Revista Brasileira de Educação do Campo
The Brazilian Scientific Journal of Rural Education
ARTIGO/ARTICLE/ARTÍCULO
DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.rbec.e7245
Tocantinópolis/Brasil
v. 4
e7245
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2019
ISSN: 2525-4863
1
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A contribuição da Pedagogia da Alternância e do projeto
profissional jovem nos projetos de vida de jovens egressos
da EFA de Jaguaré/ES
Eric de Oliveira
1
, Mônica Aparecida Del Rio Benevenuto
2
1
Escola Família Agrícola de Jaguaré / Movimento de Educação Promocional do Espírito Santo - MEPES. Rodovia do José
Dalvit km 10, Bairro Boa Vista. Jaguaré - ES. Brasil.
2
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - UFRRJ.
Autor para correspondência/Author for correspondence: eric.eira@bol.com.br
RESUMO. Neste artigo, buscamos verificar a contribuição da
pedagogia da alternância nos projetos de vida laborativa dos
estudantes que concluíram o curso Técnico em Agropecuária na
Escola Família Agrícola de Jaguaré. Expomos parte de uma
pesquisa desenvolvida por meio de um recorte temporal,
compreendido entre os anos de 2011 e 2016 onde investigamos
os jovens egressos da EFA nesse intervalo, mediante a
participação livre e voluntária dos mesmos enquanto sujeitos
dessa análise. O objetivo foi investigar a realidade desses jovens
onde procuramos especificamente compreender se esses jovens
colocaram em prática o Projeto Profissional Jovem (trabalho
final do Curso Técnico em Agropecuária) em suas propriedades
buscando autonomia profissional; verificar a permanência ou
não no campo, bem como a continuidade dos mesmos nos
estudos. Os resultados revelaram que os jovens colocaram em
prática os projetos, deram continuidade dos estudos e
permanência no campo, mantendo-se economicamente por meio
de atividades agropecuárias com a família e outros jovens
pluriativos. Constamos, nesse contexto, que a Pedagogia da
Alternância tem se destacado no desenvolvimento da formação
integral dos jovens rurais que vivenciaram essa pedagogia. A
conclusão aponta desafios e proposições quanto às
possibilidades de avanço no campo dos projetos na agricultura
familiar.
Palavras-chave: Projetos, Jovens Rurais, Pedagogia da
Alternância.
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The contribution of the Alternation Pedagogy and the
young professional project in the life projects of young
graduates of the EFA in Jaguaré/ES
ABSTRACT. In this article, we seek verify the contribution of
the alternation pedagogy in the projects of working life of the
students that concluded the Technical course in Farming in the
Agricultural Family School of Jaguaré. We exposed part of a
research developed through a temporal clipping between the
years of 2011 and 2016, where we investigated the young
graduates of the EFA (abbreviation for Agricultural Family
School in Portuguese) in that interval, upon their free and
voluntary participation as subjects of this analysis. The objective
was to investigate the reality of these young people where we
specifically sought to understand if they put in practice the
Young Professional Project (final work of the Technical Course
in Farming) in their properties seeking professional autonomy;
verify the permanence or not in the countryside, as well as the
continuity of the same ones in the studies. The results showed
that the young people put the projects into practice, continued
their studies and remained in the countryside, maintaining
themselves economically through agricultural activities with
their families and other young people. In this context, we
noticed that the Alternation Pedagogy has stood out in the
development of the integral formation of rural young people,
who have experienced this pedagogy. The conclusion points out
challenges and propositions regarding the possibilities of
advancement in the countryside of projects in family agriculture.
Keywords: Projects, Rural Youth, Alternation Pedagogy.
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La contribución de la Pedagogía de la Alternancia y el
proyecto de jóvenes profesionales en los proyectos de vida
de jóvenes graduados de la EFA de Jaguaré/ES
RESUMEN. En este artículo, tratamos de verificar la
contribución de la pedagogía de la alternancia en los proyectos
de vida laboral de los estudiantes que concluyeron el curso
técnico en Agropecuaria en la Escuela Familiar Agrícola de
Jaguaré. Presentamos parte de una encuesta desarrollada con
arreglo de un recorte temporal entre los años 2011 y 2016,
donde indagamos a los jóvenes graduados de la EFA en ese
intervalo, a través de su libre y voluntaria participación como
sujetos de este análisis. El objetivo fue investigar la realidad de
estos jóvenes dónde buscamos específicamente entender si estos
jóvenes pusieron en práctica el Proyecto de Jóvenes
Profesionales (trabajo final del Curso Técnico en Agropecuaria)
en sus fincas, en busca de la autonomía profesional; Verificar la
permanencia o no en el campo, así como la continuidad de los
mismos en los estudios. Los resultados revelaron que los
jóvenes pusieron en práctica los proyectos, continuaron sus
estudios y permanecieron en el campo, manteniendo
económicamente con arreglo de actividades agrícolas con sus
familias y otros jóvenes. En este contexto, observamos que la
Pedagogía de la Alternación ha destacado en el desarrollo de la
formación integral de los jóvenes rurales que han experimentado
esta pedagogía. La conclusión apunta los retos y propuestas con
respecto a las posibilidades de avance en el campo de los
proyectos en la agricultura familiar.
Palabras clave: Proyectos, Jóvenes Rurales, Pedagogía de
Alternancia.
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Introdução
Os camponeses que criaram a
Pedagogia da Alternância na França na
década de 1930, não se preocuparam em
buscar apenas uma escola tradicional para
atender seus filhos, mas para atender uma
demanda das comunidades dentro de uma
formação integral, sobretudo, relacionado
com o setor agropecuário local. Essa ideia
foi se espalhando e chegando ao Brasil no
final da década de 1960 por meio do
pároco Padre Humberto Pietrogrande, no
sul do Estado do Espírito Santo.
As Escolas Famílias têm por objetivo
trabalhar a Pedagogia da Alternância, com
a formação das crianças, adolescentes e
jovens do campo e da cidade
i
. A
Alternância é um sistema de formação,
cujo princípio educativo e a aprendizagem
são organizados em função do trabalho,
permitindo períodos de formação na sede
da escola, que se alternam com períodos no
meio sócio profissional. O estudante
vivencia, de forma alternada, experiências
de formação na escola, conjugada com as
experiências que a família e a comunidade
lhe proporcionam, durante o período em
que permanece em alternância no meio
sócio familiar.
Por meio da Pedagogia da
Alternância a escola consegue
proporcionar uma educação própria e
apropriada do campo, que contribua com o
fortalecimento da agricultura familiar em
um projeto que valorize e garanta a
agricultura camponesa e se integre na
construção social de sustentabilidade do
campo em nosso país. Nesta lógica, a
Escola Família de Jaguaré/ES oferta o
curso “Técnico em Agropecuária -
Educação Profissional Técnica Integrada
ao Ensino Médio com Habilitação em
Agropecuária Eixo Tecnológico:
Recursos Naturais”, com o objetivo de
promover o meio rural sustentável e o
engajamento solidário das famílias
camponesas (PPP, 2015).
Em meio às ferramentas utilizadas na
Pedagogia da Alternância para trabalhar
com os jovens está à disciplina
Planejamento e Projeto que desenvolve o
Projeto Profissional Jovem-PPJ, ou o
projeto de vida como vamos chamar neste
artigo. Ao final dessa disciplina espera-se
que os estudantes adquiram competências
capazes de compreender as diferentes
formas de projetar e gerenciar projetos,
entender como um instrumento que
permite a formação integral e qualidade da
formação profissional do jovem, em vista
da autonomia e promoção da sua realidade
e dominar a metodologia e as etapas de
planejamento nas opções dos projetos.
Essa prática vai ao encontro com a
perspectiva das EFAs de formar sujeitos
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pensantes, que lhes permitam mais do que
receber uma formação, mas colocar-se
frente à realidade, apropriar-se do seu
momento histórico e o modo de pensar sua
realidade e reagir sobre ela por meio dos
projetos desenvolvidos por eles, uma vez
que os estudantes relacionam a teoria com
a prática no processo de ensino da
educação do campo na Pedagogia da
Alternância.
A hipótese de que os jovens rurais
deixam suas propriedades e vão à busca de
outras atividades não rurais como meio de
sobrevivência, como observado por
Abramovay (1992), Carneiro (2005) e
Castro (2010) é comum em todos os
lugares do país, ou seja, em todo espaço
brasileiro há jovens deixando o campo para
a cidade num movimento migratório. Uma
inquietação que foi se construindo como
questão do estudo, era investigar se no
município de Jaguaré, onde a Pedagogia da
Alternância é bastante consolidada desde
1971, os jovens rurais após quatro anos de
estudo em um Curso Técnico em
Agropecuária, preparando-se
profissionalmente para executar com a
família os projetos e atividades
agropecuárias, tiveram êxito em suas
propostas.
Com esse intuito foi realizada uma
pesquisa de abordagem qualitativa e
quantitativa, seguindo a perspectiva
dialética, para a coleta de dados.
Realizamos entrevistas semiestruturadas,
constituídas a partir de um roteiro prévio,
que possibilitaram que outras questões
fossem inseridas no transcorrer da
investigação, tornando a interação mais
dialógica e dinâmica entre os entrevistados
e o pesquisador. As falas dos sujeitos
contribuíram para verificar a aplicação do
Projeto Profissional Jovem na prática
laborativa dos egressos do Curso Técnico
em Agropecuária.
A pesquisa também se ancorou na
observação do dia a dia dos monitores e
dos estudantes e nas visitas feitas às
residências dos egressos com o objetivo de
conhecer in loco os projetos implantados e
o desenvolvimento da agricultura familiar.
Foram convidados a participar desse
processo todos os 112 egressos que
concluíram o Curso Técnico em
Agropecuária, entre os anos de 2011 e
2016, na EFAJ. Dentre os convidados, 45
egressos, moradores das comunidades
rurais do município de Jaguaré, aceitaram
participar do estudo. Isso corresponde a
uma amostragem de 40% do total de
estudantes que concluíram o curso cnico
nesse período.
Os egressos ficaram bastante
interessados com o projeto da pesquisa e
desejaram boa sorte na produção do
trabalho. Houve angústia no sentido de
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confirmar uma data específica e nem todos
os egressos compareceram, pois no
montante de 112 egressos compareceram
45. A coleta desses dados durou quatro
meses, de agosto a novembro de 2017. Os
depoimentos fornecidos pelos atores
selecionados no presente estudo têm por
base uma análise qualitativa dos dados,
observando-se as categorias nela
trabalhadas.
O artigo foi organizado, então, em
quatro seções: a primeira apresentamos os
aspectos teóricos dentro de um contexto
histórico da Pedagogia da Alternância e
sua importância/contribuição para o meio.
Na segunda buscamos mostrar, ainda que
seja num aspecto teórico e metodológico, o
projeto de vida perpassando com a
juventude rural estudada. Na terceira seção
apresentamos a influência que a Pedagogia
da Alternância traz para a juventude do
campo como a sua permanência a partir
dos projetos de vida e na última, uma
pequena conclusão sobre a temática
desenvolvida que aponta desafios e
proposições quanto às possibilidades de
avanço no campo dos projetos na
agricultura familiar.
Origem e evolução da Pedagogia da
Alternância
Para entender o surgimento da
Pedagogia da Alternância, é necessário um
breve resgate de sua origem e, para isso,
recorrer a Jesus (2011) onde a mesma,
destaca que a primeira EFA, surgiu na
França, com data oficial de 21 de
novembro de 1935, por iniciativa de um
grupo de camponeses e de um pároco que
acreditavam ser possível criar uma escola
que atendesse às necessidades do meio
rural e que ajudasse a ampliar as
possibilidades dos conhecimentos básicos
do jovem do campo. Nessa linha, de
acordo com Nosella (1977/2007), a história
das Escolas Famílias é a história da
convicção de um camponês e também
pároco Abbé Granereau, comprometido
com o meio rural francês, que passava pelo
descaso, injustiças e que o levou a romper
com o paradigma urbano rumo a uma nova
perspectiva educacional que transformasse
seu entorno. Foi a partir da sua lida com a
terra, com os problemas que o meio rural
vinha vivendo, que surgiu a ideia de uma
escola que atendesse às necessidades do
campo: “foi de fato, nesta luta íntima com
a terra, neste trabalho diário nos campos
que, pouco a pouco, entendi o que havia de
potencialmente grande na vida do homem
do campo e também o que lhe faltava”
(Granereau, 1997 como citado em Nosella,
2007, p. 17).
Conforme menciona Jesus (2011), a
metodologia da alternância praticada nas
EFAs surgiu a partir da necessidade de não
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desvincular o jovem do trabalho no campo.
Os pais necessitavam de seus filhos nas
propriedades e estes não podiam também
perder o vínculo com a família e com a
agricultura. Desta forma, o sacerdote
organizou o grupo de jovens de modo que
pudessem passar um período na escola e
depois outro na família.
A experiência educativa realizada em
alternância desenvolveu-se no período
entre as Guerras Mundiais, momento em
que o mundo sofria grandes
transformações em nível econômico e
social, na França. Nessa época, a
agricultura francesa sofria fortes
transformações, ampliando o êxodo rural.
Então, surge o primeiro Centro Familiar de
Formação em Alternância - CEFFA
ii
.
A experiência bem sucedida na
França possibilitou a expansão das EFAs
para outros países da Europa e depois para
o mundo inteiro. A EFA é uma
organização escolar específica de
aprendizagem e/ou de qualificação
profissional para o meio rural.
No Brasil encontramos a maior
variedade de experiências de educação
rural que utilizam integral ou parcialmente
a Pedagogia da Alternância para a
formação dos jovens de mais de duas mil
comunidades rurais em 21 estados do país.
Com o processo de expansão das EFAs
principalmente no Norte do Estado do
Espírito Santo nos últimos anos, as escolas
em alternância vêm aumentando cada vez
mais conforme apresentado na tabela
abaixo.
Tabela 1 - Crescimento das Escolas Famílias no Espírito Santo
Ano de Fundação
Número de EFAS
1968- 1988
12
1989- 2008
14
2009- 2018
17
Total
43
Fonte: Raceffaes (2014), MEPES (2018).
Na tabela abaixo podemos verificar
que no ano de 2017 a Pedagogia da
Alternância estava presente em 21 Estados
do país. Para chegar a esses dados foi
necessário recorrer a Menezes (2013), a
UNEFAB e a Associação das Casas
Familiares Rurais ARCAFAR-Sul/Norte,
onde foram enviados e-mails as regionais
que são filiadas para que pudéssemos obter
dados atualizados em relação ao número de
escolas como se verifica na tabela 02.
Tabela 2 - Número de Escolas de Pedagogia da Alternância no Brasil no ano de 2017.
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8
Estados
Número de escolas
Acre (AC)
01
Amapá (AP)
05
Amazonas (AM)
06
Bahia (BA)
38
Ceará (CE)
03
Espírito Santo (ES)
43
Goiás (GO)
04
Maranhão (MA)
40
Mato Grosso (MT)
01
Mato Grosso do Sul (MS)
03
Minas Gerais (MG)
21
Pará (PA)
27
Paraná (PR)
43
Piauí (PI)
17
Rio de Janeiro (RJ)
03
Rio Grande do Norte (RN)
02
Rio Grande do Sul (RS)
08
Rondônia (RO)
06
Santa Catarina (SC)
22
Sergipe (SE)
01
Tocantins (TO)
03
Total
296
Fonte: Menezes (2013), UNEFAB (2017), ARCAFAR-SUL/NORTE (2017).
A história das Escolas Família
Agrícola no Brasil, iniciou-se numa época
de escuridão política, em que quase todas
as forças sociais mais lúcidas e
comprometidas com os anseios populares
foram amordaçadas. Essa história teve
início no Estado do Espírito Santo com a
chegada de pessoas com o conhecimento
da experiência do projeto EFA na Itália,
que articularam as famílias rurais e as
lideranças políticas, populares e religiosas
a fim de implantar esse projeto no Estado,
que resultou na fundação do MEPES
iii
.
A importância da Pedagogia da
Alternância na Escola Família Agrícola
de Jaguaré
A partir das análises documentais,
verificamos que a Escola Família Agrícola
de Jaguaré - EFAJ nasceu em 1971, através
da ação da Diocese de São Mateus, do
MEPES e lideranças locais que estavam
preocupadas com o êxodo rural, a
expansão da agroindústria, principalmente
a Aracruz Celulose e com a carência de
uma educação para os jovens rurais. As
lideranças tinham como meta a
conscientização, a promoção e o
desenvolvimento do homem e da mulher
do meio rural. A alternativa encontrada, na
ocasião foi à criação de duas escolas no
município de São Mateus, sendo uma em
Jaguaré, ainda distrito do município de São
Mateus, com o estudo voltado para atender
os rapazes e outra no distrito de Nestor
Gomes- Km 41, com o Curso de Economia
Doméstica para as moças.
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É citado no PPP (2015), que a EFA
de Jaguaré surgiu como alternativa para
dar respostas aos problemas
socioeconômicos e políticos do meio rural
os quais ocasionavam a expulsão dos
pequenos e médios proprietários de suas
terras. Até o ano de 1990, ela ofereceu o
Curso Supletivo de Suplência em Nível de
Grau ao mesmo tempo em que a
realidade do Município exigia também o
curso de Grau na modalidade
profissionalizante.
O município de Jaguaré possui
atualmente três escolas em alternância em
nível do Ensino Fundamental nas séries
finais, que são mantidas pelo município
denominadas públicas, sendo elas: Escola
Comunitária Rural Municipal de Japira,
Giral e São João Bosco. A criação dessas
Escolas teve por finalidade ampliar o
atendimento ao jovem agricultor do
município e nos estudos do Curso Técnico
em Agropecuário de Ensino Médio da
Escola Família Agrícola de Jaguaré de
origem filantrópica. De certa maneira, isso
vem ocorrendo, pois cerca de 95% dos
estudantes da EFAJ são procedentes dessas
escolas (PPP, 2015).
De acordo com o Coordenador
Administrativo da EFAJ
iv
, a oferta da
Educação Profissional de Nível Médio
Integrado ao Ensino Médio na EFAJ foi
uma reivindicação das famílias de
agricultores que desejavam uma educação
própria e apropriada para continuidade dos
estudos dos filhos, com ênfase na meta do
desenvolvimento rural sustentável e
solidário do campo. Esse anseio se tornou
real e está comprovado, na medida em que
ao terminar o curso, os estudantes estão
exercendo várias atividades no meio
agrícola, na extensão rural e dando
continuidade aos estudos no mesmo campo
da formação, conforme os dados coletados
apontaram. O processo de luta dos povos
organizados do campo trouxe a
especificidade da Educação do Campo
associada à produção da vida, do
conhecimento e da cultura do campo,
evidenciando o direito de estudar no lugar
onde vivem.
O Projeto Profissional Jovem e a
Pedagogia da Alternância
A EFAJ com a oferta do Curso
Técnico em Agropecuária Integrado ao
Ensino Médio - Eixo Tecnológico:
Recursos Naturais - Habilitação:
Agropecuária, tem formado novos
profissionais que estão inseridos em uma
nova realidade rural na região, ao passo
que cresce a expectativa referente ao
potencial agrícola e de mercado. Nas
EFAs, os jovens estudantes são orientados
a entenderem de forma crítica os porquês
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das mudanças que acontecem na realidade
do campo.
Na Pedagogia da Alternância, o saber
prático obtido junto à família, na execução
das tarefas e a teoria, obtida na escola
durante a troca de experiências e absorção
dos conteúdos ensinados, se fundem.
Assim, podem auxiliar e aprofundar a
compreensão do que ocorre no dia-a-dia,
na família e na escola, onde o
conhecimento emerge, se amplia e se
consolida, facilitando ao jovem alternar e
valorizar aquilo que ele faz e sabe. É na
vinculação do conhecimento escolar com a
ambiência familiar que o jovem reflete
sobre seu meio e elabora seu marco de
referência (PPP, 2015).
A confecção do projeto não exige
simplesmente que os estudantes iniciem o
diagnóstico, mas que conheçam sua
importância, como é elaborado e como se
articula com as fases seguintes. É
necessário que os jovens experimentem
diagnosticar situações ligadas à sua
realidade, sobre a qual têm informações
significativas. A elaboração do projeto ao
longo do processo de formação torna-se
um instrumento de pesquisa, de
reconhecimento pelo próprio jovem das
práticas da sua família e, de forma mais
geral, da agricultura familiar, assim como
de aplicação dos conteúdos do plano de
curso.
Para nortear a discussão a respeito da
produção e desenvolvimento do PPJ
dialogamos com Gandin (1997) sobre o
planejamento como prática educativa. A
princípio o autor apresenta que o
planejamento é uma tarefa vital, uma união
entre vida e técnica para o bem-estar do
homem e da sociedade. Pensar, ter ideias e
planos antes mesmo de colocar no papel
exige um esforço de quem vai planejar,
entretanto, nem todos gostam de executar
essa tarefa. Ao elaborar ou propor o
projeto, é preciso ter em mente que o
planejamento é para uma via de mudança,
de transformação, seja ela pessoal,
familiar, profissional ou da sociedade de
modo geral.
De acordo com o PPP- Projeto
Político Pedagógico da Escola, o PPJ é um
instrumento que contribui para que o
estudante, partindo da identidade do grupo
familiar, dos seus objetivos e planos de
futuro, perceba a unidade de produção da
sua família ou a comunidade como espaço
para empreender uma alternativa viável a
sua realidade. O projeto deve permitir,
concomitantemente, o entendimento sobre
a necessidade de ampliar horizontes e de
construir redes de relações que viabilizem
iniciativas inovadoras para o local, seja em
termos de produção e diversificação, de
processos beneficiamento, transformação
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ou comercialização, ou ainda, de formas de
organização dos produtores.
Dentro de uma realidade dinâmica e
complexa, o projeto é um instrumento
importante, comum a todas as instituições
e a um número sempre maior de pessoas.
Trabalhar com projetos a partir de questões
ou situações reais e concretas,
contextualizadas, interessa de fato aos
estudantes. Sendo assim, compreender a
situação problema é o objetivo do projeto.
A juventude rural e os jovens rurais de
Jaguaré
Para falar de juventude e, sobretudo
juventude rural, faz-se necessário
desconstruir alguns rótulos e estereótipos e
percorrer alguns conceitos e considerações
acerca do tema, tendo em vista que não
existe um único critério para a
conceituação de juventude, mas, maneiras
complementares ou divergentes. No
entanto, é a definição da UNESCO
produzida a partir da Conferência
Internacional sobre Juventude, em
Grenoble (1964), a mais utilizada por
pesquisadores:
O termo juventude designa um estado
transitório, uma fase da vida humana
de começo bem definido pelo
aparecimento da puberdade; o final
da juventude varia segundo critérios
e os pontos de vista que se adote para
determinar se as pessoas são jovens.
Por juventude entende-se não uma
fase da vida, mas também indivíduos
que pertencem aos grupos de idade
definidos como jovens.
O termo “juventude rural” e o uso
de correlatos com “jovem rural”, “jovem
camponês”, “jovem do campo” era
utilizado, como apontou Flitner (1968), no
século XVIII, como em um estudo de
Pestalozzi sobre populações camponesas.
Desde o século XX, em trabalhos sobre a
“família camponesa”, o termo
individualizado “jovem camponês”, ou
simplesmente “jovem”, vem sendo
acionado com frequência para designar
filhos de camponeses que ainda não se
emanciparam da autoridade paterna
geralmente solteiros que vivem com os
pais. Castro (2010) Salienta ainda que, no
final da cada de 1990 e início do século
XXI, a “juventude rural”, os “jovens
camponeses”, os “jovens agricultores
familiares” ganharam impulso como temas
privilegiados em diversas pesquisas.
No Brasil, têm cerca de 08 milhões
de jovens morando em regiões rurais
(IBGE, 2010). Diversos estudos, no Brasil
e em outros países, apontam para a
tendência da saída, nos dias atuais, de
jovens do campo rumo às cidades. O que
torna a questão foco do debate atual é o
contexto da política de Reforma Agrária
que vem sendo implementada no Brasil
desde 1985. Nesse caso, Abramovay et al.
(1998) aponta para a reversão no quadro de
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migração do campo para a cidade
provocada pelo assentamento em massa de
famílias no meio rural. Porém, segundo o
autor, essa reversão estaria comprometida
pelo êxodo dos jovens. Essa situação seria
agravada pela tendência de migração maior
entres os jovens, provocando o que ele
denominou masculinização dos campos
(Castro, 2008).
Para Castro (2010) “ficar ou sair” do
campo é mais complexo do que a leitura da
atração pela cidade e nos remete à análise
de juventude como uma categoria social
chave pressionada pelas mudanças e crises
da realidade no campo, e para a qual a
educação do campo tornou- se uma
questão estratégica.
De acordo com Ferreira (2010)
v
o
jovem rural é categoria chave para a
reprodução do campo e a agricultura
familiar. Os jovens tem um papel além dos
jovens urbanos, tem a continuação da
unidade de produção familiar rural. A
propriedade familiar é dividida até certo
ponto, ou seja, com isso, boa parte dos
jovens precisa buscar outra forma de
trabalho.
Ferreira (2010) salienta ainda que os
jovens estão dentro dos movimentos
sociais reivindicando seus direitos. Os
jovens homens têm preferência na sucessão
familiar e as mulheres mais para a
educação e por sua vez tem mais
escolarização que os homens. Existe uma
preocupação onde que se os jovens não
participarem dos eventos com um tempo
vai está todo mundo morando na cidade.
Para Stropasolas (2011) de fato, a
organização do trabalho na agricultura
familiar, fortemente marcado por um viés
de gênero, destina ao homem o espaço da
produção e da gestão da propriedade.
Dessa forma, as mulheres não são
preparadas, nem estimuladas a se envolver
ou se interessar por essas questões. Assim,
em muitos casos, as moças parecem aceitar
como natural o fato de o sucessor ser um
irmão.
Castro (2009) demonstra que o
êxodo rural e a migração são processos
antigos no Brasil, sendo a migração
sazonal uma prática antiga dos
agricultores, como meio de complementar
a renda familiar, em contextos de escassez
de terras e dificuldade de reprodução dos
agricultores. A autora afirma que:
Juventude/jovem es marcada por
relações de hierarquia social.
Juventude definida seja como
revolucionário-transformadora”,
seja como “problema”, é, muitas
vezes, tratada a partir de um olhar
que define hierarquicamente o papel
social de determinados indivíduos e
mesmo organizações coletivas. A
análise dessa categoria permite
percebermos como o processo de
construção de categorias sociais
configuram e reforçam relações de
hierarquia social”. (Castro, 2009, p.
195).
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Sendo assim, para essa autora as
identidades dos jovens estão permeadas
tanto pela circulação dos jovens entre
campo e cidade, como pelas relações de
autoridade e hierarquia, tanto na família
quanto nas esferas coletivas e de
organização de comunidades rurais.
Weisheimer (2001) aponta que o
ingresso no trabalho é visto como um
elemento central na transição juvenil,
que é por meio dele que os jovens
começam a adquirir uma relativa
autonomia perante a família de origem.
Porém, é preciso lembrar que essa inserção
profissional é ainda precária entre eles, em
razão, entre outras coisas, da fragilidade de
sua condição e da precariedade das
próprias relações de trabalho atuais, o que
intensifica a situação ambígua da
juventude. Conforme propõe Carneiro, ao
buscar delimitar o universo de estudo dos
jovens rurais:
O jovem é aquele indivíduo que se
encontra em uma fase caracterizada
pela discrepância entre o projeto de
vida vislumbrado e as atividades em
realização. Ou seja, a existência de
um projeto para o futuro
acompanhado de estratégias com
graus variados de idealização seria,
em termos genéricos, o que
caracterizaria um indivíduo como
jovem nas comunidades pesquisadas.
(Carneiro, 1998, p. 98).
Ainda nas contribuições de
Weisheimer, a juventude rural, embora seja
utilizada em muitos estudos como
sinônimo para jovens agricultores, é
diversa, que são compostas também por
jovens que não estão envolvidos em
atividades agrícolas. Desta forma o jovem
agricultor é um elemento que compõe a
juventude rural. No entanto, não é possível
falar de uma manifestação específica desse
grupo os jovens agricultores sem se
reportar à categoria mais ampla da qual faz
parte os jovens rurais.
A agricultura familiar é fundamental
para a permanência do jovem no campo.
Pois o futuro da agricultura familiar está
em suas mãos. Os jovens não vão ficar no
campo porque o governo ou os pais
querem. Vão ficar no campo por terem
razões para permanecer. E baseado nessa
confabulação que buscamos trazer neste
tópico um olhar sobre os jovens no
município de Jaguaré.
Dizer que os jovens estão indo
embora, em Jaguaré isso não seria
diferente, pois políticas públicas para a
juventude se manter no campo ainda não é
a realidade dos jovens por lá. Um fator
principal para a permanência desses jovens
no campo é a agricultura familiar, uma vez
que nas regiões onde o número de
agricultores familiares é maior, a
permanência dos jovens no campo é bem
significativa. Conforme os dados na ficha
de matrícula da escola a região do Giral
apresenta um número bastante significativo
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de pequenos agricultores familiares, com
isso os filhos desses agricultores que são os
jovens hoje, dão continuidade ao trabalho
que era dos pais e isso vem passando de
geração para geração, ou seja, ocorre a
sucessão familiar, conforme aponta
Stropasolas (2011). Esses Jovens
participam de forma ativa nas comunidades
religiosas com cargos específicos,
associações de produtores e times de
futebol que é um aspecto muito forte em
Jaguaré.
O que Pensam os Jovens sobre
Juventude Rural
Procuramos saber com os egressos
pesquisados nas rodas de conversa como
definiam jovem rural chegando à seguinte
definição:
Ser jovem rural, jovem
agricultor, jovem do campo, ou
qualquer outra designação que
nos é dado, hoje em dia é ter
responsabilidade, querer, assumir
lideranças e compromisso com a
nossa região, na qual estamos
inseridos promovendo a
participação à mobilização de
outras pessoas e o conhecimento
na sociedade visando mudança de
hábitos, tentando sair da mesmice
para mudar a realidade local”.
(Jovens pesquisados 2018).
A relação dos jovens rurais com a
unidade produtiva da terra tem implicações
fundamentais na elaboração de seus
projetos profissionais de saída ou
permanência na agricultura. Para esta
jovem o trabalho no campo é exaustivo e
cansativo, entretanto consegue perceber as
dádivas da natureza desde o semear e
colher, sem deixar de lado os ensinamentos
passado de geração em geração.
“Então, a meu ver ser Jovem
Rural é uma lida diária muito
grande e ao mesmo tempo
gratificante. Pois, buscamos
diariamente trabalhando com a
terra, alcançar nossos objetivos, e
isso às vezes é cansativo até
exaustivo, mas, considero
gratificante por termos esse
privilégio de semear algo, e ver
essa grande magia da natureza
que é nascer, crescer e
frutificar. o posso deixar de
destacar também, a grande
importância de usar dos
ensinamentos adquiridos pelas
gerações passadas (pais, avôs,
tios.), que nos passam sempre
com tanto carinho a forma de
como lidar com a agricultura”
(Jovem rural Aroeira
vi
22 anos,
sexo feminino).
A preocupação deste jovem é sobre o
desafio em conduzir novos projetos, uma
vez que a monocultura em Jaguaré é muito
forte, sobretudo do café e da pimenta do
reino e que muitos projetos articulados
pelos jovens não conseguem se firmar.
Entretanto, aplicar os conhecimentos como
técnico agrícola da EFA é trabalhar em
prol do desenvolvimento e da agricultura
familiar.
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“É desafiador, porque existe
uma cultura tradicional
implantada. Implantar o novo
requer maturidade para quebrar
paradigmas, uma vez que a
monocultura domina as
propriedades rurais e a maioria
das vezes pressiona e faz cair no
esquecimento propostas e projetos
articulados pelos jovens, pois
existe um mercado muito grande
para as culturas de café e
pimenta-do-reino. Por outro lado,
conduzir uma propriedade rural
sendo técnico agrícola é um passo
para o desenvolvimento da
agricultura familiar, pois
trabalha de maneira mais
consistente das ações”. (Jovem
Rural Ipê 21 anos Sexo
Masculino).
A falta de políticas públicas para
permanência da juventude no campo, por
isso a procura de oportunidades em outros
lugares, sobretudo nas cidades, foi citada
por um jovem como um desafio a ser
enfrentado. Em sua visão se os jovens se
organizarem por meio de associações
juntamente com outras organizações
existente ali, é possível encontrar uma
saída para a melhoria e permanência do
jovem na região.
“Muitos dos jovens da região
estão se apresentando em várias
áreas. Os grandes feitos são a
falta de oportunidades de
conseguir a vida e a estabilidade
financeira na região, por que
muitos têm procurado os outros
locais para tentar ter uma melhor
qualidade de vida. A falta de
investimento do governo é um
grande desafio, apesar de haver
falta de esforços, os incentivos
para pequenos agricultores,
estradas de qualidade, creche,
falta de valorização da educação
do campo etc. Como as
perspectivas são uma organização
de famílias para o fortalecimento
das iniciativas, a política de
formação de uma associação de
pequenos negócios e uma grande
parceria com o ECOR SJB que
tem promovido ações em prol da
região”. (Jovem Rural Jequitibá
24 anos, sexo masculino).
Assim como o lema do 19º grito dos
excluídos “Juventude que ousa lutar,
constrói o projeto popular
vii
”, os jovens
rurais devem cada vez mais se tornar
participante da sua comunidade local,
ajudando nas discussões políticas,
buscando políticas públicas que venham
favorecer o desenvolvimento local
sustentável para uma vida digna no campo.
Percebemos que esses jovens são
agricultores, comprometidos com o
contexto da agricultura familiar e,
sobretudo com a sua permanência e
sucessão familiar, buscando um
desenvolvimento justo para campo.
Permanência ou saída do campo: uma
questão de gênero
O êxodo rural
viii
atinge um grande
número de pequenos agricultores,
especialmente os que não são proprietários
ou os que o são de forma insuficiente, o
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que os torna extremamente vulneráveis, no
que se refere à sua permanência no local de
origem. Assim, o que mais põe em risco a
dinâmica do meio rural é o êxodo da sua
população, que se traduz pela perda direta
e imediata da vitalidade social,
representada pela saída em número
expressivo de seus habitantes.
O processo de masculinização e
êxodo juvenil não acontecem somente em
uma região isolada, mas em toda parte do
Brasil e de outros países mesmo este sendo
desenvolvido. Quanto ao gênero, mesmo
este não sendo o fator determinante para a
delimitação do universo da pesquisa, nas
escolas que ofertam o curso técnico em
agropecuária o público geral em sua
maioria é do sexo masculino, na EFAJ isso
não foi diferente, dos 45 egressos
pesquisados, 64% são do sexo masculino e
36% do sexo.
Isso revela a própria vinculação da
formação técnica em agropecuária com o
sexo masculino. Essa ligação tanto está
presente nos dados escolares quanto no
pensamento dos atores sociais destes
contextos. Para o coordenador
administrativo da EFAJ todos os anos o
número de estudantes do sexo masculino
que se formam em técnicos agrícolas é
mais representativo do que o sexo
feminino. Foi possível observar em visitas
realizadas nas famílias que os meninos
querem dar continuidade aos trabalhos
desenvolvidos pelos pais e as meninas
geralmente querem estudar e sair de casa
para trabalhar fora da unidade produtiva,
com isso nem sempre escolhe estudar em
um curso voltado para o campo agrícola
integral de 04 anos.
Dos 45 egressos pesquisados 69%
possuem somente o Curso Técnico em
Agropecuária, 24% estão cursando o curso
superior, 7% concluíram o curso
superior. 69% desses jovens egressos
escolheram continuar na unidade produtiva
das famílias dando continuidade aos
projetos desenvolvidos pelos pais. Isso é
uma peculiaridade da juventude da região,
sobretudo os jovens do sexo masculino.
Os jovens egressos que cursam ou
cursaram o Ensino Superior pretendem
desenvolver outras atividades que não
sejam ligadas diretamente com a
agricultura sem perder o vínculo com suas
origens. Vale lembrar que o nível de
escolaridade dos jovens rurais é 30%
inferior ao dos jovens urbanos (Cunha,
2011).
Dos egressos que estão cursando ou
cursaram o curso superior 70% são do
sexo feminino. Como apontado
anteriormente, para Stropasolas (2011) isso
está relacionado à valorização da educação
pelas jovens que investem mais que os
rapazes, sobretudo para se prepararem para
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conseguir um emprego na cidade. Para
elas, dar continuidade aos estudos, fazer
um curso superior, significa ter uma
profissão, ou seja, ter reconhecimento
profissional, condição que se apresenta
como necessária para o reconhecimento
social, sobretudo no meio urbano. No caso
dos rapazes, a valorização social não passa
necessariamente pelo reconhecimento
profissional.
A permanência no campo a partir da
proposta da Alternância por meio dos
projetos de vida
A pedagogia da alternância vem
contribuindo com os jovens rurais dentro
de um contexto histórico para a agricultura
familiar no município de Jaguaré desde a
implantação da Escola Família Agrícola no
município em 1971. Podemos perceber
essas contribuições de acordo com a
atuação profissional desses egressos e a
aplicação na prática de seus projetos
desenvolvidos durante o período que
passaram pela escola. Vejamos:
Foi questionado aos egressos sobre
suas experiências profissionais após a
conclusão do curso técnico em
agropecuária. Então, obtivemos os
seguintes resultados: 63% são agricultores,
11% atuam como professores, 11% estão
apenas estudando, 9% atuam como
técnicos agrícolas, 2% vendedoras em loja
agropecuária, 2% atuam como agricultores
e eletrotécnicos e 2% trabalham como
secretárias escolares.
Esses dados revelam que a maioria
está no campo lidando com atividades
ligadas ao meio rural, mostrando que estão
desenvolvendo sua formação de técnico em
agropecuária. Outros exercem a
pluriatividade, ou seja, desenvolvendo
outras atividades. Desse modo, as
atividades que estão sob conceito de
pluriatividade servem como complemento
à renda total da família rural, criando uma
nova dinâmica no campo. Dependendo do
que a região tem a oferecer, várias
ocupações remuneradas podem ser
consideradas pluriatividades, como as
atividades da construção civil ou do
comércio em geral.
As experiências profissionais
reveladas não se distanciam das linhas dos
projetos pelos estudantes do curso técnico
em agropecuária da EFAJ no período de
2011 a 2016. No setor primário estão os
PPJs voltados principalmente para a
produção vegetal e animal: implantação,
melhorias, recuperação da cultura e/ou do
solo, água, infraestrutura, agroecologia,
melhoramento genético, recuperação de
nascentes, entre outros. Esses projetos
buscaram a diversificação, a rotação e o
consórcio de culturas de modo a
implementar manejos sustentáveis e
agroecológicos, preocupados com o
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impacto ambiental, econômico e social das
famílias e comunidades.
Na categoria do setor secundário,
estão projetos voltados para a implantação
ou implementação da agroindústria, que
visaram autonomia na produção, a
comercialização direta, baixa mecanização
e agregação de valores dos produtos locais.
no setor terciário, dentre os
projetos analisados, estão os relacionados à
extensão rural, educação do campo,
associações e cooperativas, consultoria
técnica e outros. Nesta categoria, os PPJs
foram relacionados à pluriatividade do
campo, atividades não agrícolas que
surgem no meio rural, que vem
complementando as atividades
agropecuárias com intuito de melhorar a
renda da família e ajudar no lado social da
comunidade e relacionado à gestão e
administração de atividades ligadas
diretamente a produção e comercialização
dos produtos agropecuários. São exemplos:
oficina de moto e bicicleta, organização de
uma associação e cooperativa, salão de
beleza, etc.
No recorte temporal de 2011 a 2016
foram desenvolvidos 112 PPJs. Em sua
maioria, 90% dos projetos eram do setor
primário, voltados nas linhas de pesquisa
para a produção animal e vegetal. O setor
secundário representa 5,3%, voltados para
a agroindústria; e no setor terciário, 4,7%
desenvolvidos no campo da pluriatividade.
Tipificar essas linhas de pesquisa
permitiu observar a prevalência dos
projetos na área da produção vegetal e
animal, principalmente relacionados à
implantação de culturas, pois a principal
atividade econômica do município é a
agricultura voltada para a produção do café
conilon e pimenta-do-reino. Outro fator
relevante, observado no ano de 2014, foi
que os projetos eram em sua totalidade
voltados para a implantação da cultura da
pimenta-do-reino, pelo fato do preço da
cultura, na época, estar com ótimo preço de
mercado. Assim, as famílias, juntamente
com os estudantes, quiseram aproveitar a
ocasião para desenvolver um projeto na
área, uma vez que o norte do Espírito
Santo é o segundo maior produtor de
pimenta-do-reino no país de acordo com a
Secretaria de Estado da Agricultura (SEAG).
A escolha dos temas dos projetos de
vida é uma tarefa desafiadora para os
estudantes, visto que eles precisam dar
início e término daquilo que se propõem a
pesquisar. Nessa escolha, a participação da
família é relevante, pois os estudantes
ainda não possuem autonomia suficiente
para tomar determinadas decisões
relacionadas às atividades laborativas
desenvolvidas na propriedade. Nessa
perspectiva, podemos verificar na fala de
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58% dos sujeitos respondentes a
predominância em tomar decisões
juntamente com as famílias:
A escolha foi minha, juntamente
com a opinião da família. A
opinião da minha família seria
muito importante, porque
acreditava que poderiam
contribuir para um bom
desenvolvimento prático do
projeto. Tema: O plantio de café
adensado visando uma maior
produção no sítio Alagoas.
(Jovem Rural Vinhático, 24 anos,
sexo masculino).
A influência da família na escolha da
temática do PPJ indica, entre outros
aspectos, a ligação desses jovens com sua
família. Percebemos que nas atividades da
agricultura familiar, que vêm passando de
geração em geração, existe pouca tensão
ou mesmo uma possível harmonia
geracional na direção ou conformação das
escolhas, na valorização do jovem na
relação familiar e no seu comprometimento
com a melhoria da renda/qualidade de vida
da família e da localidade onde reside,
fortalecendo o sentimento de
pertencimento local e sua identidade rural.
Os 42% dos jovens que tomaram a
iniciativa de definir o próprio tema do
projeto a ser implantando na propriedade
apresentam certa autonomia diante da
família, ou seja, aparentam possuir
liberdade individual nas escolhas, pois
desempenham atividades que contribuem
para o desenvolvimento
pessoal/profissional.
A escolha do tema foi minha e os
motivos que levaram a escolha
deste tema foram à curiosidade de
desenvolver uma prática
agroecológica na propriedade.
Tema: A implantação da pimenta-
do-reino no tutor vivo, garantindo
a rentabilidade no sítio Alegria.
(Jovem Rural Sucupira, 22 anos,
sexo feminino).
Podemos observar que os egressos
que conversam com as famílias sobre a
produção do projeto são bem maiores que
dos egressos que tomam iniciativa própria
para o desenvolvimento. No entanto, os
temas que sofreram influência das famílias
não se diferem dos que não sofreram. Isso
indica que esses egressos conseguem
perceber a necessidade ou importância de
projetos que a unidade produtiva está
precisando, a mesmo dentro de uma
visão empreendedora ou inovadora para a
agricultura familiar.
Os egressos demonstraram
preocupação em diversificar a unidade
produtiva, procurando desenvolver
projetos que não focassem somente nos
principais produtos da economia agrícola
do município: o café e a pimenta-do-reino,
muito embora sejam culturas que já vêm de
tradição familiar. Os jovens tendem a
inovar por meio da diversificação
agropecuária buscando melhorar a renda da
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família e garantindo uma perspectiva
profissional e de renda.
Dentre os motivos que levaram ao
tema dos projetos foram destacados a
melhoria da renda familiar (55%),
Tradição Familiar (25%), Diversificação
(7%) e Desenvolvimento Social Local
(2%).
Em relação à melhoria da renda
familiar dentre os projetos citados
destacamos o objetivo de introduzir a
cultura do mamão na sua unidade
produtiva para aumentar a renda, pois será
uma nova cultura a ser vendida e
possibilitando um recurso extra (jovem
rural Jacarandá). Outro procurou inovar
com um sistema hidropônico para cultivar
hortaliças, comercializando na região e
propiciando mais renda na família (jovem
rural Nogueira). Com uma visão
empreendedora, outro projeto aproveitando
a alta da pimenta buscou produzir mudas
de qualidade, pois a uma demanda propicia
na região para essa atividade (jovem rural
Goiabeira). A proposta de instalar tanques
redes na unidade produtiva seria uma
forma de ter um extra entre as culturas de
safra e entre safra na propriedade (jovem
rural Oiti). Da mesma forma, objetivo de
vender hortaliças orgânicas nas feiras
livres de seu município, garantindo uma
renda nos fins de semana (jovem rural
Pinus). Os jovens conseguem perceber a
oportunidade e se manterem nesses
circuitos produtivos e nos respectivos
mercados, adequando-se às renovadas
exigências normativas e tecnológicas que o
mercado consumidor exige.
Sobre os motivos que se destacaram
na implantação do projeto é bem
representativa a cultura da pimenta-do-
reino, mesmo sendo a cultura do café a
atividade predominante no município, pois
a mesma apresentava na região um valor
econômico muito significativo. As falas
refletem o interesse pela tradição
relacionada à facilidade de produção,
escoamento e preço. Como a família
possui toda uma estrutura e um canal de
comercialização sólido, permanecer na
atividade desenvolvida pela família para
esses jovens parece estar mais voltado ao
retorno financeiro garantido do que à
preservação de valores e tradição familiar.
Apesar da melhoria da renda ser o
objetivo final dos projetos, percebemos
que a diversificação da produção se
direciona a melhoria da qualidade da
produção, leite e orgânicos e do uso dos
recursos, água. Nesse aspecto é possível
vislumbrar a atenção desses jovens por
uma produção limpa e segura. A
diversificação agrícola talvez possa ser
uma das maneiras de promover o
desenvolvimento da agricultura familiar
para um município ou região e,
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consequentemente, promover uma
melhoria na qualidade de vida desses
produtores e os jovens de forma geral.
O jovem rural Pau-brasil expõe uma
preocupação, sobretudo com a inclusão
feminina, demonstrando sensibilidade ao
sentimento de pertença no
comprometimento com a comunidade
local, inserindo ações coletivas e interesse
pela igualdade entre os sexos, pois na
comunidade não existe nenhuma outra
forma de organização que possa contribuir
com o desenvolvimento local nos aspetos
social, econômico e ambiental. A
pedagogia da alternância visa à formação
integral dos jovens em todos esses
aspectos.
Aplicações dos projetos na prática das
famílias
Levando em consideração se o
projeto tem sido efetivamente aplicado
pelos egressos do Curso Técnico em
Agropecuária na prática de suas famílias,
podemos notar que mais da metade dos
jovens entrevistados (51%) aplicaram o
projeto na sua prática familiar. Todavia, o
objetivo da pesquisa foi verificar se o
Projeto Profissional Jovem tem sido
efetivamente aplicado pelos egressos. Por
outro lado, outros (49%) não conseguiram
realizar na prática seus projetos por
motivos nem sempre previsíveis que
predominaram a não aplicação dos mesmos
relacionados a questões naturais, recursos
financeiros, alterações familiares. Durante
a aplicação e orientação, o tema parte de
um acordo familiar, baseado nos interesses
da realidade e com possibilidade de
implantação. Mas nem sempre isso ocorre
com os egressos, pois foram destacados
motivos nem sempre previsíveis que
predominaram a não aplicação dos mesmos
relacionados a questões naturais, recursos
financeiros, alterações familiar, que
impossibilitaram a aplicação do projeto.
Resultados e mudanças ocorridas com a
implantação do projeto
Os jovens que implantaram os
projetos apontaram como resultados o
aumento na produção do leite, maior
qualidade dos produtos, bons lucros, mais
conhecimentos adquiridos, boa
produtividade da cultura, maior renda e
baixo custo de produção, sustentabilidade
da propriedade, qualidade de vida e
organização na implantação do projeto
com auxilio da pesquisa realizada,
diversificação das culturas, lavoura sadia,
entre outros.
Os projetos vêm impactando esses
jovens de forma positiva na família e na
comunidade, dado que eles cultivam
produtos saudáveis, respeitando o ambiente
de maneira sustentável. O Jovem Rural
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Cambuci, por exemplo, ressalta que:
“devemos produzir de acordo com os
ensinamentos do professor da disciplina
Planejamento e Projeto, de maneira
socialmente justa, economicamente viável
e ambientalmente correta”.
Dentre os projetos pesquisados
implantados entre os anos de 2011 e 2016.
observamos que houve algumas adaptações
em relação aos projetos originais. O Jovem
Rural Freijó corrobora nossa observação ao
dizer que o aprimoramento das técnicas
utilizadas após a implantação do projeto
contribuiu de forma significativa, pois ele
teve que estudar pesquisar e realizar
estágios sobre o tema proposto, fato esse
que favoreceu na mudança do projeto
original que a família desenvolvia.
Os egressos salientam que a
implantação dos projetos proporcionou
mudanças significativas em suas unidades
de produção, como podemos observar no
depoimento que segue:
Após a implantação do projeto a
família obteve mais experiências
sobre a cultura, animando-se em
implantar mais lavouras,
mudando a cara da propriedade.
Tema: Implantação a cultura da
pimenta-do-reino no sítio
Zanelato. (Jovem Rural Magnólia,
21 anos, sexo feminino).
Os relatos revelaram que os projetos
desenvolvidos proporcionaram mudanças
significativas nas unidades produtivas, não
somente no aspecto econômico em
aumentar a produção agrícola, mas nos
envolvidos adotando consciência no
aspecto social e ambiental. E partindo do
pressuposto que um dos objetivos era
conhecer as expectativas dos jovens
egressos na elaboração dos projetos,
podemos constatar que existe uma
porcentagem significativa de jovens que
pensam em desenvolver novos projetos,
uns continuando com a produção vegetal e
animal, outros com a ideia de reflorestar e
recuperar nascentes em suas unidades
produtivas, com um pensamento
ambiental.
É notório o crescimento das
atividades não agrícolas no campo e que as
perspectivas para novos projetos dos
jovens nessa categoria da pluriatividade
vêm aumentando. A pluriatividade
possibilita a permanência dos jovens
agricultores no meio rural, pois
proporciona que estes continuem com as
atividades agrícolas mesmo não sendo
estas rentáveis. A pedagogia da alternância
vem contribuindo de forma significativa
com os jovens, pois podemos mostrar que
67% dos jovens pesquisados querem
permanecer no campo:
Continuar o plantio de culturas
para o próprio sustento da família
e depender cada vez menos do
mercado. Tema: Consorciamento
da cultura da pimenta-do-reino
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com café, garantindo renda
familiar no sítio Santana. (Jovem
Rural Jatobá, 22 anos, sexo
masculino).
Permanecer no campo dando
continuidade nas atividades da
família. Tema: Implantação da
cultura do maracujá no sítio
Locateli. (Jovem Rural
Jabuticaba, 21 anos, sexo
feminino).
Para esse grupo de jovens viver no
campo é algo consolidado por eles. Pois
é no campo que irão continuar a
desenvolver seus projetos agrícolas,
buscando sempre o uso de novas
tecnologias, aumentando a produção e
renda da família. Essa perspectiva se dá
por meio de aquisição de novas áreas de
terras, aperfeiçoando nos estudos,
reeducando o manejo na produção agrícola
familiar.
Considerações finais
A conclusão aponta desafios e
proposições quanto às possibilidades de
avanço no campo dos projetos na
agricultura familiar. Esse estudo buscou
compreender a contribuição e a
aplicabilidade dos projetos de vida dos
jovens rurais e nessa direção a pesquisa
identificou os desafios, resultados e
mudanças enfrentados por esses jovens na
execução dos Projetos. E ao refletirmos
sobre a relação teoria/prática, com base no
referencial teórico e nas falas dos sujeitos,
categorizamos que essa conexão é
necessária, dado que ela amplia o
conhecimento dos jovens, sobretudo diante
das tomadas de decisões na escolha e
execução, ampliando horizontes no sentido
de fortalecimento da práxis na Pedagogia
da Alternância.
A Pedagogia da Alternância tem
exercido um papel de destaque na vida
escolar dos jovens, a partir das
possibilidades de desenvolvimento da
formação integral dos estudantes que
passam e passaram por essa pedagogia.
Desde a gênese da PA, o jovem vem
unificando a sua formação profissional
com a sua formação humana, sem se
desvincular com o trabalho da família,
alternando por meio da dinâmica da
Pedagogia da Alternância: estudo-
vivência- trabalho e trabalho-vivência-
estudo. Desta forma compreendemos que
esta pedagogia proporciona uma formação
contínua, pois o estudante constrói
conhecimentos tanto na escola, quanto na
comunidade relacionando a teoria com a
prática, refletindo, experimentando e
construindo novos conhecimentos.
Com base nesses pressupostos da
PA, buscamos conhecer a realidade da
juventude rural no município de Jaguaré,
sobretudo no que tange as condições de
vida dos jovens egressos da Escola Família
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Agrícola de Jaguaré, compreendendo os
desafios encontrados por eles em relação
aos projetos em suas unidades produtivas.
Nos estudos que tratam dessa temática,
atentamos para o fato de que a vida de
alguns jovens perpassa pelos anseios da
migração e pelo desinteresse pela vida
rural. Neste sentido a permanência do
jovem rural ou a saída dele está ligada a
fatores sociais e econômicos, conforme a
realidade do campo pesquisada nos
apontou.
Percebemos que os projetos
desdobram-se a partir desses conceitos
desenvolvidos na pesquisa. Esse
instrumento pedagógico busca entender, de
forma crítica, os porquês das mudanças
que ocorrem no campo da agricultura
familiar sistematizando e organizando as
informações provenientes do conhecimento
produzido pelos estudantes na vivência
familiar e comunitária. Ao partir da
identidade do grupo familiar, dos objetivos
e planos futuros dos jovens, é levada em
consideração a unidade produtiva da
família como um espaço para empreender
uma alternativa econômica viável e
sustentável.
Muitos desses jovens, ao terminarem
o curso Técnico em Agropecuária,
conseguem colocar em prática o projeto e
optam por continuar no campo, verificada
a existência de um sentimento latente de
pertença ao meio rural, dando continuidade
aos estudos e lidando com atividades
ligadas ao meio rural, desenvolvendo sua
formação de técnico em agropecuária.
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i
Em sua gênese as escolas em Alternância atendiam
somente jovens do meio rural no ensino
fundamental e médio. Com o passar dos anos e o
processo de expansão a Pedagogia da Alternância
no Espírito Santo, vem atendendo desde a educação
infantil até o curso superior e o também o público
da cidade que faz o caminho inverso.
ii
CEFFA é a nomenclatura utilizada para congregar
os Centros que trabalham com a Pedagogia da
Alternância sob inspiração do modelo francês de
1935, a saber, as EFAs (Escolas Famílias
Agrícolas), as ECORs (Escolas Comunitárias
Rurais) e as CFRs (Casas Familiares Rurais). Na
abrangência dessa pesquisa temos as EFAs.
iii
MEPES- Em 1968 foi criado o Movimento de
Educação Promocional do Espírito Santo (MEPES),
cujo objetivo principal é promover o homem por
meio da melhoria da qualidade de vida no meio
rural. A história deste Movimento foi marcada por
ações pioneiras, dentro de uma visão de futuro,
buscando, a promoção integral do ser humano e
melhoria da qualidade de vida no campo. Através
da Ação Comunitária, iniciou suas atividades de
diagnóstico da situação e promoveu atividades para
despertar a participação das comunidades nas áreas
de educação e saúde. Nasceu também a ideia de
adotar a Escola Família Agrícola como um modelo
diferenciado para o meio rural, com educacional
enfoque no desenvolvimento rural sustentável; e na
área da saúde, a construção de um Hospital em
Anchieta/ES e instalando mini postos de saúde em
diversas comunidades do município. Uma estratégia
importante nesta conquista é a participação das
comunidades e das famílias em todos os níveis de
trabalho: superior, gerencial e operacional. A
metodologia promocional do Movimento não abre
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mão deste requisito e reconhece a chave de todo o
sucesso do trabalho (MEPES, 2014).
iv
O coordenador administrativo da Escola Família
Agrícola de Jaguaré foi parte da entrevista da
pesquisa de campo.
v
Brancolina Ferreira em entrevista com o IPEA -
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - é uma
fundação pública federal vinculada ao Ministério do
Planejamento, Desenvolvimento e Gestão (2010).
vi
Os jovens rurais que participaram (deram) seus
depoimentos sobre o questionamento o que é ser
jovem rural? Estão sendo nomeados por nomes de
árvores onde que o mesmo tenta nomear árvores
que tendem a ser femininas e árvores que tendem
ser masculina. O intuito de colocar nome de árvores
para esses jovens não significa pegar na integra que
árvore é algo fixo e que não se move, pois como diz
Paulo Nosella “Ninguém fixa ninguém”, sobretudo
no campo. Mas colocar nomes de árvores com a
ideia de crescer, florir, frutificar e reproduzir no
campo.
vii
O Grito dos Excluídos de 2013 (19ª edição)
incentiva as organizações de articulação da
juventude e da sociedade em geral a se juntarem,
lutar e ajudar na construção de um ‘Projeto
Popular’.
viii
Êxodo rural é o termo pelo qual se designa a
migração do campo por seus habitantes, que, em
busca de melhores condições de vida, se transferem
de regiões consideradas de menos condições de
sustentabilidade a outras, podendo ocorrer de
áreas rurais para centros urbanos. (Pereira, in:
Dicionário Educação do Campo: expressão popular,
2012).
Informações do artigo / Article Information
Recebido em : 25/07/2019
Aprovado em: 29/10/2019
Publicado em: 19/12/2019
Received on July 25th, 2019
Accepted on October 29th, 2019
Published on December, 19th, 2019
Contribuições no artigo: Os autores foram os
responsáveis por todas as etapas e resultados da
pesquisa, a saber: elaboração, análise e interpretação dos
dados; escrita e revisão do conteúdo do manuscrito
e; aprovação da versão final publicada.
Author Contributions: The author were responsible for
the designing, delineating, analyzing and interpreting the
data, production of the manuscript, critical revision of the
content and approval of the final version published.
Conflitos de interesse: Os autores declararam não haver
nenhum conflito de interesse referente a este artigo.
Conflict of Interest: None reported.
Orcid
Eric de Oliveira
http://orcid.org/0000-0002-6812-0100
Mônica Aparecida Del Rio Benevenuto
http://orcid.org/0000-0003-2424-4897
Como citar este artigo / How to cite this article
APA
Oliveira, E., & Benevenuto, M. A. D. R. (2019). A
contribuição da Pedagogia da Alternância e do projeto
profissional jovem nos projetos de vida de jovens egressos
da EFA de Jaguaré/ES. Rev. Bras. Educ. Camp., 4,
e7245. DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.rbec.e7245
ABNT
OLIVEIRA, E.; BENEVENUTO, M. A. D. R. A contribuição
da Pedagogia da Alternância e do projeto profissional
jovem nos projetos de vida de jovens egressos da EFA de
Jaguaré/ES. Rev. Bras. Educ. Camp., Tocantinópolis, v.
4, e7245, 2019. DOI:
http://dx.doi.org/10.20873/uft.rbec.e7245