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É difícil, mas, tem que ter muita
calma e muita tranquilidade, por que
pra ensinar numa turma multisseriada
é difícil, mas ao mesmo tempo se
torna fácil, aí você tem que fazer uma
atividade de acordo com o nível de
cada um. É difícil, mas tento, não sei
se agrada bem a todos, por que não
deixa de não ter alguma coisa, que
deixe a desejar, por que você vai
atender uma turma ali, já tem outra
turma aqui pra ser atendido, e muitas
das vezes a gente falta em um, pra
complementar o outro, por que é
difícil, mas a gente leva assim
mesmo. (Professora A)
Uma sala multisseriada, eu tenho que
dividir as atividades, claro, na hora
de dividir as atividades, porque na
hora da oração é todo mundo junto,
na hora do recreio é todo mundo
junto, agora na hora das atividades é
que eu separo (Professora B)
Eu ensino de forma que interaja com
cada nível, e as atividades são
diferenciadas umas das outras e o
acompanhamento, a avaliação é
continua, no dia a dia. (Professor C)
Primeiro eu faço um diagnóstico dos
níveis dos alunos, para poder
trabalhar com eles, a partir dos níveis
que eles estão. Eu trabalho levando
em conta mais os níveis, do que a
série. Por que assim, é a partir dos
níveis que eu vou saber trabalhar
com eles, se já conhecem as letras, as
palavras, se reconhecem silabas,
conseguem escrever. (Professora D)
Eu tento cumprir o currículo, o
cronograma, tudo e às vezes eu não
consigo pela questão da dificuldade,
então nessa linha. Então assim, eu
trabalho, vou tentando trabalhar
questões práticas, pra ver se eles
conseguem assimilar, que não, não é
fácil trabalhar com eles por essa
questão dessa dificuldade que eles
têm, mas assim, diante disso, é esse
trabalho, questão prática, atividades,
questão da leitura eu tento trabalhar
muito, porque sem a leitura eles não
conseguem muita coisa, então é nessa
linha. (Professora E)
A heterogeneidade, embora presente
em todas as salas de aula, é apontada como
fator de maior complicação na multissérie,
por conta do referencial da seriação que
orienta os programas de ensino, o
planejamento e os livros didáticos,
principais instrumentos do professor. A
padronização destes conteúdos e
expectativas, que isolam cada série em um
lugar específico, faz da heterogeneidade e
diversidade, problemas e não
oportunidades. Nesta perspectiva e
concordando com Hage (2014, p.53), é
notável que esse formato “impede que os
professores compreendam sua turma como
um único coletivo, com suas diferenças e
peculiaridades próprias, pressionando-os
para organizarem o trabalho pedagógico de
forma fragmentada” (p. 1175). Hage
complementa essa reflexão dizendo que,
A seriação aposta na fragmentação e
padronização do tempo, espaço e
conhecimento no interior da escola,
pré-definindo o ano letivo de duração
anual, estabelecendo a escola como o
local por excelência onde a
aprendizagem se efetiva e o
conhecimento científico como o que
efetivamente tem validade, como
legítimo, em detrimento dos saberes
dos sujeitos do campo, que são
desvalorizados, negados e
invisibilizados pela escola. (Hage, p.
1175-1176).
A fragmentação que se repete na
seriação (e prevalece na multisseriação),