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CENAS DE RACISMO NA ATUAÇÃO DE INTÉRPRETES DE LIBRAS-PORTUGUÊS

Autores

DOI:

https://doi.org/10.70860/ufnt.entreletras.e18896

Palavras-chave:

interpretação, Libras, racismo, signo ideológico, alteridade

Resumo

Neste artigo discuto, a partir de um diálogo entre a perspectiva bakhtiniana e autores dos estudos da racialidade, como a raça, como signo ideológico, opera de forma constitutiva no tripé existencial eu-para-mim, eu-para-outro e outro-para-mim de homens negros que são intérpretes de Libras. Para tanto, adoto a metodologia das cenas narrativas proposta por Luz (2011) e analiso duas situações de racismo vivenciadas por intérpretes negros. Nas cenas analisadas, a raça operou como signo ideológico de coisificação do corpo negro e de esvaziamento da identidade profissional levando os intérpretes ao discurso da autodefesa de seus lugares sociais como trabalhadores da interpretação.

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Biografia do Autor

Vinícius Nascimento, Universidade Federal de São Carlos

Doutor e Mestre em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP); Professor Adjunto do Departamento de Psicologia e Secretário Geral de Ações Afirmativas, Diversidade e Equidade da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar); Professor Permanente do Programa de Pós-graduação em Estudos da Tradução da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

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Publicado

2024-12-10

Como Citar

Nascimento, V. (2024). MEU CORPO PODE SER UM TEXTO? CENAS DE RACISMO NA ATUAÇÃO DE INTÉRPRETES DE LIBRAS-PORTUGUÊS. EntreLetras, 15(2), 23–46. https://doi.org/10.70860/ufnt.entreletras.e18896

Edição

Seção

DOSSIÊ: DIVERSIDADES FALADAS E FALANTES NA ARTE E NA VIDA - v. 15, n. 2, 2024