Revista Brasileira de Educação do Campo
The Brazilian Scientific Journal of Rural Education
EDITORIAL
DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.rbec.e8135
Tocantinópolis/Brasil
v. 4
e8135
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2019
ISSN: 2525-4863
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Dossiê Temático: 50 anos da Alternância no Brasil: o que
dizem as pesquisas nacionais e internacionais
Pedro Puig-Calvó
1
,
Claudia Gagnon
2
, Janinha Gerke
3
1
Universitat Internacional de Catalunya - UIC / Association Internationale des Mouvements Familiaux de Formation Rurale -
AIMFR, Spain.
2
Université de Sherbrooke - Quebec, Canadá.
3
Universidade Federal do Espírito Santo - UFES.
Autor para correspondência/Author for correspondence: ppuigcalvo@gmail.com
O ano de 2019 constitui um marco na Educação Brasileira, em especial para as
experiências formativas da Educação do Campo, pela celebração dos 50 anos da Pedagogia da
Alternância. Nascida na França e trazida para o Espírito Santo por um padre jesuíta, foi
construída nas diferentes realidades de nosso país pelos sujeitos camponeses como uma
possibilidade contra-hegemônica de educação que amalgama a formação escolar-acadêmica
ao mundo do trabalho, ao pertencimento a terra e às suas identidades culturais.
Nessa perspectiva, os grupos de pesquisas Culturas, Parcerias e Educação do Campo
(CNPq/UFES) e de Investigação Internacional do Sistema Dual-Alternância da Universidade
de Sherbrooke/Canadá, assumem junto à Revista Brasileira de Educação do Campo a
proposição desse dossiê. Trata-se de uma oportunidade de reunir, no âmbito desse importante
periódico, uma pluralidade de discussões e resultados investigativos que emergem da práxis
dos monitores-educadores-professores e investigadores que atuam com a Formação por
Alternância no Brasil, Canadá, Espanha, Camarões, Itália e França. Compreendemos esta
oportunidade como um marco da reflexão, problematização e do compartilhamento das boas
experiências, considerando os inúmeros desafios do cenário atual. Não se trata de um dossiê
contemplativo, mas reflexivo e problematizador, no sentido de uma práxis viva e dinâmica,
produzida por sujeitos historicamente situados, que se colocam no campo da resistência e por
assim se constituírem pensam os contextos e acenam possibilidades.
Desta forma, as pesquisas aqui compartilhadas emergem das mais diversas experiências,
da educação básica ao ensino superior, o que nos revela o potencial transgressor da
Alternância. Reconhecer essa diversidade de práticas é também afirmar que a Pedagogia da
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Alternância, nascida em terras brasileiras 50 anos, constitui-se hoje em Patrimônio da
Educação Brasileira e como tal figura na lei e nas políticas públicas. Contudo, a caminhada
por ser histórica e social, também nos coloca desafios que surgem no próprio movimento de
transformação da sociedade e dos modos de vida, trabalho e produção. Enfrentar tais desafios
e permanecer na luta são aqui erguidos como bandeiras fulcrais na produção dos novos e
outros sentidos da Formação por Alternância, sem afastar-se de seus pilares, suas mediações
e/ou instrumentos pedagógicos e, sobretudo, com o fortalecimento de seu viés político,
emancipador e transformador das realidades e de seus sujeitos.
Sendo assim, expressamos aqui os nossos cordiais agradecimentos à Revista Brasileira
de Educação do Campo pela concessão desse espaço, o que por sua vez, traduz-se numa ação
de visibilidade dos saberes e fazeres da Pedagogia da Alternância.
Com vistas a buscar uma organização dos textos por aproximação das discussões,
reunimos em sequência os vinte e seis artigos a partir de três abordagens: Inicialmente os
artigos que trazem a história da Pedagogia da Alternância e seu entrelaçamento com a
Educação do Campo; princípios epistemológicos e análise das suas mediações ou
instrumentos pedagógicos. Na sequência, os textos que discutem especificamente a Pedagogia
da Alternância na formação de educadores-monitores-professores do campo e, por fim, em
maior número, trazemos as investigações acerca da sua práxis nas diferentes experiências da
educação básica escolar e para além dessa.
Portanto, o que dizem as pesquisas nacionais e internacionais sobre a Pedagogia da
Alternância nesses 50 anos de história é um convite ao conhecimento produzido por sujeitos
que atuam, refletem e problematizam a práxis por meio da investigação científica.
O primeiro artigo, intitulado Pedagogia da Alternância e Educação do Campo: dos
hibridismos epistemológicos à simetria com a Educação Popular, de Úrsula Adelaide de
Lélis (UNIMONTES/Brasil), Magda Martins Macêdo (UNIMONTES/Brasil), Leandro
Luciano da Silva (UNIMONTES/Brasil) e Maria Auxiliadora Amaral Silveira Gomes
(UNIMONTES/Brasil), afirma na esteira da história que a Pedagogia da Alternância vem se
constituindo como possibilidade metodológica para a educação dos povos do campo, dada sua
convergência pedagógica e política com os princípios da Educação do Campo. Contudo,
destaca que experiências híbridas têm revelado que os fundamentos epistemológicos que
sustentam essa Pedagogia têm sido colocados à margem das práticas, esvaziando as
potencialidades emancipadoras da Alternância. Partindo dessas acepções, o texto, resultado de
reflexões teóricas, discute os princípios epistemológicos que fundamentam a Pedagogia da
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Alternância, compreendida enquanto práxis forjada na unidade tempo e espaço, e suas
contribuições para a formação emancipatória dos povos do campo.
Na sequência, o artigo Histoires de vie avec l’alternance: la voie de recherche-
formation en deux temps trois mouvements et le master Formation et Développement
durable au Brésil, de Gaston Pineau (França), Pedro Puig-Calvó (Espanha), constitui uma
reflexão histórica a partir da parceria dos pesquisadores com os processos formativos da
Alternância no Brasil e também em seus países de origem. Compreendem o aniversário da
Pedagogia da Alternância como marco significativo na formação profissional, colocando em
cena as discussões e o trabalho empreendidos com uma pedagogia específica para o
desenvolvimento da pessoa e do meio ambiente. Evocam conclusões que desafiam a uma
produção de habilidade rítmica existencial a ser aprendida por uma maior atenção aos ritmos
ecológicos, em contraposição à lógica imposta pelo mercado.
O terceiro artigo, Alternância e seus 50 anos: uma possibilidade formativa da
Educação do Campo, de Janinha Gerke (UFES/Brasil) e Silvanete Pereira dos Santos
(UFES/Brasil), discute os principais aspectos teórico-práticos e metodológicos da Alternância
e sua potencialidade formativa na Educação do Campo. Embasa-se nas reflexões do Grupo de
Trabalho Pedagogia da Alternância e Educação do Campo produzidas no Seminário
Internacional realizado em outubro de 2018. Na ocasião, foram comemorados os 50 anos do
Movimento de Educação Promocional do Espírito Santo (Mepes), entidade pioneira na
formação por alternância na América Latina, com a abordagem sobre as Redes de cooperação
emancipatórias na formação integral e desenvolvimento sustentável. Enfatiza a relevância dos
Centros Familiares de Formação por Alternância (CEFFA) para o fortalecimento da
agricultura familiar e a organicidade dos pressupostos da formação por alternância com o
Movimento da Educação do Campo, no que tange à relação com as pautas reivindicatórias de
formação integral e sustentabilidade.
O artigo Histórico da Constituição das Efa’s do Estado do Espírito Santo, de Bruno
Raphael Mont Alto Santos (CEIER/Brasil) e Sandra Regina Gregório (UFRRJ/Brasil), é o
quarto texto do presente dossiê. Traz a história da Pedagogia da Alternância no Estado do
Espírito Santo, a criação das Escolas Famílias Agrícolas - EFA no Brasil, suas características
e o movimento que surge para a implantação da Pedagogia da Alternância no país.
Inicialmente, relata o surgimento da Pedagogia da Alternância na França, suas características
e contexto atual no Espírito Santo. Apresenta a criação do Movimento de Educação
Promocional do Espírito Santo - Mepes e a Regional das Associações dos Centros Familiares
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de Formação em Alternância - Raceffaes, destacando o processo de constituição dessa
instituição e sua forma de atuação dentro dos Ceffa.
Na sequência, trazemos o artigo intitulado La tutoría en el contexto de los CEFFA: el
punto de vista de los expertos, de Jordi González García (Espanha) e Dra. Claudia Gagnon
(U. Sherbrooke Canadá). O texto discute a educação e a formação de pessoas como um
mecanismo para o crescimento econômico e o desenvolvimento pessoal. Com base nos
fundamentos do modelo educacional do CEFFA, os autores apresentam um estudo que analisa
o ponto de vista dos especialistas em um dos elementos do sistema: orientação pessoal. Foram
realizadas entrevistas semiestruturadas com cinco especialistas selecionados por seu excelente
trabalho ou experiência acadêmica no campo da Alternância. Os resultados da análise indutiva
dos dados mostram, entre outros, que a tutoria é principalmente uma relação entre as pessoas,
que deve ser planejada, que tem um certo impacto que vai muito além da promoção do
sucesso acadêmico de alunos.
Como sexto e último texto desse primeiro bloco, trazemos o artigo intitulado
Mapeamento da produção científica na BDTD do IBICT sobre a Pedagogia da
Alternância de 2011 a 2018, de Odaleia Alves da Costa (IFMA/Brasil) e Anny Camila Lima
Rodrigues (IFMA/Brasil). O estudo tem por problema indentificar quantas e quais
publicações disponíveis na Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD) do
Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT) tratam sobre Pedagogia
da Alternância. Desse modo, seu objetivo consiste em construir o mapeamento da produção
científica no período de 2011 a 2018. Trata-se de um levantamento bibliográfico, com auxílio
do software Iramuteq que apresenta grande contribuição para a Educação do Campo, tendo
em vista a possibilidade de proporcionar à comunidade científica o conhecimento sobre as
reflexões travadas no meio acadêmico sobre a Pedagogia da Alternância, bem como o
vislumbramento de novas perspectivas de pesquisas. O estudo permitiu perceber que as
regiões brasileiras não apresentam uniformidade na quantidade de publicações, bem como
concluir que a Pedagogia da Alternância vivenciada nos CEFFA se apresenta como proposta
articulada com a formação do sujeito crítico e participativo.
Na sequência, reunimos os textos que tratam especificamente da Formação de
educadores-monitores e professores do campo, por meio da Pedagogia da Alternância. Nessa
perspectiva, o sétimo artigo desse dossiê, intitulado A formação de pedagogos indígenas em
alternância no Paraná: uma contribuição à interculturalidade e ao bilinguismo, de
Marcos Gehrke (UNIOESTE/Brasil), Marlene Lucia Siebert Sapelli (UNIOESTE/Brasil) e
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Rosangela Celia Faustino (UEM/Brasil), apresenta o processo de constituição da experiência
de formação de pedagogos indígenas, da Universidade Estadual do Centro Oeste
(Guarapuava/PR), destacando a chegada da demanda indígena à Universidade, a construção
participativa do Projeto Pedagógico do Curso (PPC) e a implementação da Pedagogia da
Alternância na formação superior indígena no Paraná. Por meio de pesquisa documental e
bibliográfica, explicita-se o protagonismo dos movimentos indígenas na luta pelo direito de
acesso ao Ensino Superior, no Paraná, numa perspectiva intercultural e bilíngue. A pesquisa
evidencia que os resultados do processo formativo em andamento refletem uma melhor
participação dos povos indígenas nas decisões e na organização da formação superior
indígena, a concretização de um currículo intercultural e bilíngue, bem como a constituição de
uma Licenciatura Intercultural.
Fabrícia Vellasquez Paiva (UFRRJ/Brasil) e Aloísio Jorge de Jesus Monteiro
(UFRRJ/Brasil), no artigo Da Alternância como movimento diaspórico decolonial: Por
uma história-memória popular de sujeitos em Curso, visam contribuir para o debate sobre
a Pedagogia da Alternância, a partir de uma experiência concreta de pesquisa junto à primeira
turma do Curso de Licenciatura em Educação do Campo (LEC) da Universidade Federal
Rural do Rio de Janeiro, campus Seropédica. Partindo do problema de ser a Alternância um
movimento diaspórico decolonial, especialmente pela troca de saberes entre Tempo Escola e
Tempo Comunidade em suas dinâmicas metodológicas diversas, os autores investigam como
a histórica-memória pôde ser escrita por uma educação popular coletivizada entre os sujeitos
partícipes do Curso. Por meio da análise discursiva de documentos oficiais do Curso, também
revisitados pela participação dos estudantes em processos metodológicos diferentes durante a
graduação, o estudo demonstrou como as propostas efetivas disponibilizaram outra
possibilidade de formação, a partir da Alternância.
Não obstante, Dulcinéa Campos Campos (UFES/Brasil), em seu artigo A
organização curricular em alternância nos cursos de formação de professores:
PRONERA e Licenciatura em Educação do Campo, objetiva contribuir com reflexões
sobre os princípios teórico-metodológicos que orientam a organização curricular em
alternância da Licenciatura em Educação do Campo. Analisa como esses preceitos,
materializados no trabalho pedagógico do curso em alternância, podem servir de parâmetro
para a construção de uma nova referência de escola. A partir de uma pesquisa bibliográfica,
apoiada na concepção de Educação do Campo, datada no Seminário Nacional de 2002,
pauta suas análises ante pressupostos do materialismo histórico dialético. Os resultados
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desse estudo sinalizam que a proposição de uma organização curricular em alternância na
Licenciatura em Educação do Campo, voltada para um ensino coerente com o método
dialético de interpretação da realidade, confere aos professores as ferramentas necessárias
para repensar e transformar a configuração escolar existente no campo.
Como décimo artigo, trazemos Formação de professores em tempos e espaços
alternados: Tempos sincronizadores de aprendizagem, de Célia Beatriz Piatti
(UFMS/Brasil) e José Roberto Rodrigues de Oliveira (UFMS/Brasil), que colocam como
questão norteadora: Na licenciatura em Educação do Campo, qual é o significado e o
sentido da alternância? O objetivo é apresentar os resultados de uma experiência realizada
com acadêmicos de uma licenciatura em Educação do Campo, utilizando os registros do
caderno de campo instrumento de alternância realizados no ano de 2017. Tais registros,
segundo os autores, apontam três momentos: Quem sou eu? Quem somos nós? Qual é o
sentido de formar-se para atuar em uma escola do campo? Considera-se que os registros são
expressões da possibilidade de os sujeitos concretizarem sua formação no que se refere ao
direito ao acesso à universidade, mas também à garantia de permanência em tempos e
espaços alternados e educativos.
Na sequência, o artigo Educação do Campo e Pedagogia da Alternância:
experiência da UnB no sítio histórico e patrimônio cultural Kalunga, dos autores
Caroline Siqueira Gomide (UnB/Brasil), Rafael Litvin Villas Boas (UnB/Brasil), Maria
Lúcia Martins (EPOTECAMPO/Brasil), Luan Ramos Gouveia (UNESP/Brasil) e Ana Leda
Dias (UnB/Brasil), historiciza a dinâmica de atuação da Licenciatura em Educação do
Campo da Universidade de Brasília (UnB), com as comunidades do sítio histórico do
território Kalunga e cidades dos arredores do quilombo. Analisa os avanços, limites e
desafios das ações de ensino, extensão e pesquisa desenvolvidas no território, considerando
as formas de organização política e comunitária existentes na região, e a relação entre
cultura e formas de resistência aos modos de produção que implicam em degradação
ambiental e social da região, como a atividade minerária e o agronegócio. Destaca nas
atividades de extensão a perspectiva da práxis e a partir dessa atuação, percebe-se uma série
de avanços no fortalecimento do processo de educação, formação e organização social da
população rural e quilombola da região.
Refletir sobre os limites e as potencialidades da Pedagogia da Alternância na
formação de professores no contexto da Educação do Campo é o objetivo central do décimo
segundo texto, intitulado Educação do Campo e a Pedagogia da Alternância: limites,
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desafios e possibilidades na formação de professores, de Sebastião Silva Soares
(UFT/Brasil) e Selva Guimarães (UNIUBE/Brasil). O artigo apresenta breve resgate
histórico da Pedagogia da Alternância e a sua integração nos currículos dos cursos
superiores de Licenciatura em Educação do Campo implantados no Brasil, por meio do
Edital de Seleção n. 2/2012-Sesu/Setec/Secadi/MEC. Conforme narrativas de professores
formadores de duas instituições contempladas por essa chamada pública na região Norte do
Brasil, verificaram-se concepções, limites, potencialidades e projeções futuras da Pedagogia
da Alternância.
O artigo seguinte, Caderno de Alternância como instrumento de registro,
avaliação e formação de professores, de Lisiane dos Santos Moreira (UNIPAMPA/Brasil)
e Ana Carolina de Oliveira Salgueiro de Moura (UNIPAMPA/Brasil), traz uma
investigação que objetivou compreender as contribuições do Caderno de Alternância para a
formação docente. Participaram da pesquisa licenciandas do oitavo semestre do curso por
meio de questionário que versava sobre suas experiências com o Caderno de Alternância.
Considerando que desenvolvimento pessoal e profissional estão inter-relacionados, a
reflexão proporcionada pela escrita no Caderno, segundo as autoras, representa ação
privilegiada no processo formativo.
Como décimo quarto e último texto desse segundo bloco, trazemos o artigo
Educação do Campo em giro decolonial: a experiência do Tempo Comunidade na
Universidade Federal Fluminense (UFF), de autoria de Francisca Marli Rodrigues de
Andrade (UFF/Brasil), Lucas do Couto Neves (UFF/Brasil), Letícia Pereira Mendes
Nogueira (UFF/Brasil) e Marcela Pereira Mendes Rodrigues (UFF/Brasil). A pesquisa
apresentada objetivou conhecer o processo de construção do Tempo Comunidade,
implementado na Licenciatura Interdisciplinar em Educação do Campo (UFF) para, então,
identificar os elementos pedagógicos decoloniais que potencializam a formação de
educadores do campo. Metodologicamente, adotou-se uma proposta de pesquisa qualitativa
inscrita no enfoque interpretativo. Os principais resultados sinalizam a importância do
Tempo Comunidade na formação de educadores do campo, bem como nos processos de
transformação da realidade.
Na sequência, apresentamos o coletivo de textos que compõe a diversidade de
experiências formativas na Pedagogia da Alternância, em diferentes regiões do Brasil e do
mundo, da educação básica escolar profissional e para além dessa.
O artigo Pedagogia da Alternância como possibilidade de permanência de
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estudantes camponeses em uma escola da região do Alto Paranaíba, dos autores
Gustavo Adriano Ferreira (UFTM/Brasil) e Verônica Klepka (UFTM/Brasil), discute a
Pedagogia da Alternância como contribuição/estratégia à permanência de estudantes
camponeses na escola da EJA-Ensino Médio em um município do Alto Paranaíba, estado
de Minas Gerais. A pesquisa foi realizada por meio de entrevistas com alunos do Ensino
Médio, trabalhadores do campo, matriculados na EJA de uma Escola Estadual bem como
com a gestão escolar. A entrevista com a direção escolar demonstrou que o interesse na
Pedagogia da Alternância visa uma flexibilidade de tempo para os alunos, atendendo a
outras necessidades que não as dos estudos. A análise mostra, por outro lado, que a
alternância é vista como potencial formativo contribuindo para a redução da infrequência
ou evasão escolar nos períodos mais intensos em suas atividades na safra do café.
Na sequência, como décimo sexto artigo dessa coletânea, trazemos o artigo Les
Centres Éducatifs Familiaux de Formation par Alternance en Afrique: le cas du
Cameroun, de Benoit Birwe (África) e Pedro Puig-Calvó (Espanha), com o principal
objetivo de apresentar as discussões em torno de uma investigação histórica dos Centros
Educacionais Familiares de Formação por Alternância (CEFFA) no contexto da África. Os
autores analisam as principais dificuldades territoriais dos CEFFA e problematizam as
estratégias necessárias ao desenvolvimento e implantação durável das instituições em
Camarões.
O texto seguinte, dos autores Marlo dos Reis (UNIFAP/Brasil) e Roni Mayer Lomba
(UNIFAP/Brasil), intitulado A pedagogia da alternância e a construção do movimento
social dos extrativistas na Amazônia amapaense, objetiva apresentar resultados parciais
de estudo realizado em 2017-2018 sobre os movimentos sociais extrativistas no sul do
estado do Amapá, especialmente a centralidade da Pedagogia da Alternância nas lutas e
construção da identidade coletiva desses sujeitos. Trata-se de uma pesquisa embasada no
materialismo histórico dialético como enfoque teórico, metodológico e analítico. As
principais categorias de análise são “luta de classes”, “identidade camponesa” e
“conscientização”. Os resultados do estudo evidenciam a Pedagogia da Alternância como
estratégia central de Educação do Campo e formação intelectual destes protagonistas,
reconfigurando o sentido da luta para a conquista de políticas públicas e direitos sociais.
Escola Família Agrícola de Olivânia: 50 anos de história narrada por muitas
vozes, de Rogério Omar Caliari (IFES/Brasil) e Erineu Foerste (UFES/Brasil), é o próximo
artigo. O estudo objetivou investigar as relações entre as famílias camponesas e a Escola
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Família Agrícola de Olivânia. Os processos para produção, sistematização e análise de
dados beneficiaram-se da realização de entrevistas semiestruturadas, análise documental,
observação direta, registros sistemáticos em diário de campo. As complexas realidades
encontradas foram focalizadas de formas abrangentes e contextualizadas em rodas de
conversas com os protagonistas da pesquisa a partir dos momentos de interação
potencializados pela Pedagogia da Alternância.
Adiante, trazemos o décimo nono texto, Pedagogia da Alternância na Educação
Básica e Profissional: conquistas e desafios em 25 anos de atuação da Rede das Escolas
Famílias Agrícolas Integradas do Semiárido (REFAISA), de Tiago Pereira da Costa
(IRPAA/Brasil), Hélder Ribeiro Freitas (UNIVASF/Brasil) e Cristiane Moraes Marinho
(IFPE/Brasil), como fruto de uma pesquisa de mestrado profissional. Os autores analisam e
sistematizam as conquistas e desafios das Escolas Famílias Agrícolas (EFA) ligadas à Rede
das Escolas Famílias Agrícolas Integradas do Semiárido (REFAISA). A abordagem
metodológica fundamentou-se na pesquisa qualitativa e na pesquisa-ação mediada pelas
metodologias participativas como ferramentas de problematização e coleta de dados. Como
resultados, evidenciam-se avanços na formação de adolescentes e jovens em conexão com
os territórios e suas complexidades, e na promoção da Educação Contextualizada em
Alternância com seus instrumentos pedagógicos que orientam a formação integral dos
sujeitos.
O texto seguinte, de Débora Monteiro do Amaral (UFES/Brasil), Patricia Hand Littig
(UFES/Brasil), Sheiliane Bravim (UFES/Brasil) e Amanda Ludovico Breda (UFES/Brasil),
A Pedagogia da Alternância no Espírito Santo e a EFA São Bento do Chapéu, objetiva
discutir como a Escola Família Agrícola de São Bento do Chapéu realiza a formação dos
sujeitos que passam pela instituição ao longo de sua existência e quais as contribuições para
as comunidades campesinas dos municípios de Domingos Martins, Marechal Floriano e
Santa Leopoldina. Trata-se de uma pesquisa de cunho qualitativo, cujo resultado evidenciou
que a perspectiva da Pedagogia da Alternância como processo epistemológico e
organização metodológica promove a aproximação entre a escola e a família; articula
conhecimentos práticos e teóricos das comunidades e do currículo escolar.
Como mais uma contribuição das investigações internacionais, trazemos o texto dos
autores Roberto García-Marirrodriga (Espanha) e Andreu Gutierrez Sierra (Espanha),
intitulado El perfil multifuncional de los profesores de escuelas rurales de alternancia,
que discute a multifuncionalidade docente requerida dos monitores. Os autores afirmam que
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uma das chaves do sistema educacional de alternância é o compromisso dos professores-
monitores com as múltiplas funções que excedem o ensino. Para eles, essa
multifuncionalidade solicitada é a causa de uma série de dificuldades associadas a um perfil
profissional que não é fácil de encontrar.
O Projeto Dandô e a Formação Integral dos jovens da Escola Família Agrícola
de Vale do Sol: uma cultura de resistência à “Música Transgênica”, de Roberto Kittel
Pohlmann (EFA/Brasil) e Cheron Zanini Moretti (UNISC/Brasil), propõe uma discussão em
torno da resistência à “música transgênica” a partir do Projeto Dandô, enquanto ferramenta
pedagógica desenvolvida junto à Escola Família Agrícola de Vale do Sol (EFASOL) no
Vale do Rio Pardo-RS. Como estratégia teórico-metodológica, optou-se pelos Círculos de
Cultura de linha freiriana, em conformidade com as epistemologias do Sul. O artigo evoca e
junta-se ao escopo das epistemologias do Sul, justamente por se aproximar da ideia de lugar
comum, de “felpa da mesma madeira”, seja pelo reconhecimento dos estudantes nos
cantadores e vice-versa. Alguns dos resultados ou discussões alcançadas podem ser
exemplificas pela fala de um dos estudantes envolvidos: “o que mudou (a partir do Projeto
Dandô) é que antes eu escutava uma música por escutar, mas hoje a gente presta atenção”.
Plano de estudo (PE) da Pedagogia da Alternância: perspectiva
problematizadora na ação formativa da Escola Família Agrícola dos Cocais/PI (EFA
Cocais/PI), de Maria Raquel Barros Lima (EFA/Brasil) e Carmen Lúcia de Oliveira Cabral
(UFPI/Brasil), é o vigésimo terceiro artigo desse dossiê. As autoras analisam o Plano de
Estudo (PE) da Pedagogia da Alternância em sua dimensão problematizadora na ação
formativa da Escola Família Agrícola dos Cocais/PI (EFA Cocais/PI). Como indagação
fundamentadora do presente estudo, questiona-se: em que medida a dimensão
problematizadora mediada pelo PE se efetiva na EFA Cocais/PI? Conectado às outras
mediações, não menos relevantes, o PE articula, além dos tempos e espaços formativos, os
saberes cotidianos das famílias nos processos de ensino-aprendizagem. A análise dos dados
apresentou a efetivação da condição problematizadora inerente ao PE na ação formativa
desenvolvida na EFA Cocais/PI, contudo desvelou também a existência de lacunas na
realização do que denominam de ciclo do PE.
Na sequência, trazemos o texto Pedagogia da Alternância em comunidade
pomerana de Santa Maria de Jetibá, Espírito Santo, Brasil, de Edineia Koeler
(UFES/Universität Viadrina/Alemanha), Erineu Foerste (UFES/Brasil) e Alberto Merler
(Universidade de Sassari/Itália). O artigo analisa aspectos da Pedagogia da Alternância,
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compreendida na perspectiva de Nosella (1977, 2012), e sua relação com a cultura
pomerana. Toma como objeto de estudo a Escola Estadual Emílio Schroeder, situada em
Alto Santa Maria, Santa Maria de Jetibá, Espírito Santo, Brasil, para entender como tal
comunidade, com presença significativa do povo tradicional pomerano, compreende o
projeto de alternância. Com abordagem qualitativo-descritiva, beneficia-se de narrativas de
uma professora-monitora com significativa experiência em Escolas Famílias Agrícolas e,
adicionalmente, analisa um conjunto de documentos constituído por 52 fichas-questionários
aplicadas em 2011 às famílias dos alunos. Destaca-se que as dimensões culturais e
identitárias do povo tradicional pomerano podem contribuir para a problematização do
projeto escolar; que a iniciativa das comunidades rurais é fundamental para a conquista e
permanência de projetos alternativos na Educação do Campo; que a pouca escolaridade dos
pais pode ter reflexos imediatos no trabalho da escola, mas não os impede de buscar
qualidade de ensino para os filhos.
Não obstante, Eric de Oliveira (MEPES/Brasil) e Mônica Aparecida Del Rio
Benevenuto (UFRRJ/Brasil), no artigo A Contribuição da Pedagogia da Alternância e do
Projeto Profissional Jovem nos Projetos de Vida de Jovens Egressos da EFA de
Jaguaré/ES, verificam a contribuição da Pedagogia da Alternância nos projetos de vida
laborativa dos estudantes que concluíram o curso Técnico em Agropecuária na Escola
Família Agrícola de Jaguaré. O objetivo foi compreender se esses jovens colocaram em
prática o Projeto Profissional Jovem (trabalho final do Curso Técnico em Agropecuária) em
suas propriedades buscando autonomia profissional, verificando ainda a permanência ou
não no campo, bem como a continuidade dos mesmos nos estudos. Os resultados revelaram
que os jovens colocaram em prática os projetos, deram continuidade nos estudos e
permanência no campo, mantendo-se economicamente por meio de atividades
agropecuárias com a família e outros jovens pluriativos.
Por fim, o vigésimo sexto artigo, com o título Currículo e Pedagogia da
Alternância: A experiência da Escola da Floresta em Rio Branco, Acre, de Letícia
Mendonça Lopes Ribeiro (UFAC/Brasil) e Adriana Ramos dos Santos (UFAC/Brasil),
apresenta a experiência da Pedagogia da Alternância em Centros de Educação Profissional
Técnica de nível médio, com destaque para a história e as práticas curriculares do “Centro
de Formação Profissional e Tecnológica Roberval Cardoso”, mais conhecida como “Escola
da Floresta”, em Rio Branco, Acre. Apesar de ter como pilar educativo o reconhecidamente
neoliberal Currículo por Competências, o caso específico da Escola da Floresta consegue
Puig-Calvó, P., Gagnon, C., & Gerke, J. (2019). Dossiê Temático: 50 anos da Alternância no Brasil: o que dizem as pesquisas
nacionais e internacionais...
Tocantinópolis/Brasil
v. 4
e8135
10.20873/uft.rbec.e8135
2019
ISSN: 2525-4863
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ser um exemplo bem sucedido da Pedagogia da Alternância e do exercício da dialogicidade
entre as questões sociais e individuais que permeiam o contexto camponês, principalmente
nas interações entre educandos e mediadores da aprendizagem. Conclui-se que é
fundamental pensar (e possibilitar) a formação dos profissionais que trabalharão na floresta
acreana em uma conjuntura que refuta a educação adestradora e urbanocêntrica e valoriza a
identidade camponesa.
Portanto, expressamos aqui nossos agradecimentos a todos(as) os autores(as) que
submeteram suas produções, aos avaliadores ad hoc com suas valiosas contribuições, bem
como aos editores da Revista Brasileira de Educação do Campo pela acolhida desse dossiê,
registrando na esteira da história a Pedagogia da Alternância e os seus contributos na
Educação.
Boa leitura!
Prof. Dr. Pedro Puig-Calvó (Universitat Internacional de Catalunya - UIC e Secretário Geral
da AIMFR / Espanha)
Prof. Dra. Cláudia Gagnon (U. Sherbrooke Canadá)
Prof. Dra. Janinha Gerke (UFES)
Conflitos de interesse: Os autores declararam não haver nenhum conflito de interesse referente a este Editorial.
Conflict of Interest: None reported.
Orcid
Pedro Puig-Calvó
http://orcid.org/0000-0002-1367-6478
Claudia Gagnon
http://orcid.org/0000-0002-9087-7281
Janinha Gerke
http://orcid.org/0000-0002-6903-8125
Como citar este Editorial / How to cite this Editorial
APA
Puig-Calvó, P., Gagnon, C., & Gerke, J. (2019). Dossiê Temático: 50 anos da Alternância no Brasil: o que dizem as pesquisas
nacionais e internacionais. Rev. Bras. Educ. Camp., 4, e8135. DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.rbec.e8135
ABNT
PUIG-CALVÓ, P.; GAGNON, C.; GERKE, J. Dossiê Temático: 50 anos da Alternância no Brasil: o que dizem as pesquisas
nacionais e internacionais. Rev. Bras. Educ. Camp., Tocantinópolis, v. 4, e8135, 2019. DOI:
http://dx.doi.org/10.20873/uft.rbec.e8135
Puig-Calvó, P., Gagnon, C., & Gerke, J. (2019). Dossiê Temático: 50 anos da Alternância no Brasil: o que dizem as pesquisas
nacionais e internacionais...
Tocantinópolis/Brasil
v. 4
e8135
10.20873/uft.rbec.e8135
2019
ISSN: 2525-4863
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