Revista Brasileira de Educação do Campo
Brazilian Journal of Rural Education
ARTIGO/ARTICLE/ARTÍCULO
DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.rbec.e6624
Tocantinópolis/Brasil
v. 6
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2021
ISSN: 2525-4863
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Casas Familiares Rurais no contexto da Educação do
Campo: um panorama das pesquisas na Região Norte
2008-2018
Walnélia Benigno Magalhães Carrijo
1
1
Universidade do Estado do Pará - UEPA. Campus VII. Avenida Araguaia s./n., Bairro Vila Cruzeiro. Conceição do Araguaia -
PA. Brasil.
Autor para correspondência/Author for correspondence: walneliabenigno@gmail.com
RESUMO. Este estudo é parte de uma investigação
desenvolvida no âmbito do Programa de Pós-Graduação em
Educação (PPGE) da Universidade Federal do Tocantins (UFT),
sobre a implantação de escolas do campo no modelo das Casas
Familiares Rurais (CFR) em um município do estado do Pará, na
região norte. Para nos apropriarmos das discussões acerca do
objeto investigado, foi realizado o estado da arte sobre as
pesquisas em educação do campo e casas familiares rurais
desenvolvidas em universidades da região. A pesquisa adotou a
abordagem qualitativa e para o sua execução, efetivou-se o
mapeamento no banco de dados da Biblioteca Digital Brasileira
de Teses e Dissertações (BDTD), com o recorte temporal de
1998 a 2018, aplicando os descritores educação do campo” e
“casa familiar rural”. Este procedimento permitiu mapear as
produções acadêmicas sobre a temática em diferentes áreas de
conhecimento e nos apontou o cenário das discussões no âmbito
de instituições de pesquisas investigadas, desvelando a dívida de
conhecimento que se tem acerca da educação do campo,
reafirmando a relevância de novos estudos que objetivam
contribuir com as discussões sobre este tema, que se constitui
um vasto campo a ser investigado.
Palavras-chave: educação do campo, casas familiares rurais,
estado da arte.
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Rural Households in the Countryside Education context:
an outlook in researches in the North Region from 2008 to
2018
ABSTRACT. This paper is part of a research in the Programa
de Pós Graduação em Educação (PPGE) at the Universidade
Federal do Tocantins (UFT), about the countryside schools
implantation according to the model of Casas Familiares Rurais
(CFR) at the county of the Estado do Pará, located at North
Region. We have the state of art in countryside education and
Casas Familiares Rurais research, developed in research
institutes at the region, in order to understand the discussion.
This work has used a qualitative methodology, we have used the
database from the Biblioteca Digital Brasileira de Teses e
Dissertações (BDTD), a series from 1998 to 2018, applying the
descriptors "educação do campo" and "casa familiar rural". We
have mapped academic works about this subject in different
areas, which helped us to understand that exist a knowledge gap
in the countryside education researches, which consolidates the
relevance of news studies to contributes with this subject, and
that is a big study field for investigations.
Keywords: countryside education, rural households, state of art.
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Casas Familiares Rurales en el contexto de la Educación
del Campo: un panorama de las investigaciones en la
Región Norte 2008-2018
RESUMEN. Este estudio forma parte de una investigación
desarrollada en el marco del Programa de Postgrado en
Educación (PPGE) de la Universidad Federal do Tocantins
(UFT), sobre la implantación de escuelas del campo en el
modelo de las Casas Familiares Rurales (CFR) un municipio del
estado de Pará, en la región norte. Para apropiarse de las
discusiones sobre el objeto investigado, se realizó el estado del
arte de las investigaciones en educación del campo y casas
familiares rurales desarrolladas en universidades de la región. La
investigación adoptó el abordaje cualitativo y para su ejecución,
se efectúa el mapeo en el banco de datos de la Biblioteca Digital
Brasileña de Tesis y Disertaciones (BDTD), con el recorte
temporal de 1998 a 2018, aplicando los descriptores "educación
del campo" y "casa familiar rural", este procedimiento permitió
mapear las producciones académicas sobre la temática en
diferentes áreas de conocimiento y nos apuntó al escenario de
las discusiones en el ámbito de instituciones de investigaciones
investigadas, desvelando la deuda de conocimiento que se tiene
acerca de la educación del campo, reafirmando la relevancia de
nuevos estudios sobre este tema, que se constituye un vasto
campo a ser investigado.
Palabras clave: educación del campo, casas familiares rurales,
estado del arte.
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Educação do campo: considerações
iniciais
Ao longo de sua recente trajetória, a
educação do campo tem sido firmada
socialmente como conquista de um direito
que passa a ser garantido aos camponeses
i
por meio de muitas lutas e articulações
envolvendo diversos segmentos da
sociedade, desde instituições públicas,
privadas, eclesiais e, sobretudo, defendida
e exigida por movimentos sociais,
prioritariamente ligados aos povos que
residem no campo.
Como modalidade de ensino é
considerada nova no contexto da educação
brasileira, mas possui uma “história tão
tensa e tão dinâmica quanto a mais recente
história do campo e das lutas pelo direito a
terra, ao trabalho” (Arroyo, Caldart &
Molina, 2011, p. 7).
Em 1998, em meio a um cenário
onde o povo camponês se mobilizava em
busca de seus direitos, permeados de
intensos debates e iniciativas populares
para se construir uma educação que
rompesse com o modelo hegemônico da
escola urbana, ocorreu no município de
Abadiânia, estado de Goiás, a Primeira
Conferência Nacional “Por uma Educação
do Campo”. Este movimento veio levantar
questões identitárias históricas da educação
do campo, como um momento novo na
educação brasileira que trouxe o marco do
“nascimento de um projeto de educação
protagonizado pelos trabalhadores e
trabalhadoras do campo e suas
organizações sociais” (Arroyo, Caldart &
Molina, 2011, p. 7).
Nas discussões de preparação do
documento base da Conferência,
concluído em maio de 1998 e
debatido nos encontros estaduais que
antecederam o evento nacional, estão
os argumentos do batismo da
educação do campo, o que
representou um contraponto de forma
e conteúdo ao que no Brasil se
denominava Educação rural (Caldart,
2012).
No processo de construção deste
movimento várias questões acerca da
educação do campo foram evidenciadas.
Contudo, destaca-se o pouco interesse das
universidades em pesquisar este objeto.
O silenciamento, esquecimento e até
o desinteresse sobre o rural nas
pesquisas sociais e educacionais é um
dado histórico que se tornava
preocupante. Por que a educação da
população foi esquecida? Um dado
que exige explicação: “somente 2%
das pesquisas dizem respeito a
questões do campo, não chegando a
1% as que tratam especificamente da
educação escolar no meio rural.”
(Arroyo, Caldart & Molina, 2011, p.
8).
Passados 20 anos da realização desta
Conferência, onde aconteceu o “batismo”
da “educação do campo”, alguns autores
observam que estudos sobre a temática
ainda são escassos. Arroyo (2011) reflete
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acerca das escolas e das pesquisas sobre a
educação do campo, asseverando que:
Parece-me que é urgente pesquisar as
desigualdades históricas sofridas
pelos povos do campo.
Desigualdades econômicas, sociais e
para nós desigualdades educativas,
escolares. Sabemos como o
pertencimento social, indígena,
racial, do campo é decisivo nessas
históricas desigualdades. uma
dívida histórica, mas também uma
dívida de conhecimento dessa dívida
histórica. (Arroyo, 2011, p. 104).
O autor observa ainda que o
reconhecimento desta dívida deveria servir
de motivação ao desenvolvimento de
pesquisas acerca da educação do campo,
porém, argumenta que a dívida do
desconhecimento tem culminado na
ausência de políticas educativas que
promovam a garantia dos direitos à
educação para a população camponesa,
reforçando assim o histórico de
desigualdades e de precarização deste tipo
de educação em consequência do
desconhecimento.
Na perspectiva de contribuirmos com
as discussões acerca da educação do
campo e produzirmos novos
conhecimentos acerca da temática,
construímos este artigo, que é parte de uma
investigação que desenvolvemos no âmbito
do Programa de Pós-graduação em
Educação (PPGE) da Universidade Federal
do Tocantins (UFT), onde buscamos
conhecer a trajetória de lutas e resistências
dos movimentos sociais protagonizadas
pelos sujeitos que vivem no e do campo,
para a implantação de escolas no modelo
das Casas Familiares Rurais (CFR) em um
município do estado do Pará, região norte.
As Casas Familiares Rurais criadas
no Brasil foram inspiradas no modelo da
experiência francesa das Maisons
Familiares Rurales (MFR), que veio se
materializando como uma proposta
alternativa para a formação escolar dos
jovens residentes no campo (Estevam,
2012). Nos reportamos a Caldart (2011)
quando observa que na perspectiva da
educação no campo, o povo tem direito a
ser educado no lugar onde vive; e do
campo, evoca o direito a uma educação
pensada desde o lugar onde vive, com a
sua participação, vinculada à sua cultura e
às necessidades humanas e sociais.
As CFR se constituem como uma
experiência significativa e democrática e
geralmente são construídas pelo coletivo
de sujeitos, movimentos sociais e
instituições públicas, que em meio às
diversidades de interesses tem promovido
ricas práticas, merecedoras de serem
contadas, refletidas e registradas em toda a
sua dinâmica educativa, social, cultural,
histórica, política e econômica, no contexto
da educação do campo. Nesta experiência
busca-se “estabelecer uma intimidade entre
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os saberes curriculares fundamentais aos
alunos e a experiência social que eles têm
como indivíduos”. (Freire, 2010, p. 30).
Ao pesquisar sobre as origens da
CFR do Brasil, Silva (2012) observa que
poucos estudos sistematizados e que
para conhecer a história, trabalhou com
informações fragmentadas que foram
coletadas em forma de depoimentos e por
meio de consulta a documentos que definiu
o movimento de implantação das CFR no
país em três momentos distintos quanto a
sua trajetória na sociedade.
O primeiro momento foi marcado
pela ocorrência das experiências iniciais de
implantação na região nordeste, quando em
1979 um grupo de profissionais da
Secretaria de Estado de Educação de
Alagoas e do Ministério da Educação fez
uma viagem de estudos para a França,
onde puderam conhecer a experiência da
MFR. Estes contatos pessoais viabilizaram
a vinda de um assessor técnico da Union
Nationale des Maisons Familiares Rurales
(UNMFR) que incentivou a criação das
primeiras CFR no país em 1980 no
município de Arapiraca, estado de Alagoas
e em 1984 a de Riacho das Almas, estado
de Pernambuco.
Como segundo momento, a autora
considera a movimentação da experiência
nordestina para o Sul e como terceiro
momento ressalta o fator de consolidação
das CFR no Paraná e a expansão para
outros estados da região sul do Brasil.
Observando que as experiências
iniciais no Nordeste não se consolidaram, a
autora caracterizou como ensaios as
experiências que expandiram para o sul,
permeadas pelo protagonismo dos
agricultores familiares, que encontraram
um solo fértil, com o apoio da igreja
católica e de órgãos governamentais,
possibilitando que essa experiência
caminhasse por todo território brasileiro.
Estevam (2012) observa que
atualmente houve uma estabilização em
relação ao número de CFR implantadas,
tendo seu período de grande expansão o
final da década de 1980 e 1990. Destaca
que “o estado com maior número de CFRs
é o Paraná, com 43; o segundo é Santa
Catarina, com 22 e o terceiro é o Pará com
12” (Estevam, 2012, p. 128).
As Casas Familiares Rurais no contexto
da educação do campo: panorama das
pesquisas região norte 2008-2018
Para realizarmos o estudo e
considerando a necessidade de nos
apropriarmos das discussões acerca do
objeto investigado, fizemos o “estado da
arte” das pesquisas com a temática de
educação do campo e Casas Familiares
Rurais. Segundo Ferreira (2012), este tipo
de pesquisa traz o “desafio de mapear e de
discutir uma certa produção acadêmica em
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diferentes campos do conhecimento,
tentando responder que aspectos e
dimensões vêm sendo destacados e
privilegiados em diferentes épocas e
lugares”. Os procedimentos realizados nos
mostrou o cenário das discussões no
âmbito de instituições de pesquisas da
região norte, reafirmando a relevância de
contribuirmos com as altercações sobre o
tema.
Para procedermos com a pesquisa,
adotamos a abordagem qualitativa, uma
vez que de acordo com Groulx (2008), ela
nos leva a uma percepção mais holística
dos problemas e das questões e conduz a
execução de procedimentos que permitem
um reenquadramento sócio antropológico,
com vistas a ter em conta o contexto
sociocultural de cada situação-problema,
compreendendo a especificidade e a
complexidade dos processos em jogo.
Realizamos estudos de outras
pesquisas sobre o assunto, em autores
como Beserra e Damasceno (2004) que
fizeram o mapeamento dos conhecimentos
produzidos da década de 1980 a 1990,
sobre o tema Educação Rural. Ressaltamos
que no período em que as autoras
realizaram a pesquisa, ainda não era
utilizado o termo Educação do Campo em
suas concepções atuais. No entanto, as
informações apontadas contribuíram para
traçarmos um panorama mais recente
acerca das investigações sobre o objeto
pesquisado.
As pesquisadoras elencaram teses e
dissertações publicadas no banco de dados
da Associação Nacional de Pós-graduação
e Pesquisa em Educação (ANPEd), onde
analisam alguns fatores que corroboram
com a carência de estudos sobre o tema,
como: a desvalorização do rural, a
dificuldade de financiamento das
pesquisas, as dificuldades dos
pesquisadores que residem no meio urbano
em terem acesso ao meio rural e também o
desinteresse do Estado em pesquisas que
envolvem os povos do campo. Este cenário
reflete que “a proporção média ao longo do
período pesquisado é de doze trabalhos na
área de Educação Rural para mil trabalhos
nas demais áreas da Educação. Uma
porcentagem dezessete vezes inferior à do
número de habitantes no campo” (Beserra
& Damasceno, 2004, p. 77).
Entre os achados da pesquisa, as
autoras selecionaram 102 trabalhos, entre
teses e dissertações distribuídas nas cinco
regiões do país: Sudeste, 55 trabalhos; Sul,
26; Nordeste, 15; Centro-oeste, 6 e na
Região Norte as pesquisadoras não
registraram nenhuma produção acerca da
temática que tenha sido realizada no
interregno pesquisado, o que estimulou a
prosseguirmos a investigação em estudos
que foram desenvolvidos na região. Além
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disso, ressaltaram que a maior
concentração de estudos na região sudeste
é consequência do processo de
desenvolvimento nesta região do país
(Beserra & Damasceno, 2004, p. 81).
Analisamos também outra pesquisa
com um recorte temporal mais recente,
compreendendo 1998-2015, no qual os
autores Medeiros e Dias (2015)
construíram o estado da arte sobre as
pesquisas em educação do campo na
Região Nordeste, como etapa de uma
pesquisa de doutoramento desenvolvido
junto ao Programa de Pós-graduação em
Educação da Universidade Estadual do
Ceará (UECE). Foram analisadas teses e
dissertações publicadas em 18 programas
de mestrado (acadêmico e profissional) e
de doutorado nas universidades da referida
região, por meio de busca no banco de
dados da Biblioteca Digital Brasileira de
Teses e Dissertações (BDTD).
Os autores encontraram 137
trabalhos alusivos ao descritor “educação
do campo” e consideram um “número
significativo”, pelo fato da educação do
campo ser um tema novo no cenário da
educação nacional (Medeiros & Dias,
2015, p. 119).
A pesquisa destaca que no estado da
Bahia, é onde se concentra o maior número
de pesquisas, acompanhado da Paraíba e o
Ceará. As demais são distribuídas entre os
outros estados da região nordeste.
Analisando os dados, os autores apontam
que:
São os próprios sujeitos que, por
meio de sua organização política,
tornam-se suficientemente visíveis
para chamarem sobre si a atenção dos
estudiosos a respeito de que o campo
e sua educação estão vivos e em
movimento (Medeiros & Dias, 2015,
p. 124).
Outra observação que os autores
destaca acerca do crescimento dos estudos
na região nordeste refere-se ao aumento da
quantidade de cursos e programas na
região que geram um crescimento nas
investigações e “polarizam as temáticas, as
metodologias investigativas e o
conhecimento científico”. Além disso, os
autores finalizam refletindo que este
relativo crescimento das pesquisas “aponta
caminhos, mas não preenche as lacunas
existentes no projeto de um conhecimento
mais abrangente e mais profundo da
educação do campo no país.” (Medeiros &
Dias, 2015, p. 130-131).
Para aprofundarmos o nosso estudo
realizamos um mapeamento no banco de
dados da Biblioteca Digital Brasileira de
Teses e Dissertações (BDTD), com o
recorte temporal de 1998 a 2018, a fim de
obtermos as informações a respeito do
objeto de estudo desta pesquisa. É
importante destacar que este recorte se
justifica pelo ano que foi considerado o
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marco da nominação “educação do campo”
no Brasil.
A princípio utilizamos o descritor
“educação do campo”, por ter relação com
o nosso objeto de estudo, para
posteriormente aplicarmos o filtro a fim de
obtermos resultados mais específicos que
identifiquem as pesquisas relacionadas
diretamente a Casa Familiar Rural. Com o
primeiro descritor, identificamos um total
de 402 trabalhos, sendo 296 teses e 106
dissertações distribuídas em diversas áreas
de conhecimento, como: 154 na área de
Ciências humanas e educação; 12 na área
de Ciências exatas e da terra/Matemática;
09 trabalhos na área de Ciências exatas e
da terra/Geociências; e 227 trabalhos que
foram desenvolvidos em outras áreas
abordando essa temática.
Após fazermos o levantamento da
quantidade total de trabalhos, buscamos as
154 pesquisas na área de conhecimento
“ciências humanas e educação” com o
objetivo de identificarmos a quantidade
destas que foram produzidas vinculadas as
instituições localizadas na região norte,
onde pudemos encontrar: 77 na região sul;
32 na região nordeste; 33 na região
sudeste; 07 da região norte e 06 na região
centro-oeste.
Após o transcurso de duas décadas
(1998-2018) do “batismo”, da
denominação educação do campo (Caldart,
2012), identificamos que na região norte
ainda são escassas as informações sobre o
desenvolvimento de pesquisas sobre o
tema, uma vez que os trabalhos estão
vinculados a duas instituições, sendo
encontrados apenas 02 teses e 05
dissertações.
Ao analisarmos as sete pesquisas
encontradas na região norte, verificamos
que elas investigam a temática da educação
do campo no âmbito das políticas da
educação, Programa Escola Ativa, classes
multisseriadas, Educação de Jovens e
Adultos do campo, trajetória de
escolarização de jovens do campo,
inclusão social de jovens do campo e
outras questões que não contemplavam
diretamente o objeto de estudo desta
pesquisa que são as Casas Familiares
Rurais.
Passamos para o segundo momento
de busca na BDTD, no qual usamos como
filtro o descritor “Casa Familiar Rural”,
com o objetivo de encontrarmos pesquisas
específicas relacionadas ao objeto de
estudo, que foram desenvolvidas em
instituições da região norte, na área de
conhecimento de ciências humanas e
educação. Este procedimento nos
possibilitou identificar 05 trabalhos
publicados com o referido descritor.
Ressaltamos que os 05 trabalhos
encontrados, vinculados a instituições
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localizadas na região norte, foram
publicados entre 2005 e 2017, o que
demonstra a ausência de pesquisas que
tratam a temática, sinalizando assim a
relevância e a necessidade de novas
investigações tendo a CFR como objeto de
estudo.
Ao fazermos a análise dos estudos
encontrados na região norte (Almada,
2005; Pereira, 2015; Guimarães, 2017;
Melo, 2010; Melo, 2017) observamos que
as temáticas investigadas discutem as
experiências educativas, práticas
pedagógicas; pedagogia da alternância
ii
;
desenvolvimento local sustentável, práticas
socioeducativas e práxis dos movimentos
sociais no contexto das Casas Familiares
Rurais.
O estudo de Almada (2005), embora
tenha sido desenvolvido e vinculado a uma
instituição de ensino da região norte, teve
como lócus de pesquisa uma CFR da
região nordeste, mais especificamente do
estado do Maranhão. O autor demonstrou
que os pesquisadores da região também
buscam referências para suas pesquisas a
partir das experiências que acontecem em
outras regiões do país, deixando de dar
visibilidade ao deslindamento das questões
que envolvem a educação do campo no
norte, aumentando a “dívida de
conhecimento”, apontada por Arroyo
(2011, p. 104).
Almada (2005), em sua dissertação
intitulada “A experiência educativa de uma
Casa Familiar Rural e suas contribuições
para o desenvolvimento local”,
desenvolvida junto a Universidade Federal
do Pará (UFPA), consistiu em um estudo
sobre as atividades praticadas na CFR de
Coquelândia em Imperatriz no estado do
Maranhão. O pesquisador observou que as
funções desempenhadas pela CFR, por
meio de seus atores sociais, refletem no
desenvolvimento local e os tornam
“agentes construtores de sua própria
história” (Almada, 2005, p. 8).
O estudo é de abordagem qualitativa,
na qual a experiência do autor em atuar
como professor na área rural, permitiu a
inserção no meio pesquisado, colocando-se
na condição de observador participante, no
qual desde o início seus objetivos foram
revelados (Junker apud Lüdke & André,
1986). Os dados também foram produzidos
por meio de consulta a documentos e
entrevistas com participantes de cada
segmento escolhido, o que dialoga com
Bordieu (1989), ao destacar a importância
de garantir a legítima representatividade
dos selecionados.
A pesquisa atesta que a proatividade
dos sujeitos provêm do modelo
organizativo da Pedagogia da Alternância e
de seus instrumentos pedagógicos, que
favorecem aos jovens a conciliação entre
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trabalho e estudo e também oportunizam
aos pais participarem diretamente do
processo educativo. As famílias
perceberam que os jovens passam a mudar
seu comportamento, apresentando maior
interesse para com os estudos, tudo
permeado pela Pedagogia da Alternância, o
que o leva a concluir que estes sujeitos se
tornam empreendedores “com capacidade
a consciência crítica para interação e
transformação na realidade em que vivem”
(Almada, 2005, p. 8).
O autor evidencia que a CFR é uma
forma de ofertar a educação para os
sujeitos do campo, no qual o processo
educativo mediatizado pela Pedagogia da
Alternância rompe com o modelo
tradicional de ensino urbanizado. As
atividades curriculares e extracurriculares
se tornam mais significativas e, nesta
práxis, é consolidada a emancipação do
sujeito individual e coletivo, contribuindo
para o desenvolvimento local (campo).
Melo (2010), em sua dissertação
intitulada “Educar para a sustentabilidade:
a experiência da Casa Familiar Rural de
Boa Vista de Ramos Amazonas”,
desenvolvida junto à Universidade Federal
do Amazonas (UFAM), teve como
objetivo investigar a experiência da CFR
de Boa Vista de Ramos, sendo esta a
primeira CFR no estado do Amazonas.
Buscou identificar as contribuições para o
desenvolvimento local e solidário, tendo
como objeto de pesquisa a pedagogia da
alternância praticada na escola. O autor
desenvolveu o estudo numa abordagem
qualitativa, “no sentido de valorizar os
significados que os indivíduos dão às suas
ações, o meio em que constroem suas
vidas, sua relação e o vínculo indissociável
com o contexto no qual encontram-se
inseridos” (Melo, 2010, p. 7).
Para o pesquisador, o estudo permitiu
constatar que a experiência da CFR de Boa
Vista de Ramos promove um sentido aos
sujeitos do campo, uma vez que os
conhecimentos são organizados partindo
de sua realidade. Assevera que a Pedagogia
da Alternância se torna uma alternativa
viável para a educação do campo daquela
localidade, por meio do movimento dos
estudantes entre a escolacomunidade-
escola.
Neste sentido o autor observa que o
trabalho da CFR é desenvolvido “a partir
de um itinerário pedagógico baseado em
estudo da realidade, estudo do meio,
levando a escola (CFR) para dentro da
realidade e esta para a escola” (Melo,
2010, p. 66), o que consequentemente
favorece uma dinâmica educacional,
contribuindo com o fortalecimento e
desenvolvimento local. Para o autor, é em
essência um processo micro-social de
construção coletiva, no qual prevalecem as
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necessidades sociais e culturais, mas que
devem ser sincronizadas com as
oportunidades locais de desenvolvimento,
tantos nos aspectos econômicos de
inserção no mercado, como nos recursos
naturais disponíveis e sua conservação,
fortalecendo-os a lutarem pelos seus
direitos sociais coletivos e individuais
(Melo, 2010).
O autor ressalta que a pesquisa
também teve a intenção de contribuir com
o “Movimento Amazonense Por uma
Educação do Campo”, reconhecendo e
problematizando as numerosas
experiências amazônicas, gestadas pelos
movimentos sociais, trazendo outros
apontamentos teóricos para o debate. O
pesquisador conclui que “a CFR não é uma
simples instituição que escolariza os
agricultores familiares; suas finalidades
vão muito além disso: a CFR é uma
agência de desenvolvimento local” (Melo,
2010, p. 64).
Pereira (2015) desenvolveu a
pesquisa que resultou na dissertação
intitulada “O enfoque C-T-S na pedagogia
da alternância o saber escolar e a prática
cotidiana quilombola na Casa Familiar
Rural de Jambuaçú Moju Pará
construída junto a Universidade Federal do
Pará (UFPA). Teve como objetivo estudar
o ensino de ciências desenvolvido com a
pedagogia da alternância da CFR Padre
Sérgio Tonetto, que fica localizada em um
território quilombola denominado
Jambuaçú, no município de Moju,
localizado no estado do Pará. A pesquisa
foi realizada por meio de abordagem
qualitativa, sendo utilizados instrumentos
como: entrevistas individuais e coletivas
(grupos focais) semiestruturadas, bem
como observações e análise documental.
A autora analisou as relações
estabelecidas entre: C-T-S (ciência-
tecnologia-sociedade) e as práticas
pedagógicas do ensino de ciências na CFR,
observando as implicações que essas
relações produzem na educação do cidadão
quilombola de Jambuaçu (Pereira, 2015).
Segundo Linsingem (2007, apud Pereira,
2015, p. 94) “o movimento C-T-S se
caracteriza por um movimento social mais
amplo de discussão pública sobre políticas
de ciência e tecnologia e sobre os
propósitos da tecnociência”.
Para fazer a análise do conteúdo no
material empírico, aportou-se em Bardin
(2002), organizando a temática em 4
categorias de codificação, convertidos nos
eixos: 1. Aspectos educativo da Pedagogia
da Alternância; 2. Transformação social e
formação para a cidadania; 3. Ensino de
ciências na Pedagogia da Alternância e 4.
Formação da identidade quilombola. Como
resultados da análise, a autora afirma que:
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Em diferentes níveis, todos os eixos
de análise abrangem elementos do
ensino com enfoque C-T-S na
Pedagogia da Alternância,
particularmente na abordagem
temática sociocientífica, autonomia,
tomada de decisão, atitudes e valores
próprios do exercício da cidadania
consciente e embasados em
conhecimentos da ciência e nos
saberes tradicionais dos quilombolas.
(Pereira, 2015, p. 11).
A pesquisa aponta que o enfoque C-
T-S praticado no contexto da CFR
promove um entrelaçamento dos
conhecimentos, tanto tradicionais (da
comunidade quilombola) como os
científicos, gerando um ambiente favorável
para a educação com vistas ao exercício da
cidadania, concretizando o papel social da
escola. Afirma que a CFR é importante na
valorização da identidade quilombola,
sendo esta uma missão nitidamente
definida no seu Projeto Político
Pedagógico (PPP). A autora conclui que “a
CFR desempenha claramente um papel
indutor de cidadania e de valorização
humana e social dos estudantes ao
contribuir para a sua identificação com seu
povo e sua história.” (Pereira, 2015, p.
149).
O estudo desenvolvido por
Guimarães (2017) resultou na dissertação
intitulada “A história de um intelectual
orgânico em defesa da educação na
Amazônia: Manuel do Carmo e a Casa
Familiar de Gurupá PA”, desenvolvida
junto a Universidade Federal do Pará
(UFPA). Teve como objeto de investigação
a história de vida de Manoel do Carmo,
relacionando com a história da educação
da CFR de Gurupá PA.
O objetivo geral foi “analisar, por
meio da história oral de vida e história oral
temática, práticas em defesa da educação
realizadas por Manoel do Carmo,
integrante dos movimentos sociais de
Gurupá, Marajó, Pará.” (Guimarães, 2017,
p. 10). A autora aponta como finalidade do
estudo a compreensão dessas práticas em
seus sentidos político e pedagógico no
contexto da região.
Entre as questões norteadoras da
pesquisa, destacou-se como a história de
vida de um intelectual orgânico do tipo
rural, segundo a concepção gramsciana
(adotada pela pesquisadora), os intelectuais
do tipo rural são em maior parte
tradicionais, isto é, ligados à massa social
camponesa e pequena burguesia da
sociedade (Gramsci, 1982, p. 13 apud
Guimarães, 2017), e como os movimentos
sociais amazônicos fazem a articulação
com a educação.
Após as análises, a pesquisa
possibilitou constatar que a vida de Manoel
do Carmo está articulada com as lutas dos
movimentos sociais ligados aos
trabalhadores do campo. Evidenciou ainda
que as estruturas sociais do município, suas
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instituições políticas, econômicas e
formalizadas, estão associadas à militância
de Manoel do Carmo e o seu
protagonismo, em especial a organização
das escolas do campo de Gurupá.
A pesquisadora ressalta que neste
estudo a história das lutas sociais da região
é contada por meio da história de vida de
Manoel do Carmo, sendo que “ele é o fio a
partir da qual o tecido desta dissertação é
engendrado” (Guimarães, 2017, p. 141). A
experiência educacional da implantação da
CFR adotando a Pedagogia da Alternância
torna-se um ato político para Gurupá e um
exemplo de escola que nasce vinculada a
problemas sociais locais, mas que produz
resultados que vão incidir no mundo
global, incorporando na formação
consciente o apropriar-se das discussões de
problemas com grande repercussão na
humanidade, como, por exemplo: meio
ambiente, preocupação com a preservação
ambiental e a sustentabilidade.
Outro estudo localizado foi a tese de
Melo (2017) denominada “Pedagogia da
Alternância no Amazonas: uma práxis dos
movimentos sociais das florestas e das
águas”, desenvolvida junto a UFAM. Teve
como objetivo analisar as práticas
socioeducativas da CFR de Boa Vista do
Ramos no estado do Amazonas com o fito
de verificar as contribuições da Pedagogia
da Alternância enquanto prática
educacional inovadora experimentada pelo
povo tradicional amazonense, que vive no
campo, na floresta e nas águas. A pesquisa
adota como aporte teórico-metodológico as
ciências sociais e possui abordagem
qualitativa, mas sem excluir os aspectos
quantitativos. Estabelece ainda conexões
interdisciplinares com a Sociologia Rural,
Educação, Geografia, Ciência Agrária e
Ciência Política.
O pesquisador buscou evidências de
que a Pedagogia da Alternância,
introduzida na Amazônia em 1995,
contribuiu para o desenvolvimento local ao
incluir os povos amazônicos, garantindo o
seu direito social à educação no campo,
preconizado pela Constituição de 1988.
Entre os resultados obtidos pela pesquisa, o
autor afirma que ficou “patente o fato de
que a educação do campo é uma conquista
histórica dos movimentos sociais do Brasil,
com especial destaque no Amazonas.”
(Melo, 2017, p. 10). A pedagogia da
alternância é uma alternativa de educação
para os que trabalham no campo, é uma
proposta de educação emancipatória que
busca promover uma educação para a
autonomia, participação local e
desenvolvimento regional.
Esse levantamento demonstra que os
estudos que abordam exclusivamente o
tema Casa Familiar Rural ainda são
poucos, em especial na região norte, que é
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um território de grande demanda da
educação do campo e consequentemente de
muitas lutas e conflitos sociais, mas que
nem mesmo nas instituições de pesquisas
existentes na região um expressivo
interesse de pesquisadores em estudar a
temática.
Importante ressaltar que outras
pesquisas recentes abordando a educação
do campo e a CFR foram realizadas no
âmbito do Programa de Pós-graduação em
Educação (PPGE) ao qual este estudo está
vinculado. Embora algumas dissertações
ainda não constem no Banco de dados da
BDTD, optamos por inserir neste estudo
tais pesquisas, por considerarmos
discussões relevantes para o conhecimento
acerca dos movimentos em prol da
visibilidade da educação do campo na
região norte. Dentre os estudos
identificados, destacamos os de Gomes
(2015), Aires (2015) e Santos (2017), uma
vez que buscam dar visibilidade a essa
temática.
O estudo de Gomes (2015) intitulado
Percursos e desafios da Licenciatura em
Educação do Campo na UFT teve como
objetivo fazer a análise do “processo de
Implantação do curso de Licenciatura em
Educação do Campo (LEdoC) nos campi
da UFT de Arraias e Tocantinópolis em
seus aspectos políticos, epistemológicos e
pedagógicos.” (Gomes, 2015, p. 7).
A pesquisadora destaca algumas
dificuldades no processo de
implementação da LEdoC nos referidos
campi. Quanto aos aspectos políticos,
aponta que existem dificuldades para se
garantir na prática os objetivos e princípios
da educação do campo. Em relação aos
aspectos epistemológicos a pesquisadora
evidencia a problemática da articulação
dos conteúdos curriculares na perspectiva
humanizadora e emancipatória para os
sujeitos do campo, e quanto aos aspectos
pedagógicos considera que a pedagogia da
alternância propõe o rompimento com o
formato habitual de organização do
trabalho pedagógico, ao exigir uma nova
postura por parte de professores que vão
executá-la, mesmo estes terem recebido
uma formação acadêmica nos moldes
tradicionais que influenciam em suas
práticas.
Os estudos de Gomes (2015)
desvelam que:
A implantação da licenciatura em
educação do campo na UFT
configura uma conquista para a
população que vive no e do campo e
que se encontra num processo de
construção, que demanda por parte
dos seus executores novas posturas e
pedagogias, frente aos conflitos e
enfrentamentos para a sua efetiva
materialização. (Gomes, 2015, p. 7).
A autora Aires (2015) desenvolveu
Um estudo sobre a pedagogia da
alternância em Escolas Família Agrícola
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no estado do Tocantins”, que objetivou
analisar as “perspectivas de Pedagogia da
Alternância que orientam o Projeto Político
Pedagógico (PPP) da Escola Família
Agrícola (EFA) de Porto Nacional e da
Escola Municipal Família Agrícola de
Deus de Colinas do Tocantins. (Aires,
2015, p. 8).
Ao analisar os PPP das referidas
EFA, a pesquisadora observou que ambos
estão fundamentados nos princípios da
pedagogia da alternância e que quanto às
práticas dessa pedagogia, evidenciou que a
EFA de Porto Nacional exercita a
Alternância Real, que conforme Gimonet
(2007), não se limita a uma sucessão dos
tempos de formação teórica e prática, mas
realiza uma estreita conexão e interação
entre os dois, além de um trabalho
reflexivo sobre a experiência. Este tipo de
alternância privilegia o projeto pessoal e
coloca o formando como ator envolvido
em seu meio.
na EFA de Deus de Colinas do
Tocantins é praticada a Alternância
Aproximativa, considerada como uma
organização didática que se estabelece em
dois momentos: o escolar e o familiar, no
qual o alternante se dispõe de estratégias
para a observação do vivido. Os resultados
dessa observação constituem dados
subsidiários para realização do trabalho
teórico em ocasião do retorno do
alternante, visa também à organização do
vai e vem entre a atividade prática
(estágios) e a formação teórica. No
entanto, cabe o alternante apenas a
condição de observar o funcionamento da
realidade que está na sua base teórica
(Malglaive, 1979 apud Silva, 2012).
Considerando estas observações, a
pesquisadora concluiu que não a
efetivação integral da proposta da
pedagogia da alternância em suas práticas
e que esta situação tem se repetido em
outras escolas do campo em algumas
regiões do país. Desta forma, a autora
considera:
Que os registros históricos marcam a
negligência das políticas
educacionais à população do campo,
podemos ver nos PPPs das EFAs
pesquisadas e ouvir nas falas dos
entrevistados, o valor e a importância
da educação em alternância para o
desenvolvimento das comunidades
onde residem os estudantes. Disso
depreende-se que o Tocantins ainda
tem muito que fazer no intuito de
ofertar uma educação do campo de
fato, para o campo e no campo.
(Aires, 2015, p. 132).
Santos (2017) realizou a pesquisa
intitulada Desvelando cercas: o cenário da
educação básica do e no campo no estado
do Tocantins com o objetivo de:
Mapear a realidade da Educação
Básica do Campo no Estado do
Tocantins a partir de uma pesquisa
bibliográfica e documental e
considerando as escolas de
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assentamentos, comunidades
remanescentes de quilombos,
territórios indígenas, comunidades
rurais e família-agrícola no que diz
respeito ao quantitativo de unidades
escolares e de matrículas, as
condições de ensino e as políticas
públicas a ela destinadas. (Santos,
2017, p. 29).
O autor percorreu 3 etapas, a saber:
revisão bibliográfica relacionada a
temática; coleta de dados relacionados a
educação básica do campo no estado do
Tocantins no recorte temporal de 2013 a
2016 por meio de consulta a documentos
oficiais; a sistematização dos dados
coletados e a análise e discussões das
informações.
A pesquisa aponta que no estado do
Tocantins a educação do campo é um
processo em construção, uma vez que ao
desvelar o cenário o autor identificou um
grande número de escolas que estão
instaladas no campo, mas que não são
do campo”, uma vez que seguem um
currículo urbanizado e não cumprem as
Diretrizes Operacionais para as Escolas do
Campo. Outra questão apontada pelo autor
é que a infraestrutura, logística e a
formação dos profissionais que atuam nas
escolas, além da proposta de ensino
baseada na Pedagogia da Alternância, são
de baixa qualidade, pois não atendem os
padrões mínimos necessários para o efetivo
funcionamento.
Em geral, nessas pesquisas os autores
Gomes (2015), Aires (2015) e Santos
(2017) defendem a necessária realização de
mais estudos com temáticas envolvendo a
educação do campo, em todos os níveis de
ensino e perspectivas, para que esta
modalidade de ensino tenha mais
visibilidade e, consequentemente, mais
investimento e apoio por meio das políticas
públicas para a educação.
Considerações finais
O estado da arte das pesquisas
desvelou uma ampla área de investigação.
As discussões sobre a educação dos
sujeitos que vivem no e do campo requer
um olhar para o movimento da dinâmica
social, política e econômica. Estes
pressupostos devem estar presentes nos
estudos sobre a educação do campo.
Essa temática aos poucos tem
despertado interesses dentro das
instituições de ensino que produzem
pesquisas, uma vez que várias
perspectivas a serem investigadas no
contexto das experiências de educação do
campo, entre elas as experiências de
implantação das Casas Familiares Rurais.
As pesquisas, em especial nas
universidades vinculadas a região norte,
embora ainda seja um tema menos
estudado, tem despertado interesse em
áreas distintas, não se situando somente no
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campo da educação. Neste aspecto, tem
promovido a necessidade de novos olhares
e novas pedagogias.
Esperamos com este estudo enfatizar
a importância e relevância das pesquisas
que envolvem o tema, pois
compreendemos a escola do campo como
uma conquista de direitos sociais e
políticos dos povos do campo na luta
contra um sistema hegemônico, que por
muitos anos, tem precarizado a educação
nestas escolas, colocando-a em segundo
plano em relação à educação ofertada no
meio urbano. As experiências das CFR no
contexto da educação do campo, ao serem
concretizadas, enfrentam muitos desafios,
o que proporciona múltiplos significados,
constituindo-se como um campo vasto a
ser investigado.
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i
Camponesas são aquelas famílias que, tendo
acesso à terra, resolvem seus problemas
reprodutivos suas necessidades imediatas de
consumo e o encaminhamento de projetos que
permitam cumprir adequadamente um ciclo de vida
da família mediante a produção rural,
desenvolvida de tal maneira que não se diferencia o
universo dos que decidem sobre a alocação do
trabalho dos que se apropriam do resultado desta
alocação (Costa, 2000, p. 116-130 apud Costa &
Carvalho, 2012, p. 113).
ii
Nosella (2014) em seus estudos sobre a Pedagogia
da Alternância, assevera que a ela é caracterizada
pedagogicamente como vocacional e não objetiva o
princípio da profissionalização, mas que está a
serviço dos estudantes do meio rural e que cujo
propósito fundamental é a mudança social, partindo
das vivências do próprio meio educativo, onde é
oportunizado a participação dos pais agricultores,
ou seja, promove articulação da escola com a vida,
vinculada aos movimentos sociais.
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Informações do Artigo / Article Information
Recebido em : 22/03/2019
Aprovado em: 20/01/2020
Publicado em: 06/03/2021
Received on March 22th, 2019
Accepted on January 20th, 2020
Published on March, 06th, 2021
Contribuições no Artigo: A autora foi a responsável por
todas as etapas e resultados da pesquisa, a
saber: elaboração, análise e interpretação dos dados;
escrita e revisão do conteúdo do manuscrito e; aprovação
da versão final publicada.
Author Contributions: The author was responsible for the
designing, delineating, analyzing and interpreting the data,
production of the manuscript, critical revision of the content
and approval of the final version published.
Conflitos de Interesse: A autora declarou não haver
nenhum conflito de interesse referente a este artigo.
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Carrijo, W. B. M. (2021). Casas Familiares Rurais no
Contexto da Educação do Campo: um panorama das
pesquisas na Região Norte 2008-2018. Rev. Bras. Educ.
Camp., 6, e6624. http://dx.doi.org/10.20873/uft.rbec.e6624
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CARRIJO, W. B. M. Casas Familiares Rurais no Contexto
da Educação do Campo: um panorama das pesquisas na
Região Norte 2008-2018. Rev. Bras. Educ. Camp.,
Tocantinópolis, v. 6, e6624, 2021.
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