Revista Brasileira de Educação do Campo
Brazilian Journal of Rural Education
ARTIGO/ARTICLE/ARTÍCULO
DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.rbec.e7750
Tocantinópolis/Brasil
v. 6
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2021
ISSN: 2525-4863
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Egressos da Educação do Campo nas Ciências da
Natureza: perfil socioeconômico
Juliano da Silva Martins de Almeida
1
,
Wender Faleiro
2
,
Welson Barbosa Santos
3
1
Escola Agrotécnica da Universidade Federal de Roraima - UFRR. Campus Murupu. Rodovia 174, Km 37. Boa Vista - Roraima
2
Universidade Federal de Catalão - UFCat.
3
Universidade Federal de Goiás, Regional Goiás - UFG.
Autor para correspondência/Author for correspondence: juliano.almeida@ufrr.br
RESUMO. O Programa Nacional de Educação do Campo
PROCAMPO, lançado em 2012, buscou estabelecer um
conjunto de ações articuladas para melhor atender a educação de
regiões rurais do país a partir de uma formação docente ajustada
a tal demanda. Nesse contexto, o presente estudo buscou
conhecer o perfil socioeconômico de egressos em Educação do
Campo com habilitação em Ciências da Natureza, e que
obtiveram o tulo de licenciados pela UFERSA, UFGD, UFTM
E UFFS entre o período de 2014 a 2018. Os resultados apontam
que 66,67% dos egressos são do sexo feminino; 57,14% são
autodeclarados brancos; apresentam faixa etária média de 32,5
anos; 43% são casados; e apresentam renda familiar de 2
salários mínimos (33%). As Licenciaturas em Educação do
Campo apresentam desafios como a diminuição da taxa de
evasão/trancamentos, garantia aos excluídos do sistema de
ensino o direito à permanência e conclusão de seu curso
superior. Como é sabido a precarização e demérito da profissão
docente em nosso país é geral, contudo, é acentuada e
claramente desvelada nos professores do campo.
Palavras-chave: egressos, educação do campo, formação
docente, ciências da natureza, perfil socioeconômico.
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Graduates of Rural Education in Natural Sciences:
Socioeconomic profile
ABSTRACT. The National Program of Rural Education
(Programa Nacional de Educação no Campo - PROCAMPO),
initiated in 2012, sought to establish an ensemble of articulated
actions in order to improve the quality of education in rural
areas of the country by adjusting teacher trainings to such
demand. In that context, this paper aims to investigate the
socioeconomic profile of graduates in Rural Education with
focus on Natural Sciences who got their degrees from UFERSA,
UFGD, UFTM and UFFS between 2014 and 2018. The results
show that 66.67% of the graduates are female; 57.14% are self-
declared Caucasian; aged 32.5 years old, on average; 43% are
married; and their average family income is 2 minimum wages
(33%). The courses on Rural Education present challenges such
as decreasing the dropout/Leave of Absence rates, and
guaranteeing that those who were banned from the educational
system have the right to continue and finish their higher-
education courses. As it is known, the precarization and
belittling of the teaching career is generalized in Brazil, but that
reality is even more starkly evident in Rural Education.
Keywords: graduates, rural education, teacher training, natural
sciences, socioeconomic profile.
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Graduado de Educación de Campo en Ciencias Naturales:
perfil socioeconómico
RESUMEN. El Programa Nacional de Educación sobre el
Campo - PROCAMPO, lanzado en 2012, buscó establecer un
conjunto de acciones articuladas para servir mejor a la
educación de las regiones rurales del país basadas en la
capacitación docente ajustada a dicha demanda. En este
contexto, el presente estudio buscó conocer el perfil
socioeconómico de los graduados en Educación Rural con
calificación en Ciencias Naturales, y quienes obtuvieron el título
de graduados de UFERSA, UFGD, UFTM y UFFS de 2014 a
2018. Los resultados muestran que el 66.67% de los graduados
son mujeres; 57.14% se declaran blancos; edad promedio actual
de 32.5 años; 43% están casados; y tener un ingreso familiar de
2 salarios nimos (33%). Los títulos de licenciatura en
educación rural presentan desafíos tales como la disminución de
la tasa de deserción / bloqueo, garantizando a los excluidos del
sistema educativo el derecho a quedarse y completar su título
universitario. Como se sabe, la precariedad y el demérito de la
profesión docente en nuestro país es general, sin embargo, se
acentúa y se revela claramente en los maestros del campo.
Palabras clave: graduados, educación de campo, formación
docente, ciencias naturales, perfil socioeconómico.
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Introdução
Com o Programa Nacional de
Educação do Campo PROCAMPO,
lançado em 2012, foram selecionadas
quarenta e duas Instituições de Ensino
Superior para implantarem o Curso de
Licenciatura em Educação do Campo
(LEdoC). Vale destacar que, em 2008, a
Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG), Universidade Federal da Bahia
(UFBA), Universidade Federal de Sergipe
(UFS) e Universidade de Brasília (UnB),
em função “da experiência em formação de
educadores do campo e/ou experiências
com implementação de licenciatura por
área de conhecimento e/ou experiência em
gestão compartilhada com os sujeitos do
campo e suas representações” foram
convidadas para desenvolver uma
experiência piloto, cuja proposta “visava
estimular nas Universidades públicas a
criação de projetos de ensino, pesquisa e
extensão no âmbito da formação de
educadores para atuação com as
populações que trabalham e vivem no e do
campo” (Antunes-Rocha et al., 2011, p.
19).
As Licenciaturas em Educação do
Campo presentes em todo o Brasil
compreendem diferentes áreas de
conhecimento como: Artes, Literatura e
Linguagens; Ciências Humanas e Sociais;
Ciências da Natureza e Matemática; e,
Ciências Agrárias. O desafio é de ajustar
essas licenciaturas às demandas locais dos
trabalhadores rurais a partir de um projeto
pioneiro que se volte para o fortalecimento
da identidade campesina. Nesse empreito,
a aposta é que a formação especializada
para o campo, assim como a escola
destinada a tais grupos sociais, possa ir de
encontro às necessidades desses
campesinos espalhados no país. É por isso
que licenciaturas do campo do Rio
Grande do Sul ao estado do Amapá, da
Bahia ao Mato Grosso.
Assim, mediante a implantação das
Licenciaturas em Educação do Campo no
Brasil, e a formação das primeiras turmas a
partir de 2018, salvo os projetos pioneiros
das Universidades citadas, é que surge o
questionamento: Qual o perfil
socioeconômico dos egressos em Educação
do Campo com habilitação em Ciências da
Natureza?
Ao apresentar esta proposta de
pesquisa, salientamos que os
levantamentos do perfil do egresso dos
cursos de Licenciatura em Educação do
Campo que temos (Molina, 2014) abriram
o caminho para uma discussão, mas podem
ser melhorados, ampliados e voltados a
atender demandas mais especificas em
meio ao conjunto de habilitações que a
formação disponibiliza no país, haja vista
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consideramos que o grande número de
formandos no Brasil em Educação do
Campo ocorreu no final de 2018.
Dentro da perspectiva do que foi
feito, Sagae (2015), em pesquisa com 15
egressos do curso de Licenciatura em
Educação do Campo da UNICENTRO,
verificou que 80% dos egressos atuam
como professores em suas comunidades de
origem, contudo, sinalizaram a falta da
formação interdisciplinar. Brito e Molina
(2016), ao realizarem estudo clássico sobre
egressos da Licenciatura em Educação do
Campo na Universidade de Brasília (UnB)
buscaram fazer um levantamento dessa
questão. As autoras verificaram que 55%
dos egressos do curso em questão
trabalham na área de formação e que
apresentam dificuldades, tais como:
planejamento escolar, alterar as estruturas
escolares e promover mudanças reais para
a vida dos estudantes; currículo
tradicionalista e sem relação com o
cotidiano dos alunos, entre outros. Nesse
contexto, o presente estudo objetivou
realizar um levantamento sobre o perfil do
egresso dos cursos de Licenciatura em
Educação do Campo LEdoCs, com
habilitação em Ciências da Natureza.
Desenvolvimento
Compreende-se que os aspectos
quantitativo e qualitativo de um objeto de
estudo estão intimamente relacionados em
uma pesquisa, quer estejam no campo das
Ciências Humanas ou Exatas. Isso ocorre
porque o quantitativo pode ser explicado
pelo qualitativo e atribui um significado
em si e mediante o estudado (Souza &
Kerbauy, 2017). Nesse sentido, a partir de
uma abordagem quali-quantitativa, que
buscaremos investigar o perfil dos egressos
do curso de Licenciatura em Educação do
Campo, distribuídos nas seguintes
instituições de ensino: a) Universidade
Federal Rural do Semiárido RN; b)
Universidade Federal da Grande Dourados
MS; c) Universidade Federal do
Triângulo Mineiro MG; d) Universidade
Federal da Fronteira do Sul SC.
Em colaboração com as
coordenações das LEDOCs envolvidas, foi
realizado levantamento cadastral dos
egressos que obtiveram título de licenciado
entre 2014 a 2018, para fins de contato e
convite para participação do estudo, assim
como do fluxo das ofertas de vagas,
inscrições, matrículas, trancamentos e
egressos com habilitação em Ciências da
Natureza para o período destacado.
Reforçamos que embora a maioria das
licenciaturas tenham formado seus alunos
em 2018, entre as instituições
envolvidas, duas delas que graduaram
alunos dentro do período citado, ou seja,
entre 2014 e 2018.
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Mediante o levantamento das
informações cadastrais, foram contactados
53 egressos, dentre estes, 6 da UFERSA, 3
da UFTM, 28 da UFGD e 16 da UFFS.
Deste total, apenas 21 egressos
contribuíram com informações que
subsidiam a presente discussão, ou seja,
menos de 50% da amostra total. Este fator
pode estar associado ao limitado acesso à
internet, questão comum aos grupos
sociais, como os de agricultores familiares,
que vivem distantes dos espaços urbanos e
cujo acesso ao recurso tecnológico, além
de difícil, tem custos acima da média
cobrada em espaços urbanos. Se
considerarmos que 32 egressos podem
residir em áreas rurais/urbanas que não
possuem acesso contínuo ou diário a
internet, somadas às condições econômicas
para se ter tal acesso, talvez esteja aí, a
justificativa pelo qual um número
considerado de participantes não
respondeu a tempo hábil, o questionário
enviado.
A coleta de informações foi realizada
mediante preenchimento de questionário
online elaborado na Plataforma Google e,
enviado, posteriormente, por e-mail aos
participantes, juntamente com um Termo
de Consentimento Livre e Esclarecido. O
questionário ficou disponível para
preenchimento por 60 dias. Acredita-se
que a escolha dessa forma de coleta,
propiciou um ambiente favorável à
expressão das opiniões e percepções dos
participantes sobre o questionado, pois não
houve, por exemplo, constrangimento
deles em relação ao entrevistador, ou
ainda, inibição das respostas.
Na Tabela 1, são apresentados os
dados quantitativos da oferta de vagas
globais (VG), números de inscritos globais
(IG), matrículas globais (MG),
trancamento/evasão (T/E) de discentes na
Habilitação em Ciências da Natureza (CN)
e egressos (EG) em Ciências da Natureza
nos cursos de Licenciatura em Educação
do Campo presentes nas instituições que
compõem o presente estudo. Importante
ressaltar que, o termo global, está
relacionado ao quantitativo total de vagas,
inscritos e matrículas nas LEDOCs,
oferecidos pela UFTM, UFERSA e UFGD,
pois as referidas instituições oferecem
habilitações aos egressos em até duas áreas
de conhecimento. A UFFS é a única IES
dentre as citadas, que oferece o curso de
Licenciatura em Educação do Campo
específico com habilitação em Ciências da
Natureza.
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Tabela 1 - Fluxos das ofertas de vagas, inscrições, matrículas, trancamentos e egressos da Licenciatura em
Educação do Campo (LEdoC) entre o período de 2014 a 2018 na UFERSA, UFTM, UFGD e UFFS.
Fonte: Dados coletados pelos autores (2019) em colaboração com as coordenações de curso da UFERSA:
Universidade Federal Rural do Semi-Árido; UFTM: Universidade Federal do Triângulo Mineiro; UFGD:
Universidade Federal da Grande Dourados; UFFS: Universidade de Fronteira do Sul; * não informado pela IES
correspondente.
Dentre as IES descritas na Tabela 1,
a UFGD ofereceu o maior quantitativo de
vagas para ingresso na Licenciatura em
Educação do Campo entre os anos de 2014
a 2018, verificando-se ainda que, a UFTM
não ofertou vagas para ingresso na referida
graduação entre 2016 a 2017.
No contexto “inscritos globais”
(Tabela 1), a UFFS apresentou o maior
número de inscritos em processos seletivos
para ingresso no curso em questão, o que
pode estar relacionado à habilitação
oferecida em apenas uma área do
conhecimento, o que por sua vez, torna
propício aos inscritos a identificação e
relação com as ciências Física, Química e
Biologia. Outro fator a ser considerado
sobre o número de inscritos nessa
instituição fundamenta-se na localização
da referida universidade que está na
mesorregião do estado do Paraná, chamada
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de Cantuquiriguaçu, e é constituída por 20
municípios.
Segundo dados do Projeto
Pedagógico de Curso (PPC) de
Licenciatura em Educação o UFSS, o curso
“pretende atender professores que não
possuem a titulação mínima exigida, os
não habilitados, que estejam atuando em
escolas do campo, jovens inseridos nos
movimentos sociais, que concluíram o
Ensino Médio e possam melhorar os
processos educativos em suas regiões,
professores que possuam formação
universitária, mas pretendam ampliar seus
conhecimentos nas áreas de formação, e
outros interessados”. Desse modo,
entende-se que o elevado número de
inscritos nos processos seletivos de 2014 a
2018, pode estar relacionado ao
atendimento dessa classe que busca
formação em Ciências da Natureza.
Dentre as instituições participantes
(Tabela 1), a UFTM apresentou o maior
número de discentes matriculados entre
2014 a 2018, como também, o menor
número de discentes que optaram pelo
trancamento/evasão do curso em questão,
quando comparada à UFFS e UFGD,
respectivamente, o que pode estar
relacionado às habilitações oferecidas ao
final do curso, ou seja, Matemática e
Ciências da Natureza. Assim como
observado para a UFFS, anteriormente, as
habilitações oferecidas pela UFTM, podem
ter contribuído para os menores índices de
trancamento/evasão (Tabela 1), assim
como as estratégias didático-pedagógicas
adotadas pela coordenação do curso,
professores e da instituição para
permanência do discente no curso. No que
tange a formação de egressos (EG) em
Ciências da Natureza (Tabela 1), a UFGD
foi a instituição que contribuiu com a
maior parcela de formandos para o cenário
educacional da Educação do Campo.
Importante destacar ainda, a
inexistência de levantamentos quantitativos
sobre o ingresso e ofertas de vagas para a
Educação do Campo, a nível nacional, com
vistas à formação de professores para
atuação nos espaços campesinos. Ainda,
referente às categorias de análise, a partir
do questionário enviado, e das respostas
obtidas, tais documentos nos permitiram
observar dados interessantes no campo do
gênero. Observa-se (Tabela 2) que o sexo
feminino compreende a maioria dos
egressos (66,67%), dentre os que
obtiveram o tulo de licenciado em
Educação do Campo com habilitação em
Ciências da Natureza.
O dado, em questão, reforça a
predominância da mulher no cenário
educacional brasileiro, quando
consideramos os cursos na área de
formação de professores. Coaduna com
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nossa constatação, dados do Senso
Nacional de Educação Superior de 2017
(INEP, 2018), que evidenciou no ano de
2017, 1.122.350 mulheres matriculadas em
cursos de licenciatura oferecidos nas
Instituições Federais de Ensino Superior
(IFES) do Brasil, em comparação a
467.078 homens.
Tabela 2 - Caracterização dos egressos em Educação do Campo com habilitação em Ciências da Natureza da
UFERSA, UFTM, UFGD e UFFS.
Região
IES
Gênero
Cor ou raça
Idade/Média
Masculino
Feminino
Branca
Parda
Negra
Nordeste
UFERSA
0
1
1
0
0
25
Centro-Oeste
UFGD
3
9
4
7
1
37
Sudeste
UFTM
0
2
2
0
0
38
Sul
UFFS
2
4
5
1
0
30
Total
5
16
12
8
1
---
Percentual
33,33%
66,67%
57,14%
38,09%
4,76%
---
Fonte: Dados coletados pelos autores (2019). UFERSA: Universidade Federal Rural do Semi-Árido; UFTM:
Universidade Federal do Triângulo Mineiro; UFGD: Universidade Federal da Grande Dourados; UFFS:
Universidade de Fronteira do Sul.
Para Barreto (2014), o ingresso das
mulheres nos cursos de licenciatura ocorre
principalmente em função do sexo
masculino preferir cursos tecnológicos.
Embora devamos considerar que a mulher
na educação indica-nos um pouco do
processo de precarização intencional ao
qual a educaçao nacional é submetida
desde a colonização.
Nesse mesmo caminho de
entendimento, Fleuri (2015, p. 63) em
trabalho clássico sobre o perfil profissional
docente no Brasil, verificou que “a
categoria dos docentes brasileiros é
constituída por um público eminentemente
feminino, adulto, casado, com família
nuclear, de classe média baixa”. Esse
contexto por sua vez, ocorreu de maneira
lenta ao longo do século XIX:
A entrada das mulheres no exercício
do magistério o que, no Brasil, se
ao longo do culo XIX (a
princípio lentamente, depois de
forma assustadoramente forte) foi
acompanhada pela ampliação da
escolarização a outros grupos ou,
mais especialmente, pela entrada das
meninas nas salas de aula (Catani et
al., 1997, p. 78).
Desse modo, percebemos que, tanto
a escolarização quanto o ingresso das
mulheres no magistério, foi marcado por
lutas e dificuldades em relação à condição
feminina no Brasil. As mulheres, naquela
época, sofriam com o preconceito de uma
educação que formava apenas para ser boa
esposa, mãe e dona de casa e a sala de aula
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entendida como espaço de extensão e de
formação para a família. Nesse campo,
considerações importantes sobre a questão
da mulher na sala de aula, são salientadas
por Santos et al. (2019) e Louro (2014). Os
autores nos mostram como a mulher faz
parte de toda uma engrenagem para os
processos de controle ao qual a escola tem
como seu desafio e exercício. Referimos-
nos à produção de corpos dóceis e
ajustados aos processos normativos de uma
sociedade idealizada e discutida por
Foucault (2007).
Os autores Santos et al. (2019) e
Louro (2014) se referem à presença da
mulher na escola brasileira associada à
necessidade de uma moralização que,
historicamente, foi sendo posto e
perpetuou-se, ainda apresentando
considerado cunho religioso, questão que
ainda sentido ao oficio da docência para
muitas instituições e gestores na educação
de nosso tempo. Quanto ao homem na
educação, segundo Louro (2014), sua
presença sempre foi bem definida desde a
colônia e somente nas últimas décadas tem
recebido nova configuração. Isso reforça o
porquê, desde o Brasil colonial, ter havido
uma crescente e gradativa inserção das
mulheres no espaço escolar, concomitante
com retirada e menor aceitabilidade de
homens nesses espaços. Em contrapartida,
a mulher tem crescente inserção, tanto
como aluna quanto como educadora.
Outro dado importante é que tal ação
coaduna com o momento de expansão da
educação em um país com altos índices de
analfabetismo. Logo, a mulher, mais
facilmente, se ajustou ao processo de
alfabetização, embora não seja regra.
Santos et al. (2018) nos sinalizam que a
mulher foi envolvida pela crença de que
sua paciência maternal a tornava mais
hábil nesse labor. Quanto ao homem, até os
nossos dias, ele é visto como inadequado à
docência básica nos ambientes mais
tradicionais da educação, salienta os
autores. Foi por meio da mais fácil
possibilidade de controlar as atividades das
mulheres na escola, mediante o papel de
dominação exercido pelos homens até na
gestão escolar, que ela foi sendo chamada
a tal labor. Nesse caminho de
entendimento, Louro (2014) nos referencia
afirmar todo esse aparato de ação, que teve
como saldo o barateamento da educação,
uma vez que a mão de obra feminina é
mais barata que a masculina.
Portanto, sustentados em Santos et
al. (2018), sabe-se que para expandir a
educação nacional foi necessário barateá-
la. Para os autores isso ocorreu no passado
e perpetua-se, uma vez que mulheres
somente complementam rendas familiares
dando aulas e dedicando-se a atividade em
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meio período de jornada, mas levando para
casa muito trabalho por fazer. Outra
consideração importante e agravante são os
conceitos de docência como sacerdócio e
prática de amor, herança do religioso sobre
a educação e tão combatida por teóricos
como Tardif (2002). Reforçamos que esta é
uma herança jesuíta na educação do início
da colonização. Embora tenham sido
expulsos do país pela coroa portuguesa
ainda no período colonial, sua herança veio
até poucas cadas passadas e perpetua-se
em espaços de educação campesina.
Referenciado no autor, sabemos que foi
nas últimas décadas do século XX, que a
necessidade de sistematização da profissão
docente iniciou o combate dessa
perspectiva de sacerdócio na educação.
Portanto, a saída dos jesuítas é fator que
contribuiu para a crescente inserção das
mulheres na docência, como reforça
Gondra (2003). Assim, passado os séculos,
a mulher é presença maioral na Educação
Básica.
Outro dado que nos parecem bem
peculiar e nos permite consideradas
argumentações, é cor ou raça identificada
entre os participantes da pesquisa (Tabela
2), em que, 57,14% dos egressos
declararam ser brancos, 38,09% pardos e
4,76% negros. Nascimento e Fonseca
(2013) reforçam que, a identificação étnica
é um dado variável, pluridimensional, que
oscila de acordo com fatores sociais,
culturais, políticos e econômicos. Desse
modo, a identidade étnico-racial se associa
tanto às características étnicas da
população, quanto à autopercepção de cada
indivíduo.
Embora a Lei n° 12.711 de 29 de
agosto de 2012, conhecida como a Lei de
Cotas reserve 50% das vagas em todos os
cursos nas Instituições Federais de Ensino
Superior, levando em conta critérios sócio
raciais, nota-se que o acesso de pessoas
declaradas negras ou pardas, nas IFES, é
relativamente baixos. O Relatório Anual de
Desigualdades Raciais no Brasil (2009-
2010) publicado em 2010 (Paixão et al.,
2010) deixa evidente as diferenças
significativas quanto à formação de nível
superior para brancos (20,5%) e negros ou
pardos (7,7%) e até mesmo em que cursos
tais grupos sociais aparecem em maior e
menor número.
A partir dos dados citados,
questionamos: Quem são os pardos do
Brasil? buscando responder tal
indagação com outro questionamento,
pardos não são os miscigenado entre
negros e índios que aqui foram trazidos ou
habitavam? E acaso tais grupos sociais
de excluídos e vulneráveis no Brasil de
nosso tempo, não são os herdeiros diretos
de todo o desmando cometido aos negros e
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índios neste país, historicamente? Não
podemos concluir isso?
Mediante tantas questões,
buscaremos somente afirmar que, embora
tenhamos mais de 500 anos de história,
perpetua-se no país o difícil acesso dos
grupos vulneráveis a formação superior.
Portanto, dados da Educação do Campo
confirmam que, mesmo sendo as
licenciaturas um caminho de ascensão para
classes populares ascenderem de suas
condições econômicas, os grupos
subalternos não reconhecidos, como
afirmam Santos et al. (2019), ainda não
conseguem ter acesso à formação de
qualidade ofertada pelas IFES.
Concordamos que tais afirmações, uma vez
que as licenciaturas do campo são
ofertadas em instituições de Ensino
Superior Federal, mesmo assim, a baixa
taxa de negros e pardos indica que eles
ainda são minoria nas IFES.
Na confirmação do que arrazoamos,
a Tabela 2 sinaliza que a UFGD, localizada
na região Centro-Oeste, contribuiu com a
maior parcela de egressos em Educação do
Campo com Habilitação em Ciências da
Natureza, sendo que, do montante, ou seja,
12 egressos, nove são do sexo feminino.
Os dados apresentados na Tabela 2
permitem verificar ainda que, uma
predominância da etnia branca nesse
grupo. Isso confirma a ainda ausência do
negro e do pardo nos processos de
formação superior nas IFES do país,
mesmo em formação em que as classes
populares são mais presentes, como é o
caso das licenciaturas.
Outro dado importante e observado
nessa pesquisa, diz respeito à faixa etária
média verificada. Entre os 23 egressos
participantes, a idade média é de 32,5 anos,
sendo as idades nima e máxima de 24 e
61 anos, respectivamente. Na Tabela 2,
verifica-se que a maioria dos egressos da
UFGD que concluíram o curso de
Licenciatura em Educação do Campo, no
período de 2014 e 2018, apresentam idade
média 37 anos. O que indica o ingresso
tardio desses participantes no Ensino
Superior. Pressupomos que tal marco pode
estar associado à baixa escolaridade no
campo, o analfabetismo em relação às
séries iniciais, a falta de oportunidades de
ingresso no ensino superior, questões que
se agravam quando se leva em conta o
ingresso em Instituições Federais. Somam-
se ao dito, as dificuldades de
deslocamento domiciliar e permanência
durante a formação, quando consideramos
os que residem no ambiente rural, ou
cidades pequenas.
Algo que podemos trazer para o
debate é que esse acessar uma formação
universitária tardiamente pode estar
sinalizando o que ocorreu com
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Universidade nos últimos 15 anos, no que
tange sua expansão, tornando-se mais
acessível às classes populares. Podemos
arrazoar, também, que seriam pessoas que
retomam a formação em momento em que
estariam experientes. Isso porque, se
vinculadas a outras atividades profissionais
de subsistência, na idade em que
adentraram a faculdade, teriam
considerada experiência na atividade
anterior. Também, pode ser entendido,
mediante ao fato de que em tal idade se
exige um amadurecimento profissional que
propicie subsistência até mesmo da família
constituída, uma insatisfação no que se
fazia até então.
No caso de nossos participantes,
estão iniciando a formação para uma nova
carreira profissional. Daí fica-nos o
questionamento: o que está levando essas
mulheres à formação profissional superior,
em idade acima da média nacional? Na
busca por entender tal questionamento vale
considerar que o histórico de não
reconhecimento dos povos do campo, de
negação enquanto identidade é fato
histórico no Brasil e elas podem estar
buscando esse lugar de reconhecimento.
Sempre negada pelo urbano, tais condutas
desencadearam forte processo de
subalternização social, mecanismo que os
envolveu ao longo dos séculos, desde a
colonização do país, pelos portugueses.
Pressupomos que esse quadro de
demérito em relação ao campesino, ou os
efeitos dele, podem estar impulsionando
tais mulheres a se lançarem ao desafio de
mudar a história de si, de suas famílias e
dos grupos sociais em que estão inseridas.
Nesse entendimento, vale considerar que
muitas dessas mulheres, possivelmente,
não estarão em sala de aula como docente,
pressuposto pela idade em que concluíram
e concluirão tal licenciatura. Uma
argumentação que consideramos válida é o
efeito que tal formação pode exercer, em
relação aos seus filhos, netos e bisnetos,
descendência que pode aprender o caminho
da formação como processo de resistência,
ante a subalternização histórica e, ao
mesmo tempo, o fortalecimento da
identidade campesina como sujeito de
direitos e de cidadania negada. Tais
considerações nos parecem razoáveis e nos
mostram o quanto pode ser complexo o
efeito histórico que dadas questões sociais
de não reconhecimento social no país,
deixam e deixaram marcas em grupos
sociais vulneráveis como o trabalhador
rural, o ribeirinho, o negro, o índio.
No que se refere ao estado civil
(Figura 1-A) 43% afirmaram ser casados e
29% solteiros. A maioria dos participantes
são pais (Figura 1-B) e possuem em média
dois filhos (Figura 1-C). Os dados
analisados confirmam a faixa etária em que
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tal público está acessando a formação
superior. Ainda, reforçam nosso
pressuposto que estão buscando uma
formação especializada num curso
superior, mas que, certamente, houve uma
ação exercida como trabalhador em
atividades outras que os deram condição de
subsistência até a formação superior, afinal
trata-se de pessoas que constituem o lugar
de pais e mães de família.
Uma questão que julgamos
importante salientar é que, mesmo diante
de todo um demérito e depreciação
profissional para com os professores, tal
público tem apostado que a formação para
a docência ainda pode ser melhor que a
condição que os trouxeram até aqui.
Pressupomos que para esse público que
tem ocupado as licenciaturas do campo, a
docência mostra-se como um caminho ao
encontro de uma profissionalização que
pode tirá-los da subalternia. Daí faz-se um
novo questionamento: acaso os
ingressantes de todas as licenciaturas do
país, não fazem esse mesmo caminho,
como o INEP, desde 2005 sinaliza? (INEP,
2007). Seriam estes sujeitos que saem das
escolas públicas, com as piores notas, com
a mais baixa renda em nossa sociedade,
com pais cujos históricos apresentam altos
índices de analfabetismo?
Figura 1 - (A) Estado civil; (B) relação de egressos/ filhos; (C) relação egressos/quantidade de filhos; (D) renda
econômica familiar dos egressos; (E) participação na renda econômica familiar, dos egressos em Educação do
Campo com habilitação em Ciências da Natureza da UFERSA, UFGD, UFTM e UFFS.
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Fonte: Dados coletados pelos autores (2019).
Outro dado que vai acrescentando,
em relação aos descritos, diz respeito à
situação econômica dos egressos (Figura 1-
D). Foi verificado que a maioria destes
(33%), declararam renda familiar de dois
salários mínimos, seguido por três salários
mínimos (24%). É importante considerar
ainda que, 5% declararam renda familiar
abaixo de um salário mínimo.
Para além de tudo que foi descrito
e arrazoado, fica evidente que na busca
pela formação superior, uma necessidade
de alcance de qualidade de vida, a partir de
uma melhor remuneração. Consideremos
que a renda do trabalhador rural é
alcançada por meio do serviço braçal,
exercido sobre seu pequeno recorte de
terra. Portanto, os dados aqui inseridos nos
mostram como o magistério tornou-se,
historicamente, um caminho de
estruturação profissional para classes
populares no Brasil. Como mencionado
anteriormente, os dados do INEP (2007)
vêm confirmando tal questão quase uma
década e meia.
Quando questionados sobre a
participação na renda familiar (Figura 1-
E), 43% dos egressos contribuem
parcialmente nas despesas familiares, e
33% contribuem totalmente, ou seja, 76%
dos egressos contribuem parcial/total no
sustento de suas famílias. Novamente, tal
dado vem nos mostrar a realidade
econômica das populações campesinas e
dos professores que tem buscado formação
para atuarem nessas escolas do campo a
partir de uma formação que os legitima
nesse labor. Consideremos que essa não é
uma especificidade do campo. Buscar nas
licenciaturas a possibilidade de melhor
condição de vida econômica, financeira e
profissional, é uma realidade brasileira
como já dito, diante de sua vasta população
que vive em condições mínimas de
dignidade. Portanto, consideremos que a
família de classe popular no país precisa de
auxílio na sua manutenção, da contribuição
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de todos os seus membros, sendo marca de
nossa sociedade.
Considerações finais
Ao buscar considerações sobre o
trabalho, algumas marcas bem estudadas
no que tange a educação urbana, são
reforçadas na pesquisa voltada para o
campo, como a presença da mulher nas
licenciaturas, os processos de precarização
da educação que tal desenho representa,
assim como a perpetuação dessa mulher
em sala de aula como docilizadora de
corpos. Outra questão importante, no que
tange ao feminino nas LEdoC’s
pesquisadas, é o perfil que vem reforçar o
quanto o sujeito do campo tem buscado
novos horizontes, novos significados e
fortalecimento, questão que vem sendo
discutida desde os anos de 1990, quando os
movimentos sociais iniciam essa luta por
uma melhor educação do campo. Nesse
sentido, o trabalho mostra todo um
movimento feminino, na busca por um
lugar de reconhecimento, mediante a
dualidade de gênero tão forte no espaço
campesino. Observamos que as
Licenciaturas do campo tem sido um
desses caminhos de fortalecimento e de
novas possiblidades a essa mulher do
campo.
Mas, outros dados importantes e a
serem salientados é o fato de que as
Licenciaturas em Educação do Campo têm
vários desafios e um dos maiores é
diminuir a sua taxa de
evasão/trancamentos, garantir aos
excluídos do sistema ensino o direito à
permanência e conclusão de seu curso
superior, e que esse fato possa transformar
não somente a vida desse estudante, mas
de toda sua família e comunidade. Como é
sabido a precarização e demérito da
profissão docente em nosso país é geral,
contudo, é acentuada e claramente
desvelada nos professores do campo.
No presente estudo, dentre os que
obtiveram o tulo de licenciado em
Educação do Campo com habilitação em
Ciências da Natureza, 66,67% são do sexo
feminino. Os dados reforçam a
predominância da mulher no cenário
educacional brasileiro, quando
consideramos os cursos na área de
formação de professores. Contudo vale
salientar, que tanto a escolarização quanto
o ingresso das mulheres no ensino
superior, foi, e é marcado por lutas e
dificuldades em relação à condição
feminina no Brasil.
Quanto à Etnia identificada entre os
participantes da pesquisa 57,14% dos
declararam ser brancos, 38,09% pardos e
4,76% negros. A faixa etária média
verificada foi de 32,5 anos, sendo as idades
mínima e máxima de 24 e 61 anos,
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respectivamente. No que se refere ao
estado civil 43% afirmaram ser casados e
29% solteiros. A maioria dos participantes
são pais e possuem em média dois filhos.
A maioria destes (33%) declarou renda
familiar de dois salários mínimos, seguido
por três salários nimos (24%), e, é
importante considerar ainda que, 5%
declararam renda familiar abaixo de um
salário mínimo.
Novamente, os dados vêm nos
mostrar a realidade econômica das
populações campesinas e dos professores
que tem buscado formação para atuarem
nessas escolas do campo a partir de uma
formação que os legitima nesse labor.
Consideremos que essa não é uma
especificidade do campo. Buscar nas
licenciaturas a possibilidade de melhor
condição de vida econômica, financeira e
profissional, é uma realidade brasileira
como já dito, diante de sua vasta população
que vive em condições mínimas de
dignidade. Portanto, consideremos que a
família de classe popular no país precisa de
auxílio na sua manutenção, da contribuição
de todos os seus membros, sendo marca de
nossa sociedade.
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Editora Vozes.
Informações do Artigo / Article Information
Recebido em : 08/10/2019
Aprovado em: 01/08/2020
Publicado em: 26/01/2021
Received on October 08th, 2019
Accepted on August 01st, 2020
Published on January, 26th, 2021
Contribuições no Artigo: Os autores Juliano da Silva
Martins de Almeida, Wender Faleiro e Welson Barbosa
Santos, declaram ser responsáveis pela elaboração do
manuscrito, sendo que o primeiro autor realizou o
levantamento de informações, pesquisa de campo, análise
e tabulação dos dados; o segundo autor coordenou a
pesquisa e contribuiu para análise das informações; o
terceiro autor contribuiu com o desenvolvimento do estudo
e na análise das informações. Todos os autores foram
responsáveis pela revisão do manuscrito e aprovação da
versão final publicada.
Author Contributions: The authors Juliano da Silva
Martins de Almeida, Wender Faleiro and Welson Barbosa
Santos, declare to be responsible for the elaboration of the
manuscript, being that the first author carried through the
survey of information, field research, analysis and
tabulation of the data; the second author coordinated the
research and contributed to the analysis of the information;
Almeida, J. S. M., Faleiro, W., & Santos, W. B. (2021). Egressos da Educação do Campo nas Ciências da Natureza: perfil socioeconômico...
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the third author contributed with the development of the
study and the analysis of the information. All authors were
responsible for reviewing the manuscript and approving
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Conflitos de Interesse: Os autores declararam não haver
nenhum conflito de interesse referente a este artigo.
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Artigo avaliado por pares.
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Double review.
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CAPES.
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CAPES.
Como citar este artigo / How to cite this article
APA
Almeida, J. S. M., Faleiro, W., & Santos, W. B. (2021).
Egressos da Educação do Campo nas Ciências da
Natureza: perfil socioeconômico. Rev. Bras. Educ. Camp.,
6, e6297. http://dx.doi.org/10.20873/uft.rbec.e7750
ABNT
ALMEIDA, J. S. M.; FALEIRO, W.; SANTOS, W. B.
Egressos da Educação do Campo nas Ciências da
Natureza: perfil socioeconômico. Rev. Bras. Educ.
Camp., Tocantinópolis, v. 6, e6297, 2021.
http://dx.doi.org/10.20873/uft.rbec.e7750