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Organizar as escolas do campo por
ciclos, no meu entender, seria um
grande avanço. Porque a escola rural
já trabalha crianças de idade
próximas, socializadas de maneira
bastante interativa, vivenciando
experiências sociais, culturais, de
produção muito próximas. A escola
não separaria a crianças e
adolescentes por níveis de conteúdos
aprendidos, por séries, mas
aproximaria por experiências, idades
culturais, sociais, aprendizados,
socialização. (Arroyo & Fernandes,
1999, p. 36).
Como vemos, o relacionamento entre
as crianças de idade distintas favorece a
aquisição de saberes e vivências,
contribuindo para o desenvolvimento
integral da criança. Nos últimos anos “a
política tem sido a de estimular cada vez
mais os estudos na cidade, buscando
diminuir o número de escolas no campo,
sob a alegação de que são as mais caras e
tornam-se inviáveis” (Arroyo, Caldart &
Molina, 2004 p. 35). Isso faz com que os
alunos se desloquem de sua comunidade
até a cidade para ter acesso à escola.
Nesse pensamento, ao abordar o
vínculo de relação e identidade com a
comunidade as docentes P1, P2 e P4
afirmaram sentir-se parte do espaço, pois
ambas residem ou nasceram no espaço do
campo: “sou parte da história. Sou parte da
comunidade. Meus alunos carregam nas
veias o sangue dos mesmos antepassados
que eu” (Informação verbal - P2). Para
Santos (2012), é necessário reconhecermos
os sentimentos dos que vivem na e da terra,
pois recriam o sentimento de pertença e
reconstroem suas identidades com a terra e
sua comunidade. Sem dúvidas, esse
sentimento aliado ao olhar de valorização
acerca do espaço da escola reconhecendo e
considerando as potencialidades, a cultura
e os saberes da comunidade tornam a
prática pedagógica mais significativa, pois
é dotada de sentido. A docente P3 também
relatou que possui vínculos com os alunos,
pois conhece suas famílias e modo de vida,
afirmando conhecer a comunidade e seu
modo de viver e relacionar-se, mas não
pertence a esse espaço. Um dos problemas,
segundo Alencar (2010, p. 218):
O que impossibilita a incorporação
da vida campesina, da identidade do
campo, da vida, história, memória,
saberes e lutas do sujeito do campo
no interior da escola, como parte da
práxis pedagógica, pois o próprio
docente não tem reconhecido o seu
saber, suas memórias, sua vida e
experiências, sua autoria e
criatividade profissional, pois são
regidos a uma conformação de
identidade que o homogeneíza.
(Alencar, 2010, p. 218).
Assim, ao interrogar se os saberes
curriculares da sua escola estão
organizados para contemplar o contexto e a
realidade do campo, as professoras P1 e P2
afirmaram que sim, já as professoras P3 e
P4 relataram que não, mas que buscam
adaptar na prática: