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Foi em 1722, quando Bartolomeu
Bueno, o Anhanguera, e João da
Silva Ortiz fecharam o ciclo
bandeirante, com a ocupação das
terras centrais – que surgiu o Estado
de Goiás, em pleno ciclo do ouro e da
garimpagem. Utilizados como mão
de obra escrava, os negros andavam
cansados da submissão e dos castigos
sofridos na exploração das "Minas
dos Goyazes". Muitos fugiram,
escondendo-se na mata, entre serras,
num local de difícil acesso. A partir
daí é que deu início a formação do
quilombo, no município de
Cavalcante, na região conhecida
como Morro do Chapéu (hoje
município de Monte Alegre),
formando assim o povo Kalunga
nessas regiões. (Costa, 2013, p. 14).
Cavalcante, e os seus arredores
carregam uma história inteiramente
marcada pela luta e resistência, dos povos
que habitaram e habita. Além dos povos
negros escravizados, a região norte fora
habitada por índios, que também foram
alvos das garras dos colonizadores, sendo
massacrados, tendo parte da população
dizimada.
Ligada a uma história de exploração
e saque dos recursos naturais, hoje
Cavalcante ocupa cerca de 60% da área
total do Parque Nacional da Chapada dos
Veadeiros, com uma grande
biodiversidade, que ainda se mantém. Mas
diante de um sistema espoliativo, que
perpetua, a região encontra-se defronte ao
grande avanço das empresas mineradoras.
A organização dos quilombos varia
de acordo com região e com o tempo
histórico, ainda que existam estruturas
organizativas do passado, como as roças
comunitárias, os quilombos hoje se
organizam de maneira diferente. Neste
sentido, relacionado aos núcleos de
população e locais de habitação,
recorremos às afirmações de Brasil (2001):
Nesse território, existem quatro
núcleos principais de população: a
região da Contenda e do Vão do
Kalunga, o Vão de Almas, o Vão do
Moleque e o antigo Ribeirão dos
Negros, depois rebatizado como
Ribeirão dos Bois. E é assim que os
moradores se identificam, quando se
pergunta de onde eles são: do Vão de
Almas, da Contenda, do Moleque ...
Mas nem sempre eles falam só desses
núcleos para dizer onde moram.
Falam das pequenas localidades que
existem nesses lugares maiores,
porque é lá que eles de fato vivem.
Falam de lugares que se chamam
Riachão, Sucuri, Tinguizal, Saco
Grande, Volta do Canto, Olho
d'Água, Ema, Taboca, Córrego
Fundo, Terra Vermelha, Lagoa,
Porcos, Brejão, Fazendinha, Vargem
Grande, Engenho, Funil, Capela e
mais dezenas de outros nomes
(Brasil, 2001, p. 30).
O território quilombola Kalunga, na
atualidade, é gerido por meio de
associações comunitárias as quais
cumprem a função legal de representar as
comunidades e o território frente a diversos
órgãos como Estado. "O Decreto nº 4887
de 2003, em seu artigo 17, estabelece que a
terra será reconhecida e registrada
mediante entrega de título coletivo às
comunidades, que serão representadas por