Formação de professores: reavaliar família, normal e anormal é preciso?

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DOI:

https://doi.org/10.70860/ufnt.rbec.e19952

Resumo

Este texto tem o objetivo de refletir como os discursos sobre normalidade/anormalidade impactam a formação de professores e contribuem para a manutenção de desigualdades, especialmente no contexto campesino. No meio rural, observamos que a anormalidade costuma ser associada àquilo que escapa ao padrão urbano, o que contribui para a reprodução de subalternidades e desigualdades. Reconhecemos que, embora a estrutura familiar tenha passado por transformações históricas e culturais, no campo ainda prevalecem traços conservadores que influenciam a percepção do que é considerado normal. Ancoramo-nos nas contribuições de Michel Foucault para compreender como o capitalismo molda padrões de normalidade vinculados à família e à saúde, influenciando comportamentos e percepções sociais. Tais padrões produzem identidades comuns, mas também reforçam a imagem do sujeito campesino como atrasado. Metodologicamente, apoiamo-nos em memórias e histórias familiares, utilizando a análise do discurso e a escrita sensível, conforme proposto por Rosa Maria Bueno Fischer. Defendemos que a formação inicial e continuada de professores constitui um espaço fundamental para desnaturalizar padrões excludentes e promover práticas inclusivas. O desafio que se impõe é romper com as desigualdades historicamente construídas e transformar a escola em um espaço acolhedor e plural, que reconheça as múltiplas identidades e realidades dos sujeitos envolvidos.

Palavras-chave: educação, normal, anormal, formação de professores.

  

Teacher Education: Is it necessary to reassess family, normal and abnormal?

ABSTRACT. This paper aims to understand how discourses on normality and abnormality affect teacher education and contribute to the maintenance of inequalities, especially in rural contexts. In rural areas, we observe that abnormality is often associated with what deviates from the urban standard, reinforcing subalternities and social disparities. Although family structures have undergone historical and cultural transformations, we recognize that conservative traits still prevail in the countryside, influencing perceptions of what is considered normal. We draw on Michel Foucault’s contributions to analyze how capitalism shapes standards of normality linked to family and health, thereby influencing social behaviors and perceptions. These standards produce shared identities, but also reinforce the image of the rural subject as backward. Methodologically, we rely on family memories and narratives, using discourse analysis and sensitive writing, as proposed by Rosa Maria Bueno Fischer. We argue that both initial and continuing teacher education constitute a fundamental space to denaturalize exclusionary patterns and promote inclusive practices. The main challenge lies in breaking with historically constructed inequalities and transforming the school into a welcoming and plural space, one that acknowledges the multiple identities and realities of the individuals involved.

Keywords: education, normal, abnormal, teacher education.

 

Formación de profesores: ¿es necesario reevaluar la familia, lo normal y lo anormal?

RESUMEN. Este texto tiene como objetivo comprender cómo los discursos sobre la normalidad y la anormalidad inciden en la formación docente y contribuyen al mantenimiento de las desigualdades, especialmente en el contexto campesino. En las zonas rurales, observamos que la anormalidad suele asociarse con aquello que se desvía del patrón urbano, lo que refuerza subalternidades y desigualdades sociales. Reconocemos que, aunque la estructura familiar ha pasado por transformaciones históricas y culturales, en el campo aún predominan rasgos conservadores que influyen en la percepción de lo que se considera normal. Nos apoyamos en los aportes de Michel Foucault para analizar cómo el capitalismo configura los estándares de normalidad vinculados a la familia y a la salud, influyendo en los comportamientos y percepciones sociales. Estos patrones producen identidades compartidas, pero también refuerzan la imagen del sujeto campesino como atrasado. Metodológicamente, nos basamos en memorias e historias familiares, utilizando el análisis del discurso y la escritura sensible, según la propuesta de Rosa Maria Bueno Fischer. Sostenemos que la formación docente inicial y continua constituye un espacio fundamental para desnaturalizar patrones excluyentes y promover prácticas inclusivas. El desafío consiste en romper con las desigualdades históricamente construidas y transformar la escuela en un espacio acogedor y plural, que reconozca las múltiples identidades y realidades de los sujetos involucrados.

Palabras clave: educación, normal, anormal, formación de docentes.

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Biografia do Autor

Welson Barbosa Santos, Universidade Federal de Uberlândia - UFU

Doutor em educação pela UFSCar - 2015, mestre em Educação pela UFU - 2010, é licenciado em Ciências Exatas e Naturais pela Universidade de Uberaba - 1990 e em Pedagogia pela Faculdade Integrada de Araguatins - 2017. Atualmente é Professor Adjunto III da Universidade Federal de Uberlândia, UFU, no Instituto de Ciências Exatas e Naturais do Pontal e Professor Permanente do Programa de Pós-graduação em Ensino de ciências e Matemática PPGECM - UFU. Coordena o grupo de pesquisa MASCULINIDADES: Cultura, educação e Subjetividades GPEMCES e o Laboratório de Ensino de Ciências e Biologia - LAEN e vice-líder do Grupo de Pesquisa em Educação em Ciências da Natureza (GPECIN), na linha de modelos e práticas voltadas à Educação Básica, com ênfase no desenvolvimento e uso de materiais didáticos inovadores, no ensino de Ciências. Como pesquisador, tendo Michel Foucault como referências, discute vulnerabilidade e risco de suicídio entre homens de 13 a 28 anos, desde 2005, a partir de perspectiva inclusiva, interdisciplinar, para o fortalecimento das identidades e subjetividades de professores, alunos e suas práticas.

Gabriela Aragão, Universidade Federal de Uberlândia - UFU

Estudante da Universidade Federal de Uberlândia (UFU).

Maria Júlia Andrade Barreto e Silva, Universidade Federal de Uberlândia - UFU

Estudante da Universidade Federal de Uberlândia.

Paulo Vitor Teodoro, Universidade Federal de Uberlândia - UFU

Licenciado em Química pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e em Pedagogia pelo Centro Universitário Faveni. Mestre em Ensino de Ciências e Matemática pela UFU e Doutor em Educação em Ciências pela Universidade de Brasília (UnB). Atuou como professor de Ciências e Química em escolas públicas e particulares da Educação Básica, com experiência no Ensino Fundamental, no Ensino Médio, em cursos Técnicos e na Educação de Jovens e Adultos. Foi professor efetivo no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Goiano (IF Goiano), onde exerceu os cargos de Coordenador de Iniciação Científica e Tecnológica, Gerente de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação, Coordenador do Programa de Pós-Graduação (Lato Sensu) em Ensino de Ciências e Matemática e Coordenador Adjunto do Programa Novos Caminhos/MEC. Atualmente, é professor no Instituto de Ciências Exatas e Naturais do Pontal (ICENP) da UFU, onde integra o quadro de docentes permanentes do Programa de Mestrado em Ensino de Ciências e Matemática e atua como orientador nos Estágios Supervisionados. Foi também coordenador do núcleo interdisciplinar do Programa Residência Pedagógica na UFU. Em experiências anteriores, foi proponente e coordenador de projetos de extensão, como: Criança na Música, financiado pelo Programa Municipal de Incentivo à Cultura (PMIC/Uberlândia); A Ciência dos Modelos de Foguetes; Trabalho de Educação, Ciência e Arte (TeciArte); Ações para Integração Social de Pessoas em Situação de Rua; e o uso de modelos de simulação baseados em Inteligência Artificial (IA). Na UFU, coordena projetos de pesquisa e extensão voltados para o uso de modelos e modelagem no ensino de Ciências, desenvolvendo intervenções didático-pedagógicas em escolas da cidade de Ituiutaba/MG e em cidades vizinhas, em colaboração com estudantes e professores da Educação Básica, dos cursos de Licenciatura em Química, Física e Biologia do ICENP/UFU e do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática, nas perspectivas interdisciplinar e inclusiva. É lider do Grupo de Pesquisa em Educação em Ciências da Natureza (GPECIN), registrado no Diretório de Pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Autor de 52 artigos científicos, 7 livros, 29 capítulos de livro e 40 trabalhos completos publicados em Congressos científicos Nacionais e Internacionais, entre outras produções. Participou, publicou e apresentou, presencialmente, resultados de pesquisa científicas em Conferências renomadas, internacionalmente, como a International Conference on Artificial Intelligence in Education (AIED), a Conference Of The European Science Education Research Association (ESERA), o Congreso Iberoamericano de Investigación Cualitativa, International Symposium on Qualitative Research, o Congreso Internacional sobre Investigación en Didáctica de las Ciencias, entre outros. Tem experiência na área de Educação, discutindo principalmente os seguintes temas: práticas pedagógicas na educação básica, tecnologias educacionais no contexto da IA, Didática, estágio supervisionado, ensino de ciências e educação ambiental.

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Publicado

2025-12-24

Como Citar

Santos, W. B., Aragão, G., Andrade Barreto e Silva, M. J., & Teodoro, P. V. (2025). Formação de professores: reavaliar família, normal e anormal é preciso?. Revista Brasileira De Educação Do Campo, 10, e19952. https://doi.org/10.70860/ufnt.rbec.e19952

Edição

Seção

Dossiê: Caminhos e lutas na formação de professores do Campo no Brasil