Revista Brasileira de Educação do Campo
The Brazilian Scientific Journal of Rural Education
ARTIGO/ARTICLE/ARTÍCULO
DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.rbec.e6500
Tocantinópolis/Brasil
v. 5
e6500
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2020
ISSN: 2525-4863
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Da alfabetização à politização na Comunidade Viva Deus
Betânia Oliveira Barroso
1
, Jullyana Cristhina Almeida de Freitas
2
, Elena Steinhorst Damasceno
3
, Juliana Ferreira de Sousa
4
1, 2, 3, 4
Universidade Federal do Maranhão - UFMA. Centro de Ciências Sociais Saúde e Tecnologia (CCSST). Licenciatura em
Ciências Humana/Sociologia (LCH). Rua Urbano Santos s./n. Imperatriz - MA. Brasil.
Autor para correspondência/Author for correspondence: barroso636@hotmail.com
RESUMO. O presente artigo tem como objetivo apresentar uma
experiência prática da Educação Popular, tendo em vista sua
importância social, pedagógica e cultural em processos de
resistência, a partir das concepções de Paulo Freire e como isso
contribui para processos de alfabetização num contexto de luta
popular por terra na Comunidade Viva Deus, localizada na
Estrada do Arroz na cidade de Imperatriz/MA, que conta com o
Grupo de Ensino Pesquisa e Extensão em Educação Popular -
GEPEEP. Nesse sentido, apresentaremos duas frentes de
formação: a de alfabetização EJA e de politização, enfatizando a
alfabetização por meio da metodologia freireana, que nos traz o
círculo de cultura e a palavra geradora como elementos base
para a formação. Assim, partindo de uma ação dialógica,
democrática, emancipatória que não está presa somente ao
processo formativo de saber ler e escrever, mas também, de uma
reafirmação de identidade da comunidade, da própria existência
autônoma no espaço social, é que o presente trabalho encontrou
significação e pode afirmar a concretização de mudanças e
transformações da Comunidade Viva Deus.
Palavras-chave: Alfabetização de Jovens e Adultos, Educação
Popular, Paulo Freire, Comunidade Viva Deus.
Barroso, B. O., Freitas, J. C. A., Damasceno, E. S., & Sousa, J. F. (2020). Da alfabetização a politização na Comunidade Viva Deus...
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From literacy to politicization in the Viva Deus
Community
ABSTRACT. This paper aims to present a practical experience
of Popular Education, considering its social, pedagogical and
cultural importance in resistance processes, based on the
conceptions of Paulo Freire and how this contributes to literacy
processes in a context of popular struggle for land in the Viva
Deus Community, located on the rice road in the city of
Imperatriz/MA, which has the Teaching. Research and
Extension Group in Popular Education - GEPEEP. In this sense,
we will present two training fronts: EJA literacy and
politicization, emphasizing literacy through Freirean
methodology, which brings us the circle of culture and the
generating word as basic elements for the formation. Thus,
starting from a dialogic, democratic, emancipatory action that is
not only bound up with the formative process of knowing how
to read and write, but also with a reaffirmation of the identity of
the community, of the autonomous existence itself in the social
space, meaning and can affirm the concretization of changes and
transformations of the Living God Community.
Keywords: Youth and Adult Literacy, Popular Education, Paulo
Freire, Viva Deus Community.
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De la alfabetización a la politización en la Comunidad
Viva Dios
RESUMEN. El presente artículo tiene como objetivo presentar
una experiencia práctica de la Educación Popular, teniendo en
cuenta su importancia social, pedagógica y cultural en procesos
de resistencia, a partir de las concepciones de Paulo Freire y
cómo esto contribuye a los procesos de alfabetización en un
contexto de lucha popular por la tierra en la Comunidade Viva
Deus, ubicada en la Estrada do Arroz en la ciudad de
Imperatriz/MA, que cuenta con el Grupo de Enseñanza,
Investigación y Extensión en Educación Popular - GEPEEP. En
este sentido, presentaremos dos frentes de formación: la de
alfabetización EJA y de politización, enfatizando la
alfabetización por medio de la metodología freireana, que nos
trae el círculo de cultura y la palabra generadora como
elementos base para la formación. Así, partiendo de una acción
dialógica, democrática, emancipatoria que no está presa sólo al
proceso formativo de saber leer y escribir, sino también, de una
reafirmación de identidad de la comunidad, de la propia
existencia autónoma en el espacio social, es que el presente
trabajo ha encontrado significación y puede afirmar la
concreción de cambios y transformaciones de la Comunidad
Viva Dios.
Palabras clave: Alfabetización de Jóvenes y Adultos,
Educación Popular, Paulo Freire, Comunidad Viva Dios.
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Introdução
A experiência relatada no presente
artigo parte de experiências pedagógicas
práxicas referentes à primeira fase do
Projeto de Extensão intitulado “A
Formação de Alfabetizadores (as) da
Educação de Jovens e Adultos da Zona
Rural de Imperatriz/MA: Projeto
Comunidade Viva Deus”, que gira em
torno da formação de educadores (as) para
o processo de alfabetização/politização de
jovens e adultos da zona rural de
Imperatriz/MA em uma comunidade de
acampados que aguardam 15 anos pela
regularização da titularidade da terra a qual
ocupam, denominada “Comunidade Viva
Deus”, onde tal formação considera as
histórias e experiências de vida dos
sujeitos. O projeto em questão é
desenvolvido pelo Grupo de Ensino
Pesquisa e Extensão em Educação Popular
- GEPEEP, do curso de Licenciatura em
Ciências Humanas com habilitação em
Sociologia da Universidade Federal do
Maranhão, campus de Imperatriz.
O projeto funciona a partir de duas
frentes de formação, uma de alfabetização
de Jovens e Adultos e outra de formação
de educadores (as)/formação política.
Destacaremos nesse trabalho as
experiências de práticas pedagógicas
desenvolvidas no grupo de alfabetização
para Jovens e Adultos, com base na
perspectiva metodológica de Freire (1977),
como um diferencial para esse processo de
alfabetização que politiza e desenvolve um
reconhecimento da identidade dos
educandos, enquanto valorização da sua
comunidade e de suas experiências de vida.
A Comunidade Viva Deus está
localizada a 60 quilômetros de
Imperatriz/MA e é composta por 110
famílias acampadas que aguardam há 15
anos pela legitimação de posse para o
processo de assentamento às margens da
Rodovia Pe. Josimo, conhecida como
Estrada do Arroz. As famílias estão
organizadas através de uma associação de
produtores rurais, entretanto, tal associação
possui uma representação muito mais
ampla, onde não somente trata de assuntos
formais de uma associação, mas também
dá suporte na luta pela terra.
Desse modo, a partir da principal luta
da comunidade, que é a luta pela terra, é
importante ressaltar que não podemos
deixar de reconhecê-los como sujeitos que
compõem uma luta popular, onde tal luta é
o principal elo entre os sujeitos, bem como
o principal elemento utilizado no processo
de formação. É claro notar que o caráter
pedagógico está presente no próprio ato de
participação em fazer que suas demandas
sejam ouvidas tanto pelo poder público
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quanto pela sociedade. Nesse sentido,
Gohn (2011) assinala que:
aprendizagens e produção de
saberes em outros espaços, aqui
denominados de educação não
formal. Portanto, trabalha-se com
uma concepção ampla de educação.
Um dos exemplos de outros espaços
educativos é a participação social em
movimentos e ações coletivas, o que
gera aprendizagens e saberes. um
caráter educativo nas práticas que se
desenrolam no ato de participar, tanto
para os membros da sociedade civil,
como para a sociedade mais geral, e
também para os órgãos públicos
envolvidos quando negociações,
diálogos ou confrontos.
O histórico de luta da Comunidade
Viva Deus possui uma relação direta com a
educação mesmo antes da chegada do
Projeto, tendo em vista que o caráter
educativo foi inserido a partir do momento
em que os sujeitos pensavam
coletivamente estratégias de socialização
para que suas demandas não
permanecessem negligenciadas pelo
Estado. Tal socialização é concretizada em
ações e os tornaram conscientes sobre seus
direitos que, até então, não sabiam que os
tinham, trazendo-os para uma interpretação
e ação prática. Essas ações, que são
reivindicações por políticas públicas de
manutenção do território e de condições
básicas para a sobrevivência, como, por
exemplo, a reivindicação de instalação de
energia elétrica e participação em reuniões
nos órgãos competentes, derivam de
questionamentos ao que é instituído e ao
que lhes é imposto.
Dessa forma, concebemos aqui, a
educação, não como um processo
enclausurado, mas como resultado de um
processo político-social.
Para identificarmos de que modo a
educação e a luta popular por terra na
Comunidade Viva Deus podem se
relacionar, basta observar as ações práticas
de movimentos e grupos de luta popular,
que direta ou indiretamente sempre acabam
gerando saber. Tal saber é construído nas
articulações que os grupos de iniciativa
popular estabelecem na prática cotidiana,
que fazem surgir temas que derivam da
atual conjuntura política, sociocultural e
econômica do país.
A partir dessa problemática,
buscamos promover o processo de
formação de professores/alfabetizadores da
educação popular de Jovens e Adultos com
base nos pressupostos e metodologia
proposta por Paulo Freire (1978, 1979),
uma vez que o autor é referência na práxis
da Alfabetização da Educação de Jovens e
Adultos, bem como para o processo
formativo de professores (as) da iniciativa
da educação popular e suas
especificidades, compreendendo também a
dimensão política do processo formador.
Nessa perspectiva, apreendemos a
importância dos contextos e histórias de
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vida de sujeitos trabalhadores rurais que
não tiveram acesso à formação no tempo
considerado “adequado”, mas que querem
colaborar para seu desenvolvimento e do
coletivo.
Compreendemos a Educação Popular
como um processo amplo que transcende a
educação formal e foca nos processos de
formação humana, que se dá de maneira
dialética na relação entre homem,
sociedade e natureza. Nesse sentido, uma
práxis educativa que atue em consonância
com um projeto emancipatório, a educação
deve ser concebida como uma prática
mediadora situada no centro das relações
sociais, que a partir da conscientização
humana projeta os indivíduos para atuarem
na transformação da sociedade.
Nesse sentido, a educação de
iniciativa popular é de suma importância,
pois, para Wanderley (1984), ela estimula
a participação política, cidadã, das classes
populares para a superação de condições
sociais opressivas, e, portanto, é premente
a necessidade de pesquisas, atividades de
extensão e reflexões que deem suporte para
essa modalidade da educação, visando
traçar estratégias pedagógicas que
contemplem essas especificidades. No
entanto, a educação constituída no seio
popular ainda sofre diante do fato de os
saberes práticos, produzidos pelas
diferentes sociedades, estarem situados
numa posição subalterna diante do modelo
tradicional de ciência.
A ciência e o conhecimento popular,
nesse contexto vivem uma constante
tensão, e é nesse momento em que surge a
emergência do papel social das
Universidades. Para Mora-Osejo e Borda
(2004, p. 720), “precisa-se de
universidades participativas,
comprometidas com o bem comum, em
especial com as urgências das
comunidades de base, de modo a favorecer
a substituição de ‘definições
discriminatórias entre o acadêmico e o
popular”.
Assim, buscamos trabalhar a
formação dos educadores
(as)/alfabetizadores (as) da EJA, tendo em
vista uma metodologia que relevância
às necessidades, às experiências, bem
como os saberes populares dos sujeitos em
formação. Nesse sentido, priorizamos o
diálogo, tendo em vista as situações-
problemas-desafios (Barroso, 2015) do
cotidiano da comunidade, discutidos nos
circulo de cultura (Freire, 1977), com base
nos conteúdos e experiências de vida dos
sujeitos da Comunidade, pois, desse modo,
tem sido possível uma formação de
alfabetizadores (as) da educação popular e
no campo de forma significativa, ou seja,
que compreende a aprendizagem como um
processo contextualizado da própria vida.
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O fato é que não existe receita pronta
para formar sujeitos críticos de modo que
seja dada relevância às suas necessidades,
mas os caminhos metodológicos freireanos
citados no parágrafo anterior, colaboram
no processo de uma formação politizada,
crítica e humanizadora. É justamente por
isso que na Comunidade Vida Deus os
próprios sujeitos produzem o material
didático utilizado no processo de ensino e
aprendizagem, pois seria mais difícil
aprender com base em um vocabulário que
não é o seu, que não é baseado na realidade
concreta. Todo esse conhecimento
produzido favorece os interesses da luta da
classe trabalhadora por melhores condições
de vida, propiciando não apenas a
alfabetização, mas a constituição da
autonomia enquanto sujeitos políticos.
A motivação que nos levou para o
desenvolvimento desse Projeto tem como
centralidade a necessidade de educação
apresentada pela “Comunidade Viva
Deus”, que apresentou um número
significativo de pessoas analfabetas e de
baixa escolarização. Nesse sentido, a
demanda consistiu, prioritariamente, em
desenvolver um polo formador de
educadores (as) para a alfabetização, bem
como para a formação política dos
participantes da própria comunidade.
Tendo em vista a necessidade de
formação de educadores
(as)/alfabetizadores (as) da Educação de
Jovens e Adultos, na região campestre de
Imperatriz/MA, buscamos nas concepções
de Paulo Freire (1978, 1979, 1991),
Gadotti (1996), Arroyo (2004), Brandão
(2005), dentre outros autores, fundamentos
para seu desenvolvimento. Nesse sentido,
entendemos ser pertinente fazer uma breve
contextualização sobre as experiências de
formação e alfabetização no Brasil.
O método Paulo Freire de alfabetização
Acontece em 1963 o I Encontro de
Alfabetização e Cultura Popular, realizado
no Recife, onde mais da metade dos
representantes do movimento trabalhavam
com a alfabetização de adultos. Isto
apresentava uma ameaça ao
conservadorismo e possibilidade de
mudança efetiva. Os programas de
alfabetização de adultos, de modo singular
na história brasileira, poderiam
responsabilizar-se por mudanças sociais e
políticas, pois, um dos objetivos principais
era a alfabetização e o processo de
conscientização política pelo “Sistema
Paulo Freire” (Scocuglia, 2000).
Também “o sucesso da experiência
de Angicos (RN) levou alguns grupos a se
interessarem na aplicação do Sistema
Paulo Freire, expandindo essa experiência
para fora do Nordeste o que culminou na
elaboração do Plano Nacional de
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Alfabetização, sob a coordenação de Paulo
Freire, durante o ano de 1963”. (Vieira,
2006, p. 111), ano que também ocorreu a
experiência de Osasco em São Paulo.
Em consonância com as
apresentações das experiências de
educação e cultura popular no Brasil,
citados, a cima, por Vieira (2006), Fávero
(2005) também compreende ser
interessante registrá-las seguindo a
cronologia de alguns movimentos mais
expressivos na década de 1960. Desse
modo, é feita a seguinte exposição:
Maio 1960 MCP - Movimento de
Cultura Popular, criado inicialmente
no Recife, depois estendido a várias
outras cidades do interior de
Pernambuco, quando Miguel Arraes
era respectivamente prefeito da
Capital depois governador do Estado.
Fev. 1961 Campanha “De pé no chão
também se aprende a ler”, criada em
Natal, na gestão de Djalma Maranhão
na Prefeitura Municipal e Moacyr de
Góes na Secretaria de Educação.
Mar. 1961 MEB - Movimento de
Educação de Base, criado pela
CNBB - Conferência Nacional de
Bispos do Brasil, com apoio da
Presidência da República.
Mar. 1961 CPC - Centro Popular de
Cultura, criado por Carlos Estevam
Martins, Oduvaldo Viana Filho e
Leon Hirzman, na UNE - União
Nacional dos Estudantes e difundido
por todo o Brasil pela UNE-Volante,
em 1962 e 1963.
Jan. 1962 Primeira experiência de
alfabetização e conscientização de
adultos, feita por Paulo Freire no
MPC (Centro Dona Olegarinha);
logo depois, no início de sua
sistematização no Serviço de
Extensão Cultural da então
Universidade do Recife.
Jan. 1962 CEPLAR - Campanha de
Educação Popular da Paraíba, criada
por profissionais recém-formados,
oriundos da JUC Juventude
Universitária Católica, e por
estudantes universitários.
Set. 1962 Campanha de
Alfabetização da UNE, a partir de
experiência iniciada no então Estado
da Guanabara, em out. 1961; depois
do Movimento Popular de
alfabetização.
Jan. 1963 Experiência de
Alfabetização de Adultos pelo
Sistema Paulo Freire, em Angicos,
no Rio Grande do Norte.
Jul. 1963 Experiência de Brasília,
ponto de partida para a adoção do
Sistema Paulo Freire em vários
Estados, no bojo das ações de
Alfabetização e Cultura Popular
patrocinada pelo Ministério de
Educação e Cultura.
Jan. 1964: Criação do Plano Nacional
de Alfabetização, com implantação
iniciada na Baixada Fluminense,
pertencente ao Estado do Rio de
Janeiro.
(http://forumeja.org.br/df/files/leiama
is.apresenta.pdf).
Com o mesmo propósito de Fávero
(2005), Gadotti (1996) põe em relevo o
último movimento citado acima,
considerando que, com o Decreto
53.465, de 21 de janeiro de 1964, ocorre a
instituição do Programa Nacional de
Alfabetização PNA, o qual consagra o
“Sistema Paulo Freire” para alfabetização,
porém em tempo rápido”. A instituição do
PNA fez grande diferença em relação aos
movimentos anteriores da década de 1950,
uma vez que é assumido o compromisso
explicito em favor das classes populares,
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urbanas e rurais, além da ação orientada
para uma política renovadora.
Segundo Gadotti (1996, apud
Barroso, 2015, p. 48), o Programa
Nacional de Alfabetização previa a
“cooperação e os serviços” de
“agremiações estudantis e profissionais,
associações esportivas, sociedades de
bairro e municipalista, entidades religiosas,
organizações governamentais, civis e
militares, associações patronais, empresas
privadas, órgãos de difusão, o magistério e
todos os setores mobilizáveis”. Desde seus
primeiros escritos e sua práxis político-
pedagógica, Paulo Freire preconizava a
necessidade da participação popular na luta
contra o analfabetismo.
O programa previa a criação de
60.870 círculos de cultura, cada um com a
duração de três meses, em todas as
unidades da federação, para alfabetizar, em
1964, 1.834.200 analfabetos na faixa de 15
a 45 anos. A sua implantação efetivou-se
por meio de projetos-piloto na região Sul,
Sudeste e Nordeste. O PNA representou
um salto qualitativo em relação às
campanhas de alfabetização anteriores.
Além das experiências citadas, outra
de grande relevância do movimento de
educação e cultura popular para o processo
de aprendizagem/alfabetização de jovens e
adultos foi o Projeto Educacional de
Guiné-Bissau, realizado por Paulo Freire
(1978) na década de 1970. Nesse período,
era membro do departamento de educação
do conselho mundial de igrejas, com sede
em Genebra, onde morava exilado.
Ao ser chamado para conduzir o
projeto educacional da Guiné-Bissau,
Freire assessorou vários países da África,
recém-libertados da colonização europeia,
cooperando na implantação de seus
sistemas de ensino pós-colônia. Sua
primeira visita à África foi em 1971,
quando foi para Zâmbia e Tanzânia, onde
teve contato com vários grupos engajados
em movimentos de libertação.
Na obra “Cartas à Guiné-Bissau:
registros de uma experiência em processo”
(1978), Paulo Freire nos relata suas
emoções, identificações e angústias. Opta
por não prescrever um receituário
pedagógico; ao contrário, partilha o
esforço comum de conhecer a realidade
que busca transformar, na ajuda e
conhecimento mútuos. Com esse
propósito, Freire nos situa para a
compreensão da
aprendizagem/alfabetização de adultos,
afirmando que:
Alfabetização de adultos, que numa
perspectiva libertadora, enquanto um
ato criador, jamais pode reduzir-se a
um quefazer mecânico, no qual o
chamado alfabetizador vai
depositando sua palavra nos
alfabetizandos, como se seu corpo
consciente fosse um depósito vazio a
ser enchido por aquela palavra.
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Quefazer mecânico e memorizador,
no qual os alfabetizandos são levados
a repetir, de olhos fechados, vezes
inúmeras, sincronizadamente: la, le,
li, lo, lu; ba, be, bi, bo, bu; ta, te, ti,
to, tu, ladainha monótona que implica
sobretudo numa falsa concepção do
ato de conhecer.
Na perspectiva libertadora, que é a da
Guiné-Bissau, que é a nossa, a
alfabetização de adulto, pelo
contrário, é a continuidade do esforço
formidável que seu povo começou a
fazer, muito, irmanado com seus
líderes, para conquista de SUA
PALAVRA. Daí que, numa tal
perspectiva, a alfabetização não
possa escapar do seio mesmo do
povo, de sua atividade produtiva, de
sua cultura, para esclerosar-se na
frieza sem alma de escolas
burocratizadas ...
A alfabetização de adultos, como a
entendemos, se faz uma dimensão da
ação cultural libertadora, não
podendo ser, por isso mesmo sequer
pensada isoladamente, mas sempre
em relação com outros aspectos da
ação cultural, tomada em sua
globalidade. (Freire, 1978, p. 92).
Na contramão da pedagogia oficial,
Paulo Freire (1978, 1979, 1991) entende o
contexto vigente, integrando-o às
condições do contexto humano, pois visa o
discernimento para responder aos desafios
e transcendê-los. Ou seja, busca lançar o
homem num domínio que lhe é exclusivo
o da História e o da Cultura. Mas, para
isto, aponta a necessidade de uma atitude
crítica permanente, pois somente assim o
homem poderá exercer sua vocação
ontológica de integrar-se, apreendendo e
dialogando com temas e tarefas de sua
época e cultura. Assim, pode anunciar o
trânsito para uma nova época, para um
tempo de mudança, com novas
significações da cultural e da sociedade
(Souza, 2002).
Paulo Freire anuncia o seu tempo de
mudança. Ainda em contexto político de
regime militar, em 1979, o governo de
João Figueiredo decreta anistia aos
exilados e presos políticos. Assim, em
1980, Freire pode retornar do exílio em
Genebra para o Brasil. Além disso,
conforme registros do Instituto Paulo
Freire, em 28 de agosto de 1993, após 30
anos,
Paulo Freire e sua esposa Ana Maria
Araújo Freire, acompanhados por
dois fundadores do Instituto Paulo
Freire (1991), Carlos Alberto Torres
e Moacir Gadotti, visitam Angicos,
reencontrando-se com antigos alunos
e monitores, entre eles Marcos
Guerra e o ex-analfabeto Antônio
Ferreira que, na histórica visita de
João Goulart a Angicos, discursou
em nome dos colegas.
2002 Analisando os “efeitos em
longo prazo do método de
alfabetização” da experiência de
Angicos, Nilcéa Lemos Pelandré
(2002), após entrevistar alunos que se
alfabetizaram em 1963, passados 34
anos, evidenciou que os participantes
aprenderam a escrever palavras
isoladas e frases simples e curtas e
alguns escreviam seguindo regras
próprias. A aprendizagem mais
significativa foi a elevação da sua
autoestima e a consciência de não se
sentirem mais excluídos do mundo
letrado. Nesta tese de doutorado em
linguística, a autora conclui que o
segredo da eficácia de Angicos foi a
“promoção humana, professores
preparados e motivados e imersão
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intensiva”. Tempo curto, convívio
intenso! (www.paulofreire.org).
Eis, portanto, um ideal de Paulo
Freire: educar mulheres e homens, tendo
colocado sua melhor atenção nas pessoas
do povo. Formar crianças, jovens e adultos
oferecendo a eles o que de melhor possa
haver no trabalho do educador.
Pessoas que não estudem somente
para conhecerem mais as coisas, mas que
todos os dias estejam aprendendo para
saber mais sobre si mesmas, sobre a vida e
o mundo. Mulheres e homens que se
eduquem de fato e não sejam apenas
“instruídos”, para partirem do que
aprendem e sabem em direção a três
patamares de transformações
humanizadoras: a de suas vidas pessoais, a
das relações entre eles e os outros, a do
mundo social em que vivem e que
constroem com o seu trabalho e a sua
participação (Brandão, 2005).
Nesse sentido, a aprendizagem do
jovem e do adulto apresentada e
concretizada com a experiência da
alfabetização de Jovens e Adultos em
Guiné-Bissau, e em especial, em Angicos,
segundo relata Nicéia Lemos Peland
(2002, apud Barroso, 2015, p. 50),
processa-se por caminhos que seguem as
próprias regras, opiniões e vontades do
alfabetizando, mas em especial, que tem
uma significação que se encontra na
construção de uma consciência
humanizadora.
De modo semelhante, ao exposto na
reflexão acima, Arroyo alerta para o
processo atual de ensino e de
aprendizagem do alfabetizando jovem e do
adulto, em que é necessário considerar
importante:
... nunca esquecer de estudar com
extremo capricho o papel mediador
da escola, dos coletivos pedagógico-
docentes nos processos de
aprendizagem. Talvez seja nossa
mediação que é lenta, não contínua,
nem sequenciada. Pode ser que nossa
mediação docente e a mediação da
escola enquanto espaço cultural e
prática de intervenção não estejam
dando conta das complexas
capacidades de aprendizagem de todo
aluno. (Arroyo, 2004, p. 344).
Desse modo, para que esse processo
mediacional ocorra de forma significativa
no percurso do ensino e da aprendizagem
do (a) alfabetizando (a) jovem e do adulto,
é necessário também considerar importante
a compreensão de que:
Eles trazem consigo saberes, crenças
e valores constituídos, e é a partir
do reconhecimento do valor de suas
experiências de vida e de suas visões
de mundo que cada aluno jovem ou
adulto pode apropriar-se das
aprendizagens escolares de modo
crítico e original, na perspectiva de
ampliar sua compreensão e seus
meios de ação e interação no mundo.
(Soares & Pedroso, 2013, p. 252).
Nesse sentido, é de suma importância
que alfabetizadores (as) busquem
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compreender seus alfabetizandos (as),
busquem conhecer suas histórias, suas
culturas familiares, seus saberes, suas
curiosidades, suas expectativas, suas
hipóteses, suas vontades, seus desejos e
necessidades de aprendizagem (Soares &
Pedroso, 2013).
Assim, o trabalho desenvolvido
procura dar relevância às concepções dos
autores contemplados anteriormente e os
demais citados ao longo do texto, as
experiências dos sujeitos da Comunidade,
bem como as histórias de vida de cada um
e o processo social/coletivo do
desenvolvimento e constituição humana,
política dos participantes deste trabalho
coletivo.
Instrumentos de ação interventiva na
Comunidade Viva Deus
A ação interventiva foi realizada na
comunidade, a partir do seguinte processo:
aulas de formação para alfabetização que
denominamos de círculo de cultura,
conforme a metodologia freireana, como
também, as situações-problemas-desafios,
levantadas nos círculos de cultura, uma
vez que este método permite trabalhar de
forma dialógica sobre as questões e saberes
cotidianos, levantados e escolhidos pelos
próprios sujeitos da comunidade para o
processo de formação.
Nesse sentido, com base no ciclo de
cultura e também na situações-problemas-
desafios, mas premente o processo de
formação de alfabetizadores (as), também
utilizamos como instrumento a produção
do texto coletivo que funciona como
material didático para a própria formação
dos sujeitos em processo formativo, e
também para os que serão alfabetizados
pela própria comunidade. E por fim
utilizamos a palavra geradora que é
significativa para o processo de
alfabetização.
O círculo de cultura organizado na
figura geométrica do círculo, onde todos se
olham com a finalidade de promover a
socialização afetiva do debate e discussões
que estão atrelados ao cotidiano dos
sujeitos não alfabetizados até o presente
momento. A figura do círculo representa
um processo educativo acompanhado de
um mediador, que se propõe a caminhar
com os adultos não alfabetizados, a
construir e debater assuntos com uma
linguagem mais clara e objetiva para os
adultos.
A visão da liberdade tem nesta
pedagogia uma posição de relevo. É a
matriz que atribui sentido a uma
prática educativa que pode
alcançar efetividade e eficácia na
medida da participação livre e crítica
dos educandos. É um dos princípios
essenciais para a estruturação do
círculo de cultura, unidade de ensino
que substitui a “escola”, autoritária
por estrutura e tradição. Busca-se no
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círculo de cultura, peça fundamental
no movimento de educação popular,
reunir um coordenador a algumas
dezenas de homens do povo no
trabalho comum pela conquista da
linguagem. O coordenador, quase
sempre um jovem, sabe que não
exerce as funções de “professor” e
que o diálogo é condição essencial de
sua tarefa, “a de coordenar, jamais
influir ou impor”. (Weffort, 1967, p.
03).
O círculo de cultura é uma
ferramenta que visa substituir o método
tradicional da turma, com fileiras de
cadeiras e a imagem do professor adepto
da educação bancária aquele que apenas
deposita informações ou conhecimentos
sem o direito da dúvida e questionamentos
para com os alunos para um círculo;
onde todos possam participar e interagir
entre si, não estando preferencialmente em
uma sala de aula e sim numa área aberta
em baixo de árvores, que para o Freire
(1977) são as primeiras salas de aulas vivas
do povo oprimido pelo sistema capitalista
ocidental.
Seu conteúdo aborda conhecimentos
sistematizados e questões referentes à
prática social para o exercício da cidadania
na perspectiva da participação política,
buscando soluções para problemas do
mundo do trabalho e da vida. Trabalhando
temas relacionados à política, cultura,
campo, filosofia, sociologia, ética,
transformação, motivação, luta, reforma,
filhos, famílias, afetividade, história de
vida, religiosidade, direitos humanos,
moradia, movimentos sociais, sonhos,
leitura, saúde, alimentação, força de
vontade, e outros assuntos que são comuns
ao povo oprimido mas de forma mais
clara e objetiva a eles. Esta fase é de
resultados muito ricos para a equipe de
educadores, não pelas relações que
travam, mas pela exuberância não muito
rara da linguagem do povo da qual às
vezes não se suspeita (Freire, 1977).
Nesse sentido, buscamos que todos
estejam inseridos no círculo e possam
verbalizar ou relatar o entendimento do
assunto trabalhado naquele momento com
uma postura de vida participativa e de
protagonismo diante dos desafios impostos
pelo trabalho e outros segmentos da
sociedade civil.
A partir dessa fase dialógica dos
círculos de cultura é possível identificar as
problemáticas mais recorrentes nas
comunidades, chegando assim, a fase das
situações-problemas-desafios. Segundo
Barroso (2015) na maioria das vezes é feita
uma votação entre os sujeitos que estão no
processo de alfabetização para eleger uma
ou mais dificuldades ou problemas
recorrentes, assim, configurando-se as
situações-problemas-desafios, que terão
seus desdobramentos com as (os)
alfabetizandas (os) e alfabetizadores na
sala de aula.
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A partir da Situação-Problema-
Desafio que podem ser de natureza
política, econômica, cultural, do
trabalho, da cognição-afeto, ou seja,
situação de sobrevivência que os
moradores alfabetizandos (as)
enfrentam no cotidiano, em sala de
aula são trabalhados com a
elaboração do texto coletivo, que
proporciona a aprendizagem de
várias temáticas, conteúdos de
ensino, bem como a possível
superação do problema, ou situação
dificultosa. (Barroso, 2015, p. 74).
O texto coletivo consiste na
elaboração, primeiramente, oral e depois
escrita sobre o tema levantado. E a partir
do texto construído coletivamente pelos
sujeitos, o processo de alfabetização pode
ser desenvolvido, tendo como referência o
próprio texto, a sonorização das palavras, o
reconhecimento de sílabas e letras no
contexto do tecido textual. Também
utilizando recursos visuais, ou seja,
imagens fotográficas, vídeos, revistas,
jornais, materiais didáticos apropriados à
realidade da comunidade e dos sujeitos.
Segundo as concepções freireanas a
palavra geradora é fundamental para o
processo de alfabetização, por isso deve
seguir os seguintes critérios:
a - o da riqueza fonêmica; b - o das
dificuldades fonéticas (as palavras
escolhidas devem responder às
dificuldades fonéticas da língua,
colocadas numa seqüência que
gradativamente das menores às
maiores dificuldades); c - o de teor
pragmático da palavra, que implica
numa maior pluralidade de
engajamento da palavra numa dada
realidade social, cultural, política,
etc. (Freire, 1977, p. 113).
A palavra geradora não tem a
função de memorização, mas sim de
visualização. Após essa visualização da
palavra completa, apresenta-se também a
palavra de forma separada, em sílabas, é
dessa forma que o aluno identifica de
modo geral os “pedaços”. Essa fase dos
“pedaços” o aluno tem um
reconhecimento, análise e visualização das
famílias fonêmicas que compõem a palavra
estudada.
Visualizada a palavra dentro da
situação, era logo depois apresentada
sem o objeto: Tijolo. Após, vinha: ti-
jo-lo. A partir da primeira sílaba ti,
motiva-se o grupo a conhecer toda a
família fonêmica, resultante da
combinação da consoante inicial com
as demais vogais. Em seguida o
grupo conhecerá a segunda família,
através da visualização de jo, para,
finalmente, chegar ao conhecimento
da terceira. Quando se projeta a
família fonêmica, o grupo reconhece
apenas a sílaba da palavra
visualizada. (tatetitotu),
(jajejijoju) e (la le
lilolu) Reconhecido o ti, da
palavra geradora tijolo, se propõe ao
grupo que o compare com as outras
sílabas, o que o faz descobrir que, se
começam igualmente, terminam
diferentemente. Desta maneira, não
podem todos chamar-se ti. Idêntico
procedimento para com as sílabas jo
e lo e suas famílias. Após o
conhecimento de cada família
fonêmica, fazem-se exercícios de
leitura para a fixação das sílabas
novas. O momento mais importante
surge agora, ao se apresentarem as
três famílias juntas: ta-te-ti-to-tu, ja-
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je-ji-jo-ju e la-le-li-lo-lu. (Freire,
1977, p.116-117, grifos do autor).
Conforme Freire (1977), todo esse
processo é fundamental para que não haja
uma alfabetização pautada em uma
memorização visual e mecânica de
sentenças, de palavras, de sílabas. Mas de
uma alfabetização firmada em criação e
recriação, onde os (as) alfabetizandos (as)
construam seu processo formativo através
de suas próprias experiências de vida.
Entretanto, é necessária uma postura
diferenciada de educador, com um papel
mais dialógico com as (os) alfabetizandas
(os) sobre situações concretas, dando-lhes
os instrumentos oportunos para a
alfabetização. Ou seja, uma alfabetização
não deve ser feita de cima para baixo, mas
de dentro para fora, pelo (a) próprio (a)
alfabetizando (a), apenas com o auxílio do
educador.
Momento práxico de alfabetização de
Jovens e Adultos na Comunidade Viva
Deus
O primeiro círculo de cultura na
Comunidade Viva Deus aconteceu no dia
primeiro de novembro de 2016. Chegamos
à comunidade às 14h, fomos recepcionados
pelo presidente da Comunidade, Silvio
Sousa e outro representante; logo a
professora Betânia (coordenadora do
Projeto) procurou colocar em círculo as
carteiras fazendo jus ao método que foi
trabalhado - círculo de cultura -, enquanto
aguardava a chegada de outros
participantes, bem como organizar o
material para a distribuição que constava
de: uma pasta azul, caderno de brochura,
lápis e borracha.
Estavam presentes o Antônio, que
nunca frequentou uma escola, a Tereza,
que cursou o primeiro ano do ensino
fundamental e o Raimundo, que nunca foi
à escola, nenhum deles sabia ler nem
escrever. o José Pedro que estudou até a
quarta rie do ensino fundamental e o
Sílvio Sousa (presidente da comunidade)
que tem ensino médio e técnico completos,
portanto sabem ler e escrever. Esse
primeiro momento girou em torno de
apresentações, tanto dos membros da
comunidade como também das professoras
da UFMA.
Durante as apresentações,
rapidamente captou-se palavras como
descrença, medo e produção. Muitos dos
membros demonstravam seus anseios,
dilemas e angústias quanto àquela terra.
Destacou-se nessa conversa um jovem por
nome de Gersivam e sua irmã, ambos
membros da comunidade. A partir deles o
diálogo acerca do aproveitamento da terra
ganhou fecundidade, considerando seu
conhecimento sobre o plantio e
aproveitamento da terra. Logo seria viável
o plantio de feijão verde, rúcula, cebolinha,
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dar prioridade para a agricultura familiar,
destacava-se com propriedade em sua fala,
pois sabia que determinados alimentos a
exemplo da plantação de abóbora e tomate
torna-se inviável, quer pelo barateamento e
pouco lucro, quer pelo método complexo e
caro no caso do plantio do tomate.
O incentivo no plantio de horta é
bastante significativo para a comunidade,
pois, embora possuírem pouco espaço para
plantar, o retorno e a rapidez do plantio são
garantidos.
Assim, a professora Betânia e o
Silvio, Presidente da Comunidade,
resolveram colocar como ordem do dia
uma visita a EMBRAPA, a fim de
estabelecer uma parceria e subsídios em
sementes para a comunidade. Dito isso, o
encontro encerrou-se com um abraço
coletivo, como forma de representação da
força de uma comunidade em face de
problemas do cotidiano: Juntos somos
muito mais!
Na segunda visita à comunidade, que
ocorreu no dia oito de novembro de 2016,
começamos com o questionamento sobre
as necessidades e problemas frequentes
que a comunidade enfrenta. Eles
destacaram como problemáticas o conflito
com a empresa Suzano Papel e Celulose, a
necessidade da plantação e resultados
positivos por meio dela, como a fixação da
terra. E assim, encontrar algum modo para
que a Comunidade possa conseguir a terra,
ter renda a partir dela, bem como, ter
energia, água e a escola para a
comunidade.
A partir do círculo de cultura e
também da situação-problema-desafio,
iniciamos a execução de outro instrumento
que auxiliou o processo formativo dos
futuros educadores (as), da formação
política e dos que serão alfabetizados, que
foi a produção do texto coletivo, material
didático produzido pelos sujeitos
participantes da Comunidade. Esse texto
coletivo foi elaborado em primeira etapa
de forma oral, em segunda etapa de forma
escrita, sobre uma temática levantada pela
comunidade. O texto pôde auxiliar o
processo de alfabetização, pois foi a
principal referência para a exercitação da
sonoridade das palavras, o reconhecimento
de sílabas e letras.
Após as várias problemáticas
levantadas pela comunidade Viva Deus,
fizemos a divisão em dois grupos para
elaboração dos textos coletivos com a
temática que eles achassem mais relevante.
O grupo dos não alfabetizados elaborou o
texto com o título “Plantação”, que dizia o
seguinte:
Plantar para que haja a produção de
feijão, macaxeira, batata, mamão,
tomate, cebola, chuchu, cheiro verde,
milho, banana, amendoim, cana para
caldo, cupu, quiabo, pimenta
malagueta, alface, pimentão, cenoura,
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beterraba, jiló, batata doce, melancia,
fava e a cultura que é o caju. E o
fumo que é vendável também. Coco
da praia e o maracujá.
O segundo texto coletivo foi
formulado pelo grupo de formação de
educadores (as)/formação política, e tem
como título “Plantar com Coragem” e foi
composto da seguinte forma: “O povo tem
vontade de trabalhar, mas a empresa
Suzano põe na cabeça do povo que se
plantar vão ser expulsos da terra. É
importante conscientizar a educação para o
plantio. E o povo perde o medo”.
Logo após a construção desses
textos, ficou evidente a principal
problemática da comunidade. Eles
entraram em um consenso de que plantar é
a principal necessidade da comunidade.
Assim, após a construção da palavra
geradora Plantar, por meio do ciclo de
cultura, das situações-problemas-desafios,
a construção do texto coletivo torna-se
fruto da relação dialógica entre os sujeitos
participantes.
Todo esse procedimento é
significativo para que ocorra a
alfabetização dos membros da comunidade
que estão em processo de alfabetização. É
a partir dessa palavra que o grupo começa
a resgatar um dicionário vocabular próprio,
por meio de suas experiências na
comunidade, e, também experiências de
vida. Essa palavra foi norteadora nesse
processo de ensino-aprendizagem.
A palavra PLANTAR foi dividida:
P-L-A-N-T-A-R, pois para Freire (1977,
p. 116) imediatamente à visualização dos
“pedaços” e fugindo-se a uma ortodoxia
analítico-sintética que separa o
reconhecimento das famílias fonêmicas. A
partir da primeira sílaba pa, motiva-se o
grupo a conhecer toda a família fonêmica,
resultante da combinação da consoante
inicial com as demais vogais. Em seguida,
o grupo conheceu a segunda família,
através da visualização de lo, para,
finalmente, chegar ao conhecimento da
terceira, seguindo a sequência silábica.
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Figura 1 - Membros da Comunidade Viva Deus e participantes do grupo GEPEEP em busca das situações-
problemas - desafios, confeccionando o texto coletivo e chegando ao consenso da palavra geradora.
Fonte: Acervo do Grupo de Ensino, Pesquisa e Extensão em Educação Popular (GEPEEP). Registro fotográfico
realizado na Comunidade Viva Deus em 08/11/2016.
Começamos, portanto, a partir desse
método o processo de alfabetização do
grupo dos alfabetizandos, através da
palavra geradora. A nossa palavra geradora
é PLANTAR. Assim, começamos com a
apresentação das sílabas e vogais, seguindo
a sequência das letras da palavra geradora,
no caso utilizamos no encontro do dia vinte
e dois de novembro de 2016, a letra p e
através dela formamos as sílabas pa, pe,
pi, po, pu e as vogais a, e, i, o, u. Logo
depois da apresentação dessas sílabas e
vogais, a professora Betânia pediu que os
alunos do grupo falassem palavras que
iniciassem com a letra p.
Nesse sentido, os alunos montaram
um dicionário de palavras com a letra p.
As palavras cridas por eles foram as
seguintes: peixe, pimenta, pimentão,
panela, pipoca, pirulito, paçoca, Pedro,
porco, Paulo, pescador, procurar,
panelada, plantas, plano, parede, poeira,
palmeira, povo, pau, popular, planilho,
pote, prato, pato, pia, piano, piscina,
pinto, pilão, pintura. A professora pediu
que eles identificassem as sílabas no
dicionário, começando por pa, depois pe, e
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assim por diante. Eles identificaram,
repetiram e pronunciaram as palavras do
dicionário e depois associaram essas
palavras com a palavra geradora.
no dia vinte e nove de novembro
de 2016, continuamos o processo de
alfabetização do grupo, dos alfabetizandos,
através da palavra geradora PLANTAR.
No encontro passado trabalhamos com a
letra p. Nesse quarto encontro trabalhamos
com a letra l, dando sequência às letras da
palavra geradora. A professora Betânia
apresentou a família fonêmica da letra l,
que é: la, le, li, lo, lu, e logo depois pediu
que os alunos do grupo falassem palavras
que iniciassem com a letra l.
Os alunos montaram um dicionário
de palavras com a letra l. As palavras
apresentadas por eles foram as seguintes:
laranja, lata, litro, livro, liga, leite,
limão, larva, lugar, luz, lápis, luva, lima,
livre, lar, leilão, levado, lavar, Levi,
Luana, louvar, louvor, louro, lodo,
loura. A professora pediu que eles
identificassem as sílabas no dicionário,
começando por la, depois le, e assim por
diante. Eles identificaram, repetiram e
pronunciaram as palavras do dicionário e
depois associaram essas palavras com a
palavra geradora.
O encontro do dia vinte e sete de
junho de 2017 iniciou com informes sobre
a ausência de transporte da UFMA, por
falta de motoristas, e que esse foi o
principal motivo da nossa ausência no
primeiro semestre do ano de 2017. Silvio
(presidente da comunidade) leu seu texto
de boas-vindas aos alunos. Agendamos a
confraternização da comunidade para o dia
18/07/2017, como também, informamos
que a data de audiência marcada com o
Ministério Público Federal (MPF) para
tratar do conflito da comunidade com a
empresa Suzano Papel e Celulose teria sido
dia 12/07/2017. Houve a apresentação da
integrante do grupo GEPEEPE, Adeluane
Almeida e de um membro da Comunidade
Antônio Alves. Os alunos presentes no
grupo de alfabetização foram: Raimundo,
Ceará, Antônio Alves, Tereza e Virginia.
Nesse mesmo dia, foi recapitulado o
dicionário de palavras formado a partir da
letra l. Através desse dicionário, nós
pedimos para que os alunos escolhessem as
palavras que estavam relacionas com a
nossa palavra geradora PLANTAR, ou
seja, citar algum nome de frutas ou
legumes que fosse plantado. Eles
mencionaram: laranja, lima, limão, louro.
Após isso os alunos foram ao quadro e
identificaram as letras a e n.
A próxima letra da palavra geradora
trabalhada foi a letra n. Os alunos
montaram outro dicionário por meio dessa
letra, assim foi criado: neve, Nivo, Nena,
navio, Nilo, novembro, ninho, novo,
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none, nome, nariz, namorar, noivo. Mas,
nessa formação foram mencionadas
palavras que não se iniciam com a letra N,
tiveram palavras aleatórias: canoa,
banana, tanja, melão. Entretanto, a
maioria das palavras citadas continha a
letra N, que no meio delas. Isso faz
parte do processo de significação das
palavras. Eles conseguem juntar, na
maioria das vezes, as palavras de forma
correta, ora ou outra elas se misturam, mas
em seguida são reorganizadas.
Na sequência, requisitamos que eles
identificassem as palavras com a letra n de
legumes ou frutas que podem ser
plantadas. Eles falaram que tanja, none,
melão poderiam ser plantados, circularam
no quadro esses nomes de frutas e
escreveram nos cadernos. Esse dia foi o
primeiro que nós trabalhamos com as
frases. Os alunos montaram frases
relacionadas com a fruta que começa com
a letra N (none). As frases foram as
seguintes: NONE é fruta medicinal;
NONE é bom para a saúde; NONE tem
gosto ruim, NONE é redondo.
Encerramos a aula com a leitura dessas
frases.
No dia vinte e sete de junho de 2017
o círculo de cultura foi iniciado pela
professora Juliana Ferreira para
alfabetização de jovens e adultos na
comunidade Viva Deus. Ela inicia com a
palavra geradora PLANTAR, resgatando
as palavras da aula anterior, quais sejam:
neve, Nilo, Nena, navio, Nivo, novembro,
ninho, novo, canoa, banana, tanja, none,
melão, nariz, namorar, noivo. Após a
escrita das palavras, Juliana pede para que
os alunos identifiquem a letra n. Todos
identificaram a letra e a sonoridade.
Depois, perguntamos quais palavras têm
significado de elementos da terra que
podem ser plantados? Os alunos
conseguem identificar: banana, tanja,
none, melão. Continuamos com a leitura
fonêmica com a letra t e sua família: ta, te,
ti to, tu.
Começa a perguntar quais palavras
iniciam com ta. Os alunos manifestam as
seguintes palavras: tinta, trabalho,
tamanho, tamanco, poste, tangerina,
tanja, tamarino, tacho, táxi, tatu,
tamanduá, tanque, tambor, tamborim,
tarol, tigela, bota. A professora pede para
que todos leiam as palavras escritas no
quadro. Após isso, pede para verificarem
as palavras que podem estar relacionadas
com PLANTAR”. Eles identificam as
seguintes: tamarino, tangerina, tanja.
Após a identificação das palavras, os
alunos escrevem frases no quadro: TANJA
é uma fruta; TANJA é madura;
TANJERINA é azeda, TANJERINA
doce. Ao final todos leram as frases
formuladas.
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Figura 2 As cercas continuam lá, mas o medo de plantar acabou”: plantação de feijão feita na Comunidade
Viva Deus.
Fonte: Acervo do Grupo de Ensino Pesquisa e Extensão em Educação Popular (GEPEEP). Registro fotográfico
realizado na Comunidade Viva Deus em 07/06/2017.
No dia dezoito de agosto de 2017
aconteceu nosso encontro de encerramento
do primeiro semestre do ano, com o
Projeto: “A formação de alfabetizadores
(as) jovens e adultos da zona rural de
Imperatriz/MA: Projeto Escola
Comunidade Viva Deus”. Foram feitas as
apresentações dos participantes,
apresentações dos trabalhos realizados nos
grupos (alfabetização e formação política),
leitura imagética do Silvio (presidente da
comunidade), avaliação do trabalho feita
por todos os participantes nesse primeiro
ano e a entrega de certificação para os
alunos da comunidade e membros do
grupo GEPEEP.
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Figura 3 - Certificação dos alunos da Comunidade e dos participantes do grupo GEPEEP.
Fonte: Acervo do Grupo de Ensino Pesquisa e Extensão em Educação Popular (GEPEEP). Registro fotográfico
realizado na Comunidade Viva Deus em 08/11/2016.
Figura 4 - Certificação dos alunos da Comunidade e dos participantes do grupo GEPEEP.
Fonte: Acervo do Grupo de Ensino Pesquisa e Extensão em Educação Popular (GEPEEP). Registro fotográfico
realizado na Comunidade Viva Deus em 08/11/2016.
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Considerações finais
Portanto, o projeto de alfabetização e
formação política na Comunidade Viva
Deus está em consonância com a
metodologia e os ideais de Paulo Freire:
Como ajudá-lo a criar, se analfabeto,
sua montagem de sinais gráficos?
Como ajudá-lo a inserir-se? A
resposta nos parecia estar: a) num
método ativo, dialogal, crítico e
criticizador; b) na modificação do
conteúdo programático da educação;
c) no uso de técnicas como a da
Redução e da Codificação. (Freire,
1977, p. 107).
Da mesma forma nos deparamos
com esses questionamentos, com conflitos
metodológicos, bem como com as
experiências cotidianas da convivência
com a comunidade, ou seja, com a
realidade do que temos trabalhado na
Comunidade Viva Deus, no grupo de
alfabetização e também no grupo de
conscientização política.
Assim, partindo de uma ação
dialógica, democrática, emancipatória que
não está presa somente ao processo
formativo de saber ler e escrever, mas
também de uma reafirmação de identidade
da comunidade, da própria existência
autônoma no espaço social, é que o
presente trabalho encontrou significação e
pode afirmar a concretização de mudanças
e transformações da Comunidade Viva
Deus.
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Informações do artigo / Article Information
Recebido em : 07/02/2019
Aprovado em: 04/05/2019
Publicado em: 29/02/2020
Received on February 07th, 2019
Accepted on May 04th, 2019
Published on February, 29th, 2020
Contribuições no artigo: As autoras foram os
responsáveis por todas as etapas e resultados da
pesquisa, a saber: elaboração, análise e interpretação dos
dados; escrita e revisão do conteúdo do manuscrito
e; aprovação da versão final publicada.
Author Contributions: The author were responsible for
the designing, delineating, analyzing and interpreting the
data, production of the manuscript, critical revision of the
content and approval of the final version published.
Conflitos de interesse: As autoras declararam não haver
nenhum conflito de interesse referente a este artigo.
Conflict of Interest: None reported.
Orcid
Betânia Oliveira Barroso
http://orcid.org/0000-0003-2205-1477
Jullyana Cristhina Almeida de Freitas
http://orcid.org/0000-0003-0918-3985
Elena Steinhorst Damasceno
http://orcid.org/0000-0002-5859-4695
Juliana Ferreira de Sousa
http://orcid.org/0000-0001-6840-3760
Como citar este artigo / How to cite this article
APA
Barroso, B. O., Freitas, J. C. A., Damasceno, E. S., &
Sousa, J. F. (2020). Da alfabetização a politização na
Comunidade Viva Deus. Rev. Bras. Educ. Camp., 5,
e6500. http://dx.doi.org/10.20873/uft.rbec.e6500
ABNT
BARROSO, B. O.; FREITAS, J. C. A.; DAMASCENO, E.
S.; SOUSA, J. F. Da alfabetização a politização na
Comunidade Viva Deus. Rev. Bras. Educ. Camp.,
Tocantinópolis, v. 5, e6500, 2020.
http://dx.doi.org/10.20873/uft.rbec.e6500