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discussões sobre as problemáticas, da
comunidade, também de o que
acontece no mundo (informação
verbal, 18 de março 2019).
Neste ponto é fundamental trazer as
palavras de Freire em seu texto A
importância do ato de ler:
Direito deles de falar a que
corresponde o nosso dever de escutá-
los. De escutá-los corretamente, com
a convicção de que cumpre um dever
e não com a malicia de que faz um
favor para receber muito mais em
troca. Mas, como escutar implica
falar também ao dever de escutá-los
corresponde o direito que igualmente
temos de falar a eles. Escutá-los no
sentido acima referido e, no fundo,
falar com eles, enquanto
simplesmente falar a eles seria uma
forma de não ouvi-los. Dizer-lhes
sempre nossa palavra, sem jamais
nos expormos e nos oferecermos a
deles, arrogantemente convencidos
de que estamos aqui para salvá-los, e
uma boa maneira que temos de
afirmar o nosso elitismo, sempre
autoritário (1997, p. 26).
Assim, escola Estadual Florestam
Fernandes, com o currículo crítico e o
diálogo como ferramenta pedagógica,
logram romper a educação bancária que é
implementada na maioria das escolas
urbanas e em alguns dos contextos rurais,
onde não se valoriza a dialogicidade. O
educador mantém uma relação hierárquica
em que o conhecimento é imposto e o
diálogo não se estabelece.
Essa educação bancária valoriza o
conhecimento a partir da perspectiva
europeia, deslegitimando o conhecimento
ancestral, indígena e comunitário, sendo
assim um exemplo dos mecanismos de
poder da colonialidade. Assim, “Esse
modo de conhecimento foi, por seu caráter
e por sua origem eurocêntrico, denominado
racional; foi imposto e admitido no
conjunto do mundo capitalista como a
única racionalidade válida e como
emblema da modernidade” (Quijano, 2007,
p. 94).
De maneira oposta, as escolas do
MST, mesmo as dirigidas pelo poder
público, baseiam-se em princípios
filosóficos e pedagógicos próprios cuja
práxis educa os sem-terra, fortalecendo sua
identidade e integrando-os aos ideais do
Movimento, à luta e à resistência, em
palavras do entrevistado 4:
Os professores têm que levar na aula
de classe as contradições e a
diversidade da realidade,
problematizar as situações atuais,
quando uma escola e problematizada
os sujeitos pode despertar outros
caminhos, pode escolher. Em isso
radica a diferencia da escola do MST,
trazendo o passado para refletir o
presente. Com consciência crítica, a
escola faz que os estudantes pensem
quem sou eu, para onde vou, onde eu
quero chegar, sempre em reflexão,
sempre com a claridade de sua
identidade sem-terra (Informação
verbal, 28 de março 2019).
Com efeito, a Escola Estadual
Florestan Fernandes, construiu um Projeto
Político Pedagógico que materializa as
propostas do MST, já que seus principais