Entre o político e o cosmopolítico. Aproximações entre os comuns, o bem-viver e a economia solidária como alternativas de desenvolvimento

2023-07-01

As lutas por emancipação social e a resistência ao ideário neoliberal, nas últimas décadas incluíram, tensionam alguns dos fundamentos canônicos do desenvolvimento, tais quais as dicotomias estanques que estruturam o pensamento e ação sobre o tema, como sociedade versus natureza, campo versus cidade, local versus global, produção versus reprodução, crescimento versus igualdade etc. Atores sociais de matiz variada, como comunidades, ONGs, movimentos sociais urbanos e rurais do Norte e Sul Globais tem reivindicado a política dos comuns, a revalorização do trabalho e ação coletiva, a economia solidária, do buen vivir e do ubuntu como alternativas às propostas de desenvolvimento de matiz tipicamente ocidental, associadas ao neoliberalismo e à globalização. Ademais, esse é um movimento que parece transitar entre político e o cósmico, já que seres, que tradicionalmente era ‘contados’ fora do espaço social do político, passam a figurar como parte das comunidades políticas. Nesses termos, luta-se também para que rios, florestas, seres da fauna e da flora, espíritos ancestrais e entidades espirituais, tenham seus direitos considerados e, como ocorreu experiências constitucionais recentes na América do Sul. As universidades têm acompanhado essas lutas através de pesquisas de experiências empíricas em vários espaços, destacando o seu potencial para a inovação institucional e epistemológica. A discussão sobre economia substantiva e economia solidária reforçam que a produção dos meios de vida é um fenômeno construído na interação substantiva entre os grupos humanos e a natureza, por um lado, e através do compartilhamento do trabalho, dos recursos econômicos, as decisões sobre a produção e a distribuição de bens e riquezas como caminho para reduzir as desigualdades sociais da nossa sociedade. Em outra direção, o conceito de buen-vivir, partindo da experiência indígena, conectando-se a ela ao invés de a negar e estigmatizar. Busca-se um desenvolvimento que descoloniza, desmercantiliza e despatriarcaliza as relações sociais, em um movimento no pensar e no agir que reconhece os direitos da natureza, avançando em uma perspectiva cosmopolítica.  Em que medida economia solidária, buen-vivir e comum podem ser a bases conceituais para pensarmos o presente e alternativas de futuro? Este dossiê espera contribuições baseadas em pesquisas empíricas, realizadas a partir de diferentes metodologias, que possam ajudar a construir respostas para os problemas teóricos e políticos que as lutas por emancipação social colocam às sociedades e universidades. Interessa, de modo especial, a descrição de experiências relativas às inovações institucionais construídas nos territórios concretos e simbólicos dos povos e territórios do Sul Global.