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subjetividade, a significação, o sentido, a
representação aparecem como reguladores,
organizadores da vida social e da
construção do sujeito enquanto partícipe de
um grupo, de uma comunidade. Hall
(1997, p. 6, grifos do autor) aponta que
“Até os mais céticos têm se obrigado a
reconhecer que os significados são
subjetivamente validos e, ao mesmo
tempo, estão objetivamente presentes no
mundo contemporâneo – em nossas ações,
instituições, rituais e práticas”.
Gestados, portanto a partir da
chamada “virada cultural”, os Estudos
Culturais se estruturam a partir da
descoberta da discursividade, da
textualidade (Hall, 2013), da negação da
concepção e prática de cultura concebida
como hierarquizada onde tradicionalmente
se aceitava que havia uma cultura elitista –
produtora de verdades incontestáveis e
universais – dominante em detrimento de
uma cultura de massa, popular
caracterizada pela barbárie, pela
incapacidade intelectual, social e política,
necessitando dessa forma dos detentores de
uma “alta cultura” para organizar,
moralizar e fixar os significados que
circulariam como necessários e
indispensáveis para todos. Os Estudos
Culturais vão contestar essa busca da
“redenção” pautada pela homogeneização.
Dessa forma, ressalta-se:
... a importância da linguagem e da
metáfora linguística para qualquer
estudo da cultura; a expansão da
noção do texto e da textualidade,
quer como fonte de significado, quer
como aquilo que escapa e adia o
significado; o reconhecimento da
heterogeneidade e da multiplicidade
dos significados, do esforço
envolvido no encerramento arbitrário
da semiose infinita para além do
significado; o reconhecimento da
textualidade e do poder cultural, da
própria representação, como local de
poder e de regulamentação; do
símbolo como fonte de identidade.
(Hall, 2013, p. 232, grifo do autor).
Como se observa, não é um campo
teórico que dá ênfase a somente uma
grande problemática como objeto de
estudo, mas é eminentemente marcado por
grandes tensões sociais, econômicas e
culturais. Um campo teórico que a partir da
cultura pensada como instrumento de
reorganização da sociedade (Limeira de
Sá, 2017), como prática produtiva (Silva,
2010), mostra que “Cada movimento que
fizemos é normativamente regulado no
sentido de que, do início ao fim, foi guiado
por um conjunto de normas e
conhecimentos culturais” (Hall, 1997, p.
19). Dessa forma, não teríamos os Estudos
Culturais fundamentados num bloco
monolítico de investigação, um corpo
teórico homogeneizado, pois isso os
descaracterizariam como um conjunto de
conhecimentos contestados, localizados e
conjunturais, que têm que ser debatidos de
um modo dialógico (Hall, 2013).