Revista Brasileira de Educação do Campo
The Brazilian Scientific Journal of Rural Education
ARTIGO/ARTICLE/ARTÍCULO
DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.rbec.e7328
Tocantinópolis/Brasil
v. 4
e7328
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2019
ISSN: 2525-4863
1
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A pedagogia da alternância e a construção do movimento
social dos extrativistas na Amazônia amapaense
Marlo dos Reis
1
,
Roni Mayer Lomba
2
1, 2
Universidade Federal do Amapá - UNIFAP. Curso de Licenciatura em Educação do Campo. Rodovia Juscelino Kubitschek,
km 02, Jardim Marco Zero. Macapá - AP. Brasil.
Autor para correspondência/Author for correspondence: marloreis@hotmail.com
RESUMO. O presente artigo tem como objetivo apresentar
resultados parciais de estudo realizado em 2017-2018 sobre os
movimentos sociais extrativistas no sul do estado do Amapá,
especialmente a centralidade da pedagogia da alternância nas
lutas e construção da identidade coletiva desses sujeitos. Trata-
se de uma pesquisa embasada no materialismo histórico-
dialético como enfoque teórico, metodológico e analítico
utilizando como instrumento a entrevista com lideranças do
movimento extrativista e escolas famílias na região, totalizando
dez sujeitos. As principais categorias de análise são “luta de
classes”, “identidade camponesa” e “conscientização”. Os
resultados do estudo evidenciam a pedagogia da alternância
como estratégia central de educação do campo e formação
intelectual destes protagonistas, reconfigurando o sentido da luta
para a conquista de políticas públicas e direitos sociais. As
conclusões explicitam a trajetória dos extrativistas como sujeito
social com identidade própria, consciência de classe social
construída na luta pela manutenção da floresta nativa como
marco de categoria social identitária. Este estudo contribui para
o avanço da organização coletiva dos extrativistas e a
publicização de sua trajetória e identidade inéditas.
Palavras-chave: Pedagogia da Alternância, Educação do
Campo, Movimento Social Extrativista.
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The pedagogy of alternation and the construction of the
social movement of extractivists in Amapaense Amazon
ABSTRACT. This article aims to present partial results of a
study conducted in 2017-2018 on extractive social movements
in the southern state of Amapá, especially the centrality of the
pedagogy of alternation in struggles and construction of the
collective identity of these subjects. This is a research based on
historical-dialectical materialism as a theoretical,
methodological and analytical approach using as an instrument
the interview with leaders of the extractive movement and
family schools in the region, totaling ten subjects. The main
categories of analysis are 'class struggle', 'peasant identity' and
'awareness'. The results of the study show the pedagogy of
alternation as a central strategy of rural education and
intellectual formation of these protagonists, reconfiguring the
meaning of the struggle for the conquest of public policies and
social rights. The conclusions explain the trajectory of the
extractivists as a social subject with their own identity, social
class consciousness built in the struggle for the maintenance of
the native forest as a milestone of social identity category. This
study contributes to the advancement of the extractivists'
collective organization and the publicization of their
unprecedented trajectory and identity
Keywords: Pedagogy of Alternation, Rural Education,
Extractive Social Movements.
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La pedagogía de la alternancia y la construcción del
movimiento social de extractivistas en la Amazonía
amapaense
RESUMEN. Este artículo tiene como objetivo presentar
resultados parciales de un estudio realizado en 2017-2018 sobre
movimientos sociales extractivos en el estado sureño de Amapá,
especialmente la centralidad de la pedagogía de la alternancia en
las luchas y la construcción de la identidad colectiva de estos
sujetos. Esta es una investigación basada en el materialismo
histórico-dialéctico como un enfoque teórico, metodológico y
analítico que utiliza como instrumento la entrevista con los
líderes del movimiento extractivo y las escuelas familiares en la
región, con un total de diez temas. Las principales categorías de
análisis son 'lucha de clases', 'identidad campesina' y
'conciencia'. Los resultados del estudio muestran la pedagogía
de la alternancia como estrategia central de la educación rural y
la formación intelectual de estos protagonistas, reconfigurando
el significado de la lucha por la conquista de las políticas
públicas y los derechos sociales. Las conclusiones explican la
trayectoria de los extractivistas como un sujeto social con su
propia identidad, la conciencia de clase social construida en la
lucha por el mantenimiento del bosque nativo como un hito en la
categoría de identidad social. Este estudio contribuye al avance
de la organización colectiva de los extractivistas y a la
publicidad de su trayectoria e identidad sin precedentes.
Palabras clave: Pedagogía de Alternancia, Educación Rural,
Movimientos Sociales Extractivos.
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Introdução
A educação do campo tem uma
marca significativa que é a pedagogia da
alternância que completa 50 anos na
realidade brasileira desde a criação da
primeira Escola Família (EFA) no estado
do Espírito Santo em 1969 (Nosella, 1977).
As EFAS amadureceram
historicamente a pedagogia da alternância
e difundiram esta experiência pedagógica
para outros níveis de formação dos
trabalhadores, chegando ao ensino superior
por meio das licenciaturas em educação do
campo (LEDOC) que completaram 10 anos
em 2018 desde a institucionalização das
primeiras universidades federais que
abriram esses cursos de formação de
professores para as escolas do campo.
Este artigo apresenta dados parciais
de pesquisa realizada em 2017-2018 para
elaboração de Dissertação apresentada ao
Programa de Pós-Graduação/Mestrado em
Desenvolvimento Regional da
Universidade Federal do Amapá
(UNIFAP). O estudo é composto pelo
embasamento histórico e conceitual dos
movimentos sociais do campo e também
pelas vozes de suas lideranças constituídas,
principalmente seus novos sujeitos -
mulheres e juventude camponesa - a fim de
compreender os desafios enfrentados no
sul do Amapá em termos de organização
política e como são articuladas suas
demandas.
No bojo destas demandas os
camponeses extrativistas deste território
alçam a educação do campo que assume a
pedagogia da alternância como uma
característica que marca as EFAs mais
de 30 anos e a LEDOC 10 anos, sendo
que o objetivo do estudo é analisar a
pedagogia da alternância nas lutas
coletivas e na construção da identidade
destes sujeitos e suas organizações e
movimentos sociais.
No cenário brasileiro o movimento
social tem o MST e a CONTAG como seus
maiores protagonistas, ao passo que na
Amazônia estes sujeitos coletivos são
ladeados pelo CNS. No Estado do Amapá,
a preponderância do CNS e a inexistência
do MST configuram o movimento social
com uma característica específica, ao que
Filocreão afirma que “nesse quadro de
conflitos os índios, seringueiros,
castanheiros e outros camponeses
agroextrativistas emergem como novos
atores políticos” com novas organizações
(2014, p. 63).
Destas novas organizações que
surgem dentre as populações tradicionais,
os extrativistas do sul do Amapá serão os
sujeitos desta pesquisa, por meio da
participação de dois grupos específicos,
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suas lideranças e os novos sujeitos
camponeses, a saber, as mulheres e a
juventude, com atuação destacada no
universo de protagonistas camponeses.
Cada grupo camponês tem
características próprias, identidades
diferentes. Com isso começou a dar
mais atenção a essa diversidade e a
buscar um tratamento diferenciado a
cada uma delas indígenas,
quilombolas, posseiros, extrativistas,
seringueiros, faxinalenses,
geraizeiros, camponeses de fundo e
fecho de pasto, retireiros do
Araguaia, assentados, ribeirinhos,
acampados, sem terra, atingidos pela
mineração, atingidos pelos grandes
projetos, camponeses tradicionais,
atingidos por barragens, migrantes,
pequenos agricultores, juventude
camponesa, coletivos de mulheres - e
muitas outras mais. Muitos destes
grupos e comunidades são
qualificados como comunidades
tradicionais. Uma das características
que os distingue é o uso comum da
terra onde vivem e trabalham. (CPT,
2010, p. 1).
Como todo conhecimento brota de
uma prática social, este trabalho assume
como base epistemológica o materialismo
histórico referenciado em Marx e Engels
(2009) e se propõe a debater como ocorre a
luta de classes neste território,
reconhecendo a voz destes sujeitos
coletivos dos movimentos sociais do sul do
Amapá para compreender como estes se
organizam e lutam por um bem coletivo.
As entrevistas foram realizadas por
meio de uma conversa guiada por
questionários semiestruturados e a análise
da realidade e dos sujeitos da pesquisa é
ancorada na abordagem qualitativa,
dialogando com autores como Demo
(1995), Minayo (2002) e Turato (2004),
em estreita ligação com o referencial
teórico e baseada no materialismo histórico
e orientação dialética, pois,
Se propõe a abarcar o sistema de
relações que constrói o modo de
conhecimento exterior ao sujeito,
mas também as representações
sociais que traduzem o mundo de
significados ... Advoga também a
necessidade de se trabalhar com a
complexidade, com a especificidade
e com as diferenciações que os
problemas e/ou objetos sociais
apresentam. (Minayo, 2002, p. 24-
25).
Este artigo está estruturado em três
seções que são: Introdução,
Desenvolvimento (Antecedentes históricos,
Caminhos da Pesquisa, As vozes dos
extrativistas na defesa da floresta em pé) e
Considerações.
Antecedentes históricos
A ocupação humana do atual
território brasileiro tem início com a
chegada dos povos indígenas desde tempos
remotos, com datações comprovadas a
mais de 10 mil anos e algumas teses
apontam para mais de 60 mil anos. A
ocupação territorial modificou-se
violentamente com a chegada dos europeus
no sec. XVI (principalmente portugueses)
que provocou o genocídio de 3 a 5 milhões
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de seres humanos e impôs a cultura
eurocêntrica sobre as terras e gentes
conquistadas além de tentar anular a
história vivida e reiniciar de um ponto zero
considerado como “descobrimento”.
(Ribeiro, 2010).
O estado do Amapá nasce da disputa
pelas terras amazônicas entre holandeses,
ingleses, franceses e portugueses, sendo
que estes se estabeleceram como senhores
do vale amazônico na segunda metade do
séc. XVII. Na era pombalina (1750-1777)
foram construídas fortificações para
garantir a posse, investimentos na
exploração do ouro e a tentativa de
produção agrícola em escala comercial
com a vinda de colonos açorianos.
O Império colonial português
utilizou indígenas e principalmente negros
africanos como mão de obra escravizada,
do séc. XVI ao XIX, garantindo o domínio
e exploração do território brasileiro e a
produção de mercadorias para o mercado
europeu. Lançava assim as bases da
sociedade brasileira: monocultura,
latifúndio e escravidão que produziram o
racismo, a violência e desigualdade.
Mas a marcha da colonização
portuguesa não ocorreu sem resistência e
lutas dos indígenas e africanos. As guerras,
levantes, fugas, mocambos, quilombos e
nomes como Sepé Tiaraju e Zumbi dos
Palmares em nossa historiografia oficial
dão conta desta postura rebelde e reativa
das populações e grupos.
É nessa postura altiva e coletiva de
indígenas e africanos em luta contra o
extermínio, a escravidão e a submissão que
se situa a experiência fundante do que será
denominado “movimentos sociais" pelos
teóricos na década de 1960 (Castells, 1980;
Touraine, 1994).
No final do séc. XIX o ciclo da
borracha vai incluir esta porção fronteiriça
no cenário nacional e internacional, com o
início da intervenção norte-americana na
Amazônia e o surgimento do coronelismo,
tendo como exemplo o coronel José Júlio
que construiu um império no Jarí se
tornando um dos maiores latifundiários do
mundo, com propriedades que atingiram
mais de três milhões de hectares
(Filocreão, 2014).
No século XX as tentativas de
integração da região amazônica trouxeram
grandes empreendimentos públicos e
privados que fizeram piorar as
condições dos trabalhadores, seringueiros,
extrativistas e agricultores amazônidas,
aumentando a tensão e os conflitos
existentes na região. Segundo Filocreão,
estes camponeses como novos atores
políticos
... através das suas alianças com os
movimentos ambientalistas nacionais
e internacionais, vão ter poder de
pressão e voz junto a um estado que
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se democratiza. Dessa luta de
resistência ... surge como principal
proposta a implantação de Reservas
Extrativistas na Amazônia.
(Filocreão, 2014, p. 63).
No bojo deste movimento, na
comoção mundial provocada pelo
assassinato do líder Chico Mendes (AC)
em 1988, organismos nacionais e
internacionais pressionaram o governo
brasileiro que foi obrigado a dar uma
resposta e oficializou a criação das
Reservas Extrativistas em Decreto de
1990, garantindo as lutas históricas dos
extrativistas conforme afirma Filocreão:
Nesse processo histórico, se
constituiu e vem se fortalecendo uma
economia agroextrativista na região,
onde a exploração agrícola através do
cultivo de mandioca, milho, arroz e
feijão, associado à coleta de produtos
como a castanha, o açaí, resinas,
cipós vem garantindo a sobrevivência
de um contingente populacional
significativo e garantindo a
manutenção da floresta em nas
unidades de uso especial que foram
criadas. (2014, p. 132)
Estas lutas dos povos do campo, das
águas e florestas da Amazônia amapaense
constituíram uma situação muito especifica
em relação à proteção ambiental, pois 72%
do território amapaense é formado por
áreas protegidas. Nesta condição
específica, os camponeses praticam
agricultura de subsistência e obtém do
extrativismo a maior quantidade de
elementos necessários para sua reprodução
material e cultural. Também a sua
organização social apresenta um modo de
ser que difere das demais regiões
brasileiras, corroborando as palavras de
Marx (2009) que define a identidade, o
como eles são realmente, a partir de como
agem, como produzem materialmente,
como trabalham em determinadas
condições materiais que muitas vezes não
dependem da sua vontade.
O sul do Amapá tem sua origem e
identidade centrada nas áreas protegidas e
nas lutas dos camponeses extrativistas e
esta característica os aproximou das lutas
dos seringueiros do Acre e o distanciou dos
demais movimentos sociais do cenário
brasileiro.
A gênese deste movimento aponta
para a atuação da Igreja Católica, a
organização em um Sindicato unificado em
todo o Território do Amapá (SINTRA)
como embriões dessa organização dos
extrativistas do sul do Amapá. A Igreja
Católica, por meio da Comissão Pastoral
da Terra (CPT) e o SINTRA tiveram
atuação em todos os municípios do então
Território e hoje Estado do Amapá.
A luta pela manutenção do direito de
coletar, caçar, pescar e trabalhar em suas
terras empodera os povos da floresta que
criam, em Encontro Nacional no ano de
1985, o Conselho Nacional dos
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Seringueiros da Amazônia CNS, hoje
Conselho Nacional das Populações
Extrativistas (conservando a sigla CNS),
que teve sua atuação orgânica no sul do
Estado, em virtude da preponderância dos
extrativistas e da conquista de suas áreas
protegidas. Suas lideranças investiram na
formação como um elemento fundamental
da organização e a Pedagogia da
Alternância como estratégia de formação e
escolarização. Como consequência desta
decisão, o estado do Amapá tem as Escolas
Famílias (EFAS) e a Licenciatura em
Educação do Campo (LEDOC) na
Universidade Federal do Amapá entre suas
conquistas.
As Escolas Família foram criadas
pelo movimento social para preencher a
ausência das escolas públicas no campo
amapaense e proporcionar uma proposta
educacional com qualidade social
referenciada na cultura e nas necessidades
dos extrativistas e de suas comunidades
conforme o Mapa 1.
Mapa 1 Escolas Família do Amapá em 2018.
Fonte: Esquerdo, P. A. (2018).
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Estas seis Escolas Famílias estão
localizadas nos municípios de Mazagão
(Escola Família Agroextrativista do Carvão
- EFAC e Escola Família Agroextrativista
do Maracá - EFAEXMA), Macapá (Escola
Falia Agrícola do Pacuí - EFAP), Pedra
Branca do Amapari (Escola Família
Agroextrativista da Perimetral Norte -
EFAPEN), Tartarugalzinho (Escola Família
Agroextrativista do Cedro - EFACEE) e
Itaubal (Escola Falia Agroecológica do
Macacoari - EFAM) (Sousa, 2016).
As EFAS do Amapá surgem na
cada de 1990 num esforço conjugado
entre as lideranças sindicais e religiosas,
aportando inicialmente recursos
internacionais e sendo erguidas em mutirão
pelos camponeses dos territórios. A
primeira, EFAP, foi organizada em região
de forte cultura agrícola e expressa essa
ênfase num currículo voltado para a
agricultura desde sua nascente. As demais
vivenciam a tensão entre a matriz agrícola
na origem das EFAS e a realidade e cultura
dos extrativistas dos territórios, o que vai
moldar a proposta e o desenho curricular,
bem como a identidade destas escolas
agroextrativistas (EFAC, EFAEXMA,
EFAPEN e EFACEE) e agroecológica
(EFAM). Assim, a pedagogia da alterncia
possibilita o surgimento de ineditismo na
identidade das escolas e dos próprios
camponeses extrativistas em suas lutas e
empoderamento.
A Universidade Federal do Amapá
UNIFAP, desde 2009 tem uma atuação
significativa na área da Educação do
Campo, como parceira das Escolas Família
em diversos projetos, com atuação e
pesquisas junto ao PRONERA e assento
neste colegiado estadual, além de atuar no
Comitê de Educação do Campo em âmbito
estadual.
Nos campus de Laranjal do Jari
(2009) e Mazagão (2010) foram
desenvolvidos duas Turmas de
Licenciatura em Educação do Campo com
ênfase em Física e Biologia, por meio do
Programa de Apoio à Formação Superior
em Licenciatura em Educação do Campo -
PROCAMPO. O curso foi iniciado em
2009 e atendeu 120 educadores do campo
amapaense que realizaram sua primeira
Licenciatura em cumprimento à legislação
brasileira que garante o acesso
diferenciado e o currículo referenciado na
cultura e na realidade das comunidades do
campo em sua heterogeneidade e
peculiaridade.
Em 2014 a Licenciatura em
Educação do Campo iniciou suas
atividades como curso permanente no
Campus Mazagão após aprovação no
Edital 02/2012-
SESU/SETEC/SECADI/MEC, tendo
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realizado 04 ingressos totalizando 320
acadêmicos até a presente data. Com a
alternância pedagógica alicerçada em seu
Plano de Curso (PPC), esta LEDOC se
apresenta como espaço de consolidação e
fortalecimento da Política de Educação do
Campo da UNIFAP para os camponeses
extrativistas do sul do estado e demais
regiões.
Esta luta dos extrativistas da
Amazônia amapaense moldou os territórios
do sul do estado (áreas protegidas) e
definiu a identidade de suas organizações e
movimentos sociais (CNS), bem como
suas escolas (EFAS) e demandas por
ensino superior (LEDOC) onde a
Pedagogia da Alternância constitui o
amálgama desta construção identitária.
Caminhos da pesquisa
Como a luta de classes tem assumido
contornos próprios no campo brasileiro ao
longo do processo histórico, pesquisar os
movimentos sociais no sul do Amapá
implica em considerar a exploração
histórica que tem se perpetuado e a
resistência coletiva dos trabalhadores e
trabalhadoras na defesa de seus direitos a
terra, à vida, a educação e a
autodeterminação.
A pedagogia da alternância
vivenciada pelo movimento social no sul
amapaense não pode ser interpretada de
forma isolada do contexto do país ou do
mundo globalizado, pois as relações que
aqui se materializam manifestam ecos de
redes distantes compostas por um
emaranhado de relações interligadas
(Castells, 1980; Santos, 1996).
Este estudo parte da concretude do
trabalho e da organização dos camponeses
em seus espaços de atuação e lutas, tendo
como base teórica o materialismo
histórico-dialético embasado na obra A
Ideologia Alemã de Marx (2009). Como
todo conhecimento brota de uma prática
social, este trabalho assume como base
epistemológica o materialismo histórico
referenciado em Marx e Engels e se propõe
a debater como ocorre a luta de classes no
território, partindo das falas dos sujeitos
coletivos dos movimentos sociais do sul do
Amapá.
Após a realização de estudo
bibliográfico e pesquisa documental,
visitas nas áreas protegidas, reuniões e
entrevistas com as lideranças do CNS e das
EFAS a fim de verificar as vozes desses
sujeitos sociais que raramente são
percebidos dentro das pesquisas.
Para a análise da realidade e dos
sujeitos da pesquisa a abordagem é
qualitativa, ancorada em autores como
Chizzotti (2009), Demo (1995), Minayo
(2002) e Turato (2004), em consonância
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com o referencial teórico do materialismo
histórico e dialético.
Os sujeitos desta pesquisa são
lideranças do CNS e das EFAS e seus
significados e representações referenciam
relatos que foram construídos pela ação e
reflexão no cotidiano das lutas e tensões da
dinâmica social de suas comunidades
(Gohn, 2011).
As entrevistadas foram realizadas no
período de julho/2017 a janeiro/2018 com
dez lideranças ligadas ao CNS e outras
organizações sociais das comunidades,
com representantes da Nacional, dos
setores do Estado (juventude e mulheres),
das associações, EFAS e comunidades.
Foram entrevistados seis representantes
adultos e quatro jovens, em consonância
com os objetivos do estudo, assim como
duas representantes mulheres, sendo uma
jovem e uma adulta.
Como as falas dos sujeitos da
pesquisa envolvem situações vividas,
conflitos e, até mesmo processos judiciais e
criminais, seus nomes serão substituídos por
pseudônimos para proteger suas identidades
e integridades. Seus nomes foram
substituídos por árvores da Amazônia,
símbolos de resistência e risco de extinção:
aizeiro, Angelim, Buriti, Castanheira,
Ipê, Jequitibá, Massaranduba, Mogno,
Samma e Ucuúba.
As comunidades do Carvão, Maracá
e Igarapé do Lago Maracá ficam no
município de Mazagão, sendo que a Água
Branca do Cajari pertence a Laranjal do
Jari, enquanto a comunidade de Santa Rita,
no Rio Muriacá, é território de Vitória do
Jari, os três municípios que compõem a
região sul do Estado.
As lideranças Ie Angelim fizeram
parte de toda a luta de organização dos
extrativistas desta região desde a década de
1970 e protagonizaram as etapas de
mobilização, conquista e gestão das
estruturas sociais, tendo lutado ao lado de
Chico Mendes e viajado pelo Brasil e pelo
Amapá neste processo organizativo da
categoria e suas falas retratam a memória
histórica do CNS e EFAS.
Os líderes Açaizeiro, Buriti e Mogno
representam a segunda geração de
lideranças e atuam desde os anos 1990,
sendo herdeiros dos pioneiros e estão hoje
coordenando o CNS e as associações de
suas comunidades. Vivenciaram a
conquista dos pais e trabalham três
décadas na gestão das organizações e
movimentos sociais.
as lideranças Samaúma, Ucuúba,
Castanheira, Jequitibá e Massaranduba são
jovens que estão atuando no período
recente, tendo assumido cargos de
coordenação nos últimos 05 anos, em
virtude de sua pouca idade.
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As entrevistas foram realizadas com
as lideranças por meio de uma conversa
guiada por questionários semiestruturados.
É uma técnica muito utilizada e adequada
para se conseguir informações, composta
por questões organizadas num roteiro feito
de “uma série de perguntas abertas, feitas
verbalmente em uma ordem prevista”.
(Laville & Dionne, 1999, p. 188) para
possibilitar a comunicação do máximo de
informações e dados no contato com cada
sujeito da pesquisa.
A interação entre sujeitos em uma
troca que possibilite a construção de
conhecimentos se apresentada de forma
coerente com os objetivos deste estudo que
se debruça também sobre as questões da
juventude e mulheres, pois, no dizer de
Bauer,
Dentro destes grupos será necessário
levar em consideração se tais
características como gênero, idade e
educação seriam relevantes ou não.
Sabe-se, por exemplo, que embora os
homens tendam a aceitar mais as
novas tecnologias que as mulheres, a
relação com a idade não é tranquila.
Uma vez mais o pesquisador terá de
tomar algumas decisões entre os
benefícios de se pesquisar
determinados segmentos e os custos
de se ignorar outros. (2002, p. 70).
Assim, este estudo assume as
questões de idade, gênero e educação como
relevantes e elege como critério de seleção
amostral das lideranças dos movimentos
sociais que serão entrevistadas a garantia
da presença de representantes da
juventude, de mulheres em virtude da
invisibilidade dispensada a estes grupos em
diferentes espaços e publicações.
Como as organizações sociais são
espaços de hegemonia masculina e de
adultos, eleger as mulheres e os jovens
como protagonistas desta pesquisa implica
em enfrentar o silenciamento e abrir
espaços de empoderamento na academia e
no interior do movimento social. É uma
demanda pertinente por enfocar sujeitos
sociais que são inferiorizados mesmo
dentro dos grupos mais excluídos da
sociedade.
Dentro das relações de classe se
impõem também relações de gênero e
geração, questões de educação e cultura,
imbricadas num amálgama complexo e
multifacetado. Entender esta realidade
pode jogar luzes para o processo de
construção do desenvolvimento para as
populações camponesas e o conjunto da
sociedade.
As vozes extrativistas na defesa da
floresta em pé
As vozes e falas das lideranças do
CNS e EFAS refletiram e aprofundaram a
imbricada relação entre a formação, a
pedagogia da alternância e as experiências
de construção identitária dos camponeses
extrativistas do sul amapaense.
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Os sujeitos entrevistados
manifestaram diversos elementos que
corroboram com esta organização do
movimento social no sul do Amapá em sua
gênese extrativista. A importância da
Igreja Católica como espaço de formação
de lideranças voltadas para a realidade é
apresentada nas falas a seguir:
Todo esse trabalho de base, a
Igreja foi muito forte nesse
processo e aqui naquele momento
começou-se pelo Estado, no
período do regime (militar), a
Igreja fazendo todo o trabalho de
organização de base, que ajuda
na formação dos sindicatos, das
organizações, o movimento dos
grupos de jovens, a criação do
partido (PT), as coisas vão
acontecendo todas de uma forma
muito articulada, em 1981,
acontece a primeira articulação
aqui no Estado pelas Escolas
Família, ao mesmo tempo que
houve a formação das
Comunidades Eclesiais de Base, o
movimento dos jovens, na Igreja
Católica ... O movimento de
jovens teve um trabalho
fundamental, ali foi a base.
(Açaizero, 2017).
Eu não tive acesso a escola, o
estudei. O pouquinho que eu
aprendi, parte da minha educação
vem da comunidade, da igreja, do
dia-a-dia, aprendi ler e escrever, e
fui aprendendo a ver as coisas,
sempre participei da comunidade.
(Mogno, 2017).
A partir daí é que vieram algumas
oportunidades, os movimentos
sociais, as Comunidades Eclesiais
de Base, a partir dos padres e das
comunidades começaram o
movimento sindical, foi o tempo
que começou as discussões.
(Angelim, 2017).
A Igreja, o movimento social
cresceu bastante, a gente foi vendo
que sem organização a gente não
podia vencer o poder aquisitivo, o
poder concentrado em quem tem o
dinheiro e a maioria fica para
baixo. Quando eu pude a partir da
palavra de Deus, lendo a Bíblia,
participando de encontros, o CNS
promovendo os encontros, o
sindicato rural também aí eu fui
me envolvendo nisso. (Buriti,
2018).
A Igreja Católica é apontada em todas
as entrevistas como espaço de formação e
organização das comunidades, dos
trabalhadores, movimentos sindicais e
sociais sendo que sua atuão durante a
ditadura militar foi muito importante para a
resistência e luta pela retomada da
democracia e fim do regime de exceção.
A aprendizagem da leitura que
pressupõe a ligação da com os desafios
da vida, a organização sindical e atuão no
movimento social, o as bases de uma
nova pedagogia no território amanida
(Sousa, 2016).
As falas dos sujeitos entrevistados
apontam para a atuação dos padres
católicos no trabalho de organização de
base com as CEB’s, por meio dos estudos
bíblicos na perspectiva crítica da Teologia
da Libertação que possibilitaram formação
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e tomada de consciência das lideranças e
toda comunidade. Numa fala sobre a
atuação recente da Igreja:
Eu vejo que a igreja é um dos
caminhos para voltar para a base,
trabalhar a juventude, trabalhar as
mulheres, entendeu. Tivemos uma
reunião com o bispo e ele dizia que
a Igreja calica tem que ir pro
movimento, a igreja tem que
trabalhar o movimento social, tem
que trabalhar a economia soliria,
a igreja tem que deixar de ser
assistencialista e fazer com que as
pessoas que o no assentamento
possam buscar um meio de vida e
ter uma qualidade de vida mais
digna, eu vejo que a igreja hoje tá
fazendo um pouco por onde,
começando pela crião dessa
coordenação de povos e
comunidades tradicionais que
justamente isso é pra estar mais
próximo vendo a demanda da
comunidade, da base da igreja e pra
estar levando também. (Ucuúba,
2017).
A fala de Ucuúba apresenta
elementos que interligam a ação cotidiana
com as demandas da comunidade, a
qualidade de vida social. Esta atuação é
considerada decisiva para a estruturação do
movimento sindical, movimento social e
do próprio CNS, ao ponto de se confundir
a formação e os encontros promovidos pela
pastoral, o sindicato e o CNS nas
comunidades.
O sul do Amapá foi o território onde
os extrativistas iniciaram sua organização
política partindo desta nova identidade.
Esta faixa do espaço é também mapeada
como região sul dentro da cartografia da
gestão estadual e Território da Cidadania
para as políticas e programas federais .
Esta é a região das áreas protegidas
conquistadas pelos extrativistas na década
de 1990 (FILOCREÃO, 2014), ou seja,
território de luta dos extrativistas
organizados no CNS no sul do Amapá.
A nossa finalidade é outra, é viver
dos recursos naturais, mas
conservar eles e preservar as
espécies que tem que ser
preservadas. Isso eu aprendi e
sempre defendi ... Nós tivemos
também a oportunidade de
começar a ingressar e começar a
trabalhar e enxergar a distância
que tinham os governantes e nós
começamos a trabalhar para que
as autoridades governamentais
começassem a reconhecer a nossa
classe de verdade. Extrativista.
Como as nossas atividades eram
tão diferentes, não só a questão
agrícola, agricultura era de
subsistência, auxiliar à produção
extrativista que começou a
nascer. (Angelim, 2017).
Em 93, após a criação da RESEX,
minha formação na Escola
Família no Espírito Santo me fez
ter uma visão crítica sobre o
meio, a proteção do nosso meio,
fortalecer o nosso meio. Daí quem
forçou a ter uma Escola Família
diferente fomos nós do CNS.
Porque as Escolas Família todas
nasceram agrícola, o que é
extremamente compreensível
porque vieram com modelo do sul
do Brasil, o sindicato vem desse
modelo, onde a questão de
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floresta, biodiversidade era
ignorada no processo. Então deu-
se o conflito. Entramos numa
contradição danada. Apesar de
ter clareza sobre muita coisa, mas
em relação das atividades do que
eu fazia aqui eu era ignorante. A
cabeça ficou encucada. (Açaizero,
2017).
Açaizeiro apresenta sua vivencia na
Escola Família do Espírito Santo como
fruto desta “consciência sobre o meio”. A
pedagogia da alternância coloca os sujeitos
em contato com seu meio de forma crítica
e propositiva. Gera crise. Produz
desconforto, conflito e insegurança.
Conforme Sousa
A proposta pedagógica diferenciada
baseia-se em um processo formativo
que se a partir de espaços e
tempos alternados e diferenciados
comunidade e escola que valoriza o
aprender pelo fazer, na medida em
que favorece o aprendizado por meio
de experiência do cotidiano do
educando e pela reflexão a partir da
realidade concreta em que este
sujeito vive. (Sousa 2016, p. 24).
Nesta reflexão a partir do meio se
deram as tentativas de organização dos
trabalhadores do sul do Território do
Amapá, município de Mazagão, que
constituíram o amálgama de uma nova
identidade camponesa coletiva: os
extrativistas. Uma consciência coletiva que
brota do diálogo face a face, entre iguais,
se amplia para os sindicatos e organizações
institucionais e reclama do Estado e dos
gestores públicos um tratamento
diferenciado que considere esta identidade
diferenciada. Fernandes (2009) afirma essa
recriação criativa do campesinato por meio
da luta, pois são parte da classe
trabalhadora, sim; agricultores, sim, de
subsistência; mas, de forma central e
totalizante, extrativistas.
Fez parte deste processo de
construção de identidade o contato com
Chico Mendes e os companheiros
extrativistas do Acre e, ao mesmo tempo,
esta nova autoimagem reflete um
estranhamento frente ao jeito de ser do
“modelo do sul do Brasil” (Açaizeiro), um
processo educativo fundado na agricultura,
sindicatos nesse perfil e uma crise diante
dos extrativistas amapaenses em seu meio.
Da ignorância sobre o que se fazia para a
convicção de uma irrupção coletiva diversa
do restante da classe trabalhadora no
cenário nacional.
Este estranhamento diante do
restante do país produz um novo
sindicalismo (ou a crise do sindicato
tradicional como se organizava até então),
impulsiona o surgimento de novas Escolas
Família que se fundamentam neste caráter
agroextrativista, firma a luta de resistência
e disputa do território no sul do Amapá na
forma inovadora de Reservas Extrativistas
e solidifica a base do CNS como
movimento social próprio e apropriado
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para a defesa dos camponeses extrativistas,
os povos da floresta.
de 2000 pra não, a escola
família entrou, o Estado
colocou também o ensino médio
na vila Maracá então tem mais
uma participação. Então não era
mais aquela coisa a pessoa
entrando leigo, leigo sem saber
escrever. Naquela época nos
movimentos o pessoal muitas
vezes sabia ler, mas não sabia
escrever porque não tinha uma
educação mesmo nas
comunidades. (Massaranduba,
2018).
Técnicos contratados para
viabilizar, mobilizar os técnicos
que tinham o melhor perfil para
trabalhar nas comunidades, fui
escolhendo os que tinham
passado pela Escola Família,
tinham se formado juntos,
começou o trabalho que durou 05
anos. Eu fiquei um ano e meio,
começa a minha percepção do
papel da floresta, e mostrando a
crise que eu tinha trazido da
Escola Família ... A equipe era
formada por profissionais de um
perfil muito mais agronômico.
Como era natural, a turma
enveredou, em vez de entrar na
questão da biodiversidade, na
questão da borracha, castanha,
açaí, foram abandonando isso e
entrando na questão da
agropecuária, da roça, da criação
de porcos, da galinha de granja,
pelo perfil e eu discordei disso e
pedi para sair. O dinheiro do
PPG7 não veio para isso, veio
para fortalecer a floresta em pé.
(Açaizero, 2017).
Nós não podemos perder as
nossas origens, a nossa tradição,
os nossos costumes e a fidelidade
com nossa classe ... Os técnicos
que foram trabalhar nesta área
tem que se adequar com os
conhecimentos tradicionais e
valorizar os moradores daquele
território. (Angelim, 2107).
As dificuldades com o perfil dos
técnicos contratados começam a produzir
uma fissura no tecido frágil da
organização social da rede recém-formada.
Libertos dos coronéis, dos patrões, os
extrativistas são forçados a criarem novas
instituições, com perfil de produção e
gestão, numa área em que são
completamente inexperientes. Na luta, os
padres e as lideranças sociais assessoravam
e indicavam os caminhos, mas neste
momento, são os burocratas estatais e os
técnicos contratados, estranhos à cultura e
convívio com eles, que darão as diretrizes.
E os técnicos de perfil “agronômico”
com certeza não consideraram os
“conhecimentos tradicionais”, mas
impuseram aos extrativistas outras culturas
e produções que se chocavam frontalmente
com a perspectiva da “floresta em pé”.
Capacitação para agropecuária, crédito
para iniciar roça e entrar no pacote da
agricultura capitalista, que destrói a
biodiversidade, a floresta como um
obstáculo para a monocultura de escala.
Sem saber, a classe trabalhadora estava
entrando em uma armadilha com
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consequências nefastas à sua reprodução
material e ao seu modo de vida.
Esta formação que não é enraizada
no chão da vida da comunidade e este
perfil técnico que não vem de encontro as
demandas do território dos camponeses
extrativistas impõe pesada crise no
processo, pois não contempla os princípios
e pilares da pedagogia da alternância
(Gimonet, 2007).
O que se pode dizer das autênticas
lideranças que não deixaram de acreditar e
continuam a impulsionar as ações? E onde
estão as novas lideranças tão necessárias
para renovar como um sopro o fogo da
vitalidade social da classe trabalhadora,
dos extrativistas amazônidas? São estas
respostas que serão apresentadas por meio
das falas das lideranças jovens que
começam afirmando que
Atualmente eu acho que o
movimento social está tentando
reescrever algo que no passado
foi mais ativo. Sempre eu digo que
o movimento social hoje ele vive
uma terceira geração, na
primeira geração eu tenho em
mente o Pedro Ramos, o Tomé
Belo, o próprio meu pai que era
mais ali no local, mas também era
uma liderança, (Sabá Marques
Sebastião Marques), que foi o
primeiro presidente da associação
da escola família do Maracá e
que ajudou a fundar a escola
também em 1999/2000, mas muito
antes dele tinha essas pessoas
(Pedro, Tomé ...) mas assim, de
prá veio a segunda geração foi
o pessoal do Duca, o próprio
Joaquim eu considero como
segunda geração, e essa terceira
geração eu vejo que somos nós
que estamos na frente das
associações então eu sempre
penso que diante de tudo isso que
eles passaram a gente tem que
avaliar e ver o que de bom eles
fizeram por nós? Será que a
segunda geração deu sequencia
no que os outros deixaram? Ou
será que nós vamos ter que de
certa forma consertar algo que a
segunda geração fez de errado?
Porque eu lembro que na década
de 1980 o movimento social era
muito forte na minha região, hoje
ele fragilizado. Então, de certa
forma a gente tem que resgatar
isso e que não é fácil hoje.
(Ucuúba, 2017).
O jovem Ucuúba está reescrevendo a
história do movimento social com sua
memória histórica e sua ação militante.
Quilombola, extrativista, presidente de
associação, uma liderança jovem da
“terceira geração”, como o próprio
sistematizou. Na fala deste jovem líder é
possível traçar a trajetória do movimento
de uma forma inédita e carregada de
simbolismo: geração, sucessão de pai para
filho. Esta percepção embasa a
característica determinante apontada por
Marx (2009, p. 21) quando fundamenta a
trajetória dos trabalhadores na relação
“historicamente criada com a natureza” e
de uns com os outros, salientando a
importância do legado que cada geração
recebe de sua predecessora.
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A trajetória de Ucuúba é a mesma de
centenas de outros jovens extrativistas.
Com o pai aprendeu a tirar da floresta o
sustento, mas aprendeu mais. Diferente de
outros jovens de sua idade ele aprendeu a
ler a história da sua classe com a
sensibilidade e o compromisso necessários
para se erguer e assumir uma liderança em
sua comunidade.
Busca na memória um tempo bom,
quando o “movimento social era forte”,
puxado por lideranças que “passaram por
muito” e coisas muito boas fizeram.
Fundaram escolas. Eram ativos. E se
questiona a si e à segunda “geração” se
uma sequência ou se erros devem ser
consertados.
Mas não se acomoda, age. E afirma
resoluto: “A gente tem que resgatar isso!”.
Diretamente desde 2001, quando
a gente fala que o jovem hoje
mais atuante é que na década de
1990 a gente não tinha tanto... o
pessoal não dava tanta
importância pro jovem, não era
tanto a importância, não
colocavam ele pra assumir um
cargo nem que seja um cargo
daqueles como conselheiro fiscal
ou suplente, não colocavam
devido a idade a não ter
maturidade e até porque o jovem
naquela época não tinha certo
conhecimento se a gente for
avaliar a década de 1990 o ensino
era praticamente zero aqui na
nossa região o pessoal terminava
a quarta série normal e isso a
gente sabe que um ensino bem
abaixo do esperado então o
jovem não tinha como estar
participando. (Massaranduba,
2018).
Se a Escola Família foi espaço de
formação positivo para o líder Ucuúba, a
falta de uma educação com qualidade é
apresentada pelo jovem Massaranduba
como um dos motivos pelos quais estes
não tinham participação ativa nas
organizações da sociedade. “Ensino bem
abaixo do esperado” ou “praticamente
zero” era uma realidade que comprometia
a participação juvenil.
Afirma-se nestas duas falas uma
possível diferença no comportamento da
geração jovem nestes dois momentos. Sem
educação de qualidade com escolas
referenciadas na realidade e na cultura
extrativista, sem participação da juventude.
Com educação que possibilita a formação
da consciência e da militância, jovens
atuando e assumindo liderança em sua
base.
É possível que a questão da
participação juvenil seja bem mais
complexa, mas estas percepções
manifestadas apontam para uma questão
fundamental presente nas falas de todos os
entrevistados que será retomada adiante: a
educação do campo.
E este aprendizado se deu em grande
medida por uma linha estratégica tirada
pelo movimento social, o investimento na
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dimensão da educação. A estruturação de
uma educação para o campo foi um projeto
estruturante dos movimentos sociais no
campo brasileiro desde os anos 1980/1990.
No sul do Amapá foram as Escolas Família
a materialização desta prioridade
estruturante, conforme os relatos a seguir:
teve um projeto grande da
ATEXMA que foi a criação da
Escola Família, na qual, na época
meu pai me matriculou na Escola
Família e a Escola Família é
voltada pra realidade das
comunidades e dentro das escolas
tem a pedagogia da alternância
que a gente sabe que é uma
pedagogia diferenciada né outra
modalidade de ensino, de
educação. (Massaranduba, 2018).
Os entrevistados fazem referência
direta às escolas EFAC e EFAEXMA, que
se situam no Mazagão e atendem aos jovens
do sul do Estado, além das ilhas do Pará.
Conforme afirma Costa (2016, p.
119), a Educação do Campo no Brasil
surge da “participação dos trabalhadores
organizados para reivindicar e assegurar o
direito à educação, a partir da realidade e
das necessidades do campo”.
Segue a narrativa de Massaranduba
sobre seu processo de liderança jovem
Aí foi que em 2012 eu fazia
parte do movimento social da
escola família como tesoureiro da
associação eu vim numa
assembleia, foi justamente no dia
que tinha uma assembleia na
comunidade foi que a comunidade
me perguntou se eu não tava
interessado em ser o presidente
da associação aqui do Conceição
... Todo o Igarapé do Lago ele é
só uma família, aí veio esse que já
foi o primeiro presidente da
ATEXMA o Edmundo e disse que
tal criar um território quilombola,
foi discutido e todo mundo
disse que é importante que todas
as comunidades estejam
envolvidas nessa política para o
afrodescendente. Aí foi discutido
o estatuto e foi que me
convidaram pra ser presidente,
a gente logo no início é um susto
né, não preparado pra assumir
uma responsabilidade tão grande
né, mas como a gente já, eu já
tinha terminado meu ensino
médio, vinha numa preparação
dentro da escola família que ela
prepara dentro dos seus
instrumentos pedagógicos, eu
não fui uma pessoa que entrou no
movimento crua, né, no nosso
linguajar propriamente dito, aí foi
que eu engajei como presidente e
estou até o presente momento
como presidente da associação,
no segundo mandato.
(Massaranduba, 2018).
Mais uma liderança moldada na
Escola Família, na vivência da pedagogia
da alternância e seus instrumentos.
Experiência educativa que foi uma escolha
estratégica do CNS para a formação dos
filhos dos extrativistas. Esta experiência
formativa é referência de uma ação de
empoderamento dos educandos, desafiando
a vivência do protagonismo no seu meio e
o engajamento pelo desenvolvimento de
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suas comunidades. A questão do território
quilombola, a responsabilidade e
maturidade, o segundo mandato seguido
são pistas de um trabalho aceito e
acreditado pela sua base social.
Os camponeses constituem uma
complexidade com suas culturas próprias e
a necessidade de garantir uma educação do
campo que é possível, por meio de um
processo que permita afirmar essa
identidade, a suas tradições e culturas
inerentes as suas realidades (Gimonet,
2007).
A compreensão da realidade se tece
na presença do educando junto com a sua
família, onde a partilha dos alternantes
constitui suporte essencial para o
aprendizado, pois na Alternância é
fundamental a participação dos alunos,
pais, professores e comunidade (Ribeiro,
2010).
Dessa forma, a Pedagogia da
Alternância articula prática e teoria numa
práxis, onde o educando vivencia
determinado tempo estudando e retorna a
sua comunidade, ao convívio familiar,
executando as práticas aprofundadas
(Ribeiro, 2010).
Outra experiência formativa
vivenciada pela juventude do sul do
Amapá é a Licenciatura em Educação do
Campo ofertada pela Universidade Federal
do Amapá no Campus de Mazagão. Com a
intencionalidade do PPC no tripé Estudo-
Pesquisa-Extensão na pedagogia da
alternância, a jovem Castanheira vivenciou
um projeto de extensão que contribuiu com
suas escolhas conforme o relato:
O que me ajudou mesmo foi o
projeto de extensão que o
professor falava que a gente tinha
que ter o nosso protagonismo, nos
incentivou, eu me lembro que
quando foi pra mim ser a
coordenadora eu fiquei
pensando... o professor e a
professora falam que a gente tem
que ter o nosso protagonismo,
foi que eu fui! (Castanheira,
2017).
Eu acho que é incentivo, eu
durante o curso fui bem
incentivada, por isso eu acho que
talvez seja isso que faltando
pra eles, uma capacitação como o
professor deu, pra explicar, pra
não querer mais ninguém dando a
opinião pela gente. A gente tem
que expressar nossa opinião,
talvez é isso que falta alguém
dizer vocês são donos da opinião
de vocês, vocês tem que decidir
por vocês, vocês tem capacidade
pra isso, isso que faltando pros
jovens da minha comunidade, não
da minha como de todas, é
isso. (Castanheira, 2017).
Acho que é fortalecer mais ela,
pra eles terem mais o seu
protagonismo, não ficarem ali
parada, a juventude tem que ter a
sua própria opinião, acho que
isso é importante, capacitar para
que os jovens cada vez mais
tenham a sua opinião, a sua
própria decisão, pra falar não, é
isso e isso e isso” pra falar por
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eles, que é muito importante.
(Castanheira, 2017).
Com a formação recebida,
Castanheira sentiu-se empoderada para
assumir um cargo de coordenação e
representação a nível estadual, se sentindo
incentivada pelos professores
universitários para se expressar, viver seu
protagonismo, tomar suas próprias
decisões, acreditar em sua própria
capacidade e espalhar isto para os outros
jovens de sua comunidade, na esteira do
que afirma Castro (2010).
Partindo da experncia de formação
nas Escolas Família, na igreja e na
universidade, os jovens ampliam sua
capacidade de interação e leitura crítica do
processo que os cerca, chegando ao ponto
de tecerem críticas também ao movimento
social, conforme as falas a seguir:
O CNS enquanto Juventude eu
não vou mentir meio parada as
atividades, pelo menos aqui no
Estado. Enquanto a Cáritas né, o
pessoal hoje em dia tão bem
ciente né, pelo menos nas
comunidades onde ela anda, tem
muito parceiro, no Maracá, eles
vão comunicando, vão fazendo
ação é importante também ter
ação, enquanto CNS não tem
chegado nas comunidades, não
sei pra fora o presidente é mais
nacional né, talvez.
(Castanheira, 2017).
Pra falar a verdade teve a eleição
né, que foi através do grito da
floresta que foi decidido que
eles iam fazer uma reunião e que
ia ter a posse nossa e nada disso
aconteceu, eu não sei se tem
algum documento especificando
que a gente é coordenador ou
não, porque não teve posse, a
gente foi eleito, mas não teve...
Enquanto juventude também eu
não sei em alguma parte... E é
filho de extrativista, quem tá na
escola do Maracá é filho de
extrativista... É quem ele tem que
representar também.
(Castanheira, 2017).
Inclusive os meninos que me
cobram muito o os meninos do
Bailique, eles ligam e puxam
minha orelha, no entanto, eu ainda
não tive condições de ir lá com
eles sentar pra conversar, pra
saber as coisas que eles
necessitam mesmo, as demandas
deles. Eu tenho contato deles, eu
falo por telefone com eles, com a
Mauriele que é minha suplente,
mas eu ainda não cheguei pra
reunir com os jovens e é
importante isso no Bailique, não
no Bailique, mas em outras
comunidades. (Castanheira,
2017).
A Escola Falia prepara para intervir
no meio, a igreja desperta a liderança e
convida a multiplicar nas comunidades e a
universidade desafia a vivência do
protagonismo pela pesquisa e extensão. Esta
formação recebida fortalece as lideranças
jovens que ousam fazer críticas também ao
movimento social, pelos espos vazios,
falta de ação e problemas de organização.
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Os jovens querem mais, cobram
muito, “puxam a orelha” das lideranças e
exercem a vigilância própria de quem está
na base, mas querem sentar e conversar e
resolver suas demandas. Castanheira cobra
representação, cobra ação. Como afirma
Vieira (1999), os movimentos sociais são
sacudidos pela “ascensão da organização
das mulheres e da juventude com bandeiras
próprias e autonomia”.
Os jovens querem mais e sua voz
começa a ser ouvida, o “grito da floresta”
perde a timidez e se ergue com altivez e
coragem.
A verdade s a alguns anos
viemos fazendo uma avalião em
relação aos grandes movimentos,
no caso o CNS, o GTA, na qual
prá pra nossa região ele não
faz um trabalho transparente, né,
no qual a gente fez uma avaliação
e nunca muda a diretoria do CNS,
nunca dão a oportunidade pras
novas lideranças, uma pessoa que
a gente tem grande respeito é o
Pedro Ramos que ele é um dos
grandes pessoas que trouxe o
movimento aqui pro Estado do
Amapá que a gente reconhece,
mas as outras, tem o Joaquim que
tem um trabalho muito importante
mas que pouco tem participação
dos outros movimentos, no caso
dos núcleos de base, das outras
associações que dão suporte ao
CNS. que a gente reconhece
que sem esses movimento a gente
tava ainda muito a desejar com as
políticas públicas voltadas para o
Agricultor Familiar, para o
Extrativista e para o quilombola e
para os outros segmentos da
sociedade civil. (Massaranduba,
2018).
A juventude apresenta também uma
crítica responsável, se incluindo dentro do
processo, reconhecendo os elementos
positivos, avaliando, valorizando e
cobrando transparência. Massaranduba
reconhece o trabalho de Pedro Ramos,
“grande pessoa” e Joaquim Belo, com
trabalho muito importante. Mas aponta
uma fragilidade, pouca participação da
liderança nacional nos grupos de base, falta
de reuniões e assembleias a nível estadual,
inexistência de reuniões nas comunidades.
Esse é o motivo da crítica. Por outro lado,
conclui reconhecendo que sem esses
movimentos não haveria as políticas
públicas para o extrativista, para o
quilombola. Segue o jovem Massaranduba:
A educão do campo ela é um
ponto importantíssimo
principalmente pras comunidades e
pra agricultura familiar em si,
falando da escola família por que
ela trata de uma pedagogia
diferenciada que é voltada pra
realidade de cada comunidade e de
cada região. Ela tem um papel
fundamental com relação a essas
poticas publicas pra qual ela
possa chegar na comunidade e em
relação ao Procampo no qual já
existe as grandes interveões da
sociedade civil que conseguiu eo
dizer: - Ah, o governo que quis
implantar” Devido as organizações
se organizarem porque a gente tem
direito a constituição é uma na
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qual o pessoal da região sul eles
tem direito mas a gente tem o
mesmo direito que eles tanto na
área urbana quanto na área rural.
... Se a gente for avaliar a cinco
anos atrás não tinha nenhum aqui
da comunidade com ensino médio
completo. Mas hoje a gente já tem
pessoas que terminaram o ensino
médio, fizeram curso técnico
profissionalizante, tem outros que
o cursando curso superior, uns
o terminando, outros iniciaram e
a gente esperando que haja mais
inscrições na qual a gente possa
incluir os nossos jovens aqui da
comunidade e das outras
comunidades tamm. Da
comunidade tem 5 se eu não me
engano, tem o Dione que quase
terminando, tem o Pedro que é da
nossa região que o se
associou, mas aqui do nosso
movimento quilombola tem uns 5
ou 6 eu acho. Eu, logo que iniciou,
eu me inscrevi que não fui fazer
a prova, aí nas outras inscrões eu
o me inscrevi e ainda o tive
oportunidade, tô esperando uma
nova, nunca é tarde pra gente se
qualificar. tenho um curso
cnico em agroecologia e outro
cnico em meio ambiente pelo
IFAP de Laranjal do Jari que eu
me inscrevi aqui pelo assentamento
Mara que eu terminei e o de
agroecologia pela escola família do
Mara e tô pretendendo atingir o
curso superior. Mas a educão do
campo tem um papel fundamental
tanto pro desenvolvimento na parte
de campo quanto também o
conhecimento. (Massaranduba,
2018).
Massaranduba afirma a importância
da Educação do Campo para o
desenvolvimento das comunidades, muito
além do acesso ao conhecimento. Sua fala
é carregada de sentidos e elementos
estruturados de uma liderança que percebe
a profundidade e o alcance da temática
com propriedade.
Dentre os temas elencados nesta fala,
a especificidade da Educação do Campo
como uma proposta diferenciada que vai
ao encontro da realidade da comunidade e
de cada região é amplamente referenciada
nos teóricos que embasam a Educação do
Campo (Caldart, Koling, Hage e outros).
Como resposta dos movimentos sociais a
uma educação homogeneizadora com
currículo e materiais didático-pedagógicos
urbanocêntricos, a afirmação da realidade
das comunidades do campo de cada região
é a garantia de um processo de construção
do conhecimento que contemple os saberes
e a cultura de cada educando, direito
ancorado na Constituição Federal e na
LDB/1996.
O quilombola Massaranduba afirma
ainda que a Educação do Campo tem um
papel “fundamental com relação a essas
políticas públicas” acessadas pela
comunidade, pois é pela educação que se
acessa o conhecimento do direito e a
necessidade de luta para que este
imperativo legal possa se materializar na
realidade do campo.
É pela organização dos trabalhadores
que estes avanços se “vão conquistando”,
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não como bondade dos gestores públicos,
mas como fruto da pressão coletiva dos
camponeses, sendo que é um momento
negativo, pois o governo atual está
“retroagindo” estas políticas públicas
(Janeiro de 2018 Temer).
Num intervalo de cinco anos é
apresentada uma mudança de cenário
educacional na comunidade, pois onde
ninguém conseguia concluir o Ensino
Médio, hoje os jovens além de acessar este
nível de formação, podem realizar Cursos
Técnicos e, também, o tão sonhado Ensino
Superior por meio do PROCAMPO e da
LEDOC.
Com alegria e esperança,
Massaranduba comenta sua formação com
dois cursos técnicos (Agroecologia e Meio
Ambiente), sendo um pela Escola Família
e outro pelo IFAP, e os planos de ingressar
no Ensino Superior. É uma jovem
liderança que se formou na Educação do
Campo e milita na defesa desta demanda.
A educação do campo ela vem
como um elo principal acho que
através dela talvez a gente
consiga manter nossos jovens no
campo, não os jovens mas
também aquelas pessoas que
pensariam em sair pra estudar
fora, mas como essa nova
oportunidade aqui no Mazagão de
ter educação do campo mais
próximo e de estar na comunidade
dando continuidade ao movimento
social e estar estudando ao
mesmo tempo eu acho que isso é
muito importante e talvez dessa
forma a gente consiga
reestruturar novamente,
entendeu? Porque se não tiver
educação acho que não se
consegue nada. (Ucuúba, 2017).
A percepção de Ucuúba aproxima o
campo amapaense do Ensino Superior e
garante a continuidade do movimento
social nas comunidades, pois essa é uma
prerrogativa da pedagogia da alternância,
onde os diferentes espaços se cruzam em
tempos formativos tanto na universidade
como nas comunidades, no trabalho e
vivência familiar. Conforme apresenta
Heliadora Costa (2016) em sua dissertação,
o PROCAMPO e a LEDOC concretizaram
a Educação do Campo de ensino superior
no sul do Amapá, no município do
Mazagão, para que os povos do campo
tenham seus educadores formados sobre
estes princípios e fundamentos
epistêmicos.
Em fidelidade a estes princípios, na
Amazônia amapaense a Educação não é
somente do Campo, mas também das
Águas e Florestas. Na aposta de Ucuúba,
esta é a chance de reestruturar a região,
pois sem educação não se consegue
nada”.
A luta atrás era pro jovem
chegar num ponto assim de tocar,
eu lembro do seu Pedro Ramos e li
alguma coisa do Chico Mendes
(que morreu) que o sonho deles
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era o Jovem ter uma faculdade no
interior, muitos deles não viram
isso, mas essa luta vem de
pra que o jovem pudesse ser um
professor... eu vejo que se hoje
nessa situação é reflexo de trás,
pensaram, foi pensado, não é
de hoje o. Então a gente acha
que a faculdade tá aqui ou que tem
uma associação, numa escola ali e
acha que foi agora, mas isso foi
pensado e realizado lá. (Jequitibá,
2018).
Este recorte das bandeiras históricas
na fala de Jequitibá situa as experiências de
Educação do Campo no seio das lutas
travadas nos anos 1970-1980 que foram
materializadas a partir dos anos 1990. A
recordação de Chico Mendes, Pedro
Ramos e outras lideranças históricas da
primeira geração de extrativistas
amapaenses que iniciaram a organização
dos camponeses remete a uma raiz das
conquistas que se apresentam como dadas
no momento atual.
As realizações de hoje são reflexo do
que foi pensado e lutado no passado. Uma
faculdade próxima dos extrativistas, jovens
das comunidades se formando professores
são parte desta estratégia assumida e posta
em curso pelo movimento social no sul do
Amapá.
Hoje sim, professor, demais, que a
gente aqui na faculdade a gente
buscou assim alguns teóricos que
ajudou a gente a melhorar aquilo
que a gente vivia antes na
prática né, a gente falava, mas
não tinha a compreensão de um
teórico assim falando da prática.
Então isso ajudou a gente a
fortalecer essa relação de como eu
era antes de entrar na
universidade e agora e, além
disso, a gente toma mais um pouco
de cuidado, a gente amadureceu
mais nessa questão de cuidado pra
não passar uma informão
errada, então isso fortaleceu mais
a gente de antes para agora.
Quando a gente entra em algum
debate assim tem uma base de
algum teórico né, isso ajuda a
gente a ter mais propriedade do
que a gente vai falar, não é mais
eu que estou falando tem
algm confirmando o que eu
falando, então isso pra mim
ajudou muito a minha vida hoje eu
acho de estar na faculdade.
(Jequitibá, 2018).
A LEDOC aproximou os jovens
extrativistas dos teóricos que estudam e
publicam a história das lutas dos
trabalhadores no campo brasileiro. A
academia possibilita a familiarização com
estes teóricos, seus princípios e conceitos.
Jequitibá tem mais cuidado para não
passar uma informação errada, adquiriu
maturidade, confiança e fortaleza em falar
com propriedade sobre sua comunidade, a
educação e outras bandeiras do movimento
social.
O maior desafio é a compressão,
ver compreender, saber o
“porquê”, e isso eu espero que se
a partir da educação,
conhecimento do que é a
associação, porque que nós
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precisamos nos associar, a
importância das organizações.
Quando falo das associações,
cooperativas, a organização
social, um dos grandes desafios
que a gente tem é tentar fazer com
que as pessoas possam
compreender, quando as pessoas
compreender o que é melhor, nós
vamos resolver nossos problemas
e tudo depende muito da
educação. (Mogno, 2017).
Mogno enfatiza o valor do
conhecimento e da compreensão de como
as coisas são, dos “porquês”, da
importância da organização dos
camponeses e a posição estratégica que a
educação ocupa nesse processo.
Não qualquer tipo de educação, mas
um processo que aproxime a construção do
conhecimento com as organizações dos
extrativistas, suas associações e
cooperativas, ou seja, um conhecimento
que sirva para a vida e para os processos de
união e articulação da classe trabalhadora.
Dentre tantos desafios, a Educação
do Campo se assenta numa posição
estratégica e central. Com ela as lutas se
articulam e as conquistas se materializam.
Sem ela, as chances da organização e
efetivação dos direitos dos extrativistas se
distanciam e dificultam. E é o movimento
social que conduz os esforços dos
camponeses por uma educação de
qualidade “no” e “do” campo, águas e
florestas no sul do Amapá (Caldart, 2004,
p. 18).
Considerações
Este estudo possibilitou analisar em
profundidade a trajetória da organização
política dos extrativistas do sul do Amapá,
suas conquistas e crises, suas lutas e
demandas, seus desafios e novos sujeitos
sociais.
O trabalho desenvolvido atendeu aos
objetivos propostos e respondeu as
questões levantadas no projeto de pesquisa.
A escuta dos sujeitos possibilitou ampla
argumentação sobre suas vivências
concretas em seu território onde se trava a
luta de classes e a elevação da consciência
coletiva.
Os extrativistas do sul do Ama se
organizaram em sindicato unitário e no
movimento social por meio do CNS. Estas
ferramentas organizativas foram
fundamentais para as conquistas das áreas
protegidas nos anos 1990 e acesso a
políticas blicas após 2002. Esta
organização pautou a educão do campo e
a pedagogia da alternância como fatores
estruturais para as conquistas na área
educacional (EFAs e LEDOC), bem como
elemento aglutinador na construção de
identidade própria.
Apesar das dificuldades
evidenciadas, as mudanças e melhorias
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identificadas nas falas dos sujeitos dão
conta de que, a luta do CNS e outros
movimentos possibilitaram efetivo
desenvolvimento para os trabalhadores e
suas famílias, sendo que as demandas que
permanecem dão conta de investimentos
estruturais em saúde, educação, energia,
saneamento e transportes que ainda não
foram efetivados pela ação estatal.
O estudo evidenciou a trajetória dos
extrativistas e sua consolidação em um
sujeito social com identidade própria,
processo baseado no trabalho de construção
das conscncias e no embate e afirmação
diante das outras forças externas locais,
nacionais e internacionais.
Os extrativistas se perceberam e se
afirmaram como classe social ao lutar
contra os coronéis, empresas e patrões na
defesa do seu território, sua autonomia e
garantia de manutenção de seu modo de ser
e de viver e de trabalhar. Seringueiros e
castanheiros, perceberam na floresta em
um marco comum na construção da
categoria social identitária: Extrativistas.
Trabalhadores extrativistas. Camponeses
extrativistas. Juventude extrativista.
Mulheres extrativistas.
A juventude e as mulheres
extrativistas romperam com a trajetória de
silenciamento e por meio da organização
política no território e nas pesquisas e
trabalhos acadêmicos. Este estudo aponta
para um marco na história do movimento
social e das pesquisas da universidade ao
tirar desta posição inferiorizada e explicitar
suas demandas e suas maneiras próprias de
construir sua luta e sua organização.
O texto está embasado nas falas dos
sujeitos entrevistados como expressão de
suas vivências e lutas revisitadas em sua
memória e consciência de classe
trabalhadora. Esta escolha por apresentar
as vozes destas lideranças, jovens e
mulheres extrativistas atende à opção
metodológica de ouvir os sujeitos e trazer
para a sistematização e elaboração as suas
expressões originais, sua visão e
percepção, sua autoimagem e identidade
em construção.
Os limites deste texto apontam para a
necessidade de outras pesquisas que
ampliem o quantitativo de vozes e joguem
luzes sobre outros elementos também
importantes para a compreensão do
fenômeno social, bem como aprofundem e
esmiúcem dados aqui apresentados ainda
que de forma introdutória.
A trajetória da educação do campo
centrada na pedagogia da alternância
aponta para uma vertente de água boa que
inspira a luta dos camponeses extrativistas
e de toda a classe trabalhadora para
transformar sua realidade e garantir as
melhorias da qualidade de vida nos seus
territórios.
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Informações do artigo / Article Information
Recebido em : 31/07/2019
Aprovado em: 30/09/2019
Publicado em: 19/12/2019
Received on July 31th, 2019
Accepted on September 30th, 2019
Published on December, 19th, 2019
Contribuições no artigo: Os autores foram os
responsáveis por todas as etapas e resultados da
pesquisa, a saber: elaboração, análise e interpretação dos
dados; escrita e revisão do conteúdo do manuscrito
e; aprovação da versão final publicada.
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data, production of the manuscript, critical revision of the
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Conflitos de interesse: Os autores declararam não haver
nenhum conflito de interesse referente a este artigo.
Conflict of Interest: None reported.
Orcid
Marlo dos Reis
http://orcid.org/0000-0002-9044-1955
Roni Mayer Lomba
http://orcid.org/0000-0001-6062-6142
Como citar este artigo / How to cite this article
APA
Reis, M., & Lomba, R. M. (2019). A pedagogia da
alternância e a construção do movimento social dos
extrativistas na Amazônia amapaense. Rev. Bras. Educ.
Camp., 4, e7328. DOI:
http://dx.doi.org/10.20873/uft.rbec.e7328
ABNT
REIS, M.; LOMBA, R. M. A pedagogia da alternância e a
construção do movimento social dos extrativistas na
Amazônia amapaense. Rev. Bras. Educ. Camp.,
Tocantinópolis, v. 4, e7328, 2019. DOI:
http://dx.doi.org/10.20873/uft.rbec.e7328