Mulheres rurais e literacia digital: relato da experiência da articulação entre pesquisa, ensino e extensão
DOI:
https://doi.org/10.70860/ufnt.rbec.e19395Palavras-chave:
Mulheres rurais, comunidades quilombolas, Mulheres Assentadas, TIC, ODSResumo
A indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão é um pilar importante das universidades brasileiras e, embora seja prevista na Constituição Federal de 1988, sua implementação ainda é um desafio cotidiano no ensino superior. Projetos e experiências que conseguem articular estas três dimensões merecem ser sistematizados, a fim de promover reflexões sobre os caminhos metodológicos e os principais resultados destas iniciativas. Este artigo se insere nesta perspectiva ao analisar a experiência desenvolvida pelo Grupo de Pesquisa Meios – Comunicação, Relações Raciais e Gênero da Universidade Federal de Viçosa, com mulheres de uma comunidade quilombola e um assentamento da Reforma Agrária da Zona da Mata de Minas Gerais. A articulação entre ensino, pesquisa e extensão ocorreu por meio de uma proposta relacionada ao acesso e apropriação das tecnologias da informação e comunicação (TIC) como um direito fundamental e ferramenta potencializadora da autonomia das mulheres rurais. Foram realizadas oficinas de literacia digital para 15 quilombolas e 12 assentadas, durante o ano de 2023. Os resultados evidenciaram que, apesar das barreiras socioeconômicas e digitais, as participantes ampliaram suas habilidades técnicas e políticas no uso das TIC, fortalecendo sua autonomia e comunicação comunitária. Além disso, o projeto reforçou a importância da metodologia dialógica e participativa na extensão universitária, destacando a necessidade de políticas públicas que garantam acesso equitativo à tecnologia e formação digital para mulheres rurais. As atividades de extensão incluíram oficinas de técnicas de fotografia pelo celular, design gráfico (Canva) e Instagram.
Palavras-chave: mulheres quilombolas, mulheres assentadas, TIC, ODS, literacia digital, extensão universitária, metodologia participativa.
Rural Women and Digital Literacy: A Report on the Experience of Integrating Research, Teaching, and Extension
ABSTRACT. The inseparability of teaching, research, and extension is an important pillar of Brazilian universities. Although it is outlined in the Federal Constitution of 1988, its implementation remains a daily challenge in higher education. Projects and experiences that successfully integrate these three dimensions deserve to be systematized to foster reflections on methodological pathways and the main results of these initiatives. This article aligns with this perspective by analyzing the experience developed by the Research Group Meios – Communication, Racial Relations, and Gender at the Federal University of Viçosa, with women from a quilombola community and a land reform settlement in the Zona da Mata region of Minas Gerais. The integration of teaching, research, and extension occurred through a proposal related to access to and appropriation of information and communication technologies (ICT) as a fundamental right and a tool to enhance the autonomy of rural women. Digital literacy workshops were conducted for 15 quilombola women and 12 women from the settlement throughout 2023. The findings revealed that, despite socioeconomic and digital barriers, participants expanded their technical and political skills in using ICT, strengthening their autonomy and community communication. Furthermore, the project reinforced the importance of dialogical and participatory methodologies in university extension, highlighting the need for public policies that ensure equitable access to technology and digital training for rural women. The extension activities included workshops on cellphone photography techniques, graphic design (Canva), and Instagram.
Keywords: quilombola women, settled women, ICT, SDGs,digital literacy, university extension, participatory methodology.
Mujeres Rurales y Literacidad digital: Un Informe sobre la Experiencia de Integrar Investigación, Enseñanza y Extensión
RESUMEN. La inseparabilidad de la enseñanza, la investigación y la extensión es un pilar importante de las universidades brasileñas. Aunque esté delineada en la Constitución Federal de 1988, su implementación sigue siendo un desafío cotidiano en la educación superior. Los proyectos y experiencias que integran con éxito esas tres dimensiones merecen ser sistematizados para fomentar la reflexión sobre los caminos metodológicos y los principales resultados de esas iniciativas. Este artículo se inscribe en esta perspectiva al analizar la experiencia desarrollada por el Grupo de Investigación Meios – Comunication, Relaciones Raciales y Genero de la Universidad Federal de Viçosa, con mujeres de una comunidad quilombola y de un asentamiento de reforma agraria de la Zona da Mata, en Minas Gerais. La integración de la enseñanza, la investigación y la extensión se produjo a través de una propuesta relacionada con el acceso y la apropiación de las tecnologías de la información y la comunicación (TIC) como un derecho fundamental y una herramienta para mejorar la autonomía de las mujeres rurales. Se realizaron talleres de alfabetización digital para 15 mujeres quilombolas y 12 mujeres del asentamiento a lo largo de 2023. Los resultados evidenciaron que, a pesar de las barreras socioeconómicas y digitales, las participantes ampliaron sus habilidades técnicas y políticas en el uso de las TIC, fortaleciendo su autonomía y comunicación comunitaria. Además, el proyecto reforzó la importancia de la metodología dialógica y participativa en la extensión universitaria, destacando la necesidad de políticas públicas que garanticen acceso equitativo a la tecnología y formación digital para mujeres rurales. Las actividades de extensión incluyeron talleres sobre técnicas de fotografía móvil, diseño gráfico (Canva) e Instagram.
Palabras clave: mujeres quilombolas, mujeres asentadas, TIC, ODS, alfabetización digital, extensión universitaria, metodología participativa.
Downloads
Referências
Brasil. (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República. Recuperado de http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm
Brasil. (1996). Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996: Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial da União, seção 1, p. 27833. Recuperado de http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm
Brasil. (2014). Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014: Aprova o Plano Nacional de Educação - PNE e dá outras providências. Diário Oficial da União, seção 1, p. 1. Recuperado de http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l13005.htm
Buckingham, D. (2008). Defining digital literacy: What do young people need to know about digital media? In Lankshear, C., & Knobel, M. (Eds.). Digital literacies: Concepts, policies and practices (pp. 73–89). New York, NY: Peter Lang.
Cardoso, J. S. M. (2023). Mulheres rurais e literacia digital: Questões para além do acesso (Dissertação de Mestrado). Universidade Federal de Viçosa, Viçosa.
Castro, L. M. C. (2004). A universidade, a extensão universitária e a produção de conhecimentos emancipadores. In Anais da 27ª Reunião Anual da ANPED. Caxambu, Brasil: ANPEd. Recuperado de http://www.anped.org.br/reunioes/27/inicio.htm
Conselho Nacional de Educação. (2018, 18 de dezembro). Resolução nº 7, de 18 de dezembro de 2018: Estabelece as Diretrizes para a Extensão na Educação Superior Brasileira e regimenta o disposto na Meta 12.7 da Lei nº 13.005/2014, que aprova o Plano Nacional de Educação - PNE 2014-2024 e dá outras providências. Brasília, DF: CNE. Recuperado de https://www.semesp.org.br/legislacao/resolucao-cne-ces-no-7-de-18-de-dezembro-de-2018/
Conte, I. (2022). Pedagogia da alternância na educação do campo em uma escola pública. Revista de Educação Pública, 31, 1–20. https://doi.org/10.29286/rep.v31ijan/dez
Corrêa, S. S., & Gonçalves, R. B. (2021). Competência em informação e mídia no ensino de História: Observações acerca de indicações de obras cinematográficas em meios virtuais. Em Questão, 27(2), 370–391. Recuperado de https://seer.ufrgs.br/index.php/EmQuestao/article/view/105056
Costa, B. A. L., Dias, M. M., & Silva, M. G. (2023). Economia solidária e extensão universitária: Vinte anos da Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da Universidade Federal de Viçosa. Mercado de Trabalho, 76. https://doi.org/10.38116/bmt76/espp1
Dhanamalar, M., Preethi, S., & Yuvashree, S. (2020). Impact of digitization on women’s empowerment: A study of rural and urban regions in India. Journal of International Women's Studies, 21(5), 107–112. Recuperado de https://vc.bridgew.edu/jiws/vol21/iss5/11
Dias, M. M. (2017). A extensão universitária entre o assistencialismo, o mercado e a emancipação. In Sousa, D. T., Neves, C. A., & Vieira, L. B. (Orgs.), Práticas e reflexões na extensão universitária: A experiência da Universidade Federal de Viçosa (pp. xx–xx). Viçosa, MG: Editora da UFV.
Fontenele, I. C. (2024). A curricularização da extensão no Brasil: História, concepções e desafios. Revista Katálysis, 27, e97067. https://doi.org/10.1590/1982-0259.2024.e97067
Forproex. (2006). Indissociabilidade ensino-pesquisa-extensão e a flexibilização curricular: Uma visão da extensão. Porto Alegre: UFRGS; Brasília: MEC/SESu.
Freire, P. (1979). Extensão ou comunicação? (4ª ed.). Rio de Janeiro: Paz e Terra.
Freire, P. (1983). Extensão ou comunicação? (7ª ed.). Rio de Janeiro: Paz e Terra.
Gonçalves, N. G. (2015). Indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão: Um princípio necessário. Perspectiva, 33(3), 1229–1256. https://doi.org/10.5007/2175-795X.2015v33n3p1229
Hussain, F., & Amin, S. N. (2018). ‘I don’t care about their reactions’: Agency and ICTs in women’s empowerment in Afghanistan. Gender & Development, 26(2), 249–265. https://doi.org/10.1080/13552074.2018.1475924
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. (2019). Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Vol. 1). Brasília: IPEA. Recuperado de https://repositorio.ipea.gov.br/handle/11058/3249
Kwami, J. D. (2020). Gendered digital inequities in African contexts: Measuring and bridging the gaps. Ada: A Journal of Gender, New Media, and Technology, (16). https://doi.org/10.5399/uo/ada.2020.16.5
Maciel, A. S. (2010). O princípio da indissociabilidade do ensino, pesquisa e extensão: Um balanço do período 1988–2008 (Tese de doutorado). Universidade Metodista de Piracicaba, Piracicaba.
Magnani, I. (2002). Ensino, pesquisa, extensão e a nova tipologia do ensino superior brasileiro. In Anais da 25ª Reunião Anual da ANPED. Caxambu, MG: ANPEd. Recuperado de http://www2.uerj.br/~anped11
Marín Ochoa, B. E., & Cruz Lanchero, L. J. (2021). The social appropriation of mobile technologies: An opportunity for the construction of citizenship. Anagramas Rumbos y Sentidos de la Comunicación, 20(39), 157–180. https://doi.org/10.22395/angr.v20n39a7
Minayo, M. C. S., & Costa, A. P. (2018). Fundamentos teóricos das técnicas de investigação qualitativa. Revista Lusófona de Educação, 40, 139–153.
Moita, F. M. G. S. C., & Andrade, F. C. B. de. (2012). Ensino-pesquisa-extensão: Um exercício de indissociabilidade na pós-graduação. Revista Brasileira de Educação, 17(52), 619–642. https://doi.org/10.1590/S0102-46982012000400007
Oliveira, M. P., & Sabbatini, M. (2020). Perspectivas contemporâneas da folkcomunicação. In N. Prata, S. Jaconi, & G. Nascimento (Orgs.), Desafios da comunicação em tempo de pandemia: Um mundo e muitas vozes (pp. 246–265). São Paulo: Intercom.
Organização das Nações Unidas. (2015). Transformando nosso mundo: A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. Resolução A/RES/70/1, de 25 de setembro de 2015. Nova Iorque: ONU. Recuperado de https://undocs.org/A/RES/70/1
Organización de los Estados Americanos. (2011). Relatorías de libertad de expresión emiten declaración conjunta acerca de internet [Comunicado de prensa R50/11].
Pereira, L. S. (2018). Sementes da vida e reforma agrária popular: Estratégias de (re)existência e autonomia camponesa (Dissertação de Mestrado). Universidade Federal de Viçosa, Viçosa.
Peruzzo, C. M. K. (2016). Epistemologia e método da pesquisa-ação: Uma aproximação aos movimentos sociais e à comunicação. In Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação – COMPÓS, XXV Encontro Anual (pp. xx–xx). Goiânia: Universidade Federal de Goiás. Recuperado de https://proceedings.science/compos/compos-2016/trabalhos/epistemologia-e-metodo-da-pesquisa-acao-uma-aproximacao-aos-movimentos-sociais-e?lang=pt-br
Rocillo, P., & Gomes, B. A. (2022). Marcadores de gênero na promoção da inclusão digital no Brasil. In Barbosa, B., Tresca, L., & Lauschner, T. (Orgs.). TIC, governança da internet e gênero: Tendências e desafios (pp. xx–xx). São Paulo: Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR.
Rotondi, V., Francesco, B., Pesando, L., & Kashyap, R. (2020). Desigualdade digital e de gênero na América Latina e Caribe. Recuperado de https://repositorio.iica.int/handle/11324/12489
Santos, B. S. (2004). A universidade no século XXI. São Paulo: Cortez.
Saviani, D. (1996). Educação: Do senso comum à consciência filosófica (11ª ed.). São Paulo: Autores Associados.
Souza Minayo, M. C., & Costa, A. P. (2018). Fundamentos teóricos das técnicas de investigação qualitativa. Revista Lusófona de Educação, 40, 139–153. https://doi.org/10.24140/issn.1645-7250.rle40.01
Takagi, D. (2015). First precepts for democracy and research practices in ethnic studies: Iteration, collaboration, and reflection. Cultural Studies ↔ Critical Methodologies, 15(2), 100–111. https://doi.org/10.1177/1532708614563786
Theodoro, M. (2022). Sociedade desigual: Racismo e branquitude na formação do Brasil. Rio de Janeiro: Zahar.
Thiollent, M. (2011). Metodologia da pesquisa-ação (18ª ed.). São Paulo: Cortez.
Zambrano, F. (2021). Interculturalidad y TIC en los posgrados de educación en el Ecuador. Bellaterra Journal of Teaching & Learning Language & Literature, 14, e937. https://doi.org/10.5565/rev/jtl3.937
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 Ivonete da Silva Lopes, Bianca Aparecida Lima Costa, Júlia Maria Nogueira Silva

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Proposta de Aviso de Direito Autoral Creative Commons
1. Proposta de Política para Periódicos de Acesso Livre
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
a. Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.
b. Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
c. Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (Veja O Efeito do Acesso Livre).
Proposal for Copyright Notice Creative Commons
1. Policy Proposal to Open Access Journals
Authors who publish with this journal agree to the following terms:
A. Authors retain copyright and grant the journal right of first publication with the work simultaneously licensed under the Creative Commons Attribution License that allows sharing the work with recognition of its initial publication in this journal.
B. Authors are able to take on additional contracts separately, non-exclusive distribution of the version of the paper published in this journal (ex .: publish in institutional repository or as a book), with an acknowledgment of its initial publication in this journal.
C. Authors are permitted and encouraged to post their work online (eg .: in institutional repositories or on their website) at any point before or during the editorial process, as it can lead to productive exchanges, as well as increase the impact and the citation of published work (See the Effect of Open Access).