Revista Brasileira de Educação do Campo
Brazilian Journal of Rural Education
ARTIGO/ARTICLE/ARTÍCULO
DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.rbec.e9596
Tocantinópolis/Brasil
v. 6
e9596
10.20873/uft.rbec.e9596
2021
ISSN: 2525-4863
1
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O atendimento escolar em classes multisseriadas no
município de Buenos Aires: representação de docentes à
luz da política de educação do campo
Ana Paula de Holanda Cavalcanti
1
, Waldênia Leão de Carvalho
2
1, 2
Universidade de Pernambuco - UPE. Programa de Pós-graduação em Educação (Mestrado Profissional em Educação).
Rua Amaro Maltês de Farias, n. 201. Bairro Centro. Nazaré da Mata - PE. Brasil.
Autor para correspondência/Author for correspondence: paulaholanda88@hotmail.com
RESUMO. Este artigo tem por objetivo analisar a educação do
campo e o desenvolvimento da prática pedagógica nas classes
multisseriadas no município de Buenos Aires/PE. O aporte
teórico está pautado na legislação que a rege e nos teóricos que
tratam do tema Caldart, Molina e Hage, entre outros. A pesquisa
foi realizada em 13 escolas multisseriadas localizadas na zona
rural do Município. Participaram da pesquisa 13 professores
efetivos que lecionam na educação infantil e anos iniciais do
ensino fundamental. A coleta de dados ocorreu através da
aplicação de entrevista semiestruturada. Os dados obtidos foram
analisados segundo a Teoria de Análise Conteúdo de Bardin. Os
resultados evidenciam que os professores procuram atender as
especificidades da multisseriação e da educação do campo,
buscando atrelar a sua prática docente à realidade vivida pelo
aluno, mesmo na ausência de uma proposta municipal que
embase a prática pedagógica nessas classes. Verificou-se, a
necessidade da criação de uma proposta pedagógica e de um
currículo próprio para a educação do campo e classes
multisseriadas, a formação continuada específica para o
professor. Além de questões referentes à organização e divisão
das classes, a orientação do trabalho docente e o uso de
materiais didáticos voltados à realidade do campo.
Palavras-chave: educação do campo, políticas educacionais,
classes multisseriadas.
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School attendance in multi-grade classes in the city of
Buenos Aires: representation of teachers in the light of the
rural education policy
ABSTRACT. This narrative talks about the education of the
countryside (rural) and the development of the pedagogical
practice in the multi-grade classes in the city of Buenos Aires /
PE. The full-time teachers made a research through on visits (in
loco), with the application of a semi-structured interview, an
open quiz and meetings with the focus group. Analyzes issues
regarding working conditions of teachers of multigraded classes
from rural areas. The text presents reflections on the conditions
of teaching profession through data collected by questionnaire
applications and narrative interviews. Based on the research
results we identified in our first category of analysis and the
formative expectations resulting the continued formation, the
political commitment, the pedagogical practices, social and
educational, the positive feeling related to the formation that
arouse changes and continuity of the formation. The practice of
rural teachers are based on a different approach from the
conception and founded on educational policy. The main
contributions of the study relate to the "lessons" learned from
these teachers know-hows as a possibility of the systematization
and production of a powerful academic knowledge for the
formulation and development of public policies consistent with
the reality of schools in rural areas.
Keywords: rural education, educational policies, multi-grades
classes.
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Asistencia escolar en clases de varios grados en la ciudad
de Buenos Aires: representación de docentes a la luz de la
política de educación rural
RESUMEN. Artículo tiene como objetivo analizar la educación
en el campo y el desarrollo de la práctica pedagógica en clases
multiseriales en la ciudad de Buenos Aires / PE. El aporte
teórico se basa en la legislación que lo rige y en los teóricos que
tratan el tema Caldart, Molina y Hage, entre otros. La
investigación ocurrió en 13 escuelas multigrado ubicadas en el
área rural del municipio. Trece profesores efectivos que enseñan
en la educación de la primera infancia y en los primeros años de
la escuela primaria participaron de la investigación. La recogida
de datos se produjo mediante la aplicación de entrevistas
semiestructuradas. Los datos obtenidos fueron analizados de
acuerdo con la teoría de análisis de contenido de Bardin. Los
resultados muestran que los docentes buscan satisfacer las
especificidades de la multisección y la educación rural,
buscando vincular su práctica docente con la realidad
experimentada por el estudiante, incluso en ausencia de una
propuesta municipal que respalde la práctica pedagógica en
estas clases. Se constató la necesidad de la creación de una
propuesta pedagógica y de un curriculum adecuado para la
Educación del Campo y las clases multiseriales; Educación
continua específica para el profesor. Además de las preguntas
sobre la organización y división de las clases, la orientación del
trabajo docente y el uso de materiales didácticos dirigidos a la
realidad del campo.
Palabras clave: educación rural, políticas educativas, clases de
multiseriales.
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Introdução
A educação do campo abrange uma
série de elementos próprios e constitutivos
do modo de viver do e no campo, que vão
desde as lutas dos trabalhadores rurais nos
movimentos sociais às políticas públicas
destinadas às escolas do campo. Para
Caldart (2009), discutir acerca do tema é
reconhecer que ele tem sua origem nos
movimentos sociais campesinos e está
vinculada à luta de classes. Para Caldart, a
Educação do Campo não é uma proposta
de educação, mas um projeto educativo,
que precisa ir além do espaço físico da
escola para abordar o contexto social e
interagir com a comunidade, valorizando o
trabalho e a cultura da população na qual a
escola está inserida.
Nessa perspectiva, a educação do
campo compreende que é importante que
os trabalhadores das áreas rurais tenham
acesso ao conhecimento produzido pela
sociedade, problematizando e criticando o
conhecimento dominante e a hierarquia
epistemológica em uma sociedade que
deslegitima o conhecimento produzido
pelos povos do campo.
No Brasil, as classes multisseriadas
ou unidocentes configuram parte do
cenário da educação do campo das escolas
públicas localizadas nas áreas rurais dos
municípios. As classes multisseriadas são
aquelas em que numa mesma sala de aula
estudam alunos de diferentes séries
escolares, com um único professor, que
leciona todos os componentes curriculares.
A multisseriação ocorre devido ao número
insuficiente de alunos matriculados para
formar uma turma única, devido à baixa
densidade demográfica nas localidades
rurais, especialmente nas etapas da
educação infantil e nos anos iniciais do
ensino fundamental.
A multisseriação é um fenômeno que
se faz presente no fazer pedagógico e na
prática docente de muitas escolas do
campo. A multisseriação tem sofrido
críticas quanto à forma de organização dos
alunos, a efetivação do currículo, as
aprendizagens e a qualidade do ensino, por
outro lado tem ganhado uma nova
interpretação, a que visualiza as
aprendizagens integrativas e a troca de
saberes entre os estudantes de diferentes
idades.
Reconhecer que as classes
multisseriadas é uma realidade na
educação brasileira, levou nosso estudo a
analisar na educação do campo o
desenvolvimento de práticas pedagógicas,
observando o atendimento escolar das
crianças nas classes multisseriadas, como
uma política de educação do campo do
município de Buenos Aires/PE. Bem
como, descrever a estrutura e organização
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do atendimento para as classes
multisseriadas: Identificar possibilidades,
desafios e dificuldades para o
desenvolvimento da prática docente em
classes multisseriadas e relacionar a
proposta para as classes multisseriadas à
perspectiva da educação do campo.
A multisseriação no Brasil
A multisseriação é uma forma de
organização distinta da seriação instaurada
na escola tradicional, é encontrada tanto
em áreas rurais como em áreas urbanas,
onde em cada sala de aula é agrupado
determinado número de alunos,
considerando a idade e a respectiva série
ou ano escolar em curso, esses modelos de
organização escolar apesar de serem
distintos, apresentam algo em comum: as
heterogeneidades das aprendizagens,
considerando os diferentes níveis de
desenvolvimento cognitivo, emocional e
social e da aprendizagem dos
conhecimentos apresentados pelos alunos
na classe regular. O número de escolas e
matrículas na área rural e a presença de
classes multisseriadas podem ser
observados nos dados disponibilizados
pelo documento do PRONACAMPO
(Programa Nacional de Educação do
Campo) de acordo com o censo escolar de
2011.
Figura 1 - Escolas e matrículas na educação do
campo 2011.
Fonte: BRASIL. PRONACAMPO/MEC, 2012.
De acordo com os dados
apresentados na figura 1, observa-se um
número de escolas do campo e de
matrículas bastante significativos. Os
dados ainda evidenciam que as classes
multisseriadas estão presentes em 71,37%
das escolas nas áreas rurais, representando
22,8% do total de matrículas nas escolas
do campo, revelando um Brasil com
características educacionais específicas as
condições rurais. Esses dados permitem
inferir que a multissérie está presente em
todo o território rural. O que demanda a
implementação de políticas educacionais e
sociais urgentes que possam atender as
escolas, os professores e os alunos das
classes multisseriadas, em sua diversidade
geográfica e cultural. Para observar essa
realidade a partir dos níveis da educação,
consultamos o censo escolar dos anos 2009
a 2019, e neles não referência explicita
ao percentual de alunos matriculados em
classes multisseriadas. Os demais censos
citam a porcentagem de alunos
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matriculados nas escolas rurais de maneira
geral, contabilizando a quantidade de
matriculas efetivas nas etapas: da
educação infantil, ensino fundamental e
ensino médio. Sem discriminar quais
dessas matrículas correspondem às classes
multisseriadas, localizamos, portanto, de
maneira mais evidente esses dados no
documento organizado e disponibilizado
pelo PRONACAMPO referente ao ano de
2011.
O INEP/MEC em 2007 lançou o
documento Panorama da educação do
campo apresentando um desafio ainda
maior, conforme descrito na figura 2.
Figura 2. Números de Escolas Multisseriadas - Ensino Fundamental 2002 e 2005
Fonte: Brasil, 2007. MEC/INEP.
Fonte: Brasil, 2007. MEC/INEP.
De acordo com os dados
apresentados, observa-se a predominância
da multisseriação na educação do campo,
na etapa do ensino fundamental. Em 2005,
o número de escolas era muito superior
àquelas voltadas à seriação. Se a este dado
somarmos as escolas mistas, a
predominância desse modelo de
organização escolar é parte integrante da
educação escolar do país. A Secretaria de
Educação Continuada, Alfabetização,
Diversidade e Inclusão (SECADI),
atualmente extinta, foi responsável pela
gerência da educação do campo no MEC,
ao analisar esses dados destaca que:
Segundo o tipo de organização,
temos 59% dos estabelecimentos do
ensino fundamental rural formados
exclusivamente por turmas
multisseriadas ou unidocentes, as
quais concentram 24% das
matrículas. As escolas
exclusivamente seriadas
correspondem à cerca de 20% e
concentram pouco mais da metade
das matrículas (2.986.209 alunos). As
mistas (multisseriadas e seriadas)
respondem por
¼
das matrículas
(1.441.248 alunos). (Brasil, 2007,
p.21).
Os dados demonstram um número
significativo de escolas rurais
multisseriadas, um pouco mais da metade
das escolas. A multisseriação se constitui
como elemento inerente ao contexto da
educação do campo e é exatamente, por
isso, que ela necessita de uma estrutura e
suporte apropriados que permitam o seu
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efetivo funcionamento, sinalizando o
grande desafio que as escolas
multisseriadas e unidocentes são para as
políticas públicas de educação do campo
(Brasil, 2007).
Percurso metodológico
O estudo foi realizado a partir da
abordagem qualitativa, foi desenvolvido no
município de Buenos Aires-Pernambuco
com um grupo de 13 professores que
compõem o quadro dos funcionários
efetivos, que atuam nas classes
multisseriadas na educação infantil e nos
anos iniciais do ensino fundamental nas
escolas do campo. A pesquisa obteve
aprovação pelo comitê de ética da
Universidade de Pernambuco.
Para a coleta dos dados, utilizamos a
entrevista semiestruturada realizada com
13 professores, contendo 09 perguntas
dissertativas, que foram gravadas,
transcritas e analisadas à luz das técnicas
de análise de conteúdo proposta por Bardin
(1977).
Para este estudo, catalogamos 08
categorias de análise: educação do campo;
educação do campo na escola; política
municipal de educação do campo;
possibilidades e os desafios no
desenvolvimento da educação do campo;
dinâmica da multisseriação na escola; a
prática docente nas classes multisseriadas;
formação docente, continuada e específica;
proposta de ensino para as classes
multisseriadas.
Resultados e discussão
Na primeira parte do estudo,
realizamos um levantamento das escolas
situadas nas localidades rurais do
município de Buenos Aires, buscando
observar as classes multisseriadas nos
níveis da educação infantil e anos iniciais
do ensino fundamental e quanto ao número
de alunos matriculados nos últimos quatro
anos. Os dados estão dispostos na tabela 1,
vejamos.
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Tabela 1 - Censo das escolas multisseriadas do município de Buenos Aires/PE.
Fonte: Censo escolar do município de Buenos Aires/PE, anos 2016 a 2019.
De acordo com a tabela acima,
visualizamos o panorama da multissérie no
município, e está presente na maior parte
das escolas do campo que ofertam os anos
iniciais de escolarização. Das 13 escolas
municipais localizadas na área rural,
apenas duas não possuem classes
multisseriadas, esse dado revela a presença
quase integral de escolas que possuem
turmas multisseriadas, embora haja uma
redução gradual no número de alunos
matriculados anualmente, esse fator muitas
vezes está relacionado ao número de
crianças em idade escolar existentes nas
comunidades para a realização de novas
matrículas, pela saída de alunos para cursar
o 6º ano do ensino fundamental nas escolas
zona urbana ou ainda pelo êxodo rural.
Apesar das escolas funcionarem com
número reduzido de alunos em algumas
comunidades, com a exceção de duas
escolas, o município até o momento não
optou pela nucleação ou fechamento de
escolas como estratégia de gestão
educacional. Uma escola foi fechada em
2015 devido a problemas estruturais, de
localização, acesso e segurança e outra
escola sendo construída para sua
substituição num espaço mais adequado e
os alunos foram realocados em outras
escolas próximas. A escola Joaquim Vieira
de Melo, passará a funcionar em um novo
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prédio que foi construído, com previsão
para ser inaugurado em 2020
Ao todo, das 11 escolas
multisseriadas, 6 funcionam com uma sala
de aula apenas e num turno, geralmente
no período da manhã, com crianças
matriculadas em diferentes níveis e séries.
Outras 5 funcionam com dois professores,
em duas salas de aulas, geralmente no
mesmo turno, onde as classes são divididas
em infantil e fundamental. Foi observada a
ausência de creches na área rural, as
matrículas das crianças do campo são
realizadas a partir dos 3 anos de idade.
Essas crianças são atendidas junto com as
crianças da pré-escola.
A multisseriação no município está
organizada de forma variada, é composta
por nível ou quantidade de alunos. O
número de docentes também varia pela
demanda. Enquanto outras escolas que
possuem uma sala de aula, a
multisseriação ocorre dentro dos níveis de
ensino, ou seja, a educação infantil e o
ensino fundamental ocorrem na mesma
sala de aula.
O município, até o momento, ainda
não dispõe de uma proposta curricular para
a educação do campo, as escolas também
não possuem o projeto político
pedagógico, dessa forma, os professores,
de forma autônoma, utilizam metodologias
e estratégias diversificadas de ensino,
realizando atividades diferentes para cada
série. Apesar de algumas escolas
apresentarem o número reduzido de aluno
por classe, uma sobrecarga do professor
que precisa organizar atividades diferentes
para cada uma das séries, além de assumir
funções administrativas nas escolas.
Apresentamos a tabela 2, o perfil dos
professores e a quantidade de séries/classes
tomando o ano de 2019 como referência.
Utilizamos nomes de flores para nomear os
professores.
Tabela 2 - Perfil dos Professores da Educação do Campo do município de Buenos Aires.
Professor
(cognome de
flores de
acordo com a
letra inicial
do nome dos
professores)
Idade
Escolarização
ensino médio,
graduação
e pós-graduação
Tempo de
experiência como
profº. da educação
do campo e tipo de
vínculo
Quantidade de
séries/classes
01
Acácia
31
Pedagogia
Gestão educacional
e coordenação
pedagógica
5 anos / efetivo
Maternal, pré I, pré II, 1º, 2º,
3º, 4º e 5º ano
8 classes 16 alunos
02
Açucena
46
Pedagogia
Psicopedagogia
27 anos / efetivo
3º, 4º e 5º ano
3 classes 16 alunos
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10
03
Angélica
32
Normal médio
02 anos / contrato
1º, 2º, 3º, 4º e 5º ano
5 classes - 13 alunos
04
Camélia
27
Pedagogia
5 anos / contrato
Mat, pré II, 1º, 2º, 3º, 4º e 5º
ano
7 classes 10 alunos
05
Cravo
24
Pedagogia
Ludopedagogia.
Psicopedagogia
clínica e
institucional
5 anos / permuta
4º e 5º ano
2 classes -12 alunos
06
Dália
45
Pedagogia
18 anos / permuta
2º, 3º, 4º e 5º ano
4 classes - 12 alunos
07
Dama da
Noite
27
Pedagogia
Psicopedagogia
3 anos / efetivo
1º, 2º, 3º ano
3 classes / 27 alunos
08
Dente de
Leão
51
Pedagogia
Psicopedagogia
7 anos / efetivo
Manhã: pré I, pré II e 1º
3 classes - 8 alunos
Tarde: 2º, 3º, 4º e 5º ano
3 classes - 8 alunos
09
Eufrásia
38
Pedagogia
Gestão Escolar
5 anos / efetivo
Mat, pré I, pré II e 1º
4 classes - 13 alunos
10
Girassol
44
Pedagogia
25 anos / contrato
1º e 3º ano
2 classes - 10 alunos
11
Jasmim
46
Pedagogia
27 anos / efetivo
2º e 3º ano
2 classes 18 alunos
12
Java
40
Pedagogia
Psicopedagogia
2 anos / efetivo
Maternal, pré I, pré II, 1º, 2º,
3º, 4º e 5º ano
7 classes - 20 alunos
13
Magnólia
46
Letras
Literatura e letras
28 anos / permuta
Pré I, pré II e 1º ano
3 classes - 10 alunos
14
Margarida
63
Geografia
36 anos / efetivo
4º e 5º ano
2 classes 9 alunos
15
Rosa
29
Matemática
Alfabetização e
letramento
5 anos / efetivo
2º e 3º ano
2 classes - 19 alunos
16
Vanila
43
Pedagogia
Psicopedagogia
2 anos / permuta
Manhã: maternal, pré I, pré
II
3 classes - 15 alunos
Tarde: 4º e 5º
2 classes - 16 alunos
17
Violeta
32
Pedagogia
Psicopedagogia
10 anos / efetivo
Maternal, pré I, pré II, 1º e
2º ano
5 classes - 15 alunos
Fonte: As autoras, 2019.
Observando a tabela, verifica-se
que os docentes são, em sua maioria,
mulheres com idades entre 30 e 60 anos, há
apenas um professor do sexo masculino. A
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maior parte dos funcionários é efetiva,
havendo apenas dois professores
contratados e 4 permutados sob o regime
de colaboração entre municípios. Dos 17
professores, 07 residem na área rural e 05
na área urbana do município, os demais
moram nas cidades circunvizinhas.
Ao analisar a formação docente,
observamos que apenas uma professora
não possui formação em nível superior, os
demais possuem formação nas
licenciaturas diversas, especialmente no
curso pedagogia. Alguns docentes possuem
curso de especialização. Em síntese, é
possível perceber que a multisseriação é
predominante nas escolas do campo no
município, funcionando com um número
reduzido de alunos por turma, com classes
que apresentam de 3 a 5 séries numa
mesma sala de aula e com um único
docente.
Apresentação dos dados empíricos
Apresentamos os resultados
coletados na entrevista com os 13
professores. Em algumas tabelas o número
de respostas excede esse total devido ao
fato de alguns sujeitos da pesquisa terem
respondido mais de uma categoria. Os
dados estão distribuídos nas tabelas que
seguem. A tabela 3 trata da compreensão
dos professores sobre a educação do
campo, vejamos:
Tabela 3 - Educação do campo.
Fonte: As autoras, 2019.
Com base nos dados, verifica-se que
9 professores relacionaram à educação do
campo a ideia de educação ofertada nas
áreas rurais destinada aos povos que vivem
no campo, destacando também o trabalho
realizado nesses espaços e a forma de viver
dessas pessoas. Apenas 03 professores
relacionaram a educação do campo a uma
modalidade de ensino, voltada para os
espaços rurais. Diante das respostas
apresentadas, observa-se o conceito de
campo enquanto espaço geográfico
produtor de cultura, de identidades e
elemento estruturante dessa educação. A
respeito disso, Caldart (2002) salienta:
Cavalcanti, A. P. H., & Carvalho, W. L. (2021). O atendimento escolar em classes multisseriadas no município de Buenos Aires: representação de docentes à luz da
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A educação do campo se identifica
pelos seus sujeitos: é preciso
compreender que por trás da
indicação geográfica e da frieza de
dados estatísticos está uma parte do
povo brasileiro que vive neste lugar e
desde as relações sociais específicas
que compõem a vida no e do campo,
em suas diferentes identidades e em
sua identidade comum; estão pessoas
de diferentes idades, estão famílias,
comunidades, organizações,
movimentos sociais ... (Caldart,
2002, p.19).
A educação do campo é identitária de
um povo, de uma cultura, de um lugar e
espaço. Nisto, reside a sua especificidade
que a difere das escolas urbanas e por isso
mesmo a escola enquanto instituição
produtora de conhecimento não pode
ignorar as experiências e vivencias dos
povos do campo, como podemos observar
na fala dos professores:
“Vale salientar que na educação do
campo, eu preciso considerar a
diversidade contida no espaço onde o
aluno vive, contemplando o currículo
escolar, as características de cada
comunidade, bem como os saberes
ali presentes, naquela comunidade
que o aluno vive, num é? Sempre
valorizando e respeitando a forma
que ele vive”. (Eufrásia).
Uma outra professora diz,
“Educação do campo é uma
modalidade de educação que
abrange toda a zona rural,
valorizando o espaço de produção,
de vida das pessoas que ali vivem”.
(Jasmim).
A tabela 4 a seguir, trata do
desenvolvimento da prática pedagógica na
escola, observemos:
Tabela 4 - Educação do campo na escola.
Fonte: As autoras, 2019.
Ao observar os dados, podemos
perceber que uma mesma resposta
contemplou mais de uma categoria, 08
professores afirmaram que a educação do
campo é desenvolvida na escola
respeitando a realidade do aluno, ou seja,
partindo do contexto em que ele está
inserido, abordando assuntos pertinentes a
vida no campo, como identidade, trabalho,
cultura, entre outros. Nota-se, portanto, o
esforço em relacionar o ensino à realidade
do campo, contextualizando e adaptando
os conhecimentos a vida no campo,
buscando fazer um resgate e aproveitando
o que é próprio de cada comunidade em
conformidade com os conteúdos. A
respeito disso, a Resolução CNE/CEB 01
estabelece:
Parágrafo único. A identidade da
escola do campo é definida pela sua
vinculação às questões inerentes à
sua realidade, ancorando-se na
temporalidade e saberes próprios dos
Unidade temática: Desenvolvimento
da prática pedagógica na escola
O trabalho é desenvolvido abordando a
realidade do aluno
08
O trabalho é desenvolvido abordando o
currículo utilizado na cidade
08
O trabalho é desenvolvido de forma
multisseriada
03
TOTAL
19
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estudantes, na memória coletiva que
sinaliza futuros, na rede de ciência e
tecnologia disponível na sociedade e
nos movimentos sociais em defesa de
projetos que associem as soluções
exigidas por essas questões à
qualidade social da vida coletiva no
país. (Resolução CNE/CEB
nº1/2002, p. 1).
O respeito à identidade, cultura e
saberes do aluno e da comunidade rural são
observados em vários documentos que
tratam da educação do campo, como por
exemplo, o Parecer n. 36/2001, a
Resolução n. 02/2008 e a Resolução n.
1/2002 citadas por diferentes autores como
Caldart (2002), Molina e Jesus (2004) e
outros. Propõem a ideia de uma educação
construída pelos sujeitos do campo, num
movimento de integração e coletividade.
Respeitar no âmbito da escola, o conjunto
dos elementos que formam os diversos
grupos de pessoas é passo fundamental
para a constituição de uma educação mais
igualitária e inclusiva.
A pergunta levou 08 professores a
revelar que a educação é desenvolvida com
base no currículo que é utilizado nas
escolas municipais da zona urbana. Esse
currículo é entregue aos professores do
campo para servir de orientação, o
município até o momento não dispõe de
um currículo ou proposta curricular
própria, utiliza, portanto, o currículo do
Programa Alfabetizar com Sucesso, que é
um programa do Governo do Estado de
Pernambuco. Os outros 03 entrevistados,
afirmam que o trabalho é desenvolvido
com base na multisseriação, como
podemos observar nas respostas de um dos
entrevistados:
“Enquanto professora de escola
rural, eu tento sempre, trabalhar de
forma dinâmica, né, valorizando e
respeitando os saberes existentes ali
na comunidade, não deixando de
trabalhar, claro né, sempre o global.
A gente trabalha, a gente a
questão da diversidade, mas a gente
tem que respeitar e a gente sabe que
a gente não pode trabalhar só aquela
questão ali, daquela comunidade. A
gente tem que trabalhar o global, até
porque aquele aluno, ele vai sair dali
pra ir pra escola na cidade e ele
precisa ter aquele conhecimento
geral, né? Num, vai conviver, ele
não vai passar uma vida inteira
convivendo com aquela realidade
ali, da comunidade dele. Então, é
preciso que a gente vá mais além,
pra que ele tenha um conhecimento
global, mas não deixando de
respeitar aquilo que ele vive ali, no
dia a dia dele”. (Eufrásia).
Observou-se também certa
preocupação em formar o aluno para a
sociedade como um todo. Os professores
citaram que o aluno do campo também
precisa ter acesso aos conteúdos ensinados
na cidade. Nesse sentido, foi citado na fala
dos docentes o novo currículo proposto
pela Base Nacional Comum Curricular,
que está sendo abordado através dos
livros didáticos nas escolas do campo. Essa
preocupação dos professores é natural,
tendo em vista a necessidade de
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oportunizar ao aluno o acesso aos
conhecimentos existentes, ampliando
assim suas possibilidades formativas,
dando condições para o seu crescimento,
evitando que ele tenha uma formação
restrita e deficitária.
A educação do campo e as classes
multisseriadas foram e ainda são
percebidas muitas vezes com o rendimento
inferior, quando comparadas à educação
desenvolvida na cidade, daí a necessidade
do respeito às diferenças de cada
segmento, bem como a compreensão das
especificidades de cada proposta educativa
voltada para o campo e cidade. Para uma
maior afirmação, fortalecimento e
qualidade educacional, que se
estabelecer parâmetros distintos de
avaliação externa das escolas do campo e
da cidade, para que não sejam criados
indicadores de desempenho desiguais e
com isso a manutenção comportamentos
discriminatórios e estereotipados.
A tabela 5 a seguir, trata do
desenvolvimento da educação do campo no
município, vejamos:
Tabela 5. Política municipal de educação do
campo.
Fonte: As autoras, 2019.
Conforme pode ser observado nos
dados acima, apenas 04 professores
mencionaram os materiais didáticos como
elemento que caracteriza a educação do
campo, outras 04 mencionaram a formação
continuada, 03 professores entrevistados
citaram os festejos juninos e outros 03
mencionaram que não há nenhum elemento
que caracterize essa educação como sendo
do campo. Os demais entrevistados,
quando questionados sobre o que
caracteriza uma educação do campo no
município, citaram respostas distintas,
como a questão da multisseriação, o espaço
rural onde a escola está inserida e a
coordenação pedagógica.
Nota-se que os professores
mencionam o que é mais evidenciado no
dia a dia deles, relatam o uso de materiais
didáticos diversos: livros, jogos, cadernos,
lápis, papeis, entre outros materiais
escolares. No entanto, é válido ressaltar
que esses materiais são de uso geral
utilizados em todas as escolas e não
específico da educação do campo.
Outro elemento mencionado é a
formação continuada dos professores que
ocorre mensalmente, a formação
continuada também é um elemento
presente na educação como um todo. No
Unidade temática: Educação do
campo na rede municipal
Os materiais didáticos
04
A formação continuada
04
A festa junina
03
Não há nenhum elemento
03
Total
14
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caso do município, essa formação não
aborda temas, problemas, assuntos
relacionados especificamente a educação
do campo ou as classes multisseriadas.
Trata-se de uma formação que aborda
temas gerais sobre o ensino e questões
rotineiras, como oficinas de língua
portuguesa e de matemática, sequências de
atividades para o professor utilizar na sua
sala de aula, datas comemorativas, eventos,
informes, entre outros. Não caracterizando
como um elemento específico da educação
do campo.
Verifica-se, portanto, determinada
contradição quando os professores
conseguem identificar e perceber que
trabalham com uma realidade e cultura
diferenciada, que há a necessidade de se
desenvolver uma prática docente mais
específica e que não possuem ferramentas
apropriadas para efetivar a sua prática
pedagógica e realizar uma educação
destinada aos espaços rurais e aos povos do
campo. Os elementos citados pelos
docentes não caracterizam de fato o
desenvolvimento de uma educação voltada
aos sujeitos do campo, e sim, fazem parte
de uma educação “comum”. Evidenciam a
ausência por parte do município em
atender a essa modalidade, como currículo
apropriado, proposta educacional,
formação continuada, avaliação, orientação
e acompanhamento das ações nas escolas
do campo.
Os sujeitos da pesquisa também
citaram a festa junina que é promovida
pela escola sendo aberta a comunidade.
Outras pessoas não identificaram algo que
caracterizasse essa educação, como uma
educação diferenciada com identidade
própria. De modo geral, observa-se que
não elementos norteadores que
identifiquem a educação do campo
desenvolvida no município com os
princípios contidos na legislação
específica, na visão social, nos princípios e
valores do processo educativo. Na tentativa
de responder à pergunta, os sujeitos
localizaram elementos que correspondem,
ainda que parcialmente, a educação do
campo, questões voltadas à localização da
escola, o campo, a forma de organização
do ensino, a multissérie. A formação
continuada que é fornecida pela
coordenadora da educação do campo e a
comemoração da festa popular junina que
envolve a comunidade. Abaixo fragmentos
da fala de alguns professores:
Na minha rede de ensino, eu não
observo nada que caracterize uma
Educação do Campo, a não ser o fato da
multisseriação, que é comum em
Educação do Campo e no campo, mas
outro aspecto relacionado à
organização, a currículo próprio, isso
eu não observo”. (Dama da Noite).
“Eu não vejo nada. Eu não vejo
direcionado pra trabalhar com o campo,
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essas salas multisseriadas, eu não vejo
não. Porque são mais materiais que são
dados a professores da zona urbana,
mas que também são repassados pra
zona rural do campo. Mas não material
que seja único e exclusivo, voltado
diretamente pra se trabalhar essa
educação com salas multisseriadas no
campo”. (Vanila)
Observa-se uma posição crítica e
reflexiva dos professores em perceber que
ainda não uma proposta didática,
metodológica e curricular que oriente e
subsidie o trabalho docente nas escolas do
campo. Verifica-se também, a inquietação
dos docentes com a abordagem do ensino
nas classes multisseriadas, quando
mencionam que não materiais
específicos que auxiliem o trabalho nessas
classes. A tabela 6 abaixo apresenta as
possibilidades e os desafios para a
educação do campo, observemos:
Tabela 6 - Possibilidades e os desafios no
desenvolvimento da educação do campo.
Fonte: As autoras, 2019.
Ao observar a tabela acima, é
possível perceber a variação das respostas,
que se mostraram distintas, não formando
demais categorias de análise. Sobre as
possibilidades encontradas na realização
do trabalho na educação do campo, foi
citado de maneira mais recorrente, o perfil
dos alunos. Três professores mencionaram
que o perfil dos alunos do campo, quando
comparados aos alunos da cidade “são
mais inocentes, calmos e dóceis”. Fator
esse, que facilitaria o desenvolvimento do
trabalho docente.
Outro aspecto mencionado foi o
contato com os pais, onde os professores
alegaram que na área rural isso é uma ação
mais recorrente, sendo visto como um
elemento positivo. Nesse sentido, também,
elencaram o acolhimento da comunidade
rural onde a escola está inserida,
destacando uma maior proximidade e
interação com a escola.
Como desafios encontrados, 04
professores mencionaram a multisseriação
como forma de organização escolar, ou
seja, o trabalho com veis diferentes de
ensino e aprendizagem na mesma sala de
aula simultaneamente. O ensino
individualizado por séries representa um
desafio ao trabalho docente e ao
planejamento do ensino. Outro aspecto
citado foi a estrutura física de algumas
escolas, elas não dispõem de espaço
Unidade temática: Possibilidades e os desafios
observados
Possibilidades
D
desafios
O perfil do
aluno
03
A
multisseriação
0
4
O contato com
os pais
03
A estrutura
física da escola
0
2
A comunidade
rural
03
Respostas
distintas
0
6
Respostas
distintas
03
Não respondeu
0
1
Não identificou
01
-
-
Total:
13
Total:
13
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adequado, como: ausência de banheiro
para funcionários, espaço para biblioteca,
pátio.
Outros desafios citados, como:
ausência de um currículo próprio, de
formação continuada para educação do
campo, de professores para atuar nessa
modalidade de educação, de orientações
relacionadas à alfabetização dos alunos,
auxílio dos estudantes nas tarefas para
casa, e transporte escolar deficitário.
Quanto aos benefícios, os docentes
destacaram o investimento na escola, a
presença da escola no mesmo local de
moradia dos estudantes e a troca de
experiências realizada entre alunos de
diferentes idades.
Vejamos abaixo alguns fragmentos
da fala de alguns professores quanto às
questões abordadas acima.
“Os problemas são os níveis
diferentes, né... de cada faixa
etária dentro de uma mesma sala,
é... um professor pra várias
séries”... (Violeta).
“... A gente tem um contato mais
direto com os pais. Eu acho que
esse é o ponto melhor que existe
na escola do campo. A gente tem
um... os pais são mais próximos
da gente e a gente é mais próximo
deles”. (Dente de Leão).
Em síntese, observou-se uma
variedade nas respostas dos sujeitos
segundo a sua compreensão e interpretação
da pergunta, conforme sua visão subjetiva,
experiência e realidade escolar. Registrou-
se aspectos essenciais da educação do
campo, como o vínculo com a comunidade
rural, a aproximação com o aluno e com os
pais, elementos identitários que
caracterizam a essência dessa educação.
Também foram elencados aspectos comuns
à realidade do campo, como a precariedade
na estrutura de alguns prédios e a
dificuldade em ensinar na turma
multisseriada, tendo que atender a alunos
em séries diferentes com conteúdos
distintos e ao mesmo tempo.
É interessante perceber que a
multisseriação apontada por alguns
professores como um desafio ao trabalho
docente nas escolas do campo não leva os
professores a aspirar ao fim das classes
multisseriadas, pelo contrário, quando os
docentes apontaram os enfrentamentos
encontrados, é porque almejam a solução
ou redução dessas necessidades para um
melhor desenvolvimento da educação
nessas escolas.
Além disso, Parente (2014, p.687),
destaca que A existência da
multisseriação impede o fechamento de
escolas e evita que o aluno tenha que viajar
longas distâncias ou mesmo estudar em
outro povoado diferente daquele onde
vive”. As escolas multisseriadas resistem
em meio a processos de negação e
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exclusão de sua identidade frente às
políticas educacionais que não tem criado
mecanismos adequados ao seu
desenvolvimento.
A multisseriação é percebida, por
algumas pessoas, como uma forma de
organização que precisa ser extinta em
decorrência do desconhecimento da
realidade dessa modalidade na história do
Brasil rural. Para Hage e Reis (2018), a
multisseriação no Brasil tem sido
estruturada com base no modelo seriado
urbano de ensino, fazendo uso da mesma
metodologia empregada na seriação, ou
seja, fragmentação, padronização e
hierarquização do conhecimento, em
componentes curriculares, unidades,
divisão do tempo/espaço. Nisto, reside à
negação da multissérie enquanto modelo
próprio de organização do ensino, que
precisa ser considerado e respeitado em
suas demandas e contextos. Necessita-se,
para tanto, a adoção de um conjunto de
elementos específicos que alicercem a
multissérie e fortaleçam o currículo, a
metodologia, o plano de ensino, o material
didático-pedagógico, a formação docente e
a avaliação que correspondam aos sujeitos
do campo.
A esse respeito, Santos e Moura,
(2010, posição 634, kindle), destacam que
a multisseriação possui uma prática
pedagógica própria:
Entretanto, mesmo fortemente
influenciados pelo paradigma
curricular seriado, não podemos
desconsiderar a existência de uma
“pedagogia das classes
multisseriadas”, caracterizada por
uma prática pedagógica fundada nos
saberes construídos nas relações e
mediações que se estabelecem no
interior das classes multisseriadas,
cotidianamente.
Nesse sentido, os autores partem de
um ponto fundamental para se pensar a
constituição da prática pedagógica e dos
saberes docentes que são desenvolvidas no
interior das classes multisseriadas. É
preciso perceber que as diferentes
estratégias de ensino e metodologias
lançadas pelos professores para atender aos
estudantes dessas classes configuram a
instituição de uma pedagogia alternativa
para os povos do campo. É preciso
perceber, portanto, em que medida a
multisseriação no Brasil tem sido
legitimada e norteada pelo órgão
normativo. Resta saber em que medida a
multisseriação tem sido usada como
parâmetro de produção de indicadores
desiguais, quando negada a sua
singularidade, tratada como uma
“educação comum”, recebendo os mesmos
programas educacionais, livros didáticos e
avaliações externas da escola urbana.
Com isso, a tabela 7 abaixo, mostra
como é realizado o trabalho com
multisseriação no município, vejamos:
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Tabela 7 - Dinâmica da multisseriação na escola.
Fonte: As autoras, 2019.
Sobre a dinâmica da multisseriação
nas escolas, 08 professores relacionaram a
divisão das turmas/séries a essa forma de
organização do ensino, onde cada
professor leciona para três ou mais
turmas/séries. Outros 06 professores
relacionaram a multisseriação a
metodologia de ensino, utilizada nessas
turmas/séries. As demais respostas não
contemplaram as categorias de análise e
uma resposta não atendeu a pergunta.
Observa-se que os professores
mencionaram duas características
marcantes da educação do campo no
município, a divisão e a quantidade das
turmas/séries e a forma de ensino
empregada para atender a demanda. Essas
características impactam no fazer docente,
merecendo atenção especial para o
desenvolvimento de uma prática
pedagógica pertinente e,
consequentemente, maior aprendizado e
melhor qualidade do ensino. A seguir
trechos da fala dos sujeitos.
“A multisseriação acontece dividindo
as crianças por fundamental e
infantil na minha escola, onde eu
ensino crianças do 1º, e ano.
Mas também acontece escolas que
tem a realidade de ter todas as
turmas numa série só, vai depender
da quantidade de alunos. O que
define a série, o ciclo que vai ser
ensinado, é a quantidade de alunos”.
(Dama da Noite).
“É preciso que a gente realmente
tenha uma prática docente,
realmente muito dinâmica, pra que
isso realmente funcione. Caso
contrário, realmente, a
multisseriação, ela não funciona, e
vão ficar alunos ali, naquela sala,
perdidos. Então, o professor precisa
realmente, tá revendo sempre sua
prática pedagógica, pra poder
assistir esses alunos e atender a cada
um de forma diferenciada. É
complicado, mas no final do
processo, a gente consegue sim”!
(Eufrásia).
Nota-se, na fala dos professores a
tentativa particular de fundamentar e
desenvolver uma prática pedagógica que
corresponda à dinâmica da multissérie e
desenvolva a aprendizagem dos alunos.
Dessa forma, cada professor utiliza
estratégias diversificadas de ensino, que
vão desde ao ensino individualizado por
série com base no conteúdo específico de
cada componente curricular, ao trabalho
com projetos, sequências de atividades,
temas que envolvem várias turmas/séries,
como as datas comemorativas históricas,
Unidade temática: O trabalho com
a multisseriação
Divisão das turmas/séries
08
Metodologia de ensino
06
Respostas distintas
02
Total: 16
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entre outros assuntos pertinentes a
realidade do campo. Além disso, nota-se
também na fala dos entrevistados a divisão
das turmas com base na quantidade de
alunos matriculados por série, onde os
alunos são agrupados considerando as
séries que são mais próximas umas das
outras, para facilitar o ensino que os
níveis de desenvolvimento e de ensino são
subsequentes.
A tabela 8 a seguir se refere à prática
docente, observemos:
Tabela 8 - A prática docente nas classes multisseriadas.
Unidade temática: Vantagens e dificuldades na organização e execução da prática docente nas classes
multisseriadas
Dificuldades
Vantagens
Trabalhar conteúdos e habilidades
distintas no mesmo tempo/espaço
05
O aluno de uma série aprender o
conteúdo da outra
05
Organizar vários planejamentos e
atividades diferentes
06
Interdisciplinaridade dos conteúdos
02
Outras respostas
02
Outras respostas
06
Total: 13
Total: 13
Fonte: As autoras, 2019.
Conforme a tabela acima, é
possível perceber que um dos problemas
enfrentados mais apontados pelos docentes
reside em ensinar os conteúdos curriculares
a diferentes séries na mesma aula e no
mesmo espaço. Outro problema apontado
também está relacionado ao ensino, no que
diz respeito à elaboração de planejamentos
de aula e de atividades distintas, para
atender a várias classes. Também foram
indicados problemas referentes à
coexistência de diferentes faixas etárias na
mesma classe, a divisão e administração do
tempo para atender a todas as séries, a
divisão das turmas numa mesma classe,
material didático voltado a essa realidade,
a implantação de uma prática pedagógica
para a educação do campo.
Quanto aos ganhos apresentados, foi
mencionado o fato de o aluno aprender o
conteúdo de forma antecipada, quando o
professor explica o assunto de outra turma,
que ele tem acesso ao conteúdo e acaba
participando da aula, tendo contato com o
assunto abordado. Também foi citada a
interdisciplinaridade, a interação entre os
alunos de diferentes idades, a troca de
conhecimento entre eles [o fato de um
aluno maior poder auxiliar o menor], a
quantidade reduzida de alunos quando
comparado às escolas da cidade e a
proximidade dos alunos por se conhecerem
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melhor. Abaixo, trechos das falas dos
professores.
“Minha dificuldade é em levar
conteúdos que pra desenvolver as
habilidades de cada um de forma
diferente. Ou seja, num conteúdo só,
eu tenho que desenvolver todas as
habilidades de cada aluno e que
cada série compete, o que se torna
pra mim praticamente missão
impossível, porque alunos de ano
precisam contemplar habilidades
diferentes que alunos de ano.” ...
(Dama da Noite).
“As vantagens são a troca de
conhecimento do educador com os
alunos, pais e moradores locais.
Também a valorização do homem do
campo. E as dificuldades são:
ferramentas para implantar a prática
pedagógica, material didático
voltado à educação do campo e uma
das maiores dificuldades é a faixa
etária de alunos, onde tem alunos de
oito anos com aluno de onze, doze,
treze anos... isso dificulta muito”.
(Jasmim).
Em suma, as dificuldades
encontradas pelos docentes no exercício da
profissão na multisseriação consistem em
não ter um caminho a ser seguido. Os
professores atuam de forma individual e
autônoma, tentando “ensinar tudo a todos”,
se desdobrando para conseguir atender a
várias classes ao mesmo tempo, o que
dificulta o trabalho e gera sobrecarga no
profissional, que precisa elaborar planos de
aula e atividades diferentes durante o ano
letivo.
... a presença do modelo seriado
urbano de ensino nas escolas ou
turmas multisseriadas que impede
que os professores compreendam sua
turma como único coletivo, com suas
diferenças e peculiaridades próprias,
pressionando-os para organizarem o
trabalho pedagógico de forma
fragmentada, levando-os a
desenvolver atividades de
planejamento, curricular e de
avaliação isolados para cada uma das
séries, de forma a atender aos
requisitos necessários a sua
implementação. (Hage, 2014, p.1175,
grifo do autor).
Reafirma-se, portanto, a necessidade
da criação de uma nova perspectiva teórico
metodológica para a multisseriação no
País, o autor sugere a ideia da
“transgressão do modelo seriado de
ensino” na multisseriação, propondo uma
perspectiva mais coerente para o ensino
nessas classes, como a criação de políticas,
ações, proposições, construção do projeto
político pedagógico, do currículo,
estratégias metodológicas e avaliativas e
redimensionamento da prática docente
(Hage e Reis, 2018).
Quanto aos benefícios indicados,
observam-se características próprias da
educação do campo, como a proximidade
entre os sujeitos, permitindo uma relação
mais estreita, além da interdisciplinaridade
das aprendizagens, quando um aluno de
uma determinada série tem acesso ao
conteúdo da outra, além da quantidade
reduzida de alunos que é um ponto positivo
da educação do campo, quando comparado
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às salas de aula superlotadas das escolas
urbanas do município. A tabela 9 abaixo,
se refere à formação docente, observemos:
Tabela 9 - Formação docente, continuada e
específica.
Fonte: As autoras, 2019.
Quando questionados quanto à
formação continuada ou a participação em
algum tipo de discussão sobre educação do
campo, 10 professores afirmaram que
ainda não haviam participado. Outros 03
docentes responderam que receberam
formação, 02 professores disseram que
receberam formação em anos anteriores
pelo Programa Escola Ativa, 01 professor
disse que recebeu formação por outro
munícipio, através do SERTA (Serviço de
Tecnologia Alternativa).
“Não recebo formação continuada
diretamente para turma
multisseriada, mas, mesmo assim, as
que recebo servem para desenvolver
o meu trabalho em sala de aula”.
(Açucena)
“Sim. O Escola Ativa, que era
voltado para o campo, que vinha
livro, tudinho... e até o PNAIC, que...
a gente que voltava
exclusivamente para os professores
do campo, entendeu? E também o
livro Girassol, que era Saberes e
Fazeres do Campo, a gente
recebeu”. (Margarida).
Outra dificuldade encontrada pelos
professores do município é a ausência de
formação continuada específica que trate
dos assuntos relacionados à educação do
campo, que oriente e compartilhe as
experiências, saberes, ações e projetos, que
auxiliem no trabalho com a multissérie.
Faz-se necessário olhar para as reais
necessidades, buscando alternativas que
amparem o desenvolvimento de ações que
subsidiem o trabalho docente. Esses
professores precisam de um suporte
didático pedagógico adequado, além da
aproximação com as discussões acerca
dessa educação e devem se atualizar sobre
as legislações pertinentes ao tema. Além de
trabalhar de forma coletiva e integrada. A
tabela 10, a seguir, trata da proposição dos
professores para as classes multisseriadas
no município, vejamos:
Tabela 10 - Proposta de ensino para as classes
multisseriadas.
Unidade temática: Proposta dos professores
para o atendimento as classes multisseriadas
Formação continuada direcionada a
educação do campo
03
Currículo próprio para educação do
campo
03
Professor auxiliar de sala
03
Outras respostas
05
Total: 14
Fonte: As autoras, 2019.
Lançamos o questionamento aos
professores sobre qual seria a sua proposta
para o atendimento as classes
Unidade temática: Formação continuada na
área da educação do campo ou multisseriação
Formação continuada
Sim recebeu
o recebeu
Total: 13
03
10
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multisseriadas da educação do campo no
município, 04 professores propuseram a
inserção de formação continuada
específica voltada à docência no campo, 03
professores propuseram a introdução de
um currículo próprio para educação do
campo, 03 professores indicaram a
necessidade de professor auxiliar para
ajudar na dinâmica da sala de aula, outras
respostas aleatórias não formaram
categorias. Nota-se, nas falas dos
entrevistados, que a maior necessidade
apontada residiu em aspectos constituintes
da atividade profissional docente, como a
formação continuada em serviço, para que,
através da capacitação profissional, seja
possível atender as demandas do trabalho
em educação. Outro ponto crucial colocado
foi o emprego de um currículo próprio
exclusivo para a educação do campo. Além
disso, também foi citado o apoio com
auxiliares de sala de aula para uma maior
assistência ao aluno.
Também foi proposta a nucleação
das escolas como alternativa para criação
de classes unificadas, a redução da
quantidade de séries alocadas por classes, o
suporte especializado de uma coordenação
e equipe pedagógica na educação do
campo, a utilização de materiais didáticos
de apoio ao trabalho docente e o uso de
projetos didáticos pedagógicos. Como
podemos conhecer em suas falas:
“Em relação à proposta, eu acho,
eu acho bem assim... que seria
interessante que a educação do
campo tivesse um currículo próprio
... Existe o esforço do professor,
isso? Eu acho que a educação do
campo, ele carece de uma
metodologia realmente voltada para
a realidade, né... pra realidade do
campo ... a gente vem tentando
realmente fazer o papel, né...
trabalhar de forma diferenciada e
diversificada, tentando sempre
valorizar, respeitar aqueles saberes
ali, né... resgatar e jamais perder a
essência. Mas volto a dizer, deveria
ter um currículo voltado para a
educação do campo”. (Eufrásia).
Registra-se, assim, uma inquietação
dos docentes na tentativa de encontrar
meios e estratégias que favoreçam o
trabalho docente nas salas multisseriadas.
Nota-se, que os professores necessitam de
um direcionamento e de acompanhamento
para o desenvolvimento do ensino nas
classes multisseriadas, uma orientação que
forneça subsídios para a elaboração do
planejamento de ensino, de metodologias,
projetos didáticos que correspondam ao
trabalho docente na multisseriação. A
definição de um currículo, a formação
continuada específica, a experiência
profissional, a identificação com uma
proposta educacional e de ensino e com um
projeto escola e sociedade proporcionam
uma melhor qualidade do ensino e o
desenvolvimento de uma prática docente.
Considerações
Cavalcanti, A. P. H., & Carvalho, W. L. (2021). O atendimento escolar em classes multisseriadas no município de Buenos Aires: representação de docentes à luz da
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A educação do campo na sua
essência e integralidade é de fundamental
importância e necessidade para os povos
de campo, sendo indispensável o respeito a
sua identidade, a cultura e a luta social.
Compreendemos também que a
multisseriação precisa ser desvinculada da
ideia de seriação para que consiga de fato
atender a todos e cumprir com a sua
finalidade educacional. Será preciso,
portanto, a adoção de outro modelo de
ensino e de uma metodologia própria que
contemple a multissérie.
Muitas vezes considerada uma
questão polêmica, a multisseriação tem
sido alvo de críticas e questionamentos
quanto à efetivação do ensino, das
aprendizagens e do rendimento dos
estudantes, quanto ao planejamento, à
didática, a metodologia e a avaliação do
ensino pelo professor e sobre a execução
dos currículos. Atualmente, registra-se a
ausência de orientações didático-
pedagógicas, projetos e programas por
parte do Ministério da Educação, sobre
como proceder com as classes
multisseriadas no país.
A multissérie tem sido a forma de
organização do ensino que prevalece em
muitas escolas do campo no Brasil,
especialmente as que atendem as crianças
da educação infantil e os alunos
matriculados nos anos iniciais do ensino
fundamental, que corresponde do ao
ano. Verificou-se que a multisseriação tem
empregado a mesma organização que as
classes seriadas das escolas da cidade,
reunindo alunos de diferentes classes num
mesmo espaço físico, ensinando os
conteúdos de cada série de forma isolada,
para atender ao currículo de cada turma.
Dessa forma, o professor precisa se
desdobrar para atender a várias classes
num mesmo espaço-tempo, o que dificulta
o desenvolvimento da prática docente e
consequentemente o rendimento dos
alunos. Desconsiderando a coletividade da
sala de aula e desenvolvendo um ensino
pautado no modelo urbano, que não atende
e nem corresponde às expectativas dos
povos do campo, tampouco ao fazer
docente, que por não saber ao certo como
atuar de forma efetiva nessas classes, acaba
lecionando conteúdos distintos,
reproduzindo o modelo seriado de ensino.
Foi possível perceber na fala dos
sujeitos da pesquisa, a inquietação quanto à
contradição do uso de um currículo urbano,
a falta de formação profissional apropriada
ao ensino no campo, a ausência de domínio
de concepções e metodologias de ensino
alternativo para o trabalho com a
multisseriação. É preciso repensar o ensino
da educação do campo no município de
Buenos Aires, a fim de reorganizá-lo e
desenvolver um ensino que de fato
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corresponda ao campo e as suas classes
multisseriadas, atendendo assim aos
anseios dos professores, postos nessa
pesquisa.
Registra-se, portanto, a necessidade
de um olhar mais atento por parte seu
órgão normativo, na criação de um
currículo e de metodologias que atenda as
demandas dessas classes, na formação
continuada do professor voltada para a
multisseriação e na proposição de
programas e projetos que de fato, respeite e
corresponda ao ensino multisseriado, para
que assim se possa criar condições mais
favoráveis ao desenvolvimento da
educação do campo.
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Informações do Artigo / Article Information
Recebido em : 09/06/2020
Aprovado em: 10/10/2020
Publicado em: 26/01/2021
Received on June 09th, 2020
Accepted on October 10th, 2020
Published on January, 26th, 2021
Contribuições no Artigo: Os autores foram os
responsáveis por todas as etapas e resultados da
pesquisa, a saber: elaboração, análise e interpretação dos
dados; escrita e revisão do conteúdo do manuscrito
e; aprovação da versão final publicada.
Author Contributions: The author were responsible for
the designing, delineating, analyzing and interpreting the
data, production of the manuscript, critical revision of the
content and approval of the final version published.
Conflitos de Interesse: Os autores declararam não haver
nenhum conflito de interesse referente a este artigo.
Conflict of Interest: None reported.
Avaliação do artigo
Artigo avaliado por pares.
Article Peer Review
Double review.
Agência de Fomento
Universidade de Pernambuco.
Funding
Universidade de Pernambuco.
Como citar este artigo / How to cite this article
APA
Cavalcanti, A. P. H., & Carvalho, W. L. (2021). O
atendimento escolar em classes multisseriadas no
município de Buenos Aires: representação de docentes à
luz da política de educação do campo. Rev. Bras. Educ.
Camp., 6, e9596. http://dx.doi.org/10.20873/uft.rbec.e9596
ABNT
CAVALCANTI, A. P. H.; CARVALHO, W. L. O atendimento
escolar em classes multisseriadas no município de
Buenos Aires: representação de docentes à luz da política
de educação do campo. Rev. Bras. Educ. Camp.,
Tocantinópolis, v. 6, e9596, 2021.
http://dx.doi.org/10.20873/uft.rbec.e9596