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pesquisadores/as à reflexão sobre a experiência comum das mulheres que escrevem a sua
agência histórica desde as margens.
Organizamos o sumário desse dossiê partindo das discussões sobre epistemologia,
seguindo para aquelas que relacionam o campo da educação popular com o feminismo; em
seguida, um grupo de artigos sobre mulheres em seus povos tradicionais para, então, seguir
com trajetórias de vida, experiências de escritas e concluir com processos de formação das
mulheres na educação do campo. Esperamos que essa ordenação faça sentido quando de sua
leitura atenta e crítica.
Conforme mencionamos, o primeiro conjunto de artigos corresponde à discussão
epistemológica. O dossiê é inaugurado pelo artigo intitulado Descautivar o pensamento
pedagógico latino-americano: (des) colonização e (des) patriarcalização a partir da
crítica feminista de autoria de Cheron Zanini Moretti, da Universidade de Santa Cruz do Sul
(UNISC) e de Graziela Rinaldi da Rosa, da Universidade Federal de Rio Grande (FURG),
bolsista PNPD/Capes na Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC). Nesse artigo, as
autoras apresentam e desenvolvem as ideias de descautivar, descolonizar e despatriarcalizar a
pedagogia a partir de teóricas feministas latino-americanas tomando-as como “fontes”, as
quais nos ajudam a (re)criar bases epistemológicas de “nosotras” ante as epistemologias
dominantes. As aproximações e diálogos entre várias feministas levaram à compreensão de
“sororidade” e de “ética feminista” como parte imprescindível de um pacto de complexas
relações no fortalecimento experiências comuns das mulheres, em especial, quanto ao
saber/conhecer, poder e ser. Nesse movimento, além dos caminhos para descautivar,
descolonizar e despatriarcalizar essas relações, concluem que há outros para (re)existir e
resistir na consubstancialidade entre raça, classe e gênero.
Em seguida, de autoria de Lia Pinheiro Barbosa, da Universidade Estadual do Ceará
(UECE), encontra-se o artigo intitulado Epistemologias de Nosotras, Feminismos e Teoria
da Selva na construção do conhecimento: aportes das mulheres Zapatistas. Captando o
chamado público para esse dossiê, a autoria apresenta alguns elementos do que considera ser
epistemologia de nosotras, articulando-a a concepção de luta das mulheres erigida pelas
indígenas Zapatistas, em Chiapas, México. A partir da experiência zapatista, destaca
elementos teórico-epistêmicos e políticos que articulam o que denomina feminismo
insurgente, revolucionário, rebelde e autônomo dessas mulheres indígenas camponesas.
No que podemos considerar “segundo grupo de artigos”, encontramos Feminismo
camponês e popular: uma história de construções coletivas, de Michela Calaça, da
Universidade Federal Rural do semiárido
(UFERSA) e doutoranda da Universidade Federal de Campina Grande
(UFCG), de Isaura Isabel Conte e de Catiane Cinelli, ambas da Universidade Federal de
Rondônia (UNIR). Nesse artigo, as autoras descrevem e analisam o processo de construção do
Feminismo Camponês e Popular no Movimento de Mulheres Camponesas (MMC),
destacando o fato de que o feminismo camponês e popular ser um fenômeno recente, fruto da
identidade coletiva das mulheres do referido movimento. Além disso, a partir de metodologias
participativas, observam que a sua construção acontece na articulação com outras
organizações camponesas de mulheres e feministas tendo como base o trabalho, a defesa da
agroecologia e a libertação.
Em seguida, tomamos contato com o trabalho desenvolvido por Carla Negretto e
Márcia Alves da Silva, pesquisadoras na Universidade Federal de Pelotas (UFPel) sob o
título: Problematizando o trabalho invisível das mulheres e a divisão sexual de trabalho
no campo: uma parceria entre educação popular e feminismo. Nesse artigo, as autoras
desenvolvem algumas reflexões sobre a experiência de pesquisa com mulheres assentadas da
Reforma Agrária, desde 2014, no interior do município de Pinheiro Machado/RS. Para tanto,
exploraram o espaço social e as experiências de vida, dando vozes às mulheres na relação