Revista Brasileira de Educação do Campo
Brazilian Journal of Rural Education
ARTIGO/ARTICLE/ARTÍCULO
DOI: http://dx.doi.org/10.20873/uft.rbec.e9760
Tocantinópolis/Brasil
v. 6
e9760
10.20873/uft.rbec.e9760
2021
ISSN: 2525-4863
1
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Educação do Campo e o Ensino de Ciências: Experiências
em uma escola ribeirinha no Sul do Estado do Amazonas
Paula Regina Humbelino de Melo
1
, Eliane Regina Martins Batista
2
, Tatiana de Souza Camargo
3
1, 2
Universidade Federal do Amazonas - UFAM. Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Humanidades. Rua 29
de Agosto, n. 786, Centro. Humaitá - AM. Brasil.
3
Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS.
Autor para correspondência/Author for correspondence: paulinharhmelo@gmail.com
RESUMO. Este trabalho é resultado de uma pesquisa
desenvolvida no mestrado acadêmico em Ensino de Ciências e
Humanidades na Universidade Federal do Amazonas - Campus
Vale do Rio Madeira. Teve como objetivo discutir em que
medida a integração dos saberes tradicionais/populares sobre
plantas contribuem para o desenvolvimento da educação
científica de estudantes em uma escola ribeirinha na região sul
do Estado do Amazonas. É uma pesquisa de campo, qualitativa
e descritiva, desenvolvida com 15 estudantes de 7º, e anos
de uma escola do campo, situada em uma comunidade
tradicional em um município do Amazonas. A investigação se
deu a partir de atividades participativas, como: perguntas, aulas
práticas e desenhos. Com base no desenvolvimento das
atividades, constatou-se uma riqueza de saberes sobre plantas na
vida dos referidos estudantes, além da importância da
articulação de conhecimentos vividos com conceitos científicos
no ensino de Ciências da Natureza. De uma forma geral,
destaca-se quão importante discutir a integração de saberes na
educação do campo, com metodologias que priorizem
abordagens multidimensionais, considerando saberes sociais,
culturais e ambientais.
Palavras-chave: educação do campo, ensino de ciências,
educação científica.
Melo, P. R. H., Batista, E. R. M., & Camargo, T. S. (2021). Educação do Campo e o Ensino de Ciências: Experiências em uma escola ribeirinha no Sul do
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Rural Education and Science Teaching: Experiences in a
riverside school in the Southwest Amazonas
ABSTRACT. This work is the result of a research developed in
the academic master's degree in Science and Humanities
Teaching at the Federal University of Amazonas - Campus Vale
do Rio Madeira. It aimed to discuss the extent to which the
integration of traditional/popular knowledge about plants
contributes to the development of scientific education for
students at a riverside school in the Southern Amazonas state. It
is a qualitative and descriptive field research, which was
developed with 15 students of the 7th, 8th and 9th grades of a
riverside school located in a traditional community in a
municipality of the Amazonas state. The investigation was based
on participatory activities, such as: questions, practical classes
and drawings. Based on the development of activities, we have
found out that there is a lot of knowledge about plants in the life
of these students, in addition to the importance of articulating
their knowledge with scientific concepts in the teaching of
Natural Sciences. In general, we highlight how important it is to
discuss the integration of knowledge in rural education, with
methodologies that prioritize multidimensional methods,
considering social, cultural and environmental knowledge.
Keywords: rural education, science education, science
education.
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Educación rural y enseñanza de las ciencias: experiencias
en una escuela ribereña en la región sur del Amazonas
RESUMEN. Este trabajo es el resultado de una investigación
desarrollada en la maestría académica en Docencia en Ciencias
y Humanidades de la Universidad Federal del Amazonas -
Campus Vale do Rio Madeira. Su objetivo era discutir en qué
medida la integración del conocimiento tradicional / popular
sobre las plantas contribuye al desarrollo de la educación
científica de los estudiantes de una escuela ribereña de la región
sur del estado del Amazonas. Se trata de una investigación de
campo, cualitativa y descriptiva, desarrollada con 15 alumnos de
7º, y años de una escuela en el campo, ubicada en una
comunidad tradicional de un municipio del Amazonas. La
investigación se basó en actividades participativas, tales como:
preguntas, clases prácticas y dibujos. A partir del desarrollo de
actividades, se constató una gran riqueza de conocimientos
sobre las plantas en la vida de estos estudiantes, además de la
importancia de articular conocimientos vividos con conceptos
científicos en la enseñanza de las Ciencias Naturales. En
general, se destaca la importancia de discutir la integración del
conocimiento en la educación rural, con metodologías que
prioricen enfoques multidimensionales, considerando el
conocimiento social, cultural y ambiental.
Palabras clave: educación rural, educación científica,
educación científica.
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Introdução
A Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (LDB) n.º 9.394/1996
define os objetivos e deveres para a
educação escolar no território brasileiro,
partindo do princípio expresso na
Constituição Federal de 1988 que assegura
o direito à educação para todos os
cidadãos, o que significa que deve ser
garantida independentemente das
localidades em que residem, a exemplo dos
agricultores familiares, dos extrativistas,
dos pescadores artesanais, dos ribeirinhos,
dos assentados/acampados da reforma
agrária, dos trabalhadores assalariados
rurais, dos quilombolas, dos povos da
floresta, dos caboclos e outros, que
produzam suas condições materiais de
existência a partir do trabalho no meio
rural, na perspectiva de resguardar os
direitos de cada cidadão.
As populações rurais, portanto, têm
direito a educação na localidade onde
residem, com um sistema de ensino
adaptado e adequado às peculiaridades de
cada região. Além disso, os conteúdos e
metodologias de ensino precisam estar de
acordo com as necessidades dos
estudantes, priorizando as características
das comunidades por meio de calendários
adaptados aos ciclos de produção local e às
condições climáticas. Caldart (2002)
reforça que a prioridade de assegurar a
educação é um direto humano que visa
assegurar o desenvolvimento pleno, social
e de cidadania, mas que esse direito não
pode ser tratado como mercadoria, serviço
e nem como política compensatória.
Neste sentido, destaca-se a
necessidade de uma educação do campo
que atenda os preceitos assegurados na
LDB, considerando um olhar sensível para
as populações brasileiras que residem no
campo, priorizando a heterogeneidade,
diversidade social, cultural e ambiental.
Sob a perspectiva de Arroyo (1999), é uma
educação próxima do sujeito do campo,
com as características regionais e,
sobretudo, pensada no princípio de seus
direitos em educação, ciência, tecnologia e
cultura com características asseguradas nas
legislações brasileiras para a Educação do
Campo.
Na Região Amazônica, a presença de
populações heterogêneas ganha destaque,
principalmente as indígenas e tradicionais
ribeirinhas, o que reforça, segundo Hage
(2005), a necessidade de pensar em
políticas públicas para a educação que
apresenta “lentes” reais do contexto do
campo no cenário brasileiro e,
especificamente, na Região Amazônica,
sendo essa heterogênea no sentido de
produção, ambiente e questões sociais e
culturais da região.
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Considerando as peculiaridades dos
diferentes contextos das escolas do campo,
o presente trabalho prioriza uma
abordagem na educação do campo em uma
escola ribeirinha no sul do Amazonas,
resultando de um recorte da dissertação
intitulada Saberes Tradicionais, Ensino de
Ciências e Etnobotânica: Possibilidades e
Desafios para educação científica,
defendida no Programa de Pós-graduação
Ensino de Ciências e Humanidades na
Universidade Federal do Amazonas -
Campus Vale do Rio Madeira. Em
particular, neste trabalho, o objetivo é
discutir em que medida a integração dos
saberes tradicionais/populares sobre
plantas contribuem para o
desenvolvimento da educação científica de
estudantes na Escola Municipal São
Miguel. A metodologia adotada esteve
concentrada em estratégias didáticas que
priorizassem articulações de
conhecimentos vividos com conceitos
científicos no ensino de Ciências da
Natureza, evidenciando quão essencial é o
processo de educação científica pautado
em articulações de conhecimentos sociais,
culturais e ambientais na escola.
Educação do Campo, Ensino de Ciências
e suas peculiaridades
No Brasil, a conquista do direito à
educação do campo nos documentos
oficiais foi resultado de movimentos
sociais dos camponeses que lutaram para
que a educação chegasse aos grupos
sociais até então excluídos no contexto
educacional.
A pertinência e necessidade de uma
educação diferenciada para Educação do
Campo foram reafirmadas a partir da
elaboração das Diretrizes Curriculares da
Educação do Campo, marco importante no
cenário brasileiro, pois se trata de um
passo essencial para garantir a educação
como direito universal em todas as
modalidades de ensino, assegurando uma
educação pública de qualidade para a
população rural.
As Diretrizes Operacionais para a
Educação Básica nas Escolas do Campo
dispõem sobre a definição da identidade da
escola do campo, como uma vinculação da
realidade dos estudantes, na memória
coletiva que eles apresentam, na ciência e
tecnologia disponível na sociedade e nos
movimentos sociais, em defesa de projetos
que integrem as soluções para questões
relacionadas à qualidade social da vida
coletiva no país (Brasil, 2002, art. 2°).
Essas diretrizes podem contribuir
com a prática pedagógica do professor na
medida em apresenta possibilidades para
reorganizar sua metodologia educativa e
torná-la próxima da realidade dos sujeitos
do campo (Brasil, 2002). Neste sentido,
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Henriques et al. (2007) realçam a
necessidade de a educação do campo estar
relacionada com a sustentabilidade e a
diversidade, uma vez que existe uma forte
relação entre os seres humanos e os demais
ecossistemas existentes.
Apesar das diretrizes e outras
políticas públicas estabelecerem as
condições para educar o sujeito do campo,
ainda resta um longo caminho a percorrer,
principalmente quando se observa a
realidade vivenciada na educação e nas
escolas do campo. É preciso, inicialmente,
um olhar voltado para cada região, com
políticas públicas que possibilitem a
efetividade de direitos com equidade e
observando as especificidades locais e dos
sujeitos.
Para Molina e Azevedo (2004), a
educação do campo precisa ser vista como
um espaço sensível às relações sociais,
culturais e ambientais, com participação
assídua dos sujeitos que residem nestas
localidades. Trata-se de um espaço
heterogêneo, onde cada região tem suas
particularidades que a diferencia das
outras, onde é necessário valorizar as
diferenças entre os povos, as riquezas,
diversidades e seu papel como produtor de
diferentes culturas.
Embora existam políticas
educacionais e curriculares para a
educação do campo voltadas para
assegurar a educação de qualidade, de
acordo com a peculiaridade de cada região,
existem várias dificuldades e desafios a
serem vencidos quando nos remetemos à
educação do campo, entre elas, pode-se
citar: a insuficiência e precariedade física
de muitas escolas rurais, dificuldades de
acesso, alto índice de distorção idade-série,
falta de professores habilitados,
predominância de classes multisseriadas e
a falta de atualização de propostas
pedagógicas.
Ao refletir sobre o papel da escola no
contexto de comunidades ribeirinhas,
entende-se que é necessário interagir com a
realidade das comunidades e construir uma
educação que “mergulhe” nos aspectos
culturais locais e seus múltiplos aspectos,
principalmente, uma instituição que
possibilite ter suas próprias características,
valorizando a realidade diária (Pinto &
Vitória, 2015).
Com os apontamentos acima,
apresenta-se a necessidade da valorização
do próprio campo e saberes no processo
educacional, assim as disciplinas escolares
precisam, sobretudo, de contextualização e
conexão entre diferentes saberes. Neste
sentido, destaca-se, neste trabalho, o
ensino de Ciências da Natureza, que
frequentemente é vivenciado de forma
descontextualizada e com conhecimentos
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fragmentados e fora da realidade dos
estudantes.
O documento da Unesco (2005)
retrata o ensino de Ciências desenvolvido
nas escolas em nosso país da seguinte
forma:
... na escola brasileira, o Ensino de
Ciências tem sido tradicionalmente
livresco e descontextualizado,
levando o aluno a decorar, sem
compreender os conceitos e a
aplicabilidade do que é estudado.
Assim, as Ciências experimentais são
desenvolvidas sem relação com as
experiências e, como resultado,
poucos alunos se sentem atraídos por
elas. A maioria se aborrece, acha o
ensino difícil e perde o entusiasmo.
Em outras palavras, a escola não está
preparada para promover um
ambiente estimulante de educação
científica e tecnológica (Unesco,
2005, p. 03, grifos nossos).
Evidencia-se, neste documento da
Unesco, que uma das maiores dificuldades
do ensino de ciências, em especial de
Ciências da Natureza na educação do
campo, é a falta de contextualização que
colabora para a formação de crianças e
adolescentes desmotivados com o ensino,
uma vez que não faz sentido aprender de
forma memorística os conceitos científicos
sem a adequada relação com os
acontecimentos diários.
O efetivo ensino de ciências nas
escolas é possível quando se conhece o
significado de determinados conteúdos
presentes no currículo, sendo essencial a
união de conhecimentos da própria
formação profissional, social, cultural e
ambiental de cada região, sendo
necessário, conforme Carvalho et al.,
(2013, p. 3), “ensinar ciências a partir do
ensino sobre ciências”. Isto implica
integrações de conhecimentos científicos
com saberes tradicionais/populares no
ensino de Ciência da Natureza.
As escolas do campo necessitam
vivenciar os modos de vida, de
subsistência das comunidades, a cultura no
ensino de Ciências da Natureza,
propiciando aos estudantes o acesso aos
diferentes conhecimentos escolares em
todos os níveis de ensino. A partir de
práticas de ensino contextualizadas e
comprometidas com o estudante em seu
contexto real, isso pode possibilitar “a
compreensão do uso da ciência da vida,
sua relação com a tecnologia e vários
fenômenos, desenvolvimento da cultura
científica” (Krasilchik & Marandino, 2007,
p. 30).
Isso também implica a efetiva
possibilidade de construir conhecimentos
científicos na perspectiva apontada por
Chassot (2002, p. 91) ao afirmar que “a
ciência seja uma linguagem; assim, ser
alfabetizado cientificamente é saber ler a
linguagem em que está escrita a natureza”,
que permitirá aos homens lerem o mundo
natural e social. Assim, a alfabetização
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científica é considerada uma aliada para
potencializar alternativas viáveis para
tornar a educação mais comprometida.
O ensino de Ciências da Natureza no
contexto ribeirinho pode contribuir para
alfabetizar os estudantes cientificamente, a
partir de um ensino que integre diferentes
conhecimentos, saberes e práticas,
sobretudo, que não siga padrões e modelos
das cidades. As escolas do campo precisam
permitir que os estudantes façam ciência
em consonância com os acontecimentos de
suas vidas, e não apenas com a utilização
de conceitos científicos fora do contexto
real, além de possibilitar a investigação de
fenômenos e sua reflexão.
De acordo com Enisweler, Kliemann
e Strieder, (2015), é necessário consolidar
a educação do campo com a prática no
ensino de Ciências da Natureza, e uma das
formas de fazer isso é adequar as
metodologias no processo de ensino e
aprendizagem nas escolas do campo. Para
Kovalski e Obara (2010), o ensino de
Ciências da Natureza em escolas do campo
pode contribuir no resgate dos
conhecimentos tradicionais, mas, para que
essa realidade seja alcançada, é necessária
a utilização de estratégias e metodologias
para interligar os saberes tradicionais ao
conhecimento científico dos alunos das
comunidades ribeirinhas.
Neste pressuposto, compreende-se
que as escolas do campo são espaços ricos
e privilegiados para a preservação e resgate
de saberes tradicionais/populares que
proporcionam uma educação científica de
qualidade para os cidadãos que fazem parte
desse contexto. Além disso, é necessário
pensar em escolas com qualidade social,
com políticas públicas que, de fato,
atendam os sujeitos do campo,
ressignificação no currículo, valorização da
multiculturalidade e, sobretudo, olhares
que ultrapassem as barreiras do
isolamento.
Contexto da pesquisa: área de estudo e
procedimento metodológico
Esta pesquisa de campo assumiu uma
abordagem qualitativa e descritiva,
destinada a discutir em que medida a
integração dos saberes
tradicionais/populares sobre plantas
contribuem para o desenvolvimento dos
estudantes. Exigindo a participação efetiva
da pesquisadora na comunidade ribeirinha
e escolar para compreensão das múltiplas
relações que se estabeleciam no
desenvolvimento do ensino de Ciências da
Natureza.
Os instrumentos desenvolvidos para
a coleta de dados foram atividades
participativas, como: perguntas, aulas
práticas e desenhos. Para análise dos
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dados, optou-se pela análise temática
(Minayo, 2001), onde a noção de temas
que foram emergindo no decorrer da
pesquisa foram articulados com o objetivo
e referencial teórico.
A área de estudo dessa pesquisa
compreende a Escola Municipal São
Miguel, fundada pelo Decreto 031/96 de
25 de outubro de 1996, localizada em uma
comunidade tradicional ribeirinha a 08 km
da área urbana do município de Humaitá-
AM (Figura I).
Figura I Localização da área de estudo.
Fonte: Universal Transverse Mercator.
Para preservar o anonimato dos
estudantes da escola, optou-se por
identificá-los com o nome das plantas
medicinais citados por eles durante as
atividades. Assim, o público-alvo da
pesquisa foram 15 (quinze) estudantes de
7º, e anos do Ensino Fundamental,
com idade distribuída entre 13 (treze) a 17
(dezessete) anos, com a devida autorização
dos pais.
Esta pesquisa foi desenvolvida no
âmbito das atividades do mestrado
acadêmico em Ensino de Ciências e
Humanidades na Universidade Federal do
Amazonas (UFAM) - Campus Vale do Rio
Madeira e aprovada pelo Comitê de Ética
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em Pesquisa com Seres Humanos (CEP) da
UFAM, sob CAAE
79982217.2.0000.5020.
Conhecendo saberes sobre plantas no
ensino de Ciências da Natureza de
estudantes ribeirinhos
No processo de investigação dos
sujeitos que fizeram parte deste estudo,
verificou-se que as aulas de Ciências da
Natureza estavam centradas apenas na
leitura do livro didático, com ilustrações
dos vegetais em ecossistemas diferentes,
sem contextualização com a Região
Amazônica.
Consideramos que o livro é um
veículo de comunicação importante, mas
não deve ser o único recurso do professor,
sendo essencial procurar novas propostas
para ensinar, que o docente possui
autonomia e formação para buscar e
enriquecer os conteúdos de ensino. Para
Moura, Silva e Ales (2014), as ilustrações
biológicas presentes nos livros didáticos
são verdadeiras aliadas no processo de
ensino e aprendizagem dos estudantes,
porém, o que se observa em muitos livros
são ilustrações fora do contexto dos alunos,
como pinheiros ou araucárias e outras
plantas que não representam a vida dos
estudantes no Amazonas.
Uma outra questão importante para
ser apresentada neste primeiro momento,
diz respeito à formação da professora que
ministrava a disciplina de Ciências da
Natureza na escola, que era formada em
Educação Física e exercia à docência nesta
disciplina.
A metodologia utilizada na disciplina
de Ciências da Natureza e a formação da
professora são desafios que fazem parte da
realidade de muitas escolas do campo.
Cabe destacar que professores que
trabalham deslocados de sua área de
formação acarretam dificuldades no
processo de ensino e aprendizagem, pois
não apresentam competências teóricas,
metodológicas e práticas na área que estão
atuando. Neste contexto, Freire (1996)
chama atenção para a necessidade de
competência dos profissionais. Assim,
professores precisam levar a sério sua
formação e se esforçar para atender às
demandas e coordenar as atividades de sua
classe.
Os professores são sujeitos que
enfrentam dificuldades no processo de
ensino, muitas vezes limitam-se a suas
atribuições. A docência em áreas diferentes
da sua formação desqualifica o seu papel,
uma vez que o docente não tem domínio da
área em que está atuando.
Consequentemente, na maioria das vezes,
acaba tornando a aprendizagem meramente
livresca e descontextualizada.
Umas das propostas para ensinar,
apresentada como viés nesse trabalho, é
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por meio de ligações de saberes, onde a
integração curricular ganha destaque em
todas as etapas de ensino. Entendemos que
o livro, como recurso didático, precisa ser
mais aberto a inquietações da própria vida
dos estudantes, onde a cultura e o lado
social sejam destacados, aspectos que nos
levam a concordar com o pensamento de
Morin (2000) quando este afirma que
existe uma relação triádica entre os
indivíduos/sociedade/espécie, ou seja, “A
cultura e a sociedade que garante a
realização dos indivíduos, e são as
interações entre indivíduos que permitem a
perpetuação da cultura e a auto-
organização da sociedade” (p. 54).
Para compreender as concepções de
estudantes sobre plantas no ensino de
Ciências da Natureza, iniciou-se com as
seguintes questões: O que são os vegetais?
Qual a importância dos vegetais? Para que
servem os vegetais? Diante desses
questionamentos, os estudantes, no
primeiro momento, ficaram receosos, mas
aos poucos foram surgindo respostas que
contribuíram positivamente com a proposta
de discutir sobre os vegetais de acordo com
os conhecimentos e realidades vividas às
margens do Rio Madeira, evitando assim
uma aula meramente passiva e repetitiva.
Para Luckesi (2008, p. 131), o
“conhecimento escolar só poderá vir a ser
um conhecimento significativo e
existencial na vida dos cidadãos se ele
chegar a ser incorporado pela
compreensão, exercitação e utilização
criativa”.
Os saberes dos estudantes ribeirinhos
da Escola Municipal São Miguel sobre
plantas foram destacados em vários
momentos da pesquisa. Um momento
ímpar da pesquisa foi quando os estudantes
foram citando as plantas medicinais como
cura de doenças. Conforme algumas falas:
em casa usamos as plantas
quando estamos doentes” (Chicória).
“As plantas servem como remédio
pra gente” (Jambu).
“Professora, as plantas servem para
comida também” (Arruda).
“São remédios e servem para muitas
doenças” (Mastruz).
“As plantas são usadas para fazer
chá pra curar doenças” (Limão).
“Minha avó faz chá quando estamos
doentes” (Capim Santo).
“Elas também curam muitas
doenças, curam até golpes e
ferimentos e feridas” (Babosa).
“Minha família faz chá, remédio de
plantas e eles ficam bons das
doenças” (Açaí).
“Acredito que elas curam as
doenças, dor de barriga, sirvam pra
gripe” (Erva cidreira).
Há, nas falas dos estudantes,
elementos que nos remetem aos saberes
provenientes da tradição sobre plantas, em
especial os conhecimentos sobre plantas
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medicinais. Diante da participação dos
estudantes sobre a temática proposta, foi
possível perceber entusiasmo por parte dos
alunos sobre o conteúdo proposto, o que
requereu a necessidade de partir do que os
estudantes conheciam com base em suas
vivências sobre a temática, aspecto
apontado nas Diretrizes Curriculares para o
ensino de Ciências da Natureza, ao reforçar
que a contextualização de conteúdos com
os saberes dos estudantes despertam
significados pessoais, sociais e culturais.
Corroborando com o exposto, Freire
(1994) reforça a necessidade de partir dos
contextos culturais na educação escolar.
Para o autor, isto “impõe à ação
libertadora, que é histórica, sobre um
contexto, também histórico, a exigência de
que esteja em relação de correspondência
não com os ‘temas geradores’, mas com
a percepção que deles estejam tendo os
homens” (p. 54).
A articulação de saberes
tradicionais/populares em escolas do
campo é primordial e necessária, uma vez
que os conhecimentos dos estudantes são
trabalhados e aproximados do
conhecimento científico. Assim, será
possível ter uma educação integrada,
valorizando o conhecimento dos
estudantes.
Neste pressuposto, Morin (2000)
destaca que a necessidade de ensinar na
condição humana é um dos saberes para
educação do futuro. É primordial, no
ensino, que os seres humanos possam
“reconhecer-se a humanidade comum e ao
mesmo tempo reconhecer a diversidade
cultural inerente a tudo que é humano” (p.
47), onde todo conhecimento precisa
contextualizar e valorizar o seu próprio
saber para torna-se pertinente na
humanidade.
Aulas práticas e de campo: construindo
caminhos
Nesse momento, priorizou-se a
utilização de espaços educativos não
escolares, como a parte externa da escola e
quintais próximos, tendo em vista que são
estratégias que podem possibilitar uma
aprendizagem satisfatória para os
estudantes. De acordo com Krasilchik
(2011), os trabalhos fora da escola
permitem coletar dados e informações
sobre apontamentos feitos nas aulas,
permitem também aos alunos entrarem em
contato com as comunidades em que
vivem, além de aumentar a interação entre
professor e aluno.
A educação do campo conta com um
verdadeiro laboratório natural,
principalmente em regiões ricas em
biodiversidade e heterogeneidade cultural,
como as escolas ribeirinhas no Amazonas.
Os estudantes podem explorar os seus
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ambientes, suas peculiaridades e articular
com os conhecimentos científicos
apresentados em sala de aula. Muitas
vezes, as faltas de recurso nas escolas são
apontadas como pressuposto para ausência
de aulas práticas, entretanto, os
ecossistemas naturais podem servir de
apoio para aulas práticas, assim, os
conteúdos teóricos são apresentados de
forma contextualizado nas aulas prática
(Krasilchik, 2011; Silva & Cavassan,
2006).
A primeira atividade prática
realizada foi a coleta de material botânico
ao redor da escola para a realização de
decalque, sendo essa uma aula prática de
campo. Na perspectiva de Silva e Cavassan
(2006), as aulas práticas de campo
possibilitam o desenvolvimento de
habilidades nos estudantes, permitindo
atenção da diversidade existente na
natureza que os cercam, o que contribui
para observações e articulação com a
educação científica.
Para a utilização da técnica de
decalque (Figura II), utilizou-se folhas de
pequeno porte disponíveis no ambiente
externo da escola, com a presença de limbo
e nervuras salientes para aplicar a técnica.
Figura II - Decalque das ilustrações dos estudantes.
Fonte: Melo, 2018.
Como observado nas figuras acima,
destacamos a importância dada aos
estudantes ao realizar essa atividade
prática, atendendo alguns objetivos das
aulas práticas proposto por Hofstein e
Lunetta (1982), uma vez que essas
atividades proporcionam interesse dos
estudantes, envolvendo-os nas
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investigações científicas que possibilitem
compreender conceitos básicos e
desenvolver habilidades dos conteúdos
específicos.
Na perspectiva de Moura e Silva
(2015), a proposta de ensinar os conteúdos
de Ciências por meio de ilustração
científica, em nosso caso, o decalque,
possibilitou os alunos aprenderem com
materiais disponíveis no seu dia a dia e,
sobretudo, a produção de material didático
com ilustrações e sentido próprio, tendo
em vista que esses vegetais têm significado
na vida dos alunos.
Sendo assim, destaca-se que
aproximação dos estudantes com a
realidade do seu cotidiano possibilita
despertar a curiosidade em ampliar seus
conhecimentos, norteando os processos de
ensino e de aprendizagem e fortalecendo a
ideia de que nem sempre precisamos de
recursos e materiais sofisticados para
desenvolver atividades que possibilitem
contribuir com a educação escolar de
crianças e jovens do campo.
Os conteúdos sobre plantas precisam
ser abordados no ensino com frequência
pela estreita ligação com os seres humanos
desde os primórdios da civilização. São
seres vivos que fazem parte do cotidiano
dos estudantes, fazem parte dos
conhecimentos tradicionais/populares e são
abundantes. Para Alves Silva (2016), sendo
uma abordagem que pode ser uma
ferramenta para alcançar um ensino com
foco na contextualização e dinamismo,
onde o estudante tem contato direto com o
objeto de estudo.
De uma forma geral, as aulas práticas
funcionam no ensino de ciências com
caminhos que vão sendo construídos para a
educação científica, pois quando
interligados com conteúdo das disciplinas e
mediada de forma contextualizada e
interdisciplinar possibilitam a formação de
cidadãos críticos e reflexivos.
Estudantes ribeirinhos e o chá medicinal
O transporte escolar é um elemento
que faz parte da vida dos estudantes
ribeirinhos, sendo um dos desafios da
educação do campo para estudantes na
escola campo de pesquisa. Na Escola São
Miguel, os alunos enfrentam diariamente
uma longa jornada para chegar até ela,
além da ausência de transporte em alguns
dias letivos, o que implica na falta de aula
na escola, tendo em vista que a maioria dos
alunos necessita deste meio de transporte.
Ao chegarem à escola, os alunos
foram recepcionados com o “Chá
Medicinal”, onde contamos com alimentos
para interligar a proposta de ensinar a
partir dos saberes vividos. Os estudantes
trouxeram várias plantas medicinais das
suas residências para continuar as
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atividades com a interligação de saberes
científicos e escolares.
A articulação de saberes
tradicionais/populares e escolares são
primordiais e necessários para educação
científica de qualidade, uma vez que a
educação formal muitas vezes exclui os
saberes dos estudantes por considerá-los
insuficientes no processo. Todavia, os
saberes vividos, que são passados entre as
gerações, precisam fazer parte do contexto
escolar, não apenas para contribuir com a
aprendizagem, mas também para valorizar
esse patrimônio imaterial e evitar que
sejam perdidos. Para Gaspar (2002), a
educação escolar e não escolar precisam
ser mutualistas, assim, os conhecimentos
tradicionais/populares e escolares
estimulam o diálogo para uma educação
científica de qualidade.
Prosseguindo a discussão dos dados
da pesquisa, os estudantes fizeram
desenhos que representassem a sua vida
como ribeirinho, como apresentado da
Figura III.
Figura III - Desenho de dois estudantes representando suas vidas.
Fonte: Melo, 2018.
Os desenhos de dois estudantes da
escola representaram a importância dada à
natureza do ambiente em que vivem. A
Figura A representa a Escola São Miguel,
no verão, onde pode-se observar o Rio
Madeira com a aproximação do barco
escolar. Ao observar os detalhes dessa
figura, destaca-se a grama ao redor da
escola e o coqueiro localizado ao lado,
descrevendo os vegetais como
componentes indispensáveis na sua vida
ribeirinha. Na figura B, o aluno apresenta a
A
B
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sua casa e, nessa imagem, verifica-se a rica
diversidade da vegetação, o meio de
transporte desse aluno e familiares, e a
rede de pesca que representa uma das
fontes de vida dos moradores.
Com essas duas imagens,
descrevemos a importância dada pelos
estudantes na representação de suas vidas,
onde a escola é sinônimo de grande
representação e as plantas não são apenas
pano de fundo, cabendo à mesma a
necessidade de quebrar as barreiras do
isolamento e valorizar o conhecimento que
cada aluno dispõe em sua bagagem de
conhecimento tradicional. Na visão de
Morin (2000), um dos saberes para a
educação do futuro envolve a necessidade
de ensinar a identidade terrena, sendo
essencial aprender a estar no planeta,
“aprender a viver, a dividir, a comunicar, a
comungar; é o que se aprende somente nas
e por meio de culturas singulares” (2000,
p. 76).
Ao pensar em atividades para os
estudantes de escolas do campo, é
necessário pensar em estratégias que
dialogam com a realidade dos sujeitos do
campo. Assim, atividades de ilustrações
que representam a vida dos estudantes são
memórias com grande representatividade
do lugar e vida, sendo necessário que
educadores proporcionem articulações de
conhecimentos vividos no ensino.
Considerações finais
O primeiro desafio da pesquisa foi
perceber a ausência da integração dos
conteúdos sobre plantas na disciplina de
Ciências da Natureza na Escola São
Miguel, haja vista que esses conteúdos
relevantes não foram abordados nas séries
estudadas. Não queremos aqui culpabilizar
apenas a Professora que ministrava a
disciplina na escola, mas alertar a rede
municipal de ensino quanto à seriedade
com que deve ser tratada a educação do
campo em comunidades ribeirinhas.
Contatou-se, na pesquisa, que os
estudantes ribeirinhos são detentores de
conhecimentos sobre plantas e que estes,
quando compartilhados nas atividades,
possibilitaram articulação de
conhecimentos e um olhar
multidimensional. Os instrumentos
utilizados na pesquisa foram
indispensáveis para entender o quão
importante é um ensino contextualizado,
onde as disciplinas não estejam em
disjunções entre os conhecimentos, que
estudantes compreendam os conceitos e a
aplicabilidade dos conhecimentos que lhes
são ensinados e vivenciados.
É primordial considerar a
necessidade de a escola mediar esse
conhecimento para evitar perdas futuras,
além de proporcionar aos estudantes
aprendizagem de conteúdos científicos
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baseados na sua vivência e seus saberes de
forma contextualizada. Além disso, a
Região Amazônica é detentora de um
grande acervo medicinal e um complexo
cultural riquíssimo que faz parte da vida
dos ribeirinhos e, por isto, não podem ser
desligados/retirados da escola.
A pesquisa com os estudantes da
escola do campo no ensino de Ciência da
Natureza permitiu dialogar com os saberes
sobre plantas, tendo em vista que existe
uma íntima relação entre os seres humanos
com as espécies vegetais, além de
considerar a biodiversidade, tornando
imprescindível que novas pesquisas sejam
sensíveis à articulação de saberes
tradicionais/populares com a educação
científica.
O mais importante neste processo da
pesquisa foi compreender o relevante
espaço dos saberes tradicionais na
constituição da vida dos estudantes, o que
requer que a escola e professores
trabalhem na perspectiva
multidimensional, com religação dos
saberes como possibilidades para a
educação científica.
A integração precisa estar pautada
em aspectos da cultura dos estudantes, do
cotidiano. Assim, será possível a
construção de uma educação que conduza
a formação cidadã, proporcionando a
aprendizagem do significado da ciência
que os cerca, dos saberes que necessitam e
que estão presentes nas escolas. Para isto, é
necessário que os órgãos competentes e os
profissionais da educação vejam os
estudantes e as escolas do campo como
prioridade, vencendo as barreiras do
isolamento e transformando a educação e o
futuro das crianças e jovens.
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Informações do Artigo / Article Information
Recebido em : 29/04/2020
Aprovado em: 10/10/2020
Publicado em: 30/06/2021
Received on April 29th, 2020
Accepted on October 10th, 2020
Published on June, 30th, 2021
Contribuições no Artigo: As autoras foram as
responsáveis por todas as etapas e resultados da
pesquisa, a saber: elaboração, análise e interpretação dos
dados; escrita e revisão do conteúdo do manuscrito
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Não tem.
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Como citar este artigo / How to cite this article
APA
Melo, P. R. H., Batista, E. R. M., & Camargo, T. T. S.
(2021). Educação do Campo e o Ensino de Ciências:
Experiências em uma escola ribeirinha no Sul do Estado
do Amazonas. Rev. Bras. Educ. Camp., 6, e9760.
http://dx.doi.org/10.20873/uft.rbec.e9760
ABNT
MELO, P. R. H.; BATISTA, E. R. M.; CAMARGO, T. S.
Educação do Campo e o Ensino de Ciências: Experiências
em uma escola ribeirinha no Sul do Estado do Amazonas.
Rev. Bras. Educ. Camp., Tocantinópolis, v. 6, e9760,
2021. http://dx.doi.org/10.20873/uft.rbec.e9760