Revista Brasileira de Educação do Campo
The Brazilian Scientific Journal of Rural Education
RESENHA / REVIEW
DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.rbec.v4e6032
Tocantinópolis/Brasil
v. 4
e6032
10.20873/uft.rbec.v4e6032
2019
ISSN: 2525-4863
1
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Resenha:
Bezerra Neto, L. (2017). Educação rural no Brasil: do
ruralismo pedagógico ao movimento por uma educação do
campo. São Carlos: Pedro & João Editores.
Gabriela Barbosa Souza
1
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Universidade Estadual de Campinas - Unicamp. Faculdade de Educação. Avenida Bertrand Russel, 801. Cidade Universitária
“Zeferino Vaz”. Campinas - SP. Brasil.
Autor para correspondência/Author for correspondence: gabibarbosa_fsa@hotmail.com
O livro “Educação rural no Brasil -
do ruralismo pedagógico ao movimento
por uma educação do campo” é resultado
da pesquisa realizada pelo professor Luiz
Bezerra Neto junto ao Programa de Pós
Graduação em Educação da Universidade
Estadual de Campinas, defendida em 2003.
Luiz Bezerra Neto é professor da
Universidade Federal de São Carlos
(UFSCar) e coordenador do Grupo de
Estudos e Pesquisas sobre Educação no
Campo (GEPEC).
A obra encontra-se organizada em
três capítulos, além de introdução,
considerações finais e referências. A obra
tem como objetivo “... discutir e analisar as
propostas elaboradas e desenvolvidas no
interior do movimento do ‘ruralismo
pedagógico’, apontando suas
reminiscências no discurso dos atuais
movimentos, mormente o MST”. (Bezerra
Neto, 2017, p. 12).
O autor apresenta as propostas
pedagógicas defendidas pelo movimento
do ruralismo pedagógico, desenvolvidas
por volta de 1930, período em que o Brasil
vivia o governo corporativo e
antidemocrático de Getúlio Vargas e uma
crise intermitente do capitalismo. O autor
prossegue discutindo sobre a defesa de um
projeto nacionalista por diferentes
organizações sociais em prol do
desenvolvimento do país, e a consequente
repulsa à recepção de produções educativas
e econômicas de outros países. Educadores
brasileiros contribuíram com propostas de
Souza, G. B. (2019). Resenha do texto: Bezerra Neto, L. (2017). Educação rural no Brasil: do ruralismo pedagógico ao
movimento por uma educação do campo
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educação democrática e científica,
ressaltando o papel social e político para o
desenvolvimento do Brasil, a exemplo de
Sud Mennucci, Carneiro Leão e Alberto
Torres, que pensaram o movimento
ruralista pedagógico, o qual encontrou
ressonância em países da Europa, América
Latina e América do Norte.
O autor possibilita ao leitor uma
ampla discussão sobre as propostas
educativas de fixação do homem no campo
através da Pedagogia, defendidas pelo
movimento ruralista, ressaltando o papel
central que era dado à escola, e
principalmente, ao professor, aqui
considerado agente ativo no processo de
manter o camponês neste espaço.
Bezerra Neto prossegue com as
discussões sobre as reformas educacionais
brasileiras realizadas ao longo do século
XX, contextualizando as mudanças e
regularidades no âmbito educacional
brasileiro diante das inúmeras
modificações para atender ao processo de
industrialização que se instalava no país, o
qual trouxe a demanda da formação de
mão de obra qualificada para dentro das
instituições escolares. No entanto, o acesso
à educação sempre ficou restrito a uma
parcela privilegiada do país.
Para contextualizar os diálogos e
distinções entre o movimento ruralista
pedagógico e o Movimento Sem Terra na
atualidade, Bezerra Neto, com base em
autores que discutem a educação do
campo, principalmente Roseli Caldart,
aborda a gênese do MST, a qual data da
reestruturação dos movimentos sociais no
Brasil na década de 1970, após um período
de grande silenciamento causado pelo
governo ditatorial que regia o país. O MST
enquanto movimento foi reconhecido em
janeiro de 1984, no Encontro Nacional de
Trabalhadores Rurais Sem Terra realizado
em Cascavel/PR. Além disso, o autor
apresenta a organização do MST em
setores articulados e a busca do
rompimento da organização social desigual
e lucrativa do sistema capitalista através da
luta pela terra e da educação.
A partir de uma ampla análise, o
autor constata que o movimento do
ruralismo pedagógico já propusera ideias
que hoje estão sendo defendidas pelo
movimento sem-terra, sendo estas:
possibilitar a permanência dos camponeses
em seus espaços de origem; evitar a grande
população das favelas nos centros urbanos;
a busca da relação entre o homem e a
natureza, através das relações de trabalho
no campo; a defesa de uma educação
específica para o campo capaz de
contemplar a cultura da comunidade;
adaptação dos currículos e calendários à
realidade sociocultural; além da formação
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de professores contextualizada e vinculada
aos movimentos sociais camponeses.
Por outro lado, o autor traz a
principal diferença política e ideológica
dos referidos movimentos, a qual se trata
da defesa da reforma agrária. O movimento
ruralista defende-a a partir de um olhar
positivista, propondo apenas alguns ajustes
do projeto de sociedade capitalista e
nacionalista. Já o MST parte de um método
dialético, buscando uma sociedade
socialista que possibilite a democratização
da terra e da educação de uma forma
igualitária.
O autor conclui mostrando que a
falta de mudanças profundas na educação
praticada no campo decorre da falta de
investimento e atendimento das demandas
rurais por parte do poder público. Na visão
do autor, os currículos adotados continuam
sem um vínculo com a realidade do campo,
bem como a organização do calendário
letivo não considera os períodos de plantio
e colheita que são próprios desse contexto.
O autor deixa, como reflexão final para o
leitor, alguns questionamentos: “... até que
ponto uma pedagogia específica para o
meio rural constituiria em avanço para o
setor? ... Mais importante não seria que
toda a sociedade tivesse acesso a todas as
informações que lhes interessarem, e se
todas as tecnologias o deveriam estar
disponíveis a todos os ramos da
produção?”. (Bezerra Neto, 2017, p. 247).
A partir da leitura da obra, considera-
se realmente que há uma longa luta por
movimentos sociais e pedagógicos na
busca da construção de uma educação do
campo. Retrocessos e estagnações podem
ser facilmente notadas, como é destacado
pelo autor. No entanto, faz-se relevante dar
visibilidade aos inúmeros avanços
alcançados pelos movimentos sociais
camponeses, tais como a aprovação de
documentos legais que garantem uma
educação diferenciada, a criação de cursos
específicos para formação de professores
do campo, além de experiências
pedagógicas exitosas em diversas Escolas
Família Agrícola que adotam um currículo
e calendário diferenciados através do
método da pedagogia da alternância, o que
tem proporcionado o diálogo entre os
conhecimentos científicos e culturais do
campo.
Esta obra pode interessar a
pesquisadores da área educacional,
professores, militantes e interessados nas
discussões sobre a luta pela terra no Brasil
e a educação do campo, visto que
possibilita um amplo conhecimento
histórico e dialético de como o movimento
por uma Educação do Campo vem sendo
construído na trajetória histórica da
educação brasileira.
Souza, G. B. (2019). Resenha do texto: Bezerra Neto, L. (2017). Educação rural no Brasil: do ruralismo pedagógico ao
movimento por uma educação do campo
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Informações do artigo / Article Information
Recebido em : 15/10/2018
Aprovado em: 04/05/2019
Publicado em: 21/05/2019
Received on October 15th, 2018
Accepted on May 5th, 2019
Published on May, 21th, 2019
Contribuições no artigo: A autora foi a responsável por
todas as etapas e resultados da pesquisa, a
saber: elaboração, análise e interpretação dos dados;
escrita e revisão do conteúdo do manuscrito e; aprovação
da versão final a ser publicada.
Author Contributions: The author was responsible for the
designing, delineating, analyzing and interpreting the data,
production of the manuscript, critical revision of the content
and approval of the final version to be published.
Conflitos de interesse: A autora declarou não haver
nenhum conflito de interesse referente a este artigo.
Conflict of Interest: None reported.
Orcid
Gabriela Barbosa Souza
http://orcid.org/0000-0002-9209-0992
Como citar esta resenha / How to cite this review
APA
Souza, G. B. (2019). Resenha do texto: Bezerra Neto, L.
(2017). Educação rural no Brasil: do ruralismo pedagógico
ao movimento por uma educação do campo. São Carlos:
Pedro & João Editores. Rev. Bras. Educ. Camp., 4, e6032.
DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.rbec.e6032
ABNT
SOUZA, G. B. Resenha do texto: Bezerra Neto, L. (2017).
Educação rural no Brasil: do ruralismo pedagógico ao
movimento por uma educação do campo. São Carlos:
Pedro & João Editores. Rev. Bras. Educ. Camp.,
Tocantinópolis, v. 4, e6032, 2019. DOI:
http://dx.doi.org/10.20873/uft.rbec.e6032