Descampados no livro didático: ausências e seleções de conteúdos e as percepções dos docentes das Escolas do Campo
DOI:
https://doi.org/10.70860/ufnt.rbec.e19262Palavras-chave:
Tradição seletiva, Livros didáticos, Educação do CampoResumo
Este artigo tem por objetivo identificar e examinar como o campo, enquanto espaço geográfico, aparece em livros didáticos dos componentes curriculares de Geografia e História do 3º, 4º e 5º ano do Ensino Fundamental do Programa Nacional do Livro e Material Didático PNDL/2019. Analisamos 6 livros didáticos e a percepção de professores de escolas do campo do Distrito Federal (Brasil). O método de pesquisa utilizado foi a análise de conteúdo (Bardin, 2011). Os resultados apontaram que os livros didáticos analisados estão alinhados com as orientações da Base Nacional Comum Curricular (BNCC); trazem em seu conteúdo a ideia de interdependência entre os espaços do campo e a cidade; mudanças no trabalho campesino provocadas pela tecnologia e pelo processo de mecanização, o que afeta a vivência dos sujeitos desse espaço. Concluímos que os conteúdos dos livros corroboraram a ideia de um pensamento hegemônico na escolha dos conteúdos, acentuando o enfoque do processo de “tecnologização” do campo, desconsiderando assim, em alguns casos, a vivência dos estudantes do campo, o que se configura como aspecto da tradição seletiva (Williams, 1979).
Palavras-chave: tradição seletiva, livros didáticos, educação do campo.
Open spaces in textbooks: absences and selections of content and the perceptions of teachers in rural schools
ABSTRACT. This article aims to identify and examine how the field, as a geographic space, appears in textbooks of the Geography and History curricular components of the 3rd, 4th and 5th year, of elementary school of the National Book and Teaching Material Program PNDL/2019. We analyzed 06 textbooks and the perception of teachers from rural schools in the Federal District (Brazil). The research method used was content analysis (Bardin, 2011). The results showed that the textbooks analyzed are aligned with the guidelines of the National Common Curricular Base (BNCC); bring in their content the idea of interdependence between rural spaces and the city; changes in peasant work caused by technology and the mechanization process, which affects the experience of individuals in this space. We concluded that the contents of the books corroborated the idea of hegemonic thinking in the choice of content, accentuating the focus on the process of “technologization” of the field, thus disregarding, in some cases, the experience of students in the field, which is configured as aspect of selective tradition (Williams, 1979).
Keywords: selective tradition, didactic books, rural education.
Espacios abiertos en los libros de texto: ausencias y selecciones de contenidos y las percepciones de los docentes en escuelas rurales
RESUMEN. Este artículo tiene como objetivo identificar y examinar cómo el campo, como espacio geográfico, aparece en los libros de texto de los componentes curriculares de Geografía e Historia de 3º, 4º y 5º año de la enseñanza básica del Programa Nacional de Libro y Material Didáctico PNDL/2019. Analizamos 06 libros de texto y la percepción de profesores de escuelas rurales del Distrito Federal (Brasil). El método de investigación utilizado fue el análisis de contenido (Bardin, 2011). Los resultados mostraron que los libros de texto analizados están alineados con los lineamientos de la Base Curricular Común Nacional (BNCC); traer en su contenido la idea de interdependencia entre los espacios rurales y la ciudad; cambios en el trabajo campesino provocados por la tecnología y el proceso de mecanización, que incide en la experiencia de los individuos en este espacio. Concluimos que los contenidos de los libros corroboraron la idea de un pensamiento hegemónico en la elección de los contenidos, acentuando el foco en el proceso de “tecnificación” del campo, desconociendo así, en algunos casos, la experiencia de los estudiantes en el campo, que se configura como aspecto de la tradición selectiva (Williams, 1979).
Palabras clave: tradición selectiva, libros de texto, educación rural.
Downloads
Referências
Arroyo, M. G. (2020). Memória de Educação do Campo. In C. A. dos Santos, E. J. Kolling, E. N. Rocha, M. C. Molina, & R. S. Caldart (Orgs.), Dossiê Educação do Campo: documentos 1998-2018 (pp. 11-29). EdUnB.
Arroyo, M. G., Caldart, R. S., & Molina, M. C. (2011). Por uma Educação do Campo (5a ed.).
Bardin, L. (2011). Análise de Conteúdo. Editora 70.
Decreto nº 9.099, de 18 de julho de 2017. (2017, 18 de julho). Dispõe sobre o Programa Nacional do Livro e do Material Didático. Recuperado em 20 de março de 2023 de https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/2017/decreto-9099-18-julho-2017-785224-publicacaooriginal-153392-pe.html.
Bierhalz, C. D. K., Fonseca, E. M. da, & Oliva, I. de V. (2019). Concepções dos estudantes de uma escola do campo sobre tecnologia. Revista Brasileira de Educação do Campo, 4, 1-23. https://doi.org/10.20873/uft.rbec.v4e3297. DOI: https://doi.org/10.20873/uft.rbec.v4e3297
Caldart, R. S. (2011). A escola do campo em movimento. In M. G. Arroyo, R. S. Caldart, & M. C. Molina (Orgs.). Por uma educação do campo (5a ed., cap. 4, pp. 87-131). Vozes.
Castro, S. R. F. (2017). A abordagem do plágio nos livros didáticos do Ensino Fundamental e na visão de autores [Dissertação de Mestrado em Educação da Universidade de Brasília]. Repositório institucional da UnB.
Charlier, A. M.; Simielli, M. E. (2017a). ÁPIS História 3º ano: ensino fundamental, anos iniciais (2a ed.). Ática.
Charlier, A. M.; Simielli, M. E. (2017b). ÁPIS História 4º ano: ensino fundamental, anos iniciais (2a ed.). Ática.
Charlier, A. M.; Simielli, M. E. (2017c). ÁPIS História 5º ano: ensino fundamental, anos iniciais (2a ed.). Ática. Acrescentei a referência do apis história do 5º ano
Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, & Coordenação de Apoio às Redes de Ensino (2018, setembro). Informe nº 35/2018. FNDE. Recuperado em 20 de março de 2023 de https://www.fnde.gov.br/phocadownload/programas/Livro_Didatico_PNLD/Apoio_a_Gestao/2018/35.2018%20-%20Escolha%20das%20Escolas%20Rurais.pdf.
Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (2024). Programas do livro. Ministério da Educação. Recuperado em 20 de março de 2024 de https://www.gov.br/fnde/pt-br/acesso-a-informacao/acoes-e-programas/programas/programas-do-livro.
Melo, R. A.; Macedo, A. P. de. (2020). Usos do livro didático de Ciências em uma escola do campo. Revista Brasileira de Educação do Campo, 5, 1-24. http://dx.doi.org/10.20873/uft.rbec.e6994. DOI: https://doi.org/10.20873/uft.rbec.e6994
Ministério da Educação (2018). Base Nacional Comum Curricular. EdMEC.
Moreira, V. J. (2014, fev.). A produção agropecuária: trabalho e resistência. Perspectiva Geográfica, 7(8), 1-17. Recuperado em 20 de março de 2023 de https://e-revista.unioeste.br/index.php/pgeografica/article/view/9347/6962.
Moura, N. C. (23 de maio de 2019). Da educação do campo ao PNLD/CAMPO. Fronteiras: Revista Catarinense de História, (33), 87-106. https://doi.org/10.36661/2238-9717.2019n33.10701. DOI: https://doi.org/10.36661/2238-9717.2019n33.10701
Palmeira, M. (1989). Modernização, Estado e questão agrária. Estudos Avançados, 3(7), 87-108. https://doi.org/10.1590/S0103-40141989000300006. DOI: https://doi.org/10.1590/S0103-40141989000300006
PNLD (2018). Portal Mec. Recuperado em 20 de março de 2023 de http://portal.mec.gov.br/busca-geral/318-programas-e-acoes-1921564125/pnld-439702797/12391-pnld.
Rodrigues, M. U., Miskulin, R. G. S., & Silva, L. D. da. (2020, 4 de março). Conhecimentos necessários à docência no âmbito do PIBID/Matemática no Brasil. Jornal Internacional de Estudos em Educação Matemática, 12(3), 323-333. http://dx.doi.org/10.17921/2176-5634.2019v12n3p323-333. DOI: https://doi.org/10.17921/2176-5634.2019v12n3p323-333
Rosa, M. C. (2012). Ocupações de Terra. In R. S. Caldart, I. B. Pereira, P. A., & G. Frigotto (Orgs.). Dicionário da Educação do Campo (pp. 511-514). Expressão Popular.
Santos, C. A. dos, Kolling, E. J., Rocha, E. N., Molina, M. C., & Caldart, R. S. (Orgs.). (2020). Dossiê Educação do Campo: documentos 1998-2018. UnB.
Santos, S. F. dos, & Leao, M. F. (2017). Uso de objetos educacionais digitais para ensinar sistemas do corpo humano em uma escola do campo. Revista Brasileira de Educação do Campo, 2(3), 861-880. http://dx.doi.org/10.20873/uft.2525-4863.2017v2n3p861. DOI: https://doi.org/10.20873/uft.2525-4863.2017v2n3p861
Sá, L. M., Molina, M. C., & Barbosa A. I. C. (2011, abril). A produção do conhecimento na formação dos educadores do campo. Em Aberto, 24(85), 81-95. Recuperado em 20 março de 2023 de https://www.scielo.br/j/rbedu/a/kLbkvLHNmMNqTwYR6TW9Rym/.
Silva, F. V. da (2023). Veredas, meandros e convergências para o fazer pedagógico dos docentes na escola do campo: do livro didático aos recursos educacionais digitais [Tese de doutorado, Universidade de Brasília]. Repositório da Universidade de Brasília.
Silva Júnior, A. F. da, & Borges Netto, M. (2011, novembro). Por uma Educação do Campo: percursos históricos e possibilidades. Entrelaçando - Revista Eletrônica de Culturas e Educação, 2(3), 45-60.
Silva, L. M. da, & Chelotti, M. C. (2018). Ideologia hegemônica em questão: o rural brasileiro representado em livros didáticos do programa nacional do livro didático (PNLD-campo). In C. David, C., & J. W. Cancelier (Eds). Reflexões e práticas na formação de educadores (pp. 321-342). EdUERJ. DOI: https://doi.org/10.7476/9788575114759.0022
Simielli, M. E. (2017a). Ápis Geografia, 3º ano: ensino fundamental anos iniciais (2a ed.). Ática.
Simielli, M. E. (2017b). Ápis Geografia, 4º ano: ensino fundamental anos iniciais (2a ed.). Ática.
Simielli, M. E. (2017c). APIS Geografia 5º ano: ensino fundamental anos iniciais (2a ed.). Ática.
Williams, R. (1979). Marxismo e Literatura. Zahar.
Williams, R. (2005, mar./maio). Base e superestrutura na teoria cultural marxista. Revista USP, 1(65), 210-224. https://doi.org/10.11606/issn.2316-9036.v0i66p209-224. DOI: https://doi.org/10.11606/issn.2316-9036.v0i66p209-224
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 Francisco Valmir da Silva, Carlos Lopes

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Proposta de Aviso de Direito Autoral Creative Commons
1. Proposta de Política para Periódicos de Acesso Livre
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
a. Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
b. Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
c. Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (Veja O Efeito do Acesso Livre).
Proposal for Copyright Notice Creative Commons
1. Policy Proposal to Open Access Journals
Authors who publish with this journal agree to the following terms:
A. Authors retain copyright and grant the journal right of first publication with the work simultaneously licensed under the Creative Commons Attribution License that allows sharing the work with recognition of its initial publication in this journal.
B. Authors are able to take on additional contracts separately, non-exclusive distribution of the version of the paper published in this journal (ex .: publish in institutional repository or as a book), with an acknowledgment of its initial publication in this journal.
C. Authors are permitted and encouraged to post their work online (eg .: in institutional repositories or on their website) at any point before or during the editorial process, as it can lead to productive exchanges, as well as increase the impact and the citation of published work (See the Effect of Open Access).