Infância Indígena Apinayé: reflexões sobre o ser criança na aldeia
DOI:
https://doi.org/10.20873/uft.rbec.e15692Resumo
O presente artigo objetiva refletir sobre aspectos sócio-históricos e culturais da infância Apinayé, com base em revisão de duas pesquisas etnográficas realizadas com esse povo, um TCC de Pedagogia, desenvolvido em 2012, e uma pesquisa de Mestrado em Letras, finalizada em 2016. Partimos da compreensão da infância enquanto uma construção sócio-histórica. Portanto, ao refletir sobre as crianças Apinayés, defendemos uma abordagem sensível e atenta aos modos de vida desse povo. Buscamos considerar aspectos culturais, étnicos, geracionais, históricos e geográficos para tentar compreender essa infância. Destacamos que a cultura Apinayé, vivenciada e praticada pelas crianças por meio dos ritos, tradições e costumes ocupam uma dimensão constitutiva da infância desse povo. Além disso, as crianças não só reproduzem o que lhes é ensinado, mas inventam, criam e transformam o que lhes é oferecido por meio da cultura de pares, enquanto sujeitos ativos, que brincam, elaboram e constroem. O corpo, a relação com a natureza e os grupos infantis são indispensáveis para se entender o jeito que essas crianças estão no mundo. Mais do que trazer conclusões sobre o modo de ser criança indígena, propomos reflexões sobre as infâncias possíveis, tecidas entre brincadeiras, responsabilidades e aprendizagens nas aldeias Apinayé.
Palavras-chave: infância Apinayé, infância indígena, culturas de pares, sociologia da infância.
Apinayé Indigenous Childhood: reflections on being a child in the village
ABSTRACT. This article aims to reflect on socio-historical and cultural aspects of Apinayé childhood, based on a review of two ethnographic research carried out with this people, a TCC in Pedagogy, developed in 2012, and a Master's in Letters research, completed in 2016. We start from the understanding of childhood as a socio-historical construction. Therefore, when reflecting on the Apinayé children, we defend a sensitive and attentive approach to the ways of life of these people. We seek to consider cultural, ethnic, generational, historical and geographic aspects to try to understand this childhood. We emphasize that the Apinayé culture, experienced and practiced by children through rites, traditions and customs, occupies a constitutive dimension of childhood for this people. Furthermore, children not only reproduce what they are taught, but they invent, create and transform what is offered to them through peer culture, as active subjects who play, elaborate and build. The body, the relationship with nature and children's groups are essential to understand the way these children are in the world. More than bringing conclusions about the way of being an indigenous child, we propose reflections on possible childhoods, woven between games, responsibilities and learning in the Apinayé villages.
Keywords: Apinaye childhood, indigenous childhood, peer cultures, childhood sociology.
Infancia Indígena Apinayé: reflexiones sobre ser niño en el pueblo
RESUMEN. Este artículo tiene como objetivo reflexionar sobre aspectos sociohistóricos y culturales de la infancia apinayé, a partir de una revisión de dos investigaciones etnográficas realizadas con este pueblo, una TCC en Pedagogía, desarrollada en 2012, y una Maestría en Literatura, concluida en 2016. Partimos de la comprensión de la infancia como una construcción socio-histórica. Por eso, al reflexionar sobre los niños Apinayé, defendemos un acercamiento sensible y atento a las formas de vida de este pueblo. Buscamos considerar aspectos culturales, étnicos, generacionales, históricos y geográficos para intentar comprender esta niñez. Destacamos que la cultura Apinayé, vivida y practicada por los niños a través de ritos, tradiciones y costumbres, ocupa una dimensión constitutiva de la infancia de este pueblo. Además, los niños no solo reproducen lo que se les enseña, sino que inventan, crean y transforman lo que se les ofrece a través de la cultura de iguales, como sujetos activos que juegan, elaboran y construyen. El cuerpo, la relación con la naturaleza y los grupos infantiles son fundamentales para comprender la forma en que estos niños son en el mundo. Más que sacar conclusiones sobre el modo de ser niño indígena, proponemos reflexiones sobre infancias posibles, entretejidas entre juegos, responsabilidades y aprendizajes en los pueblos apinayé.
Palabras clave: niñez Apinaye, niñez indígena, culturas de pares, sociología infantil.
Downloads
Referências
Albuquerque, F. E. (2007). Contribuição da fonologia ao processo de educação indígena Apinayé (Tese de Doutorado). Universidade Federal Fluminense, Niterói.
Almeida, S. A. (2011). A Educação Escolar Apinayé na Perspectiva Bilíngue e Intercultural: Um Estudo Sociolinguístico das Aldeias São José e Mariazinha (Dissertação de Mestrado). Universidade Federal do Tocantins, Araguaína.
Apinagé, C. S. (2017). Escola, meio ambiente e conhecimentos: formas de ensinar e aprender na teoria e na prática entre os Apinajé.
Ariès, P. (2011). História social da criança e da família (2ª ed.). LTC: Rio de Janeiro.
Barbosa, M. C. S. (2007). Culturas escolares, culturas de infância e culturas familiares: As Socializações e a escolarização no entretecer destas culturas. Educ. Soc, 28(100), 1059-1083. https://doi.org/10.1590/S0101-73302007000300020
Cohn, C. (2005). Antropologia da Criança. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.
Corsaro, W. A. (2011). Sociologia da Infância (2. ed.). Porto Alegre: Artmed.
Damatta, R. (1976). Um Mundo Dividido: A Estrutura Social dos Índios Apinayé. Petrópolis: Vozes.
Giraldin, O. (2001). Um mundo unificado: cosmologia, vida e morte entre os Apinajé. Campos-Revista de Antropologia, 1, 31-46. https://doi.org/10.5380/cam.v1i0.1567
Grupioni, L. D. B. (2011). Os povos Indígenas e a Escola Diferenciada: Comentários sobre alguns instrumentais jurídicos internacionais. In Grupioni, L. D. B., Vidal, L., & Fishmann, R.. (Orgs.). Povos Indígenas e Tolerância construindo práticas de respeito e solidariedade (s./p.). São Paulo: EDUSP.
Instituto Socioambiental – ISA (s/d). Terras indígenas no Brasil: Terra Indígena Apinayé. Recuperado de: https://terrasindigenas.org.br/pt-br/terras-indigenas/3584#pressoes. Acesso em: 06 ago. 2022.
Krenak, A. (2019). Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras.
Ladeira, M. E., & Azanha, G. (2003). Povos indígenas no Brasil: Apinajés. Instituto Socioambiental. Recuperado de: https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Apinaj%C3%A9. Acesso em: 07 ago. 2022.
Locatelli, R. (2016). Aquisição do Português como Segunda Língua Pelos Alunos Apinayé da Aldeia São José (Dissertação de Mestrado). Universidade Federal do Tocantins, Araguaína.
Locatelli, R. (2012). As crianças indígenas Apinaye e a alfabetização bilíngue: um estudo exploratório na Aldeia São José (Monografia de Graduação). Universidade Federal do Tocantins, Tocantinópolis.
Mandulão, F. S. (2006). Educação na visão do professor indígena. In Grupioni, L. D. B. (Org.). Formação de professores indígenas: repensando trajetórias (s./p.). Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade.
Munduruku, D. (2018). Escrita indígena: registro, oralidade e literatura: O reencontro da memória. In ___. Dorrico, J., Danner, L. F., Correia, H. H. S., & Danner, F. (Orgs.). Literatura indígena brasileira contemporânea: criação, crítica e recepção (s./p.). Porto Alegre: Editora Fi.
Nimuendajú, C. (1983). Os Apinayé. Belém: Ed. UFPA.
Schaden, E. (1974). Aspectos fundamentais da cultura Guarani. São Paulo: EPU/Edusp.
Silva, A. L., Nunes, A., & Macedo, A. V. L. S. (Org.) (2002). Crianças indígenas: ensaios antropológicos. São Paulo: Global.
Tassinari, A. (2001). Escola indígena: novos horizontes teóricos, novas fronteiras de educação. In Silva, A. L., & Leal, M. K. F. (Orgs.). Antropologia, História e Educação – A questão indígena e a escola (s./p.). São Paulo: Global.
Torres, C. A. A., & Costa, M. O. (2020). Povo indígena Apinajé: ritual da tora grande (párkaper). Articulando e Construindo Saberes, 5. https://doi.org/10.5216/racs.v5i.60382
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2023 Rosimar Locatelli, Janaina Ribeiro de Rezende
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Proposta de Aviso de Direito Autoral Creative Commons
1. Proposta de Política para Periódicos de Acesso Livre
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
a. Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
b. Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
c. Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (Veja O Efeito do Acesso Livre).
Proposal for Copyright Notice Creative Commons
1. Policy Proposal to Open Access Journals
Authors who publish with this journal agree to the following terms:
A. Authors retain copyright and grant the journal right of first publication with the work simultaneously licensed under the Creative Commons Attribution License that allows sharing the work with recognition of its initial publication in this journal.
B. Authors are able to take on additional contracts separately, non-exclusive distribution of the version of the paper published in this journal (ex .: publish in institutional repository or as a book), with an acknowledgment of its initial publication in this journal.
C. Authors are permitted and encouraged to post their work online (eg .: in institutional repositories or on their website) at any point before or during the editorial process, as it can lead to productive exchanges, as well as increase the impact and the citation of published work (See the Effect of Open Access).