Evasão no Curso de Licenciatura em Educação do Campo: as trajetórias interrompidas e os desafios da permanência

Autores

  • Valéria da Cruz Viana Labrea Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS
  • Pedro Eduardo Kiekow Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS
  • Camila Celistre Frota Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS https://orcid.org/0009-0000-9611-0850

Resumo

Este artigo apresenta os principais resultados da pesquisa qualitativa, realizada por meio metodologia etnocartográfica, aliada a entrevistas e questionário on-line, dirigidos aos educandos e educandas do curso de Licenciatura em Educação do Campo-Ciências da Natureza, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Trazemos dados resultantes das entrevistas e questionários enviados aos estudantes que saíram do curso, em busca de suas motivações e aos estudantes formados até 2022, a fim de mapearmos as condições de permanência no curso. O método etnocartográfico nos permitiu retomar o perfil discente, apresentar as principais motivações para a saída dos estudantes do curso, no período de 2015 a 2020, e relacionar a evasão à política de permanência da Universidade. Também mapeamos o perfil do egresso. Como resultado, destacamos que há um grande contingente de estudantes que evadiram do Curso porque não puderam desfrutar destes benefícios desta política, por não se encaixarem nas políticas sociais e de cotas e tampouco puderam dispensar o trabalho e suas contingências. O perfil do egresso mostrou que a grande maioria dos estudantes que entraram com cotas sociais ou raciais conseguiram se formar e ingressar no mercado de trabalho, embora, em grande parte, não estejam lecionando em escolas do campo.

Palavras-chave: política nacional de educação do campo, motivos da evasão, perfil do egresso, política de assistência estudantil, ensino superior.

 

Dropouts in the Bachelor's Degree in Rural Education: interrupted trajectories and the challenges of permanence

ABSTRACT. This article presents the main results of qualitative research conducted using an ethnocartographic methodology, combined with interviews and an online questionnaire directed at students of the Bachelor's Degree in Rural Education – Natural Sciences at the Federal University of Rio Grande do Sul. We provide data from interviews and questionnaires sent to students who left the course, seeking to understand their motivations, and to students who graduated by 2022, in order to map the conditions that supported their persistence in the program. The ethnocartographic method allowed us to revisit the student profile, present the main reasons for students leaving the course between 2015 and 2020, and link dropout rates to the university’s retention policies. We also mapped the profile of graduates. As a result, we highlight that a large number of students dropped out of the course because they could not benefit from these policies, either because they did not qualify for social or quota-based programs, or because they could not forgo work and its demands. The graduate profile showed that most students who entered through social or racial quotas were able to graduate and enter the job market, although many are not teaching in rural schools.

Keywords: national policy on rural education, reasons for dropout, graduate profile, student assistance policy, higher education.

 

Evasión en la Licenciatura en Educación Rural: las trayectorias interrumpidas y los desafíos de la permanencia

RESUMEN. Este artículo presenta los principales resultados de la investigación cualitativa, realizada mediante una metodología etnocartográfica, junto con entrevistas y un cuestionario en línea dirigido a los estudiantes del curso de Licenciatura en Educación del Campo – Ciencias de la Naturaleza, de la Universidad Federal de Rio Grande do Sul. Presentamos datos resultantes de las entrevistas y cuestionarios enviados a los estudiantes que abandonaron el curso, en busca de sus motivaciones, y a los estudiantes que se graduaron hasta 2022, con el fin de mapear las condiciones de permanencia en el curso. El método etnocartográfico nos permitió retomar el perfil estudiantil, presentar las principales motivaciones para la salida de los estudiantes del curso entre 2015 y 2020, y relacionar la deserción con la política de permanencia de la Universidad. También mapeamos el perfil de los egresados. Como resultado, destacamos que hay un gran contingente de estudiantes que abandonaron el curso porque no pudieron disfrutar de los beneficios de esta política, ya que no encajaban en las políticas sociales y de cuotas, y tampoco pudieron dejar el trabajo y sus contingencias. El perfil de los egresados mostró que la gran mayoría de los estudiantes que ingresaron con cuotas sociales o raciales lograron graduarse e ingresar al mercado laboral, aunque, en su mayoría, no están enseñando en escuelas del campo.

Palabras clave: política nacional de educación del campo, motivos de deserción, perfil del egresado, política de asistencia estudiantil, educación superior.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Valéria da Cruz Viana Labrea, Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS

Professora Adjunta na Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) na área de Política e Gestão da Educação no Departamento de Estudos Especializados. Doutora em Educação pela Universidade de Brasília (Educação do Campo e Ecologia Humana - 2014), mestre em Educação e Gestão Ambiental pelo Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília (2009). Especializações: Educação Transformadora: Pedagogias, Fundamentos e Práticas pela PUCRS (2021); Epistemologías del Sur pela Clacso-Argentina e Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra Portugal (2020); Gestão Cultural pela Fundação Itaú Cultural e Universidade de Girona Espanha (2012), Educação Ambiental pelo SENAC (2007).Graduada em Letras licenciatura plena em Língua Portuguesa pela UFRGS (2000). Atualmente no Pós-Doc no PGDR/UFRGS para o desenvolvimento do projeto Etnocartografia das aprendizagens com os povos e comunidades tradicionais de matriz africana Os projetos de educação e de desenvolvimento sustentável agrário e sua interlocução com as políticas públicas, no período de 01/03/2022 a 28/02/2025, sob a supervisão da profa.Rumi Kubo. Integrante do Núcleo de Estudos de Política e Gestão da Educação e do Cecampe-Sul.Pesquiso os seguintes temas: cultura, políticas e gestão da educação, educação do campo, educação para as relações étnico-raciais, educação kilombola.

Pedro Eduardo Kiekow, Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS

Professor de escola do campo da rede estadual de ensino, graduado em Licenciatura em Educação do Campo - Ciências da Natureza pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, cursando PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO TRANSFORMADORA: PEDAGOGIA, FUNDAMENTOS E PRÁTICAS na PUCRS.

Camila Celistre Frota, Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS

Professora, graduada em Licenciatura em Educação do Campo - Ciˆências da Natureza.

Referências

Brasil. (2010). Decreto nº 7.352, de 4 de novembro de 2010. Dispõe sobre a política de educação do campo e o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária – PRONERA. Brasília: Presidência da República/Congresso Nacional. Recuperado de: http://portal.mec.gov.br/docman/marco-2012-pdf/10199-8-decreto-7352-de4-de-novembro-de-2010/file. Acesso em: 07 jun. 2023.

Brasil. (2012). Educação do Campo - Marcos Normativos. Brasília: SECADI/MEC. Recuperado de: http://pronacampo.mec.gov.br/images/pdf/bib_educ_campo.pdf. Acesso em: 06 jun. 2023.

Brasil. (2012). Edital 02/2012 da Secretaria de Educação Superior (SESU), Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (SETEC) e da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (SECADI) do Ministério da Educação (MEC). Brasília: MEC/SESU/SETEC/SECADI. Recuperado de: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=11569-minutaeditais-selecao-ifesifets-03092012&Itemid=30192. Acesso em: 07 jun. 2023.

Brasil. (2013). Programa Nacional de Educação do Campo – Pronacampo - documento orientador. Brasília: MEC/SECADI. Recuperado de:: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=13214-documento-orientador-do-pronacampo-pdf&Itemid=30192. Acesso em: 07 jun. 2023.

Brasil. (2022). Censo da Educação Superior 2021. Brasília: INEP/MEC. Recuperado de: https://download.inep.gov.br/educacao_superior/censo_superior/documentos/2021/apresentacao_censo_da_educacao_superior_2021.pdf. Acesso em: 07 jun. 2023.

Caldart, R. S. (2009). Educação do Campo: notas para uma análise de percurso. Trab. Educ. Saúde, 7(1), 35-64. Recuperado de: https://www.scielo.br/j/tes/a/z6LjzpG6H8ghXxbGtMsYG3f/abstract/?lang=pt. Acesso em: 05 abr. 2023.

CEED/RS. Resolução nº 342, de 11 de abril de 2018, que consolida as Diretrizes Curriculares da Educação Básica nas Escolas do Campo e estabelece condições para a sua oferta no Sistema Estadual de Ensino. Porto Alegre: Secretaria Estadual de Educação, 2018. Recuperado de: https://www.ceed.rs.gov.br/resolucao-n-0342-2018. Acesso em: 04 mar. 2023.

Labrea, V. V., Dornelles, D. F., & Kiekow, P. E. (2018). Cartografias da EduCampo: alternância, trabalho e estratégias para conter a evasão. RTPS – Rev. Trabalho, Política e Sociedade, 3(04), 151-170. Recuperado de: http://costalima.ufrrj.br/index.php/RTPS/article/view/291. Acesso em: 05 mar. 2023.

Labrea, V. V., Kiekow, P. E., & Dornelles, D. F. (2019). Cartografia subjetiva em território feminino kilombola: em busca da utopia do bem viver. Cadernos do Lepaarq, 16(31), 107-120. Recuperado de: https://periodicos.ufpel.edu.br/index.php/lepaarq/article/view/14836. Acesso em: 12 mar. 2023.

Molina, M. C. (2015). Expansão das licenciaturas em Educação do Campo: desafios e potencialidades. Educar em Revista, 55, 145-166. Recuperado de: https://www.scielo.br/j/er/a/qQMpZkcTFxbFDk59QJKpWmG/abstract/?lang=pt. Acesso em: 13 abr. 2023.

Molina, M. C., & Hage, S. M. (2016). Riscos e potencialidades na expansão dos cursos de licenciatura em Educação do Campo. RBPAE, 32(3), 805-828. Recuperado de: https://seer.ufrgs.br/index.php/rbpae/article/view/68577. Acesso em: 13 abr. 2023.

Rolnik, S. (1989). Cartografia sentimental: transformações contemporâneas do desejo. São Paulo: Estação Liberdade.

Soares, A., et al. (Orgs.). (2017). Avaliação do Seminário Institucional de Avaliação da EduCampo e sugestões de encaminhamentos: contribuição da disciplina de Organização Escolar. Porto Alegre: FACED, II TU, junho. (não publicado).

Nunes, A., et al. (Orgs.). (2017). Turma 3. Proposta de reorganização do calendário do regime de alternância na EduCampo: contribuição da turma 3. Porto Alegre: FACED/EduCampo.

UFRGS (2006). Resolução nº 37/2006. Porto Alegre: Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão. Recuperado de: http://www.ufrgs.br/tri/sead/sead-2/legislacao-ead/documentos/res_37_2006_regulamenta_peg.pdf. Acesso em: 13 abr. 2023.

UFRGS (2013). Projeto Político Pedagógico do Curso de Graduação Licenciatura em Educação do Campo. Porto Alegre: FACED/Programa Especial de Graduação. Recuperado de: https://www.ufrgs.br/liceducampofaced/wp-content/uploads/2017/05/PROJETO_PEDAGOGICO_EDUCAMPO-4.pdf. Acesso em: 07 jun. 2023.

UFRGS (2018). Projeto Político Pedagógico do Curso de Graduação Licenciatura em Educação do Campo. Porto Alegre: FACED/Programa Especial de Graduação. Recuperado de: https://www.ufrgs.br/liceducampofaced/wp-content/uploads/2022/05/PPC-Novo-Lic-Ed-Campo.pdf. Acesso em: 13 abr. 2023.

Downloads

Publicado

2024-10-08

Como Citar

Labrea, V. da C. V., Kiekow, P. E., & Celistre Frota, C. (2024). Evasão no Curso de Licenciatura em Educação do Campo: as trajetórias interrompidas e os desafios da permanência. Revista Brasileira De Educação Do Campo, 9, e16757. Recuperado de https://periodicos.ufnt.edu.br/index.php/campo/article/view/16757

Edição

Seção

Artigos / Articles / Artículos