimentos sociais e os
organismos internacionais, a unidade entre
as frações de classes distintas aconteceu
por meio da luta pelo direito à educação.
Nos documentos relativos a I Conferência
Nacional por uma Educação Básica do
Campo, realizada em julho de 1998,
percebemos os elementos que unificam as
entidades promotoras na construção da
Educação do Campo, bem como apontam
elementos que constituem a trajetória da
Educação do Campo.
A I Conferência tratou dos seguintes
temas: a) desenvolvimento rural e
educação no Brasil: desafios e
perspectivas; b) situação da educação rural
no Brasil e na América Latina; c) políticas
públicas em educação no Brasil:
municipalização; d) financiamento da
educação; e) política educacional para
escolas indígenas; f) em busca de um novo
projeto de desenvolvimento para o Brasil;
g) projeto popular de desenvolvimento
para o campo; h) educação básica para o
campo; i) nosso compromisso como
educadores/educadoras do campo (Kolling,
Nery & Molina, 1999, p. 17-18).
Em um trecho do documento nº 1 Por
uma Educação Básica do Campo, é
firmado unidade sobre a especificidade da
Educação do Campo, o qual apresentamos
abaixo:
Desde o começo, chegou-se a um
consenso sobre o específico da
“educação básica do campo”, ou seja,
que leve em conta a cultura, as
características, as necessidades e os
sonhos dos que vivem no campo e do
campo. Outro consenso entre os
promotores referiu-se à vinculação da
educação básica do campo com um
projeto popular de Brasil e com um
projeto popular de desenvolvimento
do campo (Kolling, Nery & Molina,
1999, p. 15).
Também firma-se unidade sobre a
educação como direito e como estratégia
de inclusão. Outro elemento de unidade
que destacamos entre as entidades
promotoras refere-se às concepções e
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princípios pedagógicos de uma escola do
campo. O documento defende uma
transformação na pedagogia escolar a
partir da escolha de aprendizados que se
deve construir, apontando para o “aprender
a aprender” (UNESCO, 2010).
Ao sugerir uma transformação nos
currículos escolares para as escolas do
campo, em consenso com as políticas e
diretrizes da UNESCO, o documento segue
“afirmando a importância do aprender a
aprender, o que significa aprender a
transformar informações em
conhecimentos ou em posturas diante de
determinadas situações da vida” (Kolling,
Nery & Molina, 1999, p. 68). Essas
diretrizes resgatadas dos organismos
multilaterais, construídas num conjunto de
documentos elaborados com a finalidade,
como vimos, de efetivar o processo de
mundialização da educação, objetivando o
‘consenso ativo dos governados’ (Gramsci,
2007, p. 330), “passam a orientar a
produção teórica e a elaboração político-
pedagógica” (Titton, 2010, p. 188).
Após a I Conferência, é constituída a
Articulação Nacional por uma Educação
do Campo, tendo como propulsores o
UNICEF, a UNESCO, o MST, a CNBB e a
UNB. A Articulação Nacional por uma
Educação do Campo representou a
ampliação dos “sujeitos” que adentram na
luta pela Educação do Campo. Além disto,
vemos em Molina que a unidade
estabelecida via Articulação Nacional,
centra-se na perspectiva da luta por
políticas públicas específicas para o
campo.
Com a Articulação Nacional dilata-se
a possibilidade de ampliar as parcerias
entre frações da mesma classe - por
exemplo MST e Confederação Nacional
dos Trabalhadores na Agricultura
(CONTAG) e até entre frações de classes
distintas MST, CONTAG, Organismos
Multilaterais e o Estado. O critério de
atuação em torno da construção da
Educação do Campo que observamos no
excerto acima considera movimentos
sociais, entidades e organização de
camponeses e outros que tenham
preocupações ou interesses com a causa da
educação do campo. Neste rol de parcerias
ao redor da Educação do Campo foi
possível a negociação entre frações de
classes constituindo um movimento mais
amplo pela efetivação de políticas públicas
para a Educação do Campo. A pauta e as
ações realizadas pela Articulação Nacional
por uma Educação do Campo comportam
diferentes e até antagônicos sujeitos de
classe. Por outro lado, constitui um
movimento forte no sentido da realização
das ações pretendidas. Mantendo as
características de consenso entre classes, a
Articulação Nacional realiza algumas
ações em prol da Educação do Campo.
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Destacamos aqui que uma das
conquistas do Movimento por Uma
Educação do Campo foi a promulgação das
Diretrizes Operacionais para a educação
básica nas escolas do campo, Resolução
CNE/CBE nº1 de 03 de abril de 2002. A
elaboração das Diretrizes representa um
momento de maior aproximação com o
Estado. A partir da proposição das
Diretrizes, para as quais a CONTAG teve
maior participação, o que não diminui a
relevância da participação do MST nesse
processo (Anhaia, 2010), Estado e
sociedade dialogam para a regulamentação
das Diretrizes.
A unidade que se constrói entre as
forças que lutam pela Educação do Campo
vai para além dos movimentos sociais e
sindicatos. O Estado passa a regular a
política de Educação do Campo a partir das
Diretrizes. Contraditoriamente, o Estado
passa a compor uma unidade com
Movimentos Sociais e sindicais em prol da
legalização das políticas de Educação do
Campo. No entanto, o que vemos é uma
convergência de frações de classes
distintas e antagônicas que passa a ser
“regulada” pelo Estado, em consonância
com as estratégias do Capital. No bojo da
elaboração e aprovação das Diretrizes,
Anhaia (2010, p. 91) afirma que “uma
força política que coaduna com a
materialização da Educação do Campo é,
contraditoriamente, a necessidade imposta
pelo capital de universalizar a educação
básica, expressa no lema Educação para
todos”.
A partir da ampliação da participação
de entidades visando à regulamentação da
política de Educação do Campo, se abre
para a intervenção direta do Estado por
intermédio de audiências públicas
v
com a
finalidade de elaborar as Diretrizes da
Educação Básica. Sobre as audiências
públicas, Anhaia destaca sua importância
na relação entre sociedade civil (entidades
dos movimentos sociais e sindicais) e o
Estado:
As audiências foram importantes
instrumentos para promover o debate
com a sociedade civil e com Estado e
para firmar alguns conceitos básicos
defendidos por ambos, ficando
evidenciado que o Estado aceita até
certa medida as proposições da
sociedade civil, principalmente
quando quem propõe o sujeitos
organizados coletivamente, sejam em
movimentos sociais ou sindicatos
(Anhaia, 2010, p. 91).
Note-se que o Estado passa a
controlar as proposições a serem
regulamentadas, dizendo o que pode e o
que não pode ser transformado em lei,
obviamente garantido os interesses da
classe à qual é representante, afinal, “o
Estado é a forma na qual os indivíduos de
uma classe dominante fazem valer seus
interesses comuns” (Marx & Engels, 2007,
p. 76).
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À luz da análise do desdobramento
do I ENERA, quando se propõe “levando-
se em conta o contexto do campo em
termos de sua cultura específica quanto à
maneira de ver e se relacionar com o
tempo, o espaço, o meio ambiente e quanto
ao modo de viver, de organizar família e
trabalho” (Kolling, Nery & Molina, 1999,
p. 13), Oliveira e Dalmagro (2014, p. 107)
consideram que um processo de
generalização e especificidade da
Educação do Campo, pois desloca a
educação da luta pela Reforma Agrária,
principal instrumento de luta do MST, à
especificidade do campo.
Enfatiza-se a perspectiva de que
no campo outro modo de vida, de
cultura e trabalho, diferente de outros
espaços da vida social. É de supor-se
que nesta reformulação tenha
ocorrido ou reforçado um
deslocamento da educação num
contexto de luta por Reforma Agrária
para uma educação centrada na
“cultura específica do campo”,
definida de modo genérico (Oliveira
& Dalmagro, 2014, p. 107).
A efetivação da Política de Educação
do Campo, referente aos marcos
normativos, se a partir da promulgação
das Diretrizes Operacionais para a
Educação Básica nas Escolas do Campo,
Resolução CNE/CBE nº1 de 03 de abril de
2002, sob o governo de Fernando Henrique
Cardoso do Partido da Social Democracia
Brasileira (PSDB), tendo como base para
sua elaboração o Parecer nº 36, de 04 de
dezembro de 2001. A Resolução
CNE/CEB 2, de 28 de abril de 2008,
sob o governo petista Luiz Inácio Lula da
Silva (2003-2010), bem como por meio do
Decreto nº 7.352, de 4 de novembro de
2010, reformula, amplia e regulamenta a
Política de Educação do Campo a partir da
Resolução CNE/CBE 1 de 03 de abril de
2002.
A luta política dos movimentos
sociais, em destaque o MST, por dentro da
efetivação da política de Educação do
Campo toma nova perspectiva com o
governo Lula. Para a integrante do setor de
educação do MST, com o governo Lula
havia uma possibilidade de se avançar
significativamente na política pública de
Educação do Campo” (Entrevista D2). Ou
seja, com a vitória eleitoral do PT em 2002
para presidência da república, representado
pela pessoa de Luiz Inácio Lula da Silva, o
MST passa a acreditar na possibilidade de
avanços na luta pela política pública de
Educação do Campo.
Nesse sentido, o MST constrói uma
pauta reivindicatória, sendo uma das
reivindicações “a criação de uma secretaria
no MEC que lidasse com a política de
Educação do Campo. O que foi ofertado ...
era uma coordenadoria de Educação do
Campo dentro da Secretaria de Educação
Continuada, Alfabetização e Diversidade”
(Entrevista D2).
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As primeiras tentativas de luta pela
política de Educação do Campo no
governo do PT foram frustradas, e
sinalizaram o posicionamento do governo
frente à luta dos trabalhadores do campo.
A integrante do setor de educação do MST
destaca que a efetivação da normatização
da política de Educação do Campo
significou “um deslocamento de lugar da
Educação do Campo, tendo como marco a
segunda conferência que não passa mais a
existir e esse debate vai se dar agora em
espaços institucionalizados, nos comitês e
nos fóruns, e virou um debate acadêmico”
(Entrevista D2).
A partir de 2008, uma
incorporação da luta pela Educação do
Campo pelo Estado. A incorporação de
uma educação específica/diferente para o
campo, pautada pelos movimentos sociais,
resultou no seu “aprisionamento na
política” (Titton, 2010). Isto representa que
a política de Educação do Campo passa
definitivamente sob os ditames do Estado,
afastando os movimentos sociais de uma
interferência mais significativa na política.
Segundo a entrevistada, inclusive o
Programa Nacional de Educação na
Reforma Agrária (PRONERA), criado em
16 de abril de 1998, por meio da Portaria
Nº. 10/98, com a finalidade de ampliar os
níveis de escolarização formal dos
trabalhadores rurais assentados
vi
, perde a
proximidade com os movimentos sociais.
Constata-se isto a partir do depoimento da
integrante do setor de educação do MST,
ao considerar que “o PRONERA, um
programa que respondia diretamente na sua
formulação e na sua execução a relação
direta entre universidades e movimentos
sociais, agora perde este caráter da
participação efetiva dos sujeitos na sua
elaboração” (Entrevista D2).
Na medida em que a Educação do
Campo foi sendo institucionalizada ela foi
incorporada pelo Estado - “é um ceder para
incorporar e, hoje, não do ponto de vista
da incorporação, mas da derrota que a
gente vem sofrendo na política de
Educação do Campo” (Entrevista D2).
Essa “derrota” fica mais evidente a partir
do lançamento do Programa Nacional de
Educação do Campo (PRONACAMPO)
em 2010, sob o Decreto 7.352/2010. A
partir do programa,
todas as políticas que estavam sendo
executadas na Educação do Campo
vão sofrer operações, ou de
supressões ou de reconfiguração e
foi adiado várias vezes o lançamento
do PRONACAMPO visto que ele
não era dialogado com o Fórum
Nacional de Educação do Campo
(FONEC) e nem com a Comissão
Nacional de Educação do Campo
(CONEC) e não saia no orçamento
(Entrevista D2).
A forma como foi construído o
PRONACAMPO representa um
distanciamento dos movimentos sociais
organizados da possibilidade de
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intervenção sobre a política educacional
voltada ao campo. Fóruns de participação
da sociedade como o FONEC
vii
e a
CONEC
viii
não tiveram participação nas
discussões entorno da criação do
Programa. A política de Educação do
Campo fica submetida ao controle do
Estado ao passo que é institucionalizada
afastando a participação da sociedade e dos
movimentos sociais.
Ao analisar as Diretrizes
Operacionais para a Educação Básica nas
Escolas do Campo, Santos (2011) aponta
que a perspectiva de Educação do Campo
expressa no documento evidencia o
idealismo formalista ao separar o campo da
cidade, o documento entra em contradição
“ao chamar de visão idealista o processo de
industrialização e urbanização do meio
rural por meio das empresas transnacionais
que controlam e definem a produção,
inclusive dos pequenos produtores”
(Santos, 2011, p. 190). O autor segue
afirmando a ausência das questões
objetivas e atuais do campo no documento:
As migrações sazonais que
transformam os agricultores em
andarilhos em busca de ocupação
temporária; além das questões
relativas ao trabalho escravo e o
trabalho infantil no campo não são
mencionados no relatório,
corroborando a perspectiva abstrata
de rural e de educação do campo
predominante nas proposições sobre
esta temática (Santos, 2011, p. 190).
Para Santos, o caráter fenomênico da
abordagem feita no parecer do Conselho
Nacional de Educação, exclui a luta de
classes e os problemas inerentes à natureza
objetiva e histórica do capital reduzindo-os
a uma questão de opções de vida e
diversidades no campo (Santos, 2011, p.
190). Desta forma o próprio parecer
expressa a compreensão que tem sobre o
campo, ao considerar:
O campo como espaço heterogêneo,
destacando a diversidade econômica,
em função do engajamento das
famílias em atividades agrícolas e
não-agrícolas (pluriatividade), a
presença de fecundos movimentos
sociais, a multiculturalidade, as
demandas por educação básica e a
dinâmica que se estabelece no campo
a partir da convivência com os meios
de comunicação e a cultura letrada
(Brasil, 2012, p. 8).
Há uma busca pelo atendimento às
diferenças e diversidades, que de fundo se
relacionam com a necessidade conjuntural
de possibilitar um mínimo de escolarização
a toda população brasileira. Segundo
Santos (2011, p. 190), este documento
complementa a Lei de Diretrizes e Bases
da Educação (LDB) no que diz respeito ao
direito à educação diferenciada e à
diversidade.
A legislação sobre Educação do
Campo e as formulações teóricas acerca da
temática no que diz respeito aos principais
referenciais utilizados nas abordagens e
pesquisas que tratam dessa modalidade de
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educação, afirmam a centralidade “da
cultura, do cotidiano, dos interesses dos
alunos, da identidade e diferença.
Trabalho, luta de classes, universalidade
são negados ou secundarizados” (Santos,
2011, p. 192).
A partir da análise das Diretrizes,
Jesus, Rosa e Bezerra (2014) destacam que
as concepções que norteiam as políticas
públicas de Educação do Campo estão
embasadas em correntes pós-modernas,
pois ao caminhar em relação ao relativismo
epistemológico e cultural, negam a
totalidade. Para as autoras, o discurso
expresso na política de Educação do
Campo que “sugere novos métodos, novas
fontes e novos problemas busca analisar
e valorizar o micro, o fragmentário, o
cotidiano, o singular, o imaginário” (Jesus,
Rosa & Bezerra, 2014, p. 207).
Nesses termos, a luta pelo direito à
educação, por meio da especificidade da
Educação do Campo, se transforma em seu
contrário ao passo que, no campo da
aparência, a efetivação da política de
Educação do Campo represente uma
conquista nos marcos da lei, como
instrumento que possibilite o acesso à
educação, ela se revela uma estratégia para
que o “desigual” seja substituído pelo
“específico” ou “diferente”.
Para Jesus, Rosa, Bezerra (2014) a
estratégia expressa na política da Educação
do Campo está posta para a fragmentação
da classe trabalhadora por meio do
“diferente”, do “específico”. Essa
fragmentação da educação destinada aos
trabalhadores em modalidades específicas
acarreta um grave risco à sua organização
enquanto classe. Além disso, a educação
específica também é uma forma de limitar
o acesso ao conhecimento sistematizado
construído historicamente pela
humanidade.
As autoras advertem ainda para a
fragmentação da classe trabalhadora ao
desconsiderar o aluno camponês como
parte da classe trabalhadora.
Sublinha-se também que este é
entendido como diferente, ou
portador de especificidades, pelo fato
de residir no meio rural;
desconsidera-se o fato deste aluno
pertencer à classe trabalhadora (aqui
nos referimos a todos os
trabalhadores, isto é, todos aqueles
que são obrigados a vender sua força
de trabalho e não apenas os
trabalhadores rurais) que tem sido
privada do patrimônio cultural e
científico historicamente elaborado
pela humanidade (Jesus, Rosa &
Bezerra, 2014, p. 208).
Neste sentido Jesus, Rosa e Bezerra
afirmam que a Educação do Campo,
expressa nos documentos legais, está para
cumprir com as demandas do Capital, em
detrimento às demandas do trabalho.
E é no sentido de atender às
demandas do sistema capitalista que
a atual concepção de educação do
campo se coloca; haja visto que
defende uma educação “diferente”,
ou melhor, específica para o aluno do
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Kominkiéwicz, V. L., & D’Agostini, A. (2018). A educão do MST diante do Estado e da política blica de Educão do
Campo sob influência dos organismos multilaterais...
campo. Esta concepção de uma
educação específica para o campo é
afirmada em documentos oficiais que
norteiam políticas públicas (Jesus,
Rosa & Bezerra, 2014, p. 210).
A partir dessa compreensão
relacionada à política de Educação do
Campo, as autoras destacam a necessidade
de compreender a escola do campo
contemporânea, e seu respectivo projeto de
educação, por meio do entendimento dos
processos produtivos do sistema
capitalista, visto que os processos
educativos e os processos produtivos
mantêm relação intrínseca e remetem à
organização da materialidade e objetivação
do trabalho; à luta de classes e à disputa de
projetos históricos entre a classe
trabalhadora e a burguesia (Jesus, Rosa &
Bezerra, 2014, p. 210).
Nesses termos, afirmam a
necessidade de “uma concepção contra-
hegemônica de sociedade, educação,
homem, criança, aluno”. E essa concepção
se encontra expressas nos escritos de Marx
e Engels, na vasta produção dos pedagogos
russos (Makarenko, Pistrak, Krupskaja
etc.) e de autores marxistas
contemporâneos (Jesus, Rosa & Bezerra,
2014, p. 210).
Para D’Agostini (2009, p. 23), a
Educação do Campo assume uma
perspectiva de Estado que, orientada pelos
organismos internacionais, objetiva, em
síntese, “educação como segurança e alívio
da pobreza”.
Na perspectiva do Estado, a educação
do campo é mais uma das táticas para
atingir as metas estabelecidas que
atribuem ênfase à Educação Básica
destinada à maioria da população e
que privilegia o desenvolvimento de
aptidões ou competências assentadas
no aprendizado do cálculo, da leitura
e da escrita, instrumentalizando
minimamente os indivíduos para que
sejam “incluídos” na organização
produtiva no tempo e do modo
necessário para a sobrevivência do
sistema capitalista. Na maioria dos
documentos do Estado acerca da
educação do campo identifica-se sua
orientação no conjunto das políticas
focais e fragmentárias próprias do
Estado em sua fase neoliberal, cuja
função básica é facilmente
identificável com as recomendações
dos organismos internacionais:
educação como segurança e alívio da
pobreza (D’Agostini, 2009, p. 23).
Percebemos, a partir de tal análise,
que a política de Educação do Campo se
configura como uma tática do Capital para
incluir os trabalhadores na organização
produtiva garantindo assim a
“sobrevivência do sistema capitalista”.
D’Agostini (2012), ao tratar da
formulação da concepção da Educação do
Campo, diz que as categorias que dão
sustentação, tais como cultura, identidade e
diferenças estão, em certa medida, negando
ou secundarizando a categoria trabalho
como fundante do ser social.
Ao analisar as proposições para a
Educação do Campo, por parte dos
empresários, do Estado e do MST,
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D’Agostini e Vendramini (2014, p. 318),
afirmam que o predomínio da
perspectiva do empresariamento e do
Estado, para uma educação técnica, frágil e
fragmentada, formando um trabalhador
raso, flexível e pragmático. Ainda segundo
as autoras, a Educação do Campo “é
incorporada e aprisionada na política por
meio da formação do consenso
(D’Agostini & Vendramini, 2014, p. 318).
As autoras seguem defendendo uma
educação que seja, ao mesmo tempo,
universal e clássica, mas também crítica e
diferenciada em relação à educação
capitalista.
Para D’Agostini (2012, p. 464),
embora a Educação do Campo pretenda ser
uma educação com fins de emancipação
humana, ao ser desenvolvida na sociedade
capitalista e incorporar as contradições
gerais entre trabalho e capital, essas
contradições expressam-se tanto na
materialização das políticas públicas que
estão em acordo com as orientações dos
Organismos Multilaterais, como no
trabalho pedagógico, principalmente por
meio da cisão entre teoria e prática.
Vendramini (2010, p. 134) aponta
para uma negação do caráter classista na
Educação do Campo e a “afirmação da
cultura, da identidade e da diferença”, o
que revela uma “realidade em si” em
detrimento a “conexão entre o geral, o
específico e o particular”, ocasionando a
“negação do trabalho”. Dessa forma, a
autora conclui defendendo a “necessidade
do materialismo histórico-dialético como
referencial de análise e de intervenção.”
(Vendramini, 2010, p. 134).
Vemos em Titton (2010, p. 167) que
a Educação do Campo foi colocada como
uma estratégia por parte do MST para
avançar nas conquistas de políticas
públicas obtendo avanços nesse espaço.
Contudo, esse processo freou o debate
teórico-pedagógico voltado a uma
educação de classe. Para o autor, um dos
limites centrais impostos à educação do
campo decorre de seu aprisionamento na
política, especialmente via políticas do
Estado e de governo (Titton, 2010, p. 208).
O autor conclui nos seguintes termos:
As possibilidades de essência para
articular o projeto educacional dos
povos do campo a uma estratégia de
superação do capital, e para que a
Educação do Campo contribua com
isso, está em romper com as ilusões
de que a superação dos problemas
pode ocorrer via conciliação no
interior da sociedade burguesa
(Titton, 2010, p. 211).
Os autores aqui apontados
convergem em suas análises ao
demonstrarem que a política de Educação
do Campo se sustenta em categorias e
concepções como diferença e diversidade,
cultura, identidade, pós-modernidade,
relativismo epistemológico e cultural. Para
os autores, a centralidade da política
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valoriza o micro, o fragmentário, o
cotidiano, o singular, o imaginário, o
específico e o diferente, educação técnica,
frágil e fragmentada, segurança e alívio da
pobreza, política de inclusão na
organização produtiva do capital. Dessa
forma, para os autores, a Educação do
Campo acaba negando a universalidade e a
luta de classes (Santos, 2011); a totalidade;
a unidade da classe trabalhadora (Jesus,
Rosa & Bezerra, 2014); a categoria
trabalho (D’Agostini, 2009, 2012); o
caráter classista, a totalidade, o trabalho
(Vendramini, 2010); a educação de classe
(Titton, 2010).
Ainda para os autores analisados, a
política de Educação do Campo assume
uma perspectiva de Estado orientada pelos
organismos internacionais (D’Agostini,
2009, 2012); do empresariamento e do
Estado (D’Agostini & Vendramini, 2014);
da Política de Estado e de governo (Titton,
2010).
No campo das proposições, Jesus,
Rosa e Bezerra (2014) propõem uma
concepção contra-hegemônica de
sociedade, educação, homem, criança,
aluno, por intermédio de uma educação de
classe; Vendramini (2010) e D’Agostini
(2009), a necessidade do Materialismo
Histórico e Dialético como referencial de
análise e intervenção e Titton (2010)
propõe rompermos com a ilusão de que a
superação dos problemas pode ocorrer via
conciliação no interior da sociedade
burguesa.
Nesses termos, a Educação do
Campo está para atender aos objetivos do
capital e do Estado mais do que atender às
demandas da classe trabalhadora. Se
considerarmos apenas do ponto de vista do
acesso à educação, podemos afirmar que
houve importantes avanços para a classe
trabalhadora em sua luta pela Educação do
Campo. No entanto, ao considerarmos a
concepção e o caráter da educação a partir
da Educação do Campo, esta cumpriu e
vem cumprindo com a demanda de
“qualificação ou treinamento dos
trabalhadores”, bem como “às
necessidades ideológicas e de formação
dos trabalhadores no âmbito da
sociabilidade burguesa” (Oliveira &
Dalmagro, 2014, p. 113).
Esse cenário que demonstramos em
nossa pesquisa nos permitiu apontar as
contradições na trajetória da educação no
MST a partir da luta de classes entre os
representantes do capital, em destaque os
Organismos Multilaterais - UNICEF e
UNESCO e o Estado e, por outro lado, os
movimentos sociais, principalmente o
MST.
Conclusão
Evidenciamos que a trajetória da
educação no MST, até meados da década
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de 1990, se configura como uma
formulação tática inserida na luta do MST,
principalmente por seu caráter de classe.
Embora não tenha surgido com esse
caráter, a vinculação da proposta de
educação do MST com a luta pela Reforma
Agrária e a estratégia de transformação
social elevam a educação no MST para um
caráter de classe, onde a luta de classes é o
eixo orientador da proposta de educação.
Com a ofensiva do Estado brasileiro,
por intermédio do governo FHC,
resultando no fechamento de escolas
localizadas nos assentamentos da Reforma
Agrária, o MST buscou fortalecer sua luta
por meio de parcerias como alternativa
para garantir as conquistas realizadas e
avançar nesse campo. O I ENERA foi o
encontro que possibilitou uma
aproximação das políticas e diretrizes
internacionais dos Organismos
Multilaterais com a educação no MST. A
representante do UNICEF propôs uma
ampliação da experiência realizada pelo
MST para a construção de uma proposta de
educação para todos os povos do campo.
Essa proposta é assumida pelos
movimentos sociais representando um
consenso entre as forças e resultando na
ampliação do acesso à educação. Vimos
nos cadernos “Por uma Educação do
Campo” que, além da ampliação do acesso
à educação, houve uma internalização da
política geral e das diretrizes internacionais
para educação e uma subsunção do caráter
de classe presente na proposta de educação
do MST.
Compreendemos que, além da
conjuntura desfavorável, outro elemento
decisivo que permitiu a subsunção do
caráter de classe da proposta de educação
do MST por meio da relação estabelecida
com os Organismos Multilaterais e o
Estado foi a fragilidade teórica presente na
proposta de educação do MST, devido ao
ecletismo teórico e um não
aprofundamento no Materialismo Histórico
e Dialético como base de sustentação
teórica à sua proposta pedagógica.
O foco da luta pela Educação do
Campo a partir de 1997, no sentido da
ampliação no campo da luta por políticas
públicas por meio de parcerias com frações
de classe representantes do capital
(UNICEF, UNESCO), postulam uma
educação específica para o campo,
agregando as estratégias dos Organismos
Multilaterais. A luta pela Educação do
Campo levou a normatização de políticas
que ficaram aprisionadas na política
(Titton, 2010), controlada pelo Estado
burguês. Nesses termos, o caráter de classe
expresso na proposta de educação do MST
fica subsumido à Educação do Campo. Da
mesma forma, constatamos isso a partir da
normatização da política de Educação do
Campo, a qual passa a ser controlada pelo
Estado, reforçando as perspectivas da
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diversidade, do Capital/Estado e do
empresariado.
A Educação do Campo nos últimos
anos tem sido a principal estratégia do
MST na luta pela educação pública. O foco
da luta pela educação no viés da política
pública, como vimos anteriormente,
influenciado pela ofensiva do Estado por
meio da política de fechamento de escolas,
resultou em um reposicionamento do
caráter de classe da educação no MST. Se
por um lado “a luta do MST contra o
fechamento de mais de 38 mil escolas na
última década é necessariamente uma luta
da classe trabalhadora” (Leher, 2014, p.
88), por outro lado “limitar o direito à luta
pelo acesso à educação escolar no âmbito
apenas dos direitos, os esforços do MST se
encerram nos limites do direito e não na
emancipação” (Araujo, 2007, p. 316).
Argumentamos que a perspectiva dos
movimentos sociais, dos trabalhadores, que
vise uma educação de classe, é subsumida
a partir do consenso travado entre as
frações de classes distintas que
compuseram o I ENERA. Dessa forma, a
Educação do Campo representa uma luta
importante no sentido da garantia dos
direitos básicos para os trabalhadores do
campo em tempos de ajustes. Constatamos
isto por meio das inúmeras conquistas
obtidas no campo educacional: conquista
de escolas, ampliação do acesso à
educação em todos os níveis. No entanto,
seu limite, para quem almeja uma
educação de classe como formulação tática
para a luta de classes, está justamente na
reforma possível dentro da ordem do
Estado burguês.
Nosso estudo aponta que a Educação
do Campo é construída a partir de um
consenso e reposicionamento de classe. Os
primeiros elementos do consenso aparecem
a partir do Prêmio Itaú/UNICEF, em 1995,
como um reconhecimento público da
existência de uma educação diferenciada,
exemplar no MST. A formulação do
consenso torna-se pública a partir da
realização do I ENERA com o
financiamento vindo da UNESCO e do
UNICEF. Embora se justifique que a
participação destes organismos tenham se
limitado as falas de abertura e
encerramento do ENERA, demonstramos
neste estudo que a participação da
UNESCO e do UNICEF foi para além das
falas e do recurso financeiro, pois resultou
numa articulação onde se deve considerar
o financiamento, o reconhecimento público
da educação do MST e as preposições
estratégicas vindas da representante do
UNICEF e assumidas pelos movimentos
sociais.
A luta política dos movimentos
sociais por dentro do Estado, nos termos da
regulamentação da política de Educação do
Campo, bem como as concepções que
fundamentam a política de Educação do
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Campo representam uma derrota para as
frações da classe trabalhadora que se
propõem a construir uma educação para a
classe trabalhadora com caráter de classe.
Um dos desafios está justamente em
superar o limite da política no âmbito do
direito burguês. Nesse contexto
educacional, uma das medidas necessárias
para a retomada e fortalecimento de uma
educação de classe é romper com o
consenso em torno da Educação do Campo
estabelecido na década de 1990.
Concordamos com D’Agostini e
Vendramini (2014) quanto à necessidade
de mobilização em torno de uma educação
para a classe trabalhadora, que seja ao
mesmo tempo universal e clássica, mas
também crítica e diferenciada em relação à
educação capitalista.
Vivemos um momento na história da
luta de classes onde uma hegemonia do
capital sobre o trabalho. Isso reflete nos
limites de se apontar perspectivas de futuro
para a classe trabalhadora. Na educação,
isso não é diferente. Atualmente vemos no
Todos pela Educação uma articulação de
classe, da classe dominante, que na
educação “um grande negócio”.
A atualidade da Educação no MST é
marcada pelo enfrentamento da luta de
classes entre capital e trabalho. A educação
no MST é a expressão da ofensiva do
capital sobre o trabalho principalmente a
partir da década de 1990 e o consenso
travado entre frações de classes distintas na
construção da Educação do Campo.
Embora o MST se posicione como fração
da classe trabalhadora em luta contra o
capital, as forças, no contexto da luta de
classe, tenderam ao enfraquecimento de
sua proposta de educação e ao
reposicionamento da educação de classe
para a educação nos marcos da luta pelo
direito dentro da lógica do Estado burguês.
Apontar perspectivas de futuro no
atual cenário político e conjuntural não é
tarefa fácil quando se defende uma
educação da classe trabalhadora,
principalmente se considerarmos o refluxo
da luta de classes e a ofensiva do capital
sobre o trabalho que têm levado à
fragmentação da classe trabalhadora,
tendendo às lutas corporativistas como
foco. Ao tratarmos das perspectivas de
futuro, enfatizamos a necessidade histórica
e imediata de superação da sociedade de
classes. Assim nos posicionamos pela
defesa de uma educação de classe que
contribua para a transformação das
relações sociais e para a emancipação
humana.
Apontamos para a necessidade de
uma educação da classe trabalhadora, que
neste momento se com limites e
contradições, mas temos que defendê-la e
construir as experiências para um acúmulo
de forças. Nesse sentido, destacamos a
importância das experiências realizadas
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pelo MST no ITERRA e por meio das
Escolas Itinerantes que, embora encontrem
limites nesta sociabilidade, são
experiências significativas e possíveis de
uma reorganização escolar a partir da
perspectiva dos trabalhadores. Faz-se
necessário também a superação do falso
dualismo entre campo e cidade presente na
formulação de Educação do Campo, a qual
limita a compreensão da unidade dos
trabalhadores enquanto classe,
possibilitando a fragmentação e
dificultando a unidade.
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iv
Entrevista concedida ao Autor, em 01 de maio de
2015.
v
As audiências públicas foram adotadas pelo
CNE/CEB para a elaboração de todas as Diretrizes
da Educação Básica (Anhaia, 2010, p. 91).
vi
INCRA. Educação no Campo: Pronera. 2015.
Recuperado de:
<http://www.incra.gov.br/proneraeducacao>.
Acesso em: 03 jun. 2015.
vii
O Fórum Nacional de Educação do Campo é
resultado da articulação dos movimentos sociais,
sindicais e organizações que buscam fortalecer o
princípio da autonomia para debate e elaboração de
proposições voltadas para
implantação/fortalecimento e consolidação de
políticas públicas de Educação. (FONEC, 2010).
viii
Criada em novembro de 2007, a CONEC é um
órgão colegiado cuja finalidade é auxiliar o
Ministério da Educação na formulação,
implementação e acompanhamento da política de
Educação do Campo (Brasil, 2012).
i
Bolsista do Programa UNIEDU Pós-Graduação.
ii
O Caderno de Educação 8: princípios da
educação no MST, é resultado de uma nova edição
do Boletim da Educação 1, “Como deve ser uma
escola de assentamento”, escrito em agosto de 1992
(MST, 1999, p. 03).
iii
O I ENERA, conforme o nome indica, reuniu
educadores e educadoras da Reforma Agrária de
todo Brasil, promovido pelo MST juntamente com
entidades ditas parceiras: Universidade de Brasília
(UNB), UNICEF, UNESCO e CNBB (Kolling,
Néry & Molina, 1999, p. 13).
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 2
p. 705-733
mai./ago.
2018
ISSN: 2525-4863
732
Informações do artigo / Article Information
Recebido em : 23/05/2018
Aprovado em: 11/07/2018
Publicado em: 30/08/2018
Received on May 23th, 2018
Accepted on July 11th, 2018
Published on August 30th, 2018
Contribuições no artigo: Os autores foram os
responsáveis por todas as etapas e resultados da
pesquisa, a saber: elaboração, análise e interpretação dos
dados; escrita e revisão do conteúdo do manuscrito
e; aprovação da versão final a ser publicada.
Author Contributions: The authors were responsible for
the designing, delineating, analyzing and interpreting the
data, production of the manuscript, critical revision of the
content and approval of the final version to be published.
Kominkiéwicz, V. L., & D’Agostini, A. (2018). A educão do MST diante do Estado e da política blica de Educão do
Campo sob influência dos organismos multilaterais...
Rev. Bras. Educ. Camp.
Tocantinópolis
v. 3
n. 2
p. 705-733
mai./ago.
2018
ISSN: 2525-4863
733
Conflitos de interesse: Os autores declararam não haver
nenhum conflito de interesse referente a este artigo.
Conflict of Interest: None reported.
Orcid
Vagner Luiz Kominkiéwicz
http://orcid.org/0000-0002-5818-7184
Adriana D’Agostini
http://orcid.org/0000-0002-1347-4198
Como citar este artigo / How to cite this article
APA
Kominkiéwicz, V. L., & D’Agostini, A. (2018). A educação
do MST diante do Estado e da política pública de
Educação do Campo sob influência dos organismos
multilaterais. Rev. Bras. Educ. Camp., 3(2), 705-733. DOI:
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-4863.2018v3n2p705
ABNT
KOMINKIÉWICZ, V. L.; D’AGOSTINI, A. A educação do
MST diante do Estado e da política pública de Educação
do Campo sob influência dos organismos multilaterais.
Rev. Bras. Educ. Camp., Tocantinópolis, v. 3, n. 2,
mai./ago., p. 705-733, 2018. DOI:
http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-4863.2018v3n2p705
Revista Brasileira de Educação do Campo
The Brazilian Scientific Journal of Rural Education
DIRETRIZES E NORMAS PARA PUBLICAÇÃO /
GUIDELINES AND INSTRUCTIONS FOR AUTHORS
Diretrizes e Normas para Publicação /
Guidelines and Instructions for Authors
[PT] SUBMISSÕES
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textos acadêmicos de sua autoria como artigos, ensaios, resenhas e entrevistas implica a cessão
integral dos seus direitos autorais à Revista Brasileira de Educação do Campo, tanto no formato
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Tutorial para autores(as) que queiram enviar manuscritos a revista:
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autorização escrita dos pais ou responsáveis. Caso contrário, as imagens deverão preservar
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PRÁTICA DE PLÁGIO E DE AUTO-PLÁGIO. Sobre isso, a RBEC se reserva no direito
de utilizar softwares anti-plágio para procura/identificação de plágio nos textos recebidos
pela revista, buscando evitar que tal prática ocorra e que a ética e a boa conduta científica
na pesquisa sejam fielmente cumpridas.
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Ortográfico da Língua Portuguesa, que passou a ser obrigatório no Brasil a partir de
janeiro de 2016!
Os artigos serão publicados na revista apenas quando forem avaliados e aceitos para publicação
pelos pareceristas e avaliadores ad hoc. A revista tem como critérios para publicação dos artigos
selecionados:
A)
Originalidade e contribuição à revista e, consequentemente, à educação do campo;
B)
Consistência e rigor teórico e metodológico da pesquisa;
Os artigos aprovados para publicação não implica que os mesmos serão publicados na
edição seguinte. Assim, todo artigo aprovado entra na fila de edição. Ou seja, cabe a
Comissão Editorial decidir quais artigos serão publicados em determinado número da
revista, considerando as temáticas e demandas editoriais da revista.
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corrigidos pelos autores que foram aceitos para publicação, e que não foram enviados
dentro do prazo estipulado pela revista na carta de aceite do manuscrito.
Após ter o artigo aprovado para ser publicado na revista, o(a) autor(a) deverá incluir uma
nota ao final do manuscrito indicando a contribuição de cada autor na elaboração do
artigo. Além disso, a revista se reserva no direito de solicitar ao(a) autor(a) a versão em
inglês do artigo aprovado (versão final), revisada e traduzida por um profissional da área
do idioma.
2. Os conteúdos dos textos e as opiniões emitidas nos manuscritos publicados neste
periódico são de inteira responsabilidade dos (as) autor (as/es), e não da Revista Brasileira
de Educação do Campo.
3. Em alguns casos que a revista entender for necessário, quando apropriado e solicitado, o (a)
autor (a) deverá enviar para a revista um atestado de que a pesquisa foi aprovada pelo Comitê de
Ética da instituição.
4. Os Dossiês Temáticos podem ser organizados por pesquisadores nacionais e estrangeiros,
como proposta para publicação na revista.
5. Os documentos suplementares são aqueles que se referem a conjuntos de dados, instrumentos
de pesquisas entre outros (como por exemplo, a declaração que se refere o item 1), que não se
enquadram no corpo do texto. Assim, quando necessários na submissão (enviados pelo autor (a)
na etapa de submissão), não devem conter qualquer tipo de identificação de autoria.
Obs. Não haverá qualquer tipo de pagamento aos autores que tiverem seus manuscritos
publicados nesta revista. A Revista Brasileira de Educação do Campo é um periódico científico
eletrônico de acesso aberto e gratuito, com o objetivo de socializar conhecimento e contribuir
para o avanço científico da área da pesquisa em Educação do Campo e, consequentemente, para
a Educação em geral.
6. No processo de submissão (envio) do manuscrito à Revista Brasileira de Educação do Campo
(on line, pelo site da Revista, acesso com login e senha:
(https://sistemas.uft.edu.br/periodicos/index.php?journal=campo&page=index), deverão ser
inseridas nos sistema da Revista informações como: nome (s) completo (s) do/da (s) autor (as)
(es), (no máximo três), seu (s) endereço (s), filiação institucional e o email do (a) autor (a)
principal para correspondência, além de seu endereço físico institucional. Essas informações não
devem ser inseridas no texto, apenas no sistema da Revista.
7. Em documentos do Microsoft Office Word, a identificação do autor deve ser removida das
propriedades do documento (no menu do Word > Opções do Word ou propriedades), para evitar
quebra de anonimato.
8. A Revista Brasileira de Educação do Campo aceitará apenas uma publicação a cada 2
anos na revista, do (a) mesmo (a) autor (a).
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permitirá uma porcentagem maior que 20% dos manuscritos publicados a cada edição da
Revista, de autores (as) oriundos da Universidade Federal do Tocantins, de quaisquer campi.
10. A revista aceita submissões de manuscritos nos idiomas português, espanhol e inglês.
11. Os textos (artigos, ensaios, resenhas, entrevistas) deverão ser submetidos pela internet, por
meio do Portal: https://sistemas.uft.edu.br/periodicos/index.php?journal=campo&page=index
12. Caso o artigo, resenha, ensaio ou entrevista tenha sido publicado anteriormente em anais de
eventos científicos, na forma de resumo simples ou expandido, o (a) autor (a) deverá
OBRIGATORIAMENTE informar o editor e relatar essa informação no texto enviado a revista,
em nota no final do texto.
OBS. Os trabalhos aceitos para publicação seguem o fluxo editorial da revista.
Na redação do artigo, devem ser observadas as seguintes informações:
1.
Os artigos e ensaios deverão conter obrigatoriamente: resumo, palavras-chave; abstract,
keywords; resumen, palabras-clave; Introdução, Desenvolvimento (discussão),
Conclusão/Considerações Finais e Referências.
OBS. A tradução do resumo e do artigo para outros idiomas (inglês e espanhol), bem como
da revisão gramatical, é de inteira responsabilidade de seus autores(as), e não da Revista
Brasileira de Educação do Campo.
2.
O título do artigo e do ensaio deve ser obrigatoriamente em português, inglês e espanhol e ter
no máximo 15 palavras.
3.
Para o artigo e o ensaio, o resumo, o abstract e o resumen não devem ultrapassar 200 palavras
cada um, respectivamente. Deverão conter as principais informações do trabalho (problema e
objetivos da pesquisa, metodologias utilizadas, contribuições/avanços para a área de pesquisa,
resultados e conclusões). Devem vir acompanhados de no máximo cinco palavras-chave,
separadas por vírgulas.
4.
Os artigos deverão ter no mínimo 15 e não deverão ultrapassar 25 páginas, incluindo figuras,
quadros, tabelas e referências. Deverão ser escritos utilizando o processador de texto do
Windows (Word), Times New Roman, fonte 12, espaço 1,5 entre linhas e margens: inferior,
superior, esquerda e direita de 2,5cm. Todas as páginas devem ser numeradas sequencialmente.
Os ensaios deverão ter no mínimo 12 páginas e não exceder 15 páginas.
Obs. Tamanho do papel: A4.
5.
São aceitas figuras coloridas (fotos, desenhos, mapas). No entanto, deverão ter uma resolução
de 300dpi, preferencialmente gravadas no formato JPG e tamanho 12cm x 8,5cm. Devem tem
títulos/referências/fontes abaixo das figuras e serem numeradas sequencialmente em algarismos
arábicos, quando referidas no corpo do texto.
OBS. No caso de utilização de imagens (fotografias, figuras etc.) a responsabilidade pelos
direitos de reprodução será exclusivamente dos(as) autores(as), e não da Revista Brasileira
de Educação do Campo.
6.
As citações com menos de 40 palavras devem estar entre aspas e incorporadas no parágrafo,
no corpo do texto. As citações com mais de 40 palavras devem vir em parágrafo separado, com
recuo de 1,5cm na margem esquerda, tamanho 11, sem aspas. Ambas as citações devem seguir
as normas da APA (American Psychological Association (APA) - 6. ed. no item "Modelos de
Referências e Citações" dessas diretrizes (logo abaixo).
OBS. Caso necessite suprimir um texto durante uma citação, usa-se três reticências: ... e não
[...]. Exemplo: Segundo Farias (2000, p. 45) a necessidade da arte...é relevante para a
sociedade". Utiliza-se [] apenas quando for inserir um texto ou palavra dentro da citação.
7.
Quando realmente for necessário, as notas deverão ser inseridas no fim do texto (notas de fim)
do documento e devem ter caráter explicativo. Devem ter tamanho (fonte) 10 e não excederem
três linhas.
8.
O arquivo contendo o trabalho (artigo, ensaio, resenha, entrevista) a ser anexado (enviado)
pelo sistema da Revista (site da revista) durante a submissão on line não deverá ultrapassar o
tamanho de 2MB, nem poderá ser acompanhado com qualquer tipo de informação que
comprove a autoria do trabalho. É preciso manter o anonimato do (s) autor (es) no corpo do
texto e nas figuras, tabelas etc.
9.
As Resenhas e entrevistas podem ser enviadas sem seguir as normas de formatação
estabelecidas pela Revista. Caso sejam aprovadas, serão adequadas às Normas da Revista
Brasileira de Educação do Campo.
10.
Caso seja incluídos links no corpo do texto, o mesmo deve seguir o procedimento no Word:
“inserir hiperlink”, e deve estar ativo.
11.
Os textos (artigos, ensaios, resenhas, entrevistas) deverão ser submetidos pela internet, por
meio do Portal: https://sistemas.uft.edu.br/periodicos/index.php?journal=campo&page=index
12.
Caso o artigo, resenha, ensaio ou entrevista tenha sido publicado anteriormente em anais de
eventos científicos, na forma de resumo simples ou expandido, o (a) autor (a) deverá
OBRIGATORIAMENTE informar o editor e relatar essa informação no texto enviado a revista,
em nota no final do texto.
OBS. Os trabalhos aceitos para publicação seguem o fluxo editorial da revista.
Na redação do artigo, devem ser observadas as seguintes informações:
1.
Os artigos e ensaios deverão conter obrigatoriamente: resumo, palavras-chave; abstract,
keywords; resumen, palabras-clave; Introdução, Desenvolvimento (discussão),
Conclusão/Considerações Finais e Referências.
OBS. A tradução do resumo e do artigo para outros idiomas (inglês e espanhol) é de inteira
responsabilidade de seus autores(as), e não da Revista Brasileira de Educação do Campo.
2.
O título do artigo e do ensaio deve ser obrigatoriamente em português, inglês e espanhol e ter
no máximo 15 palavras.
3.
Para o artigo e o ensaio, o resumo, o abstract e o resumen não devem ultrapassar 200 palavras
cada um, respectivamente. Deverão conter as principais informações do trabalho (problema e
objetivos da pesquisa, metodologias utilizadas, contribuições/avanços para a área de pesquisa,
resultados e conclusões). Devem vir acompanhados de no máximo cinco palavras-chave,
separadas por vírgulas.
4.
Os artigos deverão ter no mínimo 15 e não deverão ultrapassar 25 páginas, incluindo figuras,
quadros, tabelas e referências. Deverão ser escritos utilizando o processador de texto do
Windows (Word), Times New Roman, fonte 12, espaço 1,5 entre linhas e margens: inferior,
superior, esquerda e direita de 2,5cm. Todas as páginas devem ser numeradas sequencialmente.
Os ensaios deverão ter no mínimo 12 páginas e não exceder 15 páginas.
Obs. Tamanho do papel: A4.
5.
São aceitas figuras coloridas (fotos, desenhos, mapas). No entanto, deverão ter uma resolução
de 300dpi, preferencialmente gravadas no formato JPG e tamanho 12cm x 8,5cm. Devem tem
títulos/referências/fontes abaixo das figuras e serem numeradas sequencialmente em algarismos
arábicos, quando referidas no corpo do texto.
OBS. No caso de utilização de imagens (fotografias, figuras etc.) a responsabilidade pelos
direitos de reprodução será exclusivamente dos(as) autores(as), e não da Revista Brasileira
de Educação do Campo.
6.
As citações com menos de 40 palavras devem estar entre aspas e incorporadas no parágrafo,
no corpo do texto. As citações com mais de 40 palavras devem vir em parágrafo separado, com
recuo de 1,5cm na margem esquerda, tamanho 11, sem aspas. Ambas as citações devem seguir
as normas da APA (American Psychological Association (APA) - 6. ed. no item "Modelos de
Referências e Citações" dessas diretrizes (logo abaixo).
OBS. Caso necessite suprimir um texto durante uma citação, usa-se três reticências: ... e não
[...]. Exemplo: Segundo Farias (2000, p. 45) a necessidade da arte...é relevante para a
sociedade". Utiliza-se [] apenas quando for inserir um texto ou palavra dentro da citação.
7.
Quando realmente for necessário, as notas deverão ser inseridas no fim do texto (notas de fim)
do documento e devem ter caráter explicativo. Devem ter tamanho (fonte) 10 e não excederem
três linhas.
8.
O arquivo contendo o trabalho (artigo, ensaio, resenha, entrevista) a ser anexado (enviado)
pelo sistema da Revista (site da revista) durante a submissão on line não deverá ultrapassar o
tamanho de 2MB, nem poderá ser acompanhado com qualquer tipo de informação que
comprove a autoria do trabalho. É preciso manter o anonimato do (s) autor (es) no corpo do
texto e nas figuras, tabelas etc.
9.
As Resenhas e entrevistas podem ser enviadas sem seguir as normas de formatação
estabelecidas pela Revista. Caso sejam aprovadas, serão adequadas às Normas da Revista
Brasileira de Educação do Campo.
10.
Caso seja incluídos links no corpo do texto, o mesmo deve seguir o procedimento no Word:
“inserir hiperlink”, e deve estar ativo.
PADRÕES DE REFERÊNCIAS E CITAÇÕES
1. As referências deverão vir após o texto, serem organizadas em ordem alfabética e alinhadas à
esquerda. Deverão se basear na norma da American Psychological Association (APA) - 6. ed.,
para melhor indexação e internacionalização do periódico. Todos os(as) autores(as) utilizados no
trabalho obrigatoriamente deverão ser citados nas referências.
2. EM CITAÇÕES NO CORPO DO TEXTO:
Para um autor: Costa (2015) ou (Costa, 2015);
Para dois autores: Barbosa e Oliveira (2012) ou (Barbosa & Oliveira, 2012);
Para três autores: Silva, Freire e Araújo (2009) ou (Silva, Freire & Araújo, 2009); ou, usar et al.
se os autores estiverem dentro de parenteses.
Para mais de três autores: Silva et al. (2008) ou (Silva et al., 2008).
3. NAS REFERÊNCIAS:
ARTIGOS DE PERIÓDICOS/REVISTAS CIENTÍFICAS
Um autor
Vieira, D. (2015). História da Educação. Educação e Social, 37(1), 4-24.
(Obs. o número 37 se refere ao volume da revista/periódico, e o 1 ao número da
revista/periódico).
Dois autores
Moreira, D., & Silva, M. (2014). Arte-Educação. Revista Arte, 37(1), 344-355.
Três autores
Silva, D., Oliveira, H. Souza, M., & Fonseca, S. (2013). Educação do Campo. Revista Social,
12(1), 23-45.
Quatro autores
Silva, D., Oliveira, H. Souza, M., & Fonseca. (2013). História da Música. Revista Social, 12(1),
23-45.
Cinco autores
Silva, D., Oliveira, H. Souza, M., Farias, M., & Fonseca. (2013). História da Música. Revista
Social, 12(1), 23-45.
Seis ou mais autores
Silva, D., Oliveira, H. Souza, M., Farias, M., Fonseca, H., & Fonseca. (2010). História da
Sociedade. Revista Social, 9(1), 33-47.
Silva, D., Oliveira, H. Souza, M., Farias, M., Fonseca, H., & Fonseca...Pereira, A. (2010).
Perspectivas da Educação do Campo. Revista Estadual, 3(1), 22-33.
(Neste caso, na referência coloca-se até 7 autores. Se tiver mais de 8 autores, coloca-se os 6
primeiros, depois reticências e, posteriormente, o último autor)
Autoria Desconhecida
O problema do método. (2010). São José dos Campos: Editora da Cidade.
(Neste caso, quando não há autor, a referência deve-se iniciar pelo título, em itálico. A
citação no corpo do texto deve vir com esse título em itálico ou entre aspas).
Com autor (a) organizador (a) de livro
Silva, D. (Org.). (2016). História da arte. São Paulo: Fonseca e Silva.
Artigo com DOI
Soares, A. B. (1990). Visualidade camponesa. Tocantinense, 12(35), 199-228.
DOI:xxxxxxxxxxxxxxxxx. (no lugar do "x", colocar o DOI).
ARTIGO ACEITO PARA PUBLICAÇÃO, MAS AINDA NÃO FOI PUBLICADO
Borges, A. (no prelo). A novidade camponesa. Revista Científica. Recuperado de: http://
fageicnbek.pdf
TRABALHO NÃO PUBLICADO OU SUBMETIDO PARA PUBLICAÇÃO
Silva, J. (2016). Sobre métodos de leituras visuais. Manuscrito submetido para publicação.
(Neste caso, não se coloca o nome do periódico/revista ou Editora a qual foi submetido o
trabalho).
OBS. Mais de 3 autores nas citações no corpo do texto, utiliza-se et al. Ex. Araújo et al.
(2000) ou (Araújo, et al., 2000)
ARTIGO DE JORNAL
Freitas, A. (2000, 15 de julho). A noção da realidade. Jornal da Cidade, p. A1.
POSTAGEM EM BLOG
Vieira, A. (1999, 13 de julho). Sobre a luta camponesa [Web log post]. Recuperado de
http://fhqncjdjc.php
ANAIS DE EVENTOS (CONGRESSOS, SEMINÁRIOS ETC.)
Netto, G. (2005). O problema da estética. In Anais da 2a Jornada de Educação de Uberlândia
(pp. 204-220). Uberlândia, MG.
LIVRO
Silva, D. (1995). O campesinato. São Paulo, SP: Editora Fontes.
Carvalho, D., & Souza, F. (2003). Educação do Campo. Rio de Janeiro, RJ: Livreiro Editora.
CAPÍTULO DE LIVRO
Martins, H. (1980). Interpretação visual. In Souza, D. (Org.), Teorias estéticas (pp.1-34). São
Paulo, SP: Cortez.
TESE OU DISSERTAÇÃO
Gomes, G. H. (2016). A ilustração camponesa (Dissertação de Mestrado). Universidade Federal
do Tocantins, Tocantins.
Kato, G. V. (1995). Sobre histórias em quadrinhos (Tese de Doutorado). Universidade Federal
do Tocantins, Tocantins.
DOCUMENTOS LEGISLATIVOS BRASILEIROS IMPRESSOS
Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. (1996, 23 de dezembro). Estabelece as Diretrizes e
Bases da Educação Nacional. Diário Oficial da União, seção 1.
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (18a ed.). (1998). São Paulo, Saraiva.
Recuperado de: http://www.senado.gov.br/sf/legislacao/const/
Decreto n. 3.298. (1999, 20 de dezembro). Regulamenta a política nacional para a integração da
pessoa portadora de deficiência, consolida as normas de proteção e dá outras providências.
Brasília, DF: Presidência da República.
DOCUMENTOS LEGISLATIVOS BRASILEIROS ON LINE
Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. (1996, 23 de dezembro). Estabelece as Diretrizes e
Bases da Educação Nacional. Recuperado de: http://www.senado.gov.br/sf/legislacao
Constituição da República Federativa do Brasil. (1988, 05 de outubro). Recuperado
de: http://www.senado.gov.br/sf/legislacao/const/
Decreto n. 3.298. (1999, 20 de dezembro). Regulamenta a política nacional para a integração da
pessoa portadora de deficiência, consolida as normas de proteção e outras
providências. Recuperado de: http://www.senado.gov.br/sf
OBS. Para outros exemplos de referências, acesse o site da APA: http://www.apastyle.org/
[EN] GUIDELINES AND INSTRUCTIONS FOR AUTHORS
1.
By submitting the manuscript, the authors must submit a statement claiming transfer of
their copyright to the journal, stating that the manuscript is a new and original, is not
being subjected to any other scientific journal evaluation, does not present conflicts of
interest, meets all the ethical procedures of scientific research and has the author’s
permission to be published.
NOTE. The Brazilian Journal of Rural Education will only publish images of children
under the age of 18, in case the author (s) assumes full responsibility for the images and
has written permission from the parents or guardians.
NOTE. The authors should explicitly refer to other authors’ publications cited in their
work. THE PLAGIARISM AND SELF-PLAGIARISM PRACTICE MUST BE AVOIDED
TOTALLY.
2.
The content of the texts and the points of view expressed therein are the sole
responsibility of author.
3.
When appropriate and requested, the author must send to the scientific journal a
certificate that the research was approved by the Ethics Committee of the institution.
4.
Thematic Dossier can be organized by doctoral researchers, as proposed for publication
in the journal.
5.
Additional documents are those that refer to data sets, research instruments among
others, that do not fit in the text. Thus, when required in the submission (submitted by
the author in the submission stage), it must not contain any identification of authorship.
Note. There will not be any kind of payments to authors who have their manuscripts published
in this journal. The Brazilian Journal of Rural Education (Countryside Education) is an
electronic open access journal, in order to socialize knowledge and contribute to the scientific
advancement in the research area of Rural Education (Countryside Education) and Education in
general.
6.
During the submission process (sending) of the manuscript to the Brazilian Journal of
Rural Education (Countryside Education) (online, at the journal website, accessed with
login and password through the
URL: https://sistemas.uft.edu.br/periodicos/index.php/campo), it should be included in
the journal system information such as complete name(s) of the author(s) (maximum
three), their address(es), institutional affiliation and e-mail of the lead author for
correspondence, as well as its institutional physical address. This information should not
be inserted in the text, just in the journal system.
7.
The Brazilian Journal of Rural Education (Countryside Education) will only accept a
publication per year in the journal by the same author.
8.
The journal accepts submissions of manuscripts in Portuguese, Spanish and
English.
9.
The papers (articles, essays, reviews) must be submitted online, through the
URL: https://sistemas.uft.edu.br/periodicos/index.php/campo
10.
In the Microsoft Office Word documents, the author identification should be removed
from the document properties (on the Word menu> Word Options or property).
11.
If the manuscript has been previously published in conference proceedings, in the form
of abstract or full text, the author shall mandatorily inform the situation in the text sent to
the journal, on the first page.
12.
Articles should contain: abstract, keywords; resumen, palabras-clave; Introduction,
Development (discussion) Conclusion and References.
13.
The title should be in Portuguese, English and Spanish and have a maximum of 15
words.
14.
The abstract and resumen should not exceed 200 words. They should contain the main
manuscript information (problem and objectives of the paper, the methods used,
advances to the research area, main results and conclusions). They must be followed by a
maximum of five keywords, separated by commas.
15.
Manuscripts must be at least 15 and should not exceed 25 pages, including figures, tables
and references. They should be written using the Microsoft Word processor (Word),
Times New Roman, 12, spacing 1.5 between lines and the following margins: lower,
upper, left and right 2.5 cm. All pages should be numbered sequentially.
16.
Color pictures are accepted (photos, drawings, maps). However, they should have a
resolution of 300dpi, preferably saved in JPG format, and have size 12 cm x 8.5 cm.
They must have titles/references right below them and be sequentially numbered in
Arabic numerals, when referred to in the text.
16. Citations should follow the APA (American Psychological Association).
17. When really necessary, the notes should be inserted in the final page in the text and
should have explanatory character. They must have size 10 and not exceed three lines.
18. The file containing the paper (article, essay, review) to be attached (sent) to the journal
website (URL / journal website) during the online submission must not exceed the size
of 2MB or may be accompanied by any type of information that proves the authorship of
the paper. It is necessary to maintain the anonymity of the author(s) in the text and
figures, tables etc.
19. If links are included in the text, the following procedure in Word is required: "insert
hyperlink", and this link must be active.
20. Manuscripts submitted to the journal should follow the APA guidelines (American
Psychological Association) 6
th
ed.
[EN] The Brazilian Scientific Journal of Rural Education (Countryside) receives articles,
essays, reviews and interviews.
20.1. Citations in the paper, use to an author: Costa (2015) or (Costa, 2015); for two authors:
Barbosa and Oliveira (2012) or (Barbosa & Oliveira, 2012); to three authors: Silva Freire and
Araújo (2009) or (Silva Freire & Araújo, 2009); for more than three authors: Silva et al. (2008)
or (Silva et al., 2008).
20.2. An author
Vieira, D. (2015). History of Education. Education and Social, 37(1), 4-24.
20.3. Two authors
Moreira, D., & Silva, M. (2014). Art Education. Art Journal, 37(1), 344-355.
20.4. Three authors
Silva, D. Oliveira, Souza H., M., & Fonseca, S. (2013). Music history. Social Journal, 12(1), 23-
45.
20.5. FOUR AUTHORS
Silva, D. Oliveira, Souza H., M., & Fonseca. (2013). Music history. Social Journal, 12(1),
23-45.
20.6. FIVE AUTHORS
Silva, D. Oliveira, H. Souza, M. Farias, M., & Fonseca. (2013). Music history. Social Journal,
12(1), 23-45.
20.7. SIX OR MORE AUTHORS
Silva, D. Oliveira, H. Souza, M. Farias, M. Fonseca, H., & Fonseca. (2010). History of the
Company. Social Journal, 9(1), 33-47.
Silva, D. Oliveira, H. Souza, M. Farias, M. Fonseca, H., & Fonseca…Pereira, A. (2010).
Perspectives of Rural Education. State Journal, 3(1), 22-33.
AUTHOR UNKNOWN
20.8. The problem of method. (2010). São José dos Campos: Publisher City.
(In this case, when there is no author, reference should be initiated by the title in italics. The
citation in the text should come with that title in italics or quotation marks).
WITH AUTHOR ORGANIZER BOOK
20.9. Silva, D. (Eds.). (2016). Art history. São Paulo: Fonseca e Silva.
ARTICLE WITH DOI
30.0.
Smith, A. B. (1990). Peasant visuality. Tocantinense, 12(35), 199-228. DOI: .
ARTICLE ACCEPTED FOR PUBLICATION, BUT HAS NOT BEEN PUBLISHED
30.1.
Borges, A. (in press). The peasant novelty. Scientific Journal. Retrieved from:
http://fageicnbek.pdf
TEXT NOT POSTED OR SUBMITTED FOR PUBLICATION
30.2.
Silva, J. (2016). About methods for visual readings. Manuscript submitted for publication.
(In this case, do not put the name of the journal or Publisher which the work was submitted).
NEWSPAPER ARTICLE
30.3.
Freitas, A. (2000, July 15). The notion of reality. Journal of the City, p. A1.
POSTING IN BLOG
30.4.
Vieira, A. (1999, July 13). About the peasant struggle [Web log post]. Retrieved from
http://fhqncjdjc.php
EVENT PROCEEDINGS (CONFERENCES, SEMINARS ETC.)
30.5.
Netto, G. (2005). The problem of aesthetics. In Proceedings of the 2th Day of Uberlândia
Education (pp. 204-220). Uberlândia, MG.
[ES] INSTRUCCIONES A LOS AUTORES
1. Mediante la presentación de la artículo, el autor deben presentar una declaración afirmando
transferir sus derechos de autor a la revista, que su manuscrito es un trabajo único y original, no
está siendo sometido a otra revista (nacional o internacional) para su publicación, no entre en
conflicto de interés, que cumple con todos los procedimientos éticos de la investigación
científica y tiene su permiso para ser publicado.
2. El contenido de los textos y las opiniones expresadas en el mismo son de la exclusiva
responsabilidad del autor (s).
3. En su caso y solicitó, debe ser enviado a la revista un certificado de que la investigación fue
aprobado por el Comité de Ética de la institución.
4. Los archivos temáticos pueden ser organizados por los investigadores de doctorado
nacionales y extranjeros, tal como se propone para su publicación en la revista.
5. Los documentos adicionales son aquellos que se refieren a conjuntos de datos, instrumentos
de investigación, entre otros, que no encajan en el texto. Por lo tanto, cuando sea necesario, en la
presentación (presentado por el autor (a) la fase de presentación), no debe contener ningún tipo
de identificación de la autoría.
Nota. No habrá ningún tipo de pagos a los autores que tienen sus manuscritos publicados en esta
revista. La Revista Brasileña de la Educación Rural (Educação do Campo) es una revista
electrónica de acceso libre y abierto, con el fin de socializar el conocimiento y contribuir al
avance científico del área de investigación en el campo de la educación rural y por lo tanto para
la educación en general.
6. En el proceso de envío del manuscrito a la Revista Brasileña de la Educación Rural (Educação
do Campo) (en línea en el sitio web de la revista, con el acceso de usuario y contraseña. Site:
(https://sistemas.uft.edu.br/periodicos/index.php?journal=campo&page=index), debe incluirse
en el sistema de información de la revista, como el nombre (s) completo (s) (s) autor (s)
(máximo tres), su email electrónico, afiliación institucional y autor de correo electrónico para la
correspondencia, así como su dirección física institucional. Esta información no debe ser
insertada en el texto, sólo en el sistema de revista.
7. La Revista Brasileña de la Educación Rural (Educação do Campo) sólo aceptará una
publicación por año en la revista del mismo autor (a).
8. La revista acepta presentaciones de manuscritos en portugués, español e Inglés.
9. Los textos (artículos, ensayos, reseñas) deben presentarse en línea, a través del
Portal: https://sistemas.uft.edu.br/periodicos/index.php?journal=campo&page=index
10. En los documentos de Microsoft Office Word, la identificación del autor debe ser eliminado
de las propiedades del documento (en el menú Word> Opciones de Word o la propiedad).
11. Si el manuscrito ha sido publicado previamente en las actas de congresos, en forma de
resumen o texto completo, (a) autor (a) deberá informar obligatoriamente la situación en el texto
enviado a la revista, en la primera página.
12. Los artículos deben contener: resumen, palabras clave; abstract, keywords; Introducción,
Desarrollo (discusión) Conclusión / Consideraciones finales y Referencias.
13. El título debe ser en portugués, Inglés y español y tienen un máximo de 15 palabras.
14. El resumen y el abstract no deben exceder las 200 palabras. Debe contener la información
principal del manuscrito (problema y los objetivos del trabajo, los métodos utilizados, Los
avances en el ámbito de la investigación, los resultados principales y conclusiones). Ellos deben
estar acompañados por un máximo de cinco palabras clave, separadas por comas.
15. Los artículos deben ser de al menos 15 y no deben exceder las 25 páginas, incluyendo
figuras, tablas y referencias. Ellos deben ser escritos utilizando el procesador de textos de
Windows (Word), Times New Roman, tamaño 12, interlineado de 1,5 líneas y márgenes:
superior, inferior, izquierda y derecha de 2,5 cm. Todas las páginas deben estar numeradas
secuencialmente.
16. Imágenes en color se aceptan (fotografías, dibujos, mapas). Sin embargo, deben tener una
resolución de 300dpi, preferiblemente guardado en formato JPG, y tienen un tamaño de 12 cm x
8,5 cm. Deben tener títulos / referencias a continuación las cifras y estar numeradas
consecutivamente en números arábigos, cuando se hace referencia en el texto.
17. Las citas deben cumplir con las normas de APA (American Psychological Association) - 6.
ed.
18. Cuando realmente necesario, las notas deben insertarse en la última página de texto y debe
tener carácter explicativo. Debe tener el tamaño 10 y no superior a tres líneas.
19. El archivo que contiene la obra (artículo, ensayo, crítica, reseña) que se adjunta (enviado)
por el sistema de revista (Portal / web de la revista), durante la presentación en línea no debería
exceder el tamaño de 2 MB o puede estar acompañada de ningún tipo de información que
confirma la autoría de la obra. Es necesario mantener el anonimato del autor (s) (s) en el texto y
figuras, tablas, etc.
20. Los comentarios pueden ser enviados sin seguir las normas de formato establecidas por la
revista. Si se aprueba, será adecuada a las normas de la Revista Brasileña de Educación Rural.
21. Si los enlaces se incluyen en el texto, se debe seguir el procedimiento en Word: "Insertar
hipervínculo", y debe estar activo.
22. Las referencias deben venir después del texto, están ordenados alfabéticamente y
alineados a la izquierda. Ellos deben estar basadas en el estándar de la APA (American
Psychological Association) - 6. ed., para una mejor indexación y la internacionalización de
la revista. Todos los autores utilizados en el trabajo deben mencionarse obligatoriamente
en las referencias.
23. citas en el texto, utilizan a un autor: Costa (2015) o (Costa, 2015); por dos autores: Barbosa
y Oliveira (2012) o (Barbosa & Oliveira 2012); a tres autores: Silva, Freire y Araújo (2009) o
(Silva, Freire & Araujo, 2009); durante más de tres autores: Silva et al. (2008) o (Silva et al.,
2008).
ARTÍCULOS
Un autor
Vieira, D. (2015). Historia de la Educación. Educación y Social, 37(1), 4-24.
Dos autores
Moreira, D., & Silva, M. (2014). Educación técnica. Art Journal, 37(1), 344-355.
Tres autores
Silva, D. Oliveira, H. Souza, M., & Fonseca, S. (2013). Historia de la Música. Diario Social,
12(1), 23-45.
Cuatro autores
Silva, D. Oliveira, H. Souza, M., & Fonseca. (2013). Historia de la Música. Diario Social, 12(1),
23-45.
Cinco autores
Silva, D. Oliveira, H. Souza, M. Farías, M., & Fonseca. (2013). Historia de la Música. Diario
Social, 12(1), 23-45.
Seis o más autores
Silva, D. Oliveira, H. Souza, M. Farías, M. Fonseca, H., & Fonseca. (2010). Historia de la
Compañía. Revista Social, 9(1), 33-47.
Silva, D. Oliveira, H. Souza, M. Farías, M. Fonseca, H., & Fonseca...Pereira, A. (2010).
Perspectivas de la educación rural. Diario Estado, 3(1), 22-33.
Autor desconocido
El problema del método. (2010). São José dos Campos: Editorial Ciudad.
(En este caso, cuando no hay autor, la referencia debe ser iniciado por el título en cursiva. La
cita en el texto debe venir con ese título en cursiva o comillas).
Con el autor (a) organizador (a) libro
Silva, D. (Eds.). (2016). Historia de la arte. San Pablo: Fonseca y Silva.
El artículo con el DOI
Smith, A. B. (1990). visualidad campesino. Tocantinense, 12(35), 199-228. DOI:
XXXXXXXXXXXXXXXXX. (En lugar de "x", colocando el DOI).
ARTÍCULO Aceptado para su publicación, pero no ha sido publicado
Borges, A. (en prensa). La novedad campesino. Diario científica. Obtenido de:
http://fageicnbek.pdf
El trabajo no ENVIADOS O presentado para su publicación
Silva, J. (2016). Acerca de los métodos para las lecturas visuales. Manuscrito presentado para
su publicación.
(En este caso, no ponga el nombre de la revista o editor que se haya presentado la obra).
ARTÍCULO DE PERIÓDICO
Freitas, A. (2000, 15 de julio). La noción de la realidad. Diario de la Ciudad, p. A1.
BLOG INTERNET
Vieira, A. (1999, 13 de julio). Sobre la lucha campesina [Web mensaje de registro]. Obtenido de
http: //fhqncjdjc.php
PROCEDIMIENTOS DE EVENTOS (conferencias, seminarios, etc.)
Netto, G. (2005). El problema de la estética. En Actas de la 2a Jornada de Educación
Uberlândia (pp. 204-220). Uberlândia, MG.
LIBRO
Silva, D. (1995). El campesinado. Sao Paulo, SP: Editora fuentes.
Carvalho, D., y Souza, F. (2003). Educación Rural. Río de Janeiro, RJ: Editorial librería.
CAPÍTULO DE UN LIBRO
Martins, H. (1980). La interpretación visual. En Souza, D. (Eds.), Estética teorías (pp.1-34). Sao
Paulo, SP: Cortez.
Tesis o disertación
Gomes, G. H. (2016). La ilustración campesino (Tesis). Universidad Federal de Tocantins,
Tocantins.
Revista Brasileira de Educação do Campo
The Brazilian Scientific Journal of Rural Education
POLÍTICA EDITORIAL / EDITORIAL POLICY
Política Editorial / Editorial Policy
[PT] POLÍTICAS
[PT] Foco e Escopo da Revista
A REVISTA BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO DO CAMPO - RBEC, de periodicidade
quadrimestral publica Artigos originais resultantes de pesquisas teóricas e/ou empíricas, Dossiês
Temáticos, Ensaios, Entrevistas e Resenhas de temas vinculados à Educação do Campo sob
diferentes campos da pesquisa, como: História da Educação do Campo; Movimentos Sociais;
Políticas Públicas; Povos Indígenas e Educação; Formação Docente; Jovens e Adultos do
Campo; Didática e Práticas Pedagógicas em Artes e Música; Arte na Educação do Campo;
Interculturalidade na Educação do Campo; Pedagogia da Alternância; Questão Agrária e
Campesinato.
A Revista tem como missão ser um veículo de comunicação científica de qualidade que fomente
importantes debates no campo educacional, principalmente na área da Educação do Campo, de
pesquisadores brasileiros e estrangeiros mestres e doutores, além de estudantes acompanhados
de seus respectivos orientadores (titulação nima de mestre ou doutor), para o avanço
científico da área e para a produção de conhecimento.
A Revista Brasileira de Educação do Campo é uma publicação quadrimestral do Departamento
de Educação do Campo, Curso de Licenciatura em Educação do Campo com Habilitação em
Artes e Música, da Universidade Federal do Tocantins, câmpus de Tocantinópolis. Publica
textos em português, espanhol e inglês.
A revista recebe os manuscritos em fluxo contínuo. É um periódico científico de acesso
aberto e gratuito, sem taxas de submissão e de publicação dos textos submetidos à Revista.
Na seção de Artigos, serão publicados artigos originais, realizados ou em andamento, sob
diferentes temas referentes à Educação do Campo, além de revisões de literatura de pesquisa
educacional. Na seção Ensaios, serão publicados textos ensaístas de temas relacionados à
Educação do Campo. Na seção Resenhas, serão publicadas resenhas de livros publicados nos
últimos três anos, de temas pertinentes à Educação do Campo, e Educação em geral. Na
seção Dossiês Temáticos, serão publicados grupos de artigos temáticos relacionados a um dos
campos da pesquisa da Revista Brasileira de Educação do Campo. Na seção Entrevistas, serão
publicadas entrevistas de professores/pesquisadores com relevante experiência e contribuição no
campo da pesquisa em Educação do Campo e, Educação, em Geral. Além disso, o periódico
reserva o direito de publicar edições especiais em seus números.
O tulo abreviado da revista é Rev. Bras. Educ. Camp., que deve ser usado em bibliografias
que citarem esta revista.
[EN] POLICY
[EN] AIMS & SCOPE
Este conteúdo utiliza a Licença Creative Commons Attribution 4.0 International License
Open Access. This content is licensed under a Creative Commons attribution-type BY
The Brazilian Scientific Journal of Rural Education (Countryside Education), quarterly
publication, publishes original articles resulting from theoretical and/or empirical research
thematic, essays and reviews of topics related to the Rural Education (Countryside Education) in
different fields of research, such as the Rural Education (Countryside Education) History; Social
Movements; Public Policies; Indigenous Peoples and Education; Teacher Training; Youth and
Adult Rural Education (Countryside Education); Didactic and Pedagogical Practices in Arts and
Music; Art in Rural Education (Countryside Education); Interculturalism in Rural Education
(Countryside Education); Pedagogy of Alternation; Land Reform and Peasantry.
The Scientific Journal's mission is to be a qualified scientific communication instrument that
fosters important debates in the educational field, especially in the Rural Education (Countryside
Education) area of Brazilians and foreign Masters and PhD researchers and students
accompanied by their mentors (minimum Doctor title required), for scientific progress in the
field and for producing knowledge.
The Brazilian Scientific Journal of Rural Education (Countryside Education) is a quarterly
publication of the Department of Rural Education (Countryside Education), Bachelor course of
Rural Education (Countryside Education) and specialization course in Arts and Music of the
Federal University of Tocantins, Tocantinópolis city. It publishes papers in Portuguese,
Spanish and English. The journal receives manuscripts in continuous flow. It is an open access
Scientific Journal. No charges - no fees - of manuscript submission and publication -
no APCs.
The abbreviated title of the journal is Rev. Bras. Educ. Camp., which should be used in
bibliographies when citing the journal.
[ES] POLÍTICAS
[ES] TEMÁTICA Y ALCANCE
La Revista Brasileña de la Educación Rural (Educacão do Campo), tres veces al año, publica
artículos originales resultantes de teóricos y / o archivos temáticos de investigación empírica,
ensayos y reseñas de temas relacionados con el campo de la educación rural en diferentes
campos de la investigación, tales como: Historia de la Educación Rural (campo); Los
Movimientos Sociales; Políticas Públicas; Pueblos Indígenas y la Educación; Formación del
Profesorado; la Jóvenes y Adultos Campo; Didácticos y Pedagógicos Prácticas en Artes y
Música; Arte en la Educación Rural; Interculturalidad en Educación Rural; Pedagogía de la
Alternancia; Cuestión Agraria y Campesinado.
La misión de la revista es ser un instrumento de calidad de la comunicación científica que
promueve debates importantes en el campo de la educación, sobre todo en el ámbito de la
Educación Rural de los brasileños y extranjeros maestros e investigadores de doctorado y
estudiantes acompañados por sus tutores (titulación mínima doctor), para el progreso científico
en el campo y para la producción de conocimiento.
La Revista Brasileña de la Educación Rural (Educação do Campo) es una publicación tres veces
al año del Departamento de Educación Rural, Licenciatura en Educación Rural con
especialización en Artes y Música de la Universidad Federal de Tocantins, campus
Tocantinópolis. Publica textos en portugués, español e Inglés. La revista recibe manuscritos
en continuamente. Es una revista científica abierta y libre, sin pagos de tasas de
presentación y publicación de los textos presentados en la revista.
El título abreviado de la revista es Rev. Bras. Educ. Camp., Que debe ser usado en bibliografías,
citando la revista.
[PT] AVALIAÇÃO PELOS PARES
Todos os textos submetidos à revista serão analisados pela equipe editorial, quanto o
atendimento às normas e ao escopo da revista. Caso seja aprovado nesta primeira fase, o texto
será encaminhado a dois pareceristas ou avaliadores ad hoc (avaliação cega por pares / blind
review) da área de conhecimento da pesquisa, que emitirão pareceres quanto a sua aceitação ou
não, visando à qualidade científica do manuscrito e relevante contribuição para a pesquisa em
educação. O artigo será aprovado se receber dois pareceres favoráveis. O artigo será recusado se
receber dois pareceres desfavoráveis. Caso haja um parecer favorável e outro desfavorável entre
os pareceristas, o manuscrito será encaminhado a um terceiro avaliador.
O prazo para resposta da aceitação ou recusa dos manuscritos enviados a Revista Brasileira de
Educação do Campo pode variar de acordo com o processo das avaliações, as quais os
pareceristas ou avaliadores ad hoc poderão solicitar modificações e/ou correções dos textos
enviados a revista pelos (as) autor (a/es).
Caso seja solicitado ao autor (a) reformular/corrigir/revisar o manuscrito, o mesmo deverá
reenvia-lo no prazo máximo de 30 (dez) dias. Posteriormente, após nova reavaliação do texto
feita por um parecerista ou avaliador ad hoc, o manuscrito passará para a etapa final, que
consiste no encaminhamento para a publicação.
Os critérios de avaliação/arbitragem adotados pela Revista Brasileira de Educação do
Campo são:
1.
Relevância, contribuição e domínio do tema para a pesquisa científica e educacional;
2.
Linguagem clara e coerência do texto;
3.
Articulação entre o tema e a fundamentação teórica;
4.
Coerência nas análises dos dados e na argumentação;
5.
Uso da bibliografia adequada e atualizada.
6.
Atendimento as normas da APA(American Psychological Association)
Obs. Os avaliadores deverão estar cadastrados no sistema da revista.
OBS. A Revista Brasileira de Educação do Campo se reserva no direito de publicar artigos de
autores convidados. Contudo, seus manuscritos também serão avaliados no sistema blind
review.
OBS. Textos publicados em Anais de eventos científicos, no formato Resumo ou Texto
completo, deverão ser informados obrigatoriamente pelo(a) autor(a) ao Editor da revista, durante
o processo de submissão do manuscrito, para avaliação.
OBS. Os Dossiês propostos por pesquisadores renomados da área educacional serão analisados
pela equipe editorial da revista, visando atender os critérios de avaliação adotados pela revista.
Nesse sentido, os dossiês podem ser aprovados ou recusados pelos editores da revista.
Caso algum artigo seja aprovado/aceito para ser publicado na revista e fique constatado no texto,
após o aceite, plágio, fabricação de dados e informações, autoria fraudulenta entre outras
práticas de má conduta científica, o artigo será recusado/rejeitado e não será publicado na
revista.
Tutorial para avaliadores ad hoc/pareceristas da revista:
https://sistemas.uft.edu.br/periodicos/index.php/campo/Tutorial
[EN] REVIEW PROCESS FOR SUBMISSIONS
All papers submitted to the journal will be analyzed by the Editorial Review Staff, aimed at
checking the compliance with the guidelines and the journal's scope. If approved this first step,
the text will be designated to two reviewers (Blind Review) with Research Knowledge in the
area who will suggest its acceptance or not, aiming at the scientific manuscript quality and
relevant contribution to the field of Education.
The deadline for acceptance or rejection response of manuscripts submitted to journal may vary
according to the process of assessments, in which the reviewers may request modifications
and/or corrections to be made in the texts.
The reviewer guidelines of the Brazilian Journal of Rural Education (Countryside
Education) are:
1.
Relevance and contribution to the theme area of scientific and educational research;
2.
Clear language and coherence of the article;
3.
Relationship between the theme and the theoretical foundation;
4.
Consistency in data analysis and argumentation;
5.
Use of appropriate and updated bibliography.
[ES] EVALUACIÓN DE MANUSCRITOS POR LOS COLABORADORES DE LA
REVISTA
Los textos presentados a la Revista serán analizadas por los editores, destinadas a comprobar el
cumplimiento de las normas y el alcance de la revista. Si se aprueba este primer paso, el texto
será enviado a dos evaluadores ad hoc (evaluación ciega por pares) Investigación Área de
conocimiento que va a dar una opinión en cuanto a su aceptación o no, con el objetivo de la
calidad científica y relevante manuscrito contribución a la investigación en la educación. El
plazo para la respuesta de aceptación o rechazo de los manuscritos presentados a la Revista
puede variar de acuerdo con el proceso de las evaluaciones, que los revisores pueden solicitar
modificaciones y / o correcciones a realizar en los textos.
Los criterios de evaluación/arbitraje adoptados por la Revista Brasileña de la Educación
Rural (Educação del Campo/Rural) son:
1. Relevancia, la contribución y el área de tema para la investigación científica y la
educación;
2. Lenguaje claro y coherencia del texto;
3. La relación entre el tema y el fundamento teórico;
4. La consistencia en el análisis de los datos y argumentos;
5. Utilizar la bibliografía adecuada y actualizada.
[PT] DIRETRIZES PARA AVALIAÇÃO
Os critérios de avaliação/arbitragem adotados pela Revista Brasileira de Educação do
Campo são:
1.
Relevância, contribuição e domínio do tema para a pesquisa científica e educacional;
2.
Linguagem clara e coerência do texto;
3.
Articulação entre o tema e a fundamentação teórica;
4.
Coerência nas análises dos dados e na argumentação;
5.
Uso da bibliografia adequada e atualizada.
6.
Atendimento as normas da APA(American Psychological Association)
OBS. OS AVALIADORES DEVERÃO LEVAR EM CONSIDERAÇÃO AS NORMAS DA
APA (American Psychological Association), E NÃO DA ABNT, NO PROCESSO DE
AVALIAÇÃO DOS MANUSCRITOS.
[EN] PEER REVIEW PROCESS - The reviewer guidelines of the Brazilian Journal
of Rural Education (Countryside Education) are:
1.
Relevance and contribution to the theme area of scientific and educational
research;
2.
Clear language and coherence of the article;
3.
Relationship between the theme and the theoretical foundation;
4.
Consistency in data analysis and argumentation;
5.
Use of appropriate and updated bibliography.
[ES] Los criterios de evaluación/arbitraje adoptados por la Revista Brasileña de la
Educación Rural (Educação do Campo) son:
1. Relevancia, la contribución y el área de tema para la investigación científica y la
educación;
2. Lenguaje claro y coherencia del texto;
3. La relación entre el tema y el fundamento teórico;
4. La consistencia en el análisis de los datos y argumentos;
5. Utilizar la bibliografía adecuada y actualizada.
POLÍTICA DE PRIVACIDADE / PRIVACY POLICY
Os nomes e endereços informados nesta revista serão usados exclusivamente para os serviços
prestados por esta publicação, não sendo disponibilizados para outras finalidades ou a terceiros.
The names and email addresses entered in this journal will be used exclusively for the services
provided by this publication and is not available for other purposes or to third parties.
AHEAD OF PRINT
Informamos que a Revista Brasileira de Educação do Campo adota a Publicação Avançada de
Artigos (PAA), também conhecida como Ahead of Print (AOP). O objetivo é acelerar a
divulgação dos artigos recebidos, avaliados, revisados e aprovados pela revista, dentro de cada
edição. É importante assinalar que tal prática é bastante utilizada por diversas revistas nacionais
e internacionais, além de possibilitar a divulgação mais rápida dos artigos indexados nas bases
de dados para pesquisa. Por isso, contamos com a celeridade dos colegas avaliadores dos artigos
submetidos ao periódico e dos(as) autores(as) no envio dos textos corrigidos dentro dos prazos
estabelecidos pela revista.
[EN] AHEAD OF PRINT
We inform that the Brazilian Journal of Rural Education adopts the Advanced Publication of
Articles (PAA), also known as Ahead of Print (AOP). The objective is to accelerate the
dissemination of the articles received, evaluated, reviewed and approved by the journal.
POLÍTICA DE VERIFICAÇÃO E COMBATE A QUALQUER TIPO DE PLÁGIO
/ VERIFICATION POLICY AND PREVENTING ANY TYPE OF PLAGIARISM
A Revista Brasileira de Educação do Campo seguirá as diretrizes contidas no COPE (Committee
on Publication Ethics) e terá também seus próprios códigos de conduta e ética, não aceitando
fraudes, más condutas, violações de ética ou plágio de qualquer forma. Caso seja identificada
algumas dessas práticas nos manuscritos recebidos, como por exemplo, a de plágio, os mesmos
serão tratados de acordo com as orientações do COPE. Diante disso, os autores deverão visitar o
site da COPE para maiores informações sobre ética em
pesquisa: http://publicationethics.org/resources/flowcharts
[EN] The Brazilian Journal of Rural Education will follow the guidelines contained in the COPE
(Committee on Publication Ethics), not accepting plagiarism. If any conduct of plagiarism is
identified in the manuscripts received, they will be treated according to the COPE guidelines.
More information at website: http://publicationethics.org/resources/flowcharts
CÓDIGOS DE ÉTICA E CONDUTA (Boas práticas) / CODE OF ETHICS AND
CONDUCT
1.
Editores:
contribuir para melhorar a qualidade da revista, visando garantir a qualidade científica
dos textos nela publicados e se estão de acordo com as Diretrizes e Escopo da RBEC;
esclarecer dúvidas que eventualmente possam surgir de avaliadores, revisores, autores e
leitores quanto ao conteúdo da revista, como, por exemplo, publicações, avaliações,
chamadas de artigos e demais informações da revista;
contribuir para a qualidade científica na área da Educação do Campo e educação, em
geral;
evitar desvios de ética e conduta na revista que possam prejudicar as boas práticas para a
pesquisa científica;
quando necessário, os editores publicarão correções, retratações e esclarecimentos a
comunidade acadêmica, referentes a publicações e/ou informações não verídicas ou
afirmações distorcidas ou enganosas de autores, tendo como rigor a verdade científica e
o respeito à comunidade acadêmica.
atualizar a política editorial, bem como as diretrizes e normas da revista quando for
necessário;
decidir pela aprovação final ou recusa dos artigos, entrevistas, resenhas e dossiês
enviados a revista, considerando sempre os pareceres feitos pelos
avaliadores/pareceristas designados;
zelar pelo bom cumprimento dos prazos referentes ao envio de pareceres pelos
avaliadores.
2.
Autores(as):
os autores deverão evitar qualquer prática que leve a conduta científica, como, por
exemplo, plágio e autoplágio, manipulação de dados e informações da pesquisa, fraudes
na pesquisa e nas autorias dos textos, bem como qualquer outra prática que infrinja a
ética na pesquisa acadêmico/científica. Caso contrário, a RBEC se reserva o direito de,
além de tomar as devidas providências legais, excluir permanentemente o texto
publicado na revista que apresente tais práticas;
promover o debate democrático na revista, independente de crenças, instituições,
localidades, entre outros, pautado pelo respeito a todos os envolvidos;
citar órgãos de fomento que financiam ou financiaram a pesquisa publicada na RBEC;
atender as diretrizes e normas de publicação da RBEC antes da submissão de qualquer
trabalho à revista.
3.
Revisores/Avaliadores(as):
pautar pela ética durante as avaliações realizadas nos manuscritos recebidos pela revista;
seguir os critérios de avaliação informados pela RBEC, nas Diretrizes da revista;
zelar pela qualidade científica e critérios de avaliação da revista;
garantir a confidencialidade do material avaliado;
caso haja algum conflito de interesse nas avaliações, os avaliadores e revisores deverão
informar aos editores da revista.
4.
Conflitos de interesses:
caso haja conflitos de interesses entre editores, avaliadores, revisores e autores que não
possam ser solucionados pelos editores da revista, a decisão final será tomada pelo
Colegiado do Curso de Educação do Campo, da Universidade Federal do Tocantins,
Campus de Tocantinópolis, Departamento ao qual a RBEC está vinculada.
5.
Cumprimento do Código de Ética e de Conduta:
autores(as), avaliadores/revisores, editores e equipe editorial da RBEC deverão cumprir
o presente Código de Ética e de Conduta, que entrará em vigor na data de sua
publicação.
A Revista Brasileira de Educação do Campo, além de incentivar a pesquisa científica, que possa
contribuir para o debate acadêmico nacional e internacional, informará aos leitores sobre
qualquer informação a respeito das publicações, chamadas de artigos, conteúdos da revista e/ou
outras informações relevantes para a comunidade acadêmica e científica, visando incentivar o
debate democrático neste periódico, pautado pelo respeito a todos os envolvidos. Também, a
revista se reserva no direito de, quando for necessário, atualizar e revisar esses Códigos de
Éticas e Condutas.
[EN] ETHICS AND CONDUCT CODES OF THE BRAZILIAN JOURNAL OF RURAL
EDUCATION (GOOD PRACTICE CODES)
1.
Editors:
contribute to improving the journal quality, in order to guarantee the scientific quality of
the texts published in it and their accordance with the Guidelines and Scope of the
RBEC;
clarify any doubts that may eventually arise from revisers, evaluators, authors and
readers regarding the content of the journal, such as publications, evaluations, article
calls and other journal information;
contribute to the scientific quality in the area of Rural Education and education in
general;
avoid ethics and conduct deviations in the journal that could prejudice good practices for
scientific research;
editors shall, where necessary, publish corrections, retractions, and clarifications to the
academic community regarding untruthful publications and/or or distorted or misleading
information presented by the authors, with rigor to scientific truth and respect for the
academic community.
2.
Authors:
The authors must avoid any practice that would lead to scientific misconduct, such as
plagiarism and auto-plagiarism, manipulation of research data and information, fraud in
the research and authorship of texts, as well as any other practice that infringes ethics in
the academic/scientific research. Otherwise, the RBEC reserves the right to, in addition
to taking appropriate legal measures, delete permanently from the journal the text
published presenting such practices;
promote the democratic debate in the journal, independently on beliefs, institutions,
localities, among others, guided by respect for all involved;
mention funding agencies that financed or finance the research published in the RBEC;
comply with the RBEC guidelines and publication standards before submitting any work
to the journal.
3.
Revisers/Evaluators:
touch upon ethics during the evaluations carried out in the manuscripts received by the
journal;
follow the assessment criteria informed by the RBEC, in the Journal Guidelines;
ensure the scientific quality and evaluation criteria of the journal;
ensure the confidentiality of the material evaluated;
in case of any conflict of interest in the evaluations, revisers and evaluators should
inform the journal editors.
4.
Conflict of interests:
in case of conflict of interests between editors, revisers, evaluators and authors that
cannot be resolved by the journal editors, the final decision will be made by the
Collegiate of the Course of Rural Education, at the Federal University of Tocantins,
Campus of Tocantinópolis, Department to which the RBEC is associated.
5.
Compliance with the Ethics and Conduct Codes:
authors, evaluators/revisers, editors and editorial staff of the RBEC shall comply with
these Ethics and Conduct Codes, which shall come into force on the date of its
publication.
The Brazilian Journal of Rural Education, in addition to encouraging scientific research that may
contribute to the national and international academic debate, will inform readers of any
information regarding publications, articles calls, journal contents and/or other relevant
information to the academic and scientific community, aiming to encourage the democratic
debate in this journal, based on respect for all those involved.
FONTES DE INDEXAÇÃO / INDEXING DATABASES
Crossref
DOAJ
Portal de Periódicos da CAPES
Clase
ERIHPLUS
REDIB
FLACSO (ARGENTINA)
OPEN SCIENCE DIRECTORY / EBSCO
ROAD
LatinREV
Edubase (SBU/UNICAMP)
ULRICH's WEB
Sumários.Org
Latindex
Diadorim
Google Acadêmico (Google Scholar)
EZ3/Eletronic Journals Library
MIAR (Universitat de Barcelona)
Actualidad Iberoamericana (Indice Internacional de Revistas)
PKP (Public Knowledge Project)
Dataverse Harvard
E-Journals.Org
SHERPA/RoMEO
OASIS BR
La Referência
RCAAP
Libraries (University of Minnesota)
WorldCat (OCLC)
Zenodo
Mendeley
Academia.Edu
AcademicKeys
JournalTOCs
CiteULike
LIVIVO (ID=1002342)
Zeitschriftendatenbank (ZDB) (2866207-6)
ZDB OPAC (2866207-6)
E-L is (Repository E-Prints in Library & Information Science)
ResearcH - Directorio de Revistas (Journals & Authors)
BASE
OpenAIRE
Livre (Revistas de Livre Acesso)
Research Bib (Academic Resource Index)
Scilit (The Scientific Literature Database)
Science Library Index
Redes Sociais (Facebook)
Redes Sociais (Twitter)
PERIODICIDADE / PUBLICATION FREQUENCY
A Revista Brasileira de Educação do Campo é um periódico científico eletrônico de acesso
aberto e gratuito, de periodicidade quadrimestral, da Universidade Federal do Tocantins, câmpus
de Tocantinópolis.
[EN] The Brazilian Journal of Rural Education is an electronic journal of free and open access,
quarterly, from the Federal University of Tocantins, campus Tocantinópolis, Brazil.
POLÍTICA DE ACESSO LIVRE / OPEN ACCESS POLICY
Esta revista oferece acesso livre imediato ao seu conteúdo, seguindo o princípio de que
disponibilizar gratuitamente o conhecimento científico ao público proporciona maior
democratização mundial do conhecimento.
[EN] This journal provides immediate open access to its content on the principle that freely
available scientific knowledge to the public supports a greater global democratization of
knowledge.
ARQUIVAMENTO / ARCHIVING
Esta revista utiliza o sistema LOCKSS para criar um sistema de arquivo distribuído entre as
bibliotecas participantes e permite às mesmas criar arquivos permanentes da revista para a
preservação e restauração. Saiba mais...
This journal uses the LOCKSS system to create a distributed file system through the
participating libraries and it allows them to create permanent journal files for preservation and
restoration.
DECLARAÇÃO DE DIREITO AUTORAL
Proposta de Aviso de Direito Autoral Creative Commons
1.
Proposta de Política para Periódicos de Acesso Livre
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
1.
Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira
publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative
Commons Attributionque permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento
da autoria e publicação inicial nesta revista.
2.
Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para
distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em
repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e
publicação inicial nesta revista.
3.
Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.:
em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer ponto antes ou
durante o processo editorial, que isso pode gerar alterações produtivas, bem como
aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (Veja O Efeito do Acesso Livre).
[EN] DECLARATION OF COPYRIGHT
[EN] Proposal for Copyright Notice Creative Commons
1. Policy Proposal to Open Access Journals
Authors who publish with this journal agree with the following terms:
1.
Authors retain copyright and grant the journal right of first publication with the work
simultaneously licensed under the Creative Commons Attribution License, which allows
sharing the work with the recognition of its initial publication in this journal.
2.
Authors are able to take on additional contracts separately, with non-exclusive
distribution of the paper version published in this journal (e.g.: publish in an institutional
repository or as a book), with an acknowledgment of its initial publication in this journal.
3.
Authors are permitted and encouraged to post their work online (e.g.: in institutional
repositories or on their website) at any point before or during the editorial process, as it
can lead to productive exchanges, as well as increase the impact and the citation of
published work (See the Effect of Open Access).
TUTORIAL PARA AVALIADORES AD HOC/PARECERISTAS DA REVISTA:
https://sistemas.uft.edu.br/periodicos/index.php/campo/Tutorial
TUTORIAL PARA AUTORES QUE QUEIRAM ENVIAR ARTIGOS PARA A
REVISTA:
https://sistemas.uft.edu.br/periodicos/index.php/campo/Autores