20
inteiras devastadas pelas queimadas, pelos
agrotóxicos, deixando as terras
improdutivas, comprometendo a
biodiversidade, interferindo na saúde e na
qualidade de vida das pessoas e afetando o
futuro das gerações futuras.
Em relação ao agronegócio e ao
sistema produtivo habitualmente
empregado, as injustiças podem
referir-se à concentração de terra e ao
uso de bens comuns como a água e o
solo, bem como também ao efeito
dispersivo de insumos e resíduos. As
diferentes reações a essas injustiças,
ainda que de forma desproporcional
(dadas as diferenças de poder
econômico e político entre os grupos
envolvidos), é o que poderá
caracterizar uma situação de conflito,
ressaltando o aspecto dialético do
tema. Pode-se dizer que a aliança
entre Estado, latifundiários e demais
agentes vinculados ao agronegócio, ao
dispor da terra pela via da estratégia
economicista – e gerar problemas
ambientais face ao modo pelo qual a
terra é usada – desdobra-se na
injustiça ambiental consoante a
injustiça social. (Souza & Chaveiro,
2018, p. 2-3).
Assim, é notório que os problemas
que decorrem das relações ambientais e
delas associados, tais como o agronegócio
e a regularização da demarcação das terras
quilombolas e indígenas, estão
intrinsecamente ligados às questões de
relação de poder, de ordem política e
econômica de um país e seus
representantes, o que nos leva a refletir
sobre a grande dívida social que o Estado
brasileiro tem com as comunidades
tradicionais, o que influencia na sua
própria sobrevivência, no direito ao
consumo material, na justiça social, no uso
dos bens comuns, na igualdade de
oportunidades, dentre outros (Souza &
Chaveiro, 2018), o que faz refletir sobre as
palavras de Feijão Querentin (2019):
Aqui não tem ganho: por exemplo,
uma época dessa, se você não
trabalhar na roça, você não faz nada,
fica zanzando feito louco,
preocupado com o nosso ganha-pão.
E outra: nosso trabalho, às vezes, não
recompensa financeiramente; você
não consegue vender nem o milho.
Não compensa, pois você passa
quase um ano todo: primeiro na
broca, depois limpa, depois planta,
apanha feijão, quebra de milho...
Ave, Maria! Todo um processo
demorado demais, aí, quando é no
final, como agora, os caras querem
pagar R$ 25,00 no saco de milho;
não compensa, na minha opinião. Um
saco de feijão, que é R$ 150,00, não
compensa também, muito melhor
você guardar e comer... Já com a
semente do governo a produção é
mais rápida, porque tem muito
veneno, mas, se você for comprar, ela
é cara para caramba... e o milho do
governo o quilo é R$ 4.00, mas, se
você for vender o nosso, o cabra não
quer pagar nem R$ 1,00... e o milho
do governo vem até com o corante
que eles colocam e dizem que é para
conservar o milho... o nosso não tem
nada disso, a nossa semente é natural.
Percebe-se, assim, que as iniciativas
do governo seriam mais para alimentar a
indústria de agrotóxico, a exploração
territorial, o aumento da lucratividade das
grandes empresas, ficando as ações
inerentes ao cultivo de sementes crioulas e